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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

SILVANA DURAES DE BRITO

O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL


A Importância do Programa Socioeducativo no
Resgate do Adolescente Infrator.

Pirapora - MG
2015
SILVANA DURAES DE BRITO

O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL


A Importância do Programa Socioeducativo no
Resgate do Adolescente Infrator.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR,


como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª Adarly Moreira Goes

Pirapora - MG
2015
SILVANA DURAES BRITO

O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL


A Importância do Programa Socioeducativo no
Resgate do Adolescente Infrator.

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR -
Universidade Norte do Paraná, no Centro de Ciências Empresariais e Sociais

Aplicadas, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social, com nota final igual a _______, conferida pela Banca Examinadora
formada pelos professores:

_______________________________________Profª. Orientadora Adarly Moreira Goes

Universidade Norte do Paraná

________________________________________Prof. Membro 2

Universidade Norte do Paraná

__________________________________________Prof. Membro 3

Universidade Norte do Paraná

Londrina, _____de ___________de 20___.
Agradecimentos

Deus que me permitiu chegar até aqui, pois só não conseguiria.


Aos meus pais que me sempre me incentivaram, aos meus irmãos que
sempre me apoiaram. Meus amigos que nunca me deixaram desistir desse
sonho e agradeço em especial, uma pessoa que mesmo distante ou chateado
sempre esteve ao meu lado “J’TAME.
Muitíssimo obrigada a todos.
DURAES BRITO, SILVANA. O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL: A
Importância do Programa Socioeducativo no Resgate do Adolescente Infrator.
2015. 40 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em
Assistência Social – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas,
Universidade Norte do Paraná, Pirapora, 2015.

RESUMO

O intento desse trabalho é ajudar na compreensão do processo que atravessa


o adolescente que se encontra em dificuldade com a lei, os motivos pelos quais
o levam a praticar delitos, sua concepção e contextualização histórica e as
políticas que o assistem. Oferece também orientação para aqueles que de
alguma forma se encontram envolvidos com estes usuários, na tentativa de que
não desistam diante dos desafios presentes no processo de ressocialização
destes adolescentes. É possível repensar a prática socioeducativa com
comprometimento e responsabilidade, tais ferramentas podem representar o
meio para identificar a metodologia de trabalho e acusar soluções. Destaca o
quanto é imperiosa a prática do educador social no incentivo da mudança no
que diz respeito às crenças estabelecidas pela cultura ao longo de anos e
convoca a todos à participação no resgate do importante conjunto de fatores
essencial à vida do adolescente que se encontra no processo de reconstrução
de identidade e projeto de vida.

Palavras-chaves: Adolescente. Infração. Ressocialização. Sistema.


Socioeducativo.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

CESAP Centro Socioeducativo de Adolescentes de Pirapora

ONU Organização das Nações Unidas

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

OIT Organização Internacional do Trabalho

SEDH Secretaria Especial dos Direitos Humanos

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

PNAS Política de Assistência Social

PETE Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

NOB Norma Operacional Básica

MDS Ministério de Desenvolvimento Social

SUAS Sistema Único de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FNAS Subsecretaria de Direitos Humanos


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................01

2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................05

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE ADOLESCÊNCIA............................................05

2.2 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO CONTEXTO BRASILEIRO............08

2.3 A CONSTITUIÇÃO E O ADOLESCENTE...................................................10

2.4 O ECA..........................................................................................................11

2.5 SINASE........................................................................................................12

2.6 O ATO INFRACIONAL.................................................................................13

2.7 FATORES QUE INDUZEM O ADOLESCENTE AO DELITO......................14

2.8 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.................................................................18

2.9 O EDUCADOR E O ADOLESCENTE INFRATOR......................................24

2.9.1 AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL............................................26

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................29

4 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..............................................................31
1

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo é fruto das indagações decorrentes da cultura


equivocada, que a sociedade, a família, alguns profissionais e até mesmo o
próprio indivíduo têm alusiva ao jovem conflituoso. Pois, se deve levar em
consideração que o mesmo é sujeito de direito, definido e proclamado no
Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que é imprescindível na busca de
soluções para esta problemática, que se faça a desunião do infrator, do ato
infracional.

Essa forma de trabalhar baseia-se em um princípio


organizador: procura-se dar sentido ao conhecimento tendo por
base relações entre os fenômenos naturais, sociais e pessoais.
O objetivo do conhecimento passa a ser a compreensão da
complexidade do mundo em que vivemos. (Goulart e
Gomes,1992, p.59).

O presente estudo vem confirmar a relevância de esclarecer ao


adolescente que se encontra em dificuldade com a lei, sua responsabilidade
diante do ato praticado e modificar a ideia enraizada que a sociedade, o
profissional em questão e o próprio adolescente possuem de que uma vez
infrator jamais o indivíduo será resgatado.

Observa-se que não se deve ter uma visão única do problema


infracional, pois são diversos os fatores que induzem o individuo a cometer tais
atos. Primeiramente, o caso em si envolve crianças e adolescentes, ditos
marginais pela sociedade, mas que guardam em seu interior, na sua
personalidade ainda não formada e já deformada, uma profundidade de
receios, medos, tristeza e abandono (GARCIA, 2009).

É bem verdade que muitos deles são mesmo aprendizes de marginais


perigosos, com tendência inegável para o crime, mas a grande maioria sofre o
abandono social que começa pela família, constituída muitas vezes de pais
drogados, alcoólatras, desempregados, que não oferecem qualquer sensação
de segurança a seus filhos, que acabam esbarrando nas facilidades enganosas
do crime.
2

Na realidade a questão envolve:

“(...) as causas da criminalidade e fatores criminógenos complexos,


tais como a desagregação da família, as difíceis condições
econômicas e de existência, o analfabetismo, a miséria, a fome, a
escandalosa e insidiosa apologia da violência generalizada, das
toxicomanias e aberrações sexuais, propagandas pelos meios de
comunicação social, sob o disfarce de críticas e comentários, ou seja,
uma propaganda subliminar, tipicamente darwinica, que rende muito
dinheiro ao poder econômico e ao crime organizado. Sendo que,
dentre eles, os que mais se destacam são: a marginalização social e
a desestruturação familiar”. (Gesk, 2007. p.14)

O reconhecimento desta problemática possibilita distinguir o ato


infracional do autor, proporcionando através da aceitação, facilitar o processo
de ressocialização. O termo “aceitação” refere-se não tão somente ao
adolescente, mas também inclui e convoca a família, o profissional e toda a
sociedade a julgar somente o ato, oferecendo a oportunidade de resgate ao
cidadão.

