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DIVERSAS TÉCNICAS DE

RESPIRAÇÃO PARA O CANTO


SUMÁRIO
Introdução 06
Revisão Literária 07
Respiração Clavicular ou Superior 08
Respiração Média, Mista ou Torácica 08
Respiração Inferior ou Abdominal 08
Respiração Diafragmático-Abdominal ou Costo
Diafragmático-Abdominal 09
Um Jovem Profissional da Voz 23
Conclusão 25
Resumo 26
Summary 27
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INTRODUÇÃO
Existe grande divergência entre pesquisadores, professores de
canto e fonoaudiólogos acerca da técnica de apoio respiratório
que trouxesse
o melhor resultado para os cantores de maneira geral.
A respiração é o alicerce da boa voz tanto para situações de fala
quanto de canto, sendo responsável pelo equilíbrio vocal, a
segurança e o
controle da situação.
A boa voz começa com a boa respiração. Mudando a maneira de
respirar, modifica-se também suas representações interiores. É
preciso ter
equilíbrio no ato de inspirar e expirar (Castelliano, 1998).
As diferentes formas de canto requerem diferentes demandas
vocais e também diferentes padrões de apoio respiratório com
controle
específico de fluxo aéreo. Por exemplo, diante de fortíssimos e
agudíssimos
há maior necessidade de pressão sub-glótica, controlada por
aumento do
fluxo aéreo e da adução glótica; por outro lado, graves e
pianíssimos têm
necessidades opostas (Pinho, 1999 - no prelo).
O objetivo deste trabalho é identificar, na literatura, as diversas
técnicas de respiração para o canto, por meio de levantamento
bibliográfico
nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.
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REVISÃO LITERÁRIA
De acordo com Behlau e Ziemer, 1988, etimologicamente, respirar
significa insuflar de vida. Embora a função primária da respiração
seja
efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo,
imprescindíveis
à continuidade da vida, os antigos já sabiam que a respiração não
representa
apenas um mecanismo fisiológico para a captação de oxigênio e
eliminação
de gás carbônico.
Há milênios sabe-se que o ciclo da respiração, o inspirar e o
expirar, está ligado a todos os ciclos da natureza e que é por este
processo
que o corpo e a mente do homem são alimentados de uma
energia sutil. Esta
energia recebe vários nomes: prana para os hindus, ki para os
japoneses,
Chi para os chineses ou força vital para os ocidentais. Vários
métodos
respiratórios foram desenvolvidos no sentido de prover o
organismo humano
dessa energia, pois acredita-se que sua falta resulta num
desequilíbrio do
estado psicossomático.
Sob o ponto de vista de Behlau e Pontes, 1995, o ciclo
respiratório
apresenta duas fases, separadas entre si por um pequeno
intervalo: a
inspiração e a expiração. Na respiração em repouso, o tempo da
fase
inspiratória é, em média, três vezes maior que o da fase
expiratória.
Durante a fonação necessitamos de uma expiração muito mais
lenta para a "construção das frases", e tanto mais lenta e
controlada quanto
for a emissão.
A inspiração é a fase eminentemente ativa do ciclo respiratório: o
diafrágma, nesse processo, passa de sua posição natural em
cúpula a uma
retificação; concomitantemente, com auxílio da ação dos
músculos
intercostais internos, aumenta o volume da caixa torácica.
Durante a fonação a inspiração deve ser de modo buco-nasal
alternado, rápida, silenciosa e efetiva, ou seja, deve haver
condições
suficientes para que o aporte de ar necessário entre nos pulmões.
Tanto a inspiração exclusivamente bucal como exclusivamente
nasal são inadequadas.
A expiração, essencial para a fonação por vias laríngias, é um
processo passivo, resultante do relaxamento do diafragma e da
elasticidade
das paredes musculares da caixa torácica, o que provoca a
expulsão do ar
armazenado. Durante a fonação há também a solicitação da
contração dos
músculos intercostais externos e de toda a árvore
traqueobronquial.
De acordo com o tipo de emissão - o canto, por exemplo, pode
ocorrer uma série de contrações ativas, neste caso para sustentar
uma
determinada nota musical.
Para uma fonação normal, é essencial que as forças
aerodinâmicas
estejam equilibradas com as forças mioelásticas da laringe, de
modo que o
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resultado não seja uma fonação demasiadamente soprosa ou
excessivamente tensa.
Quanto ao tipo de respiração, encontramos na literatura
referências
a quatro tipos básicos:
1. Clavicular ou superior;
2. Média, mista ou torácica;
3. Inferior ou abdominal;
4. Completa, diafragmático-abdominal ou costo-
diafragmáticoabdominal.
Respiração Clavicular ou Superior
A respiração clavicular ou superior caracteriza-se pela expansão
somente da parte superior da caixa torácica, o que ocasiona uma
elevação
visual dos ombros, podendo ou não ser acompanhada da
anteriorização do
pescoço.
Como a elevação da caixa torácica requer a participação da
musculatura do pescoço, observa-se a contração do músculo
esternocleidomastóideo (que participa como auxiliar da inspiração
apenas
quando se quer fazer uma emissão em forte intensidade) e tensão
laríngea,
com redução do espaço da membrana tíreo-hióidea.
A produção vocal é alterada pelo aporte insuficiente de ar e o som
resultante tende a ser agudo, pela elevação e tensão da laringe.
O músculo esternocleidomastóideo encontra-se frequentemente
tenso nos pacientes disfônicos, pois eles tendem a manter a caixa
torácica
constantemente elevada.
Respiração Média, Mista ou Torácica
A respiração média, mista ou torácica - a mais comumente
observada na população - apresenta pouca movimentação
superior ou
inferior durante a inspiração e um deslocamento anterior da
região torácica
média.
É a respiração que utilizamos na maior parte do dia, quando em
atividade de repouso ou em conversas coloquiais, mas
inadequada e
insuficiente para o uso profissional da voz, principalmente para o
canto.
Respiração Inferior ou Abdominal
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A respiração inferior ou abdominal caracteriza-se por ausência de
movimentos da região superior (que geralmente apresenta-se
hipodesenvolvida e com rotação anterior de ombros) e expansão
da região
inferior. Aparece em indivíduos com pouca energia, nos quais a
sensação de
colabamento do tórax é bastante evidente, mas também pode ter
sido
desenvolvida como sendo a "respiração correta", em
consequência de uma
orientação equivocada.
