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A UMA PASSANTE
EMBRIAGAI-VOS
É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para
não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é
preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto
que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso,
na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou
desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o
que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:
- É a hora de embriagar-se! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como
achardes melhor.
3
A ALMA DO VINHO
SPLEEN
Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;
O ALBATROZ
Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.