Pode-se ainda afirmar que a possibilidade de responsabilização por


parte do adolescente só é possível quando a sociedade também se
responsabiliza por sua prática, cabe destacar mérito ao comprometimento dos
profissionais envolvidos com esta população. Acredita-se que tal problemática -
Adolescente Infrator – ocupa cada vez mais os grupos de profissionais que
buscam aprofundar-se nas pesquisas relativas ao fato de que são apenas
adolescentes, fase natural do desenvolvimento humano.

A partir do momento que se faz a análise da trajetória de suas vidas,


comprova-se que os mesmos foram submetidos a circunstâncias as quais os
induziram a praticar tais infrações. Cabem ao grupo interdisciplinar e demais
profissionais envolvidos, trabalhar no adolescente e na família, de modo a que
se possa alcançar a resiliência dos traumas e dificuldades. É imprescindível
suster tal dispositivo de tamanha preciosidade a este sistema. Para arrematar
tal conceito faz-se necessário acrescentar que a solidariedade é fator
imprescindível a quem se dedica a atividade socioeducativa. Confirma
(COSTA, 1999, p. 25):
3

Ao trabalhar com crianças e jovens em situação de dificuldade


pessoal e social, cumpre a quem educa fazê-lo numa
perspectiva solidária - não apenas pessoal, mas também e
fundamentalmente social - com o educando. Essa
solidariedade social é simplesmente impensável separada do
seu desdobramento político e, por conseguinte, da sua
dimensão histórica.

Cabe então à divulgação dos estudos que nos levaram a repensar a


prática socioeducativa, com estas crianças e adolescentes, que desafiam
normas, fogem aos limites da lei e de todo saber já estabelecido.

Sendo assim, o objetivo geral do trabalho é desmistificar a crença da


sociedade de que o adolescente infrator jamais poderá ser resgatado da
criminalidade, desassociando o ato infracional do individuo para que desta
forma se amplie as possibilidades de resgate do maior número possível de
adolescentes.

Os objetivos específicos: incentivar a mudança da cultura equivocada da


sociedade em relação ao adolescente infrator referente à sua índole, apartando
o ato do autor; levar ao conhecimento a todos os adolescentes envolvidos no
processo socioeducativo que apesar de se considerar os fatores que
desencadearam tais infrações, o mesmo é responsável por suas atitudes e
deve arcar com os débitos relativos às mesmas; dar ciência ao profissional
envolvido no trabalho socioeducativo, a relevância de sua convicção e
responsabilidade na reconstrução do cidadão, antes transgressor.

O estudo tem como justificativa o envolvimento e comprometimento dos


envolvidos na ressocialização desses jovens, revelando os motivos que unem o
adolescente ao ato infracional, possibilitando dessa forma construir respostas
profissionais que auxiliem no resgate da maior parcela possível de jovens em
conflito com a lei.

A metodologia aplicada para alcançar os objetivos propostos foi à


pesquisa bibliográfica, buscando compreender as causas, motivos que levam
4

esses jovens a cometer delitos, assim como ter ciência de sua


responsabilidade diante do ato praticado, a importância da família, do Estado, e
do profissional socioeducativo na ressocialização desses jovens. Para tanto, o
universo da pesquisa se aplica ao CESAP- Centro Socioeducativo de
adolescentes de Pirapora/MG, não como estudo de caso, mas como pesquisa
de caráter social e exploratória.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1-CONTEXTUALIZAÇÃO DE ADOLESCÊNCIA

No final do século XVlll e início do século XlX as mudanças começam


ser observadas. Com a Revolução Industrial surge à família burguesa onde a
união dos casais tinha características afetivas, a família passa ser nuclear e
patriarcal com dependência entre eles. Momento em que começam a observar
à distinção entre criança, adolescente, e adulto, onde estudos buscam definir
características próprias de cada fase.

Criança tem tempo certo para falar e andar, o raciocínio lógico


desenvolve quando são capazes de compreender o ambiente ao seu redor. Já
o adolescente tem capacidade de entender conceitos, questionar e chegar a
conclusões. A adolescência é um treinamento para idade adulta.

A palavra adolescência vem do latim “ad (a, para) olescer (crescer),


entende-se então como pessoa que esta pronta para crescer.” No entanto é o
momento em que há maior sofrimento, pois é nesta fase que são feitas
escolhas importantes e determinantes para o futuro adulto.

Fase que é definida como uma reedição de tudo que foi vivido até esse
momento, onde é definido o seu caráter social, sexual, ideológico e vocacional,
sendo único para qualquer ser humano. No que toca desenvolvimento físico e
sexual acontece uma verdadeira revolução a com o corpo. As mudanças
físicas apresentam de maneira rápida em ambos os sexos, o aparecimento das
espinhas incomoda a aparência, o apetite também aumenta, dormem muito.

As estruturas ósseas e musculares têm acentuado desenvolvimento, a


alteração de humor é constante, odores fortes são observados, tudo por causa
do amadurecimento das glândulas que começam a produzir hormônios
importantes na capacidade de reprodução. Nas meninas o surgimento da
menstruação indica que óvulos estão sendo produzidos. Nos meninos o
acelerado crescimento dos órgãos sexuais indica a produção de
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espermatozoides. Estas mudanças e muitas outras acontecem de maneira


conflituosa causando sentimento de vergonha, pois se acham inadequados.

