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Escrita de Sinais

Prof.a Mariana Correia


Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.a Mariana Correia
Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

C824e

Correia, Mariana

Escrita de sinais. / Mariana Correia; Cristian Hernando Sardo


da Cunha. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

260 p.; il.

ISBN 978-85-515-0427-7

1. Libras. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 371.903

Impresso por:
Apresentação

Livro didático Escrita de Sinais Apresentação

Acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Escrita de Sinais.


Neste material, estudaremos as formas de registro e leitura utilizando a escrita
de sinais pelo sistema SignWriting e questões relacionadas à alfabetização
em escrita de sinais e à literatura surda. Desse modo, o livro didático que
você tem em mãos é dedicado à aprendizagem da Escrita de Sinais de modo
que você seja capaz de compreender como se dá o registro dos parâmetros
fonológicos que estruturam a Libras e como eles são escritos com o uso
do sistema SW. Contudo, antes de delimitar cada uma das unidades que
compõem o estudo a ser iniciado, é necessário destacar brevemente alguns
aspectos importantes em relação à escrita, à SW e à importância da escrita.

A escrita surgiu da necessidade de registro das ações do homem, tendo


sido desenvolvida a partir de situações em que o registro das quantidades de
animais, produtos e alimentos se tornaram necessárias devido ao aumento
do volume de negócios em que as pessoas começaram a ser envolvidas após
o crescimento do comércio entre os povos. Desse modo, podemos dizer
que a escrita surgiu de uma necessidade matemática de controle e anotação
das quantidades envolvidas numa negociação. Inicialmente, foi utilizada a
proporção de um para um, ou seja, uma marca, nós, pedra ou fichas diferentes
para cada tipo; contudo, esse modo de organização começou a não dar conta
do volume de coisas envolvidos.

Após, começaram a ser feitos os registros de equivalência entre uma


certa quantidade e um tipo de envelope que tinha dentro de si o número
de fichas correspondentes, por exemplo, as bullae em que cada uma delas
tinha registrado do lado de fora símbolos que expressavam a quantidade
de fichas e o tipo de fichas, a partir deste momento, começou a ser possível
“ler” um símbolo. Com o tempo, essa forma de representação simbólica
também se tornou ineficaz, pois dependia de inúmeras referências e
representação. Então, os povos começaram a desenvolver um sistema que
levava em consideração o som dos símbolos, o que acabou por dar origem
aos sistemas de escrita utilizados pelos povos do Egito e do Vale do Rio
Indo. Partindo deste conhecimento, os gregos elaboraram o sistema de
representação fonético em que cada fonema teve sua representação escrita

III
expressa, possibilitando o registro da escrita a partir da combinação de um
número limitado de símbolos fonéticos, dando origem, assim, ao alfabeto
que utilizamos no Ocidente.

Logo, a escrita nasceu e se desenvolveu a partir da necessidade


de registro das ações humanas, e, com o tempo e o desenrolar da História
da Humanidade, tornou-se a principal forma de estabelecer as relações
comerciais, armazenar e difundir o conhecimento, estruturar o pensamento
e validar as negociações e contratos, ou seja, adquiriu o status e o poder para
ser o modo mais importante de comprovar, validar, apresentar, manter e
difundir o conhecimento humano.

Devido a essa importância, estudiosos das línguas de sinais criaram


ao longo do tempo diferentes modos registro das línguas de sinais, passando
por descrições, desenhos, fotos em sequência e/ou alteadas por elementos
para demonstrar o movimento, registros em vídeo e glosas; através de
diferentes suportes, como papel, CDs e, mais recentemente, a internet. Além
disso, diferentes formas e sistemas de notação e escrita foram desenvolvidos,
tais como: a notação Mimographie, a notação de Stokoe, o HamNoSys, o
Sistema D’Sign, a Notação de François Neves e o ELiS. Porém, nenhum deles
teve o alcance, a divulgação e a aceitação mundial que o SignWriting obteve
desde seu desenvolvimento a partir do DanceWriting.

O Dance Writing foi criado por Valerie Sutton para o registro


de movimento do balé clássico, ao terem contato com esse sistema,
pesquisadores dinamarqueses a convidaram para adaptar o sistema para o
registro da sinalização de surdos. A partir daí, Valerie Sutton se envolveu
com o desenvolvimento da escrita de sinais, a divulgação da cultura e a
ampliação dos materiais em SW. As características que fizeram do SW aceito
entre a comunidade surda são as mesmas que tornaram o sistema alfabético
tão aceito entre os ouvintes, é um modo fácil e intuitivo formado a partir
de um conjunto delimitado de grafemas que permite o registro de todas as
partes que compõem os sinais, sendo possível a escrita e a leitura das línguas
de sinais de forma clara e objetiva. Além disso, tem a característica de que,
como todo o registro vivo de uma língua, estar em constante adaptação e
modificação a partir de um núcleo básico de princípios que compõem o SW.

Este livro didático parte, basicamente, desses aspectos de importância


da escrita e do desenvolvimento da SW. Na Unidade 1, serão estudadas as
formas de registro da ES através do Sistema de Escrita SW, serão vistas as
questões sobre perspectiva, locações, registro de grafemas, movimento,
marcas não manuais e os modos como o registro com o uso do SW pode
ser feito à mão ou através de meios digitais. Na Unidade 2, este material
apresentará aspectos relevantes em relação aos princípios de alfabetização
e construção do raciocínio semiótico; aos modos como a ES é utilizada na
alfabetização e letramento de surdos, além disso, serão discutidas estratégias
para a alfabetização em ES a partir de projetos, exemplos e instituições, bem
como estarão postos princípios e exemplos de adaptação de atividades de
IV
alfabetização para o ensino e aprendizagem de ES. Por fim, na Unidade 3,
serão discutidos tópicos relacionados à literatura surda e ao uso da ES para o
desenvolvimento de materiais para a divulgação, registro e desenvolvimento
de diferentes materiais utilizando a ES como forma de apresentação das
diferentes apresentações, tipologias e usos da literatura de ficção e de
pesquisa no Brasil e no mundo.

Bons estudos!

Prof.a Mariana Correia

Prof. Esp. Cristian Sardo

NOTA

Neste livro didático serão utilizadas as abreviaturas ES para fazer referência à


Escrita de Sinais pelo sistema SignWriting. Entretanto, quando importante para aquilo que
está sendo explicado, será usado SW para fazer referência específica ao sistema SignWriting.

NOTA

É recomendada a consulta ao Livro Didático de Introdução à Escrita de Sinais


para maior aprofundamento dos aspectos apontados de modo breve na Apresentação.

V
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

VI
VII
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VIII
Sumário
UNIDADE 1 – ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING.....................................................................1

TÓPICO 1 – ESTRUTURA E PERSPECTIVA........................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO................................................................................5
3 PERSPECTIVA EXPRESSIVA E RECEPTIVA....................................................................................9
4 ESCRITA EM COLUNAS.....................................................................................................................11
5 ESCRITA DO GRAFEMA DE MÃO..................................................................................................13
5.1 ORIENTAÇÃO DA MÃO................................................................................................................14
5.2 ORIENTAÇÃO DE PALMA DA MÃO..........................................................................................15
5.3 CONFIGURAÇÕES DE MÃO........................................................................................................17
6 ALFABETO MANUAL..........................................................................................................................20
7 PRÁTICA DE LEITURA.......................................................................................................................21
7.1 TEXTO................................................................................................................................................22
7.2 GLOSSÁRIO .....................................................................................................................................23
7.3 TRADUÇÃO......................................................................................................................................23
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................26

TÓPICO 2 – REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO..............29


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................29
2 LOCAÇÕES ............................................................................................................................................31
2.1 FACE E CABEÇA..............................................................................................................................34
2.2 PESCOÇO, OMBROS E PEITO.......................................................................................................37
3 GRAFEMAS DE MOVIMENTO I......................................................................................................39
3.1 PLANO DE MOVIMENTO.............................................................................................................40
3.2 DINÂMICA E DURAÇÃO DE MOVIMENTO............................................................................48
4 PRÁTICA DE LEITURA.......................................................................................................................50
4.1 TEXTO................................................................................................................................................51
4.2 GLOSSÁRIO......................................................................................................................................52
4.3 TRADUÇÃO......................................................................................................................................52
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................53
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................55

TÓPICO 3 – GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO...................................57


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................57
2 GRAFEMAS DE MOVIMENTO II....................................................................................................57
2.1 MOVIMENTO DOS DEDOS...........................................................................................................58
2.2 MOVIMENTO DE ANTEBRAÇOS................................................................................................61
2.3 MOVIMENTO DE PULSO..............................................................................................................65
3 TIPOS DE CONTATO...........................................................................................................................67
3.1 TOCAR E BATER..............................................................................................................................68
3.2 ESCOVAR...........................................................................................................................................69
3.3 ESFREGAR EM CÍRCULO E LINEAR..........................................................................................70
3.4 PEGAR . .............................................................................................................................................71
3.5 GRAFEMAS DE CONTATO ENTRE PARTES DO CORPO.......................................................71

IX
3.6 GRAFEMAS DE SUPERFÍCIE........................................................................................................72
4 PRÁTICA DE LEITURA.......................................................................................................................74
4.1 TEXTO................................................................................................................................................75
4.2 GLOSSÁRIO......................................................................................................................................76
4.3 TRADUÇÃO......................................................................................................................................76
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................77
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................80
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................82

UNIDADE 2 – GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E


LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS.............................................................85

TÓPICO 1 – GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS................................................87


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................87
2 EXPRESSÕES VINCULADAS AO ROSTO.....................................................................................89
2.1 OLHOS E DIREÇÃO DO OLHAR.................................................................................................90
2.2 BOCA, DENTES, LÁBIOS E LÍNGUA...........................................................................................93
2.3 NARIZ, BOCHECHA E RESPIRAÇÃO........................................................................................97
2.4 SOBRANCELHAS............................................................................................................................98
3 EXPRESSÕES VINCULADAS AO CORPO...................................................................................100
3.1 TRONCO, VISTA DE CIMA ........................................................................................................100
3.2 CINTURA.........................................................................................................................................102
4 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................103
4.1 TEXTO..............................................................................................................................................103
4.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................105
4.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................105
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................106
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................107

TÓPICO 2 – ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS.....109


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................109
2 ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO.........................................................................111
3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE NO ENSINO DA ESCRITA DE LIBRAS..........................................114
4 PROCESSOS EDUCACIONAIS SOBRE ESCRITA DE SINAIS...............................................117
4.1 PRODUÇÃO ESCRITA..................................................................................................................117
4.2 LEITURA DE TEXTO.....................................................................................................................119
5 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................120
5.1 TEXTO..............................................................................................................................................121
5.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................122
5.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................127
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................129
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................131

TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS................131


2 PROCESSO SEMIÓTICO..................................................................................................................132
3 ETAPAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS........................134
4 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES EM ESCRITA DE SINAIS..................................................138
4.1. MATERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA EM SW....................................146
4.2 ADAPTAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DE ATIVIDADES PRONTAS...................................152
5 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................158
5.1 TEXTO..............................................................................................................................................158
5.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................160
5.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................160

X
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................161
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................168
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................170

UNIDADE 3 – REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E


LITERATURA SURDA...............................................................................................173

TÓPICO 1 – REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS....................................................175


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................175
2 REGISTRO EM ESCRITA DE SINAIS............................................................................................176
2.1 REGISTRO COMPLETO OU REGISTRO PADRÃO.................................................................178
2.2 REGISTRO SIMPLIFICADO OU REGISTRO MANUAL.........................................................180
3 ESCRITA DIGITAL.............................................................................................................................182
4 ESCRITA DE CLASSIFICADORES.................................................................................................199
5 REGRAS ORTOGRÁFICAS..............................................................................................................200
6 PONTUAÇÃO NA ESCRITA DE SINAIS......................................................................................204
7 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................207
7.1 TEXTO..............................................................................................................................................208
7.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................209
7.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................209
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................210
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................211

TÓPICO 2 – TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA...............................................................215


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................215
2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA ...........................................................................................215
NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA..................................................................................................215
3 A LITERATURA EM LP E A REPRESENTATIVIDADE SURDA..............................................218
4 TEORIA LITERÁRIA COMO CAMPO DE ESTUDO..................................................................221
5 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................222
5.1 TEXTO..............................................................................................................................................223
5.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................226
5.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................226
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................228
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................230

TÓPICO 3 – LITERATURA SURDA...................................................................................................233


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................233
2 LITERATURA EM LIBRAS/ESCRITA DE SINAIS......................................................................234
3 PESQUISA EM ESCRITA DE SINAIS............................................................................................240
4 ENCAMINHAMENTOS FUTUROS NO CAMPO.......................................................................241
DE ESTUDOS EM LITERATURA SURDA.......................................................................................241
5 PRÁTICA DE LEITURA.....................................................................................................................242
5.1 TEXTO..............................................................................................................................................243
5.2 GLOSSÁRIO....................................................................................................................................247
5.3 TRADUÇÃO....................................................................................................................................249
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................251
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................254
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................255

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................257

XI
XII
UNIDADE 1

ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a diferença entre as modalidades faladas/sinalizadas e


escritas de uma língua;

• apresentar as bases estruturais do registro da ES;

• compreender as perspectivas receptiva e expressiva;

• examinar as diferentes formas de registro de locações, movimentos e


tipos de contato;

• assinalar os modos de reconhecimento e escrita das marcas não manuais;

• discutir os modos de registro digital e manual da ES;

• expressar brevemente a elaboração da escrita de classificadores em ES.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESTRUTURA E PERSPECTIVA


TÓPICO 2 – REGISTRO DE LOCAÇÕES E GRAFEMAS DE MOVIMENTO I
TÓPICO 3 – GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ESTRUTURA E PERSPECTIVA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, estudaremos os elementos básicos envolvidos
na escrita da Libras, dessa maneira, serão analisados os pontos importantes de
serem observados quando se dá a transposição da expressão falada (ou seja,
sinalizada) para expressão escrita. Isso porque fala e escrita são intimamente
relacionadas, mas, ao mesmo tempo, apresentam características particulares que
às distinguem.

Assim sendo, cada uma dessas formas de expressão da língua tem


características distintas, porém, complementares, pois se de um lado a fala/
sinalização é mais ágil em relação às modificações regionais, vocabulares e
invenções de novas palavras e sinais; de outro lado, a escrita é menos ágil, pois, para
proporcionar o registro, a divulgação e o estudo das línguas de modo mais amplo
e permanente, ela necessita de regras e normatizações que possam ser utilizadas,
para a escrita, e decodificadas, para a leitura, de modo mais padronizado do que
a estruturação utilizada na fala/sinalização.

Entretanto, isso não quer dizer que a fala/sinalização não siga as regras
internas da língua utilizada, nem que a escrita seja rígida a ponto de não se
alterar de forma alguma, porque ambas espelharão tanto as normas implícitas
quanto as mudanças que ocorrem com o uso da língua pelos falantes. Ou seja,
as modificações da língua vão aparecer tanto na fala quanto na escrita, mas esta
última assimilará as mudanças da língua de modo mais lento e gradual do que
a fala/sinalização devido à necessidade de se manter mais estável para que seja
possível de compreensão por um maior número de pessoas.

Por exemplo, durante a sinalização podem ser feitas referências, voltas na


história, repetição caso a pessoa não tenha compreendido um sinal, dentre outras
coisas. Já na escrita é necessário que tenhamos os elementos que possibilitem
a leitura do sinal de modo independente em relação à pessoa que escreveu o
sinal. Desse jeito, não podemos suprimir fonemas importantes, mas também
não podemos sobrecarregar a escrita de informações irrelevantes que irão,
também, dificultar a leitura, assim sendo, é imprescindível que sejam estudados
os elementos que compõem a ES para que seja possível uma escrita de sinais
eficiente, clara e útil.

3
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

NOTA

Em sua maioria os pesquisadores das línguas de sinais utilizam a mesma


nomenclatura conceitual Linguística para as línguas orais e para as línguas de sinais, embora,
ao longo do tempo, alguns pesquisadores tenham tentado elaborar um vocabulário
conceitual linguístico específico para as línguas de sinais, como o conceito de quirema em
oposição à fonema.

A decisão dessa utilização de mesmo conceito independentemente da


modalidade oral-auditiva ou visual-espacial está vinculada à compreensão de que as
línguas são todas semelhantes em seus princípios básicos mentais, logo, não faria sentido
adotar nomenclaturas diferentes para o mesmo objeto. Por exemplo, o conceito de fonema
como unidade mínima de expressão das diferenças da língua, mesmo que tenha em sua
base o radical fono (som), tem uma compressão que não está obrigatoriamente ligada
ao som, mas às partes mínimas que diferenciam as palavras, logo, como conceito atende
plenamente tanto às línguas orais quanto às línguas de sinais não sendo necessário o
uso da palavra quirema (radical quiro que significa mão), porque a diferença seria apenas
de nome e não de conceito. Observe os exemplos em que são colocadas em oposição
palavras cuja diferença de fonemas altera o significado.

QUADRO 1 – OPOSIÇÃO FONÉTICA ARTICULATÓRIA: F X V

faca X vaca
FONTE: Os autores

FIGURA 1 – OPOSIÇÃO FONÉTICA ARTICULATÓRIA: SÁBADO X APRENDER

FONTE: Os autores

4
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

No Quadro 1 e na Figura 1 o fenômeno linguístico observado é o mesmo,


o ponto articulatório mudou o fonema. No Quadro 1, o modo como a língua, os
lábios e os dentes obstruem o ar faz com que seja produzido o som de /f/ ou de /v/,
ou seja, o lugar desses elementos na boca muda o tipo de consoante emitida. Já na
Figura 1, o lugar em que a mão está modifica o tipo de sinal produzido. Assim, o
fenômeno linguístico observável é o mesmo.

DICAS

O material-base para a elaboração desta Unidade 1 é o livro Escrita de sinais


sem mistérios, escrito pelo casal Madson e Raquel Barreto, esse livro traz o resultado do
estudo feito ao longo de muitos anos pelos autores. Sempre que forem feitas citações
diretas ou indiretas serão feitas as referências completas no texto, contudo, é interessante
que você conheça o material feito por eles.

ESCRITA DE SINAIS SEM MISTÉRIO

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 3)

2 ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO

Espaço de sinalização

5
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

O espaço de articulação/sinalização é de extrema importância para as


línguas de sinais, pois é através dele que os sinais são formados, as sentenças
construídas e as relações sintáticas estabelecidas, ou seja, as línguas visuais-
espaciais existem a partir do espaço de articulação/sinalização. O espaço de
articulação ou espaço de sinalização compreende os eixos de Altura ou Plano
Parede (Z), Largura (X) e Profundidade ou Plano Chão (Y), conforme estão
demonstrados na Figura 2, inserida a seguir, que demonstra as possibilidades
de realização da sinalização para expressão das línguas de sinais, como a Libras:

FIGURA 2 – ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO/SINALIZAÇÃO

FONTE: Quadros (2008, p. 49)

Numa sinalização ao vivo ou gravada em vídeo, as pessoas conseguem


processar as informações dos sinais feitos como um todo, percebendo e fazendo
o processamento daquilo que está sendo sinalizado de maneira completa. Isso
quer dizer que, numa conversa em Libras, é possível perceber os sinais de forma
integral, sem fazer a decomposição nas partes que estruturam os fonemas e
estruturam a sua posição nas sentenças. Por isso, entre pessoas proficientes em
Libras a conversa flui de modo contínuo e a ênfase maior é dada àquilo que está
sendo o sentido da conversa e não como cada parte de sinal ou sentença é feito,
pois o cérebro processa rapidamente as informações que compõem cada sinal ou
sentença.

Para que uma escrita das línguas de sinais seja eficiente, ela também
precisa ser capaz de colocar as partes que constituem um sinal ou sentença de
forma que o leitor proficiente em ES seja capaz de compreender o que está escrito
sem ter que decompor o sinal em pedaços. Ou seja, a ES necessita ter modos de
demonstrar claramente o uso do espaço de articulação durante o uso de cada um
desses sinais na formação das sentenças.

Na escrita de sinais a partir do SW, existem diferentes grafemas que são


utilizados para escrita dos componentes espaciais envolvidos na ES, tais como:

6
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

NOTA

De acordo com Dubois et al. (1973), os grafemas são as letras no sistema de escrita
alfabético, assim sendo, na ES os grafemas correspondem às unidades gráficas que compõem
o sistema de escrita, tais como as setas, asteriscos, pontos, configurações de mão etc.

• Setas: possuem o papel de indicar como se dá a movimentação do sinal,


demonstrando o modo como o sinal é articulado no espaço de articulação,
em relação ao plano da parede, ao plano do chão ou ao plano diagonal e às
possíveis interações entre eles. Por exemplo, no sinal de ENCONTRAR,
colocado a seguir, as setas simples indicam que o movimento acontece num
paralelo ao chão, as cores da cabeça da seta mostram o movimento realizado
tanto com a mão direita (preenchida) quanto com a esquerda (não preenchida):

Encontrar

• Preenchimento: a forma como os grafemas são ou não preenchidos serve


para indicar o modo como ele se posiciona no espaço, por exemplo, no sinal
de CARRO, os quadrados representam as duas mão fechadas, por eles não
estarem preenchidos, é possível saber que as mão estão posicionadas com as
palmas viradas na direção do falante; o tipo de flecha indica que o movimento
é feito no plano da parede, com a mão Direita (cabeça de seta preenchida) e
com a mão Esquerda (cabeça de flecha sem preenchimento) por três vezes:

Carro

• Corte: serve para indicar o modo como a palma da mão está posicionada no
espaço de sinalização, quando não apresenta corte ela está na vertical e quando
tem uma interrupção na altura dos dedos é porque está na horizontal, por
exemplo, os sinais de CASA e LIVRO. No primeiro, a configuração de mão está
de lado para o falante e na vertical, no segundo, a configuração de mão está de
lado para o falante na horizontal:
7
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Casa Livro

• Referência e destaque corporal: são utilizadas escritas específicas para delimitar


ponto específico do corpo do falante em que são realizados os morfemas,
no sinal de AMIG@ o traço forte em destaque indica o peito do falante e os
asteriscos indicam dois toques nesta parte do corpo, já no sinal de SURD@,
aparece um círculo representando a cabeça, a configuração de mão marcando a
posição inicial da mão na lateral da cabeça e o asterisco identificando a posição
final do movimento.

Surd@ Amig@/amizade

A partir dos elementos gráficos apresentados anteriormente, ficam


em evidência as possibilidades que os grafemas da ES trazem para o registro
e delimitação do espaço de articulação/sinalização das línguas de sinais. Cabe
salientar que, de acordo com Barreto e Barreto (2015, p. 121): “por definição,
sinais escritos sem nenhuma identificação do tronco (regras especiais para o
centro do peito), braços, cabeça ou pescoço ocorrem no espaço neutro, isto é, à
frente do tronco. Cada uma destas partes será escrita somente quando necessária
ao entendimento do sinal”.

Essa orientação para que sejam escritos apenas os elementos imprescindíveis


para que o sinal seja entendido está de acordo com o princípio de economia das
línguas, em que os detalhamentos que possam ser compreendidos pelos leitores
proficientes não são colocados para evitar o excesso de informações, por exemplo,
a escrita do sinal de SURD@:

Capovilla et al. (2017, p. 2643) Barreto e Barreto (2015, p. 5)

Embora os dois sinais sejam corretos, é perceptível que o sinal escrito por
Capovilla et al. (2017) apresenta mais elementos descritivos de posicionamento do
que aquele escrito por Barreto e Barreto (2015). Isso porque o primeiro coloca as
informações referentes à orelha como ponto inicial através do desenho dela, bem
como dois asteriscos que indicam o início e final do sinal. Já o segundo pressupõe

8
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

que a informação quanto à lateral da cabeça basta por si própria sem a necessidade
de especificar a orelha, tendo em vista que anatomicamente a orelha está nesta
posição, além disso, não coloca a necessidade de toque inicial, apenas de toque
final na parte inferior do rosto e não necessariamente na boca. Ambos os registros
estão corretos, porém o modo como Barreto e Barreto (2015) escrevem o sinal está
de acordo com o princípio de economia que os autores destacam em seu livro.

De acordo com Stumpf (2008a, p. 9): “chegará o momento que uma das
formas será estandardizada por uma determinada língua de sinais, mas no
momento podemos encontrar e ler o sinal em qualquer uma das cinco grafias”.

NOTA

Todas as línguas escritas se desenvolvem e modificam ao longo do tempo,


contudo, como a escrita das Línguas de Sinais ainda está em processo de fixação das
normas de escrita e de padronização da escrita das palavras, é normal existirem diferentes
grafias corretas para as mesmas palavras. Apenas com o tempo, a divulgação, a pesquisa
e a circulação de materiais escritos em ES é que estas diferenças gráficas serão diminuídas
pela estabilização da escrita da Libras. Isso não quer dizer a diferença entre sinais que
significam a mesma coisa, mas grafias diferentes para os mesmos sinais, por exemplo, em
LP, as grafias assobio e assovio são reconhecidas como corretas e fazem referência ao
mesmo significado e à mesma palavra.

NOTA

Os sinais escritos em SW foram feitos ou retirados com o uso do SignPudlle


Online 2.0, disponível no endereço: http://www.signbank.org/signpuddle2.0. Ao longo
deste livro didático serão apresentados mais alguns detalhes sobre seu uso e acesso.

3 PERSPECTIVA EXPRESSIVA E RECEPTIVA

Ponto de vista

9
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Segundo Barreto e Barreto (2015), o primeiro elemento importante para


o estudo da ES é a compreensão da perspectiva adotada para a escrita, ainda
de acordo com os autores, existem duas perspectivas possíveis: a perspectiva da
pessoa que recebe/vê o sinal ser feito pelo falante (receptiva ou de observação) e o
ponto de vista do falante que está se expressando/realizando o sinal (expressiva).

Os autores mencionam que para a Escrita de Sinais pelo sistema SW,


deverá ser adotada sempre a perspectiva de quem está realizando o sinal, ou seja,
a perspectiva expressiva é aquela que será utilizada para a escrita dos sinais em
ES. Além disso, destacam que, mesmo a sinalização corrente sendo feita com a
mão direita ou esquerda, de acordo com a característica do falante, o consenso
entre os diversos materiais consultados é que a dominância na escrita seja da
perspectiva expressiva destra, ou seja, com predominância da mão direita.

FIGURA 3 – PERSPECTIVA RECEPTIVA FIGURA 4 – PERSPECTIVA EXPRESSIVA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 121) FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 121)

Normalmente, quando são utilizadas fotos alteradas digitalmente, a


perspectiva adotada é a perspectiva receptiva, ou seja, o ponto de vista oposto
ao utilizado na ES. A fim de observarmos essa diferença de registro, foram
colocadas, a seguir, as fotos dos autores deste livro didático juntamente com a ES
correspondente ao sinal pessoal de cada um deles, um dos autores, a professora
Mariana Correia, que também escreveu os livros de Sintaxe da Libras e Introdução
à Escrita de Sinais; o outro, é o professor Cristian Sardo.

FIGURA 5 – SINAL DO AUTOR, FOTO E ES FIGURA 6 – SINAL DA AUTORA, FOTO E ES

FONTE: Os autores FONTE: Os autores

10
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

Observe que as fotos alteradas digitalmente levam em consideração o


modo como você, leitor, percebe o sinal feito, logo, demonstram a perspectiva
receptiva como se os autores e você estivessem frente a frente numa conversa.
Já a escrita de sinais demonstra o ponto de vista dos autores ao sinalizarem seus
sinais, por isso, por exemplo a mão em M da professora Mariana aparece na foto
com o dorso voltado para você e, na escrita, aparece com a palma virada para
a professora quando faz seu sinal (como vimos antes, não preenchido significa
palma da mão).

4 ESCRITA EM COLUNAS

Escrever em colunas

Inicialmente, o registro escrito em SW seguiu a lógica estrutural da escrita


das línguas orais e se estruturou em linhas que deveriam ser lidas da esquerda
para a direita, por isso, muitos textos em ES ainda são encontrados em linhas.
Contudo, com o uso e a evolução do registro das línguas de sinais percebeu-se
que a forma mais eficiente de escrita e leitura seria em colunas lidas de cima para
baixo e da esquerda para a direita. De acordo com Barreto e Barreto (2015), dos
países estudados pelos autores, apenas a Alemanha utiliza o registro em linhas
e não em colunas devido à prioridade que as políticas públicas dão ao estudo da
língua oral alemã.

A ES em colunas proporciona maior velocidade de leitura e a estruturação


dentro dos espaços definidos, segundo Barreto e Barreto (2015, p. 301): “a Coerência
e Coesão Visual das LS [Línguas de Sinais] tornam-se evidentes utilizando-se a
escrita de Sinais. Esse sistema registra o uso de referentes dêiticos e sua retomada
(anáfora) de forma visual direta por meio do posicionamento de seus grafemas e
da escrita em colunas”.

A escrita em colunas permite que os elementos de articulação simultânea,


que caracteriza as línguas se sinais, sejam colocados de forma clara e de fácil
compreensão, ainda segundo Barreto e Barreto (2015), existem dois processos
vinculados às características das línguas de sinais que são contemplados pela
escrita vertical:

(1) o corpo humano está naturalmente na vertical. Podemos usar a


simetria da linha central da ELS (trilha 0) posicionando sinais de
forma mais natural. Os olhos lerão os sinais com mais facilidade,
como na vida real;
(2) é mais fácil registrar e retomar as alterações de posição do corpo e
também os referentes estabelecidos (BARRETO; BARRETO, 2015,
p. 173).

11
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Dessa forma, os grafemas estão posicionados de maneira mais orgânica,


ou seja, mais relacionada ao posicionamento dos sinais ao serem realizados no
espaço de articulação/sinalização do corpo humano, o que facilita a escrita, a
leitura e a compreensão dos sinais escritos em colunas. De acordo com Barreto
e Barreto (2015), cada coluna de escrita em ES é dividida por linhas imaginárias
que são utilizadas para guiar a escrita dos sinais de modo a demonstrar as
diferentes posições ocupadas pelas partes do corpo envolvidas na sinalização,
nesta representação, a posição neutra central é indicada pela faixa 0; já a faixa 1 é
usada quando a cabeça e o corpo ficam no centro, mas as mãos se posicionam à
Direita ou à Esquerda; por fim, a faixa 2 é utilizada quando o corpo sai da posição
neutra central e as mãos são movidas para a faixa 2.

FIGURA 7 – DIVISÃO IMAGINÁRIA DAS COLUNAS EM ES

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 174)

Agora, para observar o uso das faixas imaginárias que dividem as colunas
em ES, será feita a análise do Texto 1.

TEXTO 1:

Crianças
Uma porta à
esquerda

Uma das crianças


saiu pela porta da
Uma porta à direita
direita

Duas das crianças


sairam pela porta
Três da direita

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p.174)

12
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

No texto, escrito em ES, podemos observar o uso das faixas imaginárias


para demonstrar o posicionamento das portas e de quantas crianças saíram por
cada uma das portas, como especificado na Figura 8 a seguir, o deslocamento das
mãos, algo extremamente comum nas línguas de sinais para estabelecimento das
posições espaciais ocupadas pelos sinais, é possível de ser escrito de forma clara
através da ES. Logo, as relações sintáticas estabelecidas no espaço de articulação
são nitidamente escritas de maneira exata.

FIGURA 8 – DEMONSTRAÇÃO DAS FAIXAS DE POSICIONAMENTO INTERNAS DAS COLUNAS

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 174)

5 ESCRITA DO GRAFEMA DE MÃO


O grafema que representa a forma como a mão do sinalizante está
posicionada é um dos mais importantes para a Escrita dos Sinais através do
Sistema SW, tendo em vista que os sinais nas Línguas de Sinais são formados,
prioritariamente, por fonemas realizados pelas mãos do sinalizante.

Dessa forma, é de grande importância o estudo das formas que a ES se


utiliza para registrar o posicionamento espacial das mãos do sinalizante durante
a feitura de cada um dos sinais ou as mudanças de disposição manual que
ocorrem neste momento de enunciação. Ou seja, os grafemas de mão são aqueles
que servirão para a escrita dos fonemas manuais da Libras.

Assim, serão estudados os grafemas referentes aos grafemas de relativos


à: Orientação de Mão palmar, dorsal ou lateral D ou E; Orientação de Palma em
relação ao Planos Parede ou Chão; Configurações de Mão e, por fim, será estudada
a escrita dactilológica específica do Alfabeto Manual.

13
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

5.1 ORIENTAÇÃO DA MÃO


A ES utiliza formas específicas para demonstrar a orientação da mão
para a feitura dos sinais, ou seja, a orientação de palma demonstra a posição da
palma da mão em relação ao falante na perspectiva expressiva, como já vimos
anteriormente, sendo dividida em palma, dorso e lado da mão. O quadro a
seguir resume o que Barreto e Barreto (2015) mencionam sobre as diferentes
orientações de mão:

QUADRO 2 – ORIENTAÇÃO DE MÃO

Palma da mão Dorso da mão Lado da mão Mão direita Mão esquerda

FONTE: Os autores

As orientações de mão laterais podem ser giradas para qualquer posição,


na Figura 9, colocada a seguir, aparece a relação entre as posições da mão e a
escrita delas em ES:

FIGURA 9 – ROTAÇÃO DE MÃO

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 124)

Assim sendo, a rotação da mão vai seguir a mesma lógica existente entre
dorso e palma em que a parte que representa a palma não é preenchida e a parte
que escreve o dorso é preenchida.

14
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

5.2 ORIENTAÇÃO DE PALMA DA MÃO

Orientação de palma da mão

Além do modo de orientação de mão, também é importante conhecer as


formas como a ES representa as orientações de palma, esta escreve a posição em
que a palma se encontra em relação aos planos da parede ou do chão. Ou seja,
demonstram se a palma da mão está posicionada horizontal ou verticalmente.

Quando a palma da mão está na vertical, ou seja, no plano paralelo


à parede, o grafema é escrito sem nenhuma interrupção no traçado, como
representado na Figura 10 colocada a seguir, em que a orientação de mão indica o
dorso dela virado para o falante e a orientação de palma verticalmente colocada e
configuração de mão pertencente ao grupo do dedo indicador (1) em D:

FIGURA 10 – ORIENTAÇÃO DE PALMA VERTICAL

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128)

Observe os sinais escritos a seguir, eles apresentam diferentes orientações


e configurações de mão, mas todos têm a mesma orientação vertical de palma:

Comunidades Família Rezar Avó/avô

OM: dorso OM: dorso OM: lateral com OM: palma


OP: vertical OP: vertical dorso para fora OP: vertical
CM: C CM: F OP: vertical CM: S
CM: mão esticada
15
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

NOTA

As abreviaturas utilizadas anteriormente indicam o seguinte:

• OM: Orientação de Mão.


• OP: Orientação de Palma.
• CM: Configuração de Mão.

Neste momento, utilizaremos as referências das configurações de mão das letras.

No momento em que a palma da mão está na horizontal, ou seja, paralela


ao plano do chão, ela é escrita com uma interrupção no traçado, na posição em que
está a escrita dos dedos. De acordo com Barreto e Barreto (2015, p.128): “quando
a mão está na horizontal é representada como se você estivesse olhando suas
próprias mãos por cima. Para isso utilizamos um pequeno espaço na altura dos
dedos”. Não importando a altura da mão, pois se essa informação for necessária
ela será colocada através da escrita das partes do corpo correspondentes. Na
Figura 11, inserida a seguir, está demonstrada a orientação horizontal de palma:

FIGURA 11 – ORIENTAÇÃO HORIZONTAL DE PALMA

ou escreve-se:

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128)

Nos sinais escritos a seguir, são utilizadas diferentes orientações de mãos


e configurações, mas todos com semelhante orientação horizontal de palma:

Também Porque Crianças

OM: dorso OM: lateral com dorso para fora OM: dorso
OP: horizontal OP: horizontal OP: horizontal
CM: D CM: D CM: mão esticada

16
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

Assim como na orientação de mão, os grafemas de orientação de palma


podem ser girados em qualquer sentido:

FIGURA 12 – ROTAÇÃO DA ORIENTAÇÃO DE PALMA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 128)

5.3 CONFIGURAÇÕES DE MÃO

Configuração de mão

Cada grafema que escreve as mãos do falante em ES carrega em si, no


mínimo, três informações descritivas: orientação de mão, orientação de palma e
configuração de mão. Assim, mesmo que sejam analisadas em separado, essas
três informações estão escritas através de um único grafema.

As configurações de mão na ES têm uma compreensão semelhante às


configurações de mão estudadas para o uso da modalidade falada/sinalizada,
ou seja, são as formas como a mão e os dedos são posicionados para a feitura
de cada sinal. Segundo Barreto e Barreto (2015), existem 111 configurações de
mão em Libras, essas configurações são divididas em dez grupos baseados nas
configurações dos números de 1 a 10 em American Sign Language (ASL):

17
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

FIGURA 13 – GRUPOS DE CONFIGURAÇÃO DE MÃO

FONTE: Nobre (2011, p. 93)

Ainda segundo os autores, nessa organização todas as configurações que


utilizam os dedos envolvidos em cada grupo são inseridas dentro de cada um
destes conjuntos, por exemplo, todas as configurações que envolvem o dedo
indicador estendido estão organizadas no Grupo 1. Essa informação será muito
importante para a escrita e localização de sinais com o uso do SigPuddle 2.0,
pois cada configuração estará dentro de seu grupo específico. Por exemplo, a
configuração 15 faz parte do Grupo 2, nela estão envolvidas as configurações em
que os dedos indicador e médio são utilizados como protagonistas da sinalização.

TUROS
ESTUDOS FU

Acadêmico, na Leitura Complementar serão apresentados os dez grupos de


configurações de mão da Libras de acordo com Barreto e Barreto (2015).

18
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

FIGURA 14 – CONFIGURAÇÃO DE MÃO 15

Refrigerante

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 307)

Na Figura 14, é possível a percepção de que todos os possíveis


posicionamentos de mão e de palma estão inseridos dentro da mesma configuração
de mão, pois são modificações quanto ao posicionamento no espaço físico e não
configurações de mão diferentes. Em relação à direção dos dedos para a realização
dos sinais, Barreto e Barreto (2015) destacam que as configurações de mão podem
ser escritas de forma inclinada ou não, de acordo com o desejo de quem está
escrevendo sendo, pois, usos equivalentes do mesmo grafema:

FIGURA 15 – DIREÇÃO DOS DEDOS

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 166)

19
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

6 ALFABETO MANUAL
Assim como na sinalização, a escrita por soletração via alfabeto manual
será utilizada nas situações em que um sinal específico não possa ser usado, como
nomes de lugares ou pessoas que não têm um sinal, ou que o sinal será antes que
será utilizado a partir daquele momento do texto. A escrita do alfabeto em Libras
está colocada na Figura 16 a seguir:

FIGURA 16 – ESCRITA DO ALFABETO DE SINAIS

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 220)

O Texto 2 faz parte do início de uma história mencionada por Barreto e


Barreto (2015) como modo de treinamento da escrita e da leitura de sinais.
20
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

TEXTO 2:

Olá

eu

Sinal de Sávio

S-Á-V-I-O
{
FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 159)

Após o momento em que o sinal é estabelecido no texto, não se faz mais


necessário colocar a soletração do nome, logo, será usado apenas o sinal pessoal
daquela personagem.

7 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

O aprendizado de uma língua escrita necessita de contato com textos


para que tenhamos cada vez mais agilidade na leitura dos materiais em ES.
Tendo isso em vista, neste livro didático serão colocados ao final de cada
tópico, além do resumo e das autoatividades, um texto com glossário para o
desenvolvimento de sua proficiência em ES.

A metodologia que coloca atividades de leitura ao final das unidades


do livro, foi adaptada de Barreto e Barreto (2015) que colocam ao longo de seus
capítulos de estudo da ES partes de uma história escrita apenas em ES. Porém,
neste material, optou-se por colocar também o texto em Língua Portuguesa
para melhor compreensão do vocabulário utilizado. Não esqueça que qualquer
tradução é sempre uma versão, pois duas línguas diferentes também terão modos
diversos de expressão das mesmas informações.
21
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

É recomendável que você aproveite para treinar a escrita de sinais


através da cópia do texto e a leitura de ES, tentando incialmente, compreender o
máximo possível do texto apenas com o auxílio do vocabulário e, apenas depois,
conferindo o que você entendeu com o texto em LP. Dessa forma, você poderá
estudar de forma mais eficiente sua leitura e escrita em ES. Boa leitura!

7.1 TEXTO
TEXTO 3:

DEDICATÓRIA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p.5)

22
TÓPICO 1 | ESTRUTURA E PERSPECTIVA

7.2 GLOSSÁRIO

Livro Educação Profissional

Brasil Bilíngue Família

7.3 TRADUÇÃO
DEDICATÓRIA

“Às comunidades surdas brasileiras, aos tradutores intérpretes de Libras,


educadores, pesquisadores da Libras e familiares de surdos por sonharem e
lutarem pela educação bilíngue para surdos” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 5).

23
RESUMO DO TÓPICO 1

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• Fala e escrita são intimamente relacionadas, mas, ao mesmo tempo, apresentam


características particulares que às distinguem.

• Cada uma dessas formas de expressão da língua tem características distintas,


porém complementares.

• O espaço de articulação/sinalização é de extrema importância para as línguas de


sinais, pois é através dele que os sinais são formados, as sentenças construídas
e as relações sintáticas estabelecidas.

• Numa conversa em Libras, é possível perceber os sinais de forma integral, sem


fazer a decomposição nas partes que os estruturam fonemas e estruturam a sua
posição nas sentenças.

• Na escrita de sinais a partir do SW, existem diferentes grafemas que são


utilizados para escrita dos componentes espaciais envolvidos na ES.