Respiração Diafragmático-Abdominal
ou Costo-Diafragmático-Abdominal
A respiração diafragmático-abdominal ou costo-
diafragmáticoabdominal,
completa ou total caracteriza-se por uma expansão harmônica de
toda a caixa torácica, sem excessos na região superior ou inferior.
Há o aproveitamento de toda a área pulmonar, e é a respiração
mecanicamente mais eficaz para o desenvolvimento de uma voz
profissional.
A respiração total será tão mais profunda quanto maior for a
exigência da
produção vocal.
Desta forma, concluímos que uma respiração média ou torácica é
suficiente para o uso habitual da voz e, em verdade, representa o
mecanismo respiratório mais econômico sob o ponto de vista de
gasto
energético. Se fizermos uma respiração completa, ou seja,
costodiafragmático-
abdominal, a pressão da coluna aérea infraglótica é tão grande
que, a menos que tenhamos um treinamento especial para o
controle glótico
(semelhante ao ministrado aos cantores líricos), iremos instalar
um regime
glótico hipertônico na tentativa de impedir uma grande saída de
ar, exigindo
um trabalho potente da musculatura respiratória para manter a
caixa torácica
alargada e elevada, o que também pode se observar pela
contração do
músculo esternocleidomastóideo nesses indivíduos. Isto significa
que com o
pulmão cheio de ar a fonação mais facilmente produzida terá
ataque brusco
e qualidade vocal tensa e comprimida, além de convidar o
estabelecimento
de uma fadiga vocal a curto prazo.
Por outro lado, se inspirarmos muito pouco, a laringe também
apresentará um gesto motor hipertônico, procurando aqui reduzir
o gasto de
ar durante a fala. Assim, a respiração média é a de menor gasto
energético e
muscular, propiciando a melhor qualidade vocal para a fala
encadeada, pois
não se realiza nem grande esforço inspiratório e nem expiratório,
e a coluna
de ar infraglótica é facilmente contrabalanceada pela firmeza
glótica.
Demandas vocais especiais requerem treinamento específico e
seleção de
outros ajustes motores.
Esta é, de forma resumida, a visão do processo respiratório com a
qual estamos acostumados a lidar. Existe, porém, um segundo
nível de
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análise, onde a respiração é considerada um dos mais
importantes
elementos do reflexo da dinâmica emocional de um indivíduo, a
pulsação
básica da vida: nascemos para o mundo pela primeira respiração
e dele nos
retiramos através do "último suspiro".
Do ponto de vista psicológico, a respiração indica os ritmos da
vida
e é o processo mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se
alterar em
resposta a qualquer estímulo interno ou externo. Assim, a
respiração
influencia e é influenciada pelo estado emocional em que nos
encontramos;
podemos modificar conscientemente nosso estado físico e mental
pela
maneira como respiramos.
Apesar de seu caráter sutil, a respiração pode ser observada
como
experiência visível de nossa conexão com a terra.
Quando respiramos superficialmente, experienciamos uma falta
de
ligação com o solo, com a qualidade sólida de nosso existência:
"vivemos no
ar".
Quando a respiração é calma, profunda, regular e harmônica,
nossa
energia aumenta e todo o organismo se equilibra, a mente torna-
se lúcida, o
corpo alerta e sensitivo, a audição se mostra mais acurada, as
cores mais
vibrantes e a experiência vivencial aprofunda-se (Tulku, 1984 -
apud Behlau
e Pontes, 1995).
Somente quando respiramos profundamente é que podemos
entrar
em contato com nossos sentimentos e sensações, transformando-
os em
palavras. Assim, por exemplo, quando choramos, após várias
inspirações e
ampliações forçadas da caixa torácica, acalmando-nos,
entendemos por que
brigamos com alguém e somos mais capazes de traduzir em
palavras o que
aconteceu.
Várias observações podem ser feitas considerando-se a
respiração
quanto à profundidade e ao volume respiratório, à frequência dos
ciclos, à
relação entre as duas fases e à relação entre o volume de ar e a
qualidade
vocal utilizada. O equilíbrio da dinâmica respiratória expressa
integridade da
personalidade, enquanto alterações patológicas desse processo
refletem
níveis diversos de fragmentação emocional.
Quando estamos agitados e excitados, nossa respiração torna-se
irregular: um ciclo respiratório curto e rapidamente repetido é a
única
possibilidade respiratória nesse momento. Assim, no estado
ansioso, não
conseguimos uma sustentação adequada entre a quantidade de
ar e a altura
vocal é então muito difícil de ser conseguida.
Pessoas ativas e energéticas apresentam em geral uma
respiração
mais profunda, ao passo que pessoas com pouca motivação
apresentam um
ciclo respiratório superficial, onde quase não se observam
movimentos na
região torácica; indivíduos pacientes e persistentes tendem a um
equilíbrio
quase perfeito entre as duas fases do processo, ao passo que
pessoas
deprimidas apresentam um decréscimo na frequência respiratória.
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Sabemos que é através de uma respiração completa que
tomamos
contato com nossos níveis psicoemocionais mais bloqueados; é
fácil
observarmos em nós mesmos, nas situação em que queremos
evitar tais
contatos, como reprimimos a movimentação do diafragma,
superiorizando e
restringindo o fluxo respiratório.
A inibição da respiração é uma das mais imediatas, primárias e
eficazes reações de defesa. Se entendemos que a respiração é o
elemento
de ligação entre o corpo e a mente, somos levados a concluir que
ela pode
se tornar um excelente veículo para compreendermos como eles
funcionam.
Resumindo, do ponto de vista fisiológico, a função da respiração é
efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo; do
ponto de
vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida, sendo o
processo
mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em
resposta a
qualquer estímulo externo eu interno.
Daí vale ressaltar o seguinte:
_Respiração calma, regular e harmônica - Organismo
equilibrado e mente calma;
_Fase inspiratória balanceada com fase expiratória -
Indivíduos pacientes e persistentes;
_Respiração profunda e ritmada - Pessoas ativas e energéticas;
_Respiração superficial - Falta de ligação com a realidade.
