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Destino: Educação - Escolas inovadoras

2ª Temporada

RELATÓRIO DE PESQUISA
Peru "Colégio Pukllasunchis"

Trabalho de campo realizado entre 12 e 19 de setembro de 2017


Pesquisador: Omar Paredes Medina (omarparedesm@gmail.com)
Coordenação: Bel Mercês e João Fernando

País: Peru I Cidade: Cusco


População: 31.826.018 habitantes no Peru I 450.095 habitantes na província de Cusco
Altitude Cusco: 3.399 metros acima do nível do mar

Peru
A República do Peru fica a oeste da América do Sul, fazendo fronteira ao norte com o Equador e a
Colômbia, a leste com o Brasil, e ao sul com a Bolívia e com o Chile. A oeste, fica o Oceano Pacífico. O
Peru é um dos 17 países chamados de "megadiversos" porque tem 70% da biodiversidade do planeta
e abriga cerca de 73 milhões de hectares de floresta.

É o oitavo maior país da América em termos de população. Em números gerais, no Peru, 50,1% das
pessoas são homens e 49,1%, mulheres. A densidade populacional é de 24,5 habitantes por km². A
capital, Lima, concentra 30% da população total. Existem 55 povos indígenas que falam 47 idiomas
no país. A grande maioria desses povos fica na selva e na cordilheira. No entanto, a configuração
demográfica vem mudando nas últimas décadas. Atualmente, cerca de 75% das pessoas vivem em
áreas urbanas e 25%, em regiões rurais. A população hoje é composta por uma maioria mestiça
(44%), seguida por ameríndios (31%), brancos (15%), mulatos (7%), afrodescendentes (2%) e
asiáticos.
Diversidade cultural e identidades nacionais
O Peru foi o berço das civilizações. Na região chamada de “nortecostera” [costa norte], ficava a
cidade mais antiga da América, Caral, com 5.000 anos (3.000 e 1.800 anos a.C.), que era
contemporânea de civilizações como Egito, Suméria e China. Após Caral, são desenvolvidas
civilizações importantes, antes de loc inkas, como Chavín, Paracas, Nazca, Mochica,
Tiahuanaco, Wari e Chimú. O período incaico (1150 - 1533 d.C.), de certa forma, "unifica" por
meio do Tahuantinsuyu [império inca] territórios do Equador, Colômbia, Peru, Bolívia,
Argentina e Chile. O período colonial reconfigura o território e marca o início das identidades
no Peru1. Com a independência, o poder colonial e gamonal [espécie de coronelismo quando
se compara com o Brasil] se instala como uma configuração política que origina então regimes
oligárquicos e define a cena política de grande parte do século XX. Degregori faz uma descrição
interessante para chegar a uma aproximação da configuração de culturas e identidades no
país. Havia uma tradição excludente, que negava a identidade cultural das maiorias indígenas e
mestiças. Para esses setores, que são maioria no país, a luta para obter uma cidadania de
"primeira classe" continua sendo a semente a partir da qual os laços sociais e os traços de
identidade são formados.

Atualmente, essas dinâmicas sociais continuam conflitantes e são expressas de forma muito
clara em estruturas de discriminação com comunidades de nativos, comunidades andinas cuja
língua materna é Quechua ou Aymara, imigrantes de áreas rurais em centros urbanos. Os
arquétipos ocidentais dos séculos passados ainda estão presentes no imaginário nacional e na
mídia. No entanto, na última década, o país tem olhando para si mesmo e está descobrindo
que sua diversidade cultural, biológica e territorial é um meio para alcançar o
desenvolvimento. Primeiro o mercado, impulsionando essa diversidade em produtos
turísticos; e depois o Estado, desenvolvendo políticas nacionais que levem em conta e
protejam a diversidade cultural do país. Nesse sentido, com a criação do Ministério da Cultura
(2010), foi estabelecido um vice-ministério de "Interculturalidade", capacitando povos e
comunidades historicamente marginalizados e garantindo que o Estado e suas instituições
adotem relevância cultural em todos os seus setores. Segundo a Constituição Política do Peru,
"o Estado peruano reconhece a pluralidade étnica e cultural da Nação".

Economia
Moeda: Sol peruano (PEN)
PIB 2016: US$ 195 milhões
PIB per capita: US$ 6.045
Salário mínimo: US$ 246
População economicamente ativa: 54%
Índice de pobreza: 21,8%. Pobreza extrema: 1,9% (PNUD, 2016)
Economia que, na exportação, é baseada na produção de matéria-prima, liderada pelo setor
de mineração, petróleo e gás. É um modelo econômico de longa data, que tem sua origem nos
tempos coloniais.

1
Degregori, Carlos Ivan.“Del mito de Inkarrí al mito del progreso. Migración y cambios culturales”. Instituto de Estudios
Peruanos, Lima, 2013
Cusco

É chamada de capital histórica do Peru, porque era o centro da civilização Inca. Está localizada
no sudeste do país, na vertente oriental da Cordilheira dos Andes. É um vale a 3.399 metros de
altitude, atravessado pelo rio Huatanay. Oitava cidade mais populosa do país, sempre foi uma
das mais importantes política e administrativamente. Foi declarada Patrimônio da
Humanidade (UNESCO, 1983). A província de Cusco é composta por oito distritos (Cusco, San
Sebastián, Santiago, Wanchaq, San Jerónimo, Poroy, Saylla e Ccorca).

Patrimônio cultural
Na região de Cusco fica o centro arqueológico mais importante do país, Machu Picchu (que recebeu
1,344 milhão de visitantes nacionais e estrangeiros em 2016). Além desse complexo arqueológico, há
cem outros sítios arqueológicosna cidade dos períodos pré-inca, inca e colonial. Ao mesmo tempo, o
patrimônio cultural intangível de Cusco tem uma diversidade de expressões e manifestações em
artes plásticas, tecnologias produtivas, espaços ritualísticos, medicina tradicional, sistemas de
autoridades,música, dança, entre outros. A Ponte Q'eswachaka e a peregrinação ao Santuário do
Senhor de Qoyllurit'i foram declaradas Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.
Aproximadamente 45% da população fala quechua como primeira ou segunda língua; mas a
tendência indica uma redução constante de falantes ao longo dos anos. Cusco tem duas regiões
naturais: a andina e a amazônica. Nestes espaços geográficos coexistiram ao longo dos séculos,
culturas diversas que são mantidas até hoje. Na área da selva estão os grupos étnicos Yine,
Matsiguenka, Wachiperi, Kakinte, Nahua, Nanti e Asháninka, e na área andina, os Quechuas e
Aymaras na fronteira com Puno, ao sul da região.

Educação, infância e adolescência


O Peru investe 3,9% do PIB na educação, o menor valor para a América do Sul.
Em Cusco, uma em cada duas crianças reside em áreas rurais e sua língua materna é quechua
em quase 100% dos casos. A saúde da população infantil é preocupante. Aproximadamente
37% das crianças têm anemia (de 6 a 56 meses de idade). Isso afeta seriamente a educação e o
desenvolvimento das crianças no Cusco. Tanto é que só 22% dos alunos obtiveram sucesso em
compreensão de leitura e 9% em operações matemáticas (ENDES, 2012).

A taxa de analfabetismo em Cusco é de 15%, (6,7% entre os homens e 21% entre as mulheres).
A população de crianças da cidade, de 5 a 9 anos, representa 9% do total; 10 a 14 anos, 10% e
15 a 19 anos, 11%. A maior parte da população (31%) tem entre 15 e 29 anos. A população
com ensino médio atinge 77%.

O sistema educacional peruano oferece serviços públicos e privados em relação à educação


básica (sistema padrão de educação em nível nacional, que está estruturado em três níveis:
inicial, primário e secundário). Em Cusco, a maioria das escolas é privada, 71%, enquanto 29%
são públicas2. Isso representa um déficit de acesso à educação básica pela população nos
estratos econômicos mais baixos. Por outro lado, a qualidade da educação contrasta com a
porcentagem de jovens que conseguem ter ensino técnico superior (16% ).

Aproximadamente 11% das mulheres jovens, entre 15 e 19 anos, são mães. Esse alto índice
está relacionado à falta de serviços de informação aos adolescentes em relação ao
planejamento familiar. No que tange a educação, a grande maioria das escolas de Cusco
ensina a religião católica, cujas instituições (em nível nacional e local) defendem que o
currículo não fale sobre sexualidade e questões de gênero. Isso é ecoado em uma
porcentagem da população que podemos definir como conservadora no que diz respeito a
essas questões e outras, relacionadas ao aborto, alcoolismo, etc. As políticas desenvolvidas
com foco na juventude sempre caminharam junto com preconceitos conservadores e
paternalistas e, portanto, não têm resultado sobre a dinâmica e os problemas dessas
populações.

2
Este é um fenômeno nacional que começa com a privatização da educaçãona década de 1990 e que continua
atualmente, de modo que o Estado não tem capacidade de controle sobre a oferta privada de educação e padrões de
certificação. Isso gerou uma proliferação de escolas improvisadas que de modo geral não têm condições mínimas de
ensino, como infraestrutura e qualidadede ensino.
Administração escolar
O Ministério da Educação do Peru (MINEDU) é o órgão que dita a Política Nacional de
Educação em nível nacional. Para isso, a organização do MINEDU é implantada em nível
regional por meio das Diretorias Regionais de Educação, que têm suas operações locais nas
Unidades Locais de Gestão Educacional (UGEL). O objetivo das UGE Lé acompanhar a gestão
administrativa e gestão pedagógica e prestar assistência técnica às instituições educacionais
de seu território. E, na lógica dos resultados, este é um elo importante na cadeia do processo
de entrega do serviço educacional aos cidadãos (Lei de Educação Geral nº 28044). Além disso,
o funcionamento das UGEL está relacionado à execução e à concretização das diferentes
etapas da prestação do serviço educacional, o que exige que tenham resultados em nível de
gerenciamento (materiais educacionais, determinação da infraestrutura, gerenciamento de
professores e diretores, etc.) para que o nível pedagógico possa ser dado e a aprendizagem
dos alunos seja melhorada. A UGEL Cusco é a entidade encarregada de fornecer licenças de
funcionamento para escolas e, para isso, é necessário que a escola cumpra as diretrizes do
Currículo Nacional de Educação, que estabelece as matérias oferecidas por níveis.

Em nível nacional e também em Cusco, é implementada a política de Educação Intercultural


Bilingue (EIB), que oferece educação a crianças e adolescentes que estão em regiões indígenas
ou nativas e cuja língua materna é outra que não o castelhano. No entanto, existem vários
fatores que não permitem a implementação efetiva desse programa. Entre esses fatores está a
formação de professores em EBI, o orçamento atribuído a essas escolas e os aspectos
estruturais da sociedade peruana, como a pobreza dos territórios que abrigam tais escolas, a
estigmatização que ainda sofrem por parte dos funcionários públicos de áreas urbanas e o viés
paternalista das estratégias
égias implementadas. Apesar dess
dessee cenário adverso, com o programa
EBI, foi estabelecido um grupo de professores que inovaram em estratégias pedagógicas e
conseguiram uma conexão entre a escola e o contexto cultural dessas populações.

O salário mínimo de um professor está em torno de US$ 475, o que faz com que a carreira não
seja atraente no mercado de trabalho. Es Essee salário impede o treinamento especializado
contínuo de professores que sempre buscam se estabelecer em uma escola urbana em vez de
rural, já que os incentivos para o ensino nas áreas rurais não são efetivos. Isso resu
resulta em uma
alta rotatividade de professores em áreas rurais, mais que nos centros urbanos, dificultando a
sustentabilidade de projetos de educação rural com professores.

Colegio Pukllasunchis3

Escola Colegio
gio Pukllasunchis

Fundação 1988 (primeiro trimestre do ano)

Endereço e Tik’apata s/n, San Sebastián


contato Cusco
tel: +51 84 273428

3
O termo em quechua “pukllasunchis” significa “brinquemos”
Horário de Entrada dos professores: 7h30
funcionamento Entrada dos alunos: 7h50
Recreio inicial: 10h30 – 11h
Recreio primária: 10h30 – 11h
Recreio 1o y 2o da secundária: 12h30 – 13h
Recreio 3o a 5o da secundaria: 11h30 am – 12h

Cada aula é organizada em tempos de 45 minutos, sendo que


uma aula pode ocupar de 2 a 3 tempos.