• Todas as línguas escritas se desenvolvem e modificam ao longo do tempo,


contudo, como a escrita das Línguas de Sinais ainda está em processo de
fixação das normas de escrita e de padronização da escrita das palavras, é
normal existirem diferentes grafias corretas para as mesmas palavras.

• O registro escrito em SW seguiu a lógica estrutural da escrita das línguas orais


e se estruturou em linhas que deveriam ser lidas da Esquerda para a Direita,
por isso, muitos textos em ES ainda são encontrados em linhas.

• A forma mais eficiente de escrita e leitura é em colunas lidas de cima para


baixo e da esquerda para a direita.

• Apenas a Alemanha utiliza o registro em linhas e não em colunas devido à


prioridade que as políticas públicas dão ao estudo da língua oral alemã.

• A ES utiliza formas específicas para demonstrar a orientação da mão para a


feitura dos sinais, ou seja, a orientação de palma demonstra a posição da palma
da mão em relação ao falante na perspectiva expressiva.

24
• Cada grafema que escreve as mãos do falante em ES carrega em si, no mínimo,
três informações descritivas: orientação de mão, orientação de palma e
configuração de mão. Assim, mesmo que sejam analisadas em separado, essas
três informações estão escritas através de um único grafema.

• As configurações de mão na ES têm uma compreensão semelhante às


configurações de mão estudadas para o uso da modalidade falada/sinalizada,
ou seja, são as formas como a mão e os dedos são posicionados para a feitura
de cada sinal.

• O aprendizado de uma língua escrita necessita de contato com textos para que
tenhamos cada vez mais agilidade na leitura dos materiais em ES.

25
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 De acordo com Barreto e Barreto (2015), sobre as diferentes orientações de


mãos utilizadas na ES. Relacione, de forma correta, Coluna I, orientação de
mão, à Coluna II, identificação em ES:

Coluna I Coluna II

(1) Palma da mão ( )

(2) Dorso da mão ( )

(3) Lado da mão ( )

(4) Mão direita ( )

(5) Mão esquerda ( )

Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:


a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1
b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4
c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5
d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4
e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2

2 Em ES por SW é importante que o leitor conheça as formas como são


registrados os textos e como são feitas as diferentes marcações dos sinais em
ES. Baseadas em Barreto e Barreto (2015):

I- A escrita da Locação de Mão (LM) ou ponto de articulação (PA) só será escrita


se ela for diferente do local de sinalização neutro à frente do sinalizante,
caso contrário, não será desenhada.
II- A CM é representada com a perspectiva da mão Direita como dominante,
com as orientações de palma representadas com asteriscos.

26
III- As linhas na escrita de sinais são divididas em três linhas imaginárias, a
posição média é marcada pela “Posição 0” que marca o centro do corpo; a
“Posição 1” é aquela utilizada quando a cabeça e o corpo ficam no centro e
as mãos se movem para a “Posição 2”.
IV- A visão de registro é pela perspectiva receptiva, ou seja, os sinais são
escritos na visão de quem observa.
V- Quando o sinal é realizado apenas na “Posição 0”, devemos primeiro
observar o fonema que representa a Configuração de Mão, após, a
Localização do Sinal ou Ponto de Articulação e, por fim, o Movimento (M).

Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I, II, III e V.
c) ( ) II, III, IV e V.
d) ( ) I, III, IV e V.
e) ( ) I, II, IV e V.

3 Identifique na expressão a seguir, a Orientação de Mão (OM), a Orientação


de Palma (OP) e a Configuração de Mão (CM) utilizadas:

4 Após o nome de um personagem ser estabelecido por soletração, como ele


será identificado no decorrer de um texto em ES?

27
28
UNIDADE 1
TÓPICO 2

REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E


TIPOS DE CONTATO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, foram apresentadas as formas básicas da estrutura da
ES: a Orientação de Mão (OM), a Orientação de Palma (OP) e as Configurações
de Mão (CM), e também a forma como o alfabeto de sinais é escrito e utilizado
na produção de textos em ES. Desse modo, foram estudados os grafemas que
são a base para a compreensão da ES, pois a compreensão da estrutura vertical
da E para a D e os modos como o posicionamento e configuração das mãos serão
escritos são imprescindíveis para o entendimento de como se dá a escrita das
Línguas de Sinais, como a Libras, através do sistema SW.

Antes de continuarmos o estudo dos demais grafemas em ES, é


interessante fazer a retomada dos parâmetros das línguas de sinais mencionadas
por Brito (1995, p.14): “a estrutura sublexical [ordenação interna aos sinais] da
LIBRAS [sic], assim como a de outras línguas de sinais, é constituída a partir de
parâmetros (KLIMA; BELLUGI, 1979) que se combinam, principalmente com base
na simultaneidade”. Essa simultaneidade está na base da apresentação da ES em
colunas, como os diferentes elementos que servem para escrita dos parâmetros,
ou seja, aspectos que são estruturantes das línguas de sinais e que ocorrem ao
mesmo tempo. Dessa maneira a combinação dos parâmetros que compõem as
línguas de sinais são partes em que os sinais podem ser decompostos porque não
apresentam significado sozinhos (QUADROS; KARNOPP, 2004).

Sobre quais seriam os parâmetros das línguas de sinais, Brito (1995) e


Quadros e Karnopp (2004) mencionam que eles são basicamente três, acrescidos
da Orientação de Mão, aspecto ainda polêmico à época em que o livro de Brito
(1995) foi publicado, mas mais aceito no momento da publicação de Quadros e
Karnopp (2004) devido ao seu caráter de distinguir sinais:

• Configuração de Mão (CM).


• Movimento (M).
• Ponto de Articulação (PA) ou Locação de Mão (L).
• Orientação de Mão (OM).

29
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

NOTA

O caráter de distinguir sinais está vinculado à possibilidade de comparação


entre dois sinais em que apenas a mudanças de um dos parâmetros acarrete, também,
mudança de significado. Na Figura 17, a diferença entre os sinais de PARA CIMA e PARA
BAIXO é feita apenas com a alteração da Orientação de Mão (OM) o que comprova o
caráter distintivo da OM e sua possibilidade concreta como parâmetro das Línguas de Sinais.

FIGURA 17 – DISTINÇÃO DE OM

PARA CIMA PARA BAIXO

FONTE: Quadros e Karnopp (2004, p. 54)

Na Figura 18, a imagem demonstra os parâmetros de CM, M, PA e OM,


com as marcações que identificam cada um dos elementos, a fim de observar
como a ES dá conta da representação destes aspectos, foi feita a comparação entre
duas formas de registro do mesmo sinal REFRIGERANTE com a marcação dos
parâmetros correspondentes:

FIGURA 18 – PARÂMETROS DAS LÍNGUAS DE SINAIS: REFRIGERANTE

FONTE: Os autores

30
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

Assim sendo, na Figura 18, podem ser vistos os parâmetros relacionados


por Brito (1994) e Quadros e Karnopp (2004), de modo a perceber o modo como a ES
apresenta elementos que conseguem escrever todos os parâmetros das Línguas de
Sinais de forma, por vezes, mais detalhado do uso das fotos digitalmente alteradas.

Para escrita dos sinais em ES, os grafemas, ou seja, as formas de


representação dos parâmetros fonológicos para o uso específico da escrita, são
divididos em sete categorias que estão intimamente relacionadas a eles e entre si.
Isso quer dizer que, para poder representar na escrita os parâmetros fonológicos
das Línguas de Sinais foram necessários o estabelecimento de sete categorias
de formas gráficas de representação, os grafemas. Segundo Sutton (2011 apud
BARRETO; BARRETO, 2015) os grafemas utilizados na Escrita de Sinais pelo
sistema SW são divididos em sete categorias: Mãos, Movimentos, Dinâmica e
tempo, Cabeça e Face, Corpo, Locação Detalhada e Pontuação. Ainda de acordo
com a mesma autora, a locação detalhada é utilizada para os registros específicos
de pesquisa e dicionário.

No tópico anterior, foram estudados os elementos gráficos básicos para a


escrita dos grafemas de mão, no Tópico 2, veremos como são feitos os registros
referentes às Locações, à Cabeça e à Face, aos Movimentos e à escrita do plano e
da dinâmica dos movimentos em ES.

2 LOCAÇÕES
As Locações (L) ou Pontos de Articulação (PA) são os lugares específicos
em que os sinais se localizam dentro do espaço de articulação, em ES eles serão
especificados na escrita dos sinais quando forem imprescindíveis para a compreensão
do léxico específico. Ou seja, caso o Ponto de Articulação (PA) possa ser depreendido
pelo leitor, ele não será escrito pois o leitor proficiente será capaz de compreender
qual o PA a partir dos demais grafemas utilizados na escrita dos sinais.

Esta é uma característica de escrita de todas as línguas sejam elas orais-


auditivas ou de sinais, isso porque:

Quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que façamos uma
série de inferências para podermos compreendê-lo integralmente. Se
assim não fosse, nossos textos teriam que ser excessivamente longos
para poderem explicitar tudo o que queremos comunicar. Na verdade
[,] é assim: todo texto assemelha-se a um iceberg – o que fica à tona,
isto é, o que é explicado no texto, é apenas uma parte daquilo que
fica submerso, ou seja, implícito. Compete, portanto, ao receptor ser
capaz de atingir os diversos níveis de implícito, se quiser alcançar
uma compreensão mais profunda do texto que ouve ou lê (KOCH;
TRAVAGLIA, 1990 apud WANDERLEI, 2012, p. 141).

Assim, tanto a leitura quanto a compreensão dos enunciados falados/


sinalizados pressupõem uma série de conhecimentos sobre a língua cujo registro
está sendo lido, por exemplo, cada letra utilizada no sistema alfabético pode

31
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

corresponder a mais de um fonema (som) assim como os diferentes grafemas


em ES podem trazer em si indicações que demonstram mais de um parâmetro.
Como exemplo, Stumpf (2008b) coloca que foi decidido na Dinamarca há alguns
anos que os contatos só seriam escritos quando absolutamente necessários para o
entendimento do sinal, observe os modos de escrita do sinal SURD@:

FIGURA 19 – EXEMPLOS DE ESCRITA: SURD@

a b c d e f
FONTE: Adaptado de Capovilla et al. (2017, p. 2643) e Stumpf (2008b, p. 9)

Ao fazermos a análise das diferentes grafias para o sinal de SURD@,


podemos observar o seguinte em relação a elas:

• Em a, o sinal foi escrito com o sinal de contato (*) na orelha (delimitada


claramente) e na boca.
• Em b, o sinal foi escrito com um grafema que indica onde a CM toca na lateral
da cabeça (semicírculo) e o sinal de contato (*) que indica um toque na lateral
da cabeça e um toque à altura do queixo.
• Em c, o sinal de contato (*) foi colocado na lateral da cabeça e próximo ao
semicírculo à altura da lateral do queixo.
• Em d, o sinal foi escrito com dois semicírculos marcando os toques na lateral da
cabeça e na lateral do queixo, além disso, foram colocados os sinais de contato
(*) nos dois lugares.
• Em e, o sinal foi simplificado a ponto de marcar o lugar de início com a escrita
da CM e o sinal de contato (*) marcando o final do sinal, sem a necessidade de
indicação do local específico de toque com um semicírculo.
• Em f, foram colocados dois sinais de contato (*) um no início do sinal (lateral
da cabeça) e um no lugar em que o sinal termina.

Dessa maneira, pode-se concluir que todos as formas de grafia do sinal


SURD@ estão localizadas na cabeça e com a mesma CM , mas a escolha
de registro varia na quantidade de detalhamento do lugar de contato do sinal.
Mesmo com estas variações todas as formas de escrita estão corretas, porém, o
uso atual da ES recomenda a escrita mais clara possível, desde que se mantenha
a possibilidade de leitura correta do sinal. Neste caso, a ES exemplificada em e.

A seguir, veremos como se dão as marcações gráficas para a escrita das


locações de face, cabeça, pescoço e ombros.

32
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

NOTA

Lembre-se de que o “berço” da ES foi a parceria entre a Universidade


de Copenhagem com Valerie Sutton (1974) após os pesquisadores terem acesso ao
DanceWriting criado por ela para o registro dos movimentos do balé.

DICAS

A tese de Stumpf (2005) é muito interessante para os profissionais que atuarão


na área de ensino das línguas de sinais, nela, a autora apresenta de que modo o sistema SW
pode ser utilizado como ferramenta pedagógica para o ensino da escrita das línguas de sinais
e letramento dos surdos, tendo em vista ser um sistema que permite o completo registro
de todos os níveis da Libras (morfológico, sintático, semântico etc.) sem a intermediação da
escrita oral. A leitura deste material é importante!

TEXTO 4:

TÍTULO DA TESE DE STUMPF (2005) EM ES: APRENDIZAGEM DE


LÍNGUA DE SINAIS PELO SISTEMA SIGNWRITING: LÍNGUAS DE SINAIS
NO PAPEL E NO COMPUTADOR

33
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

2.1 FACE E CABEÇA


Neste subtópico, serão apresentados os principais grafemas para
representar a face e a cabeça quando a escrita destas for necessária para a
compreensão de qual sinal está sendo realizado. Importante destacar que estes
não são os grafemas referentes às expressões não manuais que são realizadas a
partir da face. Ou seja, os grafemas que representam, na escrita, a face e a cabeça
são aqueles que indicam o local de realização do sinal, desse modo, são as formas
utilizadas para escrever a face e a cabeça quando estas estão relacionadas à
Locação (L) / Ponto de Articulação (PA) do sinal a ser grafado.

O grafema utilizado para a escrita da face é composto por um círculo,


conforme pode ser visto a seguir:

GRAFEMA DE FACE

Assim como nas línguas orais as letras são combinadas para a escrita das
palavras, na escrita das línguas de sinais os grafemas são combinados para que
os sinais possam ser corretamente escritos. Desse modo, ao serem acrescentados
os grafemas referentes ao Movimentos e à CM ao grafema da face será possível
realizar a escrita dos sinais, por exemplo, para fazer a escrita do sinal de URS@ é
acrescentada ao grafema de face a configuração de mão 45 no local específico em
que a CM é realizada, na lateral superior da cabeça do sinalizante:

FIGURA 20 – ESCRITA SINAL DE URS@ E CONFIGURAÇÃO DE MÃO CORRESPONDENTE

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 180)

Contudo, de acordo com Barreto e Barreto (2015), às vezes, também é


necessário o acréscimo de um semicírculo que delimita com exatidão o local em
que a CM é realizada e facilita a compreensão nos casos em que a colocação da
CM no lugar específico poderia causar confusão ou dificuldade de leitura. Para
exemplificar essa situação, os autores colocam o sinal de QUINTA-FEIRA, na figura
a seguir aparece o comparativo entre a escrita com uma CM colocada sobre a face e a
escrita de QUINTA-FEIRA com a utilização de semicírculo indicando a localização
exata e a CM sendo escrita de modo claro e sem sobreposição de grafemas:
34
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

FIGURA 21 – COMPARATIVO ENTRE CM SOBRE A FACE E ESCRITA COM CM E


INDICAÇÃO DE LUGAR

Quinta-feira

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 147)

A seguir, estão colocados mais alguns exemplos de sinais em que a


utilização do semicírculo em conjunto do grafema da face com a finalidade de
evitar a sobreposição de grafemas e facilitar a leitura dos sinais:

Todo dia Esperto Alemanha Verde

Segundo Barreto e Barreto (2015), quando for necessária a escrita de


um sinal em que a Locação for atrás da cabeça, serão colocadas duas linhas em
semicírculo à direita e à esquerda do grafema da face:

GRAFEMA PARTE DE TRÁS DA CABEÇA

Como exemplo do uso desse grafema, os autores trazem os seguintes


sinais, é interessante notar que a OM continua sendo grafada em relação à
perspectiva expressiva, logo, nestes sinais, à exceção de IMPLANTE COCLEAR,
estão com o dorso voltado para a frente, ou seja, para a posição que o sinalizante
enxergaria caso virasse o rosto em direção a sua mão:

Falar mal
pelas costas Implante coclear Costas Meningite

35
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

FIGURA 21 – FACE E GRAFEMAS RELACIONADOS

Orelha
Face

Pescoço Atrás da cabeça

Queixo Cabelo

Queixo para cima

FONTE: Stumpf (2005, p. 84)

Como pode ser visto na figura anterior, existem muitos elementos que
podem ser utilizados para o uso da ES, lembrando que essas locações específicas
deverão ser usadas apenas quando importantes para a leitura do sinal, ou
seja, sem elas o sinal fica confuso ou incompreensível. Além disso, é preciso
termos em mente que, com o tempo, as LS também terão um vocabulário mais
estabilizado em relação à forma gráfica de seu léxico, como acontece com a
escrita das línguas orais.

Ainda em relação às grafias relacionadas à face e à cabeça, Stumpf (2005,


p. 85) coloca os seguintes movimentos:

FIGURA 22 – MOVIMENTOS DA CABEÇA

Movimento da cabeça para Cabeça projetada


Cabeça virada para baixo
cima e para baixo para as laterais

Movimento da cabeça Cabeça projetada para


Cabeça virada para cima
para as laterais frente e para trás

FONTE: Stumpf (2005, p. 85)

36
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

TUROS
ESTUDOS FU

Neste subtópico, foram colocados os grafemas que correspondem diretamente


à face e à cabeça, mais adiante, no Tópico 3, serão detalhados mais aspectos referentes às
expressões faciais, tais como, olhos, direção do olhar, sobrancelhas, boca, lábios, dente,
língua e respiração.

2.2 PESCOÇO, OMBROS E PEITO


O grafema do pescoço é utilizado quando a mão encosta ou se aproxima
do pescoço do sinalizante, ou seja, quando o pescoço é um Ponto de Articulação
(PA) necessário para a correta compreensão do sinal escrito. De acordo com Barreto
e Barreto (2015, p. 121, grifo nosso): “por definição, sinais escritos sem nenhuma
identificação do tronco (regras especiais para o centro do peito), braços, cabeça
ou pescoço ocorrem no espaço neutro, isto é, à frente do tronco. Cada uma destas
partes serão [sic] escritas somente quando necessárias ao entendimento do sinal”.

O grafema que deve ser escrito da seguinte maneira:

GRAFEMA PESCOÇO

O uso desse grafema pode ser observado na escrita dos sinais colocados
a seguir:

Pescoço Nuca Morrer Gostar/adorar Minas Gerais

Observe que os sinais de PESCOÇO e NUCA têm grafado o grafema


de contato e os sinais de MORRER, GOSTAR/ADORAR e MINAS GERAIS
apresentam o grafema indicando um contato que desliza na direção indicada
pela seta.

37
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Em relação ao ombro, Barreto e Barreto (2015, p. 283) destacam que este


grafema é utilizado quando “[...] é importante indicar a distância entre as mãos
e o corpo, os movimentos em direção ao corpo e ainda os sinais feitos na parte
superior da cabeça ou em frente ao rosto”. O grafema usado deverá indicar o
posicionamento dos ombros, podendo ser colocado reto ou girado para o lado
que for necessário:

Grafema de ombro

Desse modo, esse grafema indica vista de cima, esta forma de visão do sinal
será usado apenas quando estritamente necessário para a correta compreensão
do sinal. Para exemplificar esta utilziação, Barreto e Barreto (2015, p. 283) colocam
os seguintes sinais:

Influenza A Porto batendo Uma onda gigante


(H1N1 - gripe suína) ao longe (CL) está vindo (CL)
FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 283)

Em relação ao PA que está localizado no peito, segundo (Barreto e


Barreto, 2015):

• Quando o sinal for feito no centro do peito o grafema de contato será feito logo
abaixo do grafema que representa a mão do sinalizante:

Ter Meu/minha

38
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

• Já quando o sinal tiver seu PA na lateral do peito será utilziada uma linha
grossa representando os ombros vistos de frente:

Amig@

• Nas situações em que o ponto de contato se localize nas duas laterias do peito
ao mesmo tempo, não é colocado o grafema indicativo do peito:

Orgulho

NOTA

Você deve ter percebido que não foi adotado neste livro um tamanho padrão
para a ES, isso acontece porque, diferente das letras da escrita das línguas orais, a ES ainda
é feita como uma imagem, ou seja, ela não tem um padrão exato. Por isso, ao utilizar a ES,
devemos cuidar para que os sinais sejam escritos de modo claro e proporcional, quando a
escrita for feita à mão isso é um pouco mais complicado, mas quando é feita via SignPudlle
(um site específico) fica mais fácil deixar os textos mais bem proporcionados.

3 GRAFEMAS DE MOVIMENTO I
Segundo Barreto e Barreto (2015), o grande trunfo da escrita criada por
Valerie Sutton foi exatamente a capacidade do sistema criado por ela de registrar
com eficiência o movimento, um dos aspectos mais complexos e, ao mesmo tempo,
mais importantes das línguas de sinais. Além disso, os autores chamam atenção
para o fato de que, quando foi convidada pelos pesquisadores de Copenhagem
para transcrever vídeos em LS, Sutton não tinha conhecimento algum das
línguas de sinais, mas “isso não a impediu de escrever estas línguas, Sutton
estava escrevendo os movimentos do corpo ao realizar os sinais” (BARRETO;
BARRETO, 2015, p. 72, grifo nosso).

Desse modo, “quando [Sutton] aplicou isto [o registro dos movimentos


elaborados por ela para o Dance Writing] para registrar Línguas de Sinais, foi que
percebeu que registrar o movimento é também registrar a língua” (MARTIN,

39
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

2001 apud BARRETO; BARRETO, 2015, p. 72). Foi um marco muito importante
dentre as diferentes tentativas de registro das línguas de sinais, porque o
movimento é exatamente o aspecto que tornava mais complexo o registro delas,
porque, os desenhos com setas, as descrições, os vídeos, as anotações em glosas e
os demais sistemas de notação e de escrita não haviam conseguido establecer um
modo claro, prático, rápido e eficiente de registro dos movimentos que faziam
parte dos sinais nas LS.

Na ES pelo Sistema SW, os movimentos são grafados com diferentes


grafemas que indicam o plano e a dinâmica em que o movimento ocorre. Além
disso, também existem sinais gráficos para indicar as movimentações dos dedos,
antebraços e pulsos.

3.1 PLANO DE MOVIMENTO


Anteriormente, neste livro didático, foram estudados alguns aspectos
referentes aos planos em relação ao espaço de sinalização. No tópico anterior,
também vimos brevemente algumas das setas utilizadas para a escrita dos
movimentos que fazem parte os sinais. Nesta seção, estudaremos os diferentes
tipos de setas utilizadas de acordo com o plano em que o movimento é realizado,
tendo em vista que “na Escrita de Sinais usamos setas para indicar os caminhos
percorridos pelo movimento” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 142).

O Plano Parede é aquele quando o movimento é realizado em paralelo


à parede imaginária que fica à frente do sinalizante. Na imagem a seguir, estão
representados todos os tipos de setas referentes ao plano parede realizadas com
a mão direita (ponta de seta preenchida):

FIGURA 23 – MOVIMENTOS PLANO PAREDE

Para cima

Diagonal para cima Diagonal para cima


e para esquerda e para direita

Para esquerda Para direita

Diagonal para baixo Diagonal para baixo


e para esquerda e para direita

Para baixo

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 132)

40
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

Conforme já vimos anteriormente neste livro didático, a ponta da seta é


que diferencia a realização com a mão Direita (D) ou Esquerda (E), pois a seta é
preenchida quando o movimento é feito com a mão D e não é preenchida quando
ele é realizado com a mão E. A imagem a seguir exemplifica essa diferença:

FIGURA 24 – SETAS INDICANDO MOVIMENTO MÃO DIREITA/ESQUERDA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 132)

Observe os seguintes exemplos:

Cima Cego Sul Carro Prédio Depender

Na escrita do sinal de CIMA, vemos uma seta indicando que a mão


D tem movimento para cima uma vez; em CEGO, a mão D movimenta-se na
diagonal três vezes; em SUL, a mão D vai para baixo uma vez; em CARRO, a
mão E e a mão D são movimentadas na diagonal três vezes; em PRÉDIO, ambas
as mãos vão simultaneamente para cima; por fim, em DEPENDER, as duas mãos
são movimentadas para cima e para baixo três vezes. Assim, podemos ver que,
quando os movimentos são feitos mais de uma vez as setas devem ser repetidas
quantas vezes forem necessárias e podem ser combinadas para escrever com
clareza o sinal.

Segundo Barreto e Barreto (2015), as setas podem ser utilizadas em diferentes


tamanhos que indicam movimentos curtos, médios, longos e muito longos quando
as setas indicam movimentos retos e dois tamanhos (padrão e grande) quando
indicam movimentos circulares. Essa diferença de escrita pode ser percebida na
comparação entre a grafia dos sinais CIMA e SUL colocadas anteriormente.

Em relação à seta que indica os movimentos no Plano Paralelo ao Chão,


estas são grafadas em setas simples:

41
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

FIGURA 25 – SETAS DE MOVIMENTO PLANO CHÃO


Para frente
Diagonal para frente Diagonal para frente
e para esquerda e para direita

Para a esquerda Para a direita

Diagonal para trás Diagonal para trás


e para esquerda e para direita
Para trás

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 142)

Observe os seguintes exemplos de sinais feitos no Plano Chão e, por


consequência, grafados com as setas simples:

Superfície

Responder
Planejar, preparar Encontrar

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 143)

Quando os planos são sobrepostos, algumas das setas representam os


movimentos para os lados, por isso, podem ser utilizadas tanto setas simples
quanto setas duplas (BARRETO; BARRETO, 2015). Na imagem a seguir, observe
como se dá o cruzamento destes dois planos:

FIGURA 26 – CRUZAMENTO ENTRE OS PLANOS PAREDE E CHÃO

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 144)

42
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

Por exemplo, o sinal de CANO pode ser grafado das seguintes maneiras:

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 144)

Além disso, segundo Barreto e Barreto (2015), quando o caminho percorrido


pela mão D sobrepõe aquele feito pela mão E na realização do sinal, as duas setas
são mescladas dando origem ao que é chamado de ponta de seta geral, esse uso
pode ser observado na escrita dos sinais de MOSTRAR, SEMANA e AJUDAR:

Mostrar Semana Ajudar

Além desses grafemas indicativos de movimentos retos ainda existem


os modos de grafar os diversos movimentos circulares ou curvos utilizados nas
Línguas de Sinais, a lista a seguir foi elaborada a fim de sintetizar estes grafemas.
Cabe lembrar que a indicação de E e D segue sendo a ponta da flecha em branco
ou preenchida, respectivamente, e o plano de realização do movimento também
continua com seta simples plano chão e seta dupla plano parede.

• Movimento circular em que são movidos mão e antebraço juntos a partir do


cotovelo no Plano Parede (BARRETO; BARRETO, 2015).

FIGURA 27 – GRAFEMA DE MOVIMENTO CIRCULAR – PLANO PAREDE

Domingo
FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 168)

43
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

• Movimento circular no Plano Chão, mãos e antebaços movidos juntos, a seta é


mais grossa no ponto mais próximo do corpo do sinalizante e mais fina quando
se afasta dele (BARRETO; BARRETO, 2015):

FIGURA 28 – GRAFEMA DE MOVIMENTO CIRCULAR – PLANO BAIXO

Plano 2
Movimento circular

Mudar/transformar
FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 169)

• Movimento circular verticalizado, aquele em que o movimento se realiza de


modo semelhante ao de um remo (BARRETO; BARRETO, 2015):

FIGURA 29 – MOVIMENTO CIRCULAR VERTICALIZADO – EM REMO

Sorvete
FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 169)

• Movimentos curvos no Plano da Parede:

FIGURA 30 – MOVIMENTO CURVO – PLANO PAREDE

Plano 1
Movimento curvo
Arco-íris
FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 182)

44
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

• Movimentos curvos no Plano Chão:

FIGURA 31 – MOVIMENTO CURVO – PLANO CHÃO

Plano 2
Movimento curvo

Geladeira

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 182)

• Movimentos curvos verticalizados em remo:

FIGURA 32 – MOVIMENTO CURVOVERTICALIZADO – EM REMO

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 195)

As setas indicativas de movimentos curvos verticalizados (em remo)


poderão ser realizados em duas direções, na imagem a seguir são vistos dois
conjuntos de setas que indicam movimentos curvos feitos com a mão direita, mas
em direções contrárias:

FIGURA 33 – MOVIMENTO CURVO VERTICALIZADO EM DIREÇÕES CONTRÁRIAS

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 196)

45
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

As setas colocadas na figura a seguir representam os movimentos curvos


em arcos para cima, a seta 1 indica aqueles movimentos que são realizados com
uma aproximação do sinalizador; a seta 2 grafa os movimentos que se afastam do
sinalizador (BARRETO; BARRETO, 2015):

FIGURA 34 – ARCOS PARA CIMA

Chamar Futuro

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 196)

As setas demonstradas na figura a seguir representam os movimentos


curvos em arcos para baixo, a seta 1 indica aqueles movimentos que são
realizados com uma aproximação do sinalizador; a seta 2 grafa os movimentos
que se afastam do sinalizador (BARRETO; BARRETO, 2015):

FIGURA 35 – ARCOS PARA BAIXO

Incentivar-me Nascer

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 196)

FIGURA 36 – SETA CURVA DIREÇÃO DO CORPO

Calma

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 197)

Os movimentos para cima ou para baixo que fazem uma curva pra frente
são representados pelas seguintes setas, em que o risco que cruza as linhas
indica que o movimento primeiro se aproxima e depois se afasta no decorrer da
realização do movimento (BARRETO; BARRETO, 2015):

46
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

FIGURA 37 – SETA CURVA PARA FRENTE

Grávida

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 197)

Ainda de acordo Barreto e Barreto (2015), tanto o ponto preto quanto o


traço utilizado em movimentos curvos são utilizados para demonstrar movimentos
diagonais, o primeiro para diagonais na direção do corpo e os traços para diagonais
que se afastam do corpo. A figura a seguir demonstra essa utilização:

FIGURA 38 – MOVIMENTO RETO DIAGONAL

Diagonal para baixo em Diagonal para cima em


direção ao corpo direção ao horizonte

Diagonal para cima em Diagonal para baixo em


direção ao corpo direção ao horizonte

Auditório Sonhar

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 197)

Barreto e Barreto (2015) chamam a atenção para o fato de que essas setas
são as mais utilizadas na ES, porém, existem outros tipos de movimentos mais
complicados que podem, também, serem escritos através do sistema SW, como
pode ser observado nos sinais escritos logo a seguir:

Letra Z Ler/leitura Cancelar Mesa

Observe que nos sinais da LETRA Z e LER/LEITURA, as setas estão em


zigue-zague indicando um movimento que vai na direção apontada deste modo;
já em CANCELAR, os movimentos se sobrepõem criando um xis que indica o
cancelamento; em relação ao sinal de MESA, observamos que as setas demonstram
um movimento realizado com as mãos E e D que faz um ângulo.
47
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Isso acontece porque, como qualquer língua viva, as Línguas de Sinais


estão em constante evolução e apresentam uma infinidade de possibilidades
de movimentos, exatamente por ser capaz de assimilar e ampliar as diferentes
mudanças, ampliações e junções de movimento (muitas delas necessárias devido
ao uso de Classificadores que caracteriza as línguas de sinais) que a Escrita
de Sinais pelo sistema SW tem se tornado o sistema de escrita mais utilizado
mundialmente para o registro das Línguas de Sinais. Barreto e Barreto (2015, p.
211) destacam que “sempre observe o formato das setas básicas e que tipo de
movimento representam. Fazendo isto, quando precisar escrever movimentos
mais complexos, você estará apto a fazer combinações de setas para representar
movimentos mais complexos”.

3.2 DINÂMICA E DURAÇÃO DE MOVIMENTO


A dinâmica e a duração dos movimentos em ES compreendem o modo
como os movimentos são feitos e qual o modo de utilzação do tempo para
realização dos sinais, para isso são utilizados grafemas específicos para quando
for necessário colocar o jeito como o movimento do sinal será realizado, ou seja,
esses grafemas são usados apenas quando a sinalização é realizada de modo
diferente daquilo que seria uma dinâmica ou uma duração média de movimento.
O uso desses grafemas é muito útil para a escrita dos classificadores, tendo em
vista que os CL são sinais em que são criados novos sinais a partir da mistura
entre diferentes sinais, por exemplo, no Classificador a seguir que escreve PRATO-
MUITO-CHEIO (CL) em que o grafema de tensão é usado para indicar a tensão
utilizada na sinalização do CL:

Prato-muito-cheio (CL)

À fim de resumir os grafemas utilzados para escrever a dinâmica e a


duração dos movimentos realizados, o quadro a seguir foi elaborado a partir de
Stumpf (2005) e Barreto e Barreto (2015):

48
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

QUADRO 3 – GRAFEMAS DE DINÂMICA E DURAÇÃO

Grafema Tipo Observação Exemplo


Movimento Usar quando o sinal é mais rápido
rápido ou mais brusco que o normal. Se
usado em dupla indica maior
velocidade.

Correr rápido
Movimento Deve ser escrito junto à mão
tenso que fica parada, também pode
indicar uma parada brusca do
movimento.

Acidente de carro
Movimento Sinal realizado de modo relaxado,
relaxado frouxo e suavizado, podem ser
utilizados dois para dar mais
ênfase.

preguiça
Movimento Pode abranger todo o sinal ou
lento apenas a parte que é feita de
modo lento.

Ninar um bebê suavemente


Movimento As duas mão se movem ao mesmo
simulltâneo tempo.

disfarçar
Movimento A mão D se move enquanto a mão
consecutivo E está imóvel; quando a E se move
a E permanece parada.

Sign Puddle
Movimento A mão D move numa direção e a
alterando mão E move em outra. Quando
são usadas setas, este grafema é
dispensado.

Bater
Pressão Serve para indicar a pressão que
a mão faz no contato.

Querido, amado, estimado

FONTE: Adaptado de Stumpf (2005) e Barreto e Barreto (2015)

49
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Ao comparar a escrita utilizada por Stumpf (2005) e Barreto e Barreto


(2015) fica em evidência algo que os autores mais recentes chamam a atenção
e destacam como uma das evoluções do registro em ES, o uso dos grafemas
de dinâmica e duração têm sido menos utilizados devido à compreensão de
que eles estavam em excesso na escrita antiga em ES, por exemplo, os sinais de
BRINCAR e ALMOÇAR:

FIGURA 39 – COMPARATIVO ESCRITA DE SINAIS ANTIGA E MODERNA

Brincar

Almoçar
FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 171)

4 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

No subtópico anterior você teve acesso à dedicatória colocada por Barreto


e Barreto (2015) em seu livro Escrita de sinais sem mistério, era um texto que tinha
como objetivo expor para quem o livro foi pensado e para quem ele foi dedicado.
Também no Tópico 1, vimos o uso do alfabeto manual nos textos em ES com a
finalidade de demonstrar a dactilologia dos nomes e delimitar o uso do sinal
pessoal das pessoas, naquele momento, utilizamos um fragmento de texto em
que a personagem Sávio se apresentava mostrando seu sinal e escrevendo o seu
nome com o uso do alfabeto em ES.

Neste Tópico 2, daremos continuidade ao estudo de textos em ES com


a leitura da história de Sávio, essa narrativa foi adaptada de Barreto e Barreto
(2015) e terá continuidade nos próximos tópicos ao longo deste livro didático.
50
TÓPICO 2 | REGISTRO DE LOCAÇÕES, MOVIMENTOS E TIPOS DE CONTATO

Boa leitura, não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a leitura deles, a seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto em LP.

4.1 TEXTO
SÁVIO E O AVÔ

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 159)

51
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

4.2 GLOSSÁRIO

Cão pastor alemão Dar, entregar Idade

Anos (duração) Comprar Goiás

4.3 TRADUÇÃO
Olá, eu sou o Sávio. Eu vim para Goiás ajudar o meu avô que tem 80
anos de idade. Há dois anos minha mãe comprou um pastor alemão para dar de
presente ao meu avô. O cão é muito esperto.

52
RESUMO DO TÓPICO 2

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• A combinação dos parâmetros que compõem as línguas de sinais são partes


em que os sinais podem ser decompostos porque não apresentam significado
sozinhos (QUADROS; KARNOPP, 2004).

• O caráter de distinguir sinais está vinculado à possibilidade de comparação


entre dois sinais em que apenas a mudanças de um dos parâmetros acarrete,
também, mudança de significado.

• A ES apresenta elementos que conseguem escrever todos os parâmetros das


Línguas de Sinais.

• Segundo Sutton (2011 apud BARRETO; BARRETO, 2015) os grafemas


utilizados na Escrita de Sinais pelo sistema SW são divididos em sete
categorias: Mãos, Movimentos, Dinâmica e tempo, Cabeça e Face, Corpo,
Locação Detalhada e Pontuação.

• As Locações (L) ou Pontos de Articulação (PA) são os lugares específicos em


que os sinais se localizam dentro do espaço de articulação.

• Os grafemas que representam, na escrita, a face e a cabeça são aqueles que


indicam o local de realização do sinal.

• Assim como nas línguas orais as letras são combinadas para a escrita das
palavras, na escrita das línguas de sinais os grafemas são combinados para que
os sinais possam ser corretamente escritos.

• O grafema do pescoço é utilizado quando o pescoço é um Ponto de Articulação


(PA) necessário para a correta compreensão do sinal escrito.

• De acordo com Barreto e Barreto (2015, p.121): “por definição, sinais escritos
sem nenhuma identificação do tronco (regras especiais para o centro do peito),
braços, cabeça ou pescoço ocorrem no espaço neutro, isto é, à frente do tronco”.

53
• Em relação ao ombro, Barreto e Barreto (2015, p. 283) destacam que este
grafema é utilizado quando “[...] é importante indicar a distância entre as mãos
e o corpo, os movimentos em direção ao corpo e ainda os sinais feitos na parte
superior da cabeça ou em frente ao rosto”.

• Na ES pelo Sistema SW, os movimentos são grafados com diferentes grafemas


que indicam o plano e a dinâmica em que o movimento ocorre. Além disso,
também existem sinais gráficos para indicar as movimentações dos dedos,
antebraços e pulsos.

• A seta é preenchida quando o movimento é feito com a mão D e não é


preenchida quando ele é realizado com a mão E.

• Existem modos de grafar os diversos movimentos circulares ou curvos


utilizados nas Línguas de Sinais.

• Como qualquer língua viva, as Línguas de Sinais estão em constante evolução


e apresentam uma infinidade de possibilidades de movimentos.

• A dinâmica e a duração dos movimentos em ES compreende o modo como os


movimentos são feitos e qual o modo de utilização do tempo para realização
dos sinais.

54
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 Na ES pelo Sistema SW, os movimentos são grafados com diferentes grafemas


que indicam o plano e a dinâmica em que o movimento ocorre. Tendo em vista
que “na Escrita de Sinais usamos setas para indicar os caminhos percorridos
pelo movimento” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 142):

I- O Plano Parede é aquele quando o movimento é realizado em paralelo à


parede imaginária que fica à frente do sinalizante.
II- A ponta da seta é que diferencia a realização com a mão Esquerda (E) ou
Direita (D), pois a seta é preenchida quando o movimento é feito com a
mão E e não é preenchida quando ele é realizado com a mão D.
III- As setas podem ser utilizadas em diferentes tamanhos que indicam
movimentos curtos, médios, longos e muito longos.
IV- Quando os planos são sobrepostos, algumas das setas representam os
movimentos para os lados, por isso, podem ser utilizadas tanto setas
simples quanto setas duplas.
V- Quando o caminho percorrido pela mão D sobrepõe aquele feito pela mão
E na realização do sinal, as duas setas são mescladas dando origem ao que
é chamado de ponta de seta geral.

Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?


a) ( ) Apenas I, II, III e IV.
b) ( ) Apenas I, II, III e V.
c) ( ) Apenas II, III, IV e V.
d) ( ) Apenas I, III, IV e V.
e) ( ) Apenas I, II, IV e V.

2 De acordo com Stumpf (2005) e Barreto e Barreto (2015), sobre os grafemas


utilizados para escrever a dinâmica e a duração dos movimentos utilizados
na ES relacione de forma correta, Coluna I, movimento, à Coluna II, grafema
em ES:

55
Coluna I Coluna II
(1) Movimento rápido ( )
(2) Movimento tenso ( )
(3) Movimento relaxado ( )
(4) Movimento lento ( )
(5) Movimento simultâneo ( )
(6) Movimento consecutivo ( )
(7) Movimento alterado ( )
(8) Pressão ( )

Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:

a) ( ) 4, 5, 7, 3, 6, 8, 2 e 1.
b) ( ) 3, 5, 1, 6, 8, 2, 4 e 7.
c) ( ) 3, 7, 1, 6, 4, 8, 2 e 5.
d) ( ) 3, 4, 8, 1, 6, 5, 2 e 7.
e) ( ) 7, 4, 8, 5, 6, 3, 1 e 2.

3 Observe os sinais escritos a seguir, circule e escreva a indicação dada pelas


setas de movimento estudadas no Tópico 2:

a) DAR b) IDADE c) ESPERTEZA d) AJUDAR

56
UNIDADE 1
TÓPICO 3

GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, foram estudados os grafemas que são utilizados para
a escrita das locações relacionadas à face, à cabeça, ao pescoço, aos ombros e ao
peito. Além disso, foram discutidos os grafemas de movimento representados por
setas, bem como as grafias relacionadas à dinâmica e à duração dos movimentos.
Desse modo, você já foi apresentado aos grafemas básicos que indicam as locações
mais utilizadas e à grafia dos movimentos básicos para e escrita dos sinais em ES
através do sistema SW.

Caro acadêmico, como aquilo que foi estudado aqui, você já tem uma
base interessante para a escrita de vários sinais em Libras utilizando a ES, porém,
existem sinais em que os dedos, antebraços e pulsos também realizam movimentos
específicos que fazem parte dos fonemas envolvidos para a realização dos sinais.