Pode se imaginar em uma unidade de internação a dificuldade de um


adolescente tem ao se despir para tomar banho, além da atividade masturba
tória comum neste período. O desenvolvimento da sexualidade do ser humano
vai além da parte biológica. Não pode esquecer a expressão afetiva, que
envolve sentimentos, emoções, atitudes e valores que depende da cultura em
que estão inseridos. O que não difere do desenvolvimento intelectual e
emocional.

Na infância os pais são a figura central. Relação esta que ajuda a


criança em suas descobertas, sua identidade, desejos e capacidades.
Internamente sua imagem psíquica vai se desenvolvendo com relação ao
respeito pelos pais e a ela mesma. O pensamento ilusório da infância, da lugar
aos reais que levam a analise das causas e dos efeitos. Passam a entender e
considerar o tempo e espaço, e a distingui o presente o passado e futuro. Para
Piaget (1973, p.14):

Passam a entender e considerar o tempo espaço, e a distinguir


o presente o passado e o futuro.

Aspectos de sua vida, onde questionamentos e conflitos com as


pessoas que exercem o papel de autoridade sobre eles surgem, conflito esse
baseado na busca das próprias verdades e valores na sua conduta.

A imaturidade emocional e social torna o impiedoso em seus


julgamentos, por não considerar aspectos morais e humanos. Estão sempre
contrario em pensamentos, é acham que todos estão contra ele, onde a
angustia e os sofrimentos tomam conta, trazendo grande conflito, fase essa
que propicia para envolvimento com drogas e álcool.
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Sentindo diferente e desentendido, é normal que procure alguém que


possa ser igual a ele, que pense da mesma forma. Aspecto que o leva ao
agrupamento com outros adolescentes como forma de suprir as necessidades
de dependência antes achada com a família. Identificam- se pelas preferências
que são as mesmas; a moda, costumes, vocabulário, preferência musical, tudo
parece perfeito pensam iguais.

Para Bessa (2004. P.11), esta fase pode ser defina como:

A adolescência é uma fase de metamorfose. Época de grandes


transformações, de descobertas, de rupturas e de aprendizados. É
por isso mesmo, uma fase da vida que envolve riscos, medos,
amadurecimento e instabilidades. As mudanças orgânicas e
hormonais, típicas dessa faixa etária, podem deixar os jovens
agitados, agressivos, cheios de energia e de disposição em um
determinado momento. Mas, no momento seguinte, eles podem
acometidos de sonolência, de tédio e de uma profunda insatisfação
com seu próprio corpo, com a escola, com a família, com o mundo e
com a própria vida.
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2.2- A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO CONTEXTO BRASILEIRO

Denominadas de crias, as crianças viviam sob sujeição dos adultos, dos


quais não entendiam que a criança possui capacidade de pensar, sentir e
querer.

De acordo com Del Priore (1991, p.7): ”A história da criança fez-se à


sombra daquela do adulto”. Os pais, mestres e senhores e patrões, agiam com
violência usando de força e humilhações. Ainda em acordo com Del Priore
(1991, p.15): “No século XIX, a criança por definição era uma derivação das
que eram criadas pelos que lhe deram origem”.

Eram criadas sob a responsabilidade nem sempre assumidas da família


consanguínea ou da vizinhança. O abandono e o infanticídio eram práticas
comuns na sociedade da época. A roda dos expostos, onde os recém-
nascidos eram colocados, salvaram da morte várias crianças abandonadas
cumprindo um papel valoroso no sentido de dar assistência, durou de 1726 até
1950, eram coordenadas pelas Casas de Misericórdia.

Segundo Marcilio (2006), a roda dos exposto foi uma das


instituições brasileiras de maior duração, sobrevivendo aos três
maiores regimes da nossa historia, cumprindo um papel
importante, papel este que seria o de dar assistência a todas
as crianças abandonadas no país.

Ao chegar a determinada idade as crianças, eram entregues a família de


condição monetária satisfatória, onde aprendiam o ofício de ferreiro, sapateiro,
balconista e as meninas com empregada doméstica. Esse seria o primeiro
procedimento na história do Brasil em relação ao atendimento a criança e
adolescente.
9

Em todo contexto histórico e social brasileiro, as crianças e os


adolescentes receberam diferenciados amparos. Em 1927, é promulgado o
Código de Menores; em 1943 é adaptado às novas leis de trabalho, em 1979
ano Internacional da Criança e do Adolescente se tem novamente uma
alteração que sob a lei nº 6697/79, vigora desde 1990, denominado Estatuto da
Criança e do Adolescente, assegurando direitos fundamentais como: direito a
vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à convivência familiar e comunitária,
educação e cultura, ao esporte e lazer e a profissionalização, conquista
derivada de uma luta da sociedade civil organizada.

Depois de revogadas as Leis Federais nº4. 513/64- Política Nacional de


Bem Estar do Menor e nº6. 697/79- Código dos Menores, é instituído o Estatuto
Da Criança e do Adolescente- ECA, promovendo a dignidade e a justiça.

No exercício da democracia, garantindo a cidadania não apenas as


crianças e adolescentes, mas de toda sociedade discriminada e excluída. A
carta magna Federal de 1988 implanta no Brasil, os Direitos Internacionais da
Criança, proclamados pela ONU em 1959. Desde então o ECA direciona
políticas em favor das crianças e dos adolescentes.

Volpi (1997, p.163) confirma: [...] “as Nações Unidas se


dispuseram a mudar o rumo da historia do século xx, dando
prioridade aos cuidados com infância. Cada país deveria
aperfeiçoar suas relações sociais para o adequado
atendimento das necessidades básicas dos seus cidadãos nos
primeiros anos de vida.
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2.3-A CONSTITUIÇÃO E O ADOLESCENTE

A priori, o projeto em questão embasou-se na amplitude da Constituição


da República que cita no art. 227, que é dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança e o adolescente, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao laser, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligencia,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Segundo o SINASE, “A Constituição Federal de 1988, certamente, é a


que mais se aproxima da definição clássica de República – res publica: coisa
pública, o que é pertencente à comunidade. Essa compreensão respalda-se
em diversos dispositivos da nossa Magna Carta que preceitua a soberania
popular pelo voto e a participação da população na formulação das políticas e
no controle das ações em todos os níveis”. Tal advento deu origem ao ECA
que define o adolescente como sujeito de direito, entretanto, não se pode
desprezar o fato de que o mesmo é responsável pelos seus atos.

