Você está na página 1de 19

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/4979312

O liberalismo economico na obra de José da Silva


Lisboa

Article · January 2002


DOI: 10.29182/hehe.v5i1.137 · Source: RePEc

CITATIONS READS

2 108

1 author:

José LuÍs Cardoso


University of Lisbon
72 PUBLICATIONS   280 CITATIONS   

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by José LuÍs Cardoso on 04 June 2018.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


o liberalismo económico
na obra de josé da silva lisboa*

José Luís C a r d o s o
Instituto Superior de Economia e Gestão
Universidade Técnica de Lisboa

RESUMO ABSTRACT

Este texto procura analisar o apego de José This paper aims at analysing the acceptance
da Silva Lisboa aos ideais de liberalismo by José da Silva Lisboa of the main tenets
económico, tendo sobretudo em atenção as of t h e d o c t r i n e of e c o n o m i c liberalism.
acções que desenvolveu e os textos que p u - Special attention is given to his activities
blicou entre 1804 e 1810. Começarei por and writings between 1804 and 1810, w h e n
destacar a importância do legado de Adam the influence provided by A d a m Smith is
Smith c o m o referência de autoridade que particularly relevant. Silva Lisboa has e x -
legitima a mensagem que Silva Lisboa vei- perienced two historical events, w h i c h were
cula através do seu livro Princípios de Econo- of an extreme importance for the spread
mia Política. Analisarei de seguida os seus es- and diffusion of e c o n o m i c d o c t r i n e s of
critos de caracter doutrinário, no rescaldo laissez faire in Brazil: the o p e n i n g up of
da abertura dos portos e dos Tratados de Brazilian ports in 1808 and the Treaty of
Amizade e de C o m é r c i o celebrados entre Friendship and C o m m e r c e b e t w e e n Por-
Portugal e Inglaterra em 1810.Por fim, p r o - tugal and England signed in 1810.The paper
curarei avaliar globalmente o significado do discusses the impact of b o t h events on the
papel que desempenhou nos dois processos. strueture of Portuguese colonial empire.

P a l a v r a s - c h a v e : e c o n o m i a política; libe- K e y w o r d s : political economy; e c o n o m i c


ralismo económico; Brasil, Portugal, Ingla- liberalism; Brasil, Portugal, Inglaterra.
terra.

* T e x t o a p r e s e n t a d o na m e s a r e d o n d a Pensamento Económico: o liberalismo de Cairu em


a
questão, IV C o n g r e s s o Brasileiro de História E c o n ó m i c a — 5 C o n f e r ê n c i a I n t e r -
n a c i o n a l de H i s t ó r i a de E m p r e s a s , U n i v e r s i d a d e de São Paulo, 2 a 5 de S e t e m b r o de
2001.

história econômica & história de empresas V.1 (2002), 147-164 I 147


1

A a d e s ã o i n c o n d i c i o n a l de Silva L i s b o a ao s i s t e m a de e c o n o m i a
política preconizado p o r A d a m Smith é claramente demonstrada e d o -
c u m e n t a d a p e l a l e i t u r a de seus Princípios de Economia Política, e s p e c i a l m e n -
t e d o c a p í t u l o e m q u e p r o c u r a r e b a t e r a s teses d e J o a q u i m J o s é R o d r i g u e s
de B r i t o acerca da superioridade do sistema e c o n ó m i c o defendido p e -
l o s fisiocratas. N o s e u c o n j u n t o , o l i v r o p r o c u r a m o s t r a r a r e l e v â n c i a e
c o r r e c ç ã o d o s p r i n c í p i o s d e s e n v o l v i d o s na Riqueza das Nações, s e n d o
Silva L i s b o a s o b r e t u d o i n f l u e n c i a d o p e l a m e n s a g e m d e a b e r t u r a e c o -
n ó m i c a , no sentido de u m a maior liberdade de actuação dos agentes
1
e c o n ó m i c o s i n d i v i d u a i s . É o q u e fica e x p r e s s o na s e g u i n t e p a s s a g e m :

"A simplicidade e dignidade do sistema de Smith, e n t r o n i z a n d o


o t r a b a l h o , e a l i b e r d a d e d e c a d a i n d i v í d u o n o m a n e j o d o s seus n e -
gócios, s e m i n t e r v e n ç ã o dos q u e e x e r c e m p o d e r de Estado, segura a
r i q u e z a , e x t i r p a a p r e g u i ç a , e t e m p o r b a s e e a b o n o a d o u t r i n a das
Divinas Letras, q u e m a n d a cada i n d i v í d u o seguir a e c o n o m i a da
formiga, a qual trabalha e a c u m u l a p e l o p r ó p r i o interesse e previ-
d ê n c i a , s e m a l g u m e x t e r n o d i r e c t o r p ú b l i c o " (Lisboa 1 8 0 4 , 9 2 ) .

P a r a Silva L i s b o a , e r a m j u s t a m e n t e a s s i t u a ç õ e s d e r e s t r i ç ã o i m p o s t a s
a o s a g e n t e s e c o n ó m i c o s — tais c o m o a v i g ê n c i a d e " e s t a n c o s , v í n c u l o s ,
b e n s de m ã o m o r t a , e m b a r g o s , taxas, e o u t r o s achados de obscuros
t e m p o s " (ibid, 5 ) — q u e e x i g i a m u m a e s p e c i a l t o m a d a d e a t e n ç ã o p o r
p a r t e dos g o v e r n a n t e s e legisladores, aos quais c o m p e t i r i a p r o m o v e r a
a p l i c a ç ã o das leis e s s e n c i a i s d a e c o n o m i a p o l í t i c a , d e f i n i d a c o m o " a
ciência e arte de p r o v e r às necessidades, e c o m o d i d a d e s de u m a nação,
p a r a o fim d a m a i o r o p u l ê n c i a d o s p a r t i c u l a r e s e d o E s t a d o " (ibid, 3 8 ) .
O s seus o b j e c t i v o s e r a m o s d e m o s t r a r a i n c o n v e n i ê n c i a d e t o d a e
q u a l q u e r legislação d i s c r i c i o n a r i a m e n t e impeditiva da acção e c o n ó m i c a ,
e de g l o r i f i c a r a " i n d ú s t r i a activa, t r a b a l h o d i s c r e t o , i n s t r u ç ã o franca,
c o m é r c i o l i v r e " , d e m o d o a q u e "se d e i x e a c a d a i n d i v í d u o l i v r e m e n t e
t r a b a l h a r , i n s t r u i r , e d i s p o r e m b o a f é d o f r u t o d o seu t r a b a l h o h o n e s t o "
(ibid, 2 9 ) .

1
Todas as citações de textos de José da Silva Lisboa são feitas a partir das edições
originais. Os seus escritos e c o n ó m i c o s mais relevantes estão reeditados em Lisboa
1 9 9 3 . Cf. t a m b é m Lisboa 1999 e os textos recolhidos em R o c h a 2 0 0 1 .

148 I José Luís Cardoso


E m f u n ç ã o d e tais o b j e c t i v o s , n i t i d a m e n t e i n s p i r a d o s n u m i d e á r i o
de liberalismo e c o n ó m i c o , define o A u t o r um c o n j u n t o de princípios
d e e c o n o m i a p o l í t i c a cuja e s s ê n c i a s e p o d e r á a g l u t i n a r n o s s e g u i n t e s
postulados: segurança da p r o p r i e d a d e e da liberdade individuais g a r a n -
tidas p e l o s o b e r a n o , a q u e m i g u a l m e n t e c o m p e t e a m a n u t e n ç ã o e a
p r o p a g a ç ã o d a m o r a l i d a d e e d a i n s t r u ç ã o p ú b l i c a ; d i s t r i b u i ç ã o das a c t i -
vidades de acordo c o m a escolha espontânea dos indivíduos; incentivo
do trabalho produtivo e p r o m o ç ã o do crescimento dos fundos anual-
2
mente acumulados.
E n q u a d r a n d o estes p r i n c í p i o s , J o s é d a Silva L i s b o a n ã o p o u p a a s
sistemáticas referências a u m a acção n ã o i n t e r v e n t o r a do Estado, r e a -
f i r m a n d o q u e " o soberano deve exercer antes u m p o d e r p u r a m e n t e
t u t e l a r , e d e b e n é f i c a i n f l u ê n c i a (...) d o q u e a u t o r i d a d e c o m p u l s ó r i a e
d e d i r e c ç ã o i m e d i a t a " (ibid, 5 9 ) .
P a r a e n f a t i z a r a s suas c o n v i c ç õ e s d e f e i ç ã o l i b e r a l , r e c o r r e i n s i s t e n -
t e m e n t e ao e x e m p l o d a d o p o r A d a m S m i t h e p o r alguns dos seus
s e g u i d o r e s e d i v u l g a d o r e s e u r o p e u s . E ao m é r i t o da Riqueza das Nações
c o n t r a p õ e a m e n o r i d a d e , q u e r d a a n t e r i o r o b r a d o s fisiocratas e d e
J a m e s S t e u a r t , q u e r da crítica de autores posteriores. Saliente-se q u e
nestas p a s s a g e n s d o seu l i v r o Silva L i s b o a revela u m i n v u l g a r c o n h e c i -
m e n t o da literatura e c o n ó m i c a coeva produzida no exterior, c o n h e -
c i m e n t o esse q u e v i r i a a e v i d e n c i a r e t e s t e m u n h a r a o l o n g o d a s u a
carreira literária.
T o d o s o s seus a r g u m e n t o s p r ó - s m i t h i a n o s c o n f l u e m n o c a p í t u l o f i n a l ,
d e s t i n a d o a e n a l t e c e r a " e x a c ç ã o filosófica e o r t o d o x i a p o l í t i c a das d o u -
t r i n a s d e S m i t h " (ibid, 1 9 1 ) , e c u j a e x t r e m a e x a l t a ç ã o p a n e g í r i c a é b e m
patente no seguinte excerto:

" C o m Smith, q u e a b r a n g e u t u d o q u a n t o havia d e b o m e seguro


n a n a v e g a ç ã o d o a t l â n t i c o e c o n ó m i c o , t e r e m o s sábio p a l i n u r o , p r u m o
certo, e exacta carta de marear, para se p o d e r proejar em todos os
r u m o s e d i r e c ç õ e s d a i n d ú s t r i a , p a r a o m a i o r c ú m u l o possível d e
o p u l ê n c i a e p r o s p e r i d a d e da nação. Os obstinados e atrasados, q u e
n ã o s e q u i s e r e m d e s m a m a r d o p r i m e i r o l e i t e , ficarão r a q u í t i c o s e e m
p e r p é t u a a t r o f i a " (ibid, 1 9 9 ) .