Também neste momento do livro didático, serão vistos outros grafemas


que servem para escrita de situações muito recorrentes nas sinalizações em LS,
o contato entre duas ou mais partes envolvidas para a realização dos sinais, por
exemplo, entre a mão e o rosto. Assim, os tipos de contato se referem à grafia do
modo como duas ou mais partes se tocam para a produção correta de um sinal.

2 GRAFEMAS DE MOVIMENTO II
As movimentações do corpo humano podem ser, praticamente, infinitas,
pois as articulações permitem uma grande quantidade de formas que podem ser
utilizadas para a realização dos sinais em LS. A Escrita de Sinais pelo Sistema SW
permite o registro completo das maneiras como cada um dos sinais é realizado,
porém, o número de grafemas também será bastante amplo.

Por isso, neste subtópico, será feito o estudo de mais alguns grupos de
grafemas utilizado para a escrita completa das Línguas de Sinais pelo sistema SW.
Desta feita, esta parte será iniciada com a compreensão dos grafemas que indicam
a movimentação dos dedos de modo a serem observadas as possibilidades de
movimentação mais utilizadas em ES e seu modo de grafia específico. Após, será
feito o estudo das movimentações realizadas com o antebraço nos diferentes
planos e possibilidades. Por fim, as formas utilizadas para grafar o movimento
dos pulsos serão objeto de estudo.
57
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

É importante compreender que a ES pelo Sistema SW irá apresentar as


possibilidades de grafia par aos elementos utilizados na sinalização das LS como a
Libras. Contudo, a ES apresenta, assim como a escrita alfabética, as possibilidades
de combinação entre os diferentes grafemas permitem a organização e registro de
uma ampla gama de movimentos.

2.1 MOVIMENTO DOS DEDOS


Nos sinais em que o movimento dos dedos é feito na sua realização,
são utilizados diferentes grafemas que indicam os diversos modos como estas
articulações podem ser utilizadas. O quadro a seguir resume aquilo que Nobre
(2011) e Barreto e Barreto (2015) colocam sobre os principais grafemas para a
escrita dos movimentos dos dedos:

QUADRO 4 – GRAFEMAS PARA ESCRITA DE MOVIMENTO DOS DEDOS

Grafema Foto Descrição Exemplo

Dedo flexiona na articulação


média, o ponto deve ser
escrito perto do dedo que
flexiona, pode ser usado
mais de uma vez para
indicar mais de uma flexão. Aprender

Dedo é estendido na
articulação média.

Medo

Dedos se estendem na
articulação proximal (a que
junta os dedos com a mão).
Inaugurar

Dedos se flexionam na
articulação proximal.

Saber

58
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

Dedos flexional e estendem


em conjunto como se fossem
apenas um na articulação
proximal.
Coelho

Flexão e extensão dos dedos


alternandamente, ou seja,
alguns dedos se movem para
cima e outros para baixo
ao mesmo tempo. Observe
que quando são mais dedos
envolvidos a extensão do
Menino-subir-árvores(CL) Aranha
grafema também é maior.

Flexão dos dedos na


aproximação proximal,
quando os dedos flexionam
alternadamente um de cada
vez começando pelo dedo
mínimo e terminando no
indicador. Mundo

Extensão dos dedos


alternadamente na
articulação proximal.
Muitas vezes

Movimento de abrir e fechar


entre duas superfícies.

Cortar Diferente
com tesoura

FONTE: Adaptado de Nobre (2011) e Barreto e Barreto (2015)

Observe a diferença entre o uso do grafema e do grafema , na


primeira forma de escrita, todos os dedos indicados pelo movimento se movem
alternadamente, já na segunda maneira de escrita dos movimentos os dedos
envolvidos se movimentam entre eles, ou seja, não é um movimento dos dedos,
mas entre os dedos. Observe este comparativo entre os sinais de MENINO-
SUBIR-ÁRVORE (CL) e TESOURA:

59
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Menino-subir-árvore (CL) Tesoura

Na escrita do sinal de MENINO-SUBIR-ÁRVORE, os dedos se alternam


para reproduzir o movimento de caminhada em que as duas pernas se
movimentam alternadamente; já no sinal de TESOURA o movimento exibido é
aquele que se assemelha ao corte com uma tesoura, ou seja, o movimento é feito
apenas por um dos dedos indo e vindo no espaço entre os dedos e não trocando
de posição como no movimento alternado.

Além disso, é importante notar que o uso dos grafemas de movimentação


dos dedos serve também para a simplificação da escrita dos sinais, ou seja, está de
acordo com o princípio de economia das línguas, aquele que delimita a simplificação
máxima de elementos, desde que seja mantida a compreensão da palavra a ser
falada/sinalizada ou escrita, por exemplo, na escrita do sinal de SABER:

Grafia incorreta Grafia correta

Saber Saber

Como fica evidente na comparação anterior, ao utilizar o grafema de flexão


proximal dos dedos não há a necessidade de escrita da CM final do movimento,
pois se os dedos se flexionam eles, automaticamente se fecham, assim, o sinal
escrito do verbo SABER fica mais simples e seu significado continua claro.

Barreto e Barreto (2015) chamam a atenção para as situações em que


existem dois movimentos dos dedos para a feitura do sinal, um inicial e outro
final, é grafado apenas o mais importante para a compreensão deste. Os autores
destacam como exemplos os seguintes sinais:

• Configuração inicial mais importante:

Medo Bom Ensinar Novo

60
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

• Configuração final mais importante:

Ouvinte Sábado Freada-brusca- Pegar/buscar


de-bicicleta

Por fim, é necessário observar duas coisas: primeiro os grafemas de


movimento dos dedos são utilizados em conjunto com os grafemas de CM, ou seja,
não serão utilizados sozinhos apenas em conjunto com os grafemas que representam
a configuração de mãos. Em segundo lugar, poderão ser usados mais de um
grafema de movimento dos dedos quando uma das mãos repetir o movimento
dos dedos mais de uma vez (quantas forem necessárias) ou quando as duas mãos
realizam movimentos dos dedos. Como exemplo da primeira situação observe os
sinais de MEDO e SÁBADO, em ambos o movimento dos dedos é realizado duas
vezes com a mesma mão, por isso, o grafema é escrito. Já no sinal de FREADA-
BRUSCA-DE-BICILETA (CL), o movimento dos dedos é feito por ambas as mãos,
logo o grafema é repetido junto com a CM da mão esquerda e da mão direita. No
sinal de ENSINAR, vemos as duas situações escritas, pois tanto o movimento dos
dedos é realizado com ambas as mãos quanto é feito mais de uma vez.

2.2 MOVIMENTO DE ANTEBRAÇOS


De acordo com Barreto e Barreto (2015), os movimentos feitos pelo
antebraço são expressos por cinco tipos de grafemas que correspondem às
utilizações feitas em LS, a seguir veremos quais são eles:

a) Na situação em que o antebraço está posicionado verticalmente “as duas linhas


verticais mostram que o antebraço está paralelo à parede assim como as setas
de haste dupla significam que o movimento é feito paralelo à parede no eixo
para cima/ para baixo” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 224), elas devem ser
escritas abaixo da CM, tendo em vista que representam o antebraço, além disso,
o número a direção da seta indicam como o movimento deve ser realizado:

61
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

FIGURA 40 – MOVIMENTO VERTICAL DE ANTEBRAÇO – PLANO PAREDE

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 224)

O grafema sofrerá alterações caso seja feito com o giro partindo da posição
do polegar ou do dedo mínimo, nos sinais de ACADEMIA e ENTENDER, a
“guia” é do polegar por isso a seta é grafada pela frente das linhas verticais;
no caso de PORTAS-SE-FECHARAM e OLHAR-PARA-MIM, a “guia” parte do
dedo mínimo, por isso, a diferença de escrita do grafema com a seta escrita por
trás das linhas verticais e não pela frente como no caso anterior (BARRETO;
BARRETO, 2015):

Portas-se-
Academia Entender Olhar-para-mim
fecharam

Nos casos em que o movimento do antebraço realizar um giro de


antebraço, serão utilizadas setas mais longas, como as seguintes (BARRETO;
BARRETO, 2015, p. 224):

Reunião Família Pizza

b) Nas situações em que o antebraço estiver paralelo ao Plano Chão, ou seja, na


horizontal, e realizar giro no seu eixo o grafema será escrito com apenas um
traço (BARRETO; BARRETO, 2015), as formas básicas são as que seguem:

62
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

FIGURA 41 – GRAFEMA DE MOVIMENTO COM ANTEBRAÇO PARALELO AO PLANO CHÃO

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 225)

O grafema anterior e esse pode ter as setas alteradas de acordo com o


Plano do Movimento feito com o antebraço, quando for no Plano Parede, será
uma seta dupla, caso seja no Plano Chão, será feita seta simples. Desse modo,
seguem o uso explicado anteriormente sobre as setas de movimento.

Nos casos em que o movimento for direcionado pela realização de giro


do antebraço, serão utilziados os grafema a seguir (BARRETO; BARRETO, 2015):

Livro Interpretar Quebrar

As setas a seguir são utilizadas nas situações em que classificadores de


forma circular são utilizados, ou seja, em que a forma dos objetos influencia na
forma como o sinal é realizado (BARRETO; BARRETO, 2015):

Pão com forma


Congresso Seminário
arredondada

63
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

c) No caso de antebraço estar na horizontal em frente ao corpo para realizar o


giro, o grafema que serve para a escrita deste tipo de movimento é o seguinte,
esse grafema deve ser escrito próximo ao braço que realiza a movimentação
(BARRETO; BARRETO, 2015):

Chave de fenda Beber

d) Este grafema é utilizado quando se agita o antebraço como se estivéssemos


retirando a água das mãos com sacudidelas consecutivas, na maioria dos
casos deve ser escrito na posição em que o antebraço está em relação à mão.
Porém, nas situações em que for necessário indicar o sentido para o qual o
agito começa, o grafema deve ser utilizado colocando-se uma ponta de seta no
semicírculo inicial do grafema (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 226):

Movimento paralelo à parede frontal Movimento paralelo ao chão

Observe os seguintes exemplos de sinais escritos que utilizam esse


grafema, os sinais ÁRVORE, PORTO ALEGRE e APLAUDIR não apresentam
pontas de flecha e nos sinais de LETRAS-LIBRAS e PARANÁ apresentam:

Árvore Porto Alegre Aplaudir Letras Libras Paraná


(curso)

64
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

e) Segundo Barreto e Barreto (2015, p. 238), “estas setas representam movimentos


em linha reta com giro simultâneo de antebraço”. Os movimentos representados
por esses grafemas podem ser utilizados para a escrita de um movimento único
com giro de antebraço, aqueles em que as mãos se agitam na direção da seta.

Movimento no Plano Parede Movimento no Plano Chão Hábito/vício

Grafema de movimento de antebraços em que as mãos se agitam e se


movem na direção da seta (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 238):

Movimento no Plano Parede Movimento no Plano Chão Churrasco

2.3 MOVIMENTO DE PULSO


Os grafemas que servem para a grafia dos movimentos de pulso são
divididos em dois grupos: circulares e retos. O grupo dos movimentos circulares
de pulso apresentam três grafemas diferentes relacionados aos três planos
de realização dos movimentos: Parede, Chão e Parede Lateral. O grupo dos
movimentos retos se divide em movimentos para os lados e movimentos para
cima e para baixo (BARRETO; BARRETO, 2015)

• Grupo dos movimentos circulares:

65
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

FIGURA 42 – GRAFEMA DE PULSO: ROTAÇÃO PARALELA À PAREDE DE


FRENTE AO SINALIZADOR

Uma hora (duração) Cobra Movimentos da cabeça

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 267)

FIGURA 43 – GRAFEMA DE PULSO PLANO: ROTAÇÃO PARALELA AO CHÃO

Cozinhar Muitas horas Rio Grande do Sul

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 268)

FIGURA 44 – GRAFEMA DE PULSO: ROTAÇÃO PARALELA À PAREDE LATERAL

Sinal
Advogado (a)
Dar sinal a algo ou
alguém/ denominar

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 268)

66
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

• Grupo dos movimentos retos:

FIGURA 45 – GRAFEMA DE PULSO: MOVIMENTOS PARA OS LADOS

Moto Sino Vídeo Conferência

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 269)

FIGURA 46 – GRAFEMA DE PULSO: MOVIMENTO PARA CIMA E PARA BAIXO

Fisgar um peixe

Atrasar Tampa do vaso sanitário

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 269)

3 TIPOS DE CONTATO

Contato

As formas gráficas que indicam o tipo de toque que acontece entre as


mãos ou entre as mãos e partes do corpo na ES, são chamados de grafemas
de contato e devem ser escritos de acordo com as características específicas de
cada conexão estabelecida entre as duas ou mais partes do corpo do sinalizante
envolvidas para a realização correta do sinal.

67
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

O posicionamento da escrita destes grafemas, segundo Barreto e Barreto


(2015, p. 124), é que os “[...] grafemas de contato devem ser colocados próximo de
onde as mãos se tocam, mas não devem ficar entre duas configurações de mãos
nem entre a mão e uma parte do corpo a não ser em casos específicos”.

FIGURA 47 – ORTOGRAFIA DOS GRAFEMAS DE CONTATO

Casa

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 136)

Observe que na escrita correta do sinal de CASA os grafemas indicativos


de dois toques estão localizados logo acima das CMs, diferentemente das
escritas erradas em que eles estão: entre as CMs, o que é ortograficamente errado
porque interfere na base da sinalização, e ao lado de apenas uma das CMs o que
pode dar a entender que apenas a mão D executaria os dois toques, o que é não
é correto porque o sinal de CASA é executado com dois toques executados pelas
duas mãos ao mesmo tempo, uma com a outra.

3.1 TOCAR E BATER


De acordo com Barreto e Barreto (2015), o grafema de tocar indica um
contato suave entre duas mãos ou duas partes do corpo do sinalizante, na
maioria das vezes em que é utilizado esse elemento gráfico faz com que sejam
desnecessárias as flechas indicativas de movimento. Isso porque o contato de
tocar pressupõe a movimentação obrigatória para que esta conexão ocorra. Além
disso, ele corresponde a cada um dos contatos realizados, ou seja, um grafema
para cada toque realizado durante a feitura do sinal.

A seguir, o grafema específico do tipo de contato suave indicado por tocar
(BARRETO; BARRETO, 2015):

Cuidar Madson Barreto Sofrer/dor

68
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

Observe que os sinais de CUIDAR e SOFRER/DOR têm dois toques para


realização e o sinal de MADOSN BARRETO apresenta apenas um toque próximo
ao nariz.

Quando o toque for realizado com mais intensidade, ou seja, sem a mesma
suavidade do grafema de toque, será utilizado o grafema de bater indicando o
aumento da força empregada pelo sinalizante (BARRETO; BARRETO, 2015):

Duro Duríssimo

Observe que o aumento de intensidade entre o adjetivo DURO e o


adjetivo superlativo DURÍSSIMO aparece na escrita a partir do uso dos grafemas
de contato tocar e bater, respectivamente.

NOTA

Esse grafema, em conjunto com o grafema de tensão, faz o grafema de


pressão, como vimos anteriormente no Tópico 2 deste livro didático.

3.2 ESCOVAR
Este grafema é utilizado quando acontece um toque que se arrasta
levemente entre dois pontos de contato e depois se separa (BARRETO; BARRETO,
2015). Dessa forma, é uma conexão que dura por certo espaço e tempo ao longo
do sinal e traz junto de si a ideia do movimento, mesmo assim é preciso inserir a
escrita de setas utilizada para demonstrar qual a direção inicial de deslocamento
do movimento de escovar. Também é necessário destacar que esse grafema indica
um caminho percorrido pela configuração de mão, logo, não será utilizado mais
de uma vez no mesmo sinal, quando necessária repetição, essa será demonstrada
pela quantidade de setas escritas.

O grafema indicativo o contato de escovar é o colocado a seguir (BARRETO;


BARRETO, 2015):

69
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Raquel Barreto Gastar Legal

3.3 ESFREGAR EM CÍRCULO E LINEAR


O grafema de esfregar em círculo serve para a escrita de contatos de
movimentos circulares “[...] em que se mantém o contato em todo o momento,
permanecendo na superfície. Neste caso, não é preciso acrescentar setas de
movimento circular, pois este movimento faz parte deste tipo de contato: esfregar
em círculo” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 172). Como ele não é utilizado em
conjunto com setas de movimento circular, é preciso colocar mais de um grafema
caso o movimento se repita para a feitura do sinal. O grafema utilizado é o
seguinte (BARRETO; BARRETO, 2015):

Conversar Gostar Remédio


Vinho

Nos casos em que o tipo de contato a ser escrito é um esfregar linear,


um movimento em linha reta que mantém o contato e fica na superfície, as setas
utilizadas servem para demonstrar o sentido em que a movimentação se realiza
(BARRETO; BARRETO, 2015):

Branco Faca Tomar banho

Bravo (a)

70
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

3.4 PEGAR
Este grafema indica quando a mão pega e segura uma parte do corpo ou da
roupa do sinalizante, seu grafema é representado por um sinal de adição e pode ser
escrito mais de uma vez quando necessário (BARRETO; BARRETO, 2015):

Carne Pessoalmente Roupa Queixo

3.5 GRAFEMAS DE CONTATO ENTRE PARTES DO CORPO


Este grafema não é exatamente uma forma de grafia específica, mas um
acréscimo aos grafemas anteriores que é utilizado para identificar quando ocorre
o contato entre duas partes do corpo, na maioria das vezes, os dedos (BARRETO;
BARRETO, 2015). Ou seja, o contato é feito no meio de duas partes do corpo,
assim, o sinal é feito com a inserção de uma parte do corpo no meio de outra do
sinal, observe os exemplos a seguir:

FIGURA 48 – GRAFEMA DE CONTATO: TOCAR ENTRE

Confusão Intervalo escolar

FONTE: Os autores

71
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Observe que tanto nos sinais de CONFUSÃO quanto no sinal de


INTERVALO ESCOLAR o grafema de toque entre está indicando o contato de
toque entre os dedos do sinalizante. A seguir serão colocados exemplos das
demais possibilidades de contatos entre partes do corpo:

FIGURA 49 – GRAFEMA DE CONTATO: ESFREGAR ENTRE

Apontador

FONTE: Os autores

Acidente de carro
Aconselhar/orientar

Levar/Guiar

3.6 GRAFEMAS DE SUPERFÍCIE


De acordo com Barreto e Barreto (2015), os grafemas de superfície são
utilizados apenas quando estritamente necessários para a compreensão do sinal
a ser escrito, ou seja, quando não houver outro modo de demonstrar o correto
posicionamento entre os articuladores de um sinal específico. Esses grafemas são
organizados em dois planos e apresentam uma marcação em formato de bolha
que indica a posição que está sendo destacada, os autores reforçam que ele só
deve ser utilizado quando todas as demais formas de escrita não foram capazes
de resolver a ambiguidade da escrita de um sinal.

72
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

FIGURA 50 – GRAFEMA DE SUPERFÍCIE: PLANO CHÃO

Entre o topo e a parte de baixo,


através, ou uma em cima outra
embaixo – sem contato

Entre a direita e a esquerda,


através, ou uma de um lado
outra de outro – sem contato

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 293)

Exemplos:

Digitar mensagem Tartaruga Hipopótamo


no celular

FIGURA 51 – GRAFEMAS DE SUPERFÍCIE: PLANO PAREDE

Entre a frente e a parte de trás,


através, ou uma na frente outra
atrás – sem contato

Entre a esquerda e a direita,


através, ou uma de um lado
outra de outro – sem contato

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 293)

73
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

Exemplos:

Cara a cara Opor-se/adversário Identidade

4 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

No final do Tópico 2, o texto lido falava sobre a ida de Sávio à Goiás para
cuidar de seu avô idoso. Além disso, ele também nos contou sobre o pastor alemão
que foi dado ao avô pela mãe destacando a esperteza e Inteligência do bichinho.
Na leitura deste Tópico 3, Sávio nos conta uma das aventuras que o cão e seu avô
viveram ao salvar duas crianças, acompanhe a seguir a história desta dupla.

A história de Sávio faz parte do material que Barreto e Barreto (2015)


disponibilizam em seu livro, para o uso neste livro didático, a narrativa foi
adaptada e reorganizada para atender às especificidades e características deste
tipo de material de estudos.

Boa leitura! Não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles, a seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, não esqueça de que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência completa entre duas ou mais línguas.

74
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

4.1 TEXTO
TEXTO 5:

PARTOR ALEMÃO INTELIGENTE

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 159-160)

75
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

4.2 GLOSSÁRIO

Freada brusca
da bicicleta Cão latindo

Duas pessoas
descer da bicicleta

Polícia

Segurar pela corrente Errado (sinalização infantil)

4.3 TRADUÇÃO
Meu avô passeava com o pastor alemão e segurava ele pela corrente, de
repente duas crianças vinham andando em suas bicicletas pela faixa sem ver um
carro que vinha andando pelo mesmo lugar e iria as atropelar. O cão começou a
latir muito forte, até chamar a atenção do policial que olhou a situação e apitou. As
crianças deram uma freada brusca com as bicicletas e desceram delas já pedindo
desculpas por estarem fazendo errado, o policial respondeu que estava tudo bem
e falou que o cachorro era muito inteligente.

TUROS
ESTUDOS FU

Acadêmicos, a seguir, na Leitura Complementar, foram disponibilizados os dez


grupos das configurações de mão e as configurações da Libras que estão inseridas nestes
grupos. Essa divisão e organização foi feita por Barreto e Barreto (2015, p. 305-313) e foi
baseada nos estudos feitos pelo casal ao longo dos últimos anos. Boa leitura!

76
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

LEITURA COMPLEMENTAR

ORGANIZAÇÃO DA LEGENDA DOS GRUPOS

Número do grupo
Quantidade de CMs da
Libras no grupo
Símbolo internacional
do grupo

77
UNIDADE 1 | ESCRITA DE SINAIS: SIGNWRITING

78
TÓPICO 3 | GRAFEMAS DE MOVIMENTO II E TIPOS DE CONTATO

79
RESUMO DO TÓPICO 3

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem sinais em que os dedos, antebraços e pulsos também realizam


movimentos específicos que fazem parte dos fonemas envolvidos para a
realização dos sinais.

• O uso dos grafemas de movimentação dos dedos serve também para a


simplificação da escrita dos sinais.

• Os grafemas de movimento dos dedos são utilizados em conjunto com os


grafemas de CM.

• Poderão ser usados mais de um grafema de movimento dos dedos quando


uma das mãos repetir o movimento dos dedos mais de uma vez ou quando as
duas mãos realizam movimentos dos dedos.

• Os movimentos feitos pelo antebraço são expressos por cinco tipos de grafemas
que correspondem às utilizações feitas em LS.

• Na situação em que o antebraço está posicionado verticalmente, duas linhas


verticais mostram que o antebraço está paralelo à parede.

• Na situação em que o antebraço estiver paralelo ao Plano Chão, ou seja, na


horizontal, e realizar giro no seu eixo o grafema será escrito com apenas um traço.

• Os grafemas que servem para a grafia dos movimentos de pulso são divididos
em dois grupos: circulares e retos.

• As formas gráficas que indicam o tipo de toque que acontece entre as mãos ou
entre as mãos e partes do corpo na ES, são chamados de grafemas de contato.

• O grafema de tocar indica um contato suave entre duas mãos ou duas partes
do corpo do sinalizante.

• O grafema escovar é utilizado quando acontece um toque que se arrasta


levemente entre dois pontos de contato e depois se separa.

80
• O grafema de esfregar em círculo serve para a escrita de contatos de movimentos
circulares em que se mantém o contato em todo o momento, permanecendo na
superfície.

• O grafema pegar indica quando a mão pega e segura uma parte do corpo ou da
roupa do sinalizante.

• Os grafemas de superfície são utilizados apenas quando estritamente


necessários para a compreensão do sinal a ser escrito.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

81
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 A partir de seus estudos neste Tópico 3, explique o tipo dos grafemas


destacados nos sinais escritos a seguir:

a)
2)

1)
3)
enviar mensagem de celular

b)

2)
1)
3)
tartaruga

2 De acordo com as orientações dos grafemas de contato em ES apresentados


no Tópico 3, relacione, de forma correta, Coluna I, grafema de contato, à
Coluna II, identificação em ES:

Coluna I Coluna II
(1) Tocar ( )
(2) Bater ( )
(3) Escovar ( )
(4) Esfregar ( )
(5) Pegar ( )

Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:


a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1.
b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4.
c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5.
d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4.
e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2.

82
3 De acordo com o estudo sobre os grafemas do tópico três, analise as
sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) O uso dos grafemas de movimentação dos dedos não serve para a


simplificação da escrita dos sinais.
( ) Os grafemas de movimento dos dedos são utilizados em conjunto com os
grafemas de CM.
( ) Poderão ser usados mais de um grafema de movimento dos dedos quando
uma das mãos repetir o movimento dos dedos mais de uma vez ou quando
as duas mãos realizam movimentos dos dedos.
( ) As formas gráficas que indicam o tipo de toque que acontece entre as mãos ou
entre as mãos e partes do corpo na ES, são chamados de grafemas de frequência.
( ) O grafema de esfregar em círculo serve para a escrita de contatos de
movimentos circulares em que se mantém o contato em todo o momento,
permanecendo na superfície.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V – V.
e) ( ) V – F – V – F – V.

83
84
UNIDADE 2

GRAFEMAS NÃO MANUAIS,


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM
ESCRITA DE SINAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender o uso dos grafemas não manuais na ES;


• estudar os grafemas não manuais referentes às expressões vinculadas ao
rosto e ao corpo;
• retomar elementos sobre a importância da ES para a educação de surdos;
• reunir os princípios básicos sobre alfabetização e letramento em relação à ES;
• sintetizar elementos relevantes da história da educação de surdos;
• estabelecer os processos básicos para a escrita de ES;
• apontar o desenvolvimento do processo semióticos;
• delimitar as fases do desenvolvimento linguístico em ES;
• indicar formas de elaboração de atividades em ES.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – GRAFEMAS NÃO MANUAIS


TÓPICO 2 – ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM
ESCRITA DE SINAIS
TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA
DE SINAIS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

85
86
UNIDADE 2
TÓPICO 1

GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

Expressões não manuais

1 INTRODUÇÃO

Introdução

Neste tópico, serão estudados grafemas referentes às locações não estudadas


na Unidade anterior e às expressões não manuais, ou seja, aqueles símbolos gráficos
que são utilizados na escrita de elementos não vinculados às mãos do sinalizante,
mas que também são necessários para a realização correta do sinal ou para as
marcações sintáticas da sentença a ser escrita. De acordo com Quadros e Karnopp
(2004), as expressões não manuais são aquelas referentes aos movimentos da face,
dos olhos, da cabeça ou do tronco. Ainda, segundo as autoras, essas expressões
apresentam dois papéis nas línguas de sinais: realizar a marcação das construções
sintáticas e estabelecer as diferenças entre dois itens lexicais.

Desse modo, as expressões não manuais estabelecem as relações de


estruturação dos sinais (léxico) dentro das orações para referência específica,
referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau e aspecto, e para
o estabelecimento do tipo da sentença interrogativa, orações relativas,
topicalizações, concordância e foco, por isso, na ES são utilizados grafemas para
a escrita específica destes elementos.

87
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

NOTA

Esse assunto foi abordado com maiores detalhes no Livro Didático de Sintaxe
da Libras.

Observe a sentença a seguir, retirada de Barreto e Barreto (2015, p. 159), e


perceba como o direcionamento do olhar serve para delimitar o sujeito e o objeto
do verbo (classificador) SEGURAR-PELA-CORRENTE:

TEXTO 1:

Segurar-cachorro-pela-corrente

Tendo em vista que temos dois sinais (PASTOR-ALEMÃO e AVÔ) que


poderiam ocupar o papel sintático de sujeito (o elemento que realiza a ação do
verbo), é a marcação do olhar na diagonal D para baixo que determina que o
PASTOR-ALEMÃO (ser mais baixo que o avô) que está sendo segurado pela
corrente pelo sujeito AVÔ. Assim, PASTOR-ALEMÃO ocupa o papel sintático de
objeto, ou seja, aquele elemento sobre o qual incide a ação do verbo. Além disso,
observe o detalhamento das sobrancelhas, no primeiro uso, reforça a ideia de
passado e, no segundo, faz parte do sinal de PASTOR-ALEMÃO.

88
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

2 EXPRESSÕES VINCULADAS AO ROSTO


Anteriormente, neste livro didático, os grafemas referentes ao rosto e à
face foram demonstrados em relação a algumas das delimitações dos Pontos de
Articulação/Locação. Neste subtópico, veremos como fazer a delimitação das
demais locações e como são os grafemas referentes às expressões não manuais
ligadas ao rosto, dessa maneira, estes são os elementos gráficos utilizados quando
os olhos, a direção do olhar, a boca, os dentes, os lábios, a bochecha, a língua, o
nariz, a respiração e as sobrancelhas precisam ser escritas porque são necessárias
para a grafia correta do sinal ou da sentença escrita.

Mesmo tendo esse repertório disponível para uso, no momento da escrita


dos sinais em ES é necessário que utilizemos apenas aqueles realmente necessários
para a escrita de determinado sinal. Isso quer dizer que, por exemplo, o grafema
referente à boca será usado apenas quando esta for realmente imprescindível na
escrita do sinal, mesmo que a boca como parte do corpo faça parte daquilo que
compõem o rosto do sinalizante, para observar o uso do grafema boca na escrita
de sinais, compare a ES dos autores deste livro didático:

Prof. Cristian Sardo Profa. Mariana Correia

No sinal do Prof. Cristian Sardo, o grafema da boca não foi utilizado, pois
não é necessário para a escrita correta o sinal desse professor; já no sinal da Profa.
Mariana Correia, a boca é um fonema imprescindível para a correta realização
do sinal, por isso, o grafema referente à boca foi utilizado na configuração
específica de sorriso. Ou seja, caso o sinal seja escrito sem esse grafema ele não
corresponderá mais ao mesmo léxico e, em relação a essa pessoa específica, estaria
errada a grafia. Ainda na comparação entre esses dois sinais, o grafema referente
à sobrancelha foi utilizado no sinal do Prof. Cristian Sardo pelo mesmo motivo, é
necessário para a escrita correta do sinal.

Desse modo, a Escrita de Sinais, como toda e qualquer escrita, não registra
todos os elementos presentes no momento da enunciação, mas apenas aqueles
realmente necessários para a compreensão daquilo que está sendo registrado
a partir da escrita. Desse modo, a ES não se presta à reprodução do rosto (ou
outra parte do corpo) do sinalizante em detalhes, pois não é um desenho que
visa copiar a realidade. Da mesma forma, o sistema alfabético utilizado pelos
ouvintes também não registra todos os elementos presentes numa enunciação,
por exemplo, altura da voz ou sotaque, mas apenas aqueles que permitem ao
leitor a compreensão do que é escrito.

89
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

2.1 OLHOS E DIREÇÃO DO OLHAR


De acordo com Barreto e Barreto (2015, p. 156), quando os olhos forem
necessários para indicação do Ponto de Articulação/Locação será utilizado um
grafema da face acrescido de dois semicírculos:

Olhos Ver

Ainda com relação aos possíveis grafemas para escrita dos olhos, Barreto
e Barreto (2015) apresentam as seguintes variações na escrita deste grafema:

FIGURA 1 – GRAFEMA OLHOS: VARIAÇÕES DE ESCRITA

Olhos abertos Olhos fechados Olhos apertados Olhos arregalados

Olhos semiabertos Olhos semifechados Cílios

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 256)

90
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

Veja os seguintes exemplos de uso destes grafemas, também retirados de


Barreto e Barreto (2015, p. 256):

Defunto Clarear Rímel Coruja

Com relação à direção do olhar do sinalizador e seu registro escrito,


de acordo com Barreto e Barreto (2015, p. 256): “na Libras, a direção do olhar
do sinalizador faz referência a entidades pré-estabelecidas do discurso, sendo
direcionado a pontos específicos no espaço de sinalização. Além disso, invoca
atenção para uma informação importante do texto”. Dessa forma, a direção do
olhar do sinalizador é bastante importante nesses contextos e, por isso, precisa ser
grafada. Além disso, os autores chamam a atenção para o fato de que nem todos
os sistemas de notação das Línguas de Sinais apresentam grafemas específicos
para a direção do olhar, o que causa problemas de significado, conforme pode ser
observado no seguinte exemplo:

FIGURA 2 – DIREÇÃO DO OLHAR: IMPLICAÇÕES DE USO

Matar mosca Perseguir a mosca com o


sem olhar olhar e então matá-la

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 258)

Observe que o uso da direção do olhar traz ao sinal um significado muito


mais próximo daquilo que normalmente acontece na realidade, pois é mais
comum perseguir uma mosca com o olhar para conseguir matá-la do que matar
uma mosca sem olhar para ela. Para fazer a escrita desses grafemas referentes à
Direção do Olhar são utilizados dois tipos de setas grafadas no lugar dos olhos.

Na Figura 3, estão colocados os dois modos de escrita das setas de acordo


com o movimento a ser realizado com o olhar, em (a) estão as setas simples
utilizadas nos casos em que o olhar se dirige para Frente, Direita, Esquerda e
Diagonais para Frente; observe que as pontas de setas são grafadas com as setas
gerais (aquelas em que a ponta de seta é aberta embaixo). Já em (b), as setas
duplas são usadas para escrever os movimentos de Direção do Olhar para cima/
baixo, diagonal para cima/baixo ou para os lados (BARRETO; BARRETO, 2015).
91
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 3 – GRAFEMA: DIREÇÃO DO OLHAR

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 257)

Observe o uso do grafema de Direção do Olhar, na sentença a seguir esse


grafema tem o uso de indicar a existência de duas portas e demonstrar como as
três crianças personagens da história utilizaram as portas para sair do ambiente.
Perceba também que além do grafema de direção do olhar, a estrutura em colunas
também reforça o posicionamento à Esquerda e à Direita que marca a existência
de duas portas, bem como demonstra a quantidade de crianças que saiu por cada
uma das portas.

TEXTO 2:

Direção do olhar: sentença para exemplo

Existiam duas portas, uma à direita e uma à esquerda, para sair do


ambiente, uma criança saiu pela porta da direita e duas crianças saíram pela
porta da esquerda.

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 174)

92
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

2.2 BOCA, DENTES, LÁBIOS E LÍNGUA


• Boca: para a representação da boca, quando o Ponto de Articulação/Locação
se aproxima ou a toca é utilizado o seguinte grafema, inclusive podendo
ser colocado o grafema indicativo de toque sobre a linha que indica a boca
(BARRETO; BARRETO, 2015, p. 156):

Restaurante Silêncio

Os grafemas que são utilizados para a escrita das expressões da boca são
bastante numerosos, por isso, Barreto e Barreto (2015) colocam apenas alguns dos
mais utilizados:

FIGURA 4 – GRAFEMA: EXPRESSÕES DA BOCA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 243)

Sorriso Grande sorriso Boca fechada (ou "triste") Boca aberta (ou "lamento")

Boca aberta Boca beijo Boca tensa

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 243)

Observe os exemplos de uso desses grafemas, segundo Barreto e Barreto


(2015, p. 243):

93
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Gostoso Rir Triste Desesperado

• Dentes e lábios: com relação aos dentes e aos lábios, os grafemas utilizados são
os seguintes, lembrando que a perspectiva de escrita é aquela do sinalizador
(BARRETO; BARRETO, 2015):

FIGURA 5 – GRAFEMAS: DENTES E LÁBIOS

Dentes superiores Dentes superiores Canto esquerdo do


Dentes
tocando a língua tocam lábio inferior lábio para cima

Dentes inferiores Boca aberta Dentes mordem lado


Lábios sugados
tocam lábio superior franzido ao redor ('uh') esquerdo dos lábios

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 271)

94
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

Observe os exemplos a seguir, retirados de Barreto e Barreto (2015, p. 272):

Ser pego
Banguela Ficar nervoso(a) Índio
de surpresa

• Língua: os grafemas que servem para a escrita da posição da língua, quando


esta for parte integrante do sinal a ser realizado são os seguintes:

FIGURA 6 – GRAFEMA: LÍNGUA

Língua para fora Se vê a língua dentro da Não se vê a língua, mas ela


e para baixo boca, ao lado esquerdo toca a bochecha esquerda

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 283)

Quando a língua faz força na parte interna de uma das bochechas, o


grafema utilizado pode ser alterado quando a forma de expressão do sinal for
mais enfática do que normalmente:

FIGURA 7 – GRAFEMA: LÍNGUA NO INTERIOR DA BOCHECHA

Forma padrão Forma enfática

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 283)

Quando necessário, os grafemas que representam a língua podem ser


girados em diferentes posições para representar com exatidão a posição em que
ela está (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 284):

95
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Nos casos em que a língua realiza movimentos dentro da boca são


utilizados os seguintes grafemas:

FIGURA 8 – GRAFEMA: MOVIMENTAÇÃO DA LÍNGUA DENTRO DA BOCA

A língua é vista dentro da boca e se A língua é vista dentro da boca


move para cima e para baixo e se move de um lado para o outro
repetidas vezes repetidas vezes

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 284)

Por fim, Barreto e Barreto (2015, p. 284) chamam a atenção para a grafia
peculiar do grafema que serve para grafar de movimento em que a língua escova
a parte interna da bochecha:

A seguir, estão alguns exemplos de uso desses grafemas para a escrita de


sinais em Libras, retirados de Barreto e Barreto (2015, p. 284):

Sorvete Babar Bala Ladrão Acidente de


carro muito
grave

96
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

2.3 NARIZ, BOCHECHA E RESPIRAÇÃO


• Nariz: quando utilizado como Ponto de Articulação/Locação o nariz é
representado com uma linha vertical dentro do grafema de rosto, nos casos
em que existe toque nele, pode-se colocar o grafema referente ao contato que
deve ser inserido sobre linha do nariz ou o mais perto dela possível sem que
atrapalhe a leitura do sinal (BARRETO; BARRETO, 2015), também existem
grafemas para quando o nariz é enrugado ou mexido durante a feitura do sinal:

Nariz Toque no nariz Nariz enrugado Nariz mexendo

A seguir, serão apresentados exemplos de uso do grafema nariz:

Perigoso Rinoceronte Mamãe (RS) Admirar Flor

Envolvendo o grafema da cabeça, Barreto e Barreto (2015, p. 244) chamam


a atenção para a escrita quando o nariz fica na diagonal, pois, “quando a cabeça
se inclina para a lateral de modo que o nariz fica na diagonal, estes grafemas são
escritos sobre a cabeça”:

FIGURA 9 – GRAFEMA DE INCLINAÇÃO DIAGONAL

A cabeça inclinada para A cabeça inclinada para


o lado esquerdo o lado direito Não saber,
desconhecido

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 244)

• Bochechas e respiração: os seguintes grafemas são utilizados para escrita das


situações específicas envolvendo as bochechas e a respiração do sinalizante:

97
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 10 – GRAFEMA: BOCHECHA E RESPIRAÇÃO

Bochechas infladas Bochechas sugadas Bochechas com


tensão muscular

Inspirar Expirar Respirar


Aspirando o ar Soprando o ar

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 270)

Os seguintes exemplos de uso destes grafemas foram retirados de


Barreto e Barreto (2015, p. 270):

Amargo Magro Beber de Ofegante Gordo


canudinho

2.4 SOBRANCELHAS
As sobrancelhas, quando utilizadas como Ponto de Articulação/Locação,
são representadas com dois pares de linhas retas paralelas, caso necessário grafar
apenas o par correspondente à sobrancelha necessária para a escrita correta do
sinal (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 155):

98
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

Além de serem utilizadas para a escrita dos sinais em que as sobrancelhas


têm um papel importante para a compreessão dele ou para uma ênfase que queira
ser dada a alguma parte do texto, as sobrancelhas também são grafemas muitos
importantes para as contruções gramaticais, assim como a direção do olhar, elas
contribuiem para as contruções das sentenças com foco, negação, interrogação e
tópico, ou seja, das sentenças em Libras que são feitas em uma ordem diferente
da ordem direta SVO (Sujeito-Verbo-Objeto):

FIGURA 11 – GRAFEMA: SOBRANCELHA

Posição neutra Sobrancelhas Sobrancelhas Sobrancelhas


erguidas arqueadas para baixo
(esperançoso)

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 228)

Observe que o uso do grafema de sobrancelha para baixo é feito na


contrução de frases interrogativas do tipo o que, como, onde, por que, quem e
qual (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 245):

Qual o seu nome?

Onde você vai?

Segundo Barreto e Barreto (2015, p. 246), no caso das sentenças


interrogativas em que pedem respostas do tipo sim/não é utilizado o grafema de
sobrancelhas para baixo:

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UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Você mora em Você gosta de


São Paulo? melancia?

3 EXPRESSÕES VINCULADAS AO CORPO


Nas Línguas de Sinais não são apenas as mãos que participam do processo
de feitura da sinalização, pois outras partes do corpo também podem ser incluídas
caso sejam necessárias para a clareza e delimitação semântica do sinal.

Por isso, existem grafemas específicos que delimitarão todas as demais


possibilidades de utilização para a sinalização, como vimos anteriormente neste
livro didático, os olhos, a direção do olhar, o nariz, a bochecha, os dentes, os lábios
e a língua podem ser escritos através de grafemas especificamente desenvolvidos
para grafar esses elementos fonéticos das LS.

Neste subtópico, veremos dois grafemas que servem para a escrita de


expressões vinculadas ao corpo e que são utilizadas para a representação escrita
dos fonemas relacionados à cintura e ao tronco, além disso, também serão
estudados os grafemas correlatos que indicam movimentação e inclinação desses
elementos físicos.

