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ESCOLA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA GOMES CARNEIRO

PROFESSOR(A): Ricardo Luis Reiter DISCIPLINA: Filosofia


NÍVEL CAT EF EM EJA SÉRIE/ANO/MODALIDADE: 2 ano
AVALIAÇÃO Parcial Trimestral Anual Estudos de Recuperação

NOME: ________________________________________ No. ____ TURMA: ______ DATA: ____/____/____

PARA USO DO PROFESSOR


CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO SIM NÃO PARCIAL NOTA FINAL
Construção de uma resposta com argumentos válidos
com base no texto proposto
Transparece esforço na interpretação do texto e
realização da atividade
Concatenação de ideias em forma de texto
apresentando linearidade, domínio do português e
estruturação argumentativa

Plágio de material da internet e/ou colegas


Contém rasuras, rabiscos, amassados, manchas, rasgos
e similares.

ORIENTAÇÕES GERAIS: O trabalho somente será avaliado se for entregue nas seguintes condições:
 A caneta, escrito em cor azul ou preto;
 Escrito em língua portuguesa do Brasil, de acordo com o mais recente acordo ortográfico;
 Entregue na aula combinada ou em aula anterior, salvo caso de justificativa médica ou justificativa aceita pela orientação
escolar.
 Estiver em condições de ser lido.
DESCARTES
(1596-1650)
18. O COGITO
Suponho pois que todas as coisas que vejo são falsas; persuado-me de que nada nunca foi de tudo o que
minha memória repleta de mentiras me representa; penso não ter nenhum sentido; creio que o corpo, a aparên-
cia, a extensão, o movimento e o lugar são só ficções de meu espírito; que é, pois, que poderá ser considerado
verdadeiro? Talvez nada, senão que não há nada de certo no mundo.
Mas será que sei que não há absolutamente alguma outra coisa diferente daquelas que acabo de considerar
como incertas, da qual não possa ter a menor dúvida? Não há absolutamente algum Deus, ou alguma outra
potência que me ponha no espírito estes pensamentos? Isso não é necessário, porque talvez eu seja capaz de
produzi-los por mim mesmo. Eu, então, ao menos não sou alguma coisa? Mas eu já neguei que tivesse algum
sentido, ou algum corpo; hesito, contudo: porque o que se segue daí? Sou a tal ponto dependente do corpo e
dos sentidos que não posso existir sem eles? Mas, persuadindo-me de que não existia absolutamente nada no
mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, nenhum espírito, nenhum corpo, não me persuadi pois,
também, que eu não existia? Não, certamente, eu existia, sem dúvida, se estou persuadido, ou somente se pen-
sei algo; mas há um não sei qual enganador muito poderoso e muito ardiloso que emprega toda sua indústria
em me enganar sempre; não há pois dúvida de que sou, se me engano; e ele que me engane o quanto quiser,
não poderá nunca fazer com que eu não seja nada, enquanto pensar ser alguma coisa. De sorte que depois de
ter pensado bem nisso, e ter cuidadosamente examinado todas as coisas: Enfim, é preciso concluir e conside-
rar como constante que esta proposição sou, logo existo, é necessariamente verdadeira, todas as vezes que a
pronuncio ou que a concebo em meu espírito.
Mas não conheço ainda bastante claramente o que sou, eu que estou certo de que sou. De sorte que dora-
vante é preciso que eu tome muito cuidado em não tomar imprudentemente alguma outra coisa por mim e,
assim, não me equivocar neste conhecimento, que sustento ser mais certo e mais evidente que todos os que
tive anteriormente.
É por isso que considerarei diretamente o que eu cria ser antes que entrasse nesses últimos pensamentos; e
de muitas antigas opiniões cortarei tudo o que pode ser combatido pelas razões que há pouco aleguei, de sorte
que só permaneça precisamente aquilo que é inteiramente indubitável. Que é pois que acreditei ser preceden-
temente? sem dificuldade pensei que era um homem; mas que é um homem? Direi que é um animal racional?
Não, certamente, porque seria necessário em seguida investigar o que é um animal e o que é racional, e assim
de uma só questão cairíamos insensivelmente numa infinidade de outras mais difíceis e embaraçosas, e não
gostaria de abusar do pouco tempo de lazer que me resta, empregando-o em esclarecer semelhantes sutilezas.
Mas me deterei, antes, em considerar aqui os pensamentos que nasceram precedentemente por si mesmos em
meu espírito, e que me eram inspirados por minha própria natureza, quando me aplicava à consideração de
meu ser. Eu me considerava primeiramente como tendo um rosto, mãos, braços, e toda esta máquina composta
de osso e de carne, tal como aparece num cadáver, a qual eu designava com o nome de corpo; considerava,
ademais, que me nutria, que andava, que sentava, e que pensava e referia todas estas ações à alma; mas não
me detinha absolutamente em pensar o que era esta alma, ou, se me detinha, imaginava que ela era algo ex-
tremamente raro e sutil, como um vento, uma chama, ou um ar muito leve, insinuado e distribuído nas minhas
partes mais grosseiras. Quanto ao que se referia ao corpo, não duvidava absolutamente de sua natureza, por-
que pensava conhecê-la mui distintamente, e se tivesse querido explicá-la segundo as noções que tinha dela, a
teria descrito desta sorte. Pelo corpo entendo tudo o que pode ser limitado por alguma aparência, que pode ser
contido em algum lugar e preencher um espaço de tal sorte que todo outro corpo daí seja excluído; que pode
ser sentido ou pelo tato, ou pela visão, ou pela audição, ou pelo gosto, ou pelo olfato; que pode ser movido de
muitos modos, não por si mesmo, mas por algo de estranho, pelo qual seja tocado e do qual receba a impres-
são; porque ter em si a potência de se mover, de sentir e de pensar, eu não acreditava de modo algum que se
devesse atribuir essas vantagens à natureza corporal; ao contrário, espantava-me, antes, de ver que tais facul-
dades se encontrassem em certos corpos.
Mas eu, quem sou, agora que suponho que há alguém, extremamente poderoso e que, se ouso dizer é ma-
licioso e astuto, que emprega todas as suas forças e toda sua indústria em me enganar? Posso ter a certeza de
ter a menor de todas as coisas que atribuí acima à natureza corporal? Detenho-me em pensar nisso com aten-
ção, passo e repasso todas as coisas no meu espírito, e não encontro nenhuma que possa dizer que está em
mim. Não é preciso que me detenha em enumerá-las. Passemos, pois, aos atributos da alma e vejamos se há
alguns que estejam em mim. Os primeiros são de me nutrir e de andar; mas se é verdade que não tenho corpo,
é verdade também que não posso andar, nem me nutrir. Um outro é o de sentir; mas não se pode também sen-
tir sem o corpo, além de ter pensado, outrora, sentir muitas coisas durante o sono, e reconheci, ao despertar,
não ter com efeito sentido. Um outro é o de pensar; e acho aqui que o pensamento é um atributo que me per-
tence. Só ele não pode ser separado de mim, eu sou, eu existo, isso é certo; mas quanto tempo? A saber, tanto
tempo quanto penso; porque talvez pudesse acontecer que se eu cessasse de pensar, cessaria ao mesmo tempo
de ser, ou de existir: Não admito agora nada que não seja necessariamente verdadeiro: Sou, pois, precisamen-
te, uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento, ou uma razão, que são termos cujo significado
me era anteriormente desconhecido. Ora, sou pois uma coisa verdadeira, e verdadeiramente existente; mas
qual coisa? Eu o disse, uma coisa que pensa. E que mais? Excitarei ainda minha imaginação para buscar se
não sou absolutamente algo mais. Não sou absolutamente esta reunião de membros que se chama de corpo
humano. Não sou um ar leve e penetrante espalhado em todos esses membros, não sou um vento, um sopro,
um vapor, nem nada de tudo que posso fingir e imaginar, posto que supus que tudo isso não era nada e que
sem mudar esta suposição, acho que não deixa de ser certo que sou alguma coisa.
Descartes, Méditations métaphysiques (Meditações Metafísicas), II, Vrin, pp. 25-28.