2
Para u m a análise detalhada das principais características do p e n s a m e n t o e c o n ó m i c o
de José da Silva Lisboa, veja-se C a r d o s o 1 9 8 8 , 1989 e A l m o d o v a r 1 9 9 3 , 1 9 9 5 .

0 liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa I 149


2

E s t e a p r e ç o p e l a Riqueza das Nações v o l t a r i a a m a n i f e s t a r - s e nas suas


três Observações, p u b l i c a d a s n o R i o d e J a n e i r o e n t r e 1 8 0 8 e 1 8 1 0 . Silva
Lisboa d e s e m p e n h a v a e n t ã o o cargo de D e p u t a d o e Secretário da Mesa
d a I n s p e c ç ã o d a A g r i c u l t u r a e C o m é r c i o n a B a h i a , sua c i d a d e natal. F o i
t a m b é m na Bahia q u e teve lugar a p r i m e i r a a c o s t a g e m da comitiva do
P r í n c i p e D. J o ã o no início do a n o de 1 8 0 8 , q u a n d o a C o r t e se transferiu
p a r a o Brasil. E da B a h i a foi e s c r i t a a C a r t a R é g i a de 28 de J a n e i r o de
1 8 0 8 q u e e s t a b e l e c e u o fim das r e l a ç õ e s c o m e r c i a i s exclusivas e n t r e o
Brasil e a m e t r ó p o l e .
J o s é d a Silva L i s b o a esteve d i r e c t a m e n t e l i g a d o à e l a b o r a ç ã o desta
Carta Régia, certamente por incumbência de D. R o d r i g o de Souza
3
C o u t i n h o , o mais influente conselheiro do Príncipe D. João. Entre
o u t r o s a p l a u s o s d e i d ê n t i c o t e o r e n c o m i á s t i c o e g o n g ó r i c o , este a c t o
m e r e c e - l h e o s e p í t e t o s d e " n o b r e foral e m a g n a c a r t a d o s E s t a d o s u l t r a -
m a r i n o s " (Lisboa 1 8 0 8 - 9 , 1 5 7 ) o u d e " f i l a n t r ó p i c o d i p l o m a , M a n d a d o
n o v o e civil E v a n g e l h o d a p a z e d a b o a v o n t a d e d e t o d o s o s h o m e n s ,
q u e r e s p e i t a m o d i r e i t o das g e n t e s " (Lisboa 1 8 1 0 b , 6 ) .
M a s a a b e r t u r a d o s p o r t o s b r a s i l e i r o s — cujas c o n s e q ü ê n c i a s serão
m a i s d e t a l h a d a m e n t e d i s c u t i d a s n a p r ó x i m a s e c ç ã o — assim c o m o o s
p r i m e i r o s passos d a d o s p a r a a i n s t a l a ç ã o d e m a n u f a c t u r a s n o Brasil,
o b t i v e r a m d e Silva L i s b o a m a i s d o q u e u m a p l a u s o m e r a m e n t e p a n f l e -
t á r i o . C o m e f e i t o , C a i r u d e v e ser c o n s i d e r a d o o p r i n c i p a l i d e ó l o g o e
d o u t r i n a d o r do processo de liberalização e de livre-cambismo então
i n i c i a d o d e f o r m a i n s t i t u c i o n a l m e n t e s u s t e n t a d a , cujas v a n t a g e n s a n u n -
ciara já n o s Princípios de Economia Política de 1 8 0 4 .
A s Observações d e s e m p e n h a m u m p a p e l f u n d a m e n t a l n a j u s t i f i c a ç ã o
e legitimação de u m a trajectória de d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ó m i c o do
t e r r i t ó r i o brasileiro assente e m p r i n c í p i o s d e liberalismo e c o n ó m i c o ,
4
quer no plano interno, quer no plano externo. Por conseguinte, é
b e m visível a s u a p r e o c u p a ç ã o e m r e a f i r m a r a s v i r t u d e s d e u m a " l e g i s -

3
Foi o p r ó p r i o Silva Lisboa q u e t e s t e m u n h o u a sua responsabilidade pessoal na
redacção da C a r t a R é g i a . Cf. Lisboa 1 8 0 8 - 9 , 9.
4
A interpretação do significado destes textos n ã o t e m sido isenta de alguma polémica,
s o b r e t u d o no q u e se refere ao uso q u e deles t e m sido feito pela historiografia bra-
sileira. Para u m a visão de c o n j u n t o do legado historiográfico, veja-se R o c h a 2 0 0 1 .
Cf. ainda N o v a i s e A r r u d a 1999.

150 I José Luís Cardoso


l a ç ã o e c o n ó m i c a d e p r i n c í p i o s liberais o s m a i s p r ó p r i o s a f e l i c i t a r o s
p o v o s d e s t e c o n t i n e n t e [ B r a s i l ] " ( 1 8 1 0 b , 1), r e f u t a n d o h i p o t é t i c a s o u
reais o b j e c ç õ e s a r r e i g a d a s a o s v í c i o s d e u m p a c t o c o l o n i a l d e t i p o m e r -
cantilista, f a z e n d o o s " p o s s í v e i s esforços p o r e x t e r m i n a r d e s t e país O
espírito de m o n o p ó l i o " (1810a, 141), sistematizando os requisitos essen-
ciais a o e s t a b e l e c i m e n t o d e m a n u f a c t u r a s n o Brasil e s u j e i t a n d o a s suas
o r i e n t a ç õ e s s o b r e o d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ó m i c o brasileiro à e n v o l v ê n c i a
benéfica d e u m n o v o m o d e l o d e divisão i n t e r n a c i o n a l d o trabalho.
O a u x í l i o d o u t r i n a i q u e A d a m S m i t h p r o p o r c i o n a à e d i f i c a ç ã o desse
m o d e l o é r e c o r r e n t e m e n t e explicitado, c o n f o r m e se observa na seguinte
p a s s a g e m ilustrativa.

"A d o u t r i n a de S m i t h sobre a franqueza do c o m é r c i o n ã o consiste


e m u m a m e r a t e o r i a d e g a b i n e t e ; ela s e f u n d a s o b r e f a c t o s i n -
contestáveis, sobre os instintos e sentimentos de todos os h o m e n s
n ã o p r e o c u p a d o s c o m o seu egoístico interesse, e sobre a e x p e r i ê n c i a
e h i s t ó r i a das n a ç õ e s . A f a c u l d a d e de c o n t r a t a r e de t r o c a r é o c a r a c -
t e r í s t i c o d a e s p é c i e h u m a n a ( . . . ) . S e m ela, o s h o m e n s n ã o s e p o d i a m
ajudar em m ú t u a c o o p e r a ç ã o , e p e r m u t a dos supérfluos frutos de
seus t r a b a l h o s ( . . . ) . P o r isso o s países o n d e h á m a i o r d i v i s ã o d o t r a -
b a l h o , e m a i s f r a n q u e z a d e c o m é r c i o , p a r a s e d a r e x t r a c ç ã o aos g r a n d e s
e v a r i a d o s p r o d u t o s q u e r e s u l t a m dessa d i v i s ã o , são os m a i s r i c o s e
p o p u l o s o s . T a i s f a c t o s e s t ã o aos o l h o s d e t o d o o m u n d o . D e l e s S m i t h
d e d u z i u a s suas r e g r a s . O s anais d a s o c i e d a d e d ã o o m a i s a u t ê n t i c o
t e s t e m u n h o das v e r d a d e s q u e ele e n s i n o u " ( L i s b o a 1 8 0 8 - 9 , 1 7 0 ) .