3.1 TRONCO, VISTA DE CIMA


Na maioria dos casos os ombros estão na posição neutra e não precisam
ser grafados, porém, quando for preciso escrevê-los, os grafemas referentes aos
deslocamentos para direita, esquerda ou erguimento de ombros do sinalizante
são os seguintes:

100
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

FIGURA 12 – GRAFEMA DE OMBRO

Ombro esquerdo Ombro direito


para frente Ombros (retos) para frente

2 ombros 2 ombros Ombro direito Ombro direito


para cima para baixo para cima para baixo

FONTE: Stumpf (2005, p. 85)

Nos casos em que o tronco for inclinado, poderão ser utilizadas duas
formas de grafia, de acordo com Stumpf (2005), Barreto e Barreto (2015): o grafema
de um ponto sobre uma linha ao lado do grafema de ombro (Figura 13) ou esse
mesmo ponto grafado sobre o grafema da cabeça (Figura 14):

FIGURA 13 – GRAFEMA DE INCLINAÇÃO DE TRONCO

Tronco inclinado
Para frente
para frente

Tronco inclinado para


a direita
Para trás Tronco inclinado
para trás

FONTE: Stumpf (2005, p. 87)

Esse grafema pode ser utilizado em qualquer uma das direções, conforme
colocado na figura anterior, além disso, é possível a utilização de mais de um
grafema para indicar mais de um movimento de inclinação do corpo no mesmo
sinal, observe o sinal de PINGUIM mais adiante.

101
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 14 – GRAFEMA DE INCLINAÇÃO DO TRONCO PARA DIREITA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 282)

Dar um soco Atração/atrair Freada brusca Pinguim


muito forte de bicicleta

3.2 CINTURA
Para representar a cintura são utilizadas duas linhas grossas paralelas
horizontais, uma para representar os ombros e outra para delimitar a cintura.
“Usamos este grafema quando as mãos se movem perto da cintura, tocam nela ou
próximo a ela” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 209):

Observe a utilização desse grafema nos exemplos a seguir, retirados de


Barreto e Barreto (2015, p. 209):

Empregado (a) Corpo


doméstico (a)
Fome Sofrer

Abade l'Épée

102
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

4 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

Na Unidade 1, você foi apresentado à história de Sávio, um rapaz surdo


que se mudou para Goiás para cuidar do avô idoso, além disso, também ficou
sabendo que o senhor idoso ganhou da mãe de Sávio um pastor alemão muito
esperto. No final da unidade anterior acompanhamos o momento em que o
cachorro salva duas crianças de serem atropeladas por um carro que não havia
percebido a presença delas. Nesta unidade, continuaremos a acompanhar as
situações narradas pelo jovem em sua adaptação à rotina no endereço novo,
observe também que esse texto continua em primeira pessoa, ou seja, está sendo
narrado pelo próprio Sávio.

A história apresentada neste material foi adaptada e reorganizada para atender


às características específicas deste livro didático; originalmente, ela está inserida no
livro Escrita de Sinais sem mistério (2015), escrito por Madson e Raquel Barreto.

Boa leitura! Não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles, a seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência completa entre duas ou mais línguas.

4.1 TEXTO

Texto

103
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

TEXTO 3:

Encontro com os amigos

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 160)

104
TÓPICO 1 | GRAFEMAS PARA EXPRESSÕES NÃO MANUAIS

4.2 GLOSSÁRIO

Glossário

INES (Instituto Nacional Reservar Restaurante


de Educação de Surdos)

Saudades Combinar Ocupado

4.3 TRADUÇÃO

Tradução

“Minha amiga Lídia também mora em Goiás, nós estudamos juntos no


INES em 1996. Além dela, estava com saudades de mais cinco amigos surdos
que moram aqui em Goiás também. Por isso, eu convidei eles todos para nos
encontrarmos na sexta-feira às cinco horas da tarde no restaurante em que Lígia
trabalha, fiz a reserva de uma mesa com seis cadeiras. Infelizmente, dois de meus
amigos tiveram que cancelar porque estavam ocupados no trabalho”.

105
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As expressões não manuais são aquelas que se referem aos movimentos da


face, dos olhos, da cabeça ou do tronco.

• Os elementos gráficos utilizados de olhos, direção do olhar, boca, dentes,


lábios, bochecha, língua, nariz, respiração e sobrancelhas precisam ser escritos
porque são necessárias para a grafia correta do sinal ou da sentença escrita.

• A Escrita de Sinais, como toda e qualquer escrita, não registra todos os elementos
presentes no momento da enunciação, mas apenas aqueles realmente necessários
para a compreensão daquilo que está sendo registrado a partir da escrita.

• Quando os olhos forem necessários para indicação do Ponto de Articulação/


Locação será utilizado um grafema da face acrescido de dois semicírculos.

• Na Libras, a direção do olhar do sinalizador faz referência a entidades pré-


estabelecidas do discurso, sendo direcionado a pontos específicos no espaço de
sinalização. Além disso, invoca atenção para uma informação importante do texto.

• As sobrancelhas também são grafemas muitos importantes para as contruções


gramaticais, assim como a direção do olhar, elas contribuiem para as contruções
das sentenças com foco, negação, interrogação e tópico.

• Para representar a cintura são utilizadas duas linhas grossas paralelas


horizontais, uma para representar os ombros e outra para delimitar a cintura.
Usamos esse grafema quando as mãos se movem perto da cintura, tocam nela
ou próximo a ela.

106
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 Observe os sinais escritos no quadro a seguir:

1) Nascer 2) Cachorro latindo 3) Claro

4) Boxe 5) Borbulhar 6) Perigo

Numere a coluna a seguir de acordo com sinais escritos no quadro e a presença


dos grafemas escritos nela:

( ) Grafema de ombro D elevado.


( ) Grafema de bochechas infladas.
( ) Grafema de nariz.
( ) Grafema de cintura.
( ) Grafema de olhos semicerrados.
( ) Grafema de boca aberta e franzida.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) 4, 5, 6, 1, 2 e 3.
b) ( ) 4, 6, 5, 1, 2, e 3.
c) ( ) 6, 5, 4, 3, 1 e 2.
d) ( ) 3, 2, 1, 4, 5 e 6.
e) ( ) 4, 3, 1, 6, 2 e 5.

107
2 De acordo com o estudo sobre grafemas para expressões não manuais do
tópico um, analise as sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para
as falsas.

( ) As expressões não manuais são aquelas referentes aos movimentos da


face, dos olhos, da cabeça ou do tronco.
( ) Os elementos gráficos utilizados de olhos, direção do olhar, boca, dentes,
lábios, bochecha, língua, nariz, respiração e sobrancelhas não precisam ser
escritas porque não são necessárias para a grafia correta do sinal ou da
sentença escrita.
( ) A Escrita de Sinais, como toda e qualquer escrita, não registra todos os
elementos presentes no momento da enunciação, mas apenas aqueles
realmente necessários para a compreensão daquilo que está sendo
registrado a partir da escrita.
( ) Na Libras, a direção do olhar do sinalizador não faz referência a entidades
pré-estabelecidas do discurso, sendo direcionado a pontos irrelevantes
no espaço de sinalização. Pois, não invoca atenção para uma informação
importante do texto.
( ) Usamos o grafema de duas linhas grossas paralelas horizontais, uma para
representar os ombros e outra para delimitar a cintura, quando as mãos se
movem perto da cintura, tocam nela ou próximo a ela.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V – F.
e) ( ) V – F – V – F – V.

3 De acordo com o seu conhecimento sobre os grafemas de expressões não


manuais, descreva a necessidade de sua utilização na ES.

108
UNIDADE 2 TÓPICO 2

ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM


ESCRITA DE SINAIS

1 INTRODUÇÃO

Introdução

A importância da Língua de Sinais para o povo surdo é inegável, pois


perpassa as questões de cultura, valorização pessoal, pertencimento a uma
comunidade e garantia de direitos através do reconhecimento da Língua Brasileira
de Sinais como meio legal de expressão e comunicação do país desde 2002, bem
como a compreensão de que a Libras é a primeira língua (L1) ou Língua Materna
dos surdos brasileiros. Contudo, ainda estamos em meio a um processo muito
incipiente de inserção plena dos surdos na sociedade brasileira como um todo,
pois, mesmo com a maior divulgação, reconhecimento e estudo nos cursos de
formação de professores, ainda faltam condições plenas para que o sujeito surdo
tenha pleno acesso a todos os seus direitos como cidadãos e a todas as estruturas
que compõem o tecido social brasileiro.

Dentre esses direitos se encontra o direito à educação e ao pleno


desenvolvimento de suas capacidades linguísticas, algo que é bastante complexo
ao pensarmos que a educação dos surdos, até agora, tem trabalhado com assimetria
de usos da língua, tendo em vista que o paralelo entre a fala e a sinalização,
mas entre a escrita de língua oral e a escrita da língua de sinais, até bem pouco
tempo, não existia. Logo, os alunos tinham que fazer uma relação díspar entre a
sinalização e um uso alfabético da língua majoritária que não fazia sentido direto
e atrapalhava o desenvolvimento de um processamento do fenômeno linguístico
que necessita ser simétrico, no sentido de equivalência entre os usos envolvidos,
para ser efetivo.

Desta maneira, a ES vem estabelecer uma simetria entre os usos da língua


de modo que o fenômeno linguístico possa se desenvolver de modo mais natural
e, assim, auxiliar tanto na aprendizagem da própria Língua de Sinais em si, quanto
da Língua Portuguesa em sua modalidade escrita. A seguir, reproduzimos as
vantagens do uso da ES elencados por Barreto e Barreto (2015, p. 81-82).
109
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

• Permite ao surdo expressar-se livremente, mostrando sua fluência


na Língua de Sinais, ao contrário da escrita da Língua oral.
• Aumenta o status social da Língua de Sinais quando mostra que o
surdo tem uma escrita própria.
• Ajuda a melhorar a comunicação.
• Contribui com o desenvolvimento cognitivo dos surdos,
estimulando sua criatividade, organizando seus pensamentos e
facilitando sua aprendizagem.
• Mostra as variações regionais da Libras, enriquecendo-a.
• Permite aprender outras Línguas de Sinais.
• Auxilia a pesquisa das Línguas de Sinais.
• Pode ser usada na construção de dicionários e glossários diretamente
em Língua de Sinais.
• É mais prática do que a gravação de uma sinalização em vídeo,
pois permite escrever e ler textos em Língua de Sinais em qualquer
lugar, basta papel e lápis.
• Pode ser usada em qualquer disciplina escolar ou universitária:
geografia, matemática, ciências etc.
• Preserva a Língua de Sinais, registrando a história, cultura e literatura,
através de roteiros de teatros, poesias, histórias, contos, humor etc.
• Pode ser usada por professores para ensinar a Língua de Sinais e
sua gramática para iniciantes e também pelos próprios aprendizes
de Língua de Sinais para relembrar o que foi estudado em sala de
aula, com muito mais eficácia e praticidade do que desenhos ou
anotações em português.
• Auxilia os tradutores intérpretes de Libras na preparação para a
interpretação e também no registro de novos sinais aprendidos.
• Permite também que o aluno surdo faça anotações enquanto assiste
a uma aula, palestra etc. e não fique apenas como expectador.
• Torna mais fiel a transcrição de sinalizações em corpora vídeo por
pesquisadores, do que o uso de glosas da Língua oral como em [EU
IR CASA P-E-D-R-O], além do que, torna sigilosa a identidade do
sinalizador – o que não acontece na utilização de vídeos, onde o
sinalizador muitas vezes já é conhecido, fator que pode influenciar
as análises.

DICAS

As diversas versões de músicas em Libras já são bastante conhecidas e


divulgadas na internet, mas o Canal Tom Min Alves está com uma proposta muito
interessante de colocar algumas das músicas acompanhadas não apenas da sinalização,
mas da ES também. Vale a pena ir ao Youtube assistir!

110
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 15 – FRAME DO VÍDEO “A PROIBIDA” EM LIBRAS E ES

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=D9TGLVadkuY>. Acesso em: 11 nov. 2019.

2 ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO


A evolução da escrita aconteceu a partir da necessidade de registro
comercial para o estabelecimento de contrato, compra e venda de animais e
bens de consumo, assim como a ampliação das rotas de comercio exigiu uma
forma de organização prática daquilo que estava sendo comercializado ou que
precisava ser transmitido a distância. A partir dos pictogramas (desenhos para
representação direta) a escrita passou por logogramas, por diferentes sistemas
e por alterações que culminaram num sistema alfabético que tem, ao mesmo
tempo, uma quantidade limitada de grafemas, mas que possibilita, através de
sua combinação, a construção de um léxico praticamente infinito. De acordo com
Stumpf (2005, p. 34):

A evolução da escrita, que está intimamente ligada ao processo


civilizatório, não foi linear, houve mistura de muitos sistemas e
variantes ao longo do tempo. A evolução da escrita, usada no mundo
ocidental, corresponde a um aumento da geratividade, com a redução
progressiva do número de unidades mínimas que se tem de aprender
para poder escrever. Ela evoluiu, no sistema alfabético, de milhares
de ideogramas, a centenas de sílabas para apenas cerca de quarenta
relações grafema-fonema.

Deste modo, Stumpf (2005) salienta que a evolução da escrita se liga ao


processo de constituição da civilização e, exatamente por isso, não é possível
delimitar com exatidão o modo como ela se desenvolveu a partir das diferentes
interações e misturas que ocorreram ao longo do tempo. Além disso, a autora
relaciona o processo evolutivo da escrita com a ampliação da possibilidade de
geração de novas palavras, ou seja, novos significados a partir de um número
cada vez menor de letras que precisam ser aprendidas para a que a tecnologia da
escrita possa ser utilizada.

111
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

NOTA

O número citado por Stumpf (2005) é superior às 26 letras do alfabeto, porque


algumas das letras representam mais de um tipo de som (fonema), por exemplo, observe
que taxi, exemplo e enxada são todas palavras escrita com a letra x, mas em cada uma delas
essa letra está associada a um som (fonema) diferente.

Ainda sobre essa característica de gerar novas palavras a partir de um


número limitado de grafemas, Stumpf (2005) destaca que a leitura também é
facilitada por esse sistema, pois as possibilidades de leitura permitem ao leitor
compreender a partir do seu conhecimento prévio como é feita a leitura de uma
palavra nova.

A escrita alfabética é um sistema gerativo que possibilita ler qualquer


palavra nova. Ela permite a autoaprendizagem pelo leitor. O processo
aos poucos contribui para criar uma representação ortográfica de cada
palavra, que será então lida pela rota lexical, o que acontece com as
palavras já bem conhecidas e que aparecem com frequência.
A configuração atual de uma língua está na relação entre os seus
elementos e não no valor intrínseco deles. Os elementos individuais
adquirem sentido, conforme se posicionam, dentro da configuração
particular que constitui uma determinada língua. Quanto ao
significado dos elementos, ele é arbitrário, atribuído pela comunidade
falante, ou sinalizante, que vai incorporando novos vocabulários, ou
no caso das línguas de sinais novos sinalários, em uma construção que
é social (STUMPF, 2005, p. 35-36).

Deste modo e ainda sobre o uso do alfabeto, a tecnologia básica é


imprescindível para a existência da escrita, a autora coloca que as partes mínimas
que compõem a língua não têm um sentido em separado, ou seja, as letras
ganham sentido quando se organizam no léxico que compõe uma língua. Assim,
o conjunto de palavras/sinais que compõem a língua ganha novos sentidos
através da inserção de novos vocabulários pelos seus usuários. Isso quer dizer
que a escrita possibilita o registro e a inserção de palavras no léxico devido à
característica dos grafemas que, ao serem combinados de acordo com as regras
implícitas da língua, permitem a criação e leitura de palavras/sinais novos a partir
de um número limitado de grafemas.

Na língua portuguesa, o número de letras é de vinte e seis letras, além disso


existem os acentos e os sinais gráficos utilizados para finalização das sentenças.
Em Libras, Barreto e Barreto (2015) identificam 111 grafemas para Configuração
de Mão divididos em dez grupos, além de grafemas específicos para a escrita dos
diferentes Pontos de Articulação, movimentos, tipos de contato e expressões não
manuais. Mesmo em diferentes quantidades, tanto os grafemas utilizados para
a escrita da Língua Portuguesa quanto aqueles usados para a ES apresentam a

112
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

mesma característica de serem combinados de diferentes modos para a atribuição


de sentido, por exemplo, apenas a letra [g] não tem significado específico além de
ser a sétima letra do alfabeto, mas ao ser combinada com as letras [a, t, o] ela passa
a fazer parte da palavra [gato] que tem o significado de um felino doméstico de
pequeno porte; observe abaixo um exemplo semelhante em Libras:

O grafema anterior, assim solto, não tem significado específico,


apenas sua localização no Grupo 4 das Configurações de Mão, porém, ao ser
combinado com os elementos de Ponto de Articulação (cabeça-bochecha) e
o Movimento, paralelo à parede feito duas vezes com a mão direita, passa
a fazer parte da escrita de uma das variantes do sinal de GATO em Libras.
Como podemos observar a seguir:

Essa capacidade de uso da tecnologia da escrita de modo a juntar os


grafemas para fazer sentido nada mais é do que ser alfabetizado, ou seja, ser
capaz de utilizar a escrita para a junção de grafemas de modo que seja capaz de
ler e escrever minimamente em uma língua. Assim, a alfabetização é a parte inicial
do processo de aquisição da escrita que proporciona, a capacidade de expressão e
compreensão em uma determinada língua. Na continuidade desse processo está
a noção de letramento, segundo Stumpf (2005, p. 36):

O letramento difere do simples ler e escrever porque pressupõe


um entendimento do uso apropriado dessas capacidades dentro de
uma sociedade que está fundamentada no texto impresso. Assim a
lectoescrita requer um envolvimento autônomo e ativo com o texto
impresso e destaca o papel do indivíduo no gerar, receber e atribuir
interpretações independentes às mensagens.

Logo, o letramento é a capacidade de utilizar aquilo que a alfabetização


proporcionou de modo a agir socialmente objetivando compreender os modos
como a escrita está inserida nos mais diversos contextos sociais e como esses
diversos modos impactam e são interpretados nas mais diversas esferas sociais.
Para compreender melhor o conceito de letramento, um exemplo simples,
é: ler uma receita (alfabetização) é diferente de saber que aquele tipo de texto
é uma instrução de como fazer um prato de comida (letramento), ou ler uma
notícia recebida pelo aplicativo de telefonia móvel e saber julgar qual o contexto
dela, quais as características e como confirmar as informações contidas para a
interpretar como uma notícia verdadeira ou falsa.

113
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Segundo Bagno e Rangel (2012 apud CORREIA, 2018, p. 19), o letramento é a


primeira tarefa de uma Educação Linguística, ou seja, uma educação que pretenda
formar cidadãos capazes de interagirem de modo efetivo na sociedade letrada:

O letramento é a primeira das tarefas que cabem a um projeto de


Educação Linguística como uma concepção que ultrapassa a noção
de alfabetização porque o letramento coloca em jogo não apenas a
mera decodificação [alfabetização], mas também as práticas sociais
que envolvem a leitura e a escrita para a participação efetiva na
sociedade letrada. Desta forma, apresentam a compreensão da
Educação Linguística como uma demanda do contexto social “uma
vez que a inserção na sociedade letrada é requisito indispensável
para a construção da cidadania e de uma sociedade democrática”
(BAGNO; RANGEL, 2012, p. 240) e os processos de letramento como
parte importante para uma proposta de educação dentro da definição
apresentada por eles.

Assim, a escrita é a tecnologia que permite o registro, a continuidade e a


permanência das informações e descobertas, a alfabetização é o processo inicial
de apropriação da aquisição da linguagem e de decodificação da tecnologia da
escrita; e o letramento é o uso social que os diferentes usos da escrita têm dentro
da sociedade letrada.

3 EDUCAÇÃO BILÍNGUE NO ENSINO DA ESCRITA DE LIBRAS


A pedagogia bilíngue faz parte do processo histórico da educação de
surdos sintetizados por Moret, Rossarola e Mendonça (2017, p. 1972, grifo nosso)
da seguinte maneira:

Ao longo da trajetória da educação dos surdos, são visíveis as batalhas


e consequentemente as conquistas adquiridas por eles, mas ainda há
muito a ser feito. Durante a história, essa educação passou por duas
fases: a primeira, Oralista, tinha como objetivo a recuperação dos
surdos, não permitindo que os mesmos utilizassem a língua de sinais
em nenhum ambiente, mesmo sendo usuários dessa língua. A segunda
fase foi o Bimodalismo, ou Comunicação total, como é conhecida, em
que era permitido o uso da língua de sinais e oral ao mesmo tempo,
tendo como principal objetivo o ensino da Língua Portuguesa. Assim,
desrespeitando a língua materna do surdo, pois nessa comunicação
se rege pelas regras da Língua Portuguesa. Atualmente, a grande luta
da comunidade surda é a proposta da educação bilíngue, sendo essa
a nova fase da educação dos surdos. Essa proposta tem como objetivo
uma educação de qualidade, onde os conteúdos são ensinados na
primeira língua do surdo (L1) – Língua de Sinais – LIBRAS e a Língua
Portuguesa como segunda língua (L2).

Assim, no contexto atual, a educação de surdos está num momento


histórico em que as características linguísticas dos surdos são prioridade no
atendimento qualificado deste público. Além de uma compreensão linguística
e pedagógica, este direito à educação adequada ao público surdo para o qual a

114
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Língua Materna (L1) é a Libras também está pautado na legislação elaborada nos
últimos anos, por exemplo, o Decreto nº 5.626/2005 que regulamenta o uso da
Libras menciona que:

A educação bilíngue, tal como compreendida nesse decreto,


visa oferecer aos alunos surdos as condições necessárias de
aprendizagem da Libras, possibilita o acesso ao conhecimento, à
cultura e às relações sociais, respeitando, ainda, suas condições
diferenciadas de aprendizado (metodológicas) e os aspectos
culturais e sociais inerentes à surdez (LACERDA; LODI, 2009 apud
GIROTO; CICILINO; POKER, 2018, p. 783).

Logo, o Decreto, comentado pelos autores, destaca a importância dos


aspectos culturais e sociais que estão vinculados à surdez, pois:

O ensino bilíngue não deve ser pensado apenas na questão pedagógica


de sala de aula, quando é disponibilizada a presença do intérprete.
Faz-se necessário que o Projeto Político Pedagógico das escolas seja
bilíngue, com a participação dos sujeitos surdos, que as políticas
educacionais contemplem uma educação que reconheça a surdez
como diferença, e, principalmente, ultrapassem os muros da escola e
atinjam outras instituições, em especial, a família (SOUZA, 2011 apud
RODRIGUES, 2017, s. p.),

Desta maneira, a educação bilíngue pressupõe o entendimento de


participação social e cultural dos sujeitos surdos em todas as instâncias e esferas
vinculadas a ela, assim, destaca-se que é necessário não somente um intérprete
para a efetiva existência de uma pedagogia bilíngue voltada à aprendizagem dos
surdos, mas de uma vivência social atrelada a ela que ultrapassasse as fronteiras
que delimitam o espaço escolar.

Dentro desse contexto, a ES entra como ferramenta capaz de estabelecer


um equilíbrio das relações linguísticas para o ensino de Língua Materna (L1-
Libras) e Língua majoritária (L2 – Língua Portuguesa), isso porque até a inserção
de uma escrita capaz de respeitar as peculiaridades das Línguas de Sinais, a
relação entre a L1 e a L2 se dava de modo desequilibrado, pois, mesmo com a
inserção de Libras sinalizada no contexto escolar, ainda a tecnologia de escrita
utilizada para a alfabetização estava relacionada à língua cuja modalidade não
era a mesma da língua de expressão do sujeito surdo.

Esse tipo de relação não igualitária causava uma série de dificuldades para
a aquisição da língua escrita por parte dos estudantes surdos, acarretando uma
série de dificuldades e complicações para o desenvolvimento da escrita da língua
majoritária, porque esta tem uma estrutura morfológica, semântica e sintática
completamente diversa da Libras. Dessa forma, o surdo pensava em Libras, mas
tinha que fazer a troca para a LP, uma língua sobre a qual nem sempre tinha o
domínio das estruturas, qual era necessário se expressar por escrito.

115
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Ao relatar sua experiência escolar, Raquel Barreto (BARRETO; BARRETO,


2015) coloca que as anotações de aula, os textos escritos e as suas vivências
como estudante foram muito complicadas devido à obrigatoriedade do uso da
modalidade escrita apenas em LP. Isso porque a “troca” de Libras para LP no
momento da escrita perdia muito do seu sentido, dificultava a aprendizagem
e os estudos, bem como impossibilitava o registro de seus pensamentos, pois
não existe correspondência total entre duas línguas, ao fazer a transposição,
os sentidos também precisarão ser transpostos e, nesse processo, o sentido das
sentenças pode até ser equivalente, mas nunca será o mesmo. Raquel conta que
ao conhecer a ES sua forma de relação com a escrita mudou porque foi possível
passar rapidamente para o papel suas ideias, emoções e necessidades. Logo, foi
permitido que ela criasse uma relação afetiva e desenvolvesse um raciocínio
linguístico que permitiu um maior desenvolvimento em sua proficiência em LP
também. Por fim, a autora coloca que “como minha vida teria sido diferente se eu
tivesse aprendido a escrever a Libras em minha infância! Quantas oportunidades
teriam sido melhor aproveitadas. Eu teria aprendido muito, muito mais na escola,
nos cursos, no trabalho” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 45).

Num contexto menos pessoal, Stumpf (2009) relata a sua experiência


como professora quando inseriu a ES através do sistema SW em turmas de
crianças surdas que, até então, estavam sendo alfabetizadas apenas em LP. A
autora destaca que o desenvolvimento em SW das crianças é bastante rápido e
percorre as mesmas etapas da alfabetização vivenciadas pelas crianças ouvintes
no aprendizado da modalidade escrita da língua oral-auditiva. Stumpf (2009, p.
17) observa que:

Da vivência em classe da criança, sempre influenciada por suas


experiências familiares, e da comunidade onde se insere, surge à
linguagem como meio de expressão de suas emoções e pensamento,
desse contexto sociolinguístico vão surgir às oportunidades de
leitura e escrita constituída pelos símbolos arbitrários e seu objeto
do conhecimento.

Assim, as duas autoras chegam ao mesmo ponto, aquele em que o papel da


escrita como registro pessoal e comunitário se insere como parte da constituição da
comunidade surda, em que os surdos têm a possibilidade de se apropriarem de uma
escrita que tem a capacidade de abarcar as características específicas da Libras.

Desse jeito, a ES no contexto da educação bilíngue se mostra de extrema


importância como forma de proporcionar a aquisição qualificada da língua
específica bem como forma de desenvolvimento de um caminho de raciocínio de
língua que irá auxiliar a aprendizagem de outras línguas inseridas no contexto de
aprendizagem dos surdos, neste caso a LP.

Para criar um comparativo, caso você seja ouvinte, uma forma de


compreender a importância da presença da ES para a educação bilíngue, é
imaginar a seguinte situação: aprender a escrever em alemão sem poder utilizar a
língua escrita em LP para nada durante a sua aprendizagem. Ou seja, você pode

116
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

falar em português e em alemão durante as aulas, mas nenhuma de suas anotações


poderia ser feita em outra língua que não o alemão, língua que você não domina
e, por isso, não tem bem ideia de quais palavras utilizar e muito menos como as
escrever e relacionar numa frase. Acreditamos que seria bem difícil, não é?

Guardadas as devidas diferenças, é mais ou menos isso que acontece com


os surdos que têm a Libras como L1 caso não tenham acesso a uma educação
bilíngue em que a ES seja ensinada.

4 PROCESSOS EDUCACIONAIS SOBRE ESCRITA DE SINAIS


Neste subtópico, serão apresentadas as reflexões específicas sobre os
processos educacionais de escrita e leitura na perspectiva apresentada por
Wanderley (2012) em sua dissertação de mestrado. As ponderações feitas pela
autora são interessantes na medida em que especificam as questões pedagógicas
referentes aos processos educacionais das pessoas surdas em relação à tecnologia
da escrita na produção e leitura de materiais escritos.

A autora apresenta, também, os aspectos educacionais que, ao longo da


história da alfabetização de surdos, fizeram com que muitas dessas pessoas fossem
tidas como incapazes ou preguiçosas. Com esse fim, a autora inicia mencionando
as situações especificamente referentes à evolução da alfabetização em ES no
Brasil, após, Wanderley (2012) delimita as circunstâncias que estão envolvidas na
leitura e na continuidade importante entre a L1 sua respectiva escrita e a L2 em
sua modalidade escrita.

Assim, trataremos com mais detalhes os assuntos já introduzidos na seção


anterior, porém, agora, com o foco específico na escrita e na leitura e sua relação
com a ES e a educação linguística para surdos.

4.1 PRODUÇÃO ESCRITA


Retomando as discussões feitas anteriormente neste livro didático, leia a
citação a seguir, retirada de Wanderley (2012, p. 51):

A alfabetização para o ensino de surdos começou com a escrita


alfabética que não reflete a língua própria dos surdos. A escrita
alfabética não tem relação com a língua de sinais, pois as duas
possuem estruturas diferentes. Então, a maioria dos surdos se torna
um analfabeto funcional, pois não consegue assimilar uma escrita que
é resultante de uma língua oral.

Nesse trecho a autora destaca a impossibilidade de a escrita alfabética ser


capaz de representar as características específicas da LS, devido à inexistência de
uma relação estrutural entre as duas línguas, ou seja, elas têm uma organização
completamente diferente pois se manifestam em modalidades muito distintas,

117
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

uma oral-auditiva outra visual-espacial. Além disso, correlaciona o ensino apenas


na escrita alfabética com o analfabetismo funcional da maioria dos surdos, isso
quer dizer que, mesmo que a pessoa surda seja capaz de “juntar” as letras, ela não
será capaz de compreender completamente o sentido do texto lido.

Ainda segundo Wanderley (2012, p. 51), o processo educacional que


insiste no ensino apenas da escrita alfabética em LP para os surdos:

É muita ingenuidade a que o educando é submetido durante muitos


anos, aprendendo a escrita que não é sua primeira língua, com limitações
na imaginação, sem apoio da outra escrita como primeira língua. São
ações puramente mecânicas ao dar-se muita importância à escrita de
português de forma não espontânea. É como reforçar sem gosto, com
muitos treinos e força. Quanto mais curtos ou mais longos os anos, sem
que o aluno desista, finalmente se chega a um alvo, a um objetivo para
poder interpretar vários textos de escrita como segunda língua.

Assim, a pesquisadora declara que é uma falácia inocente achar que


apenas a insistência na memorização automatizada da escrita em LP, sem o uso
da ES (L1 para os surdos), irá fazer com que o surdo aprenda de forma proficiente
a escrita da L2. Indo mais longe em suas conclusões, ela cita o seguinte trecho:

Um exemplo desta situação [ensino mecanizado] encontramos


quando alunos de escolas para surdos fazem demonstrações artísticas
de sua potencial capacidade de articular fonemas em palavras e estas
em frases e versos. Tais comportamentos robotizados, exibidos pelos
surdos a grandes plateias reunidas para testemunharem o sucesso da
educação, reforçam a deficiência e geram expectativas nestes sobre a
normalização através da aquisição de uma língua morta (o português
para o surdo), mas com poder de domínio cultural (LOPES, 2005 apud
WANDERLEY, 2012, p. 51-52, grifo nosso).

Dessa maneira, a autora afirma que as situações em que o ensino é


mecânico e sem o uso real, embora pareça um sucesso educacional é, na verdade,
um modo de gerar expectativas irreais que apenas sustentam as ideais errôneas
quanto à educação linguística dos surdos, pois o português seria uma língua
morta, ou seja, uma língua sem utilidade para as pessoas surdas. Embora o
uso da expressão língua morta para a LP seja um pouco excessiva, tendo em
vista que a LP é a língua majoritária da sociedade em que as pessoas surdas do
Brasil estão inseridas, é possível entender a necessidade de enfatizar a diferença
enorme existente entre a LP e a Libras e a impossibilidade de apenas a mera
repetição e a insistência do ensino da escrita de LP para surdos ser eficiente para
a aprendizagem da leitura por parte dos surdos.

A importância da escrita para a comunidade surda está relacionada à


seguinte necessidade:

118
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Há muitas línguas orais que não possuem uma escrita. Seus usuários
talvez não sentiram necessidade dessa representação, ou não
conseguiram um sistema que representasse adequadamente suas
línguas. As comunidades surdas, não são comunidades isoladas, com
uma cultura de língua ágrafa, mas participam da vida urbana e do
mundo contemporâneo que é cada vez mais dependente da escrita.
As comunidades surdas urbanas precisam de um nível adequado de
leitura e escrita compatível com a sociedade em que vivem (STUMPF,
2005, p. 47, grifo nosso).

Neste contexto de ensino mecânico e de inserção na sociedade letrada, a ES


ganha importância fundamental, pois, de acordo com Wanderley (2012, p. 52): “é
importante e fundamental a representação da escrita própria da primeira língua,
ou seja, a escrita de sinais, tendo o apoio de uma cultura própria na qual se possa
perceber o profundo sentido da linguagem e vencer, com facilidade e assim ter a
possibilidade de aprender outra escrita como segunda língua, que é o português”.

Nessa perspectiva, a ES é fundamental para a aprendizagem da escrita


de LP, pois a aprendizagem de uma língua permite o entendimento das relações
linguísticas que se constituem a partir e pela escrita. Assim, apenas o contato com
a língua escrita de sua L1 criaria as condições para a aprendizagem verdadeira,
não mecanizada, da L2 escrita da língua majoritária. Isso porque:

Ao aprender qualquer escrita, focando-se aqui a escrita de sinais, a


tendência é melhorar o vocabulário, as substituições por conta de uma
formalidade muito grande do sistema em uma gramática bem organizada,
excluindo as repetições ou vícios de linguagem que ocorrem na escrita,
mas não necessariamente na sinalização da língua [...]. Por isso que digo
com mais atenção, precisamos urgentemente escrever utilizando nossa
própria escrita conforme a nossa gramática. Quadros (2000, p. 10) afirma
que: “o sistema escrito de sinais é uma porta que se abre no processo de
alfabetização de crianças surdas que dominam a língua de sinais utilizada
no país” (WANDERLEY, 2012, p. 57, grifo nosso).

Logo, o processo de alfabetização das crianças surdas será mais eficiente e


poderá proporcionar a aprendizagem da escrita apenas através da aprendizagem
da escrita que atende às peculiaridades da LS utilizada pela comunidade surda.

4.2 LEITURA DE TEXTO


Com relação à leitura:

Esperar que uma criança surda consiga ler e escrever no código alfabético
com a mesma naturalidade que a ouvinte é tão absurdo quanto esperar
que um ouvinte consiga escrever os sons da fala fazendo uso de notas
musicais. Cada tipo de fenômeno a ser registrado requer um sistema de
representação escrita apropriado: Notas musicais para música, alfabeto
para língua falada, SignWriting para Língua de Sinais (CAPOVILLA;
SUTTON, 2001 apud WANDERLEY, 2012, p. 59, grifo nosso)

119
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Logo, cada forma de expressão precisa de um sistema de escrita que seja


adequado, desse modo “há uma relação distintiva entre os ouvintes e surdos
referente à leitura de português. Os ouvintes reconhecem o que foi ouvido e os
surdos reconhecem o que foi memorizado de forma visual até poder compreender
naturalmente” (WANDERLEY, 2012, p. 59).

Isso acontece porque as pessoas ouvintes têm o registro naturalmente


constituído do som das palavras, o que facilita a leitura alfabética, tendo em
vista que esse alfabeto se estruturou exatamente a partir dos fonemas da língua.
Já as pessoas surdas precisam construir a referência alfabética a partir de um
estudo estruturado, não natural, pautado na oralização e na memorização
visual da relação entre as letras e a referência alfabética dentro das palavras que
elas têm. Por isso, existe a necessidade do ensino da Escrita de Sinais, pois os
grafemas utilizados em ES apresentam uma relação orgânica com a Língua de
Sinais utilizada, ou seja, a ES tem a mesma relação clara que a escrita alfabética
tem com a língua oral.

5 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

No final do tópico anterior, Sávio havia marcado de encontrar seus antigos


amigos do Ines no restaurante em que Lígia trabalha, dentre seus amigos, apenas
um disse que não poderia ir, pois irá trabalhar. Neste tópico, vamos acompanhar
a conversa de Sávio com três dos amigos sobre a chuva que caía na parte da
cidade em que eles moram e sobre acidentes de carro em que eles ajudaram.

Você perceberá que o texto vai se tornando mais complexo na medida em


que são apresentados mais grafemas e seu domínio da ES vai se aprofundando
devido aos estudos realizados até aqui. Este texto foi retirado de Barreto e Barreto
(2015) e adaptado para as necessidades específicas deste livro didático.

Boa leitura, não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles, a seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência completa entre duas ou mais línguas.

120
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

5.1 TEXTO

Texto

TEXTO 4:

Encontro entre amigos: chuva e futebol

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 175)

121
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

5.2 GLOSSÁRIO

Glossário

Entrar Só Futebol de Salão

Esperar Abraçar Alan

Dia todo Televisão Muito novo

Domingo Mostrar pra mim Ir junto

Chover muito forte (CL) Beber muito

Nada, ninguém, nenhum

122
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

DICAS

Este livro didático procura apresentar a maioria dos sinais necessários para
compreensão dos textos, caso você tenha necessidade de encontrar algum dos sinais
colocados anteriormente, você pode fazer vários tipos de pesquisa no SignPuddle, neste
momento, será mostrado um deles, depois, ao longo do livro serão apresentadas outras
formas de busca no site. Por exemplo, para achar o seguinte sinal:

• Entre no site: http://www.signbank.org/signpuddle2.0/searchgroup.php?ui=12&sgn=46.


• Clique no item Pesquisar por Grupos.

FIGURA – PESQUISA POR GRUPOS SIGNPUDDLE

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

• Entre no grupo referente à Configuração de mão, no caso, o grupo dos cinco dedos.
• Clique na CM referente aos dedos todos juntos.

FIGURA – SIGNPUDDLE BUSCA CM

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

123
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

• Note que apareceram muitas combinações possíveis, então, vamos selecionar mais um
dos grafemas que compõem o sinal, no sinal que estamos procurando, vamos utilizar
os dois sinais de contato:

FIGURA – SIGNPUDDLE: PESQUISA CAMPO

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

• Note que apareceram muitas combinações possíveis, então, vamos selecionar mais um
dos grafemas que compõem o sinal, no sinal que estamos procurando, vamos utilizar
os dois sinais de contato:

FIGURA – SIGNPUDDLE: PESQUISA CAMPO

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

• Ao clicar no sinal do grupo de contatos, abre a lista em que aparecem dois contatos:

124
TÓPICO 2 | ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA – SIGNPUDDLE: GRUPO DE CONTATO

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

• Agora, você pode continuar colocando o outro grafema ou ver os sinais encontrados,
neste caso: 406.

FIGURA – SIGNPUDDLE VER SINAIS

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

• Ao clicar em “ver os sinais”, aparecerá uma lista em colunas em que você deverá
procurar o sinal desejado e clicar sobre ele.

FIGURA – SIGNPUDDLE: LISTAGEM

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

125
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Ao clicar sobre o sinal, aparecerá o significado registrado no site:

FIGURA – SIGNPUDDLE: SINAL DE AMIGO

ONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

5.3 TRADUÇÃO

Tradução

“Sávio só entrou no restaurante para conversar com Lígia. Enquanto


esperava os amigos, Sávio tomou um sorvete e ficou vendo o campeonato de
futebol na televisão. Sávio viu três de seus amigos chegando ao restaurante,
depois, abraçou cada um deles. Alan falou que choveu muito e um amigo bateu
o carro e os três ajudaram ele. Sávio respondeu: aqui não choveu nada. Alan
respondeu que perto de sua casa choveu o dia todo. Alan contou ainda que no
domingo um amigo me mostrou seu carro novíssimo e nós dois fomos juntos ao
futebol de salão. Meu amigo bebeu demais”.

126
RESUMO DO TÓPICO 2

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• Dentre os direitos dos surdos, se encontra o direito à educação e ao pleno


desenvolvimento de suas capacidades linguísticas.

• A ES vem estabelecer uma simetria entre os usos da língua de modo que o


fenômeno linguístico possa se desenvolver de modo mais natural e, assim,
auxiliar tanto na aprendizagem da própria Língua de Sinais em si, quanto da
Língua Portuguesa em sua modalidade escrita.

• A evolução da escrita aconteceu a partir da necessidade de registro comercial


para o estabelecimento de contrato, compra e venda de animais e bens de
consumo, assim como a ampliação das rotas de comércio exigiu uma forma de
organização prática daquilo que estava sendo comercializado ou que precisava
ser transmitido a distância.

• O conjunto de palavras/sinais que compõem a língua ganha novos sentidos


através da inserção de novos vocabulários pelos seus usuários.

• Mesmo em diferentes quantidades, tanto os grafemas utilizados para a escrita


da Língua Portuguesa quanto aqueles usados para a ES apresentam a mesma
característica de serem combinados de diferentes modos para a atribuição de sentido.

• A alfabetização é a parte inicial do processo de aquisição da escrita que proporciona,


a capacidade de expressão e compreensão em uma determinada língua.

• O letramento é a capacidade de utilizar aquilo que a alfabetização proporcionou


de modo a agir socialmente objetivando compreender os modos de como a
escrita está inserida nos mais diversos contextos sociais e como esses diversos
modos impactam e são interpretados nas mais diversas esferas sociais.

• A escrita é a tecnologia que permite o registro, a continuidade e a permanência


das informações e descobertas, a alfabetização é o processo inicial, a
apropriação da aquisição da linguagem e de decodificação da tecnologia da
escrita; e o letramento é o uso social que os diferentes usos da escrita têm
dentro da sociedade letrada.