Tipo de ensino Inicial: 4 e 5 anos


Primária: 6 a 11 anos
Secundária: 12 a 16 anos

Especializacões a. Artes: artes plásticas, criação literária, música, teatro.


oferecidas: áreas de b. Ciências sociais: filosofia, humanística.
estudo c. Comunicação: cinema, informática, inglês, metodologia de
estudo, quechua e cultura andina.
d. Jogo e movimento (motricidade, movimento livre e criativo)
e. Matemática
f. Ciências naturais
g. Horta (espaço temporal e físico a partir do qual se
desenvolvem conhecimentos, aptidões e habilidades para o
cuidado do meio ambiente e processos agrícolas)
h. Produção: oficinas de carpintaria, cozinha, medicina natural,
cerâmica, metalurgia, tear, tecido, costura, técnicas de
reciclagem.
i. Tutoria: hora de tutoria, rimanakuy, orientação para o
adolescente, leitura e escrita por plazer, orientação vocacional.

Grupos por ano 26 (Inicial: 4; Primária: 12; Secundária: 10)

Total de alunos 786

Alunos por Média de 30 alunos por sala.


grupo/sala

Média de Inicial: 12
alunos/professor Primária: 15
Secundária: 9

Calendário escolar Ano letivo: março a dezembro


Março: início de aulas, reunião geral de pais de família, oficina
para novos pais de família.
Abril: acampamento de integração da secundária, dia da família
Puklla.
Maio: semana do quechua, primeira conclusão de oficina, fimdo
primeiro trimestre.
Junho: dia do colégio
Julho: jogos desportivos de pais de família, férias do segundo
trimestre (15 dias).
Agosto: início dakuska
Setembro: entrega de boletins.
Outubro: férias do terceiro trimestre, conclusão da kuska.
Novembro: inscrições de estudantes novos.
Dezembro: semana da arte, almoço de aprovação, encontro de
ex-alunos, fechamento do ano e entrega de boletins.

Perfil dos alunos Estudam meninos e meninas de diferentes origens sociais e


culturais, de diferentes religiões e que falam diferentes idiomas.
A língua das matérias é o espanhol, assim, todos os alunos falam
esse idioma. Alguns têm o quechua como língua materna. A
maioria dos alunos são de setores socioeconômicos médios e
baixos, sendo a tendência nos últimos anos, uma maior demanda
de matrícula dos setores médios. Também estudam meninos/as e
adolescentes com necessidades especiais que são integrados aos
grupos. Há cerca de dois estudantes com necessidades especiais
por série.

A destacar  O ensino de valores e atitudes é tão ou mais importante que


os conhecimentos.
 Colégio adaptado ao ambiente natural
 Diversidade no perfil de estudantes
 Aprendizagem por interação na qual prevalece o trabalho
coletivo
 A inovação está na filosofia de que “as crianças podem ser
felizes desde a escola”
 Diversidade de oficinas
 Cultura andina como referência de conhecimento
 Ensino do idioma quechua como segunda língua
 Escala de matrículas que garante o aceso de estudantes com
poucos recursos econômicos
 Currículo com integração do trabalho agrícola
 Organização do ensino com base nas caracterísitcas da
população estudantil
 Validação e acreditação do sistema nacional de educação.
 Personalização da educação por meio da organização dos
alunos em grupos pequenos e ao trabalho de
acompanhamento individual dos tutores.
Site e redes sociais https://www.pukllasunchis.org/colegio-pukllasunchis

https://www.facebook.com/asociacion.pukllasunchis/

Localização: um espaço natural nas margens do centro urbano


A escola Pukllasunchis está localizada no distrito de San Sebastián, ao sul da cidade (30
minutos do centro histórico), em uma grande esplanada, no setor chamado T'ikapata
(plataforma de flores), na bacia de um pequeno rio que tem o mesmo nome. É cercada por
eucaliptos e espécies nativas, como q'ewña e molle. É um pequeno vale natural que ainda
conserva uma diversidade de espécies vivas, já que o setor está localizado em uma das
fronteiras da área urbana da cidade de Cusco. Faz fronteira com duas comunidades
camponesas (rurais): Pumamarka e Killarumiyoq, que são assentamentos humanos
antiquíssimos e com muita história, o que é evidenciado pelos restos arqueológicos (do tempo
Inca) encontrados nessas comunidades.

Além da natureza, a paisagem também conta com construções urbanas feitas por habitantes
dessas áreas (de setores socioeconômicos baixos), normalmente para habitação e instalação
de pequenas empresas. Ao norte, na parte superior da bacia, há um centro recreativo cuja
música é possivel ouvir algumas vezes.

Acesso
Poderíamos dizer que a localização da escola é muito boa, pois ao mesmo tempo fica em um
espaço natural e próxima de uma das principais vias da cidade de Cusco, a Avenida de la
Cultura que segue na direção sul, rumo às cidades de Arequipa e Puno. Ou seja, é uma estrada
de tráfego intenso pela qual se pode chegar à escola. O lugar onde é preciso parar nessa
estrada para pegar o desvio para a escola é chamado de ENACO, que são as iniciais da Empresa
Nacional de la Coca S.A.. Ela é responsável por monopolizar o mercado legal de folhas de coca
no país. A partir desse ponto, é preciso pegar a estrada que leva à comunidade de Pumamarka
(que fica a dez minutos de carro) ea 60 metros fica o desvio para a escola, que é uma estrada
de terra muito curta que terminaem uma área onde os carros estacionam nos horários de
entrada e saída da escola.

Arquitetura
A área total da escola é de 2,5 hectares. O colégio foi construído após um concurso de projetos
vencido por dois pais, que reuniram as idéias de pais, professores e alunos da escola. O
resultado é um colégio aberto, feito com materiais e um design arquitetônico que se adaptam
ao ambiente natural do vale, à idade dos alunos (os níveis iniciais são mais próximos da porta
de entrada e o nível secundário fica mais longe) e aos espaços de trabalho coletivos e cuja
organização permite a acessibilidade de crianças deficientes (rampas).
Conceito: uma aprendizagem de interação
"Somos uma escola que promove uma atmosfera de alegria e carinho, onde trabalho, esforço e
criatividade são a base para formar um ser humano feliz; propositivo e comprometido com o
coletivo; crítico e responsável consigo mesmo, com sua comunidade e com o futuro."(Folheto
do Colégio 2017)

A Escola Pukllasunchis é um dos projetos da Associação Pukllasunchis, que busca contribuir


com a mudança na educação por meio de propostas, experiências inovadoras e políticas
educacionais em nível local, regional e nacional.

A escola de Pukllasunchis parte da premissa de que somos todos diversos e que essa
diversidade enriquece e é o embrião da apredizagem. Nesse sentido, ela entende que o
dialógo é o elemento dinamizador dos processos básicos de troca e construção de
conhecimento e da coexistência cotidiana. A proposta pedagógica da Pukllasunchis é então
construída a partir desse elo e é baseada em quatro eixos transversais: interculturalidade,
igualdade de gênero, conscientização ambiental e valores e atitudes.

Os quatro eixos são desenvolvidos no cotidiano da escola em todos os seus espaços: aulas,
oficinas, recreios, espaços de diálogo coletivo, lanches, etc.

Interculturalidade
A Pukllasunchis recebe crianças de todos os contextos socioculturais (principalmente do médio
e baixo) e sua proposta pedagógica se enquadra nesta realidade. Um exemplo é a questão do
uso e do acesso das TIC [Tecnologia da Informação e Comunicação], que leva em consideração
essa diversidade e desigualdade no acesso; outro é o alimento preparado no lanche, em que
são usadas receitas simples e nutritivas, com produtos da região.
Alguns documentos e publicações da escola mencionam o lema "educar em e para uma prática
democrática", que pode refletir essa abordagem da interculturalidade. Essa idéia se
materializa, por exemplo, na geração de espaços de expressão com liberdade e igualdade (na
aula e em qualquer outro momento na escola), onde a discriminação e a marginalização são
questões abordadas e enfrentadas com honestidade e permanentemente.

Há frases que são ouvidas com frequência de professores e alunos: "somos diferentes", "nem
todos pensamos da mesma maneira", "cada opinião é valiosa e respeitável em si mesma".
Nesse sentido, a diferença é a marca e, portanto, as necessidades de desenvolvimento de cada
aluno são específicas. Isso é claro para o corpo docente da escola, que tenta manter uma
atitude de escutar e estar aberto para as diferenças que se traduzem em racionalidades
diferentes entre os estudantes. Cria-se, assim, um diálogo horizontal em vez de uma divisão
hierárquica entre professores e alunos. O diálogo e a interação produzem situações de
confronto e análise crítica entre o próprio e o outro e assim criam de forma intergeracional
uma atmosfera de respeito, curiosidade e tolerância.

Essa abordagem da educação na escola considera três áreas:

Pessoal
Evitar por exemplo práticas de homogeneização (ausência de uniformes, desfiles cívicos e
patrióticos, estabelecimento do quechua como primeira língua e depois o inglês etc.) e/ou
discriminatórias (principalmente em relação à cultura andina).
Gerenciar um sistema de avaliação baseado nos processos de aprendizagem de cada
estudante, evitando parâmetros únicos nas avaliações. A escola também tem alunos com
necessidades especiais (aproximadamente duas crianças por série).

Relacionamentos
Prioriza-se o grupo, o coletivo. Isso significa um diálogo aberto e horizontal (por exemplo, o
momento chamado rimanakuy, onde professores e alunos abordam um tópico ou problema
do interesse de todos; pode ser conduzido por um aluno ou professor). Ou seja, prioriza-se o
grupo na aprendizagem, valorizando a contribuição de cada um e compartilhando
conhecimento e pontos de vista.

Currículo escolar
A cultura andina é posta como uma referência de conhecimento em várias atividades. Por
exemplo, no trabalho na horta, nas oficinas de medicina natural, nas noções sobre tempo e
espaço entre as áreas urbanas e rurais, no ensino do quechua (como segunda língua) a partir
do nível inicial. O quechua também está presente nos letreiros e placas da escola, em nomes
de árvores nativas, em cada sala de aula, lembrando palavras de cortesia na língua como "por
favor", "obrigado", "desculpe", "bom dia" etc.

Consciência ambiental
O trabalho agroecológico faz parte do currículo escolar, com o cultivo de produtos locais, o
gerenciamento dos resíduos sólidos (os orgânicos vão para a composteira da escola e servirão
para fertilizar os plantios, e os papéis vão para a oficina de reciclagem). Também são
difundidos os conceitos da cosmovisão andina, como o ayni, que se refere ao trabalho em
equipe, muito comum em atividades no campo; a natureza está relacionada aos ciclos
agrícolas, que por sua vez estão relacionados ao calendário festivo das comunidades andinas.

O trabalho na horta é feito por todos os alunos de todas a séries. Além disso, há campanhas de
reflorestamento de encostas (com professores e pais), ensino de criação de animais (a escola
tem uma pequena fazenda de animais: porquinhos da Índua, galinhas, patos e peixes entre
outros) e, de tempos em tempos, há um trabalho de limpeza do rio T'ikapata,etc.

Igualdade de Gênero
É dado muito destaque para os papéis de gênero, quebrando estereótipos. A escola tem o
cuidado de ter um número equilibrado de alunos e alunas por nível. Nesse sentido, a
participação ativa igualitária é incentivada. A escola aborda temas relacionados à sexualidade
e identidade sexual, nos espaços de orientação para adolescentes e também no rimanakuy. As
oficinas oferecidas na escola para todos os níveis também são para ambos os sexos.

Valores e Atitudes
As premissas deste pilar são:
O carinho e respeito a todas as pessoas e seres vivos que estão na escola;
O comunitário como forma de trabalho e de aprendizagem;
A reflexão coletiva e pessoal sobre valores como solidariedade, autonomia, trabalho,
organização e criatividade.