Para Boone, 1996, o milagre de respirar é que fazemos isso
automaticamente, desde o momento em que nascemos. Quando
precisamos
de ar para qualquer espécie de esforço, automaticamente
inspiramos mais
profundamente. Quando dormimos, não precisamos instruir ou
monitorar
nosso mecanismo respiratório; ele continua trabalhando,
constante e
lentamente.
Toda a fala - assim como o canto - é produzida pelo fluxo de ar
que
sai, fazendo com que as pregas vocais vibrem. A respiração para
a fala é
conseguida por uma rápida inspiração (tão rápida que não temos
consciência
disso), seguida por uma expiração prolongada. A voz é ativada
pela duração
da expiração.
Geralmente, tomamos mais ar do que necessitamos usar para a
fala. A maioria das pessoas, portanto, tem um amplo estoque de
ar para
falar, e experiência pouca ou nenhuma tensão respiratória
enquanto fala.
Tudo o que precisam fazer é pensar no que desejam dizer e
começar a falar.
Muitas pessoas com mecanismos respiratórios normais e livres de
doenças, contudo, sentem-se sem ar quando falam. Em alguns
casos, o
problema pode ser causado por simples ansiedade, que pode
tornar a
respiração mais rápida e superficial.
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Para muitas outras pessoas, o problema é que não usam seus
mecanismos respiratórios normais corretamente, ao falarem. Elas
geralmente ajustam-se a uma das três categorias seguintes:
Os Atletas - Ao invés de permitirem que a respiração renove-se
_

automaticamente, os atletas podem tentar fazê-la funcionar. Eles


podem levantar seus ombros e puxar o ar audivelmente
mantendo seu diafragma contraído. Eles podem assemelhar-se a
um peixe fora da água, mas são apenas seres humanos, cujo ar
está prestes a acabar;
_0s Jogadores - O jogador não toma ar suficiente em uma
respiração. Ele tem tanta pressa para dizer algo (talvez por medo
de perder a atenção de seus ouvintes) que apenas toma uma
rápida e superficial inspiração e segue a toda velocidade falando,
apostando que terá ar o bastante para terminar o que está
dizendo;
_O Esbanjador - Essas pessoas podem tomar muito ar em cada
respiração, mas então comportam-se como se este pudesse
durar para sempre, não importando o quanto falem.
O que todos esses tipos familiares têm em comum é que não
permitem que seus mecanismos respiratórios funcionem
naturalmente a seu
favor. Na verdade, na maior parte do tempo eles comportam-se
como se
respirar fosse um obstáculo à fala, ao invés de aquilo que a torna
possível. O
jogador e o esbanjador parecem incomodados por terem de fazer
uma pausa
para tomarem ar, enquanto o atleta parece ver a respiração como
uma série
de manobras que precisa realizar para dizer o que pretende. E
todos eles
estão provando que fazem um trabalho muito pior tentando fazer a
respiração enquanto falam, ao invés de apenas deixarem que ela
ocorra
naturalmente.
O corpo possui muitos processos vitais completamente
automáticos, desde o piscar de olhos até os batimentos
cardíacos, e a
respiração é um deles. Nós não precisamos dirigir
conscientemente o piscar
para mantermos unida a superfície dos nossos olhos, ou nossos
batimentos
cardíacos para fazermos com que o sangue seja bombeado para
todo o
corpo. Com a respiração para a fala, tudo o que precisamos fazer
é aprender
como respirar (ou reaprender, já que nascemos sabendo) tão
natural e
facilmente quando falamos quanto fazemos em outras atividades
de nossas
vidas. A grande diferença para a fala é que esta requer uma
rápida
inspiração seguida por uma expiração prolongada, enquanto para
a maioria
das outras atividades diárias a inspiração e a expiração são
quase iguais.
Para Boone e McFarlane, 1994, os humanos aprenderam a usar a
respiração para a fala, sustentando suas exalações para a
vocalização.
Tanto falar como cantar requer um fluxo de ar expiratório capaz
de ativar a
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vibração das pregas vocais. Quando estão "treinando" sua voz, os
locutores
ou cantores, frequentemente, focalizam no desenvolvimento do
controle
consciente do mecanismo de respiração. Este controle
consciente, no
entanto, deve sempre ser consistente com as exigências
fisiológicas de ar do
indivíduo. Quando um problema ocorre com a respiração, é,
muitas vezes, o
conflito entre as necessidades fisiológicas e as exigências da
fala/canto pelo
ar que causa o uso incorreto do mecanismo vocal. Nossa
dependência da
renovação constante do suprimento de oxigênio impõe certas
limitações
sobre quantas palavras podemos dizer, quantas frases podemos
cantar ou
quanta ênfase podemos usar em uma expiração.
Ainda segundo Boone e McFarlane, 1994; Pinho, 1998; Ferreira e
Pontes, 1995; Quinteiro, 1989; Baxter, 1990; Crary e Col., 1996;
Casanova,
1992; Sataloff, 1997, o ar inspirado entra pelas narinas e passa
pelas
cavidades nasais para a nasofaringe através do pórtico
velofaringiano aberto
para a orofaringe. Para quem respira pela boca, o ar entra através
da
abertura bucal e passa pela cavidade oral, pela superfície da
língua até a
orofaringe. O ar, então, flui pela hipofaringe. Da hipofaringe, a
inspiração flui
para a laringe (figura 1), passa entre as pregas vocais
ventriculares ou falsas
pregas vocais e passa entre as verdadeiras pregas vocais para
baixo, para a
traquéia. Na extremidade inferior da traquéia, a via aérea se
divide nos dois
tubos bronquiais e bifurcação traqueal. Os tubos bronquiais
ramificam-se
adicionalmente em divisões conhecidas como bronquíolos e eles ,
por fim,
terminam nos pulmões em pequenos sacos de ar conhecidos
como sacos
alveolares.
As costelas conectadas às doze vértebras torácicas e seus
músculos associados desempenham um importante papel na
respiração. O
tórax pode movimentar-se de vários modos. Por exemplo, a
parede da caixa
torácica se expande para a inspiração do ar e cai para a
expiração. Às
vezes, os músculos acessórios no pescoço auxiliam na inspiração
profunda,
quando contraem, pois elevam os ombros e aumentam a
dimensão vertical
do tórax. Na base do tórax encontra-se o importante diafragma,
um
composto de músculos, tendão e membrana que separa a
cavidade torácica
Figura 1- O Trato Respiratório
Observe o nível de repouso do
diafragma delineado no contorno do
diafragma.