127
• A educação bilíngue pressupõe o entendimento de participação social e cultural
dos sujeitos surdos em todas as instâncias e esferas vinculadas a ela.

• A ES no contexto da educação bilíngue se mostra de extrema importância


como forma de proporcionar a aquisição qualificada da língua específica
bem como forma de desenvolvimento de um caminho de raciocínio de língua
que irá auxiliar a aprendizagem de outras línguas inseridas no contexto de
aprendizagem dos surdos.

• A ES é a fundamental para a aprendizagem da escrita de LP, pois a


aprendizagem de uma língua permite o entendimento das relações linguísticas
que se constituem a partir e pela escrita.

• As pessoas ouvintes têm o registro naturalmente constituído do som das palavras.

• As pessoas surdas precisam construir a referência alfabética a partir de um


estudo estruturado, não natural, pautado na oralização e na memorização
visual da relação entre as letras e a referência alfabética dentro das palavras
que elas têm.

128
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 A ES vem estabelecer uma simetria entre os usos da língua de modo que o


fenômeno linguístico possa se desenvolver de modo mais natural e, assim,
auxiliar tanto na aprendizagem da própria Língua de Sinais em si, quanto
da Língua Portuguesa em sua modalidade escrita. A seguir, reproduzimos
as vantagens do uso da ES elencados por Barreto e Barreto (2015, p. 81 e 82).

I- Permite ao surdo expressar-se livremente, mostrando sua fluência na


Língua de Sinais, ao contrário da escrita da Língua oral.
II- Contribui com o desenvolvimento cognitivo dos surdos, estimulando sua
criatividade, organizando seus pensamentos e facilitando sua aprendizagem.
III- Nunca será mais prática do que a gravação de uma sinalização em vídeo,
pois não permite escrever e ler textos em Língua de Sinais em qualquer
lugar, basta papel e lápis.
IV- Preserva a Língua de Sinais, registrando a história, cultura e literatura,
através de roteiros de teatros, poesias, histórias, contos, humor etc.
V- Permite também que o aluno surdo faça anotações enquanto assiste a uma
aula, palestra etc. e não fique apenas como expectador.

Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I, II, III e V.
c) ( ) II, III, IV e V.
d) ( ) I, II, IV e V.
e) ( ) I, III, IV e V.

2 De acordo com o estudo sobre escrita, alfabetização e letramento do Tópico


2, analise as sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) A evolução da escrita não está intimamente ligada ao processo civilizatório,


não foi linear, houve mistura de muitos sistemas e variantes ao longo do
tempo.
( ) O letramento difere do simples ler e escrever porque pressupõe um
entendimento do uso apropriado dessas capacidades dentro de uma
sociedade que está fundamentada no texto impresso.

129
( ) A escrita é a tecnologia que permite o registro, a continuidade e a
permanência das informações e descobertas.
( ) A alfabetização é o processo final de apropriação da aquisição da
linguagem e de decodificação da tecnologia da escrita.
( ) O letramento é o uso social que os diferentes usos da escrita têm dentro da
sociedade letrada.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V – F.
e) ( ) V – F – V – F – V.

3 Diante das reflexões sobre os processos educacionais de escrita e leitura,


discorra sobre a importância do aprendizado da ES para o aluno surdo.

130
UNIDADE 2 TÓPICO 3

ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO


EM ESCRITA DE SINAIS

1 INTRODUÇÃO

Introdução

Até o momento, neste livro didático, foram estudados diferentes


grafemas em ES: Configurações de Mão, Pontos de Articulação/Locação, Setas
Indicativas de Movimento, escrita dos indicativos dos diferentes tipos de
contato e várias formas de representação gráfica das partes do corpo envolvidas
para a realização dos sinais.

Além disso, foram vistos aspectos estruturais e organizacionais referentes


ao modo como os sinais são escritos em uma frase ou texto. No tópico anterior,
foram estudas as questões referentes à importância na ES para a educação de
surdos e aos conceitos de escrita, alfabetização e letramento em ES, bem como
alguns aspectos específicos sobre escrita e leitura em ES. Assim, as discussões
efetuadas enfocavam pontos mais teóricos quanto aos estudos de ES e das noções
correlatas a ela.

Neste tópico, serão apresentadas as bases para a compreensão do processo


de alfabetização em ES, bem como indicaremos os caminhos para a elaboração
de um percurso de aprendizagem da Escrita de Sinais através do sistema SW.
Também, neste espaço, serão fornecidos elementos para que o futuro profissional
que for trabalhar com a Educação de Surdos em qual nível possa ter referências
iniciais para a construção de sua própria história como educador. Entretanto, não
se pretende, com esta parte do livro didático, fornecer uma “receita de bolo” ou
um modo engessado para o ensino da ES, mas sim dar as ferramentas inicias
para uma Educação Linguística adequada ao público surdo e que permita o
estabelecimento e continuidade da Educação de Surdos de uma real inserção das
pessoas ao mundo contido nas entrelinhas dos textos escritos.

131
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

E
IMPORTANT

De acordo com Guedes (2012, p. 35):

A educação linguística começa no início da vida de cada um e


abrange a aquisição, o desenvolvimento e a ampliação de seu
conhecimento de/sobre sua língua materna, de/sobre outras
línguas, sobre linguagens de um modo geral. Inclui aquisição
da ‘cultura da linguagem’ característica de um meio social e o
aprendizado das ‘normas de comportamento linguístico’ que
regem a vida de diversos grupos sociais.

Desse modo, a Educação Linguística envolve o conhecimento, as vivências


e as situações de todos os grupos sociais, estando relacionada à discussão da
introdução da ES na Educação de Surdos na medida em que está vinculada à
cultura da linguagem envolvida na aprendizagem e aquisição da Língua Materna
(L1) dos surdos.

2 PROCESSO SEMIÓTICO
Há muito tempo, vários pesquisadores têm se debruçado sobre as
questões que envolvem o modo como os seres humanos desenvolvem o processo
de significação, ou seja, o processo semiótico que permite ao sujeito atribuir
significados mesmo a objetos e situações que não estão representadas visualmente
naquele momento específico. Isso porque é através da função semiótica
que os seres humanos se tornam capazes de desenvolver todo um sistema de
representação que permitirá a ele a existência do pensamento organizado e,
consequentemente, “[...] a capacidade de representar um objeto ausente por meio
de símbolos ou signos, o que implica diferenciar e coordenar os significantes
[imagem acústica da palavra ou visual do sinal] e os significados [conceito ou
conteúdo do significante]” (PIAGET, 1990 apud STUMPF, 2009, p. 3).

Quando a criança consegue imitar um modelo ausente ela mostra


que adquiriu a função semiótica. A representação permite que a
criança organize o espaço e o tempo e se diferencie dos objetos.
Pode então recordar e planejar. Associar suas ações no espaço e no
tempo. Reconhecer-se como diferente dos outros. As representações
de ordem superior (representações simbólicas) são também coletivas,
porque precisam ser objeto de convenções que lhes atribuem sentido
culturalmente definido [como as línguas], constituem-se no signo
verbal para as línguas faladas e no sinal gestual para as línguas de
sinais (PIAGET, 1990 apud STUMPF, 2009, p. 3).

132
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Dessa forma, “as línguas são representações simbólicas, quer seja uma
língua oral ou uma língua de sinais, assim como suas escritas. Elas se constituem
historicamente ao longo da evolução dos povos como construções coletivas
que resultam em sistemas de representação” (STUMPF, 2009, p. 8). Logo, esses
sistemas de representação são as formas como nosso pensamento linguístico
se desenvolve durante o desenrolar do processo de psicogênese (construção
psicológica da aprendizagem, segundo Piaget citado por Stumpf (2009)), para
ser capaz de compreender as representações simbólicas, ou seja, as interrelações
semânticas das palavras durante seu uso tanto na construção do pensamento
quanto na interação através do diálogo ou da escrita.

Esse processo de aquisição da linguagem acontece por meio dos estímulos


externos desde o nascimento, pois, ao ouvir as interações realizadas pelas pessoas
consigo ou em sua presença, o bebê passa dos balbucios iniciais e vai elaborando
inconscientemente os esquemas que servirão como base para o processo de aquisição
da linguagem. Contudo, “o bebê surdo quando exercita seus reflexos de balbucios
iniciais não encontra o estímulo externo (sons) que tornaria seu exercício significativo
e, por conseguinte, capaz de gerar a aprendizagem da fala” (STUMPF, 2009, p. 4)
Dessa maneira, “o fato fundamental, para a criança surda que está impedida de
adaptar-se ativamente ao meio sonoro, é o de que a língua oral, cuja representação
sonora é a palavra, não pode ser adquirida naturalmente” (STUMPF, 2009, p. 5).

Ao mesmo tempo em que o balbucio é uma fase comum tanto às crianças


ouvintes quanto às crianças surdas, as sinalizações rudimentares também
são comuns a ambas, porém, será o estímulo que definirá qual língua será
desenvolvida, se a oral-auditiva ou a visual-espacial. Stumpf (2009, p. 5-6):

Sobre a aquisição da língua de sinais, os primeiros sinais ou as primeiras


palavras aparecem, indiferentemente a qual seja a modalidade da
língua, entre os dez meses e o primeiro ano de idade. Esses mesmos
estudos mostram que as crianças surdas com pais surdos, inicialmente
balbuciam com as mãos, começam então a produzir enunciados de
um único sinal, e em seguida, combinam sinais formando sentenças
simples. Portanto, as diferenças na modalidade entre as línguas orais
auditivas e as línguas gestuais-visuais não obstruem o processo de
aquisição de uma língua.

Contudo, é importante destacar que o ponto central da questão de aquisição


da linguagem em relação às pessoas surdas é que existem uma infinidade desde o
cenário em que a passagem da sinalização para a LS é naturalmente realizada até
os cenários em que as crianças acabam não recebendo o input adequado devido
às características familiares e desenvolvem apenas formas de comunicação
rudimentares e não estruturadas socialmente.

Assim, o profissional que for trabalhar com a educação de surdos precisará


ter a clareza de que dificilmente encontrará cenários em que as situações de
aquisição de linguagem estejam em um mesmo patamar e isso precisa ser levado
em consideração no momento em que for planejar suas atividades de aula. Portanto,
é de extrema importância a avaliação de quais os estágios de aprendizagem, de
aprendizagem da Libras sinalizada, da LP oralizada e da LP escrita.
133
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

A seguir, serão observadas etapas de aquisição da ES por crianças surdas


que já estão sendo ou foram alfabetizadas em LP, apresentadas por Stumprf
(2009) com base em Ferreiro (1985, 1986 e 1999).

NOTA

Os principais teóricos sobre o processo de aquisição da linguagem foram


estudados no Livro Didático de Introdução à Escrita de Sinais.

3 ETAPAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO EM


ESCRITA DE SINAIS
De acordo com as interpretações existentes sobre a teoria piagetiana,
Stumpf (2009) aborda que o desenvolvimento escrito acontece em três etapas, nas
quais o processo semiótico se aprofunda em direção à compreensão qualificada
da língua em sua forma escrita. Para ilustrar as etapas existentes no processo,
a autora apresenta exemplos retirados de sua prática docente em SW com
crianças de uma escola de surdos que estavam alfabetizadas ou em processo de
alfabetização, ou seja, crianças que sabem Libras e sabem que existem, também a
LP dentro da comunidade em que estão inseridas:

• Primeira fase: nesta fase, a criança começa distinguir entre o modo de


representação icônico e não-icônico. Como o desenho e a escrita se manifestam
através de grafismos, até os quatro anos as crianças não fazem a distinção
entre as duas coisas, ambas sendo interpretadas apenas como marcas no
papel. De acordo com Stumpf (2009, p. 10, grifo nosso), “quando trabalhamos
a alfabetização em SignWriting com crianças que estão sendo, ou já foram
alfabetizadas na escrita da língua oral, iniciamos nosso trabalho observando se
elas já estabeleceram essa distinção entre os modos de representação desenho
e escrita”. Assim, o primeiro passo é perceber se a separação entre escrita e
desenho já se estabeleceu para a criança, ainda de acordo com a autora, o modo
de observar esta distinção é:

Para atingir esse objetivo, uma forma é mostrar um livro ilustrado


de histórias infantis com escritas em língua oral que acompanhem as
ilustrações. Contamos a história mostrando cada página. Dialogamos
sobre a história, sobre as ilustrações e sobre as escritas. Reconhecemos
que essas correspondem à língua oral. Em seguida, podemos pedir
que elas tentem usar o papel para exprimir no caderno, ou em folhas
brancas, sua compreensão da história, mas não podem escrever
palavras do português (STUMPF, 2009, p. 10, grifo nosso).

134
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Assim, a partir da introdução da autora explicando às crianças que ela era


uma professora que não iria escrever em LP, mas em ES, Stumpf (2009) observa
que os desenhos produzidos pelas crianças evindenciam que elas já compreendem
a diferença entre que é desenho e a tentativa de Escrita de Sinais. Nas figuras a
seguir, pode ser vista essa diferenciação nas tentativas de representar os sinais
feitos pela professora durante a contação de história apresentada como forma de
introdução da atividade:

FIGURA 16 – DESENHO E SINAL DA PALAVRA CASA

FONTE: Stumpf (2009, p. 11)

FIGURA 17 – SINAL DA PALAVRA LOBO

FONTE: Stumpf (2009, p. 11)

FIGURA 18 – DESENHO DE CASA E MÃOS FAZENDO O SINAL DE CASA

FONTE: Stumpf (2009, p. 12)

FIGURA 19 – SINAL DE COMER E DESENHO DE PRATO

FIGURA 19 – SINAL DE COMER E DESENHO DE PRATO

135
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Ao observarmos os desenhos e os sinais rudimentares, podemos perceber


que, mesmo sem saber como realizar a escrita dos sinais em ES, as crianças têm
a noção de que a escrita dos sinais que elas sinalizam precisariam representar as
partes do corpo utilizadas para a realização correta destes sinais.

• Segunda fase: nesta fase a criança começa a desenvolver sua aprendizagem da


língua escrita de maneira a diferenciar a escrita dentro do próprio sistema. Assim,
segundo Stumpf (2009), esse é um período em que aumenta o controle tanto em
quantidade quanto em qualidade de compreensão do sistema de escrita. Assim,
“depois que a criança consegue distinguir entre o desenho e a escrita ela começa
a preocupar-se e a construir hipóteses sobre as diferenciações que acontecem no
interior de cada uma dessas linguagens” (STUMPF, 2009, p. 12).

Ainda segundo a autora, as diferenciações do sistema escrito, para as


crianças ouvintes, compreendem as variações entre os números de letras e
a variedade de letras existentes. Já no caso das crianças surdas, essa distinção
será feita na direção do aumento da percepção dos elementos envolvidos para
a realização dos sinais e as variações entre as configurações de mãos e suas
representações em ES.

Assim, “a identificação começa a acontecer também em relação aos eixos


quantitativo e qualitativo quando começam a perceber as diferenças existentes entre os
diversos elementos que compõe um sinal escrito (uma pilha)” (STUMPF, 2009, p. 13).

Na escrita do sinal de surdo colocada na imagem a seguir, é possível


perceber o desenvolvimento na direção da ampliação dos grafemas utilizados, da
utilzação de Pontos de Articulação para indicar início e final do sinal, bem como
as duas Configurações de Mãos e a indicação das demais partes do rosto.

FIGURA 20 – SINAL DE SURDO

FONTE: Stumpf (2009, p. 13)

Desse modo, o aprendiz de ES passa pelos mesmos estágios que as


crianças ouvintes que estão sendo alfabetizadas em LP, pois estas também
produzem hipóteses semelhantes durante seu processo de escrita com a inserção
de elementos a mais e omissão de outros. Sendo esta uma escrita que exemplifica
uma parte do processo e não uma escrita errada ou inadequada, como pode ser
observado a seguir:

136
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 21 – EXEMPLOS DE ESCRITA DE CRIANÇAS OUVINTES

FONTE: Trigo (2018, s. p.)

• Terceira fase: de acordo com Stumpf (2009), nesta fase, as crianças ouvintes
começam o processo em que percebem como as letras e sílabas se estruturam
para formar palavras ou partes das palavras da língua oral-auditiva. Ao
transpor para o ensino de ES, a autora menciona que:

Em nosso trabalho pensamos que esse período poderia ser relacionado


ao reconhecimento da correspondência entre os elementos do símbolo
em SignWriting com as configurações correspondentes do sinal
manual. Os primeiros elementos a serem reconhecidos são os três
símbolos básicos de configuração da mão: punho fechado, punho
aberto e mão plana. Observamos essas configurações nos cartazes
e estabelecemos a correspondência dos três símbolos com as mãos
sinalizando. Continuo explicando como são adicionadas linhas para
os dedos nos mesmos símbolos básicos de configurações das mãos
(STUMPF, 2009, p. 14, grifo nosso).

Assim, no ensino de ES, a correspondência seria, então, o momento em


que o aprendiz começa a fazer a conexão entre os grafemas que formam o sinal
e sua correspondência com aquilo que compõe o sinal durante a sinalização. É
interessante destacar a observação feita por Stumpf (2009) de que os elementos
inicialmente reconhecidos são os três símbolos básicos das Configurações de Mão
de punho fechado, punho aberto e mão plana.

Para a ampliação do sinalário, ou seja, do vocabulário em ES, é realizada


através da inserção de vocabulário feita a partir do interesse dos estudantes, das
frases e pequenos textos utilizados nas aulas. Nas figuras colocadas a seguir,
a autora chama a atenção para o ensino dos grupos de configuração a serem
introduzidos na ordem crescente dos grupos, com o uso de sinais que utilizem as
CM pertencentes ao Grupo 1 ( ):

137
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 22 – SINAL DE MAMÃE FIGURA 23 – SINAL DE PAPAI

FONTE: Stumpf (2009, p. 14) FONTE: Stumpf (2009, p. 15)

Na Figura 23 é mais um exemplo em que o uso do Grupo 1 das CM foi


utilizado, ainda de forma rudimentar, para a escrita do sinal de PAPAI. Já na Figura
24, podem ser observados o desenho de uma bola, a escrita da palavra bola em LP
e a escrita desse mesmo vocábulo em SW com o uso da CM específica para a escrita
deste sinal. Assim, pode-se perceber que a introdução dos sinais vai sendo feita
de modo concomitante ao ensino de LP escrita num contexto de equivalência que
auxilia a compreensão e a organização da aprendizagem paralela das duas escritas.

FIGURA 24 – DESENHO, ESCRITA EM LP E EM ES POR SW

FONTE: Stumpf (2009, p. 15)

Assim, essa etapa do processo de alfabetização é aquela em que as crianças


se encontram prontas para a estruturação do conhecimento a partir do estudo dos
dez Grupos de CM e da gradual introdução dos demais elementos que compõe
a realização dos sinais em LS. Do mesmo modo que a alfabetização de crianças
ouvintes, a terceira etapa do processo de alfabetização é aquela em que elas estão
preparadas para uma maior inserção de vocabulário e um aprofundamento nas
estruturas que compõem a escrita.

4 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES EM ESCRITA DE SINAIS


Algumas das perguntas que poderão auxiliar para o planejamento inicial
das atividades em ES são as seguintes:

• Qual a faixa etária do meu público?


• Qual a modalidade de ensino?
• Qual o tipo de instituição?

138
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

• Qual o nível de conhecimento da Libras sinalizada que as pessoas da turma


apresentam?
• Quais os objetivos específicos da turma?
• Qual o conhecimento da escrita de LP da turma?

Assim sendo, antes de mais nada, é imprescindível fazer um reconhecimento


do público-alvo para o qual as suas atividades serão feitas, o que é normal em
qualquer sala de aula, mas é de extrema importância devido à heterogeneidade
de contextos de aquisição aos quais as crianças surdas são expostas no período
crítico de aquisição da linguagem, ou seja, no momento em que deveriam estar
sendo expostas ao input necessário para a apredizagem da linguagem. Segundo
pesquisa referidas por Quadros e Cruz (2011), quando o input acontece com
crianças surdas filhas de pais surdos a aquisição da linguagem se desenvolve de
modo semelhante ao das crianças ouvintes filhas de pais ouvintes. Com relação à
aquisição tardia, as autoras declaram que:

A aquisição com atraso pode ocorrer por diferentes motivos: não haver
a detecção precoce da perda auditiva; a maioria das crinaças ser filhas
de pais ouvintes que desconhecem a língua de sinais; desconhecimento
dos pais sobre a imprtânica de o filho surdo adquirir a linguagem na
língua de sinais; não existir local de atendimento com profissionias
surdos nativos e/ou ouvintes fluentes na língua de sinais e ensinar aos
pais a língua materna dos filhos (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 43).

Consequentemente, há uma ampla gama de experiências de aquisição de


linguagem que precisam ser observadas para uma correta adequação dos objetivos
de ensino de língua para o público a ser atendido. Quadros e Cruz (2011) fazem
referência à aquisição da LS sinalizada, porém, as reflexões feitas pelas autoras
servem perfeitamente ao desenvolvimento da ES, tendo em vista que a sinalização
e a escrita são faces inseparáveis de uma educação que pretenda desenvolver de
forma ampla o domínio linguístico de seus estudantes. Inicialmente, as autoras
destacam que:

[...] é fundamental que o processo de aquisição da linguagem de


crianças surdas seja observado e avaliado. Sendo constatato atraso
ou alteração no processo de aquisição, faz-se necessário investigar
a(s) causa(s) para estabelecer um adequado programa de intervenção
com profissionais especialistas em linguagem, pais, familiares
e/ou professores, oportunizando à criança surda adequar seu
desenvolvimento linguístico em melhores condições possíveis de
acesso à língua de sinais (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 43).

Obviamente, sabe-se que nem sempre é uma tarefa fácil conseguir todos
esses profissionais e um auxílio tão amplo nas escolas ou locais em que serão
oferecidos cursos de ES, contudo, é importante ter a sensibilidade de entender
os diferentes contextos de desenvolvimento linguístico existentes em sala de
aula, bem como a necessidade de auxílio ou, pelo menos, a interação com os
responsáveis pelo aluno ou pelo apoio escolar, caso a turma esteja inserida em
um contexto de ensino institucional. Mas, normalmente, nos contextos escolares

139
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

muitas das informações sobre a família ou o grau de desenvolvimento em Libras


da criança estarão disponíveis na Supervisão Escolar, junto ao profissional de
Atendimento Educacional Especializado ou com as demais professoras da turma.

Cabe, mais uma vez, destacar a necessidade de saber se o aprendiz possui


o conhecimento proficiente de Libras sinalizada para a elaboração das atividades
em ES, para estabelecer um paralelo que justifica o porque de ser indispensável o
entendimento da LS, caso um aprendiz sem a compreensão da sinalização fosse
exposto diretamente à ES estaríamos reproduzindo o mesmo de quanto é feito o
ensino LP escrita sem o apoio de outra língua escrita para os surdos, ou o ensino
direto de escrita de LP para ouvintes sem o apoio da língua oral já conhecida
pelos estudantes. Ou seja, o entendimento proficiente da língua oral/sinalizada é
necessário para o desenvolvimento da escrita alfabética/de sinais.

A investigação para responder a essas pergurtas pode ser feita de modo


informal ou formal, ou seja, através de observações do comportamento linguístico
da criança ao ser apresentado a diferentes materiais e na sua interação com os
colegas, professsores e responsáveis (QUADROS; CRUZ, 2011).

E
IMPORTANT

Como base na elaboração das atividades que auxiliarão para a investigação


proposta através das perguntas anteriores, recomendamos o livro Língua de Sinais:
instrumentos de avalição, nele, Quadros e Cruz (2011) colocam as bases teóricas e práticas
para a avaliação da Libras de modo a delimitar qual o nível de compreensão e expressão
em que o estudante se encontra na língua sinalizada.

Levando em conta essa necessidade de conhecimento do grupo para o


qual a ES será ensinada, podem ser definidos os objetivos de acordo com aquilo
que foi descoberto no período de sondagem e de acordo com duas etapas básicas
de aprendizagem linguística da ES as quais chamaremos de Afabetização e
Desenvolvimento Linguístico.

• ALFABETIZAÇÃO: Stumpf (2009, p. 18, grifo nosso) propõe que sejam feitas
atividades de sensibilização para a introdução gradual do sinais a partir de
contextos reais de uso adequados à faixa etária, pois:

Diferentemente da alfabetização na língua oral de seu país, que está


escrita em toda parte, a criança surda não está exposta a uma escrita
da língua de sinais, esse é um dos motivos pelo qual a sensibilização
à proposta de aprendizagem é essencial. A sensibilização deve
incluir a participação ativa da criança, seja contando uma história,
ou executando atividades imaginadas pelo professor que levem ao
objetivo de sentir a possibilidade e a necessidade de uma escrita
para representar os sinais.

140
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Desse modo, a parte de sensibilização tem como objetivo apresentar a ES


para os aprendizes e proporcionar a percepção da ES como modo de representação
adequada da LS. Assim, tornando o estudante receptivo à inserção do estudo
mais formal da ES. A duração e a quantidade de atividades vinculadas a essa
parte deverão ser definidas a partir da observação de como o grupo reage ao
ensino de ES.

Os textos a serem utilizados neste momento de sensibilização deverão ser


adequados à faixa etária atendida, preferencialmente, o material utilizado para a
sensibilização deverá estar escrito em ES com o apoio da escrita de LP e ilustrações
que facilitem a compreensão, porém, nem sempre será possível encontrar textos
com essas caracterísitcas para o momento introdutório de contação de história
(no caso de crianças). Logo, poderão ser utilizados materiais como livros
infantis, tirinhas de histórias em quadrinhos ou outras fontes para que, depois, o
professor coloque os sinais principais no quadro e os entregue em uma folha para
mostrar sua escrita fazendo a sinalização para indicar a qual/quais personagens
esses sinais estão vinculados. Importante destacar que atividades como essas
permearão o ensino da ES durante todo o tempo, pois o uso de textos e contextos
reais de uso da ES é importante para o estudo de novos sinais, observação do uso
dos diferentes sinais e introdução gradual de usos fonológicos, morfológicos e
sintáticos mais aprofundados.

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 3, será estudada a Literatura em ES e será feita a indicação de


materias em ES. Neste momento, indicamos o site SignWriting.org (http://www.signwriting.
org/brazil/) que tem alguns materiais em Libras escrita em SW para download em PDF, tais
como, a história a seguir:

FIGURA – CAPA DA REVISTA O LIVRINHO DE BETINHO

FONTE: Macedo (2002, p. 1)

141
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Após esse momento inicial, Stumpf (2009, p. 18) declara que:

Depois da tarefa de sensibilização, começo a mostrar que o sinalizado


pode ser escrito. Os símbolos do SignWriting vão aparecendo, aos
poucos, inicialmente associados à narrativa. Sigo a ordem do manual
[ensino da ES a partir dos dez Grupos de Configurações de Mão] para
o ensino formal da escrita, mas essa ordem não limita o diálogo nem
a satisfação das curiosidades e dúvidas que vão surgindo. Respondo
às perguntas com a solução apropriada ao caso, não importa que essa
solução só vá ser abordada formalmente bem mais tarde. A criança
tem sua pergunta respondida e, embora não consiga captar bem todo
o alcance da resposta, vai seguindo adiante. Gradativamente sua
compreensão do sistema vai se ampliando.

Assim, a autora menciona que o ensino da ES se inicia daquilo que os


próprios estudantes indicam a partir de suas perguntas e vai se desenrolando
das atividades de sensibilização e da inserção dos sinais partindo da curiosidade
demonstrada pelos estudantes.

Já a organização da formalização os estudos em ES (o que equivaleria


ao ensino do alfabeto para as crianças ouvintes) é iniciada pelo estudo dos dez
grupos de Configurações de Mãos, aos poucos sendo introduzidas as diferentes
combinações possíveis, ainda sem entrar em detalhes quanto aos demais elementos
fonológicos representados pelos diferentes grafemas. Sobre isso, Stumpf (2009)
exemplifica a forma como introduziu formalmente o Grupo 1 em conjunto com
sinais que demosntram o uso destas CMs:

FIGURA 25 – GRUPO 1 DE CM E EXEMPLOS

FONTE: Stumpf (2009, p. 16)

A autora também destaca a importância da cópia de sinais já estudados


pelos alunos com o objetivo de ampliar a capacidade de memorização dos sinais
e de cada um dos grafemas já aprendidos, pois:

A cópia de modelos perfeitos não apenas amplia o número de leituras


de formas corretas, como estimula, de maneira natural, o processo
de análise estrutural, que permitirá fazer com que ocorra a leitura
real. O ensino da escrita poderá se dar concomitantemente ou não ao
processo da escrita, dependendo do nível da habilidade motora do
aluno (STUMPF, 2009, p. 17).

142
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Assim, ao final desta fase de alfabetização os objetivos a serem atingidos


são apresentar a ES, facilitar a memorização dos sinais estudados, preparação
para apresentação dos grafemas dos dez grupos de CMs e iniciar a aprendizagem
dos demais grafemas utilizados na medida em que forem necessários para escrita
dos sinais estudados. Dessa forma, a alfabetização apresenta a ES e compreende
o ensino formal das bases da ES e tem como prioridade a etapa compreensiva
da Escrita de Sinais, ou seja, a ênfase é dada à compreensão dos usos da ES e da
forma como os sinais são formados fonologicamente a partir das CMs.

• DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO: após a terceira fase do processo


de alfabetização, os aprendizes deverão ser apresentados a contextos cada
vez mais complexos de estruturação dos sinais e dos textos. Assim, será
continuado o ensino dos dez Grupos de CMs com o aprofundamento dos
demais grafemas utilizados para a ES correta dos sinais, aqueles referentes
aos elementos fonológicos de Movimento, Locação, Orientação de Palma e
Expressões Manuais, após, serão introduzidos os elemento gráficos de sinais
de pontuação, ao nível morfológico, as diferentes classes de palavras a serem
utilizadas e, por fim, às partes pertencentes ao nível sintático/discursivo,
como os Classificadores e os elementos de coesão e coerência espacial e sua
representação escrita.

Nessa parte da aprendizagem linguística é ampliado o uso compreensivo da


língua, sendo priorizado em conjunto com o desenvolvimento do uso expressivo,
ou seja, da ES como modo de expressão escrita cada vez mais especializado. A fim
de estruturar as etapas desse desenvolvimento linguístico e para auxiliar na criação
de atividades em ES, bem como na observação do desenvolvimento de compressão
e expressão em ES, com o objetivo de ampliar sinalário, a leitura e a escrita dos
aprendizes, serão adaptados os critérios elencados por Quadros e Cruz (2011):

Nível 1: sentenças simples, com estrutura sintática básica S-V-O (Sujeito-


Verbo-Objeto), por exemplo, a frase colocada a seguir:

143
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Observe que a sentença foi escrita de modo simples e sem o uso de sinais
complexos ou classificadores, mesmo sendo possível utilizar a forma escrita LER-
LIVRO, optou-se por escrever a frase de modo mais simples possível, tendo em
vista ser a primeira fase do desenvolvimento linguístico:

Nível 2: aumento da extensão das sentenças, do vocabulário utilizado


e estruturação sintática mais complexa com o objetivo de ampliar/observar o
aumento do vocabulário e a sintaxe espacial.

TEXTO 6:

Sentença: eu vim para Goiás cuidar do meu avô que tem 88 anos de idade

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 159)

144
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Note que essa sentença apresenta uma extensão e estrutura um pouco


mais complexa do que a sentença anterior, pois apresenta um maior número de
sinais envolvidos, bem como duas pessoas envolvidas com informações diferentes
sobre cada uma delas, uma em primeira pessoa e outra em terceira pessoa.

Nível 3: aumento significativo de uso vocabular, extensão das sentenças e


dificuldade das sentenças. Neste momento, são construídas sentenças encaixadas
umas dentro das outras, coordenadas e sentenças em que elementos relativos são
inseridos. Existe também uma ampliação nos participantes envolvidos na frase, na
quantidade de ações e referências espaciais. Um exemplo desse tipo de sentença
será estudado com mais detalhes na seção de Prática de Leitura, neste momento,
cabe observar a quantidade de sinais utilizados e as informações presentes nesta
sentença que apresenta encaixes de informações e diferentes tempos verbais:

TEXTO 7:

Agora, nós três vínhamos para cá, eu estava dirigindo e meu celular
vibrou, quando atendi, era a mãe do meu amigo avisando para mim que ele
bebeu muito e bateu o carro.

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 176)

145
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Observe que, nessa sentença, temos vários personagens, situações em


tempos diferentes, uso de classificadores e um uso de pontuação escrita bastante
amplo em relação aos utilizados nas sentenças anteriores.

Tendo em vista as discussões apresentadas nesta seção, podemos ver


que as atividades a serem elaboradas para o desenvolvimento linguístico em
ES precisam levar em conta as etapas da alfabetização, as fases e os níveis de
desenvolvimento para compreensão, leitura e escrita em ES. Na próxima seção,
serão apresentadas sugestões de materias e atividades para o ensino de ES.

DICAS

O uso de histórias em quadrinhos para o ensino de ES pelo sistema SW é


assunto do artigo Narrativas visuais: história em quadrinhos como estratégia de aquisição
do signwriting – sistema de escrita de língua de sinais, de Guimarães et al., é um material
interessante de leitura para a elaboração de atividades em ES, disponível no link: https://
educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24841_12328.pdf.

4.1. MATERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA


ESCRITA EM SW
Este subtópico tem por objetivo destacar alguns dos materiais de apoio
a serem utilizados para a elaboração de atividades em ES. Inicialmente, serão
apresentadas algumas ferramentas importantes como base de consulta de
materiais em ES:

• Dicionário físico de Libras, LP, Inglês com desenhos e ES: o dicionário de


Capovilla et al. (2017) tem verbetes bastante completos inclusive com variações
dialetais com a indicação de acordo com a região em que é utilizado cada sinal,
o significado e, além de tudo, a descrição em LP do modo de feitura do sinal,
vale o investimento devido à completude e abrangência de seus verbetes, a
ressalva que pode ser feita é que a busca é feita pela ordem alfabética e não em
ES, o que dificulta caso tenhamos um sinal escrito e precisemos saber.

146
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 26 – VERBETE DOENÇA DO DICIONÁRIO

FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 994)

• SignPuddle 2.0: como já apresentamos anteriormente, através desse site podem


ser feitas pesquisas pelos grafemas, mas também é possível localizar a escrita de
sinais a partir da escrita da palavra em LP. Contudo, como esse é um dicionário
em que qualquer pessoa pode inserir informações, é necessário ter cuidado na
utilização dos sinais escritos, a recomendação é utilizar apenas aqueles em que
a fonte (source) seja uma instituição de ensino reconhecida (como a UCPel), um
dicionário já publicado (como o Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue
da Língua de Sinais Brasileira – Deit-Libras) ou outra instituição reconhecida
(Instituto Libras Escrita) evitando os sinais sem referência ou cuja referência seja
uma pessoa não reconhecida como pesquisadora em ES (exemplo, a Marianne
Stumpf, que tem vários sinais cadastrados), esses cuidados tem como objetivo
a escrita correta dos sinais pesquisados.

FIGURA 27 – PESQUISA POR PALAVRA SIGNPUDDLE 2.0

FONTE: <https://www.signbank.org/signpuddle2.0/index.php?ui=12&sgn=46>.
Acesso em: 11 nov. 2019.

147
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

• Materiais de referência para a consulta de grafemas e conferência dos sinais:


essas referências podem ser as mais diversas, por exemplo:
◦ Arquivo com a tradução parcial de Lições sobre SignWriting, de Valerie
Sutton com tradução de Marianne Stumpf: http://www.signwriting.org/
archive/docs5/sw0472-BR-Licoes-SignWriting.pdf.
◦ Livro digital Escrita de sinais sem mistérios, de Barreto e Barreto (2015): https://
universidadedalibras.com.br/livro-escrita-de-sinais-sem-misterios/.
◦ Dicionário on-line com vídeo e detalhamento de CM que ajuda na confecção e
conferência de sinais escritos: http://www.acessibilidadebrasil.org.br/libras_3/.

FIGURA 28 – DICIONÁRIO ON-LINE

FONTE: <http://www.acessibilidadebrasil.org.br/libras_3/>. Acesso em: 12 nov. 2019.

◦ Aplicativo específico de ES: o SignWriting Libras é um aplicativo disponível


na Play Store que permite a consulta rápida dos grafemas que apresenta o
comparativo entre fotos e os grafemas específicos:

FIGURA 29 – APLICATIVO SIGNWRITING LIBRAS

FONTE: Beckit Apps (2018, s.p.)

148
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

• Programa on-line para escrita de sinais: SignPuddle 2.0, criador de sinais, esta
é outra funcionalidade do site que permite a escrita de sinais e textos em ES
para inserção no dicionário on-line ou para cópia como imagem.
• SingWriting.org: neste site existe uma infinidade de materiais em ES para
consulta, download, conferência e muitas outras coisas referentes ao SW.

Existem muitos materiais, além desses, que você encontrará a partir de uma
pesquisa na internet, por isso, é importante ter uma noção de como reconhecer se
a fonte é confiável ou não, algumas dicas para saber se a referência é válida são as
seguintes: vínculo com instituições acadêmicas reconhecidas; ligação com nomes
de pesquisador@s da área (Quadros, Stumpf, Karnopp ou outros dos citados ao
longo dos seus estudos em LS e ES); autoria evidenciada ou menção feita em outro
material confiável como referência. Mas, antes de tudo, estude, revise, repense
e reorganize seus estudos, pois é através de suas reflexões que a sua escrita se
desenvolverá de modo mais efetivo, não tenha receio de cometer alguma gafe
ortográfica, pois a ES da Libras ainda está em um momento de estruturação,
logo, muitos sinais escritos estão passando por momentos de transformação e
adaptação, inclusive, você ainda encontrará muitos materiais com a ES em linha
e não em colunas, pois a estruturação em colunas é algo recente.

Por fim, a seguir, é apresentado um quadro com a sequência didática para


aulas de ES com 15 aulas aplicadas por Maia, Lima e Costa (2017) em um grupo
de alunos surdos do 3° e 4° ano do Ensino Fundamental regular de uma escola
estadual localizada em Aracaju. Essa sucessão de aulas é interessante porque relata
e demonstra exemplos de atividades realizadas já testadas que podem servir de
base para auxiliar no desenvolvimento de seus próprios materiais didáticos.

Observe que a estrutura das atividades apresentadas pelos autores segue


uma lógica paralela à alfabética, isso acontece porque eles trabalharam com
surdos provenientes de diferentes anos escolares que já tinham uma caminhada
com o aprendizado da escrita em LP, com uma faixa etária entre 9 (1 aluno) e 15
anos, todos filhos de pais ouvintes e com histórias de retenção, multirrepetência e
trocas frequentes de escolas. Assim, os pesquisadores partiram daquilo que já era
conhecido pelos estudantes para dar início ao ensino de ES.

QUADRO 1 – SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Com as análises percebeu-se que, na primeira aula, após apresentar toda configuração
básica de mão, os alunos surdos compreenderam com facilidade que na escrita de sinais
Aula 1 a orientação da palma da mão é bastante significativa. Ao solicitar para que cada aluno
surdo escrevesse em escrita de LIBRAS o sinal CASA, foi possível verificar que a maioria
utilizou a configuração e orientação da palma da mão corretamente.
Em outra aula pedimos para que cada um tentasse escrever o alfabeto manual da LIBRAS
em escrita de sinais, como a LIBRAS é uma língua de modalidade visuoespacial tornou-
se fácil essa atividade. O resultado foi surpreendente. Contudo, já podemos observar
Aula 2
que o aluno surdo tem mais facilidade de escrever e de compreender a escrita da sua
própria língua (L1) e que ainda serve de apoio para a aquisição da sua segunda língua
(L2) com naturalidade.

149
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

A aula foi iniciada com a apresentação do alfabeto manual em escrita de sinais


corretamente. Pedimos para que os alunos comparassem com o alfabeto manual que
Aula 3 tentaram fazer na aula anterior. Observaram o erro e a correção foi realizada. Logo após,
solicitamos para que cada um escrevesse em SignWriting o nome completo. Os alunos
mostraram grande satisfação ao concluir a atividade.
A aula foi iniciada com uma revisão do alfabeto manual escrito em SignWriting,
explanada na aula anterior. Cada aluno foi até o quadro branco várias vezes até completar
todo o alfabeto. Apenas dois alunos tiveram dificuldade na escrita das letras “h”, “k”
Aula 4
e “p”. A correção foi realizada pelos próprios colegas de classe que estavam sentados.
Em geral, pudemos perceber que os alunos mostraram segurança ao escrever, em língua
de sinais, o alfabeto manual.
Diante da dificuldade encontrada pelos dois alunos na escrita das letras “h”, “k” e “p”
visto na aula anterior, resolvemos confeccionar um “Jogo da Memória” para fixar, de
maneira lúdica, o conhecimento da escrita do alfabeto manual em SignWriting. Os
Aula 5
alunos tinham que achar os pares das letras em escrita de sinais com as letras escritas
em português. Essa dinâmica foi bastante divertida. Os alunos ficaram empolgados
com o jogo e o objetivo dessa dinâmica foi alcançado.
Nesta aula, foi dado como conteúdo os numerais até dez em escrita de sinais. Cada aluno
foi chamado até o quadro branco para escrever em SW os números de acordo com as
configurações de mãos já estudadas. O resultado foi satisfatório. Após feita pequenas
Aula 6
correções, os alunos tiveram que responder, com numerais em SW, algumas perguntas
do dia a dia, como: a data do dia, a idade, a quantidade de meninos e de meninas que
continha na sala de aula, entre outras.
Essa aula foi dedicada apenas a um trabalho lúdico. Fizemos um bingo em que as cartelas
tinham os números em SW. À medida que sorteávamos os números, repetíamos em
Aula 7 LIBRAS e cada aluno deveria procurar em suas cartelas o número correspondente em
escrita de sinais para marcar o ponto. A aula foi bastante dinâmica e divertida. Pudemos
perceber que o aprendizado da escrita dos números em SW foi alcançado.
Iniciamos a aula com a apresentação do GRUPO 1 (indicador, flexionado, curvado-X
e mão-D) de acordo com a visão de frente (mãos paralelas à parede) e a visão de cima
(mãos paralelas ao chão). Após a explicação, fizemos um treino com a escrita de alguns
sinais desse grupo, por exemplo, SURDO, ENCONTRAR, FRIO, VERDE, DOMINGO,
PORQUE, entre outros. Os alunos se mostraram interessados ao ajudarem a lembrar
de apenas alguns sinais que tivessem dentro do Grupo 1.
Aula 8
GRAFEMAS DO GRUPO 1 DE CM – DEDO INDICADOR

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 14)


Foi realizada revisão de toda aula anterior (GRUPO 1) e para fixar o conteúdo fizemos
um ditado. Diante das tentativas de acerto da escrita dos sinais ditados, os alunos nos
surpreenderam. Houve muito capricho, por parte de alguns alunos, na escrita de cada
Aula 9 sinal. Fazendo uma comparação com a atividade de cada um, pudemos observar que
a tentativa da escrita é muito parecida umas com as outras, devido à modalidade das
línguas de sinais ser visuoespacial. Assim constatamos que a escrita de sinais para o
aluno surdo torna-se mais viável para se alcançar o aprendizado concreto.

