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“Não queremos só bons

arquitetos, engenheiros,
médicos, mas cidadãos com
empatia.”, afirmou José Alves de Freitas
Neto, coordenador do
vestibular da Unicamp
“Mas quem é que sabe
como? Viver... o senhor
já sabe: viver é
etcétera...”

“O correr da vida
embrulha tudo, a vida é
assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois
desinquieta. O que ela
quer da gente é Guimarães Rosa
coragem.“
“Eu falo:
português, alemão, francês, inglês, espanhol, italia
no, esperanto, um pouco de russo;
leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o
dicionário agarrado); entendo alguns dialetos
alemães; estudei a gramática: do húngaro,
do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês,
do tupi, do hebraico, do japonês, do checo,
do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um
pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho
que estudar o espírito e o mecanismo de outras
línguas ajuda muito à compreensão mais profunda
do idioma nacional. Principalmente, porém,
estudando-se por divertimento, gosto e distração.”
SOBRE O AUTOR
 Médico, diplomata, membro da ABL ;
 Pertence à terceira geração modernista

 Linguagem musical, através de regionalismos,


arcaísmos, neologismos, estrangeirismos e
coloquialismos.

 Manifestação estilística

 SERTÃO DE MINAS GERAIS


Contexto – 3ª geração 1945-1960

Período menos conturbado em relação às outras duas


gerações.
Em 1945 termina o Estado Novo (1937-1945) que fora
implementado pela ditadura de Getúlio Vargas.
Fim da segunda guerra mundial e do sistema totalitário do
Nazismo.
Tem início a Guerra Fria (Estados Unidos e União Soviética)
e a Corrida Armamentista.
Características – 3ª fase
 Academicismo;
 Passadismo e retorno ao passado;
 Oposição à liberdade formal;
 Experimentações artísticas (ficção experimental);
 Realismo fantástico (contos fantásticos);
 Retorno à forma poética (valorização da métrica e da
rima);
 Influência do Parnasianismo e Simbolismo;
 Inovações linguísticas e metalinguagem;
 Regionalismo universal;
 Temática social e humana;
 Linguagem mais objetiva.
Prosa Modernista
 Modernismo no Brasil = três gerações. Prosa = tipo de
texto mais explorado na terceira fase.

Prosa Urbana
 A principal caraterística da prosa urbana é sua
ambientação nos espaços da cidade, em detrimento do
campo e do espaço agrário. Nesse estilo destaca-se a
escritora Lygia Fagundes Telles.

Prosa Regionalista
 A prosa regionalista absorve, por outro lado, aspectos do
campo, da vida agrária, da fala coloquial e regionalista,
por exemplo, na obra de Guimarães Rosa.
A hora e
a vez de
Augusto
Matraga
GUIMARÃES ROSA
ESTRUTURA DA OBRA

 Narrado em 3ª pessoa/consciente
 9 contos – Sagarana - fechamento
 Violência e misticismo
 Regional e erudito
 Verossimilhança
 ESPAÇO – MINAS – Murici – Tombador – Rala-Coco
 Tempo – cronológico
Personagens

 Augusto  Padre
 Angélica/Sariema  Tião da Tereza
(Tomázia)  Joãozinho Bem-Bem/
 Dinóra  Jagunços/
 Mimita  Primo – João Lomba
 Quim Recadeiro  Velho
 Ovídio Moura
 Major Consilva
 Casal de pretos
O conto enfatiza duas
constantes da vida do
sertão:
a violência e o
misticismo, na
interminável luta do bem
e do mal....
NARRADOR
FALA DIRETAMENTE AO LEITOR
METALINGUAGEM
 E assim se passaram pelos menos seis ou seis
anos e meio, direitinho desse jeito, sem tirar
nem por, sem mentira nenhuma, porque esta
aqui é uma estória inventada, e não é um
caso acontecido, não senhor.

 Nesse, e em outras passagens, o narrador não


está contando apenas a história, está falando
diretamente ao leitor.
A onisciência do narrador
É propositadamente relativizada, dando voz
própria e encantamento às narrativas e
acentuando a dimensão mítica e poética.