A t r a n s f e r ê n c i a d a C o r t e p a r a o Brasil, n a s e q ü ê n c i a d a o c u p a ç ã o
francesa d a m e t r ó p o l e , n ã o i m p e d i a q u e a m e s m a n a ç ã o , s e p a r a d a p e l o
A t l â n t i c o , c o n t i n u a s s e a c u m p r i r o seu d e s t i n o . Para sustentar o
s e n t i m e n t o pátrio, reforçava-se o d o g m a da u n i d a d e política de um
i m p é r i o cuja c a p i t a l se d e s l o c a v a , p o r f o r ç a e e x i g ê n c i a das p r e s s õ e s
externas.
U m d o s m e n t o r e s dessa e s t r a t é g i a i m p e r i a l foi D . R o d r i g o d e S o u z a
C o u t i n h o q u e , após ter exercido i m p o r t a n t e s cargos governativos entre
1 7 9 6 e 1 8 0 3 e a p ó s se t e r r e t i r a d o da v i d a p o l í t i c a activa d u r a n t e c e r c a
d e q u a t r o a n o s , r e g r e s s o u e m força c o m o p r i n c i p a l v a l i d o e c o n s e l h e i r o
d o P r í n c i p e R e g e n t e e f u t u r o rei D . J o ã o V I . A seus o l h o s , a d e s l o c a ç ã o
p a r a o Brasil n ã o r e p r e s e n t a v a u m a fuga a t e m o r i z a d a . P e l o c o n t r á r i o ,

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa 151


correspondia à execução de um plano perfeitamente enquadrável na
i d e i a d e u m a n a ç ã o i m p e r i a l cuja s e d e p o d i a p r o v i s o r i a m e n t e d e s l o -
c a r - s e , s e tal fosse u m a e x i g ê n c i a i m p o s t a p e l a m a n u t e n ç ã o d a sua i n -
5
t e g r i d a d e . Aliás, refira-se q u e esse e r a u m p r o j e c t o p o r s i h á m u i t o
a c a l e n t a d o ( s e g u i n d o a s pisadas p i o n e i r a s q u e D . L u í s d a C u n h a h a v i a
d a d o nas suas Instruções Inéditas de 1 7 3 5 - 1 7 3 6 ) e q u e a g o r a se viabilizava
6
p e l a força das c i r c u n s t â n c i a s e x t e r n a s .
Q u a n t o a o o u t r o p r i n c í p i o essencial a o sustentáculo d a m o n a r q u i a
i m p e r i a l — i s t o é, a d e p e n d ê n c i a e c o n ó m i c a das p e r i f e r i a s c o l o n i a i s
face à m e t r ó p o l e e u r o p e i a — o d e s e n r o l a r da c o n j u n t u r a p o l í t i c a e d i -
p l o m á t i c a i m p u n h a significativas m u d a n ç a s a o m o d e l o p r e v a l e c e n t e .
D e i x a v a d e ser c o n c e b í v e l u m a p o l í t i c a c o l o n i a l e u r o p e í s t a q u e r e s t r i n g i a
e subordinava aos imperativos e c o n ó m i c o s continentais o a p e t r e c h a -
m e n t o e o d e s e n v o l v i m e n t o d o s d o m í n i o s u l t r a m a r i n o s . P o r q u e era
a g o r a o m a i s i m p o r t a n t e desses d o m í n i o s q u e r e c e b i a o r e i e a c o r t e em
r e s i d ê n c i a d u r a d o u r a . D e i x a v a i g u a l m e n t e d e ser a d m i s s í v e l a i d e i a d e
m a n t e r s o b r e s e r v a o s c o m p r o m i s s o s d e c o r r e n t e s d a aliança c o m a I n g l a -
t e r r a q u e , c o m b a t i d a e c e r c a d a n o c o n t i n e n t e e u r o p e u , n e c e s s i t a v a das
matérias-primas e dos mercados q u e o " m a r p o r t u g u ê s " lhe propor-
c i o n a v a . A p r e c i o s a e decisiva a j u d a m i l i t a r inglesa p a r a l i b e r t a r a m e -
t r ó p o l e d a o c u p a ç ã o n a p o l e ó n i c a t i n h a u m p r e ç o q u e n ã o p o d i a ser
regateado.
O p r i m e i r o sinal d e a b e r t u r a d o m e r c a d o c o l o n i a l aos ingleses foi
desde logo dado, ainda a corte não aportara no R i o de Janeiro. Da
Bahia, a 28 de J a n e i r o de 1 8 0 8 , era escrita a C a r t a R é g i a m e d i a n t e a
q u a l s e o r d e n a v a q u e " s e j a m a d m i s s í v e i s nas alfândegas d o Brasil t o d o s ,
e q u a i s q u e r g é n e r o s , fazendas, e m e r c a d o r i a s t r a n s p o r t a d a s , o u e m n a v i o s
e s t r a n g e i r o s das p o t ê n c i a s q u e s e c o n s e r v a m e m p a z c o m a m i n h a real
c o r o a o u e m n a v i o s d o s m e u s v a s s a l o s " e q u e " n ã o s ó o s m e u s vassalos,
mas t a m b é m os sobreditos estrangeiros possam e x p o r t a r para os p o r t o s ,
q u e b e m lhes parecer a benefício do c o m é r c i o , e agricultura, q u e tanto
desejo p r o m o v e r , todos, e quaisquer géneros, e p r o d u ç õ e s coloniais, à
excepção do pau-brasil ou outros n o t o r i a m e n t e estancados" ( C L P , T o m o

5
Para u m a análise desenvolvida deste tópico ver Cardoso 2 0 0 1 . Para um e n q u a d r a m e n -
to geral do p e n s a m e n t o do autor, veja-se Silva 1 9 9 3 .
6
Para u m a apresentação sintética das Instruções Inéditas e da p r o p o s t a "visionária e
radical" de D. Luís da C u n h a veja-se M a g a l h ã e s 1 9 9 8 , 2 7 - 2 9 . S o b r e a visão imperial
d e D . R o d r i g o , ver M a x w e l l 1998.

152 I José Luís Cardoso


V , 4 7 7 ) . C o n f o r m e j á atrás s e assinalou, e x i s t e m f o r t e s i n d í c i o s d e q u e
esta c a r t a t e n h a s i d o e s c r i t a p o r J o s é d a Silva L i s b o a .
A t é e n t ã o , a p o s s i b i l i d a d e d o e s t a b e l e c i m e n t o d e actos d e n a t u r e z a
c o m e r c i a l p o r navios estrangeiros e m p o r t o s brasileiros era apenas
admitida e m situações e x c e p c i o n a i s d e acostagem forçada e m q u e , p o r
falta d e m e i o s d e p a g a m e n t o , a s despesas t i v e s s e m q u e ser c u s t e a d a s
através d a v e n d a d e p r o d u t o s q u e tais n a v i o s t r a n s p o r t a s s e m . A a b e r t u r a
d o s p o r t o s a g o r a d e c r e t a d a c o n s t i t u í a o p r i m e i r o sinal d e u m a m a i s
vasta a b e r t u r a e c o n ó m i c a q u e a b r e v e t r e c h o s e iria processar.
A i n d a n a B a h i a vai ser a n u n c i a d a a s e g u n d a m e d i d a legislativa d e -
c r e t a d a p e l o P r í n c i p e R e g e n t e : a i n s t i t u i ç ã o d e u m a aula d e e c o n o m i a
7
p o l í t i c a , d e s t i n a d a a p r o p o r c i o n a r a s luzes d e u m a b o a g o v e r n a ç ã o . T a l
medida encontrava, p o r certo, boa receptividade j u n t o de um g r u p o de
l e t r a d o s brasileiros p a r t i c u l a r m e n t e sensíveis à i m p o r t â n c i a d o s c o n h e -
c i m e n t o s eruditos e dos saberes práticos para a m o d e r n i z a ç ã o da vida
e c o n ó m i c a e social da c o l ó n i a .
C o m efeito, a c r i a ç ã o d a a u l a j u s t i f i c a v a - s e p o r ser " a b s o l u t a m e n t e
necessário o estudo da ciência económica na presente conjuntura em
q u e o Brasil o f e r e c e a m e l h o r o c a s i ã o d e s e p o r e m e m p r á t i c a m u i t o s
d o s seus p r i n c í p i o s , p a r a q u e o s m e u s vassalos s e n d o i n s t r u í d o s n e l e s "
(Decreto de 23 de Fevereiro de 1808). Este m e s m o decreto concedia a
J o s é d a Silva L i s b o a m e r c ê d a p r o p r i e d a d e e r e g ê n c i a d a c a d e i r a ,
e s t i p u l a n d o - l h e o v e n c i m e n t o d e 4 0 0 m i l réis q u e p o d e r i a a c u m u l a r
c o m os ordenados de secretário e deputado da M e s a da Inspecção da
Agricultura e C o m é r c i o da Bahia.
A p e s a r das i n t e n ç õ e s e s t a b e l e c i d a s e m d e c r e t o , o s i n d í c i o s p a r e c e m
c o n f i r m a r q u e a a u l a n ã o t e v e o sucesso d e s e j a d o . É o q u e se d e p r e e n d e
d a l e i t u r a das p e t i ç õ e s e r e q u e r i m e n t o s ( d a t a d o s d e A b r i l a S e t e m b r o
d e 1 8 0 8 ) e m q u e J o s é d a Silva L i s b o a r e c l a m a o p a g a m e n t o d o s e u
8
o r d e n a d o . O r e g e n t e n o m e a d o estava p r e o c u p a d o e m g a r a n t i r a p r o -
m e t i d a r e m u n e r a ç ã o , i n v o c a n d o o s seus m é r i t o s e " a s s i d u i d a d e l i t e r á r i a " ,
assim c o m o os c u s t o s i n e r e n t e s à sua d e s l o c a ç ã o , e de sua família, da
B a í a p a r a o R i o d e J a n e i r o . A p e s a r d e n ã o s e c o n h e c e r o t e o r d a resposta
oficial aos seus p e d i d o s i n s i s t e n t e s , p a r e c e l í c i t o a d m i t i r q u e J o s é d a

7
D e c r e t o de 23 de Fevereiro de 1 8 0 8 . Sobre esta m a t é r i a veja-se R o c h a 1 9 9 6 , 3 6 - 3 9
e A l m o d o v a r 1992.
8
A r q u i v o N a c i o n a l do R i o de Janeiro. F u n d o V i s c o n d e de C a i r ú . A P 1 - Caixa 1 —
Pasta 1.

