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Europa-Mercosul: o acordo de Recolonização
(HTTPS://OUTRASPALAVRAS.NET/) JORNALISMO DE PROFUNDIDADE E PÓS-CAPITALISMO
Nada assegura que o pré-compromisso de “livre” comércio assinado em
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28/6 torne-se realidade um dia. Se assim for, haverá retrocesso secular.
Felizmente, já se anuncia resistência — e não apenas na América do Sul
avras.net/crise-
Por Antonio Martins| Imagem: Diego Rivera, A grande cidade de Tenochtitlán (1945)
Três dias após a assinatura, o teor exato do compromisso firmado em Bruxelas permanece
oculto – como para confirmar a falta de transparência do modelo de globalização atual. Mas
algumas das bases vieram à tona, em comunicados e entrevistas. Como tornou-se costume em
acordos assim, as cláusulas são de dois tipos. Uma parte trata propriamente de comércio; outra,
em geral pouco debatida pelas sociedades, inclui normas muito mais amplas, que
frequentemente alteram a ordem econômica, social e mesmo política dos países implicados.
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/europa-mercosul-o-acordo-de-recolonizacao/ 1/8
09/07/2019 agroalimentares sofisticados, como vinhos (hoje,
Europa-Mercosul: tributados
o acordo a 27%), chocolates
de Recolonização (20%),
- Outras uísque e
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outros destilados (de 20% a 35%), queijos (28%) biscoitos (16% a 18%), pêssegos em lata (55%)
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e até refrigerantes (de 20% a 35%).
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A nota emitida pela chancelaria brasileira comemora (http://www.itamaraty.gov.br/pt-
BR/notas-a-imprensa/20560-conclusao-das-negociacoes-do-acordo-entre-o-mercosul-e-a-
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uniao-europeia-bruxelas-27-e-28-de-junho-de-2019-nota-conjunta-dos-ministerios-das-
relacoes-exteriores-da-economia-e-da-agricultura-pecuaria-e-abastecimento), em tom pueril:
“Os consumidores serão beneficiados pelo acordo, com acesso a maior variedade de produtos a
JORNALISMO DE PROFUNDIDADE
preços competitivos”. Não menciona o preço: devastação do E PÓS-CAPITALISMO
que resta de indústria nacional,
diante da concorrência de empresas europeias com acesso muito maior a infraestrutura,
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tecnologia e, em especial, fontes de financiamento. Os primeiros sinais de alerta já surgiram,
vindos do Instituto Aço Brasil, que reúne as empresas do setor siderúrgico. “Qualquer abertura
sem corrigir assimetrias só agrava a situação da siderurgia”, afirmou
(https://www.valor.com.br/brasil/6326187/siderurgia-ve-risco-com-custo-brasil-e-sem-selo-
de-origem), neste fim de semana, o presidente da entidade, Marco Polo Neves.
Mesmo assim, atenção: nem isso está garantido. Os negociadores europeus cercaram-se de
salvaguardas adicionais. Para produtos como carnes, açúcar e etanol, haverá cotas
(https://oglobo.globo.com/economia/mercosul-obtem-cota-limitada-em-carne-prazo-
estendido-para-receber-carros-da-ue-sem-tarifas-23773988) – ou seja, volumes máximos de
exportação. Em relação à carne, por exemplo, serão 99 mil toneladas anuais – ou 1,2% do
consumo anual do item na UE. Além disso, algo está claramente definido: os europeus poderão,
sempre que julgarem necessário, invocar o “princípio da precaução” e bloquear a importação de
produtos agrícolas do Mercosul sobre os quais pese suspeita de prejudicarem a saúde ou o
ambiente.
II.
Os itens extracomércio do pré-acordo são mais obscuros, mas nem por isso menos ameaçadores.