Sendo Assim, afirma Falcão (1991) que do ponto de vista conceitual, o


ECA representa o progresso, não só para a área da infância, como também
para dar continuidade à peleja pela construção de um Estado que nutre da
universalização dos direitos sociais.

No tocante ao ECA, reitera(REZENDE e CAVALCANTE, 2008, p.107):

[...] como a orientação política e institucional, no campo


específico da criança e do adolescente, enquadra-se no
paradigma de construção de um Estado de Bem - Estar
promovedor da universalização de direitos sociais. Nesse
sentido, a lei se configura como um verdadeiro instrumento
politico-cultural e institucional de contribuição para transformar
a configuração predominante no Estado brasileiro.
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2.4- O ECA

Diferente do antigo código de menores, o ECA, compreende a criança e


o adolescente, valorizando seu contexto evolutivo. Produto de uma conquista
árdua junto ao Estado, a sociedade brasileira cumpre o papel, exercendo a
democracia. Transforma a historia no que se refere ao ser social. A criança
passa a ter direitos antes negligenciados pelos adultos. As políticas básicas
tais como: saúde, educação, habitação, laser e outros levam o Brasil a
percorrer o caminho da justiça e da dignidade.

Em seu art.4º, o ECA preconiza:

“E dever da família, a comunidade, da sociedade em geral e


poder publico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, a saúde, a alimentação, a
educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização, a cultura,
a dignidade, ao respeito, a liberdade e a conivência familiar e
comunitária” (Brasil, 1990, p.1).

O ECA vem coroar a evolução de um povo que lutou e luta por direitos
ignorados, que proporcionou mudanças na concepção de criança e
adolescente como sujeito de direito e indivíduos excluídos, discriminados como
menores sociais em situação de risco.
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2.5- SINASE

Em comemoração aos 16 anos da publicação do ECA, a Secretaria


Especial dos Direitos Humanos( SEDH), e o conselho Nacional de Direitos da
Criança e do adolescentes (CONANDA), apresenta o (SINASE)Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo.

Permeado de complexidade e desafios, que necessitava de competente


proposta, para se evitar e limitar a problemática, envolvendo adolescentes e
infração. Inspirado e tendo como direcionador o ECA, reafirma proposta
pedagógica da medida socioeducativa.

Com o intuito de prevenir e de enfrentar as situações de violência


envolvendo adolescentes autores de ato infracional ou vitimas de violação de
direitos no cumprimento de medidas socioeducativa.

O documento é organizado em nove capítulos, analisando a realidade


dos adolescentes em conflito com a lei e as medidas socioeducativas com
ênfase para as privativas de liberdade. Trata também da integração das
políticas públicas destinadas a esta questão social, da gestão dos programas e
gestão pedagógica.

SINASE cita [...] “Prevenir tem o sentido impedir, atalhar,


evitar, de sorte que uma política de prevenção direta à
criminalidade infanto-juvenil tem por escopo interromper a
marcha da criança e do adolescente.” (Brasília, 2006)
13

2.6-O ATO INFRACIONAL

As relações são normais à ocorrência do controle social sobre o


individuo no intuito de que os comportamentos estejam dentro dos padrões
estabelecidos. Entender tal contexto ajuda compreender melhor quando um
individuo comete um ato não permitido por lei, o qual se denomina crime.

Quando esta contravenção ou crime é cometido por um adolescente dar-


se nome de ato infracional, denominado no Estatuto da Criança e do
Adolescente, no artigo 103.

Art.103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal.

Por considerar o adolescente individuo em desenvolvimento e sujeito de


direitos, levando em conta o crime como ação culpável, e que a paz esperada
pela civilidade não venha ser ameaçada, entende-se que o adolescente é
responsável por uma conduta inadequada e venha a cumprir de acordo com a
lei pelo ato cometido. Os artigos 112 a 125 da ECA determinam o que deve
acontecer com adolescente que encontra nesta condição relacionas com
medidas socioeducativa.
14

2.7-FATORES QUE INDUZEM O ADOLESCENTE AO DELITO

A sociedade afirma inequivocamente que a má distribuição de renda é


fator primordial que leva a prática da violência.
Segundo (VOLPI, 2006, p. 54)

Assim, seria simples estabelecer uma relação de causa e efeito


entre a pobreza cotidianamente por esses adolescentes e os
atos infracionais por eles cometidos. É falso, porém, de um
ponto de vista sociológico, que a miséria produza violência, já
que a relação entre as duas é biunívoca. Hoje se trabalha com
a idéia de que a violência é provocada por vários fatores que,
dependendo do contexto, desempenham pesos diferentes.

Desta forma pode se afirmar que a pobreza conduz à criminalidade,


entretanto é coerente que se faça analise minuciosa do contexto histórico de
cada indivíduo, pois se trata de preconceito relacionar a classe menos
favorecida à criminalidade, confirma (VOLPI, 2006, p. 55):

Apesar desta realidade, no entanto, as classes mais


favorecidas economicamente tendem a ver o crime como uma
ameaça constante das classes empobrecidas, as “classes
perigosas” que precisam ser mantidas afastadas, sob controle
e repressão, se possível isoladas nas prisões, que por seu lado
também devem estar situadas o mais longe possível das
“pessoas de bem”.

No entanto é possível assegurar que aliada à pobreza, a necessidade de


ajudar no sustento da família faz com que o adolescente precocemente,
procure meios de suprir tais carências, recorrendo muitas vezes à
criminalidade. Ratifica Sá (2010, p. 30), que algumas crianças apresentam
comportamentos e experiências que não correspondem à idade cronológica,
parecendo estar sempre de mal com a vida. Suas histórias os obrigam a
amadurecer antes do tempo provocando o desvio de suas trajetórias rumo à
15

indisciplina e até mesmo à criminalidade.

