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Nem sempre mantenho a energia lá no céu.

As vezes caio desse céu maravilhoso e


cruel que é a esperança de ter uma vida melhor. Será que vamos todos terminar
assim? Então pra que vim sem não foi para viver tudo que o mundo pode oferecer? É
triste e estranho ao mesmo tempo. Mas apesar de tudo, do porno, dos multiplos
cigarros destruindo meu coração lentamente eu não me sinto corrompido. Gosto do que
eu sou apesar de estar onde estou. Será mesmo que sofrer é preciso? Um furacão
dentro de mim não para de girar e de me levar aonde você está. Sem perceber parece
que tudo que tenho é você. Nada mais nem menos. Um papel em branco em minha frente
e seus cachos negros me enrolando dia após dia me cozinhando em banho maria. Ou
talvez um labirinto no alto da minha cabeça. Não desista. Não, ainda não. Ainda
consigo abrir a boca do leão apenas com a força do pau. Meu pai, qual foi o momento
em que o mundo fechou as portas para nós? Revolucionou o mundo inteiro que se
conectou numa bolha e solidão no seu quartinho sujo. Cansaço, foi esse o legado que
você deixou para mim? Ninguém me ensinou a nadar e hoje morro de sede afogado nos
peitos dela. E pensar que vou ter que acordar amanhar e pensar tudo de novo sem
nenhuma novidade. O longo tempo que passa sonicamente, sorrateiro me empurrando
contra o abismo da morte. E os dias de mormaço que passo descendo essa linha do
tempo esperando ver seu sorriso falso que se fecha quando olha para mim. Minha
sobrancelha sempre está franzina e já nem lembro mais a última vez que sonhei de
verdade. Planos que se dissolvem na minha frente igual um vendaval de esperança. E
depois chove. Alaga tudo aqui dentro. Tudo. Para mim é sempre tudo ou nada. Me jogo
em cada palavra escrita como se fosse o ultimo dia de minha vida mas o que mata de
verdade é a dúvida da verdade. O tempo vem aqui e entra pela janela e me conta
histórias de qual dúvido. Geralmente sou franco comigo mesmo e mesmo quando o
desespero quer levar de barco eu paro e espero o tempo passar. Mas a colossal
sombra da incerteza tem me esmagado diariamente logo após o abrir de olhos na
aurora de cada manhã. Por que não aceito de forma alguma as coisas como estão?
Porque me debato e me bato e maltrato meu eu tentando alcançar o jubilo gozo tão
intenso da vida? Nada do que sei é o bastante. Sindrome do impostor dizem por aí.
Sindromes e mais sindromes e a revolução industrial soltando gás do pânico e da
insatisfação desde do século dezenove. Bem que eu queria vez em quando sentir o
cheiro da sua calcinha no banco de trás de um possante usado qualquer. Te levar
para casa normalmente como se fazem por aí nos filmes de sessão da tarde. É tão
natural para você estar bem. Porque para mim não é? Veja só você dançando na festa.
E se pegando com um e com outro enquanto eu estou aqui pensando nos problemas do
mundo para tentar esquecer os meus problemas. Para tentar achar algum culpado para
o vazio que entra sem pedir licença. Todo dia jogo teu nome no etér e divido minha
energia entre reproduzir coisas que nunca aconteceram com a gente e as migalhas do
erotismo que nunca tive a oportunidade de gozar por causa da revolução industrial.
Marques de Sade me abençoe e não deixe que eu morra virgem de toda a intensidade
dos imortais.

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