150
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Nesta aula, avançamos no aprendizado com a apresentação dos “seis símbolos de


contato” (contato, pegar, entre bater, escovar e esfregar). Após a apresentação, foi feita
uma atividade de fixação com alguns sinais que contém esses símbolos de contato. O
interessante foi a disponibilidade dos alunos em querer ajudar a pensar quais os sinais
que possuíam esses símbolos. A aula foi bastante interessante porque além de aprender
a escrita dos sinais, os alunos também enriquecem o vocabulário da LIBRAS.
Aula 10
GRAFEMAS DE CONTATO

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 14)


Nesta aula, fizemos uma revisão geral com todos os conteúdos já estudados. Foi feito
Aula 11 um ditado com sinais característicos das aulas anteriores, além de escrever o nome de
cada sinal com o alfabeto em SignWriting. Apesar do desafio, o resultado foi satisfatório.
Acrescentamos mais um conteúdo, os “seis símbolos de dedos” (articulação média
fecha, articulação média abre, articulação proximal fecha, articulação proximal abre,
articulações proximais abrem e fecham juntas e articulações proximais abrem e fecham
alternadamente). Os alunos tiveram um pouco de dificuldade em entender, porém
diante de alguns exemplos de sinais que continham esses seis símbolos de dedos os
alunos puderam clarear seu conhecimento. Fizemos uma atividade de leitura dos sinais
Aula 12 escritos em SignWriting.

GRAFEMAS DOS DEDOS

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 15)


A aula foi iniciada com a apresentação do “GRUPO 2” (mão-2, flexionado, mão-U,
curvado-U, mão-N, mão-R) de acordo com a visão de frente (mãos paralelas à parede)
e a visão de cima (mãos paralelas ao chão). Após a explicação, fizemos um treino com
a escrita de alguns sinais desse grupo, por exemplo, VER, NOME, CHEFE, TEMA entre
outros. Mais uma vez os alunos se mostraram interessados ao ajudarem a lembrar de
apenas alguns sinais que tivessem dentro do Grupo 2.
Aula 13
GRAFEMAS DO GRUPO 2 CM – DEDO INDICADOR-MÉDIO

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 15)


Revisamos toda aula anterior do GRUPO 2, incluímos também na revisão os símbolos
de contato e de dedos. Para fixar melhor os conteúdos fizemos um ditado visual e cada
Aula 14 aluno deveria fazer a escrita dos sinais ditados em SignWriting no quadro branco.
Pudemos observar que mesmo com alguns erros de setas de movimento, o objetivo da
aula foi alcançado. A aula foi descontraída e divertida.

151
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Diante de tudo que foi exposto, vimos a necessidade de incluir as setas de movimentos
antes de avançarmos para os conteúdos do GRUPO 3. A curiosidade dos alunos em saber
o significado de cada seta de movimento que acompanham os sinais era notória. Então,
essa aula foi sobre as setas de movimentos (para frente e para trás / para cima e para
baixo / diagonais / setas neutras) tudo isso observando mão direita e mão esquerda. Após
a explanação da aula, sugerimos um treino de alguns sinais que tivessem movimentos
simples (para cima e para baixo / para frente e para trás). O resultado foi bastante
Aula 15 interessante, pois os alunos identificaram o real significado de cada seta de movimento.

GRAFEMAS DO GRUPO 3 – DEDOS POLEGAR-INDICADOR-MÉDIO

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 16)

FONTE: Maia, Lima e Costa (2017, p. 10-17)

4.2 ADAPTAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DE ATIVIDADES


PRONTAS
Embora o ideal seja criarmos atividades específicas para os grupos de alunos
específicos, nem sempre isso é possível devido à carga de trabalho, à quantidade
de aulas ou ao tempo apertado para planejamento das atividades cotidianas. As
atividades especificamente em ES são mais difíceis de serem encontradas prontas,
por isso, a ideia deste subtópico é auxiliar para que, quando necessário, você
seja capaz de realizar a adaptação de atividades prontas de alfabetização para
um exercício em ES. As atividades de desenvolvimento linguístico, quando em
níveis mais complexos de compreensão, escrita e leitura seriam mais complicadas
de adaptar, embora as reflexões prévias propostas possam ajudar a elaborar os
materiais específicos para os estudantes mais avançados no estudo da ES.

As seguintes Reflexões Prévias para Adaptação são importantes para a


adaptação de atividades:

• Qual o nível de exigência linguística (inicial, intermediário, avançado) da


atividade?
• Qual o objetivo específico desta atividade?
• Qual o paralelo entre o objetivo em LP e um objetivo em ES?
• Como inserir a ES neste contexto?
• O vocabulário é adequado ou deverá ser alterado para fazer sentido?

A fim de demonstrar na prática a feitura desta adaptação, foram colocadas,


a seguir, atividades de alfabetização encontradas na internet, as quais serão
adaptadas a partir das reflexões apontadas anteriormente.

152
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

• Atividade 1:

FIGURA 30 – IDENTIFICAÇÃO DE PALAVRAS ORIGINAL E ADAPTADA

FONTE: Adaptado de <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2017/04/atividades-


de-palavras-cruzadas-e-cruzadinha-ligue-ligue.jpg>. Acesso em: 12 nov. 2019.

Reflexões sobre a Atividade 1:

1- Nível de alfabetização intermediário exige que o aluno saiba reconhecer a


escrita de palavras simples já trabalhadas.
2- O objetivo é ligar aos desenhos as palavras escritas correspondentes mesmo
que fora de ordem, observar o uso de substantivos para esta atividade.
3- O objetivo pode ser semelhante em LP e ES.
4- Para inserir a ES neste contexto, basta substituir a LP pela escrita em SW.

• Atividade 2:

FIGURA 31 – SEMELHANÇA DE LETRAS

FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/06/atividades-de-
alfabetizacao-ligue-corretamente.jpg>. Acesso em: 12 nov. 2019.

153
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Reflexões sobre a Atividade 2:



1- Nível de alfabetização iniciante, exige que o aluno saiba reconhecer letras
iniciais semelhantes.
2- O objetivo é ligar os substantivos que iniciam com as mesmas letras.
3- O objetivo em ES precisa ser vinculado ao reconhecimento de CMs semelhantes
utilizadas na escrita dos sinais.
4- Para inserir a ES neste contexto é preciso selecionar sinais que tenham CMs
semelhantes.

• Atividade 3:

Adaptação da Atividade 2 para ES: ligar as configurações de mão


semelhantes:

154
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Observe que a Atividade 2 precisou ser adaptada mais radicalmente do


que a Atividade 1, isso acontece porque a Atividade 2 solicita a ligação entre
letras iniciais das palavras e, para isso, utiliza palavras substantivas que fazem
parte do vocabulário das crianças e que não apresentam dificuldades ortográficas
como dígrafos, encontros consonantais ou letras mudas. Para fazer a adaptação
desta atividade para a ES, na Atividade 3 foi necessário procurar sinais também
substantivos que tivessem CMs semelhantes e não apresentassem grafemas que
exigissem uma compreensão mais complexa, assim, não era possível utilizar as
mesmas palavras que as usadas na Atividade 2 porque, em LS, elas não mantêm
uma relação de semelhança fonética como apresentam em LP, para exemplificar
isso, observe a ES de BONECA e BOCA:

Boneca Boca

Em LP, a palavra BONECA é escrita com três sílabas simples formadas


de modo básico consoante + vogal; já em LS o sinal para o mesmo substantivo
é formado pela composição de dois outros sinais: os de bebê + brincar e
apresenta duas CMs diferentes; dois Pontos de Articulação distintos; dois tipos
de movimento: um simples e um circular, grafemas de braços, de contato e de
movimento alternado. Ou seja, é de uma complexidade superior ao nível da
atividade pretendida. Além disso, não tem relação alguma com o sinal BOCA,
nem sem CM (foco da alfabetização) nem em locação. Por isso, foi necessário
reestruturar a atividade como um todo para que ela permanecesse adequada ao
nível de ensino e ao objetivo pretendido.

Dessa maneira, a adaptação de atividades de alfabetização em LP para


atividades em ES dependerá da avaliação dos diferentes aspectos linguísticos
envolvidos para a correta solução da atividade pretendida e nem sempre isso será
mais prático do que elaborar atividades próprias. Contudo, é interessante fazer esse
tipo de exercício porque o ensino da escrita alfabética tem uma quantidade muito
maior de exercícios, atividades, propostas, projetos e pesquisas muito superior
ao que encontramos sobre ES, logo, as considerações feitas para o ensino de LP
serão mais abundantes e poderão ser de grande valor como ponto de partida para
ponderações sobre o ensino de ES e a criação de atividades em escrita de Libras.

Além das atividades em escrita alfabética, também podem ser adaptadas as


propostas de atividades em Libras sinalizada, exercícios bem mais próximos da ES e,
por isso, facilmente adaptáveis. A título de exemplo, utilizaremos algumas atividades
retiradas de Quadros e Cruz (2011), cabe destacar que todas as atividades propostas
por elas são muito interessantes e têm não apenas a parte prática como as bases teóricas
e metodológicas para a avaliação da linguagem compreensiva e expressiva.

155
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Observe a Atividade 4, sobre ela podemos tecer as seguintes


reflexões a partir das perguntas inicialmente propostas:

• Atividade 4:

FIGURA 32 – JOGO DA MEMÓRIA

FONTE: Quadros e Cruz (2011, p. 95)

Reflexões sobre a Atividade 4:

1- Nível de alfabetização intermediário, exige que o aluno saiba reconhecer a


escrita de palavras simples já trabalhadas.
2- O objetivo é encontrar os pares formados por desenho do objeto e desenho do
sinal, prioriza a memorização.
3- O objetivo pode ser o mesmo para o ensino de ES.
4- Para inserir a ES nesse contexto, apenas trocar os desenhos do sinal pela escrita deles.

• Atividade 5: adaptação dos desenhos dos sinais da Atividade 4 (Jogo da Memória)

156
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

• Atividade 6:

FIGURA 33 – CONFIGURAÇÃO DE MÃO E PONTO DE ARTICULAÇÃO, VERSÕES


ORIGINAL E ADAPTADA

FONTE: Adaptado de Quadros e Cruz (2011)

Reflexões sobre a Atividade 6:

1- Nível de alfabetização intermediário, exige que o aluno saiba reconhecer a CM


e os Pontos de Articulação de mais de um sinal.
2- O objetivo é demonstrar qual a configuração de mão para realização das figuras
à esquerda (mochila e menina), bem como indicar o PA em que os sinais são
feitos na boneca desenhada à direita. Importante, não está sendo detalhada a
Orientação de Palma.
3- O objetivo pode ser o mesmo para o ensino de ES.
4- Para inserir a ES neste contexto: apenas trocar os desenhos das mãos sinal pela
escrita deles.

A marcação deve ser feita com um xis sobre a CM e nos PAs utilizados
para a realização desses sinais. Assim, a marcação de MOCHILA é feita nos dois
ombros, tendo em vista que o sinal é realizado com as duas mãos fazendo o
movimento ao mesmo tempo e, para MENINA, na bochecha esquerda. Observe
que o Movimento e a Orientação de Palma não são, ainda, exigidos do aprendiz.

FIGURA 34 – GABARITO DA ATIVIDADE 6

FONTE: Adaptado de Quadros e Cruz (2011)

157
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

5 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a leitura

No trecho a seguir, a conversa de Sávio e seus amigos se desenrola a partir


da bebedeira durante o futebol de salão do amigo de Alan que havia comprado um
carro novo. Alan conta sobre o acidente que esse amigo sofreu após ir para casa
dirigindo, observe que alguns trechos de informações que ficam subentendidas
na conversa foram inseridos entre colchetes na tradução, pois não estão escritas
diretamente em ES, apenas ficam implícitas na interpretação feita pelos autores
deste livro didático.

O texto a seguir foi adaptado às características específicas deste livro


didático a partir do livro Escrita de Sinais sem mistério de Raquel e Madson Barreto.
A história segue uma continuidade deste o início da Unidade 1.

Boa leitura, não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles, a seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência direta e completa entre duas ou
mais línguas.

5.1 TEXTO

Texto

158
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

TEXTO 8:

Acidente de carro

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 176)

159
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

5.2 GLOSSÁRIO

Glossário

Mostrar para mim Dizer a ele Vir para cá

Receber ligação Dirigir quando Celular vibrar na cintura


em deslocamento

Mãe Avisar para mim Acidente de carro

5.3 TRADUÇÃO

Tradução

Eu falei para ele que era perigoso dirigir o carro [por causa da bebedeira],
por isso, era melhor eu dirigir. [Naquele dia, ele aceitou, mas] agora, nós três
vínhamos para cá, eu estava dirigindo e meu celular vibrou, quando atendi, era
mãe do meu amigo avisando para mim que ele bebeu muito e bateu o carro.

160
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

A ESCRITA DE SINAIS COMO MEIO DE FACILITAR AO ALUNO SURDO


À APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA

Kledson de Albuquerque Alves


Maria Gorete de Medeiros

RESUMO

A língua de sinais não é ágrafa, pois todas as línguas possuem suas respectivas
escritas. Mesmo assim, apesar de mais de quarenta países já utilizarem a escrita
de sinais no ensino bilíngue, no Brasil este conhecimento ainda é muito novo,
mesmo já tendo havido pesquisas realizadas no Rio Grande de Sul. Sendo bilíngue,
o aluno surdo precisa aprender a língua portuguesa escrita, mas no processo de
alfabetização a grande maioria das escolas não faz diferenciação da metodologia
utilizada para ensinar a escrita de português e o letramento ao surdo. Isto tem
dificultado muito a aprendizagem do surdo. Que influência a aprendizagem
da escrita de sinais provoca na aprendizagem do português escrito? Ajuda ou é
indiferente? Por quê? Partindo de uma pesquisa bibliográfica de obras de autores
como KLIMSA FARIAS, SAMPAIO e KLIMSA, In: FARIA e ASSIS (2012); PONTIN
e SILVA (2010); PORTO e PEIXOTO, In: FARIA e CAVALCANTE (2011); RIBEIRO
(S/D); STUMPF, In: LODI, HARRISON, CAMPOS e TESKE (2002); QUADROS, In:
FARIA e ASSIS (2012), foi realizado um trabalho sob o objetivo de explicar como a
aprendizagem da escrita de sinais atua sobre a aprendizagem da escrita da língua
portuguesa. A pesquisa esclareceu que os alunos surdos que dominam a LIBRAS
(L1) têm maior facilidade para a aprendizagem da escrita de sinais. Por outro lado,
ao aprender a LIBRAS junto à escrita de sinais (Sign Writing) esses alunos estarão
mais bem embasados para a aprendizagem da língua portuguesa escrita (L2).

PALAVRAS-CHAVE: Aluno surdo. Escrita de Sinais. Português escrito.

[...]. Considerando a aprendizagem da língua escrita alfabética (e/ou


silábica) por parte dos alunos ouvintes, é possível reconhecer que os registros da
oralidade em muito lhes ajudam no avanço da compreensão da escrita, uma vez
que este conhecimento parte da percepção de que a escrita tende a representar
sons da fala. No caso do aluno surdo isto não acontece, uma vez que no geral
ele somente é submetido ao ensino da língua portuguesa escrita, mesmo que
não tenha a referência sonora para se apoiar durante o aprendizado da mesma.
Partindo do pressuposto de que todas as línguas possuem suas respectivas escritas,
é possível se deduzir que a língua de sinais utilizada pelos surdos também tem
sua respectiva escrita.

Ao aluno surdo é necessário aprender a língua portuguesa escrita, uma


vez que este vive numa sociedade cuja cultura e língua são prioritariamente
ouvintistas. Isto é indispensável, já que o mesmo necessita adquirir domínio da
escrita desta sociedade para nela exercitar a sua cidadania, informando-se dos

161
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

seus direitos e informando suas necessidades de conquistas. Só que existe um


problema no processo de alfabetização dos surdos em relação à língua portuguesa
escrita: estes são obrigados a aprender a escrita alfabética dos ouvintes sob um
ensino que enfatiza a mesma metodologia que é dispensada aos alunos ouvintes.
Este problema ocasiona muitas dificuldades para o aluno surdo ser alfabetizado
na escrita em português.

Partindo do pressuposto de que a qualidade do domínio da fala é de grande


ajuda para a criança ouvinte ser alfabetizada na escrita da sua língua oral, torna-se
possível fazer alguns questionamentos interessantes sobre a possibilidade de no
processo de alfabetização o aluno surdo também aprender a escrita de sinais (Sign
Writing). Que tipo de influência a aprendizagem da escrita de sinais provocaria na
aprendizagem da escrita de sinais? Ajudaria ou seria indiferente? Por quê?

Sob essa questão, o objetivo deste artigo é explicar como a aprendizagem


da escrita de sinais atua sobre a aprendizagem da escrita da língua portuguesa.
Para fazer isto é preciso usar conhecimentos ofertados por autores como KLIMSA
FARIAS, SAMPAIO e KLIMSA, In: FARIA e ASSIS (2011); PONTIN e SILVA
(2010); PORTO e PEIXOTO, In: FARIA e CAVALCANTE (2011); RIBEIRO (S/D);
STUMPF, In: LODI, HARRISON, CAMPOS e TESKE (2002); QUADROS, In:
FARIA e ASSIS (2012).

Atualmente já existem mais de quarenta países cujas escolas bilíngues usam


normalmente a escrita de sinais. No Brasil este ainda é um conhecimento novo,
de sorte que o uso da escrita de sinais através do sistema SignWriting surgiu em
1996, pela pesquisadora Surda Marianne Stumpf. “Como instituições pioneiras
que desenvolveram projetos de aprendizagem do SignWriting destacam-se a
Escola Especial Concórdia de Porto Alegre – RS e a Escola Hellen Keller de Caxias
do Sul – RS. Outras instituições se interessaram por esse sistema de escrita de
sinais, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e a Federação
Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS)” (ALVES, 2014, p. 3).

1 PANORAMA DA APRENDIZAGEM DA ESCRITA EM LÍNGUA


PORTUGUESA SEM A ALFABETIZAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS E DA
SUA RESPECTIVA ESCRITA

Antes de ir para a escola, a criança (surda ou ouvinte) passa a maior parte


do tempo com os seus familiares, significando que é no núcleo da família que
geralmente as crianças recebem os primeiros estímulos para o desenvolvimento
do processo de alfabetização. Em se tratando de familiares ouvintes, para a criança
audiente tudo funciona bem, uma vez que ela possui input para os estímulos da
língua oral que é maciçamente utilizada pelos familiares que com ela interagem.
Para a maioria das crianças surdas o processo não funciona tão fluentemente,
pois esses pequeninos possuem input que correspondem às experiências visuais.
Isto significa que no processo da aquisição da linguagem, sua tendência natural
é para a aprendizagem da língua de sinais que, no caso do Brasil, corresponde à
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

162
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Como a maioria das crianças surdas nasce em lares de pessoas ouvintes,


a carência de contatos e de interações com pessoas que usem a LIBRAS ocasiona
um atraso no desenvolvimento da aquisição da sua língua natural, a de sinais, e,
consequentemente, na aquisição da língua portuguesa escrita.

Como já foi afirmado que o processo de alfabetização de qualquer


criança inicia no meio familiar, o atraso linguístico da criança surda repercute na
sequência do letramento da língua portuguesa, uma vez que ao mesmo tempo em
que tem início a alfabetização em LIBRAS também precisa acontecer o letramento
em língua portuguesa. Isto significa que a aprendizagem da língua de sinais
constitui-se na base para todo e qualquer aprendizado porvindouro que a criança
precisará obter, inclusive, o da língua portuguesa escrita.

Quando a alfabetização da criança surda não abrange a aprendizagem da


escrita da língua de sinais há uma dificuldade mais acentuada para ela aprender
a escrita do português do que na situação inversa, uma vez que lhe será mais
difícil conferir sentido ao que lê, ainda que tenha a capacidade de codificar e
decodificar.

Referindo-se a resultados de pesquisas realizadas por Stumpf (2008 e


2009), Pontin e Silva (2010) afirmam que a causa pela qual os surdos apresentam
déficit de informações sobre os acontecimentos costumeiros corresponde tanto
ao bloqueio que eles enfrentam durante os atos de leitura e de escrita da língua
portuguesa, quanto pelo fato de a maioria das pessoas com as quais eles interagem
não conhecem a língua de sinais, o que, de certa forma, também lhe ocasiona
atraso da aquisição da sua própria língua (LIBRAS).

Em síntese, significa dizer que no processo de alfabetização/letramento os


surdos precisam primeiro aprender a língua de sinais antes da língua portuguesa,
pois a escrita da sua primeira língua lhes serve de apoio para melhor assimilarem
a língua portuguesa escrita, inclusive a entenderem um texto escrito nesta língua.
Porém, isto não inviabiliza a ideia de que, a partir de certa altura do processo de
alfabetização, a criança surda aprenda as duas línguas simultaneamente.

Emitir o esclarecimento explícito no parágrafo anterior exige considerações


sobre a prática do letramento da língua portuguesa aos alunos surdos nas escolas
brasileiras ditas inclusivas. Nestas, a prática quase geral se caracteriza pela falta
do saber relacionado à língua de sinais, tanto por parte do professor ouvinte
quanto por parte dos colegas de sala, significando que há uma unilateralidade de
valor para a língua portuguesa e o não reconhecimento da LIBRAS, mesmo que
este tenha sido declarado na Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002.

Neste caso, se o ensino da LIBRAS não é intenso aos surdos nem oferecido
aos ouvintes como segunda língua (como requer um ensino bilíngue), a situação é
pior em relação ao trato da escrita de sinais, pois a existência deste conhecimento
ainda é quase desconhecida pela grande maioria das escolas brasileiras, mesmo
que no mundo já existam mais de quarenta países que o utilizam normalmente.

163
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

Qual é o resultado dessa situação? Pontin e Silva (2010) lembram que nas
escolas inclusivas que têm surdos é muito comum a emissão de comentários do
tipo: os alunos surdos esquecem as palavras da língua portuguesa; os alunos
ouvintes conseguem ler e entender o significado de muitas palavras, mas os
alunos surdos não conseguem.

Na verdade, esses comentários demonstram total desconhecimento sobre


a realidade do letramento do aluno surdo, pois a dificuldade que ele aparenta
para entender o significado de muitas palavras em português não ocorre porque
ele seja incapaz, mas, sim, pelo fato de lhe faltar o referencial da escrita de sinais,
e, em muitos casos, o domínio da LIBRAS, para lhe apoiar na aprendizagem da
língua portuguesa escrita como sua segunda língua (L2).

Esclarecendo o caráter desse apoio, é preciso lembrar que, sendo a


escrita portuguesa uma representação de língua sonora, aos surdos fica inviável
apoiarem-se em sons que não ouvem. Assim, o caminho é apoiarem-se na
perspectiva “gestuovisual”, sendo por isto que Sign Writing, enquanto escrita
que representa os sinais utilizados na LIBRAS, compõe o recurso linguístico ideal
para apoiar os surdos na aprendizagem do português.

Mediante o que já foi esclarecido, convém dizer que do ponto de vista


da natureza da aprendizagem não existe diferença entre a alfabetização da
criança surda e da ouvinte. O que existe, mesmo, é o desconhecimento de que os
processos de ensino são bilaterais no que se refere ao fato de que a ouvinte precisa
do referencial sonoro e a surda do visual.

A esse respeito, Ribeiro explica que:

a criança ouvinte, quando vai para a escola, já conhece o significado das


palavras. Quando ela aprende a ler, sabe o que as palavras significam, pois
o português escrito apresenta características da fala, assim como se fosse
um retrato. Quando aprende a ler, a criança ouvinte vê esse retrato e o
reconhece. Por outro lado, a criança surda não ouve a fala da família. Então,
ela vai para a escola, aprende a ler, mas não consegue entender o que as
palavras representam, ela não consegue reconhecer o retrato porque antes
não ouviu a palavra associada à ação ou ao objeto (RIBEIRO, S/D).

Deste modo, fica mais do que esclarecido que a metodologia a ser


utilizada para ensinar a língua portuguesa escrita aos alunos surdos precisa ser
diferenciada no que concerne à atenção de ressaltar as experiências visuais ao
invés das auditivas.

2 PERSPECTIVAS DA APRENDIZAGEM DA ESCRITA EM LÍNGUA


PORTUGUESA SOB O RESPALDO DA ALFABETIZAÇÃO DA LÍNGUA DE
SINAIS E DA SUA RESPECTIVA ESCRITA

Antes de discorrer sobre o que o título acima sugere, julgamos interessante


retomar o sentido da importância da escrita de sinais para o surdo. Para fazer isto,
precisamos lançar mão do pensamento de uma pessoa surda. Stumpf expressa que:

164
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

a escrita de sinais está para nós, surdos, como uma habilidade que
pode nos dar muito poder de construção e desenvolvimento de nossa
cultura. Pode nos permitir, também, muitas escolhas e participação
no mundo civilizado do qual também somos herdeiros, mas do qual
até agora temos ficado à margem, sem poder nos apropriar dessa
representação. Durante todos os séculos da civilização ocidental, uma
escrita própria fez falta para os surdos, sempre dependentes de escrever
e ler em outra língua, que não podem compreender bem, vivendo com
isso uma grande limitação (STUMPF, 2002 apud RIBEIRO, S/D).

Contradizendo a falsa ideia de que os surdos são preguiçosos para escrever


(por causa da indisposição que apresentam para aprender a língua portuguesa),
as crianças surdas revelam interesse na aprendizagem da escrita de sinais e isto é
inteligível, uma vez que esta escrita representa a sua primeira língua (L1). Por isto
elas se sentem mais entusiasmadas quando são alfabetizadas/letradas a partir da
escrita de sinais. Daí porque eu concordo plenamente com Stumpf quando diz que:

as escolas de surdos precisam colocar rapidamente a escrita de sinais


no currículo, pois suas aulas proporcionam oportunidades importantes
para os surdos de aprender também língua de sinais. Exercitamos
muitas aprendizagens de sinais quando procuramos pela melhor
grafia de um sinal (STUMPF, 2002, p. 65 apud PONTIN; SILVA, 2010).

Corroborando os argumentos já apresentados sobre o mérito da escrita de


sinais para a instrução escolar da criança surda, bem como o positivo apoio que
este conhecimento ocasiona durante a sua aprendizagem do português escrito,
Ribeiro (S/D) esclarece que ao ser alfabetizada sob a aquisição da escrita de sinais,
a criança surda evolui mais rapidamente quanto à aquisição da habilidade de
ler e interpretar texto, de perceber regras gramaticais e a estrutura da língua de
sinais com maior clareza e rapidez.

Quando o sistema de escrita de sinais é valorizado, também é


substancializada a probabilidade de concretização da pedagogia surda, pois
abarca a possibilidade de o professor trabalhar integralmente com a língua de
sinais. Desta forma:

o professor pode ler o descobrimento do Brasil com alunos, pedir


que cada um leia parte do texto com suas próprias palavras, ou
deveríamos dizer, suas próprias mãos? Depois disto, o professor pode
trabalhar o texto em sala através de questionário em Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS) onde o aluno fará a leitura e interpretação do
texto, respondendo em LIBRAS e depois se expressando a respeito do
conteúdo. Como cada aluno terá o livro-texto em LIBRAS, o professor
poderá passar atividades para que os alunos aprofundem seus
conhecimentos em casa (RIBEIRO, S/D).

Sob essa perspectiva, na fase de alfabetização sob a utilização da escrita


de sinais o professor deve estar atento à oportunidade de realizar metodologia
inerente à educação bilíngue, ressaltando a interpretação de texto, as regras
gramaticais e a estrutura da língua de sinais. Nesse processo, também deve
utilizar recursos com histórias em DVD, CD-ROM, slides e outros do tipo. A este
respeito, Ribeiro ressalta que:
165
UNIDADE 2 | GRAFEMAS NÃO MANUAIS, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO EM ESCRITA DE SINAIS

é importante compreender que estas mídias se complementam e


uma não substitui a outra. A escrita é uma arte em si mesma e sua
utilização cria o que costumo chamar de cultura da escrita, que poderá
ser observada não só nos livros bem como em cartas, e-mail, bilhetes,
placas, folhetos, anúncios, pichações em cadernos e outros materiais
escolares, frases em bonés e camisetas, páginas da internet, e até em
cartaz de manifestações (RIBEIRO, S/D).

Se as crianças surdas prezam a aprendizagem da escrita de sinais, mais


ainda elas são abertas à utilização desta escrita, tanto em atos de leitura quanto
de escrita de textos nos seus diferentes gêneros. Essa receptividade também
acontece porque elas compreendem que serão beneficiadas com livros que lhes
deem condições de adquirir conhecimentos e de dispor (e/ou criar) literaturas
informativas e de lazer para aprender. Sob esse pensamento os surdos reconhecem
que Sign Writing os estimula a ler e a escrever.

CONCLUSÃO

Ao aprender a LIBRAS junto à escrita de SignWriting os alunos surdos


são beneficiados porque ao escreverem os sinais poderão analisar melhor a
estrutura da sua L1, aperfeiçoando e aprofundando a compreensão desta língua
e da sua respectiva gramática. Os benefícios da aprendizagem da escrita de sinais
não param por aí, pois se o surdo aprender a ler e a escrever primeiro em sua
L1 estará mais bem embasado para a aprendizagem da L2, que para o surdo do
nosso país é a língua portuguesa escrita.

Ressaltando as representações do que as escritas de L1 e L2 se constituem,


pode ser esclarecido que a escrita de língua oral é representada pelos fonemas,
significando que a escrita de sinais é representada graficamente pela configuração
de mão, movimentos e locação, além dos outros símbolos referentes à orientação
da mão e expressão facial, se houver necessidade. Isto sugere a ideia de que,
ao aprender a escrita da sua L1, a criança surda encontra mais sentido do que
aprender a escrita da L2.

A este respeito, a experiência de Stumpf sobre o ensino da escrita de sinais


para alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental esclareceu que os alunos
que dominam a LIBRAS têm muita facilidade para a aprendizagem da escrita de
sinais. Isto significa que quanto maior for o contato com a LIBRAS maior será a
probabilidade de compreender a estrutura desta língua de modo mais natural
possível.

Quando primeiro é introduzida a escrita de sinais e depois a escrita


do português é criada uma circunstância que pode produzir no aluno surdo o
estímulo do raciocínio para aprender a L2, ajudando-o a fazer uma comparação
entre os textos produzidos em escrita de sinais e os produzidos em português.

166
TÓPICO 3 | ESTRATÉGIAS PARA ALFABETIZAÇÃO EM ESCRITA DE SINAIS

Neste caso, a apresentação do texto através do SignWriting junto com


português favorece ao surdo a compreensão e uma leitura autônoma. Isto
acontece porque utilizará a escrita em língua de sinais para se apoiar. Isto é muito
estimulante para o aluno surdo porque proporciona uma aprendizagem mais
natural, sem senso de coação e longe da barreira linguística e do constrangimento
do sentimento de incompetência.

FONTE: ALVES, K. de A.; MEDEIROS, M. G. de. A escrita de sinais como meio de facilitar ao aluno
surdo à aprendizagem da língua portuguesa escrita. 2014. Disponível em: http://editorarealize.
com.br/revistas/cintedi/trabalhos/Modalidade_1datahora_02_11_2014_17_46_12_idinscrito_2035_
cd79f15e26f53e602e8c3d2cef3bdfaa.pdf. Acesso em: 12 nov. 2019.

167
RESUMO DO TÓPICO 3

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• A Educação Linguística envolve o conhecimento, as vivências e as situações de


todos os grupos sociais.

• É através da função semiótica que os seres humanos se tornam capazes de


desenvolver todo um sistema de representação que permitirá a ele a existência
do pensamento organizado.

• As línguas são representações simbólicas, quer seja uma língua oral ou uma
língua de sinais, assim como suas escritas.

• O desenvolvimento escrito se dá em três etapas em que o processo semiótico se


aprofunda em direção à compreensão qualificada da língua em sua forma escrita.

• É imprescindível fazer um reconhecimento do público-alvo para o qual as suas


atividades serão feitas.

• A sinalização e a escrita são faces inseparáveis de uma educação que pretenda


desenvolver de forma ampla o domínio linguístico de seus estudantes.

• O entendimento proficiente da língua oral/sinalizada é necessário para o


desenvolvimento da escrita alfabética/de sinais.

• O ensino da ES se iniciaa partir daquilo que os próprios estudantes indicam


a partir de suas perguntas e vai se desenrolando a partir das atividades de
sensibilização e da inserção dos sinais partindo da curiosidade demonstrada
pelos estudantes.

• A organização da formalização dos estudos em ES (o que equivaleria ao ensino


do alfabeto para as crianças ouvintes) é iniciada pelo estudo dos dez grupos de
Configurações de Mãos.

• As atividades a serem elaboradas para o desenvolvimento linguístico em ES


precisam levar em conta as etapas da alfabetização, as fases e os níveis de
desenvolvimento para compreensão, leitura e escrita em ES.

168
• A adaptação de atividades de alfabetização em LP para atividades em ES
dependerá da avaliação dos diferentes aspectos linguísticos envolvidos para
a correta solução da atividade pretendida e nem sempre isso será mais prático
do que elaborar atividades próprias.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

169
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 Sobre as fases da Alfabetização e do Desenvolvimento Linguístico, relacione


a Coluna I à Coluna II de modo correto:

COLUNA I COLUNA II

(1) Primeira fase da alfabetização ( ) A criança ouvinte começa o


(2) Segunda fase da alfabetização processo em que percebe como as
(3) Terceira fase da alfabetização letras e sílabas se estruturam para
(4) Início do desenvolvimento linguístico formar palavras ou partes das
(5) Início da alfabetização palavras da língua oral-auditiva.
( ) É ampliado o uso compreensivo
da língua, sendo priorizado em
conjunto com o desenvolvimento
do uso expressivo.
( ) A criança começa distinguir entre
o modo de representação icônico
e não-icônico.
( ) Atividades de sensibilização para
a introdução gradual do sinais a
partir de contextos reais de uso
adequados à faixa etária.
( ) A criança começa a desenvolver
sua aprendizagem da língua
escrita de maneira a diferenciar a
escrita dentro do próprio sistema.

Agora, marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:


a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1
b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4
c) ( ) 3, 4, 1, 5 e 2
d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4
e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2

2 De acordo com o estudo sobre estratégias para alfabetização em escrita de


sinais do tópico três, analise as sentenças, classificando V para as verdadeiras
e F para as falsas.

170
( ) É através da função semiótica que os seres humanos se tornam capazes de
desenvolver todo um sistema de representação que permitirá a existência
do pensamento organizado.
( ) É irrelevante fazer um reconhecimento do público-alvo para o qual as suas
atividades serão feitas.
( ) O entendimento proficiente da língua oral/sinalizada jamais será necessário
para o desenvolvimento da escrita alfabética/de sinais.
( ) A organização da formalização dos estudos em ES (o que equivaleria ao
ensino do alfabeto para as crianças ouvintes) é iniciada pelo estudo dos
dez grupos de Configurações de Mãos.
( ) A adaptação de atividades de alfabetização em LP para atividades em ES
dependerá da avaliação dos diferentes aspectos linguísticos envolvidos
para a correta solução da atividade pretendida e nem sempre isso será
mais prático do que elaborar atividades próprias.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V - V - F - F.
b) ( ) F - F - V - V - V.
c) ( ) F - V - V - F - V.
d) ( ) V - F - F - V - V.
e) ( ) V - F - V - F - V.

3 Faças as Reflexões Prévias para Adaptação da atividade proposta a seguir:

QUEBRA CABEÇA

FONTE: Quadros e Cruz (2011, p. 100)

a) Qual o nível de exigência linguística (Inicial, intermediário, avançado) da


atividade?
b) Qual o objetivo específico desta atividade?
c) Qual o paralelo entre o objetivo em LP e um objetivo em ES?
d) Como inserir a ES neste contexto?
e) O vocabulário é adequado ou deverá ser alterado para fazer sentido?

171
172
UNIDADE 3

REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE


SINAIS E LITERATURA SURDA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de:

• desenvolver a percepção sobre os registros completo, simplificado e


digital;
• estudar as bases da escrita de Classificadores em Escrita de Sinais;
• compreender o uso da pontuação em Escrita de Sinais;
• entender a importância da Literatura como parte da construção identitária
dos grupos sociais;
• reconhecer a relação entre Períodos Literários da Literatura Brasileira e a
compreensão de Literatura Surda;
• demonstrar os princípios da Teoria Literária e sua aplicação aos estudos
em Literatura Surda;
• apontar algumas das principais produções literárias para o público surdo;
• perceber o desenvolvimento elementar da literatura em SignWriting no
Brasil e no mundo;
• delimitar encaminhamentos possíveis para estudos futuros no campo de
estudos da Literatura Surda no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS


TÓPICO 2 – TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA
TÓPICO 3 – LITERATURA SURDA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

173
174
UNIDADE 3
TÓPICO 1

REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

1 INTRODUÇÃO

Introdução

Ao longo dos conteúdos analisados neste livro didático vimos que a


Escrita de Sinal pelo Sistema SignWriting é bastante completa e apresenta uma
variedade de grafemas que possibilitam o registro detalhado das partes que
compõem os sinais. Ao mesmo tempo em que essa possibilidade de apresentação
escrita completa é muito importante para a transcrição correta dos sinais, ela
também pode fazer com que a escrita manuscrita dos sinais acabe se tornando
um pouco lenta nas situações em que é preciso velocidade de registro. Por isso,
neste tópico, estudaremos as três principais maneiras de serem feitas as anotações
em ES pelo sistema SW: o completo, o simplificado e o digital.

Nesta parte que iniciaremos agora, estudaremos alguns dos elementos de


registro formal da construção da escrita dos Classificadores, algumas das regras
de escrita delimitada ortograficamente e os sinais referentes ao uso da pontuação
na estruturação dos textos em ES.

Mesmo que esta seja a última unidade deste livro didático, lembre-se: é
improvável esgotar os estudos possíveis em qualquer assunto, ainda mais em uma
escrita que ainda está em sua fase incipiente de organização e estruturação do uso
dos grafemas. Assim, diferentemente da escrita da LP, a ES ainda apresenta certa
instabilidade e maleabilidade nos usos dos grafemas e nas formas de registro.

175
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

2 REGISTRO EM ESCRITA DE SINAIS

Escrita de Sinais

A escrita das línguas orais permite vários tipos de registros diferentes que
refletem as situações de uso dela. Isso acontece porque as possibilidades que o
sistema alfabético permite não são apenas vinculadas a uma ou outra situação de
uso. Por exemplo, para escrever este livro didático, a escrita é utilizada de modo
formal, mas, ao mesmo tempo, precisa ser clara e de fácil acesso, pois o objetivo
aqui é didático, ou seja, a escrita em si é apenas um meio de conectar aquilo que os
autores ensinam ao que os estudantes precisam aprender, ou seja, o uso é mais formal
e pragmático, devendo deixar o mínimo possível de abertura para interpretações
diferentes das compreensões pretendidas; já num poema como o exemplificado a
seguir, a ideia é que o sentido permaneça aberto, permitindo diferentes sentidos,
pois o objetivo da escrita é do que existir por si mesma para, de modo esteticamente
interessante, demonstrar um sentimento do poeta:

Devaneios
À noite
Sonho devaneios
De dia
Devaneio sonhos
(CORREIA, 2017, p. 113)

Nesse exemplo, cada uma das palavras utilizadas por ser compreendida
de modo diferente de acordo não apenas com o contexto de uso, mas com a visão
colocada pelo leitor, por exemplo, “noite” pode fazer referência a um período do
dia, a uma fase de tristeza, a um período de descanso, a um luto amoroso ou ao
próprio fazer poético. Dessa maneira, entre a escrita técnica de Livro Didático e a
escrita lírica de um poema, existe uma infinidade de usos para a escrita, tendo em
vista que um sistema de registro escrito verdadeiramente útil, completo e prático
deve permitir o uso dela nos mais diferentes momentos, para as mais diversas
situações e ser adaptável àquilo que o usuário da língua necessita.