Os comunicados divulgados até agora fazem menção aos seguintes temas:
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/europa-mercosul-o-acordo-de-recolonizacao/
“livre” comércio. Num tempo de forte crescimento da produção imaterial, as grandes 2/8
09/07/2019 corporações querem fecharEuropa-Mercosul:
as brechas ao controle tecnológico
o acordo e simbólico- Outras
de Recolonização que exercem. A
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primeira possível consequência é a ampliação do direito de patentes farmacêuticas, com
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restrições à produção de medicamentos genéricos. A nota conjunta emitida em Bruxelas, em
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28/6, é extremamente lacônica – mas afirma que o pré-acordo inclui itens ligados à propriedade
intelectual.
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Concorrências públicas e compras governamentais: O poder de compra e de
contratação dos Estados é, tradicionalmente, um instrumento de promoção do
desenvolvimento. Ao licitar uma ferrovia ou parque eólico, ou adquirir produtos como
JORNALISMO
medicamentos ou comida paraDE PROFUNDIDADE
a merenda E PÓS-CAPITALISMO
escolar, os governos podem favorecer empresas ou
cooperativas locais, estimulando sua existência e expansão. Há décadas, as corporações lutam
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para anular esta prerrogativa. Querem impor seu poder e fechar mesmo as pequenas brechas
para modelos de produção não-hegemônicos. O tema foi incluído, desde o início, nas tratativas
para o pré-acordo agora firmado. Embora sem entrar em detalhes, todos os comunicados
lançados a respeito do texto, desde 28/6, sugerem que as transnacionais alcançaram seu
objetivo.
Os comunicados oficiais pós-28/6 não fazem referência a tais painéis, mas a preocupação se
mantém. Ao longo das duas décadas de negociação do acordo UE-Mercosul, o tema foi
seguidamente suscitado.
III.
A fragilidade do pré-acordo começa pela situação precária de seus três protagonistas principais.
Na Argentina, Maurício Macri cumpre um fim de mandato melancólico, marcado por
empobrecimento inédito, crise cambial e disparada da inflação. As pesquisas eleitorais sugerem
que sua coalizão de direita será derrotada nas urnas, em outubro. No Brasil, a popularidade de
Jair Bolsonaro caiu para o patamar mais baixo (https://outraspalavras.net/blog/bolsonaro-o-
mais-impopular/) vivido por um presidente em início de mandato, desde a redemocratização. E
a própria Comissão Europeia está de saída, com processo de sucessão já aberto, depois de seus
integrantes sofrerem fortes revezes nas eleições para o Parlamento Europeu.
Privacidade - Termos
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/europa-mercosul-o-acordo-de-recolonizacao/ 3/8
09/07/2019 há o que celebrar”, afirmou (https://www.clarin.com/politica/alberto-fernandez-cuestiono-
Europa-Mercosul: o acordo de Recolonização - Outras Palavras
acuerdo-mercosur-union-europea-genera-festejar_0_PNFknXoB_.html). Sua possível vitória
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significaria, provavelmente, o primeiro grave revés para o pré-compromisso.
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No Brasil, as primeiras críticas vieram do ex-chanceler Celso Amorim
(https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/06/28/ue-fechou-acordo-com-pressa-
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porque-mercosul-esta-em-situacao-fragil-diz-celso-amorim.htm) e dos ex-ministros da Fazenda
Bresser Pereira (https://revistaforum.com.br/em-artigo-bresser-afirma-que-acordo-entre-
mercosul-e-uniao-europeia-condena-o-brasil-ao-atraso/) e Ciro Gomes
JORNALISMO DE PROFUNDIDADE E PÓS-CAPITALISMO
(https://horadopovo.org.br/nao-sejamos-abestados-tratado-mercosul-ue-devasta-a-industria-
diz-ciro/). Mas também os movimentos sociais começaram a se mexer. Ainda em 28 de junho, a
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Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul frisava (https://www.cut.org.br/noticias/nota-
da-coordenadoria-de-centrais-sindicais-do-cone-sul-sobre-acordo-mercosul-ue-6824), em
comunicado, sua “absoluta rejeição ao presente acordo, tanto em relação a suas formas quanto a
seu conteúdo”.