Para a Pukllasunchis, valores e atitudes são adquiridos por meio de uma sequência de
aprendizado que começa com o desenvolvimento de alguns hábitos. Por exemplo, escutar
quem está falando, chegar cedo à escola etc. Durante os estudos na escola, esses hábitos são
internalizados e, finalmente, se tornam atitudes como respeitar a opinião do outro, assumir
compromissos e responsabilidades, etc.

Esse conjunto de valores e atitudes é promovido e implementado por toda a comunidade


educacional da escola. Nesse sentido, não são promovidos arquétipos como o "estudante
exemplar" ou o "professor exemplar". O que é feito em todos as salas, por meio de um grande
papel onde se escreve, são a abordagem dos desafios coletivos (que valores a classe quer
melhorar?) e, a partir disso, a avalia-se frequentemente a relização desses desafios. O mesmo
acontece no âmbito pessoal, com cada aluno, pois o tutor acompanha a realização dos
desafios colocados por eles. Isso torna a criança o protagonista de seu próprio
desenvolvimento pessoal, fazendo com que ela reflita sobre o que deve melhorar e assuma
sua responsabilidade pela melhoria.

Metodologia
Para ter a licença do Ministério da Educação e prestar serviços educacionais, desde o início a
escola está alinhada com a Política Nacional de Educação do Estado peruano. Nesse sentido, a
escola Pukllasunchis segue o sistema de Educação Básica e os princípios gerais do Projeto
Curricular Nacional, nos três níveis: inicial, 4 e 5 anos; primário, de 6 a 11 anos, e secundário,
de 12 a 16 anos. Alcançada a última etapa do colégio, os alunos podem se candidatar a uma
universidade e finalmente obter o diploma de bacharel.

A escola inclui ainda neste currículo outras matérias que considera igualmente importantes:
quechua e cultura andina, filosofia, cinema, metodologia de estudo, humanística, orientação
vocacional, orientação para adolescentes, artes, horta, medicina natural, oficinas de ciências e
oficinas de produção.

Oito áreas curriculares:

1. Artes

No inicial e do primeiro ao quinto ano da educação primária, todas as crianças têm aulas de
música e artes visuais. Da sexta série até o final da secundária, os estudantes têm a opção de
escolher entre artes plásticas, criação literária e audiovisual, música e teatro. Nesta área,
procura-se desenvolver a capacidade criativa, a imaginação e a sensibilidade, através da
comunicação de pensamentos, sentimentos, emoções e sensações com critérios estéticos,
bem como o prazer de se expressar artisticamente.

2. Ciências sociais

Esta área procura desenvolver habilidades, conceitos, procedimentos e atitudes que permitam
conhecimento e compreensão do homem e do ambiente social, localizando e interpretando
fenômenos sociais em certos espaços e tempos, orientando os alunos a agir de forma crítica e
responsável em sociedade, com base em valores que promovem a democracia e a identidade
cultural. Também estão incluídas nesta área a filosofia, que a partir do nível primário procura
desenvolver habilidades cognitivas de raciocínio, observação, pesquisa, questionamento e
análise conceitual bem como atitudes de escuta, respeito e tolerância a partir da expressão de
idéias e de pontos de vista sobre assuntos como "vida", "existência", "morte", "amor",
"verdade" etc. e humanística, que aborda conceitos como cidadania, religião, civismo,
antropologia e história de culturas humanas, valorizando o conhecimento da diversidade
cultural em contextos de interculturalidade.

3. Comunicação

A prioridade é dada a aspectos como a relação com o outro e a localização de si mesmo no


contexto social, ou seja, levar em consideração os fatoresde idioma e cultura. Nesta área estão
as matérias de cinema, quechua e cultura andina, informática, inglês e metodologia de estudo.
O desenvolvimento das capacidades comunicativas pela palavra oral, do corpo, da arte, da
escrita e nas suas dimensões sociais e informáticas são habilidades para que o aluno se
desenvolva no processo de socialização e relacionamento com os outros. O ponto de apoio
dessa área é a capacidade de comunicação interpessoal, aberta e intercultural, para
compreender e expressar e não aimposição teórica de diferentes linguagens.

4. Jogo e movimento

Esta área compreende o movimento que procura o equilíbrio físico e psíquico da criança para
que ela possa se relacionar com segurança em seu ambiente - em outras palavras, o
desenvolvimento da saúde mental e física. Promove a prática de várias disciplinas esportivas
que dão opções aos alunos e alunas de acordo com seus gostos e habilidades. Para a
Pukllasunchis, este é outro meio para alcançar habilidades e atitudes sociais, como empatia,
tolerância, cooperação, resolução de conflitos, carinho em relacionamentos e esforço
individual e coletivo acima da competição.
5. Matemática

Busca-se o desenvolvimento de habilidades, ferramentas conceituais e metodológicas, para


representar, explicar, prever fatos e resolver problemas de seu ambiente. A Pukllasunchis foca
o uso da linguagem matemática para expressar ideias, noções e conceitos que os alunos
compreendam e possam construir a partir das próprias experiências. O pensamento lógico-
matemático é desenvolvido a partir da resolução de problemas. A matemática é usada de
forma lúdica, evitando fórmulas e teoremas abstratos sem conexão com a realidade cotidiana
dos estudantes. Também aborda o conhecimento matemático ancestral da cultura andina (o
qhipu, sistema de registro contábilinca e a yupana inka, tabela para realizar cálculos
matemáticos, como adição, subtração, divisão, multiplicação, etc.)

6. Ciências naturais

A avaliação da vida em todas as suas formas é o foco desta área. O mesmo acontece com a
avaliação do conhecimento e as técnicas andinas que permitem interagir com equilíbrio no
meio ambiente das crianças. Isso gera interesse, respeito e compromisso com o meio
ambiente, dinâmicas ecológicas e sua conservação. Promove o desenvolvimento de
habilidades básicas para pesquisa científica que lhes permita compreender não só o mundo
atual, mas também as implicações das novas tecnologias e os avanços no conhecimento
científico. Paralelamente, a escola promove o programa Kawsay, a fim de disseminar,
sensibilizar e colocar em ação aspectos de cuidados e conservação do meio ambiente. Este
programa inclui visitas de outras escolas às instalações do Pukllasunchis, como a horta, a
fazenda e a produção de medicamentos naturais. A escola também tem uma oficina de
ciências, onde alguns aspectos da aprendizagem teórica em química, física e biologia são
colocados em prática. Nesses laboratórios, há muita atenção à a consciência de não poluir o
meio ambiente.

7. Produção

Procura desenvolver habilidades manuais e artísticas, habilidades cognitivas e o gosto por


produzir, o que permite que os alunos tenham mais opções no mercado de trabalho e no
ensino superior e/ou técnico. Esses espaços são desenvolvidosna modalidade de oficinas, onde
os alunos, de acordo com seu nível de estudos, produzem peças utilitárias. O objetivo da
Pukllasunchis não é só que os alunos conheçam e gerenciem as técnicas de uma atividade
particular, mas também adquiram conhecimento histórico-cultural que lhes dê significado (por
exemplo, na produção de cerâmica, nos desenhos de têxteis etc.). As oficinas oferecidas são:
carpintaria, cozinha, medicina natural, cerâmica, jóias, tear e tecelagem, costura, selaria,
técnicas de reciclagem e trabalho em pedra. É importante ressaltar que nem todas as oficinas
estão disponíveis todos os anos (embora a grande maioria seja). A maioria dessas oficinas
termina com uma exposição dos produtos feitos, aberta ao público, de dois em dois
meses.Além da produção de produtos específicos, a escola também oferece workshops sobre
conceitos e trabalhos básicos relacionados à eletricidade, gás e primeiros socorros. A ideia é
que nesses espaços haja uma relação direta com o meio ambiente para que se possa resolver
problemas do dia a dia com os conhecimentos básicos.

8. Tutoria

De acordo com o trabalho de campo realizado, é uma área à qual a escola e os professores
dedicam muito esforço e tempo. Cada sala, desde o início até o último nível do ensino médio,
tem um tutor ou uma tutora, cuja função é ser a principal referência para o aluno, para o
grupo e para os pais. Para muitos tutores, o envolvimento afetivo é forte e vários têm
dificuldades de estabelecer limites entre a tutoria e a vida pessoal. Nos níveis inicial e primário,
o professor da sala de aula também é tutor. Ele passa a maior parte do tempo com as crianças
e organiza a maioria das atividades do grupo, o que lhe permite entender melhor a dinâmica
dentro da sala de aula, tanto na aquisição de conhecimento como no desenvolvimento afetivo,
emocional e de atitudes.

No nível secundário, onde é necessária uma especialização nos assuntos, o mesmo professor
não pode cuidar de todas as matérias. Nesses casos, as tutorias são distribuídas pelos
professores que ficam na escola em tempo integral e têm experiência no colégio. Os tutores
são responsáveis por cinco espaços que diferenciam a Pukllasunchis: tutoria, rimanakuy,
orientação para adolescentes, leitura e escrita por prazer e orientação vocacional (visando
estudantes nas séries finais do nível secundário). Todas as manhãs, os tutores dedicam dez a
quinze minutos da primeira hora do dia para expôr questões urgentes para a sala de aula, para
organizar responsabilidades como a limpeza da sala, a distribuição do lanche etc.

O rimanakuy é um momento em que os alunos da sala de aula se reúnem para discutir vários
tópicos ou questões de interesse do grupo, como às relações entre estudantes ou entre alunos
e outras pessoas na escola, apresentar propostas e fazer sessões de avaliação. É um espaço
importante para a Pukllasuchis, à medida que as crianças exercem o direito de expressar
opiniões e construir e formular seus pontos de vista e idéias, além de ser um momento
privilegiado para resolver conflitos em sala de aula, aberta e coletivamente.

Para estudantes de nível secundário, espaços de orientação vocacional com diálogo e uma
proposta de aconselhamento são desenvolvidos individual e coletivamente. São abordados os
seguintes tópicos: adolescência, sexualidade (ciclo menstrual, amor, gravidez, doenças
sexualmente transmissíveis, maternidade e paternidade responsáveis, aborto, abuso sexual,
identidade de gênero, questões religiosas, etc.), drogas e álcool , saúde e higiene, entre outros.

A parte de leitura e escrita por prazer é desenvolvida a partir do nível inicial, incentivando o
gosto pela leitura (embora nessa idade as crianças ainda não saibam ler) por meio de
“rincones” [algo como cantos ou “espaços”] com histórias adequadas à idade dos alunos. Da
primeira série do primário à quinta do secundário, há um tempo diário de 15 minutos
chamado "tempo de leitura". No primário, este momento é dado imediatamente após o
recreio, e no secundário, após a tutoria. As leituras coletivas são desenvolvidas e cada criança
também pode escolher um livro de seu interesse e lê-lo individualmente naquele momento.
Evita-se fazer controle de leitura e dar notas. A Pukllasunchis procura dar a esta atividade o
mesmo prestígio que tem qualquer outra atividade lúdica; procura-se mostrar que a palavra
"leitura" seja sinônimo de "diversão". No final dos estudos, a escola pretende deixar nas
crianças uma bagagem de histórias e romances considerados como "leitura obrigatória" na
literatura peruana, latino-americana e mundial. Desde 2004, a escola vem incorporando a
"escrita por prazer" (de dez a quinze minutos), que é um momento de produção de textos
breves sobre questões da atualidade, reflexões pessoais sobre o contexto atual, etc.

Material didático

Uso da tecnologia
Como a Pukllasucnhis tem uma população diversificada (estudantes de diferentes estratos
sócio-culturais e econômicos), há uma porcentagem importante de alunos que não usam ou
não têm telefone celular. Uma parte tem telefones celulares que só servem para fazer
chamadas, enviar e receber chamadas. Nas séries finais, há uma maior porcentagem de alunos
com smartphone. Nesse sentido, para os coordenadores pedagógicos, não há um uso padrão
das TIC entre estudantes dos diferentes níveis.

Por outro lado, Raúl Chiappe, coordenador geral da escola, menciona que cerca de 30% das
famílias não têm acesso à internet em suas casas e, portanto, a ausência de computadores,
tablets e outros equipamentos também é importante.