Dentre essas formas de uso da escrita, estão os contextos em que


as abreviaturas, omissões e simplificações de registro são utilizadas para a
estruturação de mensagens. Porém, a maleabilidade de registro não quer dizer
que a escrita pode ser adaptada de qualquer jeito de acordo com o desejo do
usuário, pois, se assim fosse, ela deixaria de ter seu uso social e passaria a ter um
uso particular que não poderia ser lido por ninguém além da pessoa que escreveu
e aquele pequeno grupo que tivesse acesso ao modo de leitura específico, em
outras palavras, não teria mais o papel de registro, divulgação e manutenção do
176
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

conhecimento acumulado pela sociedade. Ou seja, mesmo os usos simplificados


da língua escrita seguem padrões que permitem a sua leitura pelos demais
usuários da língua.

Também na escrita das Línguas de Sinais pelo sistema SW, existem formas
adequadas de realizar o registro das mais diferentes situações de uso da língua
de sinais. Barreto e Barreto (2015) destacam a importância das possibilidades da
ES pela SW, também nos contextos informais de uso. Na figura a seguir, está a
reprodução do primeiro cartão de aniversário de casamento escrito pela sogra.

FIGURA 1 – CARTÃO DE FELICITAÇÕES PELO ANIVERSÁRIO DE CASAMENTO


RECEBIDO POR RAQUEL BARRETO, ESCRITO PELA SOGRA

Parabéns, Madson e Raquel pelos dois


anos de casamento hoje. Deus esteja
com vocês e continuem felizes.
Maria Barreto
10 julho 2011
continue

Data

Assinatura

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 46)

Observe que a ES foi reestruturada para que a mensagem toda coubesse


no cartão, por exemplo, na escrita da data e da assinatura, além disso, vários
outros elementos da escrita padrão foram ajustados para serem escritos de forma
mais rápida, como os grafemas em que a posição da mão é paralela ao chão.
Mesmo assim, essa ainda é uma forma de escrita mais completa do que seria uma
escrita simplificada. A seguir, veremos algumas das características do Registro
Completo ou Padrão e do Registro Simplificado ou Manual.

177
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

E
IMPORTANT

Stumpf (2005) destaca o uso do Registro de corpo inteiro utilizado na Dinamarca


pelas crianças surdas, intérpretes e familiares, além disso, também serve para o ensino
de ES aos aprendizes iniciantes por ser uma forma mais fácil de compreensão dos sinais
escritos e foi utilizada para a escrita de dicionários no país. “O diagrama a seguir ilustra sinais
dinamarqueses escritos através de um programa chamado TegnBank desenvolvido pela
linguista Karen Albertsen do Centro Surdo de Comunicação Total” (STUMPF, 2005, p. 93).

FIGURA – REGISTRO DE CORPO INTEIRO

Dinamarquês Signo Língua/Linguagem

FONTE: Stumpf (2005, p. 93)

Por ser um Registro sem utilização no Brasil, não entraremos em detalhes quanto
ao seu uso, mas é importante ter conhecimento de sua existência e utilização, pois na
escrita de alguns sinais específicos em Libras são utilizadas partes do corpo, porém, apenas
quando imprescindíveis para a compreensão e uso deste sinal.

2.1 REGISTRO COMPLETO OU REGISTRO PADRÃO

Escrita Completa

A escrita padrão é aquela em que todos os elementos utilizados para a


feitura do sinal, os fonemas das línguas de sinais, deverão ser escritos. Segundo
Stumpf (2005), a estrutura básica de organização da Escrita de Sinais pelo Sistema
SW é fonologicamente estruturada de modo semelhante ao da Escrita Alfabética
(EA), ou seja, a organização dos grafemas se dá por uma associação entre aquilo
que é sinalizado e aquilo que é escrito, numa lógica semelhante à lógica alfabética
em que os grafemas representam aquilo que é falado. Além disso, Nobre (2011, p.
85) declara sobre o uso do SW que:

178
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

O sistema utiliza diversos símbolos visuais para representar os


parâmetros fonológicos que são comuns às línguas de sinais tais
como as configurações de mão, movimentos, expressões faciais e
os movimentos do corpo. Assim como o alfabeto em várias línguas
representa fonemas através de signos, o SW representa esses
parâmetros através de símbolos não alfabéticos, mas próprios que
podem ser usados em qualquer língua de sinais. Sendo que cada língua
pode adicionar ou subtrair alguns símbolos. Por exemplo, o alfabeto
romano é utilizado por várias línguas faladas o que o faz internacional
mas cada língua o escreve de maneira diferente. Da mesma forma, o
SW pode ser usado por qualquer língua de sinais.

Dessa forma, tanto a ES quanto a Escrita Alfabética pressupõem formas


de se “construir” a palavra a partir dos elementos mínimos de articulação,
seja essa articulação feita com o aparelho fonador ou com o corpo do falante.
“Assim se olharmos um símbolo [gráfico] veremos que ele comporta, de um
lado elementos que indicam a articulação do signo gestual e de outra parte,
possibilitará diretamente o acesso ao sentido pela percepção global do símbolo
gráfico” (STUMPF, 2005, p. 96). Observe a ES e a EA da mesma palavra:

ES DA PALAVRA ESCRITA: 5 grafemas: 2 CM, 1 de contato e 2 de


movimento colocados em uma ordem específica.

EA DA PALAVRA ESCRITA: 7 grafemas (letras): 3 vogais (sons livres) e 4


consoantes (sons presos), colocados em uma ordem específica.

Perceba que, embora sejam diferentes grafias, as duas são compostas por
partes relativas aos grafemas possíveis de serem reconhecidas em separado e que
indicam como deve ser feita a articulação numa ordem específica.

A escrita padrão poder ser feita tanto pelo computador quanto à mão,
pois o que determina a diferença entre elas é a quantidade de detalhamento
na escrita do sinal, tendo em vista que na ES padrão serão colocados todos os
grafemas. Segundo Stumpf (2005), na escrita simplificada é feita a exclusão de
alguns símbolos de contato e a simplificação de algumas escritas, de modo a
facilitar a velocidade para a escrita. Apenas para ilustrar esse contexto, observe
a comparação entre o sinal LUGAR em escrita padrão e escrita simplificada
proposta por Stumpf (2005):

Escrita padrão

179
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

Escrita simplificada (STUMPF, 2005, p. 14):

Observe que a forma de escrita da CM e as setas direcionais foram


simplificadas para um formato bastante sintético, com apenas o desenho da
posição dos dedos na CM sem a posição do “corpo” da mão e apenas a ponta de
flecha para as setas de movimento sem as indicações referentes à E e D. Dessa
maneira, a escrita continua clara, mas mais ágil para anotações rápidas.

2.2 REGISTRO SIMPLIFICADO OU REGISTRO MANUAL

Escrita Simplificada

De acordo com Stumpf (2005), na escrita simplificada são eliminados os


símbolos de contato de forma a deixar mais ágil a escrita à mão em SW. A autora
também destaca que esse é um sistema genérico simplificado que proporciona
uma forma para anotação dos movimentos ou posições corporais, não vinculado
a nenhuma língua de sinais específica e que escreve apenas os elementos
indispensáveis para uma leitura posterior. Exatamente por prever que o leitor
terá a possibilidade de compreender a escrita mesmo que extremamente reduzida
ao essencial, Stumpf (2005, p. 93) chama a atenção para o fato de que:

Assim, se você escreve uma língua de sinais, no sistema simplificado,


quando depois for ler suas notas, vai precisar de um anterior
conhecimento dos sinais da língua, porque a verdadeira natureza das
anotações simplificadas dos movimentos é a de deixar fora algumas
informações que aparecem na escrita padrão em favor da rapidez.

Exatamente pela necessidade desse conhecimento aprofundado da ES pelo


sistema SW que, segundo Stumpf (2005), as etapas do percurso de aprendizagem
da escrita simplificada são as seguintes:

• Escrita da SW padrão.
• Literatura em Escrita de Sinais.
• Escrita de uma história em SW padrão.
• Escrita simplificada.

Isso porque é preciso ser proficiente em Escrita de Sinais pelo Sistema


SW para se compreender um sinal apenas a partir de elementos essenciais de

180
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

escrita dele. Além disso, não existe uma estrutura específica de simplificação,
por isso, existem autores que apresentam tentativas de sistematização da escrita
simplificada, como Frost (2014 apud MORAIS, 2010), e autores como Barreto e
Barreto (2015) que sugerem simplificações mais vinculadas ao registro prático,
mas mantêm os elementos que compõem os sinais. Observe os exemplos a seguir:

FIGURA 2 – SINAL “TEACHER” EM SW PADRÃO E SIMPLIFICADO

FONTE: Frost (2016 apud MORAIS, 2010, p. 168)

Observe que apenas o lado Direito da cabeça e da CM é desenhado, assim


como a seta é marcada apenas desse lado acrescida do grafema de movimento
simultâneo que indica a feitura do sinal com as duas mãos. Já Barreto e Barreto
(2015) colocam um processo de simplificação menos estruturado, delimitando
apenas algumas das convenções utilizadas internacionalmente e enfatizando o
uso da simplificação para a escrita à mão e destacam a importância de, mesmo
na simplificação, manter a proporção entre os grafemas que compõem o sinal e o
posicionamento deles para a feitura correta do sinal:

FIGURA 3 – ESCRITA SIMPLIFICADA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 131)

Desta forma, o que está posto sobre a escrita simplificada de modo


mais geral é que ela é uma forma de agilizar a ES, porém, ela não é uma língua
estruturada, apenas uma forma de facilitação da escrita.

181
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

3 ESCRITA DIGITAL

Escrita Digital

Uma das características mais importantes da escrita é a sua possibilidade


de ser feita em diferentes suportes físicos ou digitais, essa é exatamente uma das
particularidades que têm tornado a Escrita de Sinais pelo Sistema SignWriting
uma possibilidade real de escrita para as Línguas de Sinais do mundo todo. Para a
digitação de sinais no computador, a forma utilizada é através do SignPuddle Online
v2.0, esse programa está disponível on-line e em inglês, porém, navegadores como
o Google Chrome traduzem automaticamente a página, caso isso não aconteça,
você pode solicitar que seu navegador faça a tradução ou se guiar pelas ES em
ASL colocadas junto à escrita alfabética, isso acontece porque o site é internacional
e possibilita a escrita de qualquer LS. Para demonstrar os processos básicos para a
escrita de sinais pelo SignPuddle Online v2.0, foi criado, a seguir, um tutorial para
a inserção do sinal de PESSOA, acompanhe o passo a passo:

• 1. Abra o seu navegador de internet e digite o seguinte endereço: http://www.


signbank.org/, a tela que abrirá será semelhante a esta, você deverá clicar no
link SignPuddle Online:

FIGURA 4 – PÁGINA INICIAL SIGNBANK.ORG

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

182
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

• 2. Na próxima tela, deverá ser feita a seleção do país específico, clicar na


bandeira do Brasil:

FIGURA 5 – SIGNPUDDLE SELEÇÃO PAÍS

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 3. Abrirá a tela de opções para a Libras, você deverá entrar em dicionário:

183
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 6 – TELA DE OPÇÕES EM LIBRAS

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 4. Ao clicar na opção dicionário, aparecerá uma lista das várias situações de


uso de SignPuddle, elas aparecem assim enfileiradas à E da tela, você deverá
clicar em Criador de Sinal que é a oitava opção de cima para baixo (caso não
apareça para você, role a tela para baixo):

184
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 7 – TELA DE SELEÇÃO SINAL CRIADOR

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 5. O sinal criador abrirá com os seguintes espaços: A- tela de escrita, B- opções


de formatação e C- grupos de grafemas para a escrita:

185
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 8 – TELA SINAL CRIADOR

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 6. Você poderá escolher qual o grafema inicial para a escrita, mas é recomendado
começar por aquele que está mais centralizado no sinal, que tem maior extensão
ou pela CM da D, no caso do sinal PESSOA, o mais interessante é começar pelo
grafema de ombros, pois os demais serão organizados a partir dele, por isso,
devemos clicar no grupo referente aos ombros:

186
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 9 – ESCOLHER GRUPO DE GRAFEMAS

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 7. Ao clicar neste grupo, aparecerão as opções de grafemas, basta clicar, arrastar


e soltar na tela de escrita:

187
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 10 – GRAFEMA DE OMBROS NA TELA DE ESCRITA

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 8. Após, clicar em Lista de Grupos para voltar à tela de seleção dos grupos de
grafemas:

188
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 11 – BOTÃO DE RETORNO À TELA DE SELEÇÃO DOS GRUPOS

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 9. Na tela de grupos, selecionar o grupo da CM correspondente, no caso de


PESSOA, o Grupo 3, também destacado na imagem anterior:
• 10. Ao clicar no Grupo 3, abrirão as opções de subgrupos específicos quanto ao
posicionamento dos dedos, por ser um programa utilizado para a escrita das
LS de todo o mundo, é interessante notar a existência de CMs não utilizada
na Libras, mas que também fazem parte dos grupos, no caso de PESSOA,
selecionaremos o subgrupo destacado na imagem a seguir:

189
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 12 – SELEÇÃO DE SUBGRUPO CMS

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 11. Clicar, arrastar e soltar as CMs necessárias no posicionamento correto em


relação ao grafema escrito anteriormente:

190
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 13 – SUBGRUPO CM

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 12. Voltar para a listagem de grupos e selecionar o grupo de grafemas de


contato:

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UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 14 – SELECIONAR GRAFEMAS DE CONTATO

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 13. No subgrupo dos contatos: clicar, arrastar e soltar os grafemas necessários:

192
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 15 – GRAFEMAS DE CONTATO

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 14. Voltar para a lista de grupos e clicar no grupo de grafemas de movimento,


posto ao lado D do grupo de grafemas de contato:
• 15. Selecionar o subgrupo de grafemas de movimento:

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UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 16 – SELEÇÃO DE SUBGRUPO GRAFEMA DE MOVIMENTO

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 16. Clicar, arrastar e soltar o grafema necessário no local específico dentro da


tela de escrita:

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TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 17 – INSERÇÃO DE GRAFEMAS DE MOVIMENTO SIMULTÂNEO

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 17. Clicar em Adicionar ao SignPuddle, botão destacado na imagem anterior.


• 18. Selecionar dicionário de Libras.
• 19. Adicionar ao dicionário as informações de termos e pessoa que inseriu no
dicionário, é importante saber que o sistema faz diferença entre a procura por
termos com iniciais maiúsculas ou minúsculas, por isso, colocar de preferência
com minúscula inicial:

195
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 18 – INSERÇÃO NO DICIONÁRIO

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

• 20. Pronto, a palavra já faz parte do dicionário de Libras e pode ser pesquisada
tanto pela escrita ortográfica quanto pelos grafemas que a compõem:

196
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

FIGURA 19 – PESQUISA ORTOGRÁFICA LINGUAGEM FALADA

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

Todos os verbetes relacionados a esta palavra aparecerão em uma lista,


basta selecionar a palavra ou expressão específica e os sinais vinculados a ela:

197
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FIGURA 20 – VERBETES VINCULADOS À PALAVRA PESSOA

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)

Para copiar o sinal basta clicar com o botão D do mouse ou touch e


selecionar, na janela aberta, copiar imagem, após, basta colocar no programa de
edição de texto que você for usar.

FIGURA 21 – ES PESSOA SELEÇÃO PARA CÓPIA

FONTE: SignBank.org (2019, s.p.)


198
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

NOTA

Nem sempre é fácil saber a qual grupo pertencem as CMs quando precisamos
escrever, por isso, é importante que você consulte as tabelas de CM utilizadas na Libras e
que foram colocadas na Unidade 1 deste livro didático.

4 ESCRITA DE CLASSIFICADORES

Escrita de Classificadores

Segundo Barreto e Barreto (2015), os classificadores são fenômenos


linguísticos que acontecem em algumas línguas orais e nas línguas de sinais. Eles
são recursos da língua que permitem ao usuário classificar, indexar ou agrupar
substantivo ou verbos de modo a juntar sua forma, uso, ação ou outro tipo de
reelaboração que possa aglutiná-los em um único sinal, tornando a sinalização
mais fluida e eficiente. Isso porque:

Nas LS, “o conceito de classificador diz respeito aos diferentes modos


como um sinal é produzido, dependendo das propriedades físicas
específicas do referente que ele representa. [...] como seu tamanho e
forma, ou seu comportamento ou movimento, o que confere grande
flexibilidade denotativa e conotativa nos sinais” (CAPOVILLA;
RAPHAEL; MAURÍCIO, 2012 apud BARRETO; BARRETO, 2015, p.
241, grifo nosso).

Essa junção ou agrupamento, ainda segundo Barreto e Barreto (2015),


acarreta a necessidade de utilização de diferentes grafemas para cada parâmetro
fonológico. Além disso, os autores também destacam o uso do grafema de tensão
para indicar a mão que fica parada durante a realização do classificador.

A escrita e a leitura dos classificadores pressupõem uma compreensão


de como são utilizados na sinalização essas formações complexas de sinais, pois,
nem sempre serão encontrados no SignPuddle e dependerão da proficiência de
leitura para depreensão de seu sentido. Uma dica importante é observar quais
os elementos gráficos que fazem parte da escrita e tentar perceber quais as
possibilidades de aglutinação de sinais que poderiam, ao se juntar, dar origem
a essa sinalização específica. Exatamente por representarem uma classificação/
indexação que estes sinais acabam sendo mais complexos do que os sinais simples,

199
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

tanto na escrita quanto para a leitura. Observe os seguintes exemplos da escrita


de classificadores (BARRETO; BARRETO, 2015):

Segurar cachorro pela corrente Menino subir árvore

Carro amassou muito Carro passando por várias ruas

5 REGRAS ORTOGRÁFICAS

Regras de Escrita Correta

De acordo com Barreto e Barreto (2015), a iconicidade das Línguas de


Sinais faz com que as regras ortográficas sejam adquiridas a partir do contato
com a ES. Porém, isso ocorre em todas as línguas, tanto é que o estudo das regras
ortográficas é dado em LP como o estudo da Morfologia dentro da Gramática
da língua. Ou seja, não é uma característica apenas do uso das línguas de sinais,
porque “regras ortográficas, na escrita de qualquer língua, nascem de forma
natural mediante o uso de sua escrita” (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 136).

Mesmo assim, é interessante observarmos algumas regras gerais


importantes, retiradas de Stumpf (2005), Barreto, Barreto (2015) e Wanderley (2012):

• Stumpf (2005), Barreto e Barreto (2015) destacam que o princípio geral é que os
grafemas de contato sempre devem ser escritos pois, “a posição do contato é o

200
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

centro do sinal escrito, e os símbolos de movimento e contato estão relacionados


a este centro” (STUMPF, 2005, p. 63).

FIGURA 22 – COMPARATIVO ENTRE A ESCRITA CORRETA


E A INCORRETA DO SINAL DE ENCONTRAR

FONTE: Adaptado de Stumpf (2005, p. 63)

Observe que, na primeira forma, o contato entre as Configurações de Mão


são o foco da ES; já na segunda forma, o sinal fica muito extenso e o foco se perde.
Stumpf (2005, p. 64) também explica que:

Posições de contato são importantes porque elas reforçam o


significado do sinal. Os olhos focalizam a posição de contado quando
estamos lendo. Isto foi comprovado em um grupo de surdos adultos
que são especialista em SignWriting (Deaf Action Commitee DAC),
e descobriram que quando a posição de contato não foi focalizada
os leitores liam os sinais escritos muito devagar e com dificuldades,
mas quando os sinais foram escritos juntos focalizando a posição de
contato eles foram lidos rapidamente e com mais facilidade. Quando
escrevemos a Posição de Contato também criamos sinais escritos
menos extensos e mais compactos, ocupando assim menos espaço nos
parágrafos.

Dessa forma, as posições de contato são aspectos relevantes para a leitura


correta e ágil em ES, bem como para uma organização espacial mais enxuta.

• Ainda sobre a escrita dos grafemas de contato, Barreto e Barreto (2015) declaram
que eles nunca devem ficar entre a CM e a parte tocada, mas próximos ao ponto
de contato, observe os seguintes exemplos:

FIGURA 23 – EXEMPLOS DE ORTOGRAFIA DO SINAL DE CONTATO

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015, p. 136-137)

201
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

Observe que os grafemas indicativos de contato estão localizados próximos


ao local de ocorrência, mas não entre os grafemas de CM, como demonstram os
exemplos com erros ortográficos. Contudo, Barreto e Barreto (2015) chamam a
atenção para as situações em que ocorrem mais de dois contatos em Pontos de
Articulação próximos que indicam repetição de movimento e, por isso, podem
ser escritos entre a CM e a região tocada, mas essas são grafias de exceção. Como
exemplos podem ser observados os seguintes sinais (BARRETO; BARRETO,
2015, p. 137):

• De acordo com Barreto e Barreto (2015), o uso de grafemas de contato


dispensa, na maior parte das vezes, a escrita das setas de movimento, pois seria
redundante escrever os dois grupos de grafemas, tendo em vista que, para
tocar, é indispensável mover-se na direção da Locação/Ponto de Articulação
(exemplo do sinal de TAMBÉM), da mesma maneira, se ocorreu o movimento
na direção que encosta na mão e a seta de movimento foi escrito, não é necessário
colocar o grafema de contato (exemplo, TOCAR A CAMPAINHA). Como saber
quando usar cada uma acabará sendo algo que se fixará com o uso da ES e o
seu estudo da escrita e leitura de sinais pelo Sistema SW. Observe os exemplos
citados anteriormente.

FIGURA 24 – GRAFIA CORRETA DOS SINAIS DE TAMBÉM E TOCAR A CAMPAINHA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 137)

• Todos os sinais em que houver toque entre as partes do corpo deverá ter o
grafema indicativo de toque (*), ele poderá ser suprimido apenas quando for
possível escrever as CMs juntas. Contudo, o grafema de toque nunca pode ser
omitido quando estiverem envolvidas outras partes do corpo na sinalização,
porque, no momento em que não forem escritos grafemas de tocar junto a
uma parte do corpo isso indicará proximidade e não toque, o que pode trazer
mudança de significado ou ambiguidade para o sinal (BARRETO; BARRETO,
2015, p. 148):

202
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

Observe que na escrita dos sinais de ALDEIA e MORAR o grafema de


contato indicando toque foi suprimido sem acarretar problemas na compreensão
de que as CMs se encostam na palma (ALDEIA) e nas pontas dos dedos (MORAR);
já na escrita de PIRÂMIDE foi necessário colocar o grafema indicando que os
dedos, dedões abertos, se tocam, mas não foi preciso indicar o grafema de toque
das pontas dos dedos porque isso fica claro na escrita das CMs juntas na parte
superior do sinal. Sinais em que o contato é feito entre as mãos e partes do corpo
(BARRETO; BARRETO, 2015, p. 148-149):

Dono, Diretor Garganta Bom amigo, amicíssimo Silêncio

Observe que, nesses sinais, o contato é feito entre a mão e lateral da


cabeça (DONO), a garganta (GARGANTA), o peito (BOM-AMIGO) ou a boca
(SILÊNCIO) do sinalizante.

• Quando ocorrem dois contatos, os grafemas de tocar nunca devem ser omitidos
(BARRETO; BARRETO, 2015, p. 148):

• No caso de sinais realizados com as duas mãos tocando a frente do rosto,


não é necessário escrever o sinal de tocar, nem os semicírculos de Ponto de
Articulação, por uma questão de economia de espaço e porque o significado é
o mesmo, ocorrendo ou não o toque (BARRETO e BARRETO, 2015, p. 149):

• “Simetria: caso as duas mãos se movam na produção de um sinal, então


determinadas restrições aparecem, a saber: a CM deve ser a mesma para as
duas mãos, a locação deve ser a mesma ou simétrica” (WANDERLEY, 2012,
203
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

p. 142). Isso quer dizer que, tanto na escrita quanto na própria sinalização,
quando as duas mãos se movem em um percurso para produzir um único
sinal é necessário que as CMs e as locações sejam iguais ou semelhantes.
Como exemplo, podemos observar os exemplos de FAMÍLIA, DOIS CARROS
ANDANDO LADO A LADO, SAIR MUITA GENTE CONSTRUIR. Observe os
seguintes exemplos:

Família Dois carros andando Sair muita gente Construir


lado a lado

Observe que nos três primeiros sinais a locação é a mesma e, no último, é


simétrica.

Quando apenas uma das mãos se move, essa simetria destacada por
Wanderley (2012) não acontece, percebemos isso em AJUDAR:

Ajudar

Nesse sinal, a mão D é colocada sobre a palma da mão E, sendo apenas a


mão E movimentada para frente, ou seja, a mão D vai junto apenas porque está
apoiada sobre a palma da mão E, não porque também se movimenta.

6 PONTUAÇÃO NA ESCRITA DE SINAIS

Pontuação na Escrita de Sinais

Assim como a escrita das línguas orais, é necessário que existam grafemas
de pontuação que indiquem as pausas, as inserções, as trocas entre assuntos
e os demais aspectos que aparecem numa conversação ao vivo e têm impacto
sobre a organização frasal e o sentido do texto. “Os grafemas de pontuação são

204
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

usados quando escreve-se [sic] sentenças ou textos. Visualmente, distinguem dos


utilizados na Língua Portuguesa, por exemplo, mas têm significados semelhantes”
(BARRETO; BARRETO, 2015, p. 77). Ou seja, os grafemas de pontuação na ES têm
uma forma gráfica diferente dos grafemas utilizados em LP, mas mesmo objetivo:
organizar e estruturar os textos de modo a registrar o mais claramente possível
aquilo que está sendo sinalizado.

Barreto e Barreto (2015, p. 157) destacam que:

Do ponto de vista prático, cada um dos grafemas de pontuação


exige específicas alterações nos elementos não manuais. Isto inclui:
mudanças na postura do corpo, na direção do olhar, numa expressão
facial diferente, numa pequena pausa ou longa pausa ao terminar uma
frase etc. Este processo é semelhante ao que ocorre nas Línguas Orais.
A pontuação registra pausas e entonações de nossa fala.

Assim, os grafemas nas línguas de sinais demarcarão as alterações


que indicam diferentes elementos não sinalizados especificamente, mas
utilizados como a entonação do texto e na estruturação compreensiva, ou seja, o
entendimento do que está sendo sinalizado também depende das pausas, trocas
de turno, inserções e demais elementos que aparecem num discurso oral e são
importantes para a estruturação textual.

A seguir, foi elaborado um quadro a partir das compreensões propostas


por Barreto e Barreto (2015), observe que o traçado é mais longo e um pouco mais
espesso que aqueles referentes às partes do corpo:

QUADRO 1 – SINAIS DE PONTUAÇÃO EM ES

GRAFEMA USO EQUIVALÊNCIA


Indica uma pausa mais longa na
enunciação, demonstra o término de uma
sentença que está completa. .
Traço final

Indica listagem de itens semelhantes e


troca de turno numa conversação.
:
enunciação

Indica uma pausa curta, usado entre


os elementos de uma listagem ou para
intercalação de informações. “Usar este
,
grafema nos ajuda a separar visualmente
Pausa curta
uma ideia da outra” (BARRETO;
BARRETO, 2015, p. 185)
Deve ser usado sempre em conjunto com
expressões não manais e estruturações
?
frasais específicas para a elaboração de
interrogação
sentenças interrogativas.

205
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

Indicam uma interrupção e troca


de postura durante a sinalização
para explicar, destacar ou dizer algo
necessário naquele momento antes de
( )
retornar ao tema principal da conversa.
Parênteses Facilita e simplifica a ES porque evita
a necessidade de registro de todas as
alterações na postura do sinalizante.

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015)

No texto a seguir, são utilizados quase todos os grafemas de pontuação,


faltando apenas o de enunciação que pode ser observado no subtópico 6 (Práticas
de Leitura).

TEXTO 1 – VOCÊ CONHECE A LÍGIA?

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 283)

Tradução: sábado passado encontrei Lígia (mulher surda, alta, cabelo


cacheado, amiga de Sávio, conhece?) parecia muito triste, sabe qual o motivo?

Observe que aparecem duas perguntas: uma encaixada entre parênteses


em que a pessoa que está falando pergunta ao interlocutor se ele sabe quem é Lígia
após fazer uma listagem de características da pessoa; e a sentença principal, que
também é uma pergunta, em que o sinalizante quer saber se o interlocutor sabe
qual o motivo da tristeza de Lígia. Assim, a pontuação estruturou o encaixe de
sentenças de modo a deixar claro no texto qual a ordem e o encaixe das sentenças.

206
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

E
IMPORTANT

Sobre a formação das sentenças em Libras você pode consultar o Livro


Didático de Sintaxe da Libras, nele estão as características e formações específicas quanto
à organização e estruturação de cada um dos tipos de sentenças.

7 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a Leitura

Do mesmo modo que nos subtópicos anteriores, agora acompanharemos a


continuação da conversa entre os amigos de Sávio e seus amigos sobre o acidente
sofrido por um outro amigo de Alan. Neste acidente, o amigo de Alan amassou
muito seu carro novo.

A história de Sávio e seus amigos foi retirada do livro Escrita de sinais sem
mistério, de Madson e Raquel Barreto. Para este livro didático, desde a Unidade
1, foram adaptados o tamanho do texto, a forma de apresentação dos sinais
no glossário e, além disso, foi inserida a tradução para a Língua Portuguesa. É
importante lembrar que toda a tradução é uma versão para a outra língua, não
sendo possível transpor sem serem feitas as alterações necessárias. Também cabe
perceber que os sinais utilizados nos textos ao longo deste livro vão se acumulando
de modo a facilitar a memorização e compreensão da ES usada na prática.

Boa leitura, não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles. A seguir serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência direta e completa entre duas ou
mais línguas.

207
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

7.1 TEXTO

Texto

TEXTO 2 – MEDO DE ACIDENTE

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 176-177)

208
TÓPICO 1 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS

7.2 GLOSSÁRIO

7.3 TRADUÇÃO

Tradução

Nós todos ficamos muito preocupados enquanto dirigíamos. O meu amigo


está bem, mas o carro ficou muito amassado. Sílvio respondeu que, depois disso,
Alan ficou com medo de dirigir na chuva. Ivan respondeu que isso é mentira,
porque Alan tem medo porque viu que o carro do amigo amassou muito. Alan
levantou-se e disse: — Desculpe, vou ao banheiro.

209
RESUMO DO TÓPICO 1

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• Mesmo os usos simplificados da língua escrita seguem padrões que permitem


a sua leitura pelos demais usuários da língua.

• Também na escrita das Línguas de Sinais pelo sistema SW existem formas


adequadas de realizar o registro das mais diferentes situações de uso da língua
de sinais.

• A escrita padrão é aquela em que todos os elementos utilizados para a feitura


do sinal, os fonemas das línguas de sinais, deverão ser escritos.

• Tanto a ES quanto a Escrita Alfabética pressupõem formas de se “construir”


a palavra a partir dos elementos mínimos de articulação, seja essa articulação
feita com o aparelho fonador ou com o corpo do falante.

• Na escrita simplificada são eliminados os símbolos de contato de forma a


deixar mais ágil a escrita à mão em SW.

• É preciso ser proficiente em Escrita de Sinais pelo Sistema SW para se


compreender um sinal apenas a partir de elementos essenciais de escrita dele.

• Uma das características mais importantes da escrita é a sua possibilidade de


ser feita em diferentes suportes físicos ou digitais.

• Os classificadores são fenômenos linguísticos que acontecem em algumas


línguas orais e nas línguas de sinais.

• As posições de contato são aspectos relevantes para a leitura correta e ágil em


ES, bem como para uma organização espacial mais enxuta.

• Todos os sinais em que houver toque entre as partes do corpo deverá ter o
grafema indicativo de toque (*).

• Quando ocorrem dois contatos, os grafemas de tocar nunca devem ser omitidos.

• Os grafemas de pontuação na ES têm uma forma gráfica diferente dos grafemas


utilizados em LP, mas mesmo objetivo.

210
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 Segundo Stumpf (2005), as etapas do percurso de aprendizagem da escrita


simplificada, apresentadas nesse caderno de estudos são as seguintes:

1. Literatura em Escrita de Sinais


2. Escrita de uma história em SW padrão
3. Escrita da SW padrão
4. Escrita simplificada

Agora, marque a alternativa que apresenta a CORRETA sequência dessas etapas:


a) ( ) 4, 3, 2 e 1.
b) ( ) 3, 2, 1 e 4.
c) ( ) 3, 4, 1 e 2.
d) ( ) 3, 1, 2 e 4.
e) ( ) 4, 3, 1 e 2.

2 De acordo com as compreensões propostas por Barreto e Barreto (2015) sobre


os sinais de pontuação em ES apresentados no tópico um, dessa unidade,
relacione, de forma correta, Coluna I – Grafema à Coluna II – Equivalência:

Coluna I Coluna II

(1) ( ) ,
(2) ( ) .
(3) ( ) ( )
(4) ( ) :
(5) ( ) ?

Marque a alternativa que apresenta a correta numeração da Coluna II:


a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1.
b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4.
c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5.
d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4.
e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2.

211
3 Observe os sinais de pontuação utilizados no seguinte trecho da Introdução
do livro “SER”, de Kácio de Lima Evangelista:

Trecho da introdução do livro “Ser”

Tradução: é com grande alegria, emoção e orgulho que apresento a


você este livro que é o primeiro livro de poemas em Libras a ser publicado.
Porém, antes de iniciar sua leitura algumas coisas precisam ser explicadas.

A Libras é a língua da comunidade surda brasileira. A Lei n° 10.436/2002


e o Decreto n° 5.626/2005 só foram possíveis graças a luta dessa comunidade
pelo reconhecimento de sua língua [...] (EVANGELISTA, 2018, p. 13).

Leia as afirmações feitas sobre os sinais do trecho anterior:

I- Os sinais 2 e 3 são traços finais de sentença.


II- O sinal 3 é equivalente a uma vírgula na pontuação das línguas orais.
III- O sinal 1 indica pausa curta na sinalização para intercalar informações.
IV- O sinal 4 indica a introdução de um parêntese.
V- Nesse trecho de texto não é utilizado o sinal de interrogação.

212
Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?
a) ( ) I, III e V.
b) ( ) II, IV e V.
c) ( ) III, IV e V.
d) ( ) I, IV e III.
e) ( ) I, III e IV.

213
214
UNIDADE 3
TÓPICO 2

TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

1 INTRODUÇÃO

Introdução

Até aqui, foram estudados os aspectos gramaticais, estruturais, de registro


e grafológicos da Escrita de Sinais pelo Sistema SignWriting. Assim, vimos as
normas e estruturas para que você, acadêmico, possa utilizar a ES para a escrita
e a leitura da Libras.

Além disso, este livro didático também se apresenta como um material de


consulta dos grafemas utilizados em ES, dos materiais de referência e do uso do
SignPuddle Online para escrita em ES e busca de vocábulos em LP e por grafema
em ES.

Neste tópico, serão discutidos os aspectos relevantes quanto ao


conhecimento da Literatura como modo de construção cultural e identitária
dos sujeitos, também são estudadas as noções de Periodicidade Literária para a
literatura em geral, bem como da teoria literária como campo de estudos.

2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA
NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA
Assim como a escrita é de extrema importância para o registro do
conhecimento acumulado pela humanidade ao longo do tempo, ela também
tem o papel de guardar as histórias, os sonhos, as piadas, as recriações e as
manifestações culturais dos povos. De acordo com Costa e Ribeiro (2018, p. 101)

Além disso, as produções literárias desses [dos] sujeitos podem


viabilizar o entendimento acerca de um determinado tempo histórico,
pois a expressão literária pode ser tomada como uma forma de
representação social e histórica, sendo testemunha excepcional de
uma época, pois se constitui em um produto sociocultural, um fato
215
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

estético e histórico, que representa as experiências humanas, os


hábitos, as atitudes, os sentimentos, as criações, os pensamentos, as
práticas, as inquietações, as expectativas, as esperanças, os sonhos e
as questões diversas que movimentam e circulam em cada sociedade
e tempo histórico.

Assim, essas manifestações relacionadas ao imaginário de um povo


são parte daquilo que é denominado Literatura e são de extrema importância
histórica, como forma de se conhecer aquilo que os povos contavam e como o
seu imaginário era e como se desenvolveu ao longo do tempo, por exemplo, sem
livros como a Ilíada e a Odisseia, de Homero, muito daquilo que sabemos sobre
as crenças, histórias e cultura grega teria se perdido ao longo dos séculos.

Além desse papel, a literatura também se estende como um modo de


continuidade, manutenção e transmissão da cultura de um povo, como as lendas
e histórias de cada região que permeiam as narrativas das pessoas que vivem
nesses lugares, fazendo parte daquilo que constitui a própria cultura, logo, a
identidade de cada um dos indivíduos que estão inseridos naqueles espaços e
se reconhecem a partir daquelas narrativas. Dessa forma, a literatura é o meio
através do qual os indivíduos podem se identificar com as personagens, observar
aquilo que aconteceu, vivenciar os sentimentos dos autores e compreender como
o imaginário se desenvolveu em sua cultura ou na cultura dos demais povos. De
acordo com Barreiros (2010, p. 2):

As representações se fazem em processo de comunicação por meio da


linguagem, sendo assim, a literatura é campo fértil para a performance
desses procedimentos, permitindo aos críticos e leitores [escritores]
construírem significações. A língua como instrumento de comunicação
entre os indivíduos traduz as representações sociohistóricas e culturais
de uma sociedade.

Desse modo, como manifestação e concretização da linguagem, a literatura


é o lugar em que os estudiosos, os leitores e os escritores se encontram através
do texto para a construção e reconstrução de significados. Assim, é por meio da
língua que os modos de compreensão dos processos históricos e culturais da
sociedade se encontram a fim de se reorganizarem num processo de construção e
reconstrução permanente do simbólico.

A grande diferença entre a literatura e a escrita técnica é que o fazer literário


está mais voltado às formas de narrar, aos modos de contar uma história ou
vivenciar um sentimento que, pelo registro escrito ou pela história oral, passaram
entre as pessoas da comunidade, se manteve no horizonte do imaginário coletivo
e, ao mesmo tempo, individual. No momento em que os indivíduos têm acesso
aos bens culturais acumulados pelo seu povo, eles (re)organizam suas visões de
mundo e suas representações da realidade, e ao mesmo tempo em que interpretam
são interpretados nas e pelas diferentes narrativas.

Quando nos referimos ao povo surdo, essas construções das narrativas


individuais permeadas pela escrita ganham os contornos das discussões feitas
sobre os povos ágrafos, aqueles que mantêm uma cultura literária oral e passada
216
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

de geração em geração, mas sem o registro escrito. Ao falar acerca das publicações
sobre/para os surdos, Karnopp (2010, p. 18):

As publicações sobre os surdos e a língua de sinais são raras. No


entanto, as histórias são contadas e circulam na língua de sinais, que
repassa, de uma geração para outra, os valores, o orgulho de ser surdo,
os feitos dos líderes surdos, as histórias de vida e as dificuldades de
participação em uma sociedade ouvinte. Desse modo, a literatura surda
é, num certo sentido, uma tradição “em sinais” e é, eventualmente,
registrada em filmes ou vídeos. Outras formas de registro são as
traduções das histórias para a língua escrita do país, por exemplo,
as histórias que são contadas na língua de sinais brasileira e que são,
posteriormente, traduzidas para a escrita da língua portuguesa.

Assim, os elementos culturais relacionados à cultura surda são registrados


em diferentes suportes, pois partem de uma perspectiva de interação específica
que, até então, não tinham uma forma de registro que tivesse as características
que fazem com que o registro escrito se mantenha na sociedade de mesmo modo
que a Literatura do país, a não ser que também fosse feita a escrita na língua
majoritária.

Porém, ao mesmo tempo em que a literatura em LP não está diretamente


relacionada às expressões da cultura surda, é necessário refletir sobre a questão
de que a cultura da língua majoritária, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa,
também permeia as expressões, as compreensões de mundo e as representações
das identidades surdas, pois “[...] a produção literária pode oferecer elementos
próprios de uma determinada sociedade ou cultura, considerando que tais
elementos são representações, muitas vezes não diretas, que são apresentadas
mediante o ponto de vista do outro” (BARREIROS, 2010, p. 2).

Assim, do mesmo modo que a Literatura Portuguesa permeia os períodos


iniciais das expressões artísticas brasileiras, também as narrativas ouvintes
permeiam as histórias surdas e as histórias surdas estão cada vez mais presentes
nas narrativas ouvintes. Além disso, é necessário destacar a forma como cada
período histórico se manifesta nas produções artísticas literárias de cada época.

DICAS

O site da TV INES apresenta vários vídeos interessantes em Libras sobre


aspectos culturais, linguísticos e literários especificamente feitos para o público surdo.
Neste vídeo indicado a seguir, o apresentador faz um apanhado geral sobre autores
literários brasileiros a partir das esculturas presentes no Rio de Janeiro que servem de
gancho para a discussão de diferentes autores relacionados à Literatura Brasileira. Vale a
pena assistir!

217
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FRAME VÍDEO SOBRE LITERATURA BRASILEIRA DA TVINES

FONTE: TVINES (2017)

3 A LITERATURA EM LP E A REPRESENTATIVIDADE SURDA


No estudo literário da Língua Portuguesa, as obras são divididas em
períodos que abarcam o conjunto das obras que tiveram um contexto histórico de
surgimento semelhante e cujas obras literárias apresentam caraterísticas comuns
que permitem a compreensão de que determinado acontecimento histórico
desembocou em um tipo de texto, de personagem ou de peculiaridade que
auxiliam na delimitação dos períodos literários da Literatura Brasileira.