“P´ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!... E os negros


aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a caminho do
sertão.
Foram norte a fora, na derrota dos criminosos fugidos,
dormindo de dia e viajando de noite, coo cativos
amocambados, de quilombo a quilombo. Para além do
Bacupari, do Boqueirão...”
O narrador – quase não aparece
 Esse é um dos momentos que faz com que o leitor
não se esqueça de que é o narrador quem conta a
história, apesar de em muitos momentos a presença
do narrador não seja sentida e dê ao leitor a
sensação de estar diante dos acontecimentos:
 - Desonrado, desmerecido, marcado a ferro feito
rês, mãe Quitéria, e assim tão mole, tão sem
homência, será que eu posso mesmo entrar no
céu?!...
 - Não fala fácil, meu filho!... Dei’stá: debaixo do
angu tem molho, e atrás do morro tem morro.
 - Isso sim... cada um tem a sua hora e sua vez, e a
minha hora há-de chegar!... (ROSA)
O narrador - importância
 É muito importante lembrar que a maneira como o
narrador revela a história faz com que o leitor só tenha
acesso aos acontecimentos através do conhecimento de
Matraga. Com essas revelações, e com o uso da descrição
das feições, modos de agir, expressões das personagens, o
leitor é conduzido ao compadecimento e à mudança da
imagem do anti-herói.
 Conclui-se então, que o narrador possui um papel
fundamental na estruturação de toda a história,
colocando submissos a ele não só o leitor, mas também,
todos os outros termos da estrutura narrativa.
A epígrafe e as cantigas
As epígrafes / cantigas
“Eu sou pobre, pobre, pobre,
vou-me embora, vou-me embora
..................................
Eu sou rica, rica, rica
Vou-me embora, daqui!” (cantiga antiga)

“Sapo não pula por boniteza,


Mas porém por percisão.” (Provérbio capiau)
O número 3
O número 3
 O número 3 (três) é responsável por influenciar a expressão
e a sensibilidade das pessoas no que respeita
à Numerologia. A sua simbologia está ligada à simbologia
do triângulo, que é um símbolo geométrico significativo
para a Maçonaria.
 Para essa sociedade secreta, o três reúne os ideais
necessários para o amadurecimento espiritual dos seus
membros: fé, esperança e caridade.
 Na teoria do filósofo e matemático Pitágoras, representa a
perfeição. Isso porque ele é a soma do um, que significa
unidade, e do dois, que significa diversidade.
 É também o número perfeito para os chineses. Para eles,
é a junção do céu e da terra, da qual resulta a
humanidade.
O número 3
 Esses deuses são representados com coisas que têm relação
com o número 3: o raio de Júpiter, o tridente de Netuno e o
cão de três cabeças de Plutão.
 Também os hindus têm 3 deuses principais: Brahma, Vishnu
e Shiva. Da mesma forma, os egípcios têm Ísis, Osíris e
Hórus.
 Além da manifestação divina, várias coisas são
representadas por três elementos. São exemplos: o ciclo da
vida (nascimento, vida e morte), os três Reis Magos, a
ressurreição de Jesus ao terceiro dia, o fato de Pedro ter
negado Jesus por 3 vezes, entre tantas outras.
O número 3
 Significado Espiritual
O número três representa a unidade divina.
A Santíssima Trindade para os cristãos (Pai,
Filho e Espírito Santo) é um dos principais
exemplos que mostram o caráter sagrado
desse numeral.
 Para os gregos e romanos, a manifestação
divina decorre de uma trindade da qual
fazem parte Júpiter e Netuno, Plutão e
Zeus, Posídon e Hades, respectivamente.
NOMES – NÚMERO TRÊS
 Augusto Matraga (má + traga, de tragar ou do
verbo trazer)
 Augusto Estêves (verbo no passado)
 Nhô Augusto

 Murici, onde vive inicialmente;


 o Tombador, onde faz penitência;
 o Rala-Coco, lugarejo próximo a Murici, onde
encontra sua hora e vez
Número 3

 Vive em trios: inicialmente, na praça, ele está com


duas prostitutas

 em casa, ele vive com a mulher e a filha

 vive com um casal de pretos

 no final, aparece um último trio: ele, Joãozinho Bem-


Bem (valor afetivo, bem-bem – sino – foi bom) e o velho
a quem protege.
Os nomes
Os nomes
 O nome é marcador da identidade social
desempenhada por seu portador.