Dentro dessa realidade, a escola não pode impôr um único padrão de tecnologia. Nesse
aspecto, evidencia-se a vocação da Pukllasuchis: na proposta pedagógica prevalece a natureza,
o vínculo entre estudantes, jogos e atividades ao ar livre muito mais do que a implementação
de plataformas de estudo e de comunicação com os pais de família, uso de aplicativos para
aprendizagem infantil ou laboratórios para experimentação e criação de realidades virtuais.

No entanto, o Pukllasunchis não é uma escola que vai contra essas novas tecnologias ou a
necessidade de criar capacidades e habilidades para o uso de rejeições interativas ou virtuais.
O colégio conta com a matéria de informática em uma sala com PCs (aproximadamente 20
PCs). Na biblioteca também há um espaço com quatro PCs para realizar pesquisas
bibliográficas.

Para que a escola atenda seus objetivos de promover o aprendizado com a interação, é
proibido o uso de smartphones no nível secundário. No primeiro momento em que entram na
sala de aula, os alunos deixam seus smartphones em uma caixa destinada isso, que é guardada
pelo tutor da sala de aula ao longo do horário escolar e recuperada na saída.

O acesso à Internet via wi-fi para os professores é gratuito e os melhores espaços de sinal
(tendo em conta o tamanho da escola) estão nas salas de professores (três salas de
professores, uma para cada nível de estudos), onde também estão disponíveis PCs,
impressoras, fotocopiadoras etc.
Espaços abertos como locais de aprendizagem
O espaço natural que envolve e integra na escola contribui para implementar espaços abertos
onde o currículo de cada sala de aula é desenvolvido: para os níveis iniciais existem jogos e
estruturas para o desenvolvimento da atividade física que buscam o contato com diversos
materiais e de diferentes texturas. Para os níveis primário e secundário, os espaços vão sendo
cada vez mais abertos: o "moraycito", um espaço que copia a arquitetura do Centro
Arqueológico de Moray e serve para desenvolver atividades como o rimanakuy; a horta, onde
são ensinadas técnicas andinas de cultivo, o calendário agrícola e ritualístico de Cusco, e a
importância de cultivar produtos orgânicos, etc. Ao lado da horta, há um espaço para
reciclagem de resíduos orgânicos para conversão em fertilizantes para plantas e a granja, com
diversos animais domésticos (patos, porquinhos-da-Índia, galinhas, etc.)

Os "espaços" da sala de aula


Para os primeiros níveis de educação, há espaços diferenciados na sala de aula, nos quais as
crianças têm a possibilidade de escolher certas atividades de acordo com seus interesses e
gostos. Nesses espaços, as crianças desenvolvem habilidades e atitudes a partir de atividades
divertidas e criativas. De acordo com os tutores de cada sala de aula, as crianças determinam
os “espaços”que desejam trabalhar durante o ano. Então os implementam com os materiais
necessários e organizam-se para ocupá-los.

Para os Pukllasunchis, os “espaços” são importantes para que os professores conheçam mais
profundamente cada um de seus alunos, seus interesses, talentos, potencialidades e
dificuldades para que possam acompanhar seu crescimento de forma personalizada.
Biblioteca de sala de aula
Para os níveis inicial e primário, as salas de aula têm um espaço com vários textos, revistas,
livros de referência, dicionários, contos, histórias em quadrinhos, jornais, etc. que pode
motivar as crianças na sala de aula. O uso deste espaço pode ser no tempo de leitura por
prazer, quando a criança termina alguma atividade antes de seus companheiros etc.
Na educação secundária, a biblioteca central é muito próxima das salas de aula e, portanto,
nenhum pequeno espaço de textos é implementado em cada sala de aula, usando-se o
principal.

Biblioteca, videoteca central e brinquedoteca


Implementada com cerca de seis mil textos, organizados por áreas e especialidades. É um
localaconchegante aberto das 8 da manhã às 3 da tarde. Conta com um espaço de pesquisa
virtual, com PCs de uso exclusivo para isso. A videoteca conta com mais de 400 vídeos que
ajudam a complementar o trabalho acadêmico e com diferentes espaços para a visualização
dos vídeos.

A brinquedoteca tem vários jogos de tabuleiro que procuram contribuir para habilidades e
atitudes como concentração, memória visual, velocidade de cálculo, raciocício lógico,
habilidades motoras finas, perseverança, respeito às regras, saber ganhar e perder, percepção
e coordenação entre outras.

Estes espaços tornaram-se um recurso pedagógico muito frequente para os professores.


A configuração da sala de aula
Este aspecto atende aos critérios de funcionalidade e motivação. Para a Pukllasunchis, a sala
de aula deve ser um espaço agradável, no qual os alunos se sintam à vontade. Lá são
publicados: trabalhos de estudantes, tarefas diárias, registros de avaliação dos “mutirões”e os
“espaços” de trabalho, o registro de frequência, desafios pessoais e coletivos entre outros.
Cada tutor e grupo de alunos organiza a atmosfera da sala de aula de acordo com seu gosto,
conforto e de forma a atender às necessidades de todos.

Outros espaços e momentos de crescimento pessoal e coletivo

a. Acampamentos de integração
Crianças e adolescentes, desde a sexta série da educação primária até a quinta da secundária,
no início do ano letivo, têm dois dias e uma noite de compartilhamento e diversão na escola.
Isso é importante para o Pukllasunchis, porque nestes dias os alunos se conhecem melhor,
criam laços de amizade e proteção dos mais velhos com os menores. Entre as questões
abordadas nestes dois dias estão: discriminação, participação, consumismo, cuidado com a
escola, uso de tecnologia e corrupção, entre outros.

Os professores viram que esta é uma das atividades mais esperadas e desejadas pelos alunos
e, portanto, uma das atividades gerais mais produtivas no desenvolvimento de atitudes no
nível secundário.

b. "Dia da família puklla"


Esta atividade ocorre no aniversário da escola e procura integrar toda a família do
Pukllasunchis: estudantes, pais e professores. Geralmente são organizadas watiadas4,
caminhadas e passeios nos quais há brincadeiras diversas.

4
A Watia é uma maneira natural de cozinhar batatas e tubérculos em geral. É parte de uma
forma de entender a terra, seus frutos, o homem e o calendário ritualístico dos Andes e data da
era pré-colombiana, é muito popular em toda a região de Cusco e em outras regiões dos Andes
sulamericanos. A watia é coletiva por excelência e sua forma simples de consumo e
preparação (batata assada em um forno de barro, acompanhada de um molho picante a base
de ervas da região) diz muito sobre as culturas andinas.
c. Feira de Ciência e Tecnologia
Esta atividade é integrada aos encontros escolares de e ciência e tecnologia desenvolvidos em
nível regional e nacional.

d. Festival de Artes
Atividade anual onde as crianças que participaram durante o ano mostram seus progressos e
produções em artes plásticas, criação literária, música e teatro. O objetivo é que as crianças
exponham suas produções ao público.

d. Festidanza [Festidança]
Esta atividade é realizada a cada dois anos, e seu objetivo é fortalecer a identidade cultural da
comunidade educacional do Pukllasunchis, por meio do conhecimento e da valorização da
música e de danças da cultura andina. Esta atividade começa com a pesquisas feitas por cada
uma das séries sobre uma dança andina ou peruana e a música que a acompanha. Esta
pesquisa envolve crianças, pais e responsáveis. A ideia é compreender o significado de cada
dança por meio da sua coreografia, etapas e vestimenta, contexto e experiências da
comunidade que representa. Nesta atividade, nenhum estudante é excluído. Crianças que não
querem dançar, participam fazendo música ou de uma imagem representativa.
f. Festival da diversidade
Uma semana por ano na qual se socializa e se compartilha o mundo pessoal familiar e cultural
por meio de atividades de expressão, criação e produção sobre diversos assuntos.

g. Festival do Quechua
Realiza-se de dois em dois anos, com o objetivo de sensibilizar os alunos e os pais sobre a
importância desta língua que canaliza uma cultura andina milenar. Cada nível apresenta uma
dança, peça, dramatização ou outra criação onde expressa seus conhecimentos e sentimentos
em relaçãoao aprendizado do Quechua.

h. Jogos da amizade
Para o Pukllasunchis, a interação com outras escolas da cidade é importante. Essa atividade é
realizada por uma semana (geralmente na semana do Puklla). É um espaço esportivo onde
meninas e meninos de várias escolas privadas e públicas de Cusco participam das disciplinas de
futebol, voleibol e basquete.

i. Jogos florais
Espaço para promover o desenvolvimento da criação e a expressão escrita nos alunos por
meio da produção individual e coletiva de vários tipos de textos em torno de um tema
significativo. Também é organizado a cada dois anos e envolve alunos de todos os níveis.

j. Khipuraymi (festa da matemática)


Realiza-se de dois em dois anos com a intenção de promover a criatividade a partir da
elaboração e criação de jogos matemáticos e materiais orientados para a aprendizagem da
matemática pelo jogo.

k. Kuska (juntos)
É um espaço de trabalho coletivo, no qual todos os níveis da escola abordam o mesmo tema,
em torno do qual se trabalha dentro de cada sala de aula. Em seguida, o trabalho é
compartilhado com toda a escola, em elementos que unem os trabalhos de todos e que fazem
alusão à cultura andina: mantos incas, conjunto de quadrados contendo ideogramas etc.

O trabalho começa com a geração de reflexão coletiva por série. Como resultado desta
reflexão, cada aluno (em grupo ou individualmente) expressa seu ponto de vista sobre o
assunto, de várias maneiras: produzindo textos, desenhando, pintando, compondo músicas
etc.

l. Semana da Terra
Celebra o Dia Internacional da Terra (22 de abril). São realizadas diferentes atividades:
projeções de filmes e fóruns de vídeos, elaboração de materiais didáticos, campanhas de
limpeza, medição do impacto que cada um causa no meio ambiente etc. Trata-se de
sensibilizar os alunos para o cuidado e conservação do planeta com ações concretas.
Organização do ensino

O Pukllasunchis considera que as séries ou níveis de estudos (inicial, primário e secundário)


não se encaixam muito bem nas lógicas das crianças e dos adolescentes. Embora a escola
respeite esses níveis e adapte suas práticas pedagógicas aos padrões nacionais, o trabalho com
crianças e o uso dos espaços de trabalho e aprendizagem são organizados por ciclos. Ou seja,
os níveis inicial, primário e secundário estão divididos em quatro ciclos de trabalho:

- Primeiro ciclo: 4 e 5 anos (inicial) e primeiro e segundo ano do primário.


- Segundo ciclo: terceiro, quarto e quinto do primário.
- Terceiro ciclo: sexto ano do primário, primeiro e segundo ano do secundário.
- Quarto ciclo: terceiro, quarto e quinto ano do secundário.

Para cada série, há duas salas de aula (verde e azul), cerca de trinta alunos por sala, que são
são misturados a cada três meses ou a cada ano, de acordo com as necessidades de integração
de cada grupo.

Em cada série, há dois tutores que responsáveis, cada um de uma sala (verde ou azul). Ambos
fazem uma dupla de trabalho, coordenando e agendando atividades em conjunto.

Além das séries que os constituem, cada ciclo tem uma equipe de tutoria, docentes e um
coordenador eleito democraticamente pela equipe de professores. Essas equipes têm espaços
para organização, formação, capacitação e discussão.

A escola como um todo tem uma coordenação geral composta pelos coordenadores dos
quatro níveis e um coordenador geral.

Dentro da sala de aula


O Pukllasunchis busca sempre respeitar a individualidade de cada um de seus integrantes. Por
isso, as salas formadas por cerca de trinta estudantes são muitas vezes divididas em grupos de
15 para que o trabalho seja mais personalizado, nos aspectos acadêmicos e em termos das
atitudes. No entanto, para as tutorias e o rimanakuy, trabalha-se com as duas salas juntas. A
infraestrutura das salas de aula permite a subdivisão delas assim como sua integração.

Acreditação e validação do ensino


O Pukllasunchis, seguindo a linha da interculturalidade e da diversidade de sua proposta
pedagógica, leva em conta as individualidades em seu sistema de avaliação. Para a escola, os
estudantes passam por diferentes processos de aprendizagem que não podem ser agrupados
em padrões únicos.

