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7 de fevereiro de 2020, 6h01
Por Ricardo Souza Calcini
Bem por isso, os precedentes exarados pelo TST[2] passaram a aplicar o IPCA-E,
com a modulação fixada a partir do dia 25 de março de 2015, não apenas sob a
perspectiva da efetiva recomposição do patrimônio dos credores trabalhistas, mas
como medida de estímulo efetivo ao cumprimento dos direitos sociais por parte de
devedores recalcitrantes, que se valem da Justiça do Trabalho para postergar
indefinidamente suas obrigações.
Assim, seria o caso, por força da então redação conferida pela lei reformista, que os
débitos trabalhistas voltassem a ser corrigidos pela TR. Sucede, porém, que o TST
passou a entender que o então parágrafo 7º do artigo 879 da CLT nasceu
“natimorto”, ou seja, não tinha nenhuma eficácia normativa em razão da decisão do
Tribunal Pleno. Nesse sentido, foram os seguintes precedentes exarados naquela
ocasião: TST - RR 803020105150079, relatora Maria Cristina Irigoyen Peduzzi,
data de julgamento: 26 de junho de 2018, 8ª Turma, data de publicação: DEJT 29 de
junho de 2018; ED-ARR 1321-85.2013.5.09.0019, relatora ministra Dora Maria da
Costa, 8ª Turma, DEJT 8 de junho de 2018; Ag-AIRR 71300-30.2005.5.02.0078,
relator ministro Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, DEJT 20 de abril de 2018.
A par disso, por força do cenário jurisprudencial se formou pela aplicação do IPCA-
E é que a Suprema Corte recebeu as Ações Declaratórias de Constitucionalidade 58
e 59, as quais tratam dos dispositivos relativos aos índices de atualização dos débitos
e depósitos trabalhistas. O objetivo naquele momento era de que o STF declarasse a
constitucionalidade da então redação dos artigos 879, parágrafo 7º, e 899, parágrafo
4º, da CLT, que definiam a Taxa Referencial (TR) para fins de correção dos valores
decorrentes das condenações trabalhistas e do depósito recursal. As ADCs foram
distribuídas por prevenção ao ministro Gilmar Mendes, relator da Ação Direta de
Inconstitucionalidade 5.867, em que a Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra), em sentido contrário, pedia a declaração da
inconstitucionalidade dos mesmos dispositivos.
Entrementes, como as referidas ações objetivas ainda não foram julgadas[3] pelo
Supremo Tribunal Federal, é certo que, após a edição da lei da reforma trabalhista, a
jurisprudência predominante no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho[4]
consolidou-se no sentido de aplicar-se o IPCA-E como índice de correção monetária
dos débitos trabalhistas, exceção feita ao entendimento da 4ª Turma, para quem,
após o dia 11 de novembro de 2017, data da vigência da Lei 13.467, a atualização
dos créditos decorrentes de condenação judicial deveria ser feita pela Taxa
Referencial.[5]
E nada obstante todo esse complexo cenário é que, mais recentemente, a temática do
índice de correção monetária dos débitos trabalhistas foi objeto de nova mudança
legislativa, agora promovida pela Medida Provisória 905/2019 que, em sentido
diametralmente oposto à Lei 13.467/2017, passou a prever a aplicação do IPCA-E,
em detrimento da TRD, na atual redação conferida ao parágrafo 7º do artigo 879 da
CLT.
Sucede, porém, que, de acordo com uma interpretação “conforme”, infere-se com
supedâneo na jurisprudência da corte superior trabalhista que o IPCA-E deve ser
aplicado inclusive no período posterior à lei da reforma até o advento da MP
905/2019, porquanto a TRD se revela “inconstitucional ao impor restrição
desproporcional ao direito de propriedade (Constituição, artigo 5º, XXII), uma vez
que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da
economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.”.
Essa, aliás, foi a tese fixada pelo Plenário do STF, no RE 870.947, com repercussão
geral reconhecida, em julgamento ocorrido no dia 20 de setembro de 2017 —
decisão essa, inclusive, na qual foram estabelecidas duas teses sobre os índices de
correção monetária e dos juros de mora a serem aplicados nas condenações impostas
à Fazenda Pública —, de modo que se mostra oportuna a transcrição da tese
referente à atualização monetária:
O artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada pela Lei 11.960/2009, na parte
em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade
(Constituição, artigo 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada
a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a
que se destina.
Bem por isso, prevaleceu naquela oportunidade o voto do ministro Luiz Fux no
sentido de se afastar o uso da TR como índice de correção monetária dos débitos
judiciais da Fazenda Pública, mesmo no período da dívida anterior à expedição do
precatório, para dar lugar ao IPCA-E, reputado mais adequado à recomposição da
perda do poder de compra.
Portanto, compete ao advogado deter uma maior diligência em sua atuação perante
os tribunais trabalhistas, tendo o cuidado desde a elaboração do recurso, passando
pela elaboração e despacho de memorais, até o dia da sustentação oral na sessão de
julgamento.
Este, em arremate, o verdadeiro sentido desta nossa coluna Prática Trabalhista nos
Tribunais, que se traduz num canal focado no auxílio aos advogados trabalhistas na
elaboração dos mais diversos apelos dirigidos ao TRTs, em especial o recurso de
revista de competência do TST.
[1] Tal decisão, aliás, está acobertada pelo manto da coisa julgada, na medida em
que os embargos de declaração, opostos em 6 de março de 2018, foram convertidos
em agravo regimental, cuja decisão foi pela rejeição, com julgamento em 15 de
junho de 2018.
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Ricardo Souza Calcini é professor de Direito do Trabalho em cursos jurídicos e de pós-graduação (ESA,
FADI, EPD, Damásio, Kroton e FMU). Especialista nos cursos da “Advocacia Trabalhista nos TRTs” e
no “Recurso de Revista”. Palestrante e instrutor de treinamentos corporativos e “in company” pela
empresa Ricardo Calcini | Cursos e Treinamentos. Autor de obras e artigos jurídicos.
Revista Consultor Jurídico, 7 de fevereiro de 2020, 6h01