Ao mesmo tempo que a literatura em LP é estudada, classificada e


compreendida através de seus autores e obras que permaneceram através da
escrita, as manifestações artísticas surdas ou sobre histórias surdas aconteciam
na clandestinidade, nos sinais trocados de modo escondido e nas narrativas
sinalizadas na clandestinidade. Isso acontecia porque a maioria dos materiais

218
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

publicados eram sobre a surdez e não para ou feitos pelos surdos. Isso apenas
ficou ainda pior após o Congresso de Milão (11 de setembro de 1880) com a
proibição da sinalização e a ênfase oralista, cada vez menos esta “voz” surda teve
espaço para ser ouvida. Sobre a visão oralista da surdez, Costa e Ribeiro (2018, p.
101) destacam que:

É importante salientar que o oralismo apregoava que a única forma


de salvar o surdo seria através do uso da fala, pela restauração da
audição, pois, se ela fosse restaurada, a fala também o seria (Perlin
e Strobel, 2008). Essa visão curativa da surdez – segundo a qual os
surdos eram vistos como deficientes, e o problema da surdez e suas
consequências estavam ligadas ao próprio surdo – prevaleceu por
muito tempo, sendo incentivada e estimulada por muitos educadores.

Dessa maneira, com a obrigatoriedade do oralismo, a surdez é vista como


algo a ser curado e não uma característica de um povo com cultura, representações
e percepções próprias que deveriam ser valorizadas e registradas de alguma
forma. Nessa visão de surdez como falta de algo, as manifestações literárias
produzidas pelos surdos não puderam ser sequer pensadas ou desenvolvidas,
pois a sinalização era proibida, o oralismo obrigatório. Assim, praticamente toda
a manifestação artística surda permaneceu “oral”, ou seja, só sinalizada, e ágrafa,
sem uma forma de escrita específica.

Mesmo após a diminuição da visão oralista, já no século XX, ainda muitas


das representações dos surdos na literatura eram sobre eles e com uma visão que
tinha a personagem surda como alguém que precisava ser curada, ou o famoso,
“mudinho” das histórias, uma visão que permeia até hoje as compreensões da
sociedade num geral sobre a surdez. Karnopp (2010, p. 172) destaca que:

Nem todos os livros que apresentam personagens surdos ou que


tematizam a surdez fazem parte da literatura surda. O trabalho
de análise do registro de histórias verificou que alguns dos livros
produzidos referem o uso da língua de sinais, mas descontextualizado
do pertencimento a uma comunidade de surdos. Representações de
surdos ligadas à ideia de superação ou de compensação da surdez
estão presentes em alguns dos materiais analisados.

Logo, mesmo com alguma presença em obras escritas, os surdos


permanecem sendo retratados como aqueles cuja falta de algo precisa ser
superada, assim, a representatividade ainda não dava voz nem vez ao próprio
surdo para se expressar de forma autônoma. Isso, em grande parte, também está
relacionado aos suportes necessários para a manutenção do registro em momentos
assíncronos, ou seja, em que as pessoas não estão no mesmo tempo e espaço de
enunciação. Com um livro isso é possível, mas como fazer com que a sinalização
seja também colocada em um suporte tão prático, durável e barato quanto esse?

Ao longo do tempo, vários sistemas de notação e de escrita foram criados


e estudados, concomitantemente, a evolução tecnológica permitiu a gravação e
a reprodução das mais diferentes sinalizações em DVDs e, posteriormente, pela

219
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

internet. Atualmente, a ES pelo Sistema SW tem sido cada vez mais utilizada
para comunicação e desenvolvimento de uma Literatura Surda, contudo, ainda
existem barreiras quanto ao acesso amplo à escrita, à alfabetização e aos materiais
em SW. Mesmo assim, Karnopp (2010, p. 8) destaca que:

Além da escrita, outras formas de documentação, como filmagens,


são fundamentais para o registro de formas linguísticas que vão se
perdendo ou se transformando. Para uma comunidade de surdos
manter o leque de possibilidades artísticas e expressões da língua de
sinais, os registros visuais são indispensáveis na criação de bibliotecas
visuais e podem contribuir para uma escrita posterior, com traduções
apropriadas.

Assim, obras literárias surdas, segundo a autora, necessitam de diferentes


modos de registro e armazenamento para que as mais variadas formas de
possibilidades artísticas sejam contempladas e possam colaborar para a criação
de bibliotecas que permitam os mais diversos estudos literários, para, talvez, se
chegar a uma relação de autores e obras que possam ser estudados em conjunto
com aqueles presentes na periodização da Literatura Brasileira.

TUROS
ESTUDOS FU

No próximo tópico, serão estudadas as características da Literatura Surda e


algumas das obras disponíveis.

DICAS

Está disponibilizado no site Passei Web um quadro-resumo muito bom


sobre os Períodos Literários da Literatura Brasileira, com referências ao período histórico,
características, autores e obras, é possível verificarmos em: https://www.passeiweb.
com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/portugues/literatura_brasileira/estilos_literarios/
cronologia_quadro.

220
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

4 TEORIA LITERÁRIA COMO CAMPO DE ESTUDO

Teoria Literária

A Teoria Literária é o campo de estudos das questões teóricas sobre as


diferentes manifestações literárias, partes envolvidas no processo de leitura e
escrita, gêneros literários, o papel social da literatura, as formas como as obras
impactam a sociedade, os modos como elas retratam as relações sociais e tudo o
mais que estiver envolvido na produção, recepção e vivência literária. Além disso,
a Teoria Literária também se ocupa de perceber o que caracteriza uma obra de
arte literária, quais as características da recepção e como esse texto terá impacto
na sociedade de sua época e nas posteriores, na relação estabelecida entre autor,
leitor, obra e o momento histórico de escrita dela. Segundo Morais (2010, p. 111):

Os estudos literários discorrem sobre literatura de diversos modos.


Pelo menos o consenso mediante todo estudo literário, qualquer que
seja sua finalidade, é a questão inicial da significação que o estudo
literário produz ou não de seu objeto, ou seja, o texto literário.
Compagnon aborda a impossibilidade de discorrer sobre a questão do
que seja, para o estudo literário, explícita ou tacitamente, a literatura,
sem que se considere a relação entre o texto literário com a intenção, a
realidade, a recepção, a língua, a história e o valor.

Assim, a literatura é pensada como uma manifestação vívida que vai sendo
modificada ao longo de sua caminhada como obra de arte literária, inclusive
discutindo o que faz das obras literárias ou não. O objeto de estudo da Teoria
Literária é o texto literário e as entidades que se manifestam e se relacionam
através dele, ou seja, a obra, o autor e o leitor. Dessa maneira, a Teoria Literária é
o campo de estudos que aborda as discussões sobre as obras literárias e o conceito
de literatura; o conceito e o papel do autor em relação à obra e o leitor; bem como
conceitua, discute e repensa o leitor.

Para os estudos de Literatura Surda, a Teoria Literária como campo de


estudos é muito interessante para as discussões sobre o que são obras literárias
na perspectiva da surdez, como essas obras se estruturam, quais as relações de
autoria que impactam na recepção da obras literárias para o público surdo e feita
pelo público surdo, assim como as discussões sobre a formação de leitores surdos
dentro de uma perspectiva em que esse público está inserido em um entre-lugar
em que, ao mesmo tempo, vivem inseridos em uma sociedade ouvinte com língua
majoritariamente oral-auditiva e fazem parte de uma cultura e uma identidade
surda que também entrecruza e permeia este indivíduo.

221
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

Interessante saber que os estudos literários sobre a surdez aos quais


tivemos acesso ainda estão na fase inicial de levantamento e análise de obras
sem uma intepretação teórica vinculada aos estudos literários. Porém, este, com
certeza, será um dos próximos passos quanto ao desenvolvimento, compreensão
e balizamento da Literatura Surda como obra de arte literária.

DICAS

Para iniciar os estudos de Teoria Literária, recomendamos a leitura da coletânea


de textos sobre a Estética da Recepção, uma das vertentes da Teoria Literária que estuda
as formas como o autor e o leitor se relacionam através da obra de arte e como ela altera
e é alterada pela visão do leitor.

CAPA DO LIVRO A LITERATURA E O LEITOR, DE LUIZ COSTA LIMA

FONTE: LIMA (2002)

5 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a Leitura

Sávio e seus amigos seguem conversando no restaurante em que Lígia


trabalha, nesta parte da narrativa, ele apresenta os amigos que Lígia não conhece
e todos fazem seus pedidos de comida e bebida à Lígia.

222
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

Observe que nesse trecho da história temos o uso do recurso de indicação


do sinal pessoal das personagens seguido da soletração dactilogógica, algo que
estudamos nas unidades anteriores. Também é interessante notar a importância
do uso da pontuação para marcar, no texto, a troca de turno durante a conversação
e a feitura dos pedidos pelas diferentes personagens envolvidas na conversa
com Lígia. Observe também que, na tradução do texto, podem ser observadas as
diferenças estruturais para a delimitação de um diálogo entre o trecho em ES e a
versão feita em LP.

Boa leitura! Não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles. A seguir, serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência direta e completa entre duas ou mais
línguas. Vale relembrar que esta história foi adaptada do livro Escrita de sinais sem
mistério, de Madson e Raquel Barreto.

5.1 TEXTO

Texto

223
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

TEXTO 4 – PEDIDOS NO RESTAURANTE

224
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

FONTE: Barreto e Barreto (2015, p. 189-187)

225
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

5.2 GLOSSÁRIO

5.3 TRADUÇÃO

Tradução

Lígia veio em direção a Sávio para conversar com ele e perguntou o nome
de seus amigos. Sávio respondeu apontando:

226
TÓPICO 2 | TEORIA E PERIODICIDADE LITERÁRIA

— À esquerda está o Sílvio; à frente, o Ivan; à direita, o Alan.

Lígia respondeu:

— Alan eu conheço, os outros dois, não. Sejam bem-vindos ao restaurante.


Eu me chamo Lígia, Sávio é meu amigo há muitos anos. Nos conhecemos quando
começamos a estudar juntos no INES. Nós crescemos juntos, mas eu me mudei
para cá quando tinha 15 anos e fiquei muito triste por me distanciar de Sávio. Por
isso, estou muito feliz por novamente vê-lo.

Depois disso, Lígia deu o cardápio para os quatro. Os quatro conversaram


e Sílvio respondeu para ela:

— Nós queremos uma tábua de carne, batata e queijo e para beber eu


quero um suco de laranja.

Alan disse:

— Eu quero um refrigerante de uva.

Sávio disse:

— Eu quero de cupuaçu.

Ivan disse:

— Eu quero um suco de laranja.

Lígia anotou os pedidos e saiu para prepará-los.

227
RESUMO DO TÓPICO 2

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• A literatura é o meio através do qual os indivíduos podem se identificar com


as personagens, observar aquilo que aconteceu, vivenciar os sentimentos dos
autores e compreender como o imaginário se desenvolveu em sua cultura ou
na cultura dos demais povos.

• É através da língua que os modos de compreensão dos processos históricos e


culturais da sociedade se encontram a fim de se reorganizarem num processo
de construção e reconstrução permanente do simbólico.

• Os elementos culturais relacionados à cultura surda são registrados em


diferentes suportes, pois partem de uma perspectiva de interação específica.

• Ao mesmo tempo que a literatura em LP é estudada, classificada e


compreendida através de seus autores e obras que permaneceram através da
escrita, as manifestações artísticas surdas ou sobre histórias surdas aconteciam
na clandestinidade.

• Mesmo após a diminuição da visão oralista, já no século XX, ainda muita das
representações dos surdos na literatura eram sobre eles e com uma visão que
tinha a personagem surda como alguém que precisava ser curada.

• Mesmo com alguma presença em obras escritas, os surdos permanecem sendo


retratados como aqueles cuja falta de algo precisa ser superada.

• Atualmente, a ES pelo Sistema SW tem sido cada vez mais utilizada para
comunicação e desenvolvimento de uma Literatura Surda.

• A literatura é pensada como uma manifestação vívida que vai sendo modificada
ao longo de sua caminhada como obra de arte literária, inclusive discutindo o
que faz das obras literárias ou não.

• A Teoria Literária é o campo de estudos que aborda as discussões sobre as


obras literárias e o conceito de literatura; o conceito e o papel do autor em
relação à obra e o leitor; bem como conceitua, discute e repensa o leitor.

228
• Para os estudos de Literatura Surda, a Teoria Literária como campo de estudos
é muito interessante para as discussões sobre o que são obras literárias na
perspectiva da surdez.

• Interessante saber que os estudos literários sobre a surdez aos quais tivemos
acesso ainda estão na fase inicial de levantamento e análise de obras sem uma
intepretação teórica vinculada aos estudos literários.

229
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 De acordo com o estudo sobre teoria e periodicidade literária do tópico dois,


analise as sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) É através da língua que os modos de compreensão dos processos históricos


e culturais da sociedade se encontram a fim de se reorganizarem num
processo de construção e reconstrução permanente do simbólico.
( ) Os elementos culturais relacionados à cultura surda são registrados em um
único suporte, pois não partem de uma perspectiva de interação específica.
( ) A literatura é pensada como uma manifestação vívida que vai sendo
modificada ao longo de sua caminhada como obra de arte literária,
inclusive discutindo o que faz das obras literárias ou não.
( ) A Teoria Literária é o campo de estudos que aborda as discussões sobre as
obras literárias e o conceito de literatura; o conceito e o papel do autor em
relação à obra e o leitor; bem como conceitua, discute e repensa o leitor.
( ) Para os estudos de Literatura Surda, a Teoria Literária como campo
de estudos não é interessante para as discussões sobre o que são obras
literárias na perspectiva da surdez.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V - V - F - F.
b) ( ) F - F - V - V - V.
c) ( ) F - V - V - F - V.
d) ( ) V - F - F - V - V.
e) ( ) V - F - V - V - F.

2 Assim como a escrita é de extrema importância para o registro do


conhecimento acumulado pelas pela humanidade ao longo do tempo,
ela também tem o papel de guardar as histórias, os sonhos, as piadas, as
recriações e as manifestações culturais dos povos.

I- As manifestações relacionadas ao imaginário de um povo, não são parte


daquilo que é denominado Literatura e não possuem importância histórica.
II- A literatura também se estende como um modo de continuidade,
manutenção e transmissão da cultura de um povo, como as lendas e
histórias de cada região que permeiam as narrativas das pessoas que vivem
nestes lugares, fazendo parte daquilo que constitui a própria cultura.
III- A literatura é o meio através do qual os indivíduos podem se identificar com
as personagens, observar aquilo que aconteceu, vivenciar os sentimentos
230
dos autores e compreender como o imaginário se desenvolveu em sua
cultura ou na cultura dos demais povos.
IV- Quando nos referimos ao povo surdo, estas construções das narrativas
individuais permeadas pela escrita, ganham os contornos das discussões
feitas sobre os povos ágrafos, aqueles que mantêm uma cultura literária
oral e passada de geração em geração, mas sem o registro escrito.
V- Do mesmo modo que a Literatura Portuguesa permeia os períodos iniciais
das expressões artísticas brasileiras, também as narrativas ouvintes
permeiam as histórias surdas e as histórias surdas estão cada vez mais
presentes nas narrativas ouvintes.

Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I, II, III e V.
c) ( ) II, III, IV e V.
d) ( ) I, III, IV e V.
e) ( ) I, II, IV e V.

3 Devido às dificuldades de desenvolvimento e acesso a uma Literatura Surda,


quais ações poderiam ser realizadas para uma mudança dessa situação?

231
232
UNIDADE 3
TÓPICO 3

LITERATURA SURDA

Literatura Surda

1 INTRODUÇÃO

Introdução

No tópico anterior, discutimos o modo como as manifestações artísticas


literárias são expressões importantes tanto da individualidade como da
coletividade de um povo e participam da construção da identidade. Pois, ao
mesmo tempo em que a Literatura carrega os valores de cada época ela também
proporciona o encontro entre os diferentes pensamentos, aspirações e percepções
imagética e ficcionais de cada época.

Além disso, também vimos alguns dos aspectos sobre a periodização


literária em LP e a representatividade das manifestações surdas, bem como os
elementos históricos que contribuíram para que a Cultura e, consequentemente,
a Literatura Surda se manifestasse de modo clandestino. Também discutimos
sobre as diferenças entre aquilo que é escrito sobre os surdos e pelos surdos, além
das formas de inserção dos personagens surdos nas histórias com o intuito de
reforçar as visões que tratam o surdo como alguém que necessita de tratamento e
solução para uma visão de surdez como deficiência e falta de algo. Por fim, vimos
como a Teoria Literária pode contribuir para as discussões necessárias para as
delimitações necessárias ao desenvolvimento de um aporte literário e teórico de
Literatura Surda.

233
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

Neste tópico, serão estudadas algumas das características da Literatura


Surda em Libras e SignWriting, também serão apresentadas algumas das obras
escritas em Libras/SW, bem como teceremos considerações acerca das pesquisas
em ES e, por fim, serão apontados caminhos futuros para os estudos em Literatura
Surda.

2 LITERATURA EM LIBRAS/ESCRITA DE SINAIS

Literatura em ES

Inicialmente, vejamos a definição feita por Karnopp (2010, p. 171, grifo


nosso) sobre os textos que fazem parte da Literatura Surda:

A literatura surda está relacionada com a cultura surda. A literatura da


cultura surda, contada na língua de sinais de determinada comunidade
linguística, é constituída pelas histórias produzidas em língua de sinais
pelas pessoas surdas, pelas histórias de vida que são frequentemente
relatadas, pelos contos, lendas, fábulas, piadas, poemas sinalizados,
anedotas, jogos de linguagem e muito mais. O material, em geral,
reconta a experiência das pessoas surdas, no que diz respeito, direta
ou indiretamente, à relação entre as pessoas surdas e ouvintes, que
são narradas como relações conflituosas, benevolentes, de aceitação
ou de opressão do surdo.

Dessa maneira, assim como qualquer representação literária, a Literatura


Surda tem relação com a cultura surda e é composta por diferentes manifestações
que carregam as histórias de uma comunidade linguística surda inserida num
contexto ouvinte, por isso, as interrelações e as tensões entre essas duas realidades
linguísticas que aparecem fazem parte das histórias e relatos dos surdos e, em
menor escala, das histórias da comunidade ouvinte.

É necessário compreendermos que devido aos aspectos decorrentes


dessa interrelação entre surdos e ouvintes, a Literatura Surda tem uma forma
de manifestação diferente da Literatura Ouvinte. Pois, quando falamos em
Literatura Brasileira, por exemplo, pensamos nos livros escritos em LP e que
estão organizados dentro de um grupo de autores e obras reconhecidos pelos
estudiosos como pertencentes àquilo que se delimita como a produção literária
do Brasil.
234
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

Entretanto, quando falamos em Literatura Surda, é necessário compreender


que fazem parte dela muito mais do que textos escritos em LP por surdos/
ouvintes sobre surdos ou textos escritos em ES, pois relação próxima com a LP
e as peculiaridades específicas da Libras e fazem com que diferentes suportes,
versões, traduções e imagens também façam parte do grupo de obras vinculadas
à Literatura Surda. Sobre este assunto, Karnopp (2008, p. 6) declara que:

As produções culturais de pessoas surdas envolvem, em geral, o


uso de uma língua de sinais, o pertencimento a uma comunidade
surda e o contato com pessoas ouvintes, sendo que esse contato
linguístico e cultural pode proporcionar uma experiência bilíngue a
essa comunidade. Neste sentido, além da escrita da língua de sinais,
a escrita da língua portuguesa, também faz parte do mundo surdo,
indispensável aos surdos brasileiros para a escolarização, a defesa
dos seus interesses e cidadania. Pode-se pensar que a escrita pode
contribuir para a destruição da riqueza em sinais; mas a escrita, por
si só, não é necessariamente um fator contrário, já que pode-se [sic]
pensar na escrita como a busca por tradução das raízes culturais,
associada a outras formas de arte, como teatro e vídeo.

Assim, a Literatura Surda e a Literatura ouvinte fazem parte do processo


cultural do sujeito surdo envolvido neste contexto híbrido em que as identidades
surdas e ouvintes estão relacionadas culturalmente.

A seguir, abordaremos brevemente alguns dos tipos de texto vinculados


à Literatura Surda:

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, neste livro didático abordaremos apenas os aspectos básicos


quanto à Literatura Surda porque, você tem ao longo do curso uma disciplina inteiramente
voltada a esses estudos. Assim, aqui a ideia é apenas fazer um breve apanhado geral sobre
algumas das produções em SW.

• LITERATURA INFANTIL:

Literatura Infantil
235
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

A Literatura Infantil em Literatura Surda abarca as narrativas que


procuram destacar os caminhos possíveis para a autorrepresentação dos surdos
e as construções identitárias da comunidade “[...] legitimando sua língua, suas
formas de narrar as histórias, suas formas de existência, suas formas de ler,
traduzir, conceber e julgar os produtos culturais que consomem e que produzem”
(KARNOPP; HESSEL, 2009, p. 12). Dessa forma, os:

[...] livros infantis de literatura escritos com SignWriting são as


histórias e ensinamentos fundamentais da cultura surda como artefato
do contexto cultural do ambiente linguístico em Libras para serem
aplicados em casa e/ ou na escola, despertando nas crianças surdas a
importância dos valores linguísticos da escrita de sinais. Esses livros
de literatura [...] trazem grandes aprendizagens envolvendo ricas
informações (BARBOSA, 2017, p. 30).

Assim, os livros infantis têm como objetivo a continuidade da luta e


dos valores vinculados à cultura surda e aos aspectos linguísticos específicos
que caracterizam as Línguas de Sinais. Ou seja, elementos que caracterizam as
vivências linguísticas surdas. A seguir, apresentamos um quadro retirado de
Barbosa (2017) que apresenta várias produções literárias infantis vinculadas à
Literatura Surda:

QUADRO 2 – LIVROS INFANTIS EM SW

N° Livros escritos no sistema SignWriting


01 BOLDO, J.; OLIVEIRA, C. E. A cigarra surda e as formigas. Erechim, RS: CORAG, 2004.
CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua
02
de Sinais Brasileira, Volumes: I e II. São Paulo: EDUSP, 2001.
KUCHENECKER, L. G. O feijãozinho Surdo. Tradução para escrita da língua de sinais:
03
SILVA, E. V. L. e; LARA, A. P. G. Canoas/RS: Editora da ULBRA, 2009.
04 RIBEIRO, S. D. Taboão da Serra: Casa da Cultura Surda, 2006.
05 RIBEIRO, S. N. Taboão da Serra: Casa da Cultura Surda, 2006.
06 RIBEIRO, S. O menino, o pastor e o lobo. Taboão da Serra: Casa da Cultura Surda, 2006.
07 RIZZI, A. Manoelito: O palhaço tristonho. Porto Alegre: E. do Autor, 2009.
08 RIZZI, A. Maonoelito: Sol e as ovelhas. Porto Alegre: E. do Autor, 2011.
SILVEIRA, C. H.; ROSA, F. S.; KARNOPP, L. B. Cinderela Surda. Canoas/RS: Editora da
09
ULBRA, 2003.
SILVEIRA, C. H.; ROSA, F. S.; KARNOPP, L. B. Rapunzel 31 Surda. Canoas/RS: Editora
10
da ULBRA, 2003.
STROBEL, K. Uma menina chamada Kauana. Tradução: STUMPF, M. R.; COSTA, A. C.
11
R. da. Rio de Janeiro: FENEIS, 1997.

FONTE: Barbosa (2017, p. 30-31)

236
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

TUROS
ESTUDOS FU

Na Leitura Complementar desta unidade, você terá acesso ao texto completo


do livro Uma menina chamada Kauana.

• POESIA

Poesia

O fazer poético em LS é semelhante ao uso da língua para expressão de


emoções e exploração de recursos linguísticos feitos em outras línguas, segundo
Karnopp (2008, p. 16):

Assim como em outras línguas, a poesia em língua de sinais explora


os recursos linguísticos para obter efeitos estéticos. A forma como os
poemas são organizados, bem como os sentidos que se abrem a partir
disso, fazem uma quebra com a forma que a linguagem é utilizada no
cotidiano. Os poemas podem estar mais próximos ou mais distantes do
uso que se faz com a língua de sinais no cotidiano, em geral, fazendo
uma ruptura com a regularidade e tornando as formas linguísticas
completamente criativas e novas. Há um uso criativo de configurações
de mão, movimentos, locações e expressões não manuais. O poema se
abre para múltiplas interpretações e construções de sentidos.

Dessa maneira, a poesia vai se utilizar de formas criativas para expressar os


sentimentos do poeta, para exemplificar esses usos destacados pela autora foram
escolhidos o título e um dos poemas do livro Ser, de Kácio de Lima Evangelista.
Observe o título à esquerda e o poema à direita no texto a seguir:

237
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

TEXTO 5 – TÍTULO DO LIVRO SER E POEMA COMUNIDADE, DE KÁCIO DE LIMA EVANGELISTA

FONTE: Evangelista (2018, p. 21)

Com relação ao título, pode ser percebido que a ES para o sinal de SER foi
escrita do mesmo tamanho que a palavra em LP colocada ao seu lado, além disso,
observe que a palavra SER é escrita a partir da ES referente ao sinal de surdo
em ES. Assim, de um lado a ES de SER deixa claro que essa é uma obra literária
vinculada à comunidade surda, pois apenas as Línguas de Sinais utilizam a
Escrita de Sinais, então o título poderia ser traduzido como “Ser surdo”; no outro
lado temos uma escrita da palavra SER pelo sistema alfabético, mas a imagem
das letras é construída a partir da escrita de sinais da palavra SURDO, mantendo
a ideia de que o título é “Ser surdo”, apresentada graficamente pela junção da
escrita alfabética e a escrita de sinais.

No que diz respeito à “COMUNIDADE”, observe que a imagem maior é


um rosto feliz em que, ao olharmos de perto, é formado por uma linha circular
composta pela ES do sinal de SURDO, já os olhos são formados pela ES de LIBRAS
e a boca pelo sinal de OUVINTE. Nessa interpretação, vários significados são
possíveis, por exemplo, os surdos e os ouvintes se comunicando através da Libras
formam um conjunto feliz. Porém, como toda a poesia, é apenas possível uma
compreensão da poesia e uma tentativa de uma das infinitas versões possíveis,
posto que a poesia mobiliza com criatividade, inovação e uma infinidade de
possíveis significados.

Essas manifestações poéticas em ES lembram as poesias concretas em LP,


aquelas em que os poetas utilizam as palavras de modo a formar uma imagem
que traz significados diferentes daquilo que está escrito e exploram, assim como
a poesia exemplificada anteriormente, a construção de imagens para a geração de
sentidos diferentes. Observe o poema de Augusto de Campos:

238
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

FIGURA 25 – POESIA LIXO/LUXO, DE AUGUSTO DE CAMPOS

FONTE: <https://joserosafilho.files.wordpress.com/2016/04/luxoxlixo_thumb.
jpg?w=539&h=353>. Acesso em: 12 dez. 2019.

Nesse caso, a palavra luxo está escrita de forma a escrever a palavra lixo,
trazendo um sentido oposto e transformando completamente o sentido inicial
das palavras utilizadas.

DICAS

No site SigWritign.org (http://www.signwriting.org/brazil/) existe uma área


específica com diferentes materiais em ES da Libras, vale a pena conhecer!

• PROSA: com relação aos livros e contos para adultos, foram encontrados
apenas traduções de textos clássicos da Literatura Brasileira para a Libras
disponibilizados em DVD bilíngue com a escrita em LP e a sinalização em
Libras, uma demonstração do conto A cartomante, de Machado de Assis, está
disponível no endereço: https://editora-arara-azul.com.br/site/produtos/
detalhes/51.

QUADRO 3 – TEXTOS DE LITERATURA BRASILEIRA TRADUZIDOS PARA A LIBRAS

239
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

FONTE: Karnopp (2008, p. 10)

3 PESQUISA EM ESCRITA DE SINAIS

Pesquisa

Mesmo sendo um sistema relativamente recente de escrita para as


Línguas de Sinais, a ES via SW já é utilizada por muitos países (no site SignBank.
org estão cadastrados os dicionários em ES de 83 línguas). Isso acontece porque
ela se mostrou clara, intuitiva e adaptável às notações fonológicas, sintáticas e
semânticas que as Línguas de Sinais necessitam para sua escrita.

A Escrita e Leitura em ES estão num processo de uso, divulgação e


conhecimento ainda inicial e, aos poucos, as diferentes comunidades surdas estão
tendo acesso a ela. Por isso, a divulgação e estudo sobre os textos em ES via SW
são necessários. Além disso, também é importante a divulgação das pesquisas
que tratam sobre a Literatura em ES, mas também aquelas pesquisas que são
escritas, em parte, em ES e que criam um caminho a partir do qual o conhecimento
acadêmico também estará acessível para os surdos através da escrita diretamente
em Língua de Sinais. Por enquanto, são encontradas pesquisas sobre o uso da ES
que usam parcialmente a ES junto a sua tradução em LP. Por ser uma referência
no ensino acadêmico em e sobre Libras, a UFSC tem um repositório de Trabalhos
de Conclusão de Curso, Dissertações e Teses extremamente importante como
base legítima de estudos, o endereço do site é: https://repositorio.ufsc.br/.

Como indicação de trabalhos, acompanhe a seguir um quadro adaptado de


Barreto e Barreto (2015) com um apanhado interessante sobre algumas pesquisas
sobre Literatura Surda, além disso, nas referências deste Livro Didático estão as
pesquisas que serviram de base para sua escrita e seus respectivos endereços
eletrônicos na web:

240
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

QUADRO 4 – PESQUISAS SOBRE LITERATURA SURDA

Autor Título Comentário Disponível


Ribas A interface do Considera que os elementos mais https://repositorio.
(2008) ambiente virtual de representativos da cultura surda ufsc.br/
ensino-aprendizagem são a Língua de Sinais e sua escrita. handle/123456789/91765
do curso Letras Pois esta permite estudos aplicados
Libras segundo às LS e o acesso à cultura escrita da
as características população surda.
da cultura surda
e os critérios de
usabilidade.
Segala Tradução intermodal Reconhece que a ELS, a gravação https://repositorio.
(2010) e intersemiótica/ de vídeos e até mesmo a Língua ufsc.br/
interlingual: Português Portuguesa têm contribuído com handle/123456789/94582
brasileiro escrito para o desenvolvimento da cultura
a Língua Brasileira de surda, pois anteriormente os
Sinais. surdos comunicavam-se apenas
presencialmente e de forma síncrona.
Ao falar do campo da tradução,
o autor menciona o SW enquanto
forma de escrita da Libras.
Santana Fronteiras literárias: Analisa a literatura, as experiências https://repositorio.
(2010) experiências e e performances dos tradutores e ufsc.br/
performances dos intérpretes, aponta a importância do handle/123456789/94032
tradutores e intérpretes SignWriting na produção literária
de Libras em Libras, além do uso de vídeos.
Morais Tecido na Língua de Demonstra a importância da Escrita https://repositorio.
(2010) Sinais: B-R-A-N-C-A de Sinais na produção literária ufsc.br/xmlui/
D-E N-E-V-E E O-S em LS no Brasil. Enfatiza que são handle/123456789/94466
S-E-T-E A-N-Õ-E-S inúmeros ganhos, dentre os quais
a perpetuação do conhecimento e
vivências, e reflexão sobre a vida e a
própria língua.

FONTE: Adaptado de Barreto e Barreto (2015)

4 ENCAMINHAMENTOS FUTUROS NO CAMPO


DE ESTUDOS EM LITERATURA SURDA
Como vimos até aqui, os estudos em Literatura Surda estão em fase de
levantamento de autores e obras, ainda numa relação mais vinculada aos tipos
de textos desenvolvidos, ainda sem uma organização literária mais sólida que
permita o estudo comparativo entre autores e obras, bem como entre as diferentes
obras publicadas e suas fases históricas. Quanto ao papel da Literatura, Karnopp
(2008, p. 7) afirma que:

Contar histórias é um hábito tão antigo quanto a civilização. Contar


histórias é um ato que pertence a todas as comunidades: comunidades
indígenas, comunidades de surdos, entre outras. Contar histórias,
piadas, episódios em línguas de sinais pelos próprios surdos é um
hábito que acompanha a história das comunidades surdas. Cabe,

241
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

então, coletar as narrativas que surgem nessas comunidades, para que


não desapareçam com o tempo.

O costume de contar histórias faz parte de todos os povos e todas as


realidades linguísticas, porém, quando o registro não é feito estas manifestações
textuais ficam dependendo apenas da transmissão oral/sinalizada síncrona, ou
seja, com os dois elementos envolvidos na enunciação presentes num mesmo
momento de comunicação. Por isso, a autora enfatiza a necessidade de coleta e
armazenamento das narrativas que surgem nas comunidades surdas.

A partir dos materiais estudados para a elaboração deste livro didático,


que foram brevemente abordados nesta seção final da Unidade 3, podemos
concluir que os estudos, as pesquisas e os esforços para delimitar, compreender e
valorizar a Literatura Surda a partir da perspectiva dela como campo de estudos
poderão se desenvolver a partir dos seguintes objetivos:

• Fomentar o ensino da escrita e a leitura em ES.


• Coletar e organizar cronologicamente as manifestações textuais surdas.
• Delimitar um corpus de autores e obras.
• Comparar os materiais disponíveis para elencar as características das diferentes
produções literárias surdas.
• Estabelecer um histórico das manifestações artísticas textuais surdas.
• Reconhecer o papel da Literatura Surda como manifestação cultural de uma
parcela importante dos brasileiros.
• Realizar um paralelo entre os estudos literários feitos em relação à LP e os
estudos literários para a Literatura Surda, como foi feito em relação aos estudos
linguísticos das línguas orais e das línguas de sinais.
• Estabelecer as diferenças e semelhanças entre os elementos literários referentes
à literatura ouvinte e à literatura surda.

Obviamente, essas são apenas algumas das possibilidades de encaminhamentos


futuros para o campo de estudos em Literatura Surda, pois a literatura, assim como as
gentes, tem infinitos caminhos para pesquisas e estudos na área.

5 PRÁTICA DE LEITURA

Exercitar a Leitura

242
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

Nessa parte da história, saberemos as notícias do avô de Sávio, pois Lígia


está muito preocupada com o amigo e vai fazer uma visita à casa dele quando
sabe, por Alan, que o avô de Sávio teve que ser levado ao hospital. Nesta parte da
história, acompanharemos a visita que ela faz e a conversa entre os amigos.

Esse é o último tópico deste livro, por isso, apenas acompanharemos a


história de Sávio até este ponto. Porém, a história continua no livro Escrita de
sinais sem mistério, de Madson e Raquel Barreto, logo, para saber mais sobre Sávio
você deverá consultar este material de referência.

Boa leitura, não esqueça de fazer suas anotações, repetir a escrita dos
sinais e retomar a escrita deles. A seguir, serão apresentados o texto, o glossário e
a tradução do texto para LP. Porém, tenha em mente que uma tradução é sempre
uma versão, pois não existe correspondência direta e completa entre duas ou
mais línguas.

5.1 TEXTO

Texto

243
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

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TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

5.2 GLOSSÁRIO

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UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

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TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

5.3 TRADUÇÃO

Tradução

Sávio quer muito ser inteiramente responsável pelo seu avô. Lígia estava
preocupada com a saúde do avô do amigo, por isso, foi visitar a casa de Sávio. Ele
ficou surpreso com a visita e disse:

— Você está com o cabelo cacheado bonito.

Lígia respondeu:

— Obrigada.

Sávio convidou Lígia para ver o seu avô, ela o abraçou e perguntou:

— Tudo bem?

O avô de Sávio respondeu:

— Tudo bem.

Lígia perguntou para Sávio:



— O que aconteceu com seu avô?

Sávio respondeu para ela:

— Sábado eu acordei, levantei-me e, ao caminhar pela casa, achei tudo


vazio. Fui até o quarto do meu avô e encontrei ele deitado na cama com uma febre
muito alta. Por isso, mandei um SMS pedindo ajuda ao Alan. Ele me ajudou a
levar meu avô de carro para o hospital. Depois disso, meu avô ficou melhor.

Lígia falou:

— Ivan falou para mim que seu avô estava no hospital e eu fiquei muito
preocupada porque o seu avô já é idoso.

Sávio ficou com fome e Lígia o ajudou a preparar a comida, os três


almoçaram. Depois, o avô de Sávio foi para quarto se deitar. Sávio continuou
conversando com Lígia e contou que estava com saudades de sua família em
Minas Gerais. Além disso, estava com vontade de voltar para casa. Lígia disse

249
UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

que estava com sede e Sávio teve a ideia de fazer um suco de laranja, Lígia gostou
da ideia.

Lígia ficou surpresa quando viu que já era seis horas da tarde:

— Amanhã tenho que trabalhar pela manhã.

Sávio o abraçou e agradeceu pela visita:

— Eu fiquei feliz porque você veio aqui.

Lígia colocou a bolsa no ombro e foi abraçar o avô de Sávio:

— Adeus, espero que você fique muito bem.

O avô respondeu:

— Obrigado e adeus.

TUROS
ESTUDOS FU

A seguir, na Leitura Complementar, será apresentado na íntegra a história


Uma menina chamada Kauana, escrita pela professora surda Karin Strobel e publicada em
1995 pela FENEIS, esse foi o primeiro livro infantil escrito por uma surda traduzido para a ES
em Libras por Marianne Stumpf e Antônio Costa. Observe que a escrita de sinais ainda está
em linhas e não em coluna como atualmente, além disso, alguns sinais estão escritos de
modo diferente do que utilizamos hoje, desse modo, esse é um material muito importante
não apenas como documento histórico do uso da ES no Brasil, mas, como todo o texto
de uma língua viva (em constante modificação), é um rico registro da evolução da língua
e das alterações que ocorreram nestes mais de 20 anos.

250
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

LEITURA COMPLEMENTAR

UMA MENINA CHAMADA KAUANA

Karin Strobel

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UNIDADE 3 | REGISTRO ESCRITO EM ESCRITA DE SINAIS E LITERATURA SURDA

252
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA

FONTE: STROBEL, K. L. Uma menina chamada Kauana. Belo Horizonte: FENEIS, 1995. Traduzido
da Língua Portuguesa para a Escrita de Sinais de Libras por STUMPF, M. R.; COSTA, A. C. R. 1997.
Disponível em: https://signwriting.org/library/children/uma/uma.html. Acesso em: 18 nov. 2019.

253
RESUMO DO TÓPICO 3

Resumo

Neste tópico, você aprendeu que:

• A Literatura Surda tem relação com a cultura surda e é composta por diferentes
manifestações que carregam as histórias de uma comunidade linguística surda
inserida num contexto ouvinte.

• A Literatura Surda e a Literatura ouvinte fazem parte do processo cultural do


sujeito surdo envolvido neste contexto híbrido em que as identidades surdas e
ouvintes estão relacionadas culturalmente.

• A Literatura Infantil em Literatura Surda abarca as narrativas que procuram


destacar os caminhos possíveis para a auto representação dos surdos e as
construções identitárias da comunidade.

• O fazer poético em LS é semelhante ao uso da língua para expressão de emoções


e exploração de recursos linguísticos feitos em outras línguas.

• Mesmo sendo um sistema relativamente recente de escrita para as Línguas de


Sinais, a ES via SW já é utilizada por muitos países.

• O costume de contar histórias faz parte de todos os povos e todas as realidades


linguísticas, porém, quando o registro não é feito estas manifestações textuais
ficam dependendo apenas da transmissão oral/sinalizada síncrona.

254
AUTOATIVIDADE

Exercícios

1 De acordo com o estudo sobre Literatura Surda do Tópico 3, analise as


sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas.

( ) A Literatura Surda tem relação com a cultura surda e é composta por


diferentes manifestações que carregam as histórias de uma comunidade
linguística surda inserida num contexto ouvinte.
( ) A Literatura Surda tem uma forma de manifestação idêntica da Literatura
Ouvinte.
( ) A Literatura Surda e a Literatura ouvinte fazem parte do processo cultural
do sujeito surdo envolvido neste contexto híbrido em que as identidades
surdas e ouvintes estão relacionadas culturalmente.
( ) A Literatura Infantil em Literatura Surda nunca abarca as narrativas que
procuram destacar os caminhos possíveis para a auto representação dos
surdos e as construções identitárias da comunidade.
( ) O fazer poético em LS é semelhante ao uso da língua para expressão de
emoções e exploração de recursos linguísticos feitos em outras línguas.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V - V - F - F.
b) ( ) F - F - V - V - V.
c) ( ) F - V - V - F - V.
d) ( ) V - F - F - V - V.
e) ( ) V - F - V - F - V.

2 A Escrita e Leitura em ES estão num processo de uso, divulgação e


conhecimento ainda inicial e, aos poucos, as diferentes comunidades surdas
estão tendo acesso a ela. Baseado nisso, disserte sobre ações necessárias para
divulgação e estudo sobre os textos em ES via SW:

3 A partir dos temas que foram abordados nesta unidade, podemos concluir
que os estudos, as pesquisas e os esforços para delimitar, compreender e
valorizar a Literatura Surda a partir da perspectiva dela como campo de
estudos poderão se desenvolver a partir dos seguintes objetivos:

I- Fomentar o ensino da escrita e a leitura em ES.


II- Coletar e organizar cronologicamente as manifestações textuais surdas.

255
III- Comparar os materiais disponíveis para elencar as características das
diferentes produções literárias surdas.
IV- Não reconhecer o papel da Literatura Surda como manifestação cultural de
uma parcela importante dos brasileiros.
V- Realizar um paralelo entre os estudos literários feitos em relação à LP e os
estudos literários para a Literatura Surda, como foi feito em relação aos
estudos linguísticos das línguas orais e das línguas de sinais.

Dentre estas afirmações, quais estão corretas?


a) ( ) Apenas I, II, III e IV.
b) ( ) Apenas I, II, III e V.
c) ( ) Apenas II, III, IV e V.
d) ( ) Apenas I, III, IV e V.
e) ( ) Apenas I, II, IV e V.

256
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