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OBSTÁCULOS SIGNIFICATIVOS QUE IMPEDEM A GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO

DE QUALIDADE PARA INDÍGENAS, BEM COMO SUA PROGRESSÃO NOS ESTUDOS.

 A Educação Escolar Indígena, enquanto específica e diferenciada, é assegurada pelo artigo 210, da Constituição
Federal (1988), e no artigo 231, ao declarar o reconhecimento aos indígenas "sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições”.

 A Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 1989, que determinou aos Estados signatários
dela, reconhecer e respeitar os valores e as práticas dos povos indígenas (art. 5º), definir suas prioridades no processo
de desenvolvimento (art. 7º), seus costumes e instituições (art. 8º), entre outros.

 A Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, em 2007, reiterou aos povos indígenas, no artigo 14, o direito
de estabelecer e controlar seus sistemas e instituições educacionais, permitindo que oferecessem educação em seus
próprios idiomas, de acordo com seus métodos culturais de ensino e aprendizagem.

 A Lei 11.645 de 2008, que tornou obrigatório o ensino das histórias e culturas afro e indígena em todo o currículo
escolar da educação básica tem levado os educadores não indígenas a buscarem obras para o ensino da temática
indígena nas salas de aula, seja por meio da história, da antropologia, ou mais recentemente, da literatura indígena.
A ESTRUTUTA

 Existem hoje no Brasil cerca de 3.359 escolas indígenas – um terço das quais fica no estado do Amazonas –, que
contam com 20.373 professores e 1.884 gestores. Desse total, 3.334 escolas estão situadas em terras indígenas,
áreas de assentamento ou comunidades remanescentes quilombolas. Quase metade delas (49%) não possuem
esgoto sanitário, cerca de um terço (30%) não conta com energia elétrica e 75% não têm acesso à internet; banda
larga é uma realidade em apenas 14% das unidades. Além disso, praticamente não há estruturas de suporte ao
aprendizado de ciências e tecnologia nas escolas indígenas: apenas 8% dispõem de algum tipo de laboratório em
suas instalações;

 Além dos problemas de infraestrutura, o material didático representa um grande desafio, já que há uma enorme
diversidade cultural entre os indígenas brasileiros. Apenas a metade (48%) utiliza material didático em língua
indígena ou bilíngue (em língua indígena e em Língua Portuguesa), apesar da maioria (74%) ministrar aulas em
língua indígena. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, existem 305 povos indígenas em território nacional,
que falam 274 línguas diferentes e têm culturas distintas.
EDUCAÇÃO TRADICIONAL X EDUCAÇÃO DIFERENCIADA

 Escolas indígenas na maioria são pequenas, com pouca capacidade para organizar, estruturar e ofertar séries mais
avançadas, a partir do 5º ano, e menos ainda capacidade para ofertar o Ensino Médio, impactando o acesso ao
Ensino Superior;

 A partir do 5º ano, têm que se deslocar quilômetros a pé ou às vezes em péssimas condições de transporte público
para estudar em escolas não indígenas na vizinhança, sofrendo todo o tipo de preconceito, racismo e violência,
além das dificuldades financeiras para manutenção;

 Equilibrar elementos do currículo nacional com as especificidades da cultura na qual a escola está inserida, ou seja,
o idioma da população local (que deve ser ensinado em paralelo ao português) e seus conhecimentos tradicionais.
DIFERENÇAS CULTURAIS E RELIGIOSAS

 Educação indígena se alinha à concepção filosófica da natureza enquanto corpo vivo (respeito as regras sociais,
políticas e religiosas dos povos originários);

 Educação marcada pelos rituais de passagem, orientando as etapas da vida dos sujeitos indígenas (viver plenamente
para não sofrer com os efeitos da incompletude que uma etapa mal vivida possa ocasionar);

 Vivenciar e respeitar para compartilhar de forma honesta as memórias, as lutas e as estéticas indígenas;

 Estudar os povos indígenas através de publicações por não indígenas não reflete a realidade desses povos. É
necessário ouvir os sujeitos indígenas, escutar suas histórias, compreender os aspectos culturais que diferenciam os
povos étnicos, ler suas literaturas autorais, estreitar vínculos, deixar de lado o mito e conhecer a realidade dos
indígenas;
OS DESAFIOS

 Um desafio significativo é a formação dos professores indígenas, considerando que, segundo as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Indígena, todos os docentes devem ser das aldeias em que dão aula, porque
só assim eles vão estar preparados para lidar com a realidade dos seus alunos. Faltam professores indígenas com
formação de nível superior para atender os estudantes a partir do 6º ano. Por isso, é preciso investir na formação de
professores nas licenciaturas interculturais indígenas, que habilitam os docentes nos anos finais do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio;

 Atualmente, essas licenciaturas (Educação Indígena Formação de Professor), sem áreas específicas, são
desenvolvidas em 20 instituições de ensino superior públicas, por meio do Prolind, programa de apoio à formação
superior de professores indígenas. De acordo com o Censo de Educação Superior 2018, esses cursos têm 2.247
matrículas. Já os cursos de formação de professores indígenas em áreas de conhecimento da Educação Básica no
país são oferecidos por apenas cinco instituições de ensino. Em 2018, eles tinham 966 matrículas;

 Em situação de vulnerabilidade, os indígenas também foram fortemente impactados pela pandemia de Covid-19.
Além de serem um dos grupos com maiores índices de mortalidade ocasionada pela doença, especialmente os que
vivem em condições isoladas, esses povos também tiveram seu direito à educação comprometido com a interrupção
das atividades presenciais das escolas e diante da falta de acesso à internet nas aldeias.

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