 Augusto: soberano, majestoso


 Esteves: do verbo estar

 Matraga: ele mesmo disse não ser nada


 Ma: de mau
 Traga: de trazer
 Joãozinho bem-bem: diminutivo, infantilidade,
 Bem-bem: ironia, não era bom (sino?)
A mudança dos nomes
 Como o nome é a máxima
individualização de uma pessoa,
quando ele vai tentar se salvar, é
imperioso que ele mude não só de
atitudes e lugar de viver. É necessário
que ele se torne outra pessoa efetiva,
portanto, a mudança de nome assinala
a mudança de individualidade.
Jagunços
A REALIDADE – os jagunços

INDALÉCIO e ANTÔNIO DÓ –
Indalécio ajudou a milícia a prender Antônio Dó. O
primeiro desentendeu-se com o Major Alcides do
Amaral e também ficou preso. Juntos, Indalécio e
Dó arma planos para a fuga e vingança. Dó traiu
Indalécio e acabou com ele.
Os 4 movimentos
A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

É um conto longo. Há quatro grandes sequências narrativas


nesta estória:

1) apresentação de Matraga;
2 ) nó ou intriga;
3) regeneração do protagonista;
4) viagem e duelo final.

É considerado um texto épico, no sentido de explorar o


universo guerreiro do sertão, ao lado de um clima
místico,também próprio desse espaço cultural.
A cena inicial
Delimita quem é Nhô
Augusto: uma pessoa má que
compra pessoas com o único
intuito de provocar o
oponente e maltratar a
comprada.
Logo após a cena inicial –
INTRIGA - Augusto dionísico

 Dá-se início ao declínio.


 Eleé abandonado pela mulher, e
pela filha (essa vira prostituta
depois), é abandonado pelos
capangas, ele apanha, é marcado
a ferro, atira-se no barranco e é
salvo.
A visita do padre – início do processo
de individualização - apolíneo

Recebe a sentença de
que a renúncia à sua vida
anterior é o único meio
de se salvar e o processo
de salvação tem início.
A primeira viagem
 Vai viver num sítio (resquício de seu
passado) em companhia do casal que o
salvou.

 Essaviagem é o primeiro passo a caminho


da salvação.
A vida nova - renúncia
 Renegando vontades próprias do ser
humano (beber, fumar, fazer sexo,
exibir-se em conversas) a personagem
se anula enquanto indivíduo, igualando-
se a um reles animal.

 Essa renúncia é o 2º passo para a


salvação.
A primeira tentação
 Um conhecido traz notícias de sua esposa e de
sua filha e ele quase vai à desforra, mas se
contém.

 É nessa contrição que se rompe um dos mais


importantes elos com o passado.

 Ele rompe com os elos de reciprocidade da


sociedade, para não ser como ela e garantir sua
efetiva individualidade.
A vida nova e o fechamento de
um ciclo
 Sete anos se passam (assim como Deus
descansa no 7º dia...) e um ciclo se fecha.
 A personagem se reconcilia com sua
própria natureza e com o mundo em que
vive.
 Começa a reencontrar-se e a caminhar
rumo ao equilíbrio alma/mundo exterior.
 Equilíbrio entre Dionísio e Apolo.
A segunda tentação
 Matraga está em harmonia quando
surge Joãozinho Bem-Bem.

 Elesente-se tentado a seguir o bando


e retornar à violência original

O bando parte e Matraga segue sem


rumo para seu destino.
A segunda viagem
Matraga parte sem rumo e é essa
a sua viagem mais importante.
Talvez o destino fosse o antigo
Murici, mas não chega até lá.
A segunda viagem
 Essaviagem assinala um equilibrar dos
mundos interno e externo da
personagem e acaba respondendo a uma
dúvida final do herói: como ir para o céu,
ser homem bom, sem para isso se
despojar de sua verdadeira identidade?
A terceira tentação
Ele para em Rala-Coco e
reencontra Bem-Bem. É convidado
a pegar as armas de um falecido e
seguir o bando, mas resiste.
A hora e a vez
 Matraga encontra um velho a quem
Bem-Bem quer matar juntamente
com a família toda.