Não há uma "prova final", cujo resultado pode estar sujeito a vários fatores relacionados à
escola, à família ou mesmo aos processos psíquicos de cada aluno. É por isso que a escola leva
em consideração a vida cotidiana dos estudantes, com base no seu progresso pessoal.
No início do ano, os professores elaboram uma lista de indicadores de realização para cada
capacidade (acadêmica e de atitudes). No final de cada trimestre, os alunos auto-avaliam sua
aprendizagem de acordo com cada indicador e também de seus desafios pessoais, enquanto o
professor o faz permanentemente ao longo do período de trabalho.

Esta avaliação trimestral é então compartilhada com mães e pais em uma reunião particular de
aproximadamente trinta minutos de duração (ou seja, uma maratona de reuniões muito
inetensas para tutores e professores, que dura entre uma e duas semanas) . A reunião é
baseada nas avaliações do aluno para cada área do currículo escolar e os principais destaques
delas são discutidos com os pais.

Em seguida, os professores devem fazer uma "tradução" desta avaliação personalizada, para
adaptá-la aos padrões de avaliação e acreditação do Ministério da Educação. Assim, os alunos
têm uma caderneta com as notas, o que lhes permite mudar para outras escolas e/ou certificar
a conclusão da etapa escolar para passar para o ensino superior.
PERSONAGENS

Cristina fez sua graduação na Suíça, porém nunca


Fundadora: Cristina Appenzzeller, 56 anos trabalhou como professora lá. Por isso, não
acredita ter trazido nenhuma proposta educativa
de seu país.

A história de Pukllasunchis começa quando um


grupo de mulheres pedem ajuda a Cristina para
criar um jardim de infância em um bairro na
periferia de Cusco, de uma forma diferente da
tradicional. De 1980 a 1987, ela abre seis jardins de
infância em bairros de baixa renda e na
Penitenciária Feminina de Cusco. Crisitina diz que
“nestes sete anos, aprendemos que não se
melhora a educação somente com infraestrutura.
A questão era como melhorar a forma de ensino,
por exemplo a metodologia”. A partir de 1986,
Cristina começa a buscar experiências diferentes e
em 1987 vai à Lima e visita as escolas alternativas:
Local de nascimento: Suíça La Casa de Cartón, Los Reyes Rojos e Jose Antonio
Fundou o colégio em 1988 Encinas. “Conheci as metodologias de ensino e
alguns profissionais que tinham vontade de sair de
Formação: Professora de nível inicial (estudou na
Lima e ir para Cusco. Assim, em 1988, começamos
Suíça) uma proposta alternativa, uma proposta mais
integral não só atrelada ao conteúdo acadêmico,
Observações: como foi a fundadora da escola, é a mas com formação de valores e atitudes, e que
mais indicada para contar a história do colégio. seja sobretudo uma educação para a diversidade.
Também dirige a Associação Pukllasunchis e pode Que diante da discriminação, tão forte no Peru, as
crianças das classes média e baixa aprendam a
explicar a relação entre os projetos da associação e
conviver.”
a escola. Além disso, conhece os eixos estratégicos
da pedagogia, mas apenas como prática Paralelamente, de 1983 a 1988, Cristina e uma
pedagógica, não frequenta a escola diariamente. equipe de docentes haviam realizado um estudo
sobre o desenvolvimento infantil, comparando as
Contato: +51 (84) 23 79 18 - 26 14 31 - 24 33 08 classes média e baixa. Um estudo longitudinal,
desde o nascimento das crianças (50 crianças de
classe baixa e 50 crianças de classe média), até os 5
anos de idade, de onde surgiu um contato muito
próximo com as famílias.
“Apresentamos a este grupo, em 1988, nossa
proposta educativa, e começamos conversas para
implementar a proposta. As famílias matricularam
seus filhos nesta escola prontamente. Começou
com um jardim de infância, mas no fim dessa fase
os pais queriam dar continuidade a esse projeto de
educação, aí abrimos turmas do primeiro ao
terceiro ano do nível primário, e aos poucos fomos
abrindo mais níveis. Em 2001 já havia duas turmas
para cada nível. Dessa forma, tivemos que
implementar diversas mudanças enquanto o
colégio crescia e o número de alunos aumentava.”
No ano 2000 estabelecem-se no terreno atual da
escola.

Modelo econômico da Pukllasunchis:


Cristina ressalta que o colégio nunca gerou um
único Sol de lucro. “Acreditamos que a educação,
quando bem feita, não é um negócio, não é
rentável.” Apesar desse fator, houve um grande
avanço nesse aspecto. No começo, os pais arcavam
com 30% dos custos da escola enquanto os outros
70% vinham de dinheiro arrecadado na Suíça por
meio de uma fundação criada por Cristina. Hoje em
dia, os pais financiam 90% dos custos com 10%
ainda sendo subsidiados.

Formação dos professores:


Os professores em Pukllasunchis têm a
possibilidade de fazer cursos de treinamento
durante o ano todo. Eles podem, inclusive, fazer
cursos fora de Cusco. Há uma atualização
permanente. “Um professor que não quer
aprender sempre não pode ser um professor
puklla”. E é aí que o Pedagógico Pukllasunchis (um
projeto da Associação de mesmo nome que se
dedica à formação de docentes com metodologias
alternativas) tem um papel importante. Também
em fevereiro acontece um programa intensivo de
capacitação com todos os docentes da escola.
“Esse treinamento contínuo, não é só acadêmico,
do conteúdo curricular; é um treinamento de
atitudes, da vocação docente”, aponta.

Dificuldades do projeto educativo:


Cristina diz que no início os pais não entendiam
bem a lógica e a metodologia Pukllasunchis. “Mas
agora a educação tomou esse rumo: pensar a
educação como uma questão de valores. Então
hoje em dia, pelo menos no papel, a proposta do
Pukllasunchis já não difere muito da proposta
curricular nacional.”

Adequação ao currículo nacional:


Cristina explica que, até poucos anos atrás, nunca
houve nenhum tipo de supervisão. A escola
sempre teve bastante liberdade para implementar
sua proposta educativa. Mas agora, com as
políticas nacionais de educação, há uma ânsia em
se avaliar e supervisionar as escolas públicas e
privadas. Mas é uma política que cria um ambiente
tenso e desfavorável.
Por um tempo, a Pukllasunchis foi muito próxima
do Ministério da Educação e da Diretoria Regional
de Educação. De 1998 a 2001, a Pukllasunchis
realizava um programa de capacitação a
professores da educação infantil e dos ensinos
fundamental e médio. Nessa época, a escola foi
muito próxima do Ministério. Hoje em dia o
vínculo é menor, mas sem afetar a boa relação
entre os dois. Esse ano recebemos 95 bolsas de
estudos para estudantes de educação primária.
Existe um posicionamento do Pukllasunchis em
nível local, nacional e internacional.

O Pukllasunchis cumpre com todas as exigências


do Ministério de Educação e adequa seu sistema
educativo às normas nacionais: matérias, carga
horária, notas etc.

Como se inova no Pukllasunchis?


O vínculo humano e o afeto são o carro-chefe do
programa inovador da escola. A partir dessa base
se originam os quatro eixos estratégicos da escola.
“Isso significa que os professores são mais
exigidos, e nem todos se saem tão bem, por isso o
trabalho é contínuo.”

Professora 1: Evelyn Guzman, 48 anos Evelyn se formou em educação artística, mas não
queria necessariamente seguir esse caminho.
Porém, ao fazer a entrevista para a escola
Pukllasunchis, ficou muito interessada na proposta
educativa e assim sua vocação aflorou.

Formação contínua:
O Pukllasunchis dá treinamento aos professores,
além de oferecer estágios e cursos em outras
cidades e países. Para Evelyn, no final das contas,
isso resulta em uma capacidade e prática
profissional de querer se capacitar ou não.

Evelyn conta que, no segundo semestre desse ano,


houve uma virada em relação à equipe da
coordenação geral, por causa do delicado estado
de saúde de Raúl Chiappe, que era o coordenador
Local de nascimento: Cusco, Peru
geral até então. A partir desse momento, Evelyn
Um filho, divorciada. passou a ter uma carga horária maior na gestão
Formação: professora de arte, com alguns cursos pedagógica. Por isso, não pode mais participar dos
em educação. estágio e cursos oferecidos no Instituto Superior
Professora do primeiro ao quinto ano do nível Pedagógico Pukllasunchis.
secundário (de 12 a 17 anos)
Ministra a matéria artes plásticas. Carga horaria: de 8h às 11h30 na escola, todos os
Há 22 anos trabalhando no Pukllasunchis. dias. Fica até as 17h30 dois dias com os outros
professores.
Observações: É tutora do quarto ano do
secundário e atualmente coordena as turmas do Evelyn dá aula de arte no nível secundário. A carga
horária do curso é de 14 horas. Dá duas horas de
nível secundário.
tutoria no quarto ano do nível secundário. Em
seguida vem o trabalho de coordenação, que tem
Contato: evelynguzman.puk@gmail.com o dobro da carga horária das aulas (28 horas
aproximadamente) do total das horas em que está
na escola. Pode-se dizer que, em média, Evelyn
trabalha na escola por 8 horas e meia de segunda a
sexta.

Com esta carga horária, Evelyn acha que não é


possível trabalhar em outra escola. Sobre esse
assunto, a professora lembra que quando
trabalhou por um ano em uma escola pública, a
experiência foi frustrante “...pelas poucas
possibilidades de se contribuir, por este sistema
que está corroído, onde as crianças são o que
menos importa, o que para mim, como educadora,
era extremamente incômodo”.

A rotina da escola:
Entramos na escola, no mais tardar, às 7h50 e
prontamente começamos a tutoria até as 8h10;
que é um momento para leitura e para se
organizar um pouco o dia. “Em seguida, se eu não
estiver dando aula, discutimos entre os
coordenadores assuntos relacionados à minha área
de coordenação”

Metodologia:
“Acredito que em geral o Puklla propõe que os
alunos construam seu aprendizado, o que significa
que o professor não é o protagonista. Dessa forma,
minha metodologia é preparar uma aula que lide
primeiro com os interesses deles. Eu sempre digo,
‘vamos detonar a bomba e então vemos o que
fazer com isso’. E então proponho assuntos e
matérias com os quais eles começam a trabalhar.”
Nos últimos três anos, Evelyn tem tomado como
ponto de partida o calendário festivo, climático e
agro-ritualístico da cidade, onde há eventos
bimestrais (festividades andino-religiosas, desfiles,
comemorações, tempo de “secas”, etc.) e ela
considera que essas festividades não podem ser
desconectadas do conteúdo abordado na escola.
“E para as atividades de artes é muito rico, você
pode ensinar a fazer pipas para a estação de
ventos, que é em agosto, e também fazer
esculturas pequenas que voem com as pipas e, a
partir daí, você desenvolve as habilidades e
competências do currículo.”
As atividades pedagógicas são organizadas
semanalmente, e geralmente são as próprias
disciplinar que as planejam. No caso de Evelyn é a
área de artes, de forma que todos estão cientes do
que será desenvolvido em cada especialidade
(teatro, música, etc.). Durante o ano há projetos
desenvolvidos em conjunto com outras disciplinas.
No entanto, ela considera que há alguns anos a
conexão e a relação com as outras disciplinas eram
muito mais frequentes. Talvez isso tenha ficado
subentendido nos últimos anos, pensa.
Evelyn tem um caderno onde registra quase todas
as suas atividades pedagógicas e se considera uma
pessoa de sorte por poder trabalhar com grupos de
15 alunos no máximo, o que resulta em um
trabalho interessante. Nesse caderno, ela anota
todas as conquistas de seus alunos. Por isso não
precisa fazer avaliações pontuais para aferir o
progresso de cada um. “Se pudéssemos abolir as
notas, todos nós no Pukllasunchis ficaríamos
felizes. Um número não reflete o esforço de um
aluno… fazemos uma avaliação qualitativa (a cada
três meses) que nos mostra quanto cada aluno
evoluiu. É um trabalho que demanda muita
energia, porque você tem que pensar em cada um
dos seus alunos e enumerar todas as suas
conquistas, com base nas competências que você
propôs. Então é uma avaliação individualizada,
tanto em termos de conteúdo quanto das
habilidades, competências e atitudes que os alunos
vão adquirindo. Paralelamente eles fazem uma
auto-avaliação, baseada nos desafios propostos no
começo do ano. Tudo isso nos dá material e na
minha opinião é a melhor forma de se trabalhar.
Mesmo que seja cansativo."