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da cavidade abdominal. Quando o diafragma contrai, ele desce e
aumenta a
dimensão vertical do tórax. Quando o diafragma relaxa ele
ascende de volta
à sua posição mais elevada. O diafragma tem contato direto com
os pulmões
e apenas o espaço pleural surge entre os pulmões e o diafragma.
O
diafragma relaxado fica elevado no tórax dentro da caixa torácica
eo
estômago e o fígado situam-se diretamente abaixo dele. Quando
o diafragma
contrai e desce empurra a partir de cima sobre os conteúdos do
abdômen,
muitas vezes deslocando a parede abdominal e empurrando-a
para fora na
inspiração. A parede abdominal é composta fundamentalmente
pelos
músculos abdominais que, às vezes desempenham um papel
ativo na
expiração. Isso é especialmente verdadeiro no canto, na fala em
voz alta, no
riso (daí o termo "riso de barriga"), ou ao produzir-se uma frase
muito longa.
O trato respiratório funciona de modo bastante semelhante a um
fole. Quando movimentamos as alças do fole separando-as, o
mesmo tornase
maior; o ar dentro dele torna-se menos denso do que o ar fora
dele. O ar
de fora entra rapidamente devido à pressão mais baixa do ar
menos denso
no fole e à maior pressão do ar mais denso do lado de fora. A
inspiração de
ar para dentro do fole é obtida por um aumento ativo do corpo do
fole. De
modo semelhante, na respiração humana a inspiração do ar é
efetuada pelo
movimento ativo dos músculos que aumentam a cavidade
torácica. Quando
o tórax aumenta, os pulmões dentro do tórax aumentam. O ar
dentro dos
pulmões torna-se menos denso do que o ar atmosférico e a
inspiração do ar
inicia. O ar é expirado do fole pela aproximação das alças,
diminuindo o
tamanho da cavidade do fole, desse modo comprimindo o ar e
forçando-o a
sair rapidamente. Na respiração humana, no entanto, grande
parte da
expiração é efetuada através do colapso passivo do tamanho
torácico e não
através de contração muscular ativa. Grande parte da expiração é
passiva. A
respiração humana apresenta dois tipos de força que estão
sempre
presentes: força passiva (como os pulmões elásticos) e força
volitiva, ativa
(como a contração dos músculos da inspiração). A membrana
pleural que
cobre os pulmões pende, quase adesivamente, sobre a parede
interna do
tórax. Quando o tórax se expande por contração muscular, os
pulmões
dentro dele se expandem. A força elástica inerente dos pulmões
está sempre
lá. Seu recuo elástico será tão rápido quanto o colapso torácico
permitir. De
fato, na expiração em repouso (por exemplo, a expiração durante
a
respiração tranquila do sono), a fase expiratória da respiração é
totalmente
efetuada pela elasticidade das forças inerentes ou passivas.
Grande parte da pressão de ar ou "força" necessária para a fala
normal pode ser fornecida pelos fatores passivos da respiração
(expiração
passiva). Isso é desejável porque nenhuma ação muscular é
necessária para
fornecer este poder de respiração e, assim, não há qualquer
tendência a
"exagerar" o esforço (hiperatividade). Quando uma frase longa ou
outra
técnica de fala (como aumentar a intensidade ou cantar) requer
mais esforço
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ou "força de respiração", nós compensamos a diferença entre a
força suprida
por fatores passivos e a quantidade necessária de força
respiratória,
utilizando a musculatura abdominal.
Quando precisamos de maior força para falar mais intensamente,
para enfatizar palavras ou para ampliar uma frase ao falar ou
cantar,
devemos usar os músculos maiores do abdômen e "abrir a
torneira",
controlando a fonte de ar. Desse modo, a pressão na válvula (a
laringe) não
é excessiva e a qualidade é melhor, não estando o delicado
tecido laríngeo
sujeito ao estresse e à tensão que produzem edema laríngeo e
laringite.
Agora, precisamos considerar os músculos da respiração que
contribuem com força volitiva ativa na inspiração. O músculo
fundamental da
inspiração é o diafragma, conforme já observamos. Talvez os
intercostais
externos desempenhem o papel seguinte mais importante na
inspiração;
devido a sua angulação oblíqua, quando eles contraem, levantam
as
costelas inferiores, aumentando a caixa torácica em um plano
algo
horizontal. Uma leve elevação do tórax superior é obtida com a
contração do
peitoral maior e menor, dos elevadores costais, do serrátil
posterior e dos
músculos acessórios do pescoço (principalmente o
esternocleidomastóideo).
A elasticidade inerente primária e o recuo das estruturas torácicas
entram em
jogo, quando os músculos ativos da inspiração cessam de contrair
e relaxam,
porém, alguns músculos da expiração podem auxiliar na
expiração. Estes
músculos da expiração podem contrair em algumas condições de
fala, canto
e expiração forçada como as que usamos para tocar instrumentos
de sopro.
Os músculos principais da expiração são os quatro músculos
abdominais: o
oblíquo interno, o oblíquo externo, o transversal e o reto do
abdômen.
Alguma diminuição torácica pode também ser obtida através da
contração
ativa dos intercostais internos (eles inclinam para cima na direção
oposta dos
intercostais externos) e o serrátil posterior inferior.
Na respiração passiva, o tipo de respiração que fazemos quando
dormimos, a contração ativa dos músculos inspiratórios produz a
inspiração
e a fase de expiração do ciclo respiratório é totalmente
relacionada a
propriedades passivas (não-musculares) de colapso do tórax.
Estes fatores
passivos podem incluir elasticidade pulmonar, não-torção da
costela, recuo
visceral e a gravidade empurrando as costelas para baixo, para
uma posição
de repouso. Quando acrescentamos a função dos músculos
expiratórios à
expiração passiva, alteramos a duração e a força da expiração.