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa 153


Silva L i s b o a n ã o r e c e b i a o s e u o r d e n a d o p e l a s i m p l e s r a z ã o d e q u e n ã o
c h e g o u a e x e r c e r o ofício de professor.
D e facto, n u m d o s seus r e q u e r i m e n t o s revela t e r " o b s e r v a d o q u e o
p ú b l i c o n ã o c o n h e c e a i m p o r t â n c i a d a q u e l a c i ê n c i a , n e m está p r e p a r a d o
p a r a ela c o m o s e s t u d o s c o m p e t e n t e s , e está c h e i o d e e n o r m e s p r e o -
c u p a ç õ e s a esse r e s p e i t o . O s u p l i c a n t e a n t e s de r e c e b e r i n s t r u ç õ e s oficiais
e s e d e s i g n a r a u t o r p o r q u e haja d e e x p l i c a r , n ã o s e a n i m a a d a r l i ç õ e s
regulares, especialmente sobre as d o u t r i n a s mais melindrosas da a d m i -
nistração pública, e q u e só c o n v é m e x p o r aos destinados às magistraturas
e e m p r e g o s d e f i n a n ç a e polícia, t e n d o j á o e s p í r i t o f o r m a d o c o m c o n h e -
c i m e n t o s d e sólida l i t e r a t u r a . C o n s i d e r a p o r t a n t o q u e o g e n u í n o m é t o -
d o d e i n s t r u ç ã o d o p o v o c o m tal a s s u n t o d e v e ser geral, e n ã o l o c a l , p o r
e s c r i t o , e n ã o d e v i v a v o z , nas c i r c u n s t â n c i a s p r e s e n t e s , d a n d o - s e p e l o
prelo um curso de leitura aprovado pelo governo. O suplicante t e m
p a r a isso p r o n t a a sua o b r a da Tentativa Econômica, q u e já d e d i c o u a
S.A.R., e q u e depositará na Secretaria de Estado, se o m e s m o A u g u s t o
S e n h o r o d e t e r m i n a r , u l t i m a d a s a s c o r r e c ç õ e s q u e l h e está d a n d o , p a r a
o q u e precisa a l g u m t e m p o , e s o c o r r o de dois escreventes, de o r d e m
9
superior".
R e c o r r e n d o a a r g u m e n t o s d e c a r a c t e r p o l í t i c o e p e d a g ó g i c o , Silva
Lisboa advoga a insustentabilidade de u m a aula pública de e c o n o m i a
política, descartando-se h a b i l m e n t e da responsabilidade q u e lhe havia
s i d o c o n f i a d a . A p r i n c i p a l d i f i c u l d a d e p a r e c i a r e s i d i r n a falta d e c o n h e -
c i m e n t o s b á s i c o s d o p ú b l i c o a q u e m s e d e s t i n a v a a aula. P a r a o s q u e
p r e s u m i v e l m e n t e d i s p u s e s s e m d e tais l u z e s , p o r é m , s o b r a v a o r i s c o d e
se e n s i n a r e m «doutrinas melindrosas» q u e exigiam prévia e cuidadosa
p r e p a r a ç ã o p e d a g ó g i c a . P a r a c o r r e s p o n d e r aos o b j e c t i v o s d e c r i a ç ã o d a
c a d e i r a , e p a r a n ã o frustrar a c o n f i a n ç a q u e n e l e t i n h a s i d o d e p o s i t a d a ,
p r o p õ e - s e e n t ã o r e v e r a sua Tentativa Económica ( o u seja, os Princípios de
Economia Política d a d o s à e s t a m p a em 1 8 0 4 ) r e q u i s i t a n d o p a r a isso o
serviço de dois ajudantes.
A p e s a r d e n ã o t e r l o g r a d o p ô r o c u r s o a f u n c i o n a r , Silva L i s b o a
p r e o c u p o u - s e e m d e m o n s t r a r q u e a sua m i s s ã o t i n h a q u e ser d i g n i f i c a d a
c o m o r d e n a d o compatível, i n s u r g i n d o - s e contra o facto de o m o n t a n t e
a t r i b u í d o ( 4 0 0 m i l réis) ser i d ê n t i c o a o d e u m p r o f e s s o r d e g r a m á t i c a
(ibid, D o c . 1 , 2 4 d e A g o s t o d e 1 8 0 8 ) , o u r e c l a m a n d o p e l o f a c t o d e a
cadeira de mineralogia estabelecida na Universidade de C o i m b r a p r o -

9
AP 1, Pasta 1, D o c . 1, R e q u e r i m e n t o de 24 de A g o s t o de 1808.

154 I José Luís Cardoso


p o r c i o n a r a o r e s p e c t i v o r e g e n t e , J o s é B o n i f á c i o d e A n d r a d e e Silva, a
q u a n t i a d e 8 0 0 m i l réis, o q u e e m s e u e n t e n d e r seria e x c e s s i v o p a r a o
e n s i n o d e " u m a c i ê n c i a q u e , p o s t o seja m u i t o ú t i l , n ã o t e m c o m p a r a ç ã o
c o m a c i ê n c i a e c o n ó m i c a q u e o m a i o r m e s t r e da Riqueza das Nações,
A d a m Smith, considera p r ó p r i a do legislador e h o m e m de E s t a d o "
(ibid, D o c . 5 , s / d ) .
Este episódio da criação frustrada da cadeira de ciência e c o n ó m i c a
n o R i o d e J a n e i r o é u m b o m e x e m p l o d e c o m o , tantas vezes, a s i n t e n ç õ e s
ilustradas dos legisladores n ã o c o n s e g u e m ter repercussão prática e i m e -
d i a t a m e n t e concretizada. As justificações dadas p e l o r e g e n t e virtual n ã o
r e l e v a m pela c o n s t a t a ç ã o d o fracasso, m a s sim p e l a verificação das c i r c u n s -
t â n c i a s q u e t o r n a v a m p r e m e n t e a a p r e n d i z a g e m d e u m a c i ê n c i a útil a
legisladores e h o m e n s de Estado.
Silva L i s b o a n ã o t e v e o p o r t u n i d a d e d e d a r a s suas l i ç õ e s , m a s p ô d e
e x p l a n a r o s seus p o n t o s d e vista s o b r e a s v a n t a g e n s d o sistema e c o n ó m i c o
l i b e r a l n u m a s é r i e d e 3 p e q u e n o s livros d e Observações q u e p u b l i c o u
e n t r e 1 8 0 8 e 1 8 1 0 , a q u e atrás já se fez r e f e r ê n c i a . C u r i o s a m e n t e , o p r i -
m e i r o desses t e x t o s foi a o b r a q u e i n a u g u r o u a a c t i v i d a d e d a I m p r e n s a
R é g i a n o Brasil.
O a l c a n c e p o l í t i c o e o s i g n i f i c a d o s i m b ó l i c o desse f a c t o , j u n t a m e n t e
c o m o p i o n e i r i s m o do d e c r e t o de criação da aula de e c o n o m i a política,
n ã o p o d i a ser m a i o r . N u m a e r a d e p r o f u n d a t r a n s f o r m a ç ã o das r e l a ç õ e s
coloniais e de criação de um espaço e c o n ó m i c o a d e q u a d o à e x p e r i -
m e n t a ç ã o e ensaio de m e d i d a s de liberalização e c o n ó m i c a , nada m e l h o r
do q u e p r o c u r a r i n s t i t u i r e f o r m a l i z a r a a p r e n d i z a g e m e a d i v u l g a ç ã o
dos princípios q u e d e v i a m o r i e n t a r a nova administração política sediada
n o Brasil. E , c o m o v e r e m o s e m b r e v e , a b o a n o v a d a e c o n o m i a p o l í t i c a
d e i x o u a s suas m a r c a s b e m v i n c a d a s .
E n t r e t a n t o , a legislação publicada continuava a t e s t e m u n h a r a p r o -
f u n d i d a d e das m u d a n ç a s e m c u r s o . O alvará d e 1 ° d e A b r i l d e 1 8 0 8
r e v o g o u a a n t e r i o r p r o i b i ç ã o d e i n s t a l a ç ã o d e m a n u f a c t u r a s n o Brasil
e d o m í n i o s u l t r a m a r i n o s e a u t o r i z o u " q u a l q u e r d o s m e u s vassalos a
estabelecer t o d o o género de manufacturas, sem exceptuar alguma,
f a z e n d o o s seus t r a b a l h o s e m p e q u e n o o u e m g r a n d e , c o m o e n t e n d e -
r e m , q u e m a i s lhes c o n v é m " (CLP,Tomo V , 4 8 4 ) . O alvará d e 2 8 d e
Abril de 1809 isentou de direitos de entrada "todas as matérias p r i m e i -
ras q u e s e r v i r e m d e b a s e a q u a l q u e r m a n u f a c t u r a " , c u j o s p r o d u t o s f i -
c a r i a m t a m b é m i s e n t o s d e d i r e i t o s d e e x p o r t a ç ã o ; p a r a a l é m disso, o
m e s m o alvará c r i o u i n c e n t i v o s à " i n t r o d u ç ã o d e n o v a s m á q u i n a s d i s -
p e n d i o s a s e u t i l í s s i m a s " , a fim de se a p e t r e c h a r c o n v e n i e n t e m e n t e a

