Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


DEPARTAMENTO DE MÚSICA

GRAZIELLA ARAUJO DE SOUZA

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA

SÃO PAULO
2019
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA

GRAZIELLA ARAUJO DE SOUZA

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA


HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA I

Trabalho apresentado em História da Música


Brasileira I à Profª Dra. Flávia C. Toni
Departamento de Música da ECA/USP

SÃO PAULO
2019

1
Sumário

Início de uma vida Musical 3


Ofício Religioso - Corte 3
Mudanças 4
Morte 5
Bibliografia 6

2
Início de uma vida Musical

Neto de duas escravas, filho de “pardos forros”, como consta na certidão de casamento de seus pais
Apolinário Nunes Garcia e Vitória Maria da Crus. Assim nasceu em 22 de setembro de 1767, no Rio
de Janeiro, José Maurício Nunes Garcia.
Veio ao mundo na Freguesia da Sé em ambiente simplório, mas os anos seguintes de sua vida foram
convivendo na corte entre os poderosos, fruto de sua missão de enriquecer a cultura musical de sua
gente. 1
Pobre, jovem, mulato, carioca, virtuose e autodidata - como define Manuel de Araújo Porto-Alegre:
“tinha belíssima voz e prodigiosa memória musical”;”reproduzia tudo o que ouvia”; “improvisava
melodias e tocava cravo e viola sem nunca ter aprendido”. Aos doze anos, 1779, já dava aulas
particulares de música.
Em sua juventude entre os professores que contribuíram com sua formação estão Salvador José de
Almeida e Faria, professor das primeiras notas, e também Agostinho Corrêa da Silva Goulão,
professor de filosofia racional e moral, e padre Elias, mestre público de gramática latina.

Sua primeira obra, a antífona ​Tota pulchra es Maria,​ de 1783 é composta oito anos antes de tornar-se
padre, comprovando suas habilidades significativas como músico. Logo em seguida, em 1784 aos 17
anos funda a Irmandade de Santa Cecília que confere categoria e reconhecimento social à numerosa
classe musical da cidade. José Maurício estava consagrado oficialmente como professor de música.

Ofício Religioso - Corte

As décadas de 1780 e 1790 passam a ser decisivas para José Maurício, que não abandona a criação
musical mesmo em meio à preparação para a vida religiosa, decidindo-se ao sacerdócio aos 25 anos
de idade.
Em 2 de Julho de 1798, poucos dias antes da morte do cônego João Lopes Ferreira, José Maurício
assume o posto de mestre de capela da Catedral do Rio de Janeiro. Cargo que já exercia na prática e
para o qual esperava ser nomeado, segundo André Cardoso, pois informações tiradas de suas obras
mostram que a colaboração do compositor com a Catedral era bastante anterior à sua nomeação. 2

Entre as composições de José Maurício em que aparecem a indicação “composta para a Sé do Rio de
Janeiro” de 1797 a 1808, aproximadamente 60 são para a Catedral.
A instrumentação costumeira de suas obras era reforçada para as cerimônias importantes, portanto
contava com: grupo de cordas, vezes sem viola, um ou dois instrumentos de madeira, como flauta e
clarineta, duas trompas e ocasionalmente dois trompetes. Essa era a formação da orquestra que atuava
na Catedral.
A partir de 1810 a orquestra cresce consideravelmente passando a contar também com tímpanos,
trombones e violas, como podemos ver em ​Missa de Santa Cecília ​de 1826.

1
Mattos, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia: biografia / Cleofe Person de Mattos - Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do Livro, 1996. 373, XX,p.:23
2
Cardoso, André. A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro. André Cardoso - Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2005. 202p.

3
Pode-se dizer que boa parte da vida musical do Rio de Janeiro acontecia no interior das Igrejas.
Embora não haja registro do que foi tocado na Missa em Ação de Graças pela chegada da Família
Real ao Brasil, sabe-se que a música executada estava a cargo do Padre José Maurício Nunes Garcia.
O impacto da chegada da Família Real representa-se na relação entre os músicos locais e seus colegas
recém chegados de Portugal, fator determinante na mudança do gosto musical no Brasil durante o
século XIX e no incremento das atividades operísticas uma vez que muitos dos músicos portugueses
tinha formação na Itália.

Mudanças

A chegada da família Real ao Rio de Janeiro em 1808 trouxe para a cidade um desenvolvimento
significativo. Sabe -se que “Após a chegada de D. João VI, a fisionomia da cidade modificava-se. Os
produtos da terra valorizam-se e os lucros do comércio multiplicavam-se” (LIMA, 1941, p. 69). A
cidade passou a se desenvolver e crescer em todos os segmentos: social, cultural, religiosos,
educacional, econômico, político entre outros.3

Em Junho de 1808, para maior comodidade da Família Real, D. João determinou a transferência da Sé
para a ​Igreja dos Carmelitas,​ fato que gerou clima desagradável para alguns. Em documento
encaminhado pelo Padre José Eloy Vieira a D. João revelam-se motivos motivos de ordem econômica
e também a pouca disposição dos religiosos portugueses de se misturarem com seus colegas
brasileiros: 4