Para Pinho, 1996, " o adequado controle respiratório é essencial
para o bom rendimento vocal". Sabemos que a fala humana é
uma função
adaptativa, sendo necessário que as estruturas envolvidas na
fonação
estejam trabalhando em perfeita sincronia e de maneira
equilibrada.
Nós nascemos com a habilidade de respirar de maneira saudável.
Se prestarmos atenção à respiração silenciosa de um bebê,
notaremos que
seu abdômen se expande enquanto ele inala. Por outro lado,
quando ele
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chora esta musculatura se contrai em sincronia com seus gritos.
Situação
semelhante ocorre quando estamos dando gargalhadas.
Infelizmente, na idade adulta, com o estresse do cotidiano, perde-
se
o hábito natural de respirar sem esforço, ocorrendo uma inversão
dos
movimentos com contração da musculatura abdominal durante a
inspiração
e a elevação dos ombros com grande tensão cervical. Este
procedimento
dificulta a soltura progressiva do ar. A utilização do padrão costal-
superior
durante a fonação tende a gerar uma excessiva adução glótica na
tentativa
de manter o ar dentro dos pulmões o máximo de tempo possível,
a fim de
cumprir com as necessidades fonatórias.
Direcionando o pensamento para o canto, Pela, Rehder e Behlau,
1998, relatam que cantar, individualmente ou em grupo, é uma
das mais
belas formas que o ser humano tem para expressar sentimentos,
desejos,
manifestações da alma e do espírito. Fisiologicamente, cantar é
produzir uma
emissão de uma série modulada de sons, com os órgãos da voz.
Porém, a
dimensão desse gesto vocal supera qualquer explicação de
natureza
fisiológica.
A prática do canto existe desde os primórdios da civilização, sua
evolução acompanha e retrata a história política, social e cultural
do mundo.
Os homens primitivos já cantavam em grupo, cantavam para
cultuar, saudar,
agradecer, exprimir seu pesar, avisar os outros do perigo e para
acalmar os
poderes superiores. Para isso, recorriam a todas as
possibilidades de
tessitura, quer seja em variação de frequência ou intensidade,
quer seja na
manipulação de diferentes qualidades vocais, imitando vozes de
animais e
sons da natureza. A música desta época era transmitida
oralmente e, desse
modo, o canto era mantido vivo por gerações.
Segundo Quinteiro, 1989, no Brasil, as técnicas respiratórias mais
usadas estimulam o uso da barriga, ou melhor, treina-se o aluno
para que
projete o ventre para a frente, como melhor técnica de respiração
e apoio.
A procedência de tal prática é muito antiga no Brasil. Vamos
encontrar uma das ligações com essa prática na história do canto
e da
grande influência que o bel canto exerceu em nosso país. As
práticas da
escola italiana de canto foram muito apreciadas entre nós,
encontrando
múltiplos seguidores, que se mantêm ativos até os dias atuais.
Depois do bel
canto, outras escolas ocorreram, mas sem grandes
representantes.
Percebemos hoje, dentro do canto, a busca das práticas alemãs,
em que o ventre é usado como apoio, para dentro (barriguinha de
praia) mas
não como fole. Percebemos com alegria que o intercâmbio entre
alemães e
brasileiros, na atividade do canto, cresce a cada dia. Através
desse
intercâmbio, o uso do ventre como auxiliar respiratório assume
função um
pouco diferente. O ventre fica empurrado para dentro, auxiliado
por leve
contração da massa glútea, criando-se um aumento da pressão
interna entre
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o diafragma torácico e o diafragma pélvico, o que funciona muito
bem como
apoio para o canto e para a fala cênica.
Por outro lado, para Behlau e Rehder, 1997, existe muita
discussão
sobre qual seria a melhor respiração para o canto, sendo este um
tema de
acirradas controvérsias entre regentes, professores de técnica
vocal e
pesquisadores na área. Antes, dava-se muito mais importância a
este
aspecto, sendo que hoje até mesmo existem escolas de canto
que
praticamente negligenciam a prática respiratória.
De modo bastante simplificado, existem duas opções respiratórias
para o canto e uma série numerosa de posições intermediárias. A
primeira
opção é a de se manter o abdome expandido durante a emissão -
o que é
chamado popularmente de "cantar com a barriga para fora", e a
segunda
preconiza que se mantenha o abdome encolhido durante a
emissão - o que
é chamado de "cantar com a barriga para dentro". Ambas as
escolas geram
bons e maus cantores, mas as pessoas tendem a se sentir mais
confortáveis
cantando com o tórax e o abdome expandidos, embora isto não
seja uma
regra definitiva.
Um outro detalhe é que muitas vezes o aluno de canto é instruído
a
não mover os ombros enquanto respira. O ato de erguer os
ombros durante
a inspiração serve para liberar parcialmente os pulmões do rígido
limite da
caixa torácica, auxiliando uma rápida entrada de ar. Isso pode ser
observado
quando precisamos gritar. No canto, esta manobra pode tornar-se
necessária, sem que isso indique um problema de técnica vocal,
em
situações de exigência de grande fluxo de ar, como por exemplo
nas frases
musicais em fortíssimo.
Para Hamam e Col., 1996, o profissional do canto exige mais do
seu parelho fonador do que um não-cantor, na medida em que
necessita de
um controle maior da altura, intensidade, extensão vocal,
qualidade da voz,
respiração e articulação, entre outros.
Das diversas formas de canto, distingue-se basicamente o canto
lírico e o canto popular. O canto lírico é baseado no estudo vocal
obedecendo regras definidas de sonoridade, em geral, para ser
utilizado em
óperas ou para interpretar músicas clássicas. Há uma
preocupação em se
trabalhar o aparelho fonador para que a emissão se produza
segundo
padrões definidos. O canto popular é o canto expontâneo, sem
regras
precisas de sonoridade, que expressa a cultura de um povo.
No canto lírico utiliza-se a laringe como instrumento musical, onde
a
articulação da palavra tem pouca importância. Geralmente não se
utiliza
amplificação sonora eletrônica e os cantores possuem técnicas
especiais
para a produção e projeção da voz. Este fato reforça a
necessidade de
formação musical específica.
No canto popular, as palavras e a articulação assumem maior
importância e a voz é, em geral, amplificada por equipamentos
eletrônicos,
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 23
os quais podem proporcionar recursos adicionais como eco,
controle de
graves e agudos, entre outros.