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa I 155


estrutura industrial emergente em t e r r i t ó r i o brasileiro (CLP,Tomo V ,
1 0
733).
N ã o s e p o d e i g n o r a r , t o d a v i a , q u e a s referidas facilidades legislativas
c o n c e d i d a s à instalação d e m a n u f a c t u r a s n o Brasil p o d e r i a m fazer p e r i g a r
o p r e d o m í n i o c o n c o r r e n c i a l i n g l ê s , i n i c i a l m e n t e g a r a n t i d o pela f r a n q u i a
d o s p o r t o s . S e d ú v i d a s e x i s t i s s e m , a análise d o c o n t e ú d o d o t r a t a d o d e
amizade e c o m é r c i o celebrado entre Portugal e a G r ã - B r e t a n h a em
F e v e r e i r o d e 1 8 1 0 r a p i d a m e n t e a s faria dissipar. N a r e a l i d a d e , este t r a t a d o
i n t r o d u z i u um nítido e l e m e n t o de desequilíbrio na apregoada e legisla-
d a l i b e r d a d e d e p r o d u ç ã o e d e c o m é r c i o , d e s e q u i l í b r i o esse q u e fazia
b a l a n c e a r p a r a o l a d o i n g l ê s as cláusulas e p r e r r o g a t i v a s q u e l h e a s s e -
g u r a v a m u m a s i t u a ç ã o d e p r i v i l é g i o . A s m a n u f a c t u r a s inglesas o b t i n h a m
c o n d i ç õ e s p r e f e r e n c i a i s através d e u m a r e d u ç ã o d e d i r e i t o s d e e n t r a d a
11
q u e inviabilizava a c o m p e t i t i v i d a d e dos p r o d u t o s portugueses.
O d e s e n v o l v i m e n t o das e s t r u t u r a s n a c i o n a i s d e p r o d u ç ã o i n d u s t r i a l
— d e s i g n a d a m e n t e das m a n u f a c t u r a s q u e s e ensaiava e s t a b e l e c e r n o
Brasil — n ã o p o d i a ser c o n c e b i d o d e f o r m a i n d e p e n d e n t e das c o n d i ç õ e s
i m p l í c i t a s n u m a aliança p o l í t i c a i n d i s p e n s á v e l à i n t e g r i d a d e d a s o b e r a n i a
política p o r t u g u e s a . P o r c o n s e g u i n t e , o tratado de 1 8 1 0 v e m d e m o n s t r a r
a a m b i v a l ê n c i a d e u m d e s t i n o q u e , p a r a ser t r i l h a d o , t i n h a t a m b é m d e
ser n e g o c i a d o e m c o n d i ç õ e s e c o n o m i c a m e n t e adversas.
D . R o d r i g o d e S o u z a C o u t i n h o r e p r e s e n t o u , e m t o d o este p r o c e s s o ,
um papel de grande protagonismo. Os diplomas de incentivo à produção
m a n u f a c t u r e i r a n o Brasil f o r a m , s e g u r a m e n t e , d a sua lavra. M a s foi t a m -
b é m a sua m ã o q u e assinou, pela p a r t e p o r t u g u e s a , o tratado de 1 8 1 0
q u e c o n s a g r o u o s p r i v i l é g i o s c o m e r c i a i s p r o p o r c i o n a d o s aos p r o d u t o s
m a n u f a c t u r a d o s ingleses.
A j u s t i f i c a ç ã o d o s n o v o s e q u i l í b r i o s e c o n ó m i c o s e sociais d e c o r r e n t e s
d o t r a t a d o foi p u b l i c a m e n t e d e f e n d i d a n a C a r t a R é g i a d e 7 d e M a r ç o
d e 1 8 1 0 , cuja r e d a c ç ã o foi d a r e s p o n s a b i l i d a d e d e D . R o d r i g o . T r a t a - s e
d e u m d o c u m e n t o d e g r a n d e significado, p o r dois m o t i v o s f u n d a m e n t a i s :
em p r i m e i r o lugar, p o r q u e sintetiza e justifica as m e d i d a s e c o m p r o m i s s o s
estabelecidos pela c o r t e p o r t u g u e s a n o R i o d e Janeiro; e m s e g u n d o
l u g a r , p o r q u e p r o c u r a m i n i m i z a r o s efeitos d o t r a t a d o l u s o - b r i t â n i c o ,

10
Cf. tb alvarás dc 6 de O u t u b r o de 1810 e de 13 de J u l h o de 1 8 1 1 , de t e o r idêntico.
11
A análise dos tratados de 1810 t e m já u m a assinalável tradição na historiografia
luso-brasileira, s e n d o parte i n t e g r a n t e dos estudos de A l e x a n d r e 1 9 9 3 , A r r u d a 1 9 8 0 ,
1986, N o v a i s 1979 e Pereira 1 9 8 7 . Cf. tb. as recentes sínteses de A l e x a n d r e 1 9 9 8 ,
Pedreira 1 9 9 8 , N e v e s 1995 e S c h w a r t z 1 9 9 8 .

156 I José Luís Cardoso


anunciando um conjunto de providências que garantiriam o desen-
v o l v i m e n t o e c o n ó m i c o d o r e i n o , s o b r e t u d o n a sua c o m p o n e n t e c o n -
tinental. Em a m b o s os m o t i v o s , a narrativa explicativa é c o n d u z i d a p o r
a r g u m e n t o s q u e r e c o r r e m à l i n g u a g e m da e c o n o m i a política.
C o m o j u s t i f i c a ç ã o das r e f o r m a s e n c e t a d a s n o Brasil, e e m v i r t u d e d a
t r a n s f e r ê n c i a d a C o r t e p a r a o R i o d e J a n e i r o , refere a C a r t a R é g i a t e r
s i d o " n e c e s s á r i o p r o c u r a r e l e v a r a q u e l a s p a r t e s d o i m p é r i o livres d a
o p r e s s ã o " e , p a r a esse f i m , t e r s i d o n e c e s s á r i o " a d o p t a r o s p r i n c í p i o s
m a i s d e m o n s t r a d o s de sã e c o n o m i a p o l í t i c a , q u a i s o da l i b e r d a d e , e
f r a n q u e z a d o c o m é r c i o , o d a d i m i n u i ç ã o d o s d i r e i t o s das a l f â n d e g a s ,
u n i d o s aos p r i n c í p i o s m a i s l i b e r a i s " ( C L P , T o m o V , 8 5 9 ) . O f i m e m vista
c o m o p r o c e s s o d e liberalização d a e c o n o m i a brasileira era, n a t u r a l m e n t e ,
o de p r o p o r c i o n a r um a c r é s c i m o da oferta de b e n s agrícolas e m a n u -
f a c t u r a d o s q u e se ajustasse à c r e s c e n t e p r e s s ã o da p r o c u r a . A s s i m se
explicava o l e v a n t a m e n t o da proibição de instalação de fábricas no
Brasil e o f o m e n t o d e u m s i s t e m a d e l i b e r d a d e d e p r o d u ç ã o e d e c o -
m é r c i o cuja l e g i t i m i d a d e era s u p e r i o r m e n t e v i g i a d a p o r p r i n c í p i o s d e
"sã e c o n o m i a p o l í t i c a " . A s s i m s e e x p l i c a v a t a m b é m q u e , p a r a q u e n ã o
s e p e n s a s s e q u e o d e s e n v o l v i m e n t o das m a n u f a c t u r a s d o r e i n o f i c a r i a
v o t a d o ao desprezo, a C a r t a R é g i a fizesse alusão às providências para
isentar os produtos manufacturados na m e t r ó p o l e do p a g a m e n t o de
12
d i r e i t o s d e e n t r a d a n o s p o r t o s b r a s i l e i r o s . T o d a s estas m a t é r i a s o b t i n h a m
a c o l h i m e n t o j u n t o d o s i n t e l e c t u a i s d e o r i g e m brasileira q u e , d e f o r m a
p i o n e i r a , v i n h a m a r g u m e n t a n d o e m favor d a a d o p ç ã o d o s p r i n c í p i o s
d o u t r i n a i s do laissez faire. D e s t e g r u p o t o d o o d e s t a q u e d e v e ser d a d o a
J o s é d a Silva L i s b o a , p e l a m i l i t â n c i a c o m q u e a d v o g o u a a b e r t u r a d a
e c o n o m i a brasileira à l u z da m e n s a g e m v e i c u l a d a p e l a Riqueza das Nações.
P a r a S o u z a C o u t i n h o , tal c o m o p a r a J o s é d a Silva L i s b o a , a m b o s
leitores atentos de A d a m S m i t h , as vantagens inerentes à modificação
do antigo sistema colonial n ã o ofereciam q u a l q u e r espécie de d ú v i d a .
S o b r e t u d o d e v i d o às acrescidas possibilidades de d e s e n v o l v i m e n t o de
u m a e c o n o m i a aberta, c o n f o r m e se d e p r e e n d e da seguinte leitura:

"Portugal h á - d e ganhar mais c o m o a u m e n t o q u e h á - d e ter o


Brasil d e p o i s d o s liberais p r i n c í p i o s q u e V . A . R . m a n d o u e s t a b e l e c e r ,
d o q u e a n t e s g a n h a v a c o m o s i s t e m a r e s t r i t o e c o l o n i a l q u e existia;

12
D e c r e t o s de 28 de Janeiro de 1 8 0 9 e de 7 de A g o s t o de 1810 ( C L P , T o m o V, 7 2 3 e
900).

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa 157


P o r t u g a l h á - d e s e r s e m p r e o d e p ó s i t o n a t u r a l d o s g é n e r o s d o Brasil,
e o d e p ó s i t o h á - d e ser m u i t o m a i o r ; P o r t u g a l h á - d e t e r m e l h o r , e
m a i o r c o n s u m o p a r a a s suas p r o d u ç õ e s , e fábricas d o q u e a n t e s t i n h a ;
e finalmente o e x e m p l o do sucedido em Inglaterra depois da sepa-
r a ç ã o dos E s t a d o s U n i d o s q u e S m i t h predisse h á - d e t a m b é m verificar-
1 3
se em Portugal".