Reiteram Torossian e Rivero (2009, apud. Foucault, P.57):

O intuito de analisar em que condições e sob quais estratégias


o conceito de vulnerabilidade e risco está se afirmando nos
parece fundamental para trabalhar no campo das políticas
públicas, especialmente no domínio da assistência, da
educação e da saúde.

Podemos elencar como demais fatores que destinam ao ato infracional:

Observamos que as crianças e adolescentes do Brasil


representam a parcela mais exposta às violações de direitos
pela família, pelo Estado e pela sociedade, exatamente o
contrario do que define nossa Constituição Federal e suas leis
complementares. Os maus tratos; o abuso e a exploração
sexual; a exploração do trabalho infantil; as adoções
irregulares; o trafico Internacional e os desaparecimentos; a
fome; o extermínio; a tortura; as prisões arbitrárias infelizmente
ainda compõem o cenário por onde desfilam nossas crianças e
adolescentes. (VOLPI, 1997, P.8)

As circunstancias que levam a um adolescente a se tornar infrator são


complexas e variadas. Winnicott (1994, p.15) relaciona a negligencia e a
privação familiar com fatores responsáveis pelo cometimento de delitos. Pois, a
maioria dos jovens possui família, mas, no entanto esta ausente, não cria um
vinculo para assumir realmente seu papel, não há uma figura que represente
autoridade, seja por situações de maus- tratos, abandono, privações materiais,
alcoolismo ou drogas. Porém, não só a estrutura familiar pode ser apontada
como fator determinante no ingresso de um adolescente no cometimento de
ato infracional, mas a estrutura social também, as politicas sócias básicas, a
saúde, a escola, o lazer, o estado e a sociedade são fatores que interferem no
contexto.

Para Teixeira(1994, p.15) situações de violência fazem com que um


adolescente venha a se tornar um infrator. Quando a criança ou adolescente é
exposto a situações de extrema violência, elas poderão responder com
condutas também violentas, o delito, provando desta forma, imensos prejuízos
16

na formação de sua identidade, nas relações que trava consigo mesmo e com
outros.

De acordo com Assis(1999, p.30) vários fatores de risco podem ser


associados aos adolescentes infratores, como: circulo de amigos, consumo de
drogas, determinados tipos de lazer, valores, autoestima dos adolescentes, se
há na família vínculos afetivos, o numero de irmãos, a escola, a dor e o
sofrimento devido a violência sofrida pelos pais.

De acordo com as perspectivas sociológicas mais atuais, vários fatores


interferem no encadeamento de atos violentos, não somente os econômicos,
como pobreza e o desemprego. Neste sentido, podemos relacionar fatores
estruturais – trata-se do desemprego, exclusão social, não efetivação do
desenvolvimento pleno em nosso país; fatores que, quando recorrentes, podem
criar um ambiente propício ao desencadeamento de atos violentos; fatores
culturais – referem-se à quebra dos vínculos e regras de sociabilidade entre as
pessoas, e afirmação de determinados valores por grupos sociais, etários, ou
de gênero; fatores institucionais – trata-se da influência das agências de
controle de criminalidade, ou seja, a presença ou ausência de órgãos do
Sistema de Justiça Criminal, como as Polícias Civil e Militar, na forma de
práticas, recursos, efetivos na rua. A questão da impunidade, em que alguns
grupos de delitos são mais punidos do que outros; fatores psicológicos –
explicam porque os indivíduos reagem diferentemente às situações
conflituosas, dentro de um meio social, de acordo com suas estruturas
psíquicas. (Teixeira, 1998).

Para Bocca (2002), a violência na vida do adolescente aparece de


diversas formas, pois, não raro, atos de violência são fatores constituintes de
sua existência em condições adversas, como nas brigas de família, muitas
vezes provocadas pelo uso e abuso do álcool, aliado à falta de dinheiro para o
suprimento das necessidades básicas. Isso acaba afetando o adolescente, pela
brusca ruptura dos laços afetivos e culturais, pela rejeição por parte dos
colegas da escola e pelo aliciamento à prostituição e às drogas. Alguns
adolescentes são obrigados, pela situação de exclusão e de desigualdade
social, a trabalhar cedo, a ganhar pouco, a abandonar a escola, ou seja, são
17

violentados pela busca precoce e pela exploração do trabalho, assim como


pelo mal-estar produzido pela percepção social de um ser que está à margem
da sociedade. A violência marca, enfim, as suas vidas, no modo como eles
reproduzem e, por vezes, ampliam, em relação à sociedade, as formas de
violência de que são vítimas.
18

2.8- MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas sócias educativas, cujas disposições gerais encontram-se


previstas nos arts. 112 a 130 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/90) são aplicáveis aos adolescentes que incidirem na pratica de atos
infracionais.

A legislação atribui penas para a prática de tais atos, quando uma


criança - pessoa de zero a 12 anos incompletos, ou um adolescente - pessoa
de 12 anos completos a dezoito anos incompletos (Definição de Adolescente
Segundo a Lei nº 8069/13/07/90 – ECA), pratica algum ato infracional descrito
na Lei como crime e/ou contravenção penal.

As medidas empregadas pelas autoridades quando verificada a prática


do ato infracional são descritas no ECA em seu art.112 : advertência, obrigação
de reparar danos, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida e
semiliberdade, sendo responsabilidade essa do CREAS de implementá-las. E
também a internação, onde os adolescentes são recebidos em unidades
socioeducativas e ficam sob regime fechado. É assim que o ECA tem como
construção, a responsabilização deste adolescente que não pode responder
penalmente diante do “crime” que cometeu, mas que tem responsabilidade
diante da sociedade. O Estado que representa o poder judiciário, convoca este
adolescente para responder diante das leis que regem toda á sociedade.