ESTUDO DO TEXTO
1) O primeiro parágrafo estabelece um balanço: qual? Há no mundo alguma coisa que possa ser conside-
rada como certa? Com que intenção a questão é posta, no início do segundo parágrafo, de saber se um Deus
não existe? Qual é a conseqüência da resposta que é dada a esta questão? A certeza que tenho de minha pró-
pria existência requer a certeza da existência de Deus? Qual é o sentido da enumeração: "nenhum céu, ne-
nhuma terra, nenhum espírito, nenhum corpo"? Por que os espíritos dos quais se trata aí avizinham-se dos
corpos? Por que a suposição de um enganador muito poderoso e muito ardiloso é invocada? A certeza de que
sou resulta da impossibilidade de duvidar até o fim? Por que é precisado que a proposição: eu sou, eu existo, é
necessariamente verdadeira, todas as vezes que a pronuncio, ou que a concebo em meu espírito?
2) Trata-se, a partir do terceiro parágrafo, de uma nova questão: qual? Qual vai ser o método que se deve-
rá seguir, para conhecer o que eu sou? Por que é importante distinguir o que eu acreditava ser, antes da dúvi-
da, do que sei ser agora?
3) O que eu acreditei ser precedentemente se divide em dois tipos de crenças; quais e o que as distingue?
Por que a definição do homem como animal racional é difícil e embaraçosa? Por que a descrição da natureza
do homem como composto de corpo e alma deve ser rejeitada? Por que não posso dizer que sou um corpo?
Uma alma? Que diferença há entre a alma, tal como a imaginava, e o pensamento? Por que posso dizer que
não sabia anteriormente o que é o espírito? Por que uma coisa que pensa é a mesma coisa que um espírito, um
entendimento ou uma razão? Em qual sentido não posso dizer que sou uma coisa que imaginava ou que sente?
Em qual sentido posso dizê-lo se sou somente um espírito?

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