Q u e r n a m e t r ó p o l e , q u e r n o Brasil, p r o c u r a v a - s e p ô r e m p r á t i c a u m
"sistema g r a n d e e liberal de c o m é r c i o " q u e culminava n a t u r a l m e n t e
no tratado de amizade e comércio celebrado c o m a Grã-Bretanha. Já
r e f e r i m o s q u e o s i g n i f i c a d o d e s t e t r a t a d o foi o de r e g u l a m e n t a r a l i b e r -
d a d e de c o m é r c i o na perspectiva dos interesses da indústria e m a r i n h a
m e r c a n t e inglesas, n ã o se justificando a ideia de e n c a d e a m e n t o c o e r e n t e
q u e l h e a t r i b u i u o C o n d e d e L i n h a r e s . Aliás, a s palavras q u e n a C a r t a
R é g i a dirige ao clero, n o b r e z a e p o v o do R e i n o , p a r e c e m constituir
u m r e b a t e d e c o n s c i ê n c i a s o b r e o s efeitos n e g a t i v o s q u e o t r a t a d o fazia
legitimamente presumir.
D e s t e m o d o , passamos a invocar o s e g u n d o m o t i v o da relevância da
C a r t a R é g i a redigida pela hábil m ã o d e D . R o d r i g o d e Souza C o u t i n h o
— ou seja, as suas características de d o c u m e n t o p o l í t i c o d e s t i n a d o a
tranqüilizar os interesses e c o n ó m i c o s dos respectivos destinatários na
m e t r ó p o l e e a a p o n t a r u m a o r i e n t a ç ã o para a estratégia de desenvol-
v i m e n t o e c o n ó m i c o a ser s e g u i d a .
" N ã o c u i d e i s q u e a i n t r o d u ç ã o das m a n u f a c t u r a s b r i t â n i c a s possa
p r e j u d i c a r a vossa i n d ú s t r i a " (CLP,Tomo V, 8 5 9 ) : tal p a r e c e ser a frase-
c h a v e d a m e n s a g e m v e i c u l a d a p e l a C a r t a R é g i a . P o r é m , esse o b j e c t i v o
d e d e s d r a m a t i z a ç ã o trazia c o n s i g o o r e c o n h e c i m e n t o d a falência d e
um processo de desenvolvimento ou de relançamento industrial que,
c o n s e q u e n t e m e n t e , ficava relegado para um plano subalterno. É o q u e
c o m t o d a a clareza transparece q u a n d o s e diz q u e " O e m p r e g o dos
v o s s o s c a b e d a i s é p o r a g o r a j u s t a m e n t e a p l i c a d o n a c u l t u r a das vossas
t e r r a s , n o m e l h o r a m e n t o das vossas v i n h a s , n a b e m e n t e n d i d a m a n u -
f a c t u r a d o a z e i t e , n a c u l t u r a d o s p r a d o s artificiais, n a p r o d u ç ã o das m e -
l h o r e s lãs, n a c u l t u r a das a m o r e i r a s e p r o d u ç ã o das s e d a s " , o u a i n d a
q u a n d o s e a f i r m a q u e esta a c t i v i d a d e c e n t r a d a n o s e c t o r a g r í c o l a " é a
ú n i c a s ó l i d a , e a q u e t o m a f o r t e s raízes, e q u e p r o g r e d i n d o p e l o s d e v i d o s

13
D . R o d r i g o de S o u z a C o u t i n h o , Carta ao Princípe Regente de 16 de A g o s t o de 1809,
in Lima 1 9 0 9 , T o m o II,214.

158 i José Luís Cardoso


passos i n t e r m e d i a i s , c h e g a a o m a i o r a u g e e lança e n t ã o a q u e l e s l u m i n o s o s
raios, q u e f e r e m o s o l h o s d o v u l g o , e q u e a i n d a a h o m e n s d e s u p e r i o r e s
l u z e s f i z e r a m crer, q u e a s m a n u f a c t u r a s e r a m t u d o , e q u e p a r a c o n s e -
g u i - l a s , o sacrifício da m e s m a a g r i c u l t u r a e r a ú t i l e c o n v e n i e n t e " (ibid).
Através desta inesperada confissão agrarista, D. R o d r i g o p r o c u r a
d e m o n s t r a r q u e a p r o s p e r i d a d e das m a n u f a c t u r a s d e p e n d i a d a c o m p e -
t i t i v i d a d e d o s seus p r o d u t o s q u e , p o r sua v e z , estava d e p e n d e n t e d e u m
desenvolvimento da agricultura que proporcionasse bens alimentares e
salários a b a i x o p r e ç o , d o t a ç ã o p e r m a n e n t e d e m a t é r i a s - p r i m a s e s o l i d e z
d o m e r c a d o i n t e r n o . N ã o p o d i a i g n o r a r o s efeitos i m e d i a t o s d o t r a t a d o
d e 1 8 1 0 , a d m i t i n d o s e m e q u í v o c o s q u e " a d i m i n u i ç ã o d o s d i r e i t o s das
alfândegas h á - d e p r o d u z i r u m a g r a n d e e n t r a d a d e m a n u f a c t u r a s e s t r a n -
g e i r a s " . T o d a v i a , s e daí adviesse o e n c e r r a m e n t o o u paralisação d e a l g u m a
m a n u f a c t u r a n a c i o n a l , seria " u m a p r o v a q u e essa m a n u f a c t u r a n ã o t i n h a
bases sólidas, n e m dava u m a v a n t a g e m r e a l a o E s t a d o " ( C L P , T o m o V ,
860).
Por conseguinte, toda a argumentação da Carta R é g i a de 7 de M a r ç o
d e 1 8 1 0 d e s e m b o c a n a m a n i f e s t a ç ã o d e u m a clara p r e f e r ê n c i a p o r u m
m o d e l o de d e s e n v o l v i m e n t o c e n t r a d o na agricultura. A regra de o u r o
da liberalização do m e r c a d o e x t e r n o , c o n c e b i d a à luz dos princípios de
"sã e c o n o m i a p o l í t i c a " , m a s e s t a t u í d a s o b i n d i s f a r ç á v e l p r e s s ã o i n g l e s a ,
implicava u m a c o m p e t i t i v i d a d e precária aos p r o d u t o s m a n u f a c t u r a d o s
p o r t u g u e s e s . A i n d u s t r i a l i z a ç ã o t e r i a d e ser p r e t e r i d a e m b e n e f í c i o d e
u m d e s e n v o l v i m e n t o a g r í c o l a q u e s i m u l t a n e a m e n t e assegurasse, q u e r
u m a especialização p r o d u t i v a vantajosa, q u e r u m a i n d u ç ã o futura d e
d e s e n v o l v i m e n t o das m a n u f a c t u r a s .
E s t a a p o s t a e s t r a t é g i c a trazia c o n s e q ü ê n c i a s i m p o r t a n t e s n o p l a n o
das r e f o r m a s q u e u r g i a i n t r o d u z i r n o s e c t o r a g r í c o l a , d e s i g n a d a m e n t e
no q u e se refere à a b o l i ç ã o de e n t r a v e s i n s t i t u c i o n a i s e fiscais e, a c i m a
d e t u d o , n o q u e s e refere à p r ó p r i a r e f o r m a d o r e g i m e d o s forais.
A p e s a r de n ã o ser este o l o c a l a p r o p r i a d o p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o d e s t e
p r o b l e m a , c o n v i r á realçar q u e t a m b é m a q u i s o u b e D . R o d r i g o a n t e c i p a r
u m a das q u e s t õ e s c r u c i a i s p a r a o d e s m a n t e l a m e n t o d a e c o n o m i a d e
antigo regime.