Inovação da prática pedagógica:


Evelyn lamenta que o governo não dê abertura
para escolas inovadoras como a Pukllasunchis. Ela
não trabalharia em outra escola. Quando esteve
fora da escola não se dedicou à educação, pois
sente que esta escola é um espaço especial que lhe
permite “voar”, propor, e que tanto os alunos
quanto a equipe pedagógica estão em sintonia. “E
por isso é um espaço tão bom para testar ideias
diferentes, o que não é possível em escolas mais
formais.”
Evelyn está sempre buscando atualizar suas
próprias práticas pedagógicas. “Quando você está
envolvido em educação seu trabalho não termina
quando as aulas terminam. Você está sempre
pensando e avaliando o que aconteceu na escola.
Isso não é normal! (risos) Mas é assim. Mesmo que
não haja tempo, você dá um jeito. Pode até ser na
hora do almoço.” Ela gosta muito dos espaços
coletivos que foram criados, como a “Kuska”, que
são momentos de integração de todos os três
níveis de ensino da escola ao redor de um só tema.
“A intenção é que um só tema integre desde os
alunos de quatro anos de idade até os alunos do
último ano do ensino médio. Já trabalhamos com
os cinco elementos, personagens históricos como
Micaela Bastidas ou José María Arguedas. E isso
nos dá a possibilidade de sermos criativos na
abordagem do tema. Como fazer com que tanto os
alunos novinhos até os mais velhos se comovam
com o mesmo tema? Como abordá-lo por
diferentes áreas: da matemática, como você
propõe sua estratégia para falar sobre Arguedas,
por exemplo, e faz com que isso seja interessante
para os alunos? É um trabalho de mais ou menos
dois meses, dependendo do assunto, e a conclusão
são os trabalhos coletivos que você viu.” Evelyn diz
que costumavam realizar dois kuskas por ano mas
que esse ano só vão fazer um. O tema será "a
escola". Ela acha que com o tempo algumas
práticas vão se desgastando. “Eu estou na escola
desde a primeira aprovação, e existe essa mística
do que é “ser puklla”, que era muito clara para os
alunos. Tenho certeza que a maioria dos alunos
tem essa sensação. Essa Kuska vai permitir essa
reflexão, sobre para onde estamos indo.”

Pukllasunchis versus modelo tradicional:


Do ponto de vista dela, as diferenças fundamentais
entre o Pukllasunchis e um colégio tradicional são,
em primeiro lugar, o protagonismo dos alunos em
sua aprendizagem. Na escola tradicional as estrelas
são o professor e o quadro-negro. Em segundo
lugar, a questão do afeto, que ela acredita mover o
Pukllasunchis e que não está presente em outras
escolas.
"Quando você tem uma conexão emocional com
uma criança, você pode realizar qualquer coisa
com ela, mesmo nas habilidades que a criança não
acredita ter." Outro aspecto é que detalhes como
marchar em festas nacionais, fazer treinamentos
na escola, o uniforme, acabam tendo mais
importância nas escolas tradicionais, do que a
diversão, os espaços para troca. “Todos esse
enfoque da escola formal em criar bons cidadãos
pesa muito; e acabam perdendo de vista o mais
importante. Eu vi um inspetor que fazia com que
as crianças se ajoelhassem sobre chapinhas de
garrafa, por terem se atrasado. Até que um deles
disse ‘O que é isso?, É assim que querem que eles
se tornem boas pessoas depois?”. Por outro lado,
Evelyn percebe que existem professores das
escolas tradicionais que estão tentando fazer
mudanças.

Relação com os alunos:


Evelyn considera fascinante poder entender e
conhecer o mundo de cada criança ou adolescente.
Prefere trabalhar com crianças “difíceis”, com
crianças que não se encaixam em nenhuma área. E
acredita que sempre existe uma maneira de se
conectar com eles, o que lhe deixa feliz.
Em geral ela sente que estabelece uma relação de
bastante cumplicidade e respeito com seus alunos.
Sente que os alunos sabem "se colocar bem", e se
sentem à vontade para procurar seus professores e
dividir com eles problemas pessoais. Para Evelyn,
esse tipo de relação diz muito sobre o nível de
conexão que é estabelecido.
Para manter seus alunos motivados, Evelyn
acredita ser fundamental saber escutá-los.
Entender o que querem e como se sentem. Porque
entende que nem sempre eles vão estar no seu
melhor momento. E nesses momentos não se pode
fazer nada. Lembra que uma vez ela levou pão
para seus alunos, um pão que ela mesma havia
feito, como forma de motivação. Dessa forma, ela
considera que nem sempre vai motivar seus alunos
com um vídeo ou um jogo (que seria o mais
convencional, e que ela mesma já fez), mas com
outras coisas que podem ajudar a abordar um
determinado tema. Destaca também que tudo
pode ser um recurso pedagógico “A capacidade do
professor está justamente em transformar
qualquer coisa em um recurso educativo”.

Evelyn deseja que seus alunos possam fazer o que


quer que queiram fazer no futuro e que sejam
felizes. Sua escola dos sonhos seria muito parecida
com a Pukllasunchis, mas com professores ainda
mais comprometidos. Acha que, como os
professores foram educados de acordo com o
sistema tradicional, talvez ainda exista resquícios
desse formato em sua pedagogia “educam como
os educaram”.

Muito cedo, Oscar já entende que sua vocação é


Professor 2: Oscar Espinoza, 52 anos ser professor. Isso acontece alguns anos antes de
terminar a escola, que é quando começa a
trabalhar com crianças. Aos poucos, ainda
trabalhando no mesmo lugar, percebe que quer
estar sempre em contato com jovens e ensinar.
Oscar exerce outra atividade fora da escola, que
não considera um trabalho, mas sim uma atividade
de lazer. Tem um grupo de teatro (Teatro Partem)
que existe há quatro anos, e onde faz trabalhos
“um pouco mais sérios” nas palavras de Oscar. É
um trabalho de laboratório, de criação teatral. E
para ele esse espaço o ajuda a refletir sobre o
trabalho como professor que desempenha no
Pukllasunchis.
Local de nascimento: Cusco, Peru
Dois filhos, vive com seu cônjuge Metodologia:
Formação: artista plástico e professor de teatro. A aula de teatro de Oscar se divide em três partes.
21 anos trabalhando na Pukllasunchis. A primeira é lúdica. Nos familiarizamos com o
Professor de teatro e tutor do quarto ano do nível teatro através de brincadeiras. Em seguida há um
secundário trabalho de criação, no qual os estudantes
constroem suas histórias aos poucos. E a etapa
final é a montagem de uma peça. Outro aspecto
Observações: Coordenador das turmas do 7o ano que consideramos é não utilizar nenhum adereço.
do Ensino Fundamental ao último do Ensino Trabalhamos sempre com a imaginação. Na aula só
temos cubos para nos sentarmos, sem nenhum
Médio.
outro elemento adicional. “Nossa imaginação é um
músculo que deve ser exercitado”.
Contato: oscarespinoza.puk@gmail.com
Em relação a seu trabalho como tutor,diz que
consiste em acompanhar e estar atento aos
alunos; trabalhar as atitudes dos alunos e também
todas as suas necessidades. É um trabalho diário e
permanente. Temos alguns “mutirões” que temos
que ajudar a organizar como o da limpeza, o da
organização e o do lanche. Os tutores também se
reúnem com os pais para conversar sobre o
desenvolvimento das crianças e para organizar
(junto com os alunos) as viagens anuais, previstas
de acordo com as séries. As crianças acampam
desde o infantil até o final da escola.
Assim como os alunos, os professores no
Pukllasunchis têm histórias de vida distintas. Não
há um modelo de professor em uma escola
inovadora. Oscar conta que sempre trabalhou com
crianças. Começou a ensinar teatro antes de
terminar a escola (aproximadamente aos 16 anos).
Trabalhou em escolas de educação infantil, na
escola religiosa “Santa Rosa”, e também com
crianças em situação de risco, na organização
“Qosqo Maki”.
Oscar diz que os professores dedicam o mês de
fevereiro a planejar o ano pedagógico. Nessa
época se definem os temas principais a serem
abordados nos diferentes níveis e áreas de estudo.
Os professores das áreas de artes trabalham mais
ou menos em um mesmo esquema em geral os
outros professores se organizam da mesma forma.
Depois do planejamento geral anual ser feito, logo
no começo do ano, o trabalho de cada mês é
planejado semanalmente. Isso significa que, para
cada matéria, o professor responsável faz um
planejamento semanal e esse trabalho, para Oscar,
é bastante pessoal; já que existem várias
“especialidades” de arte (artes plásticas, criação
literária, música e teatro) e, portanto, são
linguagens muito diferentes entre si. Mesmo
assim, há troca entre os professores. Por exemplo,
quando há uma apresentação de final de ano. Os
alunos de música trabalham a música da
apresentação, os de artes plásticas ficam
responsáveis pelo cenário, criação literária escreve
o texto e os alunos de teatro encenam a peça.
Mesmo que às vezes haja dificuldades, sempre
tentam articular os trabalhos dessa forma.

Para avaliar o desenvolvimento de aprendizado de


seus alunos, Oscar entende os resultados ficam
mais claros a longo prazo, quando as crianças
estudam e são felizes. De qualquer forma, ressalta
que há uma exigência do Ministério de Educação e
por isso ele deve lançar notas apesar da equipe
pedagógica não estar de acordo com essa forma de
avaliação. Apesar disso, em linhas gerais, existem
dois aspectos que são avaliados: o aprendizado do
conteúdo acadêmico e as mudanças em atitudes,
valores e na relação com os colegas. Foi possível
estabelecer alguns pontos de consenso entre os
professores para as avaliações nesse sentido. Por
isso, o Pukllasunchis tem dois momentos de
entrega do “boletim”: um primeiro momento, que
Oscar considera o mais importante, é o que diz
respeito à atitude do aluno. Quando você se senta
com os pais e o aluno e conversa sobre como eles
vêem a criança e seu progresso. Algumas semanas
depois, entregam as notas (avaliação quantitativa
que os professores de Pukllasunchis querem
abolir).

Pukllasunchis versus modelo tradicional:


A diferença principal que Oscar vê no
Pukllasunchis, em relação a sua experiência prévia
em outros espaços, é que o Puklla confia em seus
professores desde o começo, o que para ele é
muito importante. Em segundo lugar está o fato de
que não há hierarquias na escola. Ele conta que a
relação com a coordenação geral é sempre muito
próxima. Sente que pode fazer experiências em
sua prática pedagógica.
Apesar disso, há algumas dificuldades ao entrar no
corpo docente da escola Puklla. Por exemplo,
Oscar tinha dificuldade, logo no início, com o
trabalho de planejamento. De ter que organizar
cada sessão de aula. “A verdade é que não gosto
de escrever, de colocar no papel os passos que vou
seguir. Acredito que muitos artistas, assim como
eu, se identificam mais com um trabalho intuitivo,
que sempre busca algo para motivar, provocar,
para tornar as coisas mais interessantes, não?

Inovação na prática pedagógica:


Para Oscar, se não há tempo para atualizar a
prática pedagógica e refletir sobre ela, é preciso
criá-lo. Mesmo que não exista um momento
dedicado a isso, os professores devem refletir
constantemente sobre seu trabalho. Oscar acredita
que a maioria dos professores da escola
desenvolveu esse hábito.
Ele diz que no Pukllasunchis nunca se para de
trabalhar mesmo que haja um horário de trabalho.
Os finais de semana não são de desconexão com o
trabalho, já que está constantemente pensando na
programação para a semana seguinte, ou em como
fazer para despertar interesse em um tema
específico, etc. “Uma das coisa que eu compreendi
é que eu gosto desse trabalho, eu gosto de
ensinar, e quando algo dá prazer você não deixa
para depois.”