Os cantores populares, utilizando-se destes recursos, não
necessitam desenvolver técnicas específicas de produção e
projeção de voz.
No canto lírico, os cantores precisam ser classificados de acordo
com o tipo, "naipe" de vozes que possuem.
Para Campiotto, 1997, a classificação vocal mais comum divide
as
vozes masculinas e femininas em três grupos cada, sendo as
vozes graves
os baixos e contraltos, as médias os barítonos e mezzosopranos
e as vozes
agudas os tenores e sopranos, respectivamente.
Várias são as maneiras de se classificar uma voz e,
paradoxalmente, as que são consideradas mais prudentes não
levam em
conta apenas a extensão/tessitura vocal - que é o modo mais
comum de
realizá-las. Ouras maneiras consideram também a extensão, a
qualidade e a
potência, além do volume dos ressoadores, notas de passagens
(acomodação dos ressoadores, corte entre dois registros),
tamanho das
pregas vocais, estatura, constituição física, altura da voz falada,
características temperamentais, endócrinas e sexuais. Podemos
concluir,
portanto, que a tarefa de classificar uma voz não deve ser
apressada,
devendo ocorrer após pelos menos alguns meses (muitos
profissionais
mencionam o tempo mínimo de um ano) de acompanhamento por
um
regente ou técnico vocal. Sem dúvida, a extensão (que vai da
nota mais
grave à mais aguda que uma pessoa é capaz de produzir,
independentemente da qualidade da emissão) e a tessitura (faixa
de notas
emitidas com qualidade, cor e volume uniformes) são o parâmetro
básico
durante a classificação de uma voz e é importante que saibamos
que elas
variam com o crescimento (aumentam) e durante a velhice
(diminuem), além
do que devem ser consideradas variações individuais como
treino, modo de
fonação e estrutura anatômica.
Contudo, independentemente do estilo preferido de canto, lírico
ou
popular, ou da classificação vocal, segundo Boone e
McFarlane,1994, o tipo
de respiração que o paciente usa pode ser, muitas vezes,
acuradamente
determinado por cuidadosa observação visual clínica. O tipo mais
ineficaz de
respiração, o clavicular, parece ser o mais fácil de identificar. O
paciente
eleva os ombros na inspiração, utilizando os músculos acessórios
do
pescoço como os principais músculos da inspiração. Esta
respiração torácica
superior, caracterizada pela elevação perceptível das clavículas, é
insatisfatória para uma boa voz por duas razões: primeiramente,
as
extremidades apicais, superiores dos pulmões, quando
expandidas, não
provêem sozinhas uma respiração adequada; e em segundo, o
esforço para
usar os músculos acessórios do pescoço para a respiração é,
muitas vezes,
visualmente aparente, com músculos "sobressaindo-se"
individualmente ( em
particular os esternocleidomastóideos, quando se contraem para
elevar o
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 24
tórax superior). Embora pouca evidência de pesquisa identifique
claramente
os efeitos negativos da respiração clavicular sobre a fala, nenhum
cantor
sério perderia tempo desenvolvendo este raso reservatório de ar
na parte
superior dos pulmões. A tensão muscular excessiva criada exerce
um efeito
sobre a qualidade de voz. A respiração do tipo clavicular requer
demasiado
esforço para pouca respiração e contribui para uma tensão
muscular
excessiva.
A respiração diafragmática-abdominal pode, certamente, ser o
método preferido de respiração, especialmente se o paciente tem
exigências
vocais intensas como no canto, na representação dramática ou na
fala sem
amplificação eletrônica, como em um palco de ópera. Este uso da
respiração
torácica baixa comumente pode ser identificado pela presença de
expansão
abdominal e torácica baixa, na inspiração e uma gradual
diminuição na
proeminência abdominal/torácica baixa, na expiração. Quando
solicitado a
tomar uma respiração profunda, tal paciente demonstrará, ao
inspirar,
expansão relativamente ativa do baixo tórax e pouco movimento
perceptível
do tórax superior.
A respiração é tão importante que pode até mesmo afetar a
estabilidade e a postura da coluna vertebral, se não realizada
corretamente.
É sabido que a maioria dos músculos do sistema respiratório está
ligada às
vértebras cervicais e lombares. Por isso é que a postura do corpo
está ligada
à respiração. A posição da coluna é que vai determinar a
velocidade e a
qualidade da respiração (Beuttenmuller e Laport, 1989).
Boone e McFarlane, 1994, continuam esclarecendo que ao
trabalhar com um cantor, ator ou palestrante que precise de
algum
treinamento formal da respiração, você poderia tomar as
seguintes medidas:
_Discuta a importância de uma boa postura, porque a postura
normal é um dos melhores facilitadores da respiração normal.
Qualquer afastamento real de uma boa postura, como inclinar-se
para frente com a cabeça (cifose), pode contribuir para a
respiração deficiente;
_Demonstre respiração abdominal-diafragmática. Primeiramente,
faça o sujeito deitar supino com suas mãos sobre o abdômen,
diretamente sob a caixa torácica. Nesta posição, a distensão do
abdômen na inspiração será observável. A excursão para baixo
do diafragma que aumenta a dimensão vertical do tórax, não
pode ser vista diretamente (porque os ligamentos do diafragma
estão atrás e dentro das costelas); seu efeito pode ser visto,
apenas, pelo deslocamento para fora do abdômen. Na expiração,
enquanto o diafragma ascende, a distensão abdominal diminui.
Nesta forma de respiração, então, o paciente deve
deliberadamente tentar relaxar os músculos abdominais durante
a inspiração e contraí-los durante a expiração. Se isso puder ser
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 25
feito com sucesso na posição supina, o paciente deve tentar
duplicar o procedimento enquanto permanece com as costas
encostadas contra uma parede. Continuar a enganchar suas
mãos sobre o abdômen ajudará o paciente a desenvolver alguma
percepção inicial da diferença entre relaxamento
abdominaldistensão
e contração-achatamento. Tão logo o sujeito aprenda
a respirar por este relaxamento-contração dos músculos
abdominais, introduza algumas atividades de vocalização para
serem feitas na expiração. O paciente vocal que esteve falando
"no nível da sua garganta", sem apoio respiratório adequado,
muitas vezes, "sentirá" a diferença que uma respiração maior faz
apenas quando a vocalização é acrescentada.