4
R e f l e c t i n d o sobre o alcance dos tratados de amizade e c o m é r c i o de
1 8 1 0 , r e b a t e n d o o s a r g u m e n t o s d o s q u e c l a m a v a m c o n t r a o s seus e f e i -
tos n e f a s t o s , e s c r e v e u D . R o d r i g o d e S o u z a C o u t i n h o :

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa I 159


" P e q u e n a s e n t o r t i l h a d a s i d e i a s , q u e t i n h a m p o r bases palavras o u
p r i n c í p i o s a q u e se dava i m a g i n á r i o p e s o , q u a l o de A c t o s de navegação,
privilégios exclusivos c o n c e d i d o s ao c o m é r c i o nacional, direitos
protectores da indústria, e muitas outras c o n c e p ç õ e s brilhantes que
foram p o r m u i t o s séculos o prestígio de grandes e iluminadas nações,
ficaram ainda h a b i t a n d o muitas cabeças o n d e n ã o podia a c o m o d a r -
se o g r a n d e , b e l o e simples sistema de l i b e r d a d e de princípios, q u e
f a z e n d o v e r s o b r e sólidas bases q u e a f e l i c i d a d e das n a ç õ e s d e p e n d i a
e s s e n c i a l m e n t e d a a c u m u l a ç ã o d e c a b e d a i s , e q u e estes d e r i v a v a m
c o m o de fonte da remoção de todos os obstáculos que se o p u n h a m
ao natural nível q u e devia resultar da livre c o n c o r r ê n c i a de todos os
q u e m a n e j a v a m as fontes da r i q u e z a nacional, q u e o n d e era tão es-
s e n c i a l c o m o o c u p a r - s e d e d a r t o d a s a s facilidades à a g r i c u l t u r a , c o -
mércio, indústria e navegação, d e i x a n d o a cada um o m e l h o r e m p r e g o
d a q u i l o em q u e se exercitava, e q u e c e r t a m e n t e seguiria o m e l h o r
possível l o g o q u e s u f i c i e n t e s l u z e s l h e m o s t r a s s e m s e m c o a c ç ã o o
q u e havia de m e l h o r e n t r e todas as nações. Eis aqui o m o t i v o p o r q u e
h á a i n d a p e s s o a s q u e f e c h a m o s o l h o s à l u z d o dia, e q u e r e m d e s -
c o n h e c e r a f e l i c i d a d e de q u e g o z a o B r a s i l , q u e é talvez s o b r e o
g l o b o u m a das n a ç õ e s q u e m e n o s sofre das c a l a m i d a d e s q u e d e s o l a m
t o d o o u n i v e r s o , e q u e t u d o d e v e aos l i b e r a i s p r i n c í p i o s q u e S . A . R .
o Príncipe Nosso Senhor adoptou, e que certamente a experiência
c a d a d i a j u s t i f i c a r á m a i s . A c o n v i c ç ã o e m q u e e s t o u destas v e r d a d e s é
q u e m e o b r i g a a falar n e l e s , e s e o m e u e n g a n o n ã o é e x t r e m o ,
c e r t a m e n t e o u s o avançar q u e jamais m e h e i - d e a r r e p e n d e r d o q u e
t e n h o p r o p o s t o e escrito em s e m e l h a n t e matéria para o serviço de
S.A.R., q u e haverá q u e m a m e tanto c o m o eu, mas não certamente
14
mais".

Tal c o m o D . R o d r i g o d e S o u z a C o u t i n h o , t a m b é m J o s é d a Silva
L i s b o a foi u m d o s m a i s a c é r r i m o s d e f e n s o r e s d o s p r i n c í p i o s livre -
c a m b i s t a s d a "sã e c o n o m i a p o l í t i c a " . T a l a t i t u d e foi o r e s u l t a d o d e u m a
o p ç ã o estratégica crucial n u m a c o n j u n t u r a política e diplomática em
q u e a m a n u t e n ç ã o da soberania política implicava cedências e c o m p r o -
missos n o t e r r e n o e c o n ó m i c o . A a b e r t u r a d o s p o r t o s d o Brasil e a assi-
natura dos tratados de amizade e c o m é r c i o de 1810, exarados em n o m e

14
Apontamentos cm defesa do tratado de comércio de 1810 (27 de A g o s t o de 1811). In:
C o u t i n h o 1 9 9 3 , T o m o 11,400.

160 I José Luís Cardoso


do sacrossanto princípio da liberdade de c o m é r c i o , r e c o m p e n s a v a m a
c o r o a i n g l e s a pelas a c ç õ e s m i l i t a r e s l i b e r t a d o r a s n a m e t r ó p o l e i n v a d i d a
pelas t r o p a s n a p l e ó n i c a s .
N e s t e c o n t e x t o , o C o n d e de Linhares e o V i s c o n d e de Cairu faziam
j u s ao seu c o e r e n t e a l i n h a m e n t o p r ó - b r i t â n i c o e e r a m n a t u r a l m e n t e
l e v a d o s a a c e i t a r o s p r e s s u p o s t o s d o u t r i n a i s q u e d i t a v a m a s novas o r i e n -
tações estratégicas para o d e s e n v o l v i m e n t o da e c o n o m i a p o r t u g u e s a e
brasileira. A a d e s ã o d e a m b o s à i d e o l o g i a l i v r e - c a m b i s t a p o d e ser e n -
tendida c o m o corolário d e u m processo d e assimilação doutrinai q u e ,
q u e r n u m q u e r n o u t r o , foi f o r t e m e n t e m a r c a d o p e l a l e i t u r a d a Riqueza
das Nações de A d a m S m i t h .
Os ingredientes reformistas dos planos e projectos que apresentou
d u r a n t e a sua c a r r e i r a m i n i s t e r i a l — q u e r p a r a o Brasil, q u e r p a r a a
m e t r ó p o l e — c o n f i r m a m a p e r m e a b i l i d a d e d e D . R o d r i g o aos i d e a i s
de liberalismo e c o n ó m i c o q u e ajudavam a r e d i m e n s i o n a r os espaços de
actuação dos agentes e c o n ó m i c o s individuais, em prol da felicidade
p ú b l i c a . O m e s m o s e v e r i f i c o u e m r e l a ç ã o a J o s é d a Silva L i s b o a , p a r a
q u e m a a d o p ç ã o desses p r e c e i t o s liberais n o p l a n o das r e l a ç õ e s e x t e r n a s
era c e r t a m e n t e m e d i a d a p o r c o n s i d e r a n d o s e m q u e pesavam o s s u p e -
r i o r e s interesses n a c i o n a i s d e s a l v a g u a r d a d a i n d e p e n d ê n c i a p o l í t i c a .
A e c o n o m i a p o l í t i c a l i b e r a l e r a b e m a c o l h i d a e m t e r r i t ó r i o brasileiro,
u m a vez q u e se lhe r e c o n h e c i a a v i r t u d e de c o n t r i b u i r para a integrali-
d a d e d o i m p é r i o . O i m p é r i o l u s o - b r a s i l e i r o e r a , afinal, u m e s p a ç o p r o -
pício à construção do t e r r i t ó r i o providencial da e c o n o m i a política.

O e n t u s i a s m o c o m q u e J o s é d a Silva L i s b o a c a u c i o n o u a l g u n s d o s
mais sagrados preceitos da ideologia de liberalismo e c o n ó m i c o n ã o
significou, d e m o d o algum, i d ê n t i c o o u c o n v e r g e n t e fervor n a aceitação
d e p r i n c í p i o s l i b e r a i s e m m a t é r i a s relativas à o r g a n i z a ç ã o p o l í t i c a d a
m o n a r q u i a i m p e r i a l . N a p ú b l i c a c o n s a g r a ç ã o q u e d e d i c o u aos ê x i t o s
p r o p o r c i o n a d o s p e l a i n c o n t e s t a d a figura d e D . J o ã o V I , e s c r e v e u n o s e u
habitual t o m panegírico:

" O s benefícios q u e m o s t r a m espírito superior, e iluminada política,


d o s p r í n c i p e s d e s t i n a d o s a b e m - a v e n t u r a r s e u s E s t a d o s , são o s a c t o s
q u e m a n i f e s t a m a c o n s t a n t e s o l i c i t u d e d e m a n t e r ilesa a r e l i g i ã o , s e -
g u r a a o r d e m civil, r e s p e i t a d a a d i g n i d a d e da c o r o a , firme a i n d e -
p e n d ê n c i a nacional, i m ó v e l a i n t e g r i d a d e do i m p é r i o , sólidos os

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa 161


sistemas d o b e m p ú b l i c o , p r o g r e s s i v o s o s m e l h o r a m e n t o s d a s o c i e -
d a d e " (Lisboa 1 8 1 8 , 7-8).

A p l a u d i n d o o r e s t a b e l e c i m e n t o das o r d e n s h o n o r í f i c a s e m t e r r i t ó r i o
brasileiro, c o n g r a t u l o u - s e c o m o f a c t o d e assim s e " t e r c o l h i d o o f r u t o
d e t ã o b e n é f i c a p r u d ê n c i a , e x t e r m i n a n d o d o s e n t e n d i m e n t o s a s ilusões
democráticas, e d i r i g i n d o o a m o r da n o b r e z a para os dignos objectos,
m a n t e n d o a t o d a s a s classes n a d o u r a d a c a d e i a d a s u b o r d i n a ç ã o , p a r a
s e m p r e t e r e m vista a p i r â m i d e m o n á r q u i c a " (ibid, 8 7 - 8 8 ) . D e f o r m a
t r a n s p a r e n t e , Silva L i s b o a e x p r e s s a a sua c o n v i c ç ã o a c e r c a da n e c e s s i d a d e
de p r e s e r v a ç ã o d o s e q u i l í b r i o s sociais e p o l í t i c o s essenciais à m a n u t e n ç ã o
d a o r d e m d o i m p é r i o e das suas f o r m a s d e e x i s t ê n c i a n o p l a n o d a r e -
1 5
presentação simbólica.
É essa m e s m a c o n v i c ç ã o q u e , nas v é s p e r a s da i n d e p e n d ê n c i a , o leva
a e x a l t a r o p e n s a m e n t o de B u r k e e as suas b e m f u n d a d a s críticas às
"cruas teorias de especuladores metafísicos, ou maquiavelistas, q u e t ê m
p e r t u r b a d o , o u p e r v e r t i d o a i m u t á v e l o r d e m social, e s t a b e l e c i d a p e l o
e t e r n o R e g e d o r d o U n i v e r s o " (Lisboa 1 8 2 2 , v).
A oposição a q u a l q u e r l a m p e j o político liberal constituía, p o r
c o n s e g u i n t e , o i n d i s p e n s á v e l c o n t r a p o n t o da e s t a b i l i d a d e e s e g u r a n ç a
requeridas pela vontade de concretização dos " m e l h o r a m e n t o s da s o -
c i e d a d e " . M e l h o r a m e n t o s e r e f o r m a s q u e Silva L i s b o a a d v o g a v a e p a r a
o s quais s e s o c o r r i a d a l e g i t i m i d a d e d a c i ê n c i a d a e c o n o m i a p o l í t i c a e
d o r e s p e c t i v o e n q u a d r a m e n t o d o u t r i n a i , f u n d a d o e m ideais d e f r a n q u e z a
e liberdade.