 Inicialmentenão intervém, mas o


velho lhe pede por todos os santos
e Matraga se sente no dever de
ajudar.
A hora e a vez
O fechamento do ciclo de
Matraga é realizado no
momento em que ele impede
um vingador profissional de
exercer sua vingança.
A hora e a vez
 Ele retrocede à sua essência de natureza
violenta que agora é utilizada em prol de
alguém, que pede em nome de Deus.

 Convertido em Matraga, ele pôde, afinal,


reassumir sua violência íntima e sua
alegria de viver:
 “Ô gostosura de fim de mundo!”
A hora e a vez
 Com sua essência agressiva usada para o bem,
transformou-se de vilão em herói e foi
comparado a Jesus Cristo (há mais referências)
“Entrando num burrinho na cidade”,
cumprindo sua função de mártir.

 “P´ra o céu eu vou, nem que seja a


porrete!”
 E FOI!
Linguagem
A linguagem
 Aliteração
“Desarmei e dei pancada, no Sergipão Congo, mãe
Quitéria, que era mão que desce, mesmo monstro
matador!...” repetição de M)

“...o arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega à


unha, o fecha-teta, o tira prosa, o parte-ferro, o rompe-
racha, o rompe e arrasa: Seu Joãozinho Bem-Bem.” (R)

“Pois então, satanás, eu chamo a força de Deus p´ra


ajudar a minha fraqueza no ferro da tua força
maldita!...” (F)
A linguagem - metáforas
 “Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não
tira o estribo do pé de arrependido nenhum...”

 “O convite de seu Joãozinho Bem-Bem, isso, de dizer, é


que era cachaça em copo grande! Ah, que vontade de
aceitar e ir também...”

 “A lâmina de Nhô Augusto talhara de baixo para cima, do


púbis à boca do estômago, e um mundo de cobras
sangrentas saltou para o ar livre, enquanto seu Joãozinho
Bem-Bem caía ajoelhado, recolhendo os seus recheios as
mãos.”
A linguagem
 Personificação
“De manhã, na altura, a manhã gargalhou: um bando de
maitacas passava, tinindo guizos, vidros, estralejando
de rir.”
 Metonímia
“Cantou, longo tempo. Até que todas as asas saíssem do
céu.”
Arcaísmos
“Depois, por baixadas, com outeiros, terras mansas.”
“E, aí, quando tudo esteve a ponto, abrasaram o ferro
com a marca do gado do Major – que soía ser um
triângulo inscrito numa circunferência –”
A linguagem
 Neologismos
“-Desonrado, desmerecido, marcado a ferro feito rês, mãe
Quitéria, e assim tão mole, tão sem homência, será que eu
posso mesmo entrar no céu?!...”
“...um sol, talqualzinho a bola de enxofre do fundo do
poço...”
 Coloquialismos
Devagarinho
Reza o credo
Fazer o pelo sinal
Tomou um trago
Traziam-lhe de vez em quando um golinho (pinga)
Passarim
Por riba de eu defunto
A linguagem – descrições poéticas
“Tirou tragadas, soltou muitas
fumaças, e sentiu o corpo se
desmanchar, dando na fraqueza, mas
com uma tremura gostosa, que vinha
até o mais dentro, parecendo que a
gente ia virar uma chuvinha fina.”
A linguagem onomatopeias
“Todos tinham muita pressa: os únicos que
interromperam, por momentos, a viagem,
foram os alegres tuins (...) aos pares, sem
sustar o alarido – rrrl-rrril!rrrl-rrril!;;;”
RELIGIOSIDADE
RELIGIOSIDADE

 Padre “sua hora chegará” (injúrias)


 Comparado a Deus – burrinho
 Salvação – justiça divina e negação do corpo
 Dá a vida por seus semelhantes
 Purificação – santificação
 Epopeia Moderna – homens que se entregam a
derrota ou lutam através de seus corpos.
 Joãozinho – “Deus escreve certo por
linhas tortas” – salvação

