Você está na página 1de 4

ENSINO PROFISSIONAL

Português - 11º ano-TCM

Módulo 4-1º Teste 1º Período


Professora: Marta Couto (ADAPTADO ) Ano letivo 2019/20

Grupo I – Compreensão do Texto- 100 pontos

Lê atentamente o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.


PARTE A (80 pontos)

Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao
menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem, e não falam.
Uma só cousa pudera desconsolar ao Pregador, que é serem gente os peixes,
que se não há de converter. Mas esta dor é tão ordinária que já pelo costume
5 quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu, nem Inferno; e
assim será menos triste este Sermão, do que os meus parecem aos homens,
pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins.
Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do
mar como vós, tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se
1
experimentam: conservar o são, e preservá-lo, para que se não corrompa.
0 Estas mesmas propriedades tinham as pregações do vosso Pregador S.
António, como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma é
louvar o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar, e
repreender o mal, para preservar dele. Nem cuideis, que isto pertence só aos
homens, porque também nos peixes tem seu lugar. Assim o diz o grande
1
5 Doutor da Igreja São Basílio: Non carpere solum, reprehendereque
possumus pisoes, sed sunt in illis, et quae prosequenda sunt imitatione .
Não só há que notar, diz o Santo, e que repreender nos peixes, senão
também que imitar, e louvar. Quando Cristo compa rou a sua Igreja à rede
de pescar, Sagenae missae in mare, diz que os pescadores recolheram os
2
peixes bons, e lançaram fora os maus: Colegerunt bonos in vasa, malos
0 autem foras miserunt. E onde há bons, e maus, há que louvar, e que
repreender. Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei,
peixes, o vosso Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas
virtudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. E desta maneira
satisfaremos às obrigações do sal, que me lhor vos está ouvi-las vivos, que
2
5 experimentá-las depois de mortos.
Começando pois pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem vos pudera
eu dizer, que entre todas as criaturas viventes, e sensitivas, vós fostes as
primeiras que Deus criou. ( ... )

1
Pe. António Vieira, Sermão de Santo António.

1. Localiza o excerto textual na estrutura interna da obra.


2. Indica, a crítica e os criticados presentes no primeiro pará grafo
explicitando, o referente utilizado pelo pregador para atingir os criticados.
3. O pregador apresenta neste excerto a divisã o do sermã o. Mostra como procedeu
a essa divisã o.
4. Tendo em conta a técnica discursiva de Padre Antó nio Vieira, retira do segundo
pará grafo um exemplo de uma antítese e explicita o seu valor expressivo.

B (20 pontos)
5. Explicita, num texto de oitenta a cem palavras, os objetivos subjacentes à
Orató ria, existentes no “Sermã o de Santo Antó nio (aos Peixes)", destacando a
importâ ncia da alegoria .

Grupo II (60 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha mú ltipla, seleciona a opçã o correta.


Escreve, na folha de respostas, o nú mero do item e a letra que identifica a
opçã o escolhida.
No espetá culo Payassu, fazemos uso das tecnologias de manipulaçã o de
imagem, promovendo a interaçã o de figuras projetadas com o discurso de Vieira,
o espaço cénico e as açõ es do ator, de uma forma absolutamente orgâ nica. Na
gestã o dos recursos narrativos, quer plá sticos quer cénicos, evitá mos a mera
5 ilustraçã o do sermã o e a coincidência de signos, especialmente os concorrentes
com as imagens sugeridas pelo texto, já de si muito rico e profuso. A relaçã o entre
a multimédia, o teatro e as artes plá sticas desenvolveu-se pelo processo de
identificaçã o, incorporaçã o e fusã o de elementos expressivos, e nã o pela sua
simples combinaçã o sequencial.
10 Existe, ainda, na abordagem interpretativa do Sermã o, uma questã o
importante: a orató ria funciona como discurso direto, objetivo e frontal,
procurando convencer o pú blico, argumentando, provando, lançando reptos e
propondo respostas. É um instrumento moralizador e edificante, no intuito de
corrigir/melhorar a humanidade. Esta característica, que em Vieira ultrapassa os
15 recursos do contador de histó rias, é comum a todos os que têm ofício de sal –
políticos, professores, legisladores, religiosos – e concentra a açã o dramá tica do
ator (construindo alguma dessas personagens) no exercício da pregaçã o, na sua
profunda e intensa oralidade. Em Payassu, o parateatral sobrepõ e-se ao teatro, na
perspetiva do pú blico, que vê um pregador religioso. Mas o teatro esconde-se na
20 orató ria, pois nã o temos orador, temos ator; nã o temos sermã o, temos teatro.

2
Para mais, no “Sermã o de Santo Antó nio (aos Peixes)”, existe outro jogo de
metalinguagem, que confunde e complica este juízo de frontalidade: Vieira nã o
prega aos homens, prega aos peixes para pregar aos homens. Um jogo de ilusã o,
um malabarismo dialético, tanto barroco como contemporâ neo, um caminho tã o
25
vá lido hoje como ontem. Evidente é que tudo isso dificulta o trabalho do ator, que
tem de percorrer um labirinto de olhares, insinuaçõ es, alternâ ncias e subtilezas,
oscilando entre um pú blico real e um mundo aquá tico virtual.
Payassu, o Verbo do Pai Grande (caderno de criaçã o do espetá culo), Teatro de Formas
Animadas de Vila do Conde (texto adaptado e com supressõ es).

1. No início do seu sermã o, Vieira refere que os peixes têm duas virtudes.
a) ouvem muito e falam pouco;
b) ouvem e falam pouco;
c) ouvem pouco e falam muito.

2. Vieira divide o seu sermã o em duas partes:


a) na 1.ª ouve os colonos e na 2.ª repreende os índios;
b) na 1.ª louva as virtudes dos peixes e na 2.ª repreende os seus vícios;
c) na 1.ª louva os Jesuítas e na 2.ª repreende os índios.

3. Os peixes corporizam…
a) as virtudes dos homens de S. Luís do Maranhã o;
b) os defeitos/vícios dos homens de S. Luís do Maranhã o;
c) as virtudes e os defeitos dos homens de S. Luís do Maranhã o.

4. Representam as virtudes dos peixes...


a) a rémora, o torpedo, o quatro-olhos, o Peixe de Tobias;
b) a rémora, o quatro-olhos, o polvo, o pegador;
c) o polvo, o pegador, o voador, o roncador.

5. O segmento sublinhado “a interaçã o de figuras projetadas com o discurso de


Vieira, o espaço cénico e as açõ es do ator” (ll. 2-3) corresponde
(A) ao sujeito.
(B) ao modificador.
(C) ao complemento direto.
(D) ao predicativo do sujeito.

6. Divide e classifica as oraçõ es assinaladas em cada alínea.


a) O ator, que vê um pregador religioso, aprende a representar.
b) Vieira diz que tudo isso dificulta o trabalho do ator.

3
Grupo III (40 pontos)

Escrita
11. Faz a síntese do texto apresentado no Grupo II, com cerca de setenta a
noventa palavras.
Bom trabalho!

Cotações
Item
Grupo
Cotação (em pontos)

Parte A- 1. a 5. 80
I
Parte B 20
1. a 4. ( 4x 10 pontos) 40
II
5e6 20

III Item único


40

TOTAL 200

Você também pode gostar