Emílio Garcia Mendes (2006) confirma, ”a responsabilidade jurídica é


um componente central de seu direito a uma plena cidadania. Nesse sentido é
fundamental que o adolescente possa responder por seus atos para que ele
seja um sujeito de direitos e deveres”.

Baseado em pesquisas e vivencia direta, este trabalho se propõe


abordar o adolescente e o que leva a cometer o ato infracional, fatores
motivadores para a pratica - Crime como patologia, ou de origem
19

endocrinológica, certo que estes fatores não podem ser destacados, pois o
organismo tem muita influencia nas atitudes do ser humano; que glândulas
determinam atitudes violentas e não refletidas. Quem em perfeito equilíbrio
mental físico e social seria capaz de cometer algum ato de origem criminal?
Seria bastante difícil.

Convive-se com estas experiências a todo o momento. Os fatores


sociais contribuem intensamente para a criminalidade, a miséria material
predispõe à miséria moral, elemento regulador das relações e ações do
individuo. Jamais uma criatura faminta, desesperada, abandonada, tomada
pela revolta e indignação contra tudo e contra todos teria condições de
identificar tais princípios morais.

As medidas socioeducativas de natureza preventiva são aplicadas de


acordo com a infração, leva em conta a disponibilidade dos programas e
serviços de âmbito municipal, regional e estadual, garantindo ao adolescente o
acesso às oportunidades para a superação da condição de exclusão social. O
contato com familiares, mesmo no caso em que este se encontrar privado de
liberdade, o acesso aos serviços de saúde, a defesa jurídica, o trabalho, a
educação que são de responsabilidade das políticas públicas setoriais.

Sob custodia do ESTADO, a segurança do adolescente privado de


liberdade será assegurada com atenção ao aspecto arquitetônico das
instalações das unidades, além das formas de contenção sem violência e
arbitrariedade por parte da segurança. Os profissionais dos programas terão
obrigatoriamente treinamento permanente, sendo respeitados, os educados, o
direito da não discriminação e não-estigmatização.

As medidas são dividas em medidas privativas de liberdade ( inserção


em regime de semi-liberdade ou internação em estabelecimento educacional) e
medidas não privativas de liberdade( advertência, obrigação de reparar o dano,
prestação de serviço a comunidade, liberdade assistida). ( Saraiva, 2006,
p.149)
20

Medida socioeducativas aplicadas- Advertência (ECA, art.115) aplicada


pelo Juiz da infância e da Juventude, aconselha-se a não praticar o ato
novamente, de caráter informativo e formativo.

Reparação de Danos (ECA, art.116) preventiva e educativa, restitui-se o


bem a vitima.

Prestação de serviço à comunidade (ECA, art.117) executada pelo


CREAS com parceria com órgãos não governamentais; o adolescente é
acompanhado pelo órgão executor com atividades de utilidade real e dimensão
social relevante. Sendo comprida em jornadas de oito horas semanais onde é
obrigatória a frequência escolar.

Liberdade Assistida (ECA, arts,118 e 119) sob gestão do CREAS com


parceria com o Poder Judiciário, que supervisiona e acompanha as ações
desenvolvidas. O adolescente é acompanhado e auxiliado por um orientador
personalizado, garantindo proteção, inclusão a comunidade, incentivo na
manutenção dos vínculos familiares, frequência escolar, profissionalização e
inserção no mercado de trabalho.

Semi-liberdade (ECA,art.120) atende como primeira medida no


processo que transita entre a internação e a volta a comunidade.
Possibilitando a realização de atividades externas, independentemente de
autorização judicial. Sendo obrigatória a escolarização e a profissionalização,
devendo se possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

Internação (ECA, art.121 a 125) privação de liberdade para os


adolescentes que cometeram atos infracionais graves, tem caráter educativo e
coercitivo, sendo aplicada num sistema de segurança com eficácia, lhe é
garantido constitucionalmente (CF/88 e no ECA) o respeito à condição peculiar
de pessoa em desenvolvimento. Avaliação da medida a cada seis meses,
tendo como tempo máximo da medida três anos com liberação obrigatória aos
vinte e um anos de idade. Liberdade para atividades externas de acordo com
critérios da equipe técnica da unidade.
21

A internação é cumprida em unidades destinadas exclusivamente para


adolescentes com critérios estabelecidos de separação por idade, porte físico e
gravidade da infração. Participação efetiva em atividades pedagógicas tendo
direito os adolescentes que também cumprem internação provisória. Todas as
regras estabelecidas para uma boa convivência são discutidas e decididas com
a participação do adolescente, do contrario devem ser divulgadas amplamente
e escritas.
As medidas disciplinares aplicadas ao adolescente por descumprimento
de normas serão esclarecidas colocando a conhecimento das razões que o
levaram a ser punido. E de extrema importância à participação da família e da
comunidade com, por exemplo, em atividades religiosas.

Atividades externas são primordiais, oferecendo espaço sadio para a


vivência da afetividade e sexualidade. Deve-se orientar a propósito da
responsabilização do adolescente, levando-o a refletir sobre o que levou a
cometer tal infração. As atividades psicoterapêuticas são de direito, sendo
destinado um técnico de referência para cada adolescente.

Em face da doutrina da proteção integral, preconizada pelo Estatuto em


seu art. 1º, temos que as medidas aplicáveis possuem como desiderato
principal demonstrar o desvalor da conduta do adolescente e afastá-lo da
sociedade num primeiro momento, como medida profilática e retributiva,
possibilitando-lhe reavaliação da conduta e recuperação, preparando-lhe para
a vida livre, a fim de que num segundo momento, seja reinserido na sociedade.

Não se trata de pena, embora presente o caráter retributivo, pois o


objetivo e natureza da medida socioeducativa não é punir, mas
primordialmente ressocializar. Entende-se que a preocupação exagerada dos
legisladores em relação à elaboração de medidas socioeducativas
recuperativas é explicada pelo fato de o menor ser ainda um indivíduo em
processo de construção da personalidade, que por um ou outro motivo, comete
delito, mas que ainda pode ser resgatado para uma sociedade justa no futuro,
afastando-o da grande possibilidade que o ronda, no sentido de continuar a
22

delinquir, quando de sua imputabilidade.

