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Obras Públicas Sustentáveis no Brasil:

realidade ou marketing político?

Com o desenvolvimento das metrópoles e seus impactos na sociedade a


questão da sustentabilidade ganha espaço para discussão nas mais diversas
atividades econômicas do país. Construção sustentável é considerada como
um novo conceito que surgiu dentro da engenharia civil, que tem como objetivo
tornar as construções mais ecológicas com intuito de torna-las mais baratas, e,
apesar de ainda representar apenas 2% do mercado da construção civil, o
cenário da arquitetura sustentável tem ganhado cada vez mais força.

O objetivo do desenvolvimento sustentável é ser ecologicamente correto,


economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito, de forma
que, caso os quatro pilares não trabalhem em conjunto, não há
sustentabilidade. Podemos conceituar a sustentabilidade como ações e
gestões sustentáveis que visem o cuidado com o meio ambiente. São ações
humanas que tragam artifícios para suprir as necessidades dos seres
humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Sua função é
despertar o cuidado e a busca de soluções que possam minimizar as ações
das mudanças climáticas e ambientais causadas pela ação predatória do
homem (NORO et al., 2009). Araújo (2005, p. 1) define como construção
sustentável um sistema construtivo que tem como objetivo servir às
necessidades das edificações, do homem e de habitação, porém sem deixar de
lado e preservando o meio ambiente e os recursos naturais, assegurando
qualidade de vida para todas as pessoas e futuras gerações.

O desenvolvimento de uma nação sustentável também é dever do poder


público, e está previsto pela Constituição Federal e na Instrução Normativa
01/2010, que baseada na Lei nº 8.666/93, estabelece de maneira mais clara os
critérios aos quais uma obra pública deve atender para que seja considerada
sustentável. A noção de sustentabilidade deve estar presente desde o estudo
de viabilidade técnica, escolha do terreno, definição do programa de
necessidades e concepção arquitetônica. A Administração Pública, que através
de suas obras contribui diretamente para o aumento da degradação ambiental,
se encontra na obrigação de elaborar políticas públicas que visem à
sustentabilidade de suas construções.

Embora ainda haja muito que fazer para nossas cidades serem
consideradas, de fato, sustentáveis, a gestão de alguns municípios já deu
passos importantes rumo à sustentabilidade, graças às suas obras públicas,
programas ou espaços urbanos inteligentes. Em parte dos projetos, tecnologias
sustentáveis, mobiliários e equipamentos adequados ou “soluções verdes”
permitiram uma melhor mobilidade, mais qualidade de vida e a diminuição de
resíduos, sendo os grandes responsáveis por levar um novo conceito às
cidades. Segundo Corrêa (2009) a incorporação de práticas sustentáveis na
construção de obras, tanto públicas quanto particulares, está sendo vista como
uma tendência que a cada dia cresce no mercado, sendo seu uso um caminho
sem volta, pois os governos, consumidores, investidores e associações estão
sempre em alerta, onde são estimulados e pressionados ao mesmo tempo para
a incorporação das práticas da sustentabilidade dentro das obras minimizando
o impacto ao meio ambiente e economia para a obra.

Outro fator que influencia diretamente na questão da sustentabilidade é


que a preocupação com questões que envolvem meio ambiente,
sustentabilidade e conscientização ambiental, de modo geral, vem ganhando
cada vez mais espaço na sociedade mundial. A mudança de paradigmas,
aliado a um público mais exigente e com informações mais globalizadas, levou
a aplicação de melhores práticas nas novas construções de edifícios e na
readequação de imóveis já existentes. Esse movimento de melhora construtiva,
busca da prática de ações sustentáveis e o anseio da população por bem-
estar, ajudou a persuadir a mudança de concepção a nível dos governantes ao
pensarem suas cidades e bairros, dando maior ênfase na qualidade de vida
das pessoas e no desenvolvimento sustentável local.

Desta forma, pode-se entender que, embora o termo “Construção


Sustentável” já tenha sido muito utilizado como forma de marketing político,
hoje, o cenário já apresenta sinais que uma mudança real de conceitos e
preocupações. Os anseios da população em geral que, através de um
movimento cultural e globalizado, busca cada vez mais informações, e tem
interesse por um consumo mais sustentável, tanto de produtos, alimentos,
vestuário, habitações seguras, confortáveis e que tenham durabilidade e gerem
pouca manutenção e gastos durante a vida útil da construção, impulsiona uma
cobrança de maior e melhor atuação dos gestores.

Aliada a isso, a evolução nas legislações atuais que dispõe sobre o


assunto, prevê uma atuação mais eficiente e eficaz das Administrações
Públicas. Pode-se perceber uma tendência de profissionais técnicos envolvidos
nas obras públicas em se atentarem mais a importância e necessidade de que
sejam implantadas ações a curto e longo prazo que corroborem para projetos e
obras economicamente viáveis e socialmente sustentáveis. Com isso as obras
públicas sustentáveis, que já são uma realidade no Brasil, tendem a crescer
cada vez mais. O desenvolvimento de políticas públicas que tenham mais
atenção ao compromisso com o meio ambiente e a qualidade de vida da
população é uma tendência mundial, o que colabora ainda mais para um
crescimento constante da aplicação de conceitos sustentáveis.

No entanto, para que esse crescimento aconteça, além da necessidade


de as políticas públicas que visam o desenvolvimento sustentável ser
abrangente, é importante que haja uma maior atenção à indústria da
construção civil, pois historicamente essa tem sido reconhecida como alta
consumidora de recursos e geradora de resíduos. É importante se difundir o
tema relacionado à sustentabilidade na construção civil e buscar uma sinergia
entre todos os envolvidos no setor, através da conscientização e educação das
pessoas influentes do mercado de construção, como empreendedores,
construtores, engenheiros e arquitetos. É necessário que mais estudos sejam
desenvolvidos a fim de suprir a ausência de informação sobre os benefícios
ambientais e financeiros associados à adoção de soluções sustentáveis,
sobretudo no campo das obras públicas, dado o volume de recursos naturais
empregados e o impacto causado por soluções que não levam em
consideração a sustentabilidade, muitas vezes mais baratas e menos atraentes
ao construtor/ empreiteiro. Além disso, se faz necessário uma melhora nos
processos integrados de construção de edifícios, minimizando custos
adicionais, reduzindo os impactos ambientais, projetando assim uma forma
sustentável de se construir.
Melhorar a sustentabilidade significa melhorar os processos em todos os
setores, sendo que os processos produtivos são uma estratégia vital para
conseguir manter os recursos naturais para o futuro, baseando-se em utilizar
energias renováveis, tecnologias limpas e, principalmente, proteger o meio
ambiente.

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