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Antes da chegada da Corte portuguesa, a prática de execução musical era tida com
uma atividade subalterna, ligada aos ofícios manuais, não sendo praticada pela elite.
Com o estímulo de D. João VI, a situação foi se alterando. Mesmo assim, a música
produzida pela classe subalterna era tocada nas casas da elite.
O estímulo à produção musical no período joanino evidencia como pode haver uma
circularidade de experiências culturais entre distintas classes sociais, cada uma se
apropriando a seu modo do que é produzido pela outra.
A Imperial Academia de Música & Ópera Nacional, uma companhia de ópera cujo
objetivo era promover não só os talentos nacionais do canto lírico como também
incentivar uma cena à brasileira. Tudo com o apoio do imperador d. Pedro II.
No pouco tempo em que funcionou, a Imperial Academia fez história. Sob sua égide foi
encenada A Noite de São João, a primeira ópera brasileira, que contava com libreto de
José de Alencar e música de Elias Álvares Lobo. Também foi nas coxias da cia. que
Carlos Gomes atuou como ensaiador de cantores e maestro até ser convidado para
escrever duas obras para o grupo - A Noite do Castelo e Joanna de Flandres, seus
únicos títulos em português. De 1857 a 1864, ano de seu término, a cia. foi palco de
muitas estréias nacionais, sempre com grandes nomes da cena cultural, de Machado de
Assis a Joaquim Manuel de Macedo, Quintino Bocayuva a Manuel Antonio de Almeida. De
lá para cá, nunca houve outra iniciativa que incentivasse da mesma forma uma cena lírica
inteiramente nacional.
A cia. sobreviveu e fez sucesso apresentando-se em cinco teatros (Ginásio, Lírico
Provisório, São Pedro de Alcântara e São Januário, no Centro do Rio, e ainda no
Santa Tereza, em Niterói) e baseando seu repertório até 1860 nestas traduções e em
outras mais, como as de Norma e La Traviata em português.
Esta produção musical tão intensa num curto espaço de tempo não se traduziu exatamente
num estilo de ópera brasileira e sim numa ópera à brasileira: “Quando a Ópera Nacional foi
fundada, tinha como objetivo a criação de uma escola para produzir ópera no Brasil, o
que é bem diferente de uma instituição para produzir ópera brasileira.
Para os brasileiros da classe alta no século19, ter a capacidade de produzir óperas com
cantores, maquinarias, atores, palco, orquestra e compositores locais (não necessariamente
brasileiros) era um privilégio, uma maneira de colocar o Brasil na mesma altura da Europa.
De certa forma, isso pode ser visto como um orgulho nacional, mas não como um
produto musical ‘brasileiro’ como foi definido pelos nacionalistas no século 20.”
A decadência da Imperial Academia começaria com a sua fusão com uma companhia de
ópera italiana, em 1861. Daí para a frente, sem a presença de Amat, a companhia foi
definhando até desaparecer.