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Pulp Fiction by Quentin Tarantino

A banda sonora em Pulp Fiction parece funcionar de várias maneiras:


geralmente transmitem acontecimentos negativos ou espelham os
sentimentos/ações dos personagens.
Com algumas exceções, todas as músicas em Pulp Fiction são diegéticas. As
duas primeiras faixas tocadas durante os créditos de abertura (4:47) são
evidentemente diegéticas. Isto é realçado através do som do rádio quando a música
é alterada de "Misirlou" (Dick Dale e His Del-Tones) para "Jungle Boogie" (Kool & the
Gang). E, mais obviamente, a segunda música é tocada no rádio durante a conversa
de Vince e Jules.
Na cena intitulada “Vincent Vega and Marsellus Wallace’s Wife” (21:06), é
utilizada a mesma tática que no início. É confirmada que a música que está a ser
tocada é diegética quando Vincent e Jules aparecem no bar, mesmo com o barulho
de fundo, ainda se pode ouvir a música a ser tocada no bar.
Mais uma vez, vemos o uso de uma porta para revelar a natureza diegética da
música quando Vincent Vega compra heroína a Lance (26:23). Nesta cena, a música
para quando Lance diz que está “out of baloons” (sem saquetas). De um certo modo,
mesmo que isto aconteça de uma forma muito subtil, o corte da música pode ser uma
maneira de indicar que algo está errado. Normalmente a cocaína não costuma ser
armazenada em “ballons”, se a heroína tivesse sido posta numa saqueta, Mia nunca
teria confundido cocaína com heroína, e todo o rumo da história teria sido diferente.
A cena em que Vincent vai à casa da Mia pela primeira vez (31:53) é música
diegética e pode-se confirmar isso quando Mia para o disco.
Podemos associar certas músicas que Tarantino coloca no filme como se estas
conseguissem prever o que vai acontecer ou o que poderia ter acontecido:
1. O momento em que Mia e Vicent dançam ao som de “You can never tell”
(48:03) com a ultima cena em que estes estão juntos (quando Mia conta a sua piada
de “Fox Force Five”). Associamos o título da música ao segredo que eles nunca
poderão contar a ninguém (overdose).
2. Retorno à casa de Mia após terem ganho o concurso (49:55). Mia coloca a
música “Girl, you’ll be a woman soon”. As pessoas tendem a amadurecer ou mudar
após ultrapassarem experiências de quase morte, e essa escolha de música sugere
que o acidente de Mia com a heroína não será diferente. A música poderá também
nos remeter para a ideia de que “torna-se uma mulher” após relações intimas. Então,
antes do incidente com heroína, pensava-se que a música prenunciava o Vincent e
Mia a terem relações.
Ainda falando sobre a cena em que Mia e Vince voltam para casa após terem
ganho o concurso de dança, assim que entram em casa, o alarme dispara. Podemos
associar o alarme como um aviso para o que está preste a acontecer (overdose) e
para que Vincent não fosse longe de mais com Mia.
A canção “ Girl, you’ll be a woman soon” pode também ser interpretada como um
reflexo dos pensamentos que Vincent está ter em relação a Mia, principalmente no
que diz respeito ao facto de querer que ela não esteja junta com Marsellus: “He’s not
your kind” e “The boy’s no good”. Podemos interpretar também as frases “I’ve finally
found what I’m a-looking for” e “Please, come take my hand” como sinal do que este
está a pensar, embora se esforce para nega-lo, enquanto está na casa de banho.
Na história de Butch, quando este vai buscar o relógio do pai à sua antiga casa,
parece estar presente uma atmosfera de guerra. A ausência de som é de certa forma
igualmente importante. Como um soldado, Butch sente a vulnerabilidade estando
desarmado e num campo aberto. Daí abaixar-se e andar mais rápido (1:29:07).
Butch, após matar Vincent volta para o carro, ao ligar o rádio, a música que está
a passar é “Flowers on the Wall” da banda The Statlen Brothers e começa
precisamente com a frase : ” consciense I guess..” e podemos reparar na expressão
com que ele fica. Ele passa de preocupado e sério, para tranquilo e de consciência
limpa. Depois de sair do estacionamento e voltar a passar em frente ao prédio, a
música diz: “ That doesn’t bother me at all” o que reforça mais a ideia de não se
importar com o facto de ter matado mais uma pessoa (1:34:07). Quando Butch para
no semáforo e encara Marsellus (1:34:36), a mesma música diz: “ It’s good to see
you”, o que cria um contraste ironicamente engraçado em relação aos olhares sérios
dos personagens.
Após a entrada de Butch na loja de penhores de Zed, o rádio toca "If Love is a
Red Dress", de Maria McKee. Maynard olha para Butch de cima a baixo (1:36:00).
Tanto a música como o personagem assobiam. Assobiar é muitas vezes um sinal de
desejo sexual, não de uma maneira amorosa, mas mais de uma maneira carnal e
lasciva. O desejo sexual de Maynard é expresso através do assobio no rádio. O
assobio pausa enquanto a ação acontece entre Butch e Marsellus. Depois de
Maynard nocautear Butch, Maynard liga para Zed e olha para os dois homens que ele
planeja estuprar e o assobio é retomado. Quando Marsellus desmaia (1:37:30), a
música continua: "you are my angel" como se Marsellus estivesse a chamar Butch
para o salvar.
Quando Marsellus é levado para a sala para ser violado, começa a música
“Commanche” (1:42:00). É uma música instrumental de bateria, saxofone e baixo
com um andamento vivo e um caráter efusivo e que dá a perceção de que algo vai
acontecer mas ainda não sabemos o quê, e então Butch liberta-se e decide fugir da
loja. Mas antes de fugir, fica reticente e volta atrás para salvar Marsellus. Quando
entra na sala, mata Maynard e aí a música acaba, tornando este momento mais
tenso e marcante.
Butch, vai para o hotel, na mota do Zed para este e Fabienne irem apanhar o
comboio e saírem de LA. Fabienne pergunta de quem é a mota e Butch responde
que é do Zed, que está morto. Aqui começa a música “Out of Limits” (1:52:25),
evocando a ideia de que Butch está descontrolado/fora dos limites.
Por fim, uma das cenas em que a música serve para caracterizar algo (comida) é
quando o assaltante vai à cozinha e se ouve uma música mexicana (2:18:20),
dando a ideia do tipo de comida que servem.

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