Referências bibliográficas

Alexandre,Valentim. Os Sentidos do Império. Questão Nacional e Questão Colonial na Crise


do Antigo Regime Português. P o r t o : E d i ç õ e s A f r o n t a m e n t o , 1 9 9 3 .
________. O processo de i n d e p e n d ê n c i a do Brasil. In: Francisco B e t h e n c o u r t e Kirti
C h a u d h u r i (eds.), História da Expansão Portuguesa. Lisboa: C í r c u l o de Leitores.Vol.
IV, 1 0 - 4 5 , 1 9 9 8 :
A l m o d o v a r , A n t ó n i o . P o r t u g a l e Brasil: a e c o n o m i a política em dois c o n t i n e n t e s . In:
José Luís C a r d o s o e A n t ó n i o A l m o d o v a r (eds.), Actas do Encontro Ibérico sobre História
do Pensamento Económico. Lisboa: CISEP, 2 7 9 - 2 9 2 , 1 9 9 2 .
________. I n t r o d u ç ã o a José da Silva Lisboa, Escritos Económicos Escolhidos (1804-1820).
L i s b o a : B a n c o de Portugal. (Colecção de O b r a s Clássicas do P e n s a m e n t o E c o n ó m i c o
Português), 1 9 9 3 .

15
S o b r e este assunto, cf. o detalhado e s t u d o de Malerba 2 0 0 0 .

162 I José Luís Cardoso


A l m o d o v a r , A n t ó n i o . A Institucionalização da Economia Política Clássica em Portugal. P o r -
to: Edições Afrontamento, 1995.
A r r u d a , J . J o b s o n de A n d r a d e . O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Atica, 1 9 8 0 .
________. O Brasil e a crise e c o n ó m i c a de P o r t u g a l na p r i m e i r a década do século X I X .
Ler História, n° 13, 1986.
C a r d o s o , José Luís. A influência de A d a m S m i t h no p e n s a m e n t o e c o n ó m i c o p o r t u g u ê s
( 1 7 7 6 - 1 8 1 1 / 1 2 ) . In: José Luís C a r d o s o (ed.), Contribuições para a História do Pensa-
mento Económico em Portugal. Lisboa: Publicações D o m Q u i x o t e , 8 5 - 1 1 0 , 1 9 8 8 .
________. O Pensamento Económico em Portugal nos Finais do Século XVIII (1780-1808).
Lisboa: E d i t o r i a l Estampa, 1 9 8 9 .
________. N a s malhas do I m p é r i o : a e c o n o m i a política e a política colonial de D. R o d r i g o
de S o u z a C o u t i n h o . I n : J o s é Luís C a r d o s o (ed.), A Economia Política e cs Dilemas do
Império Luso-Brasileiro (1790-1822). Lisboa: C o m i s s ã o N a c i o n a l para as C o m e m o -
rações dos D e s c o b r i m e n t o s P o r t u g u e s e s , 6 5 - 1 0 9 , 2 0 0 1 .
[ C L P ] Colecção de Legislação Portuguesa desde a última compilação das Ordenações, 1750-
1820, redigida p e l o D e s e m b a r g a d o r A n t ó n i o D e l g a d o da Silva. Lisboa:Tipografia
Maigrense, 1825-1830.
C o u t i n h o , D. R o d r i g o de Souza. Textos Políticos, Económicos e Financeiros (1783-1811).
L i s b o a : B a n c o de P o r t u g a l . T o m o s I e II. I n t r o d u ç ã o e direcção de edição de A n d r é e
D i n i z Silva ( C o l e c ç ã o de O b r a s Clássicas do P e n s a m e n t o E c o n ó m i c o P o r t u g u ê s ) ,
1993.
Lima, Oliveira. D.João VI no Brasil, 1808-1821. R i o de Janeiro: Livraria José O l y m p i o
(2ª edição, 1945), 1 9 0 9 .
Lisboa, José da Silva. Princípios de Economia Política para Servir de Introdução à Tentativa
Econômica do Autor dos Princípios de Direito Mercantil. Lisboa: Impressão Régia, 1 8 0 4 .
________. Observações sobre o Comércio Franco do Brasil. R i o de Janeiro: Impressão Régia,
1808-9.
________. Observações sobre a Franqueza da Indústria e Estabelecimento de Fábricas no Brasil.
R i o d e J a n e i r o : Impressão Régia, 1810a.
________. Observações sobre a Prosperidade do Estado pelos Liberais Princípios da Nova Legis-
lação do Brasil. R i o de J a n e i r o : Impressão Régia, 1810b.
________. Memória dos Benefícios Políticos do Governo de El-Rei Nosso Senhor D.João VI.
R i o d e J a n e i r o : Impressão Régia, 1 8 1 8 .
________. Extractos das Obras Políticas e Económicas do Grande Edmund Burke. S e g u n d a
a
e d i ç ã o mais correcta. Lisboa: N o v a Impressão da V i ú v a N e v e s e Filhos [1 e d i ç ã o :
1812], 1822.
________. Escritos Econômicos Escolhidos (1804-1820).Lisboa:Banco de P o r t u g a l , T o m o s I
e II. I n t r o d u ç ã o e direcção de edição de A n t ó n i o A l m o d o v a r ( C o l e c ç ã o de O b r a s
Clássicas d o P e n s a m e n t o E c o n ó m i c o P o r t u g u ê s ) , 1 9 9 3 .
________. Observações sobre a Franqueza da Indústria e Estabelecimento de Fábricas no Brasil.
Brasília: Biblioteca Básica Brasileira. I n t r o d u ç ã o de F e r n a n d o A. Novais e J . J o b s o n
de Andrade Arruda, 1999.
Magalhães, J o a q u i m R o m e r o . As novas fronteiras do Brasil. In: Francisco B e t h e n c o u r t
e Kirti C h a u d h u r i (eds.), História da Expansão Portuguesa. Lisboa: C í r c u l o de L e i t o -
res.Vol. III, 1 0 - 4 2 , 1998.
Malerba, Jurandir. A Corte no Brasil. Civilização e Poder no Brasil às Vésperas da Indepen-
dência (1808 a 1821). São P a u l o : C o m p a n h i a das Letras, 2 0 0 0 .
M a x w e l l , K e n e t h . I d e i a s imperiais. I n : F r a n c i s c o B e t h e n c o u r t e Kirti C h a u d h u r i (eds.),

O liberalismo económico na obra de José da Silva Lisboa I 163


História da Expansão Portuguesa. Lisboa: C í r c u l o de Leitores,Vol. III, 4 1 0 - 4 2 0 , 1 9 9 8 .
N e v e s , G u i l h e r m e P. Do i m p é r i o luso-brasileiro ao i m p é r i o do Brasil, 1 7 8 9 - 1 8 2 2 . Ler
História, n° 2 7 - 2 8 , 7 5 - 1 0 2 , 1 9 9 5 .
N o v a i s , F e r n a n d o A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).
São P a u l o : H u c i t e c , 1979.
________e A r r u d a , J . J o b s o n de A n d r a d e . I n t r o d u ç ã o . P r o m e t e u s e Atlantes na forja da
nação. In:José da Silva Lisboa, Observações sobre a Franqueza da Indústria e Estabeleci-
mento de Fábricas no Brasil. Brasília: Biblioteca Básica Brasileira, 1999.
Pedreira, J o r g e M. O fim do i m p é r i o luso-brasileiro. In: Francisco B e t h e n c o u r t e Kirti
C h a u d h u r i (eds.), História da Expansão Portuguesa. Lisboa: C í r c u l o de Leitores,Vol.
IV, 2 1 5 - 2 2 7 , 1 9 9 8 .
Pereira, M i r i a m H a l p e r n . Atitudes políticas e relações e c o n ó m i c a s internacionais na
p r i m e i r a m e t a d e do século X I X em P o r t u g a l . Ler História, n° 10, 5 3 - 7 3 , 1987.
R o c h a , A n t ó n i o Penalves. A Economia Política na Sociedade Escravista. São P a u l o : E d i t o r a
Hucitec, 1996.
________(ed.). José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu. São P a u l o : E d i t o r a 34 ( C o l e ç ã o
F o r m a d o r e s d o Brasil), 2 0 0 1 .
S c h w a r t z , Stuart. O Brasil no sistema c o l o n i a l . In: Francisco B e t h e n c o u r t e Kirti
C h a u d h u r i (eds.), História da Expansão Portuguesa. Lisboa: C í r c u l o de Leitores,Vol.
III, 1 3 8 - 1 5 3 , 1998a.
Silva, A n d r é e D i n i z . I n t r o d u ç ã o a D. R o d r i g o de Souza C o u t i n h o , Textos Políticos,
Económicos e Financeiros (1783-1811). Lisboa: B a n c o de Portugal ( C o l e c ç ã o de O b r a s
Clássicas d o P e n s a m e n t o E c o n ó m i c o P o r t u g u ê s ) , 1 9 9 3 .

164 I José Luís Cardoso

View publication stats

Você também pode gostar