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A experiência de um sujeito que Dança: sua fala e seu movimento

Rogério Gonçalves Lopes

A Dança em relação com o tempo do mundo pensa com o outro para este
que usa de suas praticas onde a atmosfera dançante se influencia por outros
modos e se lança para fora de si mesma. Pensando no espaço social,
geográfico, cênico, histórico e cultural que constrói o corpo, ou melhor, a
corporeidade. E André Lepecki inicia O corpo colonizado já com este
pensamento:

“Desde o inicio dos anos de 1960, alguma dança


contemporânea se pensa não somente como
organização no tempo-espaço do palco, mas – e
principalmente – como dança-que-se-pensa”.

As praticas se projetam por este pensar para estar presente, em relação, se


inteirar do outro, “mas não se preservam como tal ao entrarem em relação;
se corrompem mutualmente, se deformam por contagio” (EUGENIO, 2008,
pg.21). Se com-fiam em contato formando a prática da Dança ou o “campo
da dança” como bem coloca Fernanda Eugenio (2008).
Os treinamentos que buscam um lugar de pre-parar o corpo a partir de
estruturas de comando que se configuram nas funções do mestre, do
coreógrafo, do espelho, do estúdio, do palco italiano, do corpo anoréxico, do
corpo-imagem ou corpo-robô (LEPECKI, 2003, pg.2). Esta não relação se
rompe a partir do momento que negamos e nos colocamos em outra posição
a esta estrutura. E o único limite e comum a todos da Dança é agora o chão.
Não agora como só agora está acontecendo, mas é agora o chão um limiar
de passagem e lugar de abandono. A Dança contemporânea como tempo-
espaço presente na corporeidade sabe pensar corpo como uma paragem. É
este o lugar da paragem necessária para pensar o outro e que mergulharei
num fundo de desconhecimento da Dança escrita sempre em maiúscula
referindo a este campo de pratica da Dança contemporânea ou deste Dançar
verbo de ação que a corporeidade carrega na sua experiência.
A prática da Dança que cria ou possibilita um espaço de paragem. A
paragem é já o Dançar que não tem pré-parações para o outro começar a se
relacionar com outros, a experiência se dá no contato em movimento. A
experiência da Dança tem que ser um ato de parar. Buscando o fundo da
palavra ”experiência”. O radical latino “peri”, que esta na palavra
“experiência” esta também no termo “perigo”. Encontro Jorge Larossa
Bondía e em seu texto Notas Sobre a Experiência e o Saber da Experiência
(2002) busca na origem indo-europeia da palavra experiência e fala do
radical “per” que esta relacionada com per-passar, e com a ideia de
“passagem” que ele apresenta.

“A experiência é o que nos passa, o que nos


acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o
que acontece, ou o que toca.” (BONDIA,2002, pg.21)

Arrastando Larossa para a dança, podemos pensar o entrar em contato com


o outro como uma criação desse movimento de paragem/passagem: deixar
ser afetado, tornar um território de passagem do movimento, ser um ponto
de chegada do movimento, ser um espaço ou superfície onde o movimento
que é por si contato e lugar para os acontecimentos que se dá experiência
Dança.
O sujeito da experiência dançante em paragem pesa e pensando interfere no
campo da dança. O ato de parar não é uma ação de congelar ou ficar
passivo é um movimento de “intensidade” ou “tensilidade”. Para bem
explicar este fator peso que institui o movimento em paragem eu relaciono
com as definições que Laurence Louppe bem coloca no capitulo
incrivelmente titulado O Peso do livro Poética da Dança Contemporânea.

“o emissor e receptor do movimento [...] a unidade


aberta que é fundadora de todo ato motor. [...] é
essencialmente ao sentido do tato que apelam as
mutações no tratamento do peso, quer no outro quer
em si mesmo”. (2012, pg.103-104)

A paragem é um território de ação onde o outro em movimento sai de si e


entra em si. Movimento de contato. Um mover não transeunte de um sujeito
passando de um ponto a outro e passando na rua sem ser visto e sem ver. A
paragem é um movimento emergente do contato. É do sujeito que é
afetado, que se excita e entra em paragem. Ele olha para a sua volta e
percebe algo. Alguma coisa o faz entrar neste estado de paragem. Em uma
pratica de Dança este sujeito é um ato: uma pequena ação ou um micro
movimento. A imagem deste movimento de paragem lembra uma cidade
com muitos carros, transeuntes em um grande centro urbano: ruídos de
imagens borradas que correm aos seus olhos de paragem. Este se move ao
contrario ou os outros que são os diferentes passam por ele. Ele os percebe
neste movimento atrófico. E esta caracterização do movimento é uma
ligação que faço com que Laurence Louppe escreve de atrofia:

“Uma atrofia comparável pode empobrecer nossa


relação com o espaço, o tempo, o peso do corpo e as
variações da intensidade energética. É neste ponto
que residem a diminuição da sensibilidade cenestésica
e a espécie de surdez corporal que torna as pessoas
impermeáveis a musica e á estética espacial,
redundando numa insensibilidade à dança na sua
interação com a geografia das relações” (2012, pg.
104).

A experiência da paragem faz o sujeito da Dança em algum movimento vê


as coisas que são apresentadas a ele não fazer sentido e não querer mais
fazer sentido. Mas na situação que o sujeito se encontra em paragem algo
se atualiza a partir da sua influencia no campo. Nem tudo em todo tempo é
surdo, alguma possibilidade de movimento diferente do anestésico é possível
para o sujeito moderno amparado em uma identidade individual.

Este compartilhamento de uma experiência em paragem não finaliza aqui.


Estarei escrevendo buscando a fundo experiências que na dança acontece e
que me faz entrar em vertigem.
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Referencias

A Poética da Dança Contemporânea, Laurence Louppe, 2012, 1edição


Portuguesa, Orfeu Negro. TRADUTORA Rute Costa.

Notas Sobre a Experiência e o Saber da Experiência, Jorge Larrosa Bondía,


2002, Revista Brasileira de Educação. TRADUTOR João Wanderley Geraldi.

EUGENIO, Fernanda, Uso tópico: A poética da contaminação e a dança


contemporânea. In: Condança 2008 - Diálogos, Hibridismo, Mestiçagem 9
a 12 de julho de 2008 (Congresso).

LEPECKI, André, O corpo colonizado, in: Revista do CCRJ Nº 2, JUNHO DE


2003.

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