 Lembra o estilo barroco – jogo de


palavras
 ritmo de pontuação – sertanejos
 travessia – terra/céu
 travessia – pecador/santo
RELIGIOSIDADE
 Desde o início do contos os indícios de religiosidade aparecem e
vão ficando mais constantes à medida que a narrativa avança.
Eles estão saindo de uma novena,
O arraial chama-se da Virgem Nossa Senhora das Dores (sugestivo?)
Havia procissão, quermesse
Faz o nome do pai
Pedem proteção e benção divina
Pedem pelas chagas de Nosso Senhor
Deus dá jeito em tudo
Pede absolvição dos pecados
Precisa se arrepender dos pecados
Quer ir para o céu
RELIGIOSIDADE

 Tentações (TIÃO/Joãozinho/Joãozinho)
O jumento é animal sagrado x bode
 Ele
entra na cidade montado num
jumento, como Jesus
 Lágrimas de Virgem Maria - apelo
 Pede pra ser enterrado em campo santo
O povo o chama de santo
O BODE

CRISTÃOS: SATANÁS
GREGOS – DIONÍSIO
EGITO – DEUS PÃ – NOBREZA
NÓRDICOS – SÍMBOLO DE THOR
LIBIDO E FERTILIDADE
FRUTOS DO ESPÍRITO
PADRE - CONSELHOS
SANTO
CARIDADE TRABALHO
ALEGRIA
CARIDADE
PAZ
PACIÊNCIA FÉ
LONGANIMIDADE (CORAGEM) MANSIDÃO
BONDADE
BENIGNIDADE
FIDELIDADE
MODÉSTIA
CONTINÊNCIA
CASTIDADE
Indícios – a chegada da hora
 Depois do tempo de penitência e dos anos sem
beber, fumar, se interessar por mulher e querer
brigar, a natureza começa a florescer e se preparar
para o novo “nascimento”.

 Quando a estação das chuvas ocorre durante o


verão, a ocorrência de precipitações geralmente
ocorre durante a tarde e primeiras horas da noite. A
estação das chuvas também traz, muitas vezes,
melhorias na qualidade do ar e da água, além de
facilitar o crescimento da vegetação. Também
ocorrem inundações em rios e lagos, diminuição dos
nutrientes no solo e aumento da erosão.
Indícios – o renascimento
 “Até que, pouco a pouco, devagarinho,
imperceptível, alguma cousa pegou a querer voltar
para ele, a crescer-lhe do fundo para fora, sorrateira
como a chegada do tempo das águas, que vinha vindo
paralela, com o calor dos dias aumentando, e os dias
cada vez maiores, e o joão-de-barro construindo casa
nova, e as sementinhas, que hibernavam na poeira,
esperando na poeira, em misteriosas incubações.
(...)
-Deus está tirando o saco das minhas costas, mãe
Quitéria! Agora eu sei que ele está se lembrando de
mim...
Indícios renascimento
“Então, depois do café, saiu para a horta cheirosa, cheia de
passarinhos e de verdes, e fez uma descoberta: or que não
pitava?! Não era pecado... Devia ficar alegre, sempre
alegre, e esse era um gosto inocente, que ajudava a gente a
se alegrar...”

“E, à noite, tomou um trago sem ser por regra, o que foi
bem bom, porque ele já viajou, do acordado para o sono,
montado num sonho bonito, no qual havia um Deus
valentão, o mais solerte de todos os valentões, assim
parecido com seu Joãozinho Bem-Bem, e que o mandava ir
brigar, só para lhe experimentar a força, pois que ficava lá
em cima, sem descuido, garantindo tudo.
Indícios - renascimento
‘E ainda outras coisas tinham acontecido, e a primeira delas era
que, agora, Nhô Augusto sentia saudades de mulheres. E a força
nele latejava, sem ondas largas, numa tensão confortante, que
era um regresso e um ressurgimento.”