Para Pinho, 1998, vale, mais uma vez, ressaltar que a respiração
bucal causa ressecamento de todo o trato vocal, prejudicando a
vibração das
pregas vocais. Na presença de rinite alérgica não intensa, a
terapia
respiratória pode auxiliar. O desuso do nariz como via de acesso
do ar
respiratório pode ser a causa da atrofia da mucosa nasal.
Podemos acrescentar neste estudo sobre cantores o grande
conhecimento de Quinteiro, 1989, pesquisadora de atores de
teatro e fazer
uma analogia aos cantores, onde ela ressalta que uma das
preocupações
mais frequentes no trabalho vocal do ator é o fato de a voz ir para
a
garganta, que é uma região de vibração. Mais especificamente,
falamos das
pregas vocais, que vibram para produzir o som e que não devem,
portanto,
receber qualquer tensão. No entanto, faz-se necessário um ponto
de apoio
para que se possa lançar o som vocal à distância que se deseja.
Via de
regra, os atores fazem da garganta esse ponto de apoio. Essa
incoerência
faz com que os atores passem a exibir gargantas estufadas e de
veias
saltadas.
Nossa proposta de apoio é a pressão que pode ser deflagrada
entre os dois diafragmas: o diafragma torácico e o diafragma
pélvico.
O ator deve promover uma leve pressão abdominal (baixo
ventre), mais ou menos a uns quatro dedos abaixo do umbigo,
seguindo-se
de uma leve contração glútea. A situação pode ser comparada ao
que nós
chamamos de barriguinha de praia: um leve recolhimento da
barriga, sem
envolver a região estomacal, seguido de sutil contração glútea
(figura 2).
Este exercício deve ser incorporado ao dia-a-dia do ator,
tornando-se um
hábito natural e constante na sua vida.
É para esta região pélvica que o ator deve encaminhar sua
atenção quando desejar uma projeção mais resistente. O cinturão
pélvico,
como costumamos chamar a esta disposição corporal, é
indispensável para
a fala cênica. Quando o ator dirigir a sua fala para o grito ou para
o sussurro,
recomenda-se um cingimento máximo do cinturão pélvico. Nessa
situação,
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 26
por pressão negativa, existe grande quantidade de ar retirada
pelos pulmões.
É muito comum que os atores levantem os ombros antes do grito
e esta
atitude fatalmente soltará o cinturão pélvico, deixando obviamente
o grito
sem o apoio pélvico e caindo na garganta; logo, recomenda-se
muito
cuidado, observação e muito treino.
Se o apoio está a cargo do cinturão pélvico, as costelas são
responsáveis pela pressão de sucção e de expulsão da coluna
aérea. O
vento, ao passar pelas pregas vocais faz com estas vibrem,
produzindo o
tom fundamental ou som inicial, que será amplificado e modelado
na
sequência de percurso de expulsão. Na amplificação sonora, os
seios
paranasais e o osso esterno têm grande participação. A
modelagem ocorre
por conta dos lábios, da língua, do véu palatino e demais
componentes buconasais.
Pinho, 1996, concorda que o melhor padrão respiratório para voz
falada e voz cantada é mesmo o costo-diafragmático-abdominal e
explica
que para que haja o aumento da intensidade vocal com menor
esforço
glótico é necessário que haja um aumento da pressão subglótica.
Em
situação de fala usual em forte intensidade, os músculos
inspiratórios
(intercostais externos e diafragma) relaxam, ao mesmo tempo que
os
músculos intercostais internos e a musculatura da cinta abdominal
entram
em atividade. Sendo assim haverá um aumento do fluxo de ar
expiratório,
gerando um aumento da pressão subglótica, aliada à adução
glótica.
1. Barriga para dentro (quatro dedos abaixo
do umbigo ou, se preferir, logo acima do
osso púbico).
2. Movimento da massa glútea fechando as
nádegas.
3. Os joelhos devem permanecer “bobos”.
4. Ao andar, contrair as nádegas
alternadamente.
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 27
Dependendo da demanda fonatória será solicitada maior ou
menor atividade
da musculatura envolvida.
Durante as situações de canto lírico (fortíssimos e agudíssimos) e
locução teatral em fortes intensidades, existe um mecanismo
distinto. Deve
haver uma sustentação da abertura das costelas, por manutenção
da
contração dos intercostais externos e uma contração sincrônica
da
musculatura da cinta abdominal. Este procedimento permite
melhores
condições de apoio vocal, já que vários pulsos de ar poderão ser
eliminados
com pressão elevada dentro de um mesmo período expiratório.
Ainda nesta
modalidade, a emissão vocal em pianíssimos será altamente
beneficiada
com o controle da saída do ar com manutenção da sustentação
intercostal,
favorecendo exalação mais prolongada.
O estudo do funcionamento do sistema respiratório nas diversas
situações de fala e canto torna bastante claro que a melhora da
função vocal
pode ser obtida ou pelo menos auxiliada pela mudança dos
hábitos
respiratórios.
O primeiro passo para a introdução do padrão costo-
diafragmáticoabdominal
é a respiração invertendo-se a ordem dos fatos, isto é, deve-se
solicitar ao paciente que realize primeiro a expiração forçando a
contração da
musculatura abdominal, empurrando o conteúdo visceral para
dentro. O
terapeuta deve induzir os movimentos mencionados apertando
com as mãos
a região da cintura do paciente, incluindo as costelas, auxiliando
na expulsão
do ar, que deve ser expelido até o final do ar de reserva. Ao
mesmo tempo,
deve-se pedir ao paciente (caso ele esteja em pé) que incline
levemente seu
corpo para frente, de tal maneira que quando inalar novamente,
bloqueie a
elevação dos ombros. Imediatamente, solicita-se a inalação
tentando manter
postura corporal levemente inclinada e forçando a abertura lateral
das
costelas e a expansão abdominal. Após a realização deste
procedimento,
repetidamente, tentar inspirar normalmente mantendo o padrão
ensinado.