O que mais o motiva como professor é poder


conversar com os alunos, pois é nesse momento
que eles dividem com Oscar sugestões de aspectos
que consideram importantes e que podem
melhorar seu trabalho. Por isso, para ele, a relação
com os alunos é de suma importância. “Quando
você reconhece os alunos como seres humanos,
como pessoinhas, eles também vão te reconhecer
como um igual e é aí que está a riqueza desse
trabalho”, “As crianças percebem a atitude de seus
professores, então, isso é suficiente. Muitas outras
coisas podem motivar os alunos mas o mais
importante é sua atitude com eles”. Oscar
considera muito positivo chegar cedo à escola e
esperar os alunos na sala de aula para recebê-los,
ou perguntar se eles estão bem. “É o trabalho de
escutá-los e ser sincero na sua preocupação com
eles. Isso é o principal. Depois podemos encontrar
muitos recursos pedagógicos, mas o importante é
como você os recebe. Não tem que estar feliz
sempre. Esperar os alunos também pode ajudar
você mesmo a superar um problema seu e a estar
mais bem disposto.”

Dificuldades na inovação:
Uma das maiores dificuldades é que muitas vezes
os pais não estão em sintonia com a dinâmica de
trabalho da escola. Ele entende que é difícil para os
pais já que muitos trabalham o dia inteiro, tem um
ritmo de vida diferente, etc. Outra dificuldade para
Oscar é o aspecto financeiro. Os salários de
professor são baixos. “Eu gostaria de ler mais, por
exemplo. Não encontro aqui em Cusco a
informação necessária para meu nível profissional.
Mesmo quando encontro um livro a preço
acessível na Espanha o custo de envio ao Peru faz
com que o preço final seja proibitivo.”

Oscar deseja que seus alunos sejam felizes no


futuro. Felizes e não produtivos, porque acredita
que é o lado humano que faz diferença.
Para Oscar a escola dos sonhos é a Pukllasunchis.
“Gostaria de ter estudado em uma escola assim.
Estudei em uma escola pública, e lá eu não era
uma pessoa, era um número”. Reconhece que há
melhoras a serem feitas na Pukllasunchis, como a
sintonia com os pais, já mencionada.
Entra no Pukllasunchis com alguma experiência já
Professora 3: Liliana Tapia, 52 anos que antes havia trabalhado em uma escola privada
tradicional. E imediatamente começa a lidar com
alunos diferentes, com uma relação horizontal.
Isso a surpreende ao mesmo tempo em que a
motiva e nesse momento sua vocação de
professora começa a se desenvolver.

Ao longo dos anos em que lecionou no


Pukllasunchis, ensinou química, biologia e física, e
agora está ensinando matemática. Fica feliz de ver
seus alunos contentes mesmo ensinando matérias
complicadas e pouco populares. “O interesse do
aluno pela aula depende de você; quando gostam
do professor, as crianças aprendem com
facilidade” diz.
Local de nascimento: Cusco, Peru
Pukllasunchis versus escola tradicional:
Estado civil: divorciada
Ela gosta da forma como a escola trata os alunos,
Dois filhos (18 e 15 anos)
em relação aos valores e às atitudes, que foi o que
Seus filhos estudam no Pukllasunchis
mais a fez crescer como professora. Em sua
É professora de matemática do nível secundário e
experiência nas escolas tradicionais, vivenciou
tutora do primeiro ano do nível secundário
muitos maltratos. Chega à conclusão de que, para
educar uma criança, você deve tratá-la com
Formação acadêmica: Licenciada em Química
carinho. “Quando você dá carinho e amor, as
Entrou no Pukllasunchis com esse perfil há 26
crianças aprendem com facilidade.”
anos. Antes de ser professora trabalhou em uma
empresa de cerveja.
Formação contínua:
Fazemos cursos de capacitação anualmente e em
fevereiro acontece uma capacitação intensiva com
Contato: lilianatapia.puk@gmail.com professores daqui e de fora. Em geral temos tido
sucesso.

Planejamento de ensino:
Liliana nos explica que existem duas formas de se
planejar, uma é a de ciclo (primeiro e segundo ano
do nível secundário) considerando valores e
atitudes e a outra considerando a matéria para
reforçar o conteúdo. As tutorias sempre
acontecem com uma dupla de professorespara
cada série.
Os professores se reúnem às terças e quintas.
Nessas reuniões fazem o planejamento mensal
geral e para os ciclos, de forma que todos os
professores estão sempre a par dos objetivos
mensais.
Atualmente ensina matemática (que ocupa uma
carga horária grande) e ciências naturais, para o
primeiro e segundo ano do secundário.

Metodologia:
Não há uma forma única para as matérias. Diz que
seria fácil fazer um programa único, baseado nos
muitos anos de experiência no Pukllasunchis; mas
que ela prefere analisar o grupo de alunos primeiro
e assim ir definindo sua metodologia. Identifica as
crianças com dificuldade de aprendizagem, no
trabalho de tutoria, o que a ajuda a conhecer
melhor seus alunos. “Quando você ensina uma
matéria e também é tutor, conhece melhor seus
alunos, não só o lado acadêmico, mas também o
emocional. Um professor que leciona e que
também faz o trabalho de tutoria é um professor
mais completo, na minha opinião”, afirma.
Ela avalia os estudantes com dificuldade de acordo
com seu progresso pessoal e procura desenvolver
tarefas mais adequadas ao ensino deles.

Inovação em sua prática pedagógica:


Liliana acredita que inovar constantemente suas
metodologias e práticas é uma necessidade, já que
tenta constantemente personalizar sua prática de
ensino. Isso faz com que trabalhe fora da escola,
além de sua carga de aulas e reuniões.

Relação com os alunos:


Liliana se sente motivada pelo compartilhamento
de experiências com os alunos. Esse é o ponto de
partida para que possa orientá-los, para daí eles
poderem se desenvolver e crescer pessoalmente.
“A possibilidade de influenciar de alguma forma o
crescimento dos alunos é algo que me motiva a ser
professora, pois vejo um potencial enorme neles”
Rotina diária:
Aluno 1: Fabián Andrés Arenas Lopa, 16 anos Fabián se levanta todos os dias as 6h30. Às vezes
prepara seu próprio café da manhã, outras vezes,
sua mãe o faz, dependendo de quão atrasado ou
ocupado cada um esteja. Toma banho, apronta-se
e pega o transporte público “Servicio Andino”, bem
perto de casa. Desce no ponto “Enaco” e de lá
caminha 10 minutos até a escola. Tem que sair de
casa ás 6h50 para chegar antes das 7h50 que é a
hora de chegada na escola. Quando se atrasa tem
que pegar outros dois serviços de transporte que
cortam caminho.
Sai da escola ás 14h30. Ultimamente tem passado
os finais de semana fazendo passeios de bicicleta
com seu tio, como ir da cidade até o distrito de
Chinchero (a cerca de 25 km).
Local de nascimento: Cusco, Peru. Fora da escola faz aulas de capoeira na academia
Série: quarto ano do secundário. de artes marciais “Tora”. Também gosta de break
Mora na zona de Picchu Alto, no Barrio de San dance mas o que mais gosta de fazer é dançar a
Isidro. Marinera Norteña. Aprendeu a dança na cidade de
Mora com sua mãe, sua avó e seu irmão mais novo Quillabamba (214 km de Cusco), mas não
(Joaquín, 8 anos), na casa de seu avô. “É um pouco encontrou um grupo de dança em Cusco.
apertado, mas nos acostumamos”, diz. Também gosta de escrever músicas e de tocar
Fabián tem seu próprio quarto. Seu irmão mais violão.
novo dorme no quarto da sua mãe e a avó também Faz algumas tarefas domésticas, mas isso não
tem o próprio quarto. A casa tem uma sala e uma ocupa todo seu tempo livre.
cozinha. Fabián diz que ajuda muito com os trabalhos
O irmão mais novo de Fabián também estuda no domésticos e com a lanchonete que sua mãe está
Pukllasunchis. abrindo. Ele ajuda na preparação dos
hambúrgueres e no transporte dos ingredientes.
Observações: às vezes é meio distraído. Estudou Depois volta a fazer as tarefas domésticas.
em escolas tradicionais. Na adolescência voltou à
Pukllasunchis. Histórico escolar:
Fabián entrou na escola no primeiro ano do
primário e ficou até o segundo, quando se mudou
Contato: +51 969237702 / 996157634 (mãe, Sra. com sua mãe e seu irmão para Quillabamba. Lá
Hortensia) estudou em uma escola tradicional do terceiro ano
do primário ao segundo do secundário. Com o
tempo Fabián se acostumou com a escola
tradicional e com a vida em Quillabamba (um vale
a 1.050 metros de altitude e temperatura média de
24o C), mas diz que sempre sentiu falta do
Pukllasunchis. Por isso, quando voltam para Cusco,
Fabián diz para sua mãe “mãe, se vai me matricular
em alguma escola, que seja na Puklla. Não
esqueça, puklla, puklla puklla!”. Apesar disso sua
mãe o matriculou na escola “Luis Vallejos
Santoni”.Em menos de um ano mudou para o
Pukllasunchis. Foi difícil entrar de novo na escola
porque existe grande demanda de matrículas.
Apesar disso, por ter estudado no Pukllasunchis
anteriormente, lhe deram preferência. “Não é fácil
que aceitem você porque eles têm outra ideologia.
Você tem que estudar lá desde o começo porque
quando você entra em uma série no meio o
conteúdo é muito diferente das outras escolas
(tradicionais)… Mas quando souberam que eu era
ex-aluno me aceitaram!”

Pukllasunchis versus escola tradicional:


No começo não gostou muito das escolas
tradicionais em Quillabamba, mas aos poucos se
adaptou. Estudou em muitas escolas quando
morou lá.

Quando Fabián tinha 6 anos e ia começar o


primeiro ano do primário, sua mãe começou a
pesquisar instituições de ensino e uma amiga sua
falou do Pukllasunchis. Ela foi conhecer a escola,
ficou encantada com a proposta de ensino e
decidiu matricular Fabián.
Para ele, ter entrado na Puklla foi o melhor que
poderia ter acontecido. “Você entra lá para formar
uma vida! Essa é a Puklla. (em outras escolas) Você
estuda a vida inteira para entrar na faculdade; mas
na Puklla te ensinam a ser uma pessoa.” Lembra de
seu professor do primeiro ano, David, como um
amigo e professor e como alguém que influenciou
muito a sua vida.
Fabián vê muitas diferenças entre a Pukllasunchis e
as escolas tradicionais por onde passou.

Seu processo de aprendizado:


Teve dificuldades com Comunicação e Matemática.
Acha que os professores eram o problema.
Lembra-se de um professor que “escrevia e
escrevia no quadro negro e eu não entendia nada…
Mas aqui não tive dificuldades de aprender”.
Fabián conta que quando se mudou de
Quillabamba para Cusco seu rendimento escolar
diminuiu porque acha que a Pukllasunchis
diferente de outras escolas. Sente que existe a
possibilidade de cada um assumir as
responsabilidades e a aprendizagem na escola.
“Esperam que você tome a iniciativa, que você diga
‘vou fazer isso agora!’”. Quanto à “falta de
obrigação”, ao voltar à Pukllasunchis, Fabián não
sentiu a pressão da obrigação de fazer os deveres e
estudar para as provas, não se viu ameaçado pelos
professores e por isso não assumiu a
responsabilidade de estudar por si só e acha que
por isso seu rendimento caiu. Nesse sentido,
Fabián destaca: seu desempenho caiu porque não
assumiu a responsabilidade de estudar, não
porque o conteúdo seja complicado. Sua reflexão é
sobre sua atitude e não sobre a dificuldade das
matérias. “Na aula de matemática, por exemplo,
disseram-me que o dever era opcional. No começo
eu fazia e tudo bem, mas depois pensei ‘eu sei
matemática’ e fui deixando de lado, até que na
prova eu tive uma surpresa: ‘o que é isso? Eu não
estudei isso!’. Fui mal na prova e percebi que era
uma questão de autonomia.”