“...e logo entoou uma das letras que ouvira aos guerreiros de seu
Joãozinho Bem-Bem:
‘A roupa lá de casa/não se lava com sabão:/lava com ponta de
sabre/e com bala de canhão...’
Cantar, só, não fazia mal, não era pecado. As estradas cantavam.
E ele achava muitas coisas bonitas, e tudo era mesmo bonito,
como são todas as coisas, nos caminhos do sertão.”
As epifanias (como em Clarice)
“Mas, afinal, as chuvas cessaram, e deu uma manhã em que Nhô
Augusto saiu para o terreiro e desconheceu o mundo: um sol,
talqualzinho a bola de enxofre do fundo do pote, marinhava céu
acima, num azul de água sem praias, com luz jogada de um para
o outro lado, e um desperdício de verdes cá em baixo – a manhã
mais bonita que ele já pudera ver.” (...)

“Pela primeira vez na sua vida, se extasiou com as pinturas do


poente, com os três coqueiros subindo da linha da montanha
para se recortarem num fundo alaranjado, onde, na descida do
sol, muitas nuvens pegam fogo.”

-”Agora, sim! Cantou p´ra mim, passarim!...”


A metáfora da cobra
 Tem-se a metáfora da cobra, que se associa à
ideia do mal, dentro da condição cristã. É
importante lembrar que esta metáfora
também possui uma estrutura tríade, pois
aparece três vezes no conto.
 Primeiramente, quando Quim Recadeiro
informa Nhô Augusto sobre suas situação:
“(...) o senhor nunca respeitou filha dos outros
nem mulher casada, e mais que é que nem
cobra má, que quem vê tem de matar por
obrigação (...)” (Rosa, 2001, p.373).

A metáfora da cobra
 A segunda vez é também uma comparação de
Matraga ao animal: “Deus que me perdoe, -
resmungou a preta- mas este homem deve de
ser ruim feito cascavel barreada em buraco
(...)” (ROSA, 2001, p.377)

 E a última vez ocorre no final do conto: “A


lâmina de Nhô Augusto talhara de baixo para
cima, do púbis à boca do estômago, e um
mundo de cobra sangrentas saltou para o ar
livre (...)” (ROSA, 2001, p.411).
A importância da solidão
 Esse conto pertence às narrativas de
formação, em que o personagem está
em busca de aprimoramento e de uma
forma de se reconciliar com o mundo e
consigo e, para isso, precisa de anos de
distanciamento e aprendizado.
A importância dos animais e da natureza
 O retorno a si mesmo é marcado pela simbiose
da personagem com os animais e com a
própria natureza. Antes ele se equiparava aos
animais e cupins.

 É nessa mesma natureza, dos animais


pequenos, da vegetação rasteira que dá indícios
do processo de individualização do herói, sua
redescoberta enquando pessoa.
 Nhô Augusto vê no duelo final contra Joãozinho Bem-
Bem sua grande chance de conquistar a absolvição de
seus erros através do impulso incontrolável da
violência. Antônio Candido:

 A oportunidade, a “hora e vez” de Nhô Augusto,


consiste em fazer o bem, e com isto assegurar a
salvação da alma, por meio da violência destruidora,
do ato de jagunço matador, que ele reprimira
duramente até então, com medo de perdê-la.
(CANDIDO, 1970, pg. 152).
 Rosa, em entrevista concedida a Ascendino Leite,
afirma: "O que me interessa, na ficção, primeiro
que tudo, é o problema do destino, sorte e azar,
vida e morte" (apud Dijck 1997: 55).

 Essência x aparência
 Tragédia humana
 Conflito de forças
 Certo x errado
 Bem x mal
 Apolo x dionísio
Rosa, nesse conto, representa algo inerente
ao homem, fazendo com que a experiência
de leitura possa funcionar como um
verdadeiro convite ao leitor a refletir sobre
a própria existência.
“A travessia/superação de
obstáculos por ocultos caminhos é
uma temática recorrente em Rosa.
Também é recorrente a presença de
forças mágicas da natureza atuando
sobre o mundo e mostrando as
possibilidades de os fracos se
tornarem fortes, de se saber de
uma vida no resumo exemplar de
um dia.”

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