Não há, pois, o interesse da legislação em apenas punir, mas tentar


resgatar esse adolescente entregue á delinquência enquanto ele ainda é
passível de tratamento eficaz de revitalização. É, pois, possível que as medidas
socioeducativas da atual legislação menorista estejam sendo eficazes para
combater a crescente marginalização dos menores?

Ora, é sabido que o mundo evoluiu e que as crianças e jovens, estão


cada vez mais precoces, bem como, tendo acesso a muitas informações e
experiências que antes eram restritas aos adultos. Evoluíram e atingiram um
grau de desenvolvimento mental muito além do que pregam os arcaicos
comandos legais. Assim, gozam de uma situação relativamente privilegiada
quando praticam um ato criminoso, visto que o legislador o vê como vitima e
não como o agressor.

O trabalho que ora se apresenta, busca compreender as causas


originárias da atividade delituosa dos jovens, desde os primórdios até os dias
atuais, evidenciando a eficácia das medidas socioeducativas da legislação em
vigor, bem como alternativas para o combate dessa marginalização dos
adolescentes.

Segundo o Paradigma do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas


para o Desenvolvimento (PNUD), reitera (Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo – SINASE, 2006, p.119):

As ações socioeducativas devem exercer uma influência sobre


a vida do adolescente, contribuindo para a construção de sua
identidade, de modo a favorecer a elaboração de um projeto de
vida, o seu pertencimento social e o respeito às diversidades
(cultural, étnico-racial, de gênero e orientação sexual),
possibilitando que assuma um papel inclusivo na dinâmica
social e comunitária. Para tal, é vital a criação de
acontecimentos que fomentem o desenvolvimento da
autonomia, da solidariedade e de competências pessoais
relacionadas, cognitivas e produtivas.
23

A analise da efetividade das medidas socioeducativas da legislação


atual é de suma importância para aferir se tais medidas estão sendo eficientes
na ressocialização do adolescente infrator, ou do contrario, estão servindo
como meio reiterado para que os jovens persistam na criminalidade. (Cunha,
2007, p.02)

Para que uma norma jurídica cumpra sua finalidade não basta apenas
que ela tenha validade técnico- jurídica. Significa dizer que a eficácia de uma
norma esta estritamente ligada á aceitação da sociedade aos seus ditames, ou
seja, ela deve ser formalmente valida e socialmente eficaz. (Reale, 1995,
p.113).
24

2.9- O EDUCADOR E O ADOLESCENTE INFRATOR.

A prática profissional da assistência social com o objetivo de


compreender o programa de intercessão nas relações sociais constitui-se
tarefa das mais desafiantes. Abrange articulações nos aspectos práticos e
teóricos relativos à postura do profissional, a análise crítica e em especial a
influência da face histórica de cada individuo. Diante de tal problemática propõe
(IAMAMOTO, 2005, p.20):

Um dos maiores desafios que o assistente social vive no


presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade
e construir propostas de trabalho criativas e capazes de
preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes
no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só
executivo.

Para que possa desenvolver a habilidade de construir tais propostas de


trabalho criativo e efetivo, torna-se imprescindível que o profissional de serviço
social tenha uma visão crítica bem como a sensibilidade para detectar os
fatores que determinam o envolvimento do adolescente com a criminalidade e
os meios pelos quais se poderá intervir na recuperação do mesmo, através da
implantação de projetos que despertem seu interesse e refaçam suas
identidades antes baseadas em identificações negativas, pois “Tentar impor-
lhes normas “de fora e do alto”, pretendendo com elas orientar seus passos,
será sempre uma atitude recebida com indiferença ou hostilidade. É como
tentar fazer a felicidade das pessoas contra sua vontade.” (COSTA, 1999, p.
87).

A Politica de Assistência Social - varias são as conquistas em 11 anos


da LOAS.O Estado intensificou os benefícios no que diz respeito aos direitos
da criança e adolescente, pessoas com deficiência e idosos. Os benefícios
empregados na erradicação da pobreza têm alcançado seu propósito. È sabido
que o Estado não é o único responsável na tomada de decisões, mas sim em
conjunto com a sociedade civil.
25

Em seu contexto histórico o Brasil evolui de maneira satisfatória em


relação às políticas sociais diante do capitalismo. O Estado no processo de
acumulação de capital levou em conta os movimentos sociais e políticos que
lutam pelas necessidades do cidadão. Intervindo o Estado implantou a
assistência social com prestação de serviços que abrange informações e ações
em toda área social incluindo medidas jurídicas, proteção ao consumidor e
conduta educativa.

Faleiros (1980, p57) [...] “esse domínio de intervenção são denominados


sociais por questões históricas e ideológicas. O fato de apresentar como social
uma medida política governamental, faz com que pareça boa à população.
Assim quando o governo fala de prioridades sociais, de prioridades humanas,
aparece como defensor das camadas pobres, ao mesmo tempo em que se
oculta e escamoteia a vinculação dessas medidas a estruturar econômica e à
acumulação de capital.”.
26

2.9.1- AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Em 1993 um movimento que envolvia gestores municipais, estaduais


com organizações não governamentais e governo federal aprovou a LOAS- Lei
Orgânica da Assistência Social que tem como diretriz a descentralização das
políticas-administrativas; a participação da população na formação da politica
tanto no controle público de suas ações; total prioridade e responsabilidade do
Estado de conduzir essas politicas; as famílias sendo prioridade dessas
politicas.

A LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) define a assistência social


como “direito do cidadão e dever do estado, é politica de Seguridade Social
não contributiva, que provê os mínimos sociais [...] através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa publica e da sociedade, para garantir o
atendimento ás necessidades básicas” ( Brasil, art. 1°, LOAS, 1993).