A vida na escola:
Chega às 7h50, os professores já estão na escola
para dar boas-vindas a todos os alunos, eles
conversam com os alunos, perguntam “Como você
está? Está tudo bem?" O que Fabián acha “muito
bacana!” porque se sente à vontade para abraçar
os professores, contar a eles o que está
acontecendo. Em seguida eles vão para a sala de
aula e se sentam em um círculo com o tutor.
Chama-se “rimanakuy”. Conversam sobre a escola,
leem textos juntos, falam sobre algumas questões
da série, etc. E então começam com as matérias.
Fabián diz que agora o Ministério da Educação
exige que os tempos da escola sejam de 45
minutos. Algumas aulas podem tomar dois tempos,
o que dá 1h30. A maioria das aulas dele são de 45
minutos.
O que Fabián mais gosta de fazer na escola é
passar tempo com seus amigos, jogando basquete
por exemplo, ou nas aulas de arte (que é do que
mais gosta, depois do recreio). Sente que os
amigos da escola são especiais, são diferentes. Ele
se sente mais querido aqui do que nas outras
escolas onde estudou, onde não teve um grande
amigo, um "patasa" (na gíria jovem do local). Além
disso, em Pukllasunchis, reencontrou alguns
amigos que tinha feito quando estudou na escola a
primeira vez.

Para Fabián, o aprendizado mais importante da


escola, fora as matérias tradicionais como
matemática e comunicação, é que se aprende a ser
uma pessoa. “Você se conhece, entende o que
você sente... Não é só o conteúdo acadêmico, mas
você aprende a ser uma pessoa.” E é esse
aprendizado que Fabián acredita que vai levar da
escola para toda a sua vida. “Vou levar a relação
com os professores, o sistema de ensino, o lugar...
Tudo da escola.”
Ultimamente, tem passado os recreios jogando
basquete com seus amigos. “Embora hoje meus
amigos estejam ensaiando uma dança para uma
apresentação que vai ter aqui no final do ano,
quando mostramos o que aprendemos nas aulas
de artes e música por exemplo."

O sonho de Fabián para o futuro é ter uma família,


dois filhos e ter uma profissão. Quer estudar para
ser psicólogo ou professor do secundário. Fabián
não está convencido de que o Pukllasunchis o
preparou para a universidade. Considera que está
mais preparado como pessoa (com valores) do que
no lado acadêmico.

Rotina diária:
Aluna 2: Samanta Puma Usca, 12 anos Acorda às 5h30. Ajuda sua mãe a preparar o café
da manhã de todos (incluindo seu tio, que está
trabalhando em uma obra comunitária de
instalação de água potável), apronta-se e sai para a
escola às 6h30. Pega o ônibus público “Señor del
Huerto” até o ponto da Escola Garcilaso (distrito
de Wanchaq), de lá pega qualquer ônibus que siga
pela avenida La Cultura em direção a San
Jerónimo. Desce em “Enaco” e anda dez minutos
até a escola. Chega às 7h50 no máximo, que é a
hora limite de entrada na escola.
Fica na escola até 14h30, que é o horário de saída.
Daí faz o caminho de volta até “Enaco” a pé,
segueaté o ponto do Colegio Garcilaso, onde desce
para tomar o ônibus público “Señor del Huerto”,
Local de nascimento: Comunidade rural de que a deixa perto de sua casa. Chega em casa
Yuncaypata, Cusco, Peru depois das 15h30, almoça e descansa um pouco.
Série: Primeiro ano do secundário. Depois começa a fazer os deveres, o que em geral
Vive na comunidade de Yuncaypat com a mãe e a leva uma hora e meia.
avó. Não tem muitas atividades à tarde. Ela faz o dever
de casa e quando é sua vez (em geral, uma vez por
Observações: mora em uma zona rural próxima da semana) vai para o pasto ajudar a recolher as
cidade de Cusco ovelhas da família e dos vizinhos.
Não tem irmãos, tem meios-irmãos (um bebê, a Gosta de ler, de escutar música, de brincar de
irmã mais nova estuda na escola Clorinda Mato de esconde-esconde, de polícia e ladrão e de pular
Turner e o outro irmão mais novo mora em Lima corda.
com a mãe e o padrasto). Ajuda nas tarefas domésticas: no café da manhã,
sempre arruma seu quarto, às vezes lava a louça e
arruma a casa.
Contato: +51 976641893 (mãe, Sra. Purificación)
História escolar:
Samanta estuda na Pukllasunchis desde os cinco
anos. Apesar de nunca ter estudado em escolas
tradicionais, imagina como elas devem ser por
causa dos relatos de suas primas e de suas amigas
na comunidade Yuncaypata, que estudam na
escola pública “Clorinda Mato de Turner”...“Eu sei
como é essa escola. Eles lhe dão muitas tarefas
que você precisa fazer de um dia para o outro. Se
você não fizer, eles brigam. Eles brigam por
qualquer coisa". Quando Samanta terminou o
jardim de infância na escola da comunidade, sua
mãe começou a procurar escolas em Cusco. Uma
prima recomendou a escola Pukllasunchis, onde
sua filha estava estudando. A mãe de Samanta se
convenceu a matricular a filha lá porque, entre
outros motivos, procurava uma escola que não
fosse tão rígida.

Seu processo de aprendizagem:


Há alguns anos tinha dificuldade em matemática,
mas se esforçou e conseguiu superá-las.
As matérias não convencionas que aprende na
escola são o quechua, oficinas de cerâmica e
carpintaria, que acredita não serem ensinadas em
outras escolas. Tem também a horta, que é um
espaço aberto que outras escolas não têm.
Samanta fala quechua desde pequena e por isso
vai muito bem nessa matéria. Sua mãe também
fala quéchua e foi ela quem ensinou a língua para
Samanta.
O que aprendeu de mais importante até agora foi a
se relacionar com todo mundo. A trabalhar em
dupla ou em grupo e a não ser tímida. E sente que
toda a experiência que teve na Pukllasunchis vai
ficar para a vida toda.
Ela descreve a relação com os professores como
uma relação de amizade “...você confia nos
amigos, pode conversar sobre tudo. Com os
professores é a mesma coisa”.
Samanta acha que a escola dá espaço para opinar e
fazer propostas. Com a “tutoria”, o “rimanakuy”,
por exemplo. São dois “rimanakuy” por semana.
No primeiro tempo de segunda, e no último tempo
de sexta.
Nas últimas semanas jogou vôlei com suas amigas.
É seu esporte favorito.

A vida na escola:
Entra às 7h50, a primeira aula com seus colegas é a
“Tutoria”, depois teve aula de cinema -- conta que
já viu Amelie Poulin e Forrest Gump--, em seguida
aula de quechua e depois o lanche (neste dia
foram duas frutas, banana e pêssego). Volta às
aulas com matemática e por fim “CTA” (Ciência,
Tecnologia e Ambiente). Suas aulas favoritas foram
matemáticas e cinema.
O que mais gosta de fazer na escola é brincar e
também estudar porque tem a impressão de que
nessa escola se estuda de uma forma diferente das
escolas tradicionais.

Pukllasunchis versus escolas tradicionais:


Para Samanta, a maior diferença entre a
Pukllasunchis e as outras escolas é a liberdade.
Aqui ela se sente livre, já em outras escolas sabe
que existem muitas regras de comportamento.
Mesmo assim, ela diz que a escola tem algumas
normas: não fugir da escola, entregar os celulares
no começo das aulas, respeitar os professores, os
colegas e a todos. Por isso, Samanta não quer
mudar de escola.

Samanta não sabe se conseguiria morar na cidade.


Prefere ficar em sua comunidade porque lá se
sente segura, tem saúde devido à qualidade da
água, tem muito espaço com muita área verde,
onde pode fazer o que quiser. E por causa de onde
ela vive e cresceu, sente que tem muito a
contribuir nas aulas de quechua e na horta.

Ela sonha ir para a universidade estudar


administração, talvez com uma bolsa de estudos e
depois trabalhar em Cusco. Sem se mudar da casa
onde mora hoje. “Nunca sairia da minha casa!”,
diz. E acredita que a escola a esteja preparando
bem em comparação às escolas tradicionais, onde
"sufocam" você de informação quando você só
precisa do básico.

Rotina diária:
Aluna 3: Mía Fernanda Galindo Aranzábal, 10 Mía acorda por volta das 6h e faz os deveres até as
anos 7h, quando toma café. Em seguida vai para a
escola com seu irmão. Pega o transporte público
da empresa “Illary” que os leva até o ponto
“Enaco” e andam de lá até a escola. Fica na
Pukllasunchis até 14h30 e faz o mesmo caminho
de volta (sozinha, porque seu irmão fica na escola,
onde faz outras atividades). Quando chega em
casa, almoça com a a mãe. Durante a tarde, ás
vezes vai brincar em um parque perto de casa e ás
vezes fica em casa brincando com a mãe.
Seus esportes favoritos são basquete, futebol e
vôlei. Também gosta de ver filmes e de escutar
música. Seus músicos preferidos são Rihana e
Maroon 5. Ela osconhece porque seu pai tem os
CDs deles. Conta que sua mãe gosta de Michael
Jackson.
Lugar de nascimento: Cusco, Peru
Gosta de jogar Roblox no computador.
Série: quinto ano do primário. A mãe a ajuda com os deveres de casa.Ela diz que
Mora em Cusco, distrito de San Sebastián, em um
apartamento com o pai, a mãe e o irmão. ajuda a mãe com as tarefas domésticas: limpar,
cozinhar (Mía gosta de cozinhar com seu pai). Ela
Observações: seu irmão Nicolás (14 anos) estuda diz que as vezes é um pouco preguiçosa e não
na Pukllasunchis e cursa o terceiro ano do arruma seu quarto.
secundário. Ela está se recuperando de uma
História escolar:
infecção no sangue e por isso não participou dos
Mía entra na Pukllasunchis aos 4 anos; mas meses
acampamentos de sua série. depois se muda para Urubamba (Valle Sagrado,
província de Cusco) onde fica por um ano. Em
seguida volta a Cusco com a a família e ingressa na
Contato: +51 984102457 (mãe, Sra. Eliza) Pukllasunchis no primeiro ano do primário.
Lembra-se do tempo em que morou em
Urubamba, e de sua professora do nível inicial.
Mas ficou pouco tempo na escola porque sua mãe
decidiu tirá-la do jardim de infância devido a
desentendimentos com a diretora e passou a dar
aulas para ela em casa.

A vida na escola:
Mía acha que o que está aprendendo melhor na
escola é matemática e que isso acontece porque
em casa estuda com a mãe. Também sente que
aprende na aula de “projetos” pois pode pesquisar
sobre as plantas, por exemplo.
O que mais lhe agrada na escola são as aulas de
música e de artes em geral.

“A Pukllasunchis é uma maneira livre de se


aprender, ensinam a aprender brincando. Por isso
se chama Pukllasunchis, é como brincar. Nos
divertimos muito e também aprendemos.”
Além do recreio, suas horas preferidas são a
atividade que acontece todas as sextas que se
chama “espaços”, quando pode brincar com o que
quiser: massinha, trabalhos manuais etc.“Acho que
os professores me ensinaram muito e que poderei
estudar na universidade.”

Quando crescer, Mia gostaria de ser estilista ou


fazer gastronomia.
Acha que sempre foi carinhosa com os professores.
Entende que às vezes eles precisam falar firme
porque alguns alunos não prestam atenção.
“Nossos professores gostam de nós, sempre nos
fazem aprender para o nosso bem, e alguns
colegas gostam tanto deles que querem ser
professores também.”
(((Tradução da tabela)))

PLANO DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA REGULAR

NÍVEIS Educação Inicial Educação Primária Educação Secundária

CICLOS I II III IV V VI VII

Séries Anos Anos 1o 2o 3o 4o 5o 6o 1o 2o 3o 4o 5o


0-2 3-5

Lógico- Matemática
Áreas Relação Lógico-matemática
mate-
Curricu- consigo mática Comunicação
mesmo
lares Comunicação Integral
Língua Estrangeira/Nativo
Comu-
Educação pela Arte
nica- Educação pela Arte
ção
Integral Pessoal Social
Ciências Sociais
Comunicaç
ão Integral Educação Física
Pessoa, família e relações
Pes- humanas
soal Educação Religiosa
Social Educação Física
Ciência e Ambiente
Ciência Educação Religiosa
Relação
e
com o meio
Ambi-
natural e Ciência, Tecnologia e Ambiente
ente
social
Educação para o trabalho

TUTORIA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

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