Se na América do Sul o eixo das críticas é anticolonialista, na Europa o foco é a devastação dos
direitos sociais e dos arranjos produtivos baseados em solidariedade, em favor das corporações
e das lógicas capitalistas. Os agricultores foram os primeiros a protestar
(https://www.lesoir.be/233737/article/2019-06-29/mercosur-les-agriculteurs-europeens-
revoltes-par-laccord-union-europeenne). Defensores ativos da pequena propriedade e de um
avras.net/crise- modelo agrícola que valoriza o orgânico, o local e o cooperativo, eles temem sofrer a
concorrência desleal da produção baseada em latifúndio, agrotóxicos, expulsão dos
trabalhadores rurais e devastação da natureza.
Mas a resistência está se espalhando – inclusive entre os ambientalistas, que compõem o bloco
que mais cresceu nas recentes eleições para o Parlamento Europeu. Ainda nesta segunda-feira
(1º/7), Nicolas Hulot, ex-ministro do Ambiente do presidente francês Emmanuel Macron,
disparou (https://www.lemonde.fr/planete/article/2019/06/30/nicolas-hulot-l-accord-avec-le-
mercosur-est-completement-antinomique-avec-nos-ambitions-
climatiques_5483453_3244.html): “este acordo representa o oposto de nossas ambições para o
clima”. Há horas, o próprio presidente foi obrigado a fazer a primeira concessão, apesar de seu
compromisso com as políticas neoliberais. Temeroso das reações do eleitorado, Macron
prometeu (https://www.lemonde.fr/planete/article/2019/07/01/emmanuel-macron-sous-le-
feu-croise-des-opposants-au-traite-de-libre-echange-avec-le-mercosur_5483763_3244.html?
xtor=RSS-3208)lançar (https://www.lemonde.fr/planete/article/2019/07/01/emmanuel-
macron-sous-le-feu-croise-des-opposants-au-traite-de-libre-echange-avec-le-
mercosur_5483763_3244.html?xtor=RSS-3208), “nos próximos dias”, uma “avaliação
independente, completa e transparente deste acordo, em especial sobre as questões do ambiente
e da biodiversidade”…
As reações indicam a possibilidade de ressurgir um cenário político particular. Assim como nas
lutas contra o “livre” comércio travadas na virada do século, ele colocaria frente a frente dois
blocos de forças e dois projetos de futuro. De um lado, em favor do acordo, as maiores
corporações, a mídia cada vez mais atrelada a elas e a maioria dos governos – tanto na União
Europeia, quanto no Mercosul. De outro, contra a recolonização e a lógica do grande poder
econômico, uma vasta galáxia de movimentos e de atores políticos que resistem dos dois lados
do Atlântico – e buscam alternativas baseadas em novas lógicas produtivas e sociais.
Reconstituir este choque de projetos, e em especial a vasta coalizão que pode se articular no
segundo pólo da disputa, teria enorme efeito transformador e pedagógico — bem na hora em
que a crise civilizatória amplia-se e parece chegar a um ponto crucial.
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resgatá-lo da extrema- uma distopia… direita e a causa oculta
direita Poder global das megaempresas manipula Para impor “verdades” repetidamente
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rachar sociedade: de um lado, os existência humana mais devastadora — e um mercado frenético e vazio de opiniões.
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pátria. Tática deve ser combatida: o Podemos superá-la?
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8 comentários para "Europa-Mercosul: o acordo de Recolonização"
JORNALISMO DE PROFUNDIDADE E PÓS-CAPITALISMO
2 de julho de 2019 às 02:09
— Vladi
disse:
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civilizatoria/europa-mercosul-o-acordo-de-
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Vai ser pessimista na casa de chapéu. O Brasil é mais competitivo do que a maioria dos países europeus. Achei o texto submisso aos europeus
recolonizacao/#comment-37724)
como se fosse um Zé Mané inferior
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“Joma”…
Seja um robô com uma argumentação minimamente mais inteligente… tá igual à heleno!
Haja capim!!!
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09/07/2019 – Por Antonio
Europa-Mercosul: Martinsde
o acordo – Upaintsolution
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