Outro procedimento que pode também auxiliar na introdução
deste
padrão respiratório, seria, em posição sentada, com os cotovelos
apoiados
sobre as costas e o queixo sobre as mãos, pedir ao paciente que
inspire
profundamente várias vezes, sentindo a abertura posterior das
costelas e a
expansão abdominal. Esta postura além de permitir a percepção
da abertura
das costelas e a expansão abdominal, ainda impede a elevação
dos ombros,
tão inadequada às situações de fonação.
Outra forma, ainda, é utilizar o Método da Acentuação descrito
por
Kotby, 1995, o qual mescla o apoio da cinta abdominal a
contrações rítmicas.
Para tanto, é ensinado ao paciente a utilizar o padrão respiratório
costodiafragmático-
abdominal, com o controle sobre o diafragma, músculos
intercostais e a cinta abdominal.
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 28
O JOVEM PROFISSIONAL DA VOZ
Segundo Wilson, 1993, o jovem profissional da voz deve atingir
certos padrões em parâmetros vocais antes de ingressar
profissionalmente
na carreira:
A frequência fundamental da fala segundo a idade que varia de
_

1-2 anos a 18 anos se desenvolve de 445Hz a 125Hz para


homens e de 445Hz a 205Hz para mulheres;
A vibração das pregas vocais verdadeiras deve ser regularmente
_

periódica e eficiente na utilização do ar, sem ruído ou fricção


aperiódicas audíveis. As falsas pregas vocais ou bandas
ventriculares não devem vibrar;
A quantidade de frequência jitter e amplitude shimmer devem ter
_

uma variação limitada, e não devem apresentar desvios


perceptíveis;
O comprimento do trato vocal deve estar adequado e não deve
_

estar comprimido ou estirado por lábios projetados demais ou


pela mudança da laringe para uma posição muito alta ou muito
baixa;
_O diâmetro transversal do trato vocal deve estar íntegro e deve
permanecer livre de locais de constrições realizadas por lábios,
língua, mandíbula, pilares das fauces ou faringe;
_Para uma ressonância oral aceitável as frequências dos
formantes que compõem as vogais e consoantes ressonantes
devem ter uma distribuição e uma concentração apropriadas de
energia acústica;
_A tensão muscular em todas as partes do aparelho vocal não
deve ser excessivamente alta ou excessivamente baixa,
assegurando o equilíbrio apropriado do tono muscular;
_As articulações orais frontais devem ser bem projetadas para a
frente;
_A competência velofaríngea deve estar intacta, permitindo a
ressonância nasal audível somente quando linguisticamente
necessária.
Os especialistas não estão completamente de acordo sobre a
idade
em que o treinamento da voz deveria ser iniciado. O empenho
vocal sério
pode começar na infância e continuar por toda a vida de uma
pessoa. O
momento ideal para começar o treinamento da voz é controverso,
e por
muitos anos achou-se que o treinamento da voz e o canto
tomados
seriamente não deveriam ser iniciados até próximo à puberdade
para a
mulher e após a puberdade e estabilização da voz no homem.
Contudo, em
uma criança com aspirações vocais e potencial verdadeiro, o
treinamento
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 29
especializado pode começar precocemente na infância. Os
objetivos
principais de tal instrução precoce são ensinar a criança a usar a
voz sem
esforço e impedir todas as formas de abuso vocal.
O exame da voz cantada foi descrito por Sataloff (1983 apud
Wilson). Em primeiro lugar, checa-se a postura de canto da
pessoa. Ela
deveria estar equilibrada com o peso ligeiramente para a frente.
Os joelhos
estariam ligeiramente dobrados e os ombros, tronco e pescoço
estariam
relaxados. No movimento respiratório silencioso a pessoa deveria
inspirar
pelo nariz, permitindo a filtragem, aquecimento e umidificação do
ar
inspirado.
Além disso, o peito estaria expandido, porém não
substancialmente
erguido e a musculatura supraclavicular não estaria, obviamente,
envolvida
na inspiração. Sataloff estabeleceu que o movimento respiratório
mais ativo é
o abdominal e, por conseguinte, antes do início de uma emissão,
o suporte
abdominal deveria estar firme ou flexionado, o que poderia ser
checado
visualmente ou por apalpação. Os músculos do pescoço e da face
devem
estar relaxados e não haveria qualquer energia, movimento ou
tensão
muscular supérfluas. Sataloff ainda ressalta que os erros técnicos
mais
comuns cometidos pelos cantores envolve a tensão muscular
excessiva na
língua, pescoço, laringe e apoio abdominal inadequado.
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 30
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi identificar, na literatura, as diversas
técnicas de respiração para o canto, por meio de levantamento
bibliográfico
nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.
Dentre os autores pesquisados pudemos verificar a existência de
dois padrões básicos de respiração: o clavicular ou superior e o
costodiafragmático-
abdominal ou inferior.
Todos os autores, sem exceção, recomendaram como padrão
adequando o costo-diafragmático-abdominal. Ferreira e Pontes,
1995,
completam que este padrão é ideal não só porque determina um
ato de
fonação mais adequado, mas também por proporcionar uma
melhor
ventilação pulmonar.
Pinho, 1996, reforça que a respiração costal superior gera tensão
em toda a região cervical, inadequada para bom desempenho
vocal.
MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 31
RESUMO
Devido à grande divergência entre pesquisadores, professores de
canto e fonoaudiólogos acerca da técnica de apoio respiratório
que propiciem
um melhor resultado para os cantores, faz-se necessário
investigar na
literatura existente nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.
Sabemos que a respiração é o alicerce da boa voz tanto para
situações de fala quanto de canto e também que as diferentes
formas de
canto requerem diferentes demandas vocais e diferentes padrões
de apoio
respiratório com controle específico de fluxo aéreo.
Diversos autores foram consultados e pesquisados, chegando à
conclusão que o melhor e mais eficiente padrão de apoio
respiratório para
situações de fala e canto é o padrão costo-diafragmático-
abdominal, por
propiciar um aumento da pressão sub-glótica ocasionado pela
contração da
cinta abdominal, músculos intercostais externos e diafragma, sem
sobrecarregar a laringe, o que seria um apoio insatisfatório
podendo causar
grandes distúrbios vocais tanto em falantes quanto em cantores.

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