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Atividade: fichamento nº 2
Identificação do artigo aqui resumido: José Maurício Nunes Garcia e a Real Capela de D. João
VI no Rio de Janeiro
temático das obras do padre José Maurício Nunes Garcia – trabalho essencial para o
aprofundamento a respeito de sua produção musical –, além de uma biografia do compositor.
Como a vinda da Corte portuguesa para o Brasil influenciou a obra de José Maurício
Filho de Apolinário Nunes Garcia, de raça branca, segundo os registros, e de Victória
Maria da Cruz, descendente de escravizados, José Maurício nasceu em 22 de setembro de 1767,
no Rio de Janeiro. Ele teve em Salvador José de Almeida e Faria – mineiro natural de Vila Rica –
a base de sua formação musical, no entanto, também foi, em muitos aspectos, um autodidata. Aos
12 anos, já lecionava música e, aos 16, compôs sua primeira peça: Tota pulchra es Maria. Em
1792, tornou-se padre e, em 1798, assumiu a posição de mestre-de-capela da Sé do Rio de
Janeiro, ficando responsável, portanto, por preparar o repertório musical das cerimônias
religiosas.
Em 1808, com o deslocamento da família real para o Rio de Janeiro, a cidade sofreu uma
drástica urbanização. D. João, nesse processo, tomou diversas medidas para que a capital se
assemelhasse ao máximo aos padrões europeus. A vinda da imprensa, a abertura dos portos ao
livre comércio e a criação da Biblioteca Real foram peças-chave dessa transformação. Porém, tal
modernização também se deu no âmbito da vida musical, com a construção de um Teatro de
Ópera e, principalmente, de uma Real Capela de Música, profundamente inspirada na Real
Capela Portuguesa – a qual, desde o seu início, manteve-se muito ligada à prática musical e
religiosa italiana.
Inserido nesse contexto, Nunes Garcia foi, também, influenciado por essas mudanças,
mas, de maneira ainda mais profunda, tendo em vista o contato próximo que passou a ter com o
príncipe regente a partir do dia de seu desembarque com a Corte em terras brasileiras. Para
recepcionar os portugueses nessa vinda, diversas festividades foram preparadas na cidade, mas D.
João manifestou um desejo de que se celebrasse um Te Deum na Sé, cujo grupo musical tinha
José Maurício como diretor. Nesse encontro, o príncipe tomou conhecimento das habilidades
composicionais do padre e, no mesmo ano, designou-o para administrar e dirigir as atividades da
Real Capela, na qual atuavam tanto músicos locais, quanto alguns que vieram juntamente à
família real. Além disso, como prova de consideração e admiração ao padre, D. João também lhe
concedeu o Hábito da Ordem de Cristo, em 1809.
Depois da chegada da Corte, a partir de 1809, diversos cantores e instrumentistas
provenientes da Capela Real de Lisboa começaram a se dirigir ao Rio de Janeiro, visando às
novas possibilidades de trabalho. Também passaram a circular na colônia inúmeras novas obras
trazidas de Portugal por D. João, o que expandiu o contato da população com uma gama de outras
referências sonoras e criou um meio musical bastante intenso na cidade. Todas essas
transformações na vida social da população carioca, bem como na vida profissional do próprio
José Maurício, foram responsáveis por reconfigurar sua linguagem musical como compositor.
3
Em 1826, Nunes Garcia compôs seu último e grandioso trabalho, a Missa de Santa
Cecília, a qual foi encomendada pela ordem de mesmo nome. Essa peça é considerada sua obra
prima e pode ser equiparada a diversas outras grandes obras desse período na história da música
ocidental. Apesar de tamanha genialidade, no entanto, o padre faleceu em 1830, em uma situação
de extrema pobreza e miséria, fruto da falta de reconhecimento na época. Ao menos, sua vida e
obra tem despertado cada vez mais o interesse de pesquisadores e músicos, tanto em território
nacional como ao redor do mundo.