No intuito de efetivar tal legislação foi aprovada a nova Política Nacional


de Assistência Social-PNAS, e tendo como referencial a Norma Operacional
Básica-NOB, o ministério de Desenvolvimento Social e Combata à fome (MDS)
concretizar o Sistema Único da Assistência Social - SUAS. Foram
estabelecidos pela NOB os níveis de gestão para os municípios terem acesso
aos recursos federais, almejando reunir financiamento e gestão, categorizando
os serviços sócios assistenciais em três áreas de atuação: vigilância, proteção
e defesa social e institucional. Classificando a proteção social em “proteção
social básica” e “proteção social especial”.

Proteção social básica- voltada a prevenção de risco pessoal e social,


visando o desenvolvimento das famílias e dos indivíduos, na prevenção de
situação de risco, situação de pobreza monetária, fragilidades de vínculos
familiares e comunitários, esses serviços são promovidos pelo município com
unidades definidas como CRAS-centro de referência social.

Proteção social especial - visa á proteção de famílias e de indivíduos


27

em situação de risco pessoal e social, que já tiveram seus diretos violados


como abuso sexual, abandono, maus tratos físico e psíquico, cumprimento de
medida socioeducativa, uso de drogas entre outro onde são oferecidos
serviços, programas e projetos protetivos de promoção social.

Os serviços de proteção especial são divididos por níveis de


complexidade, por uma hierarquia de acordo com a especialização que se
exige na ação distinguindo entre proteção de social de média complexidade e
de alta complexidade.

Para tanto os programas PETI e SENTINELA vem atender e auxiliar tal


ação protetiva social. Já o agente jovem contribui na ação de proteção básica.
Contudo estes programas contribuem na promoção de inclusão social onde a
situação de vulnerabilidade é causada por fatores sociais que se inter-
relacionam. Porém necessitam de auxilio de diversas políticas publicas de
todos os níveis do governo e setor da administração publica.

Projeto Agente Jovem atende jovens entre 15 e 17 anos com ação


socioeducativa. Onde são oferecidas atividades que contribui no
desenvolvimento pessoal, social e comunitário favorecendo o compromisso do
jovem na permanência no sistema de ensino. Tem como objetivo ações
facilitadoras na sua integração quando este estiver no mercado de trabalho.
Torna possível a capacitação deste jovem no sentido que ele atue como agente
transformador no desenvolvimento de sua comunidade. Contribuir para a
diminuição de índices de violência, o uso de drogas, de gravidez não desejada
e das DST/AIDS. Ações que auxiliem na interação e integração no mercado de
trabalho. O público alvo é impreterivelmente os jovens que estão fora da
escola. Que estejam em situação de risco, que sejam egressos ou estejam sob
medida protetiva ou socioeducativa ou que sejam procedentes de programas.
Em cada município, 10% das vagas são necessariamente reservadas a
adolescentes portadores de deficiência.

PETE- Programa de Erradicação do trabalho Infantil oferta ações


socioeducativa de convivência, com integração à Bolsa Família onde há
28

transferência de renda as famílias que se encontram em situação de risco.


Com idade inferior a dezesseis anos, a criança ou adolescente é mantido na
escola sendo este um comprometimento da família. A implementação do
programa é compartilhada entre Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a
Subsecretaria de Direitos Humanos, o Fundo Nacional de Assistência Social
(FNAS) e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Programa Sentinela oferece proteção imediata ás crianças e


adolescentes vitimas de abuso e exploração sexual estendendo aos familiares,
prestando ajuda no fortalecimento da autoestima, na reparação e superação da
situação onde os direitos foram violados. Importante destacara contribuição do
programa na responsabilização dos autores da agressão ou exploração, na
identificação do fenômeno e riscos de correntes, na prevenção do agravamento
da situação e no resgate da dignidade e autonomia.
29

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos neste estudo comprovou-se que de uma


maneira geral, esta etapa da vida caracteriza-se pela resistência ao limite,
oposição às normas, oscilações comportamentais e conflitos existenciais. Fase
conturbada que faz com que o individuo entre em sofrimento procurando
saídas a qualquer preço.

Nesta ocasião é primordial a presença da família, prestando todo o


auxilio necessário com dedicação, paciência e amor, pois o mesmo se torna
vulnerável, uma vez que na busca de identidade, pode-se terminar envolvido
com o mundo da transgressão. Observou-se que o corpo e a personalidade
são acometidos de mudanças simultâneas provocando dificuldades de adaptar-
se a esta nova realidade, a vida adulta. Frente à cobrança das
responsabilidades decorrentes desta passagem o jovem pode encontrar-se
com escolhas, nem sempre bem sucedidas.

Conclui-se que são causas da criminalidade, fatores sociais,


psicológicos, econômicos, familiares, pessoais e culturais, sendo que
indivíduos diferentes que tiveram as mesmas experiências apresentaram
reações diversas, comprovando que cada indivíduo é único. Desta maneira
pode afirmar que cada adolescente carece de analise e consequente
metodologia personalizada para o enfrentamento de tal problemática.

Antes mesmo de remeter os adolescentes infratores as entidades


educacionais, deve-se, averiguar a existência de programas socioeducativos
específicos e se estes estão sendo executados conforme a proposta
pedagógica, tendo em vista que do contrario, estar-se-ia agravando a situação
dos jovens em conflito com lei.

O sistema, por ser falho na esfera de execução, acaba por tornar o


processo de ressocialização do adolescente, ineficaz, do ponto de vista jurídico
e social.
30

Portanto pode-se afirmar de forma convicta que o educador deve


expressar sua crença na possibilidade de resgate do adolescente,
considerando-se parte deste processo. No, qual se tem a intenção de
desenvolver fatores básicos e elementares na perspectiva de reinserção; são
eles autoestima, juízo critico, plano de vida e criatividade, capacidade esta que
desenvolvida torna-se fator protetor aos riscos.

Pode- se assegurar que é imprescindível a adoção de medidas


verdadeiramente humanas, na busca de cidadania e respeito aos direitos
assegurados aos jovens infratores, beneficiando, todos.
31

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