(...)He precizo refletir q.S. A. economiza muito pouco na união das duas Igrejas: porq. fica com o
pezo das dispezas da Fabrica a que a Sé não pode suprir, e da sustentação dos Ministros, q. não podem
ser empregados; e a pequena vantagem q. nisso se lucra he contrapezada com o sacrificio da liberdade
da Sua Capella, e com o disgosto de entrar nella algua pessoa com defeito vizivel.5

O preconceito revela-se como elemento fundamental no jogo político. Padre José Maurício Nunes
Garcia, era um dos que tinha “​defeito vizivel​”, junto a outros tantos músicos mulatos e até mesmo
algum membro do Cabido. Segundo Cleofe Person de Mattos não era a primeira vez que José
Maurício se via pressionado pelo problema de cor. Porém, foi vencida, a reação dos monsenhores da
Patriarcal de Lisboa, que tão asperamente haviam manifestado repulsa à presença de José Maurício na
recém-criada Capela. A vontade de D. João soube evitar a injustiça que se pretendia praticar com o
repúdio ao mestre de capela com superior formação e musicalidade indiscutível.
Segundo Vasco Mariz,
Além de suas funções de mestre de
capela, José Maurício desempenhou
papel importante de professor [...], as
aulas eram dadas em uma casa na rua

3
Castro, Urubatan Ferreira de. José Maurício Nunes Garcia: O Mestre Pianofortista da Corte de D.
João VI. Universidade do Estado do Pará (UEPA), 2010
4
Cardoso, André. A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro. André Cardoso - Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2005. 202p.
5
Arquivo Nacional - Casa Real e Imperial - Capela Imperial - cx.12 pac.3 fls Ia5 s/d (1808)

4
das marrecas [...], Francis Manuel
foi seu discípulo e o mestre nem sequer
possuía um cravo ou piano, sendo
a viola de arame o instrumento de ensino
básico.6

O que não imaginava o Padre José Maurício era que ao mesmo tempo em que alcançava grandes
satisfações musicais ao assumir a Capela Real, essa função seria pontilhada por desconsiderações à
sua pessoa, desde agravos de natureza econômica até a rotina racista em que era inserido.

Na Capela Real Padre José Maurício atuou como mestre de capela absoluto durante três anos,
compondo diversas obras entre as quais se destacam ​Missas de São Pedro de Alcântara, de 1808 e
1809, Missa de Nossa Senhora da Conceição, de 1810​, entre outras. Entretanto, em 1811 chega ao
Rio de Janeiro o então principal compositor português, Marcos Portugal.
Entre os relatos coletados pelos biógrafos de José Maurício, um assunto constantemente abordado é o
relacionamento com compositor com Marcos Portugal, seu principal rival.
A documentação administrativa da Capela Real reúne poucos vestígios da atuação de Marcos Portugal
como mestre de capela, entretanto as principais solenidades que contavam com a presença da família
real, ficavam a cargo de Portugal, o que levou a um decréscimo nas atuações do Padre José Maurício
cabendo a ele as atividades menores.

Em 1813 José Maurício compõe dois salmos que informam com precisão a época do retorno ao
convívio da Ordem Terceira do Carmo, momento em que deixara de compor para a Capela Real.
Segundo Cleofe de Mattos as irmandades e ordens terceiras não tinham as mesmas disponibilidades
que proporcionavam brilho às cerimônias da Capela. José Maurício passará a escrever obras mais
sóbrias de feitura, e de proporções mais modestas, como a​ Missa pequena.7

Morte

Em seus últimos anos de vida Padre José Maurício enfrentou dificuldades financeiras e físicas. Uma
das evidências é o fato de ter fechado o curso gratuito que ministrava durante ano em sua própria casa
e deixando de compor. Sua última obra Missa de Santa Cecília data de 1826 e na Capela Imperial há
um último registro a seu respeito de 1829.
Mesmo com sua morte em 1830 as obras de José Maurício eram constantemente recopiadas e
executadas na Capela Imperial durante todo o século XIX e renasceram na segunda metade do século
XX. Até hoje cópias e edições de suas obras são encontradas e mantidas, demonstrando a importância
e relevância de sua atuação para a história da música brasileira.

6
MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
7
Mattos, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia: biografia / Cleofe Person de Mattos - Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do Livro, 1996. 373, XX,p.

5
Bibliografia

​Arquivo Nacional - Casa Real e Imperial - Capela Imperial - cx.12 pac.3 fls Ia5 s/d (1808)

Cardoso, André. A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro. André Cardoso - Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Música, 2005. 202p.

Castro, Urubatan Ferreira de. José Maurício Nunes Garcia: O Mestre Pianofortista da Corte de D.
João VI. Universidade do Estado do Pará (UEPA), 2010

MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

Mattos, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia: biografia / Cleofe Person de Mattos - Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do Livro, 1996. 373, XX,p.

História da música brasileira: José Maurício Nunes Garcia: um brasileiro nos ouvidos da
Corte[vídeo]Direção de Ricardo Kanji e Reinaldo Volpato. Brasil Telebrás [produção] Centro de
Produções Educacionais e Culturais (CEPEC) [produção] 199- São Paulo FrontLog [distribuição]
200-

Você também pode gostar