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Modernidade (Dicionário de conceitos históricos)

1. Modernidade: sentimento de ruptura com o passado (Le Goff)


2. Charles Baudelaire (segunda metade do XIX) - um dos primeiros a utilizar a ideia de
modernidade;
3. Para aqueles que viveram (um grupo intelectual e culturalmente situado) na Idade Moderna,
de fato acreditava-se estar vivendo a modernidade;
4. Modernidade (termo etimológico) x Modernidade (termo histórico conceitual, surgido no
Iluminismo);
5. Modernidade: “um conjunto amplo de modificações nas estruturas sociais do Ocidente, a
partir de um processo de racionalização da vida”;

Resultados desta racionalização


A racionalização política, por
sua vez, apareceu com a
substituição da autoridade
descentralizada medieval
pelo Estado moderno, com o
sistema tributário
centralizado, as forças
militares permanentes, o
monopólio da violência e da
legislação pelo Estado e a
administração burocrática
Estado liberal burguês (séc.
Política racional. Com a passagem
XVIII) para o Estado liberal
burguês, no século xviii, a
dominação política deixou
de estar vinculada ao
carisma, ao Direito Divino,
ao costume, à tradição, e
passou a ser legitimada em
fundamentos racionais, em
um contrato, em regras
estabelecidas pelos
cidadãos.
Economia Capitalismo Segundo Sergio Paulo
Rouanet, a racionalização
econômica levou o
Ocidente a dissolver as
formas feudais e pré-
capitalistas de produção e
a elaborar uma
mentalidade empresarial
fundamentada no cálculo,
na previsão, nas técnicas
racionais de contabilidade
e de administração e na
forma de trabalho livre
assalariado. Enfim, a
racionalização econômica
se materializa no
Capitalismo, desde o
século XVIII até nossos
dias
Antes, essas esferas de
valor estavam embutidas
na religião. Mas a partir
da Idade Moderna, e
principalmente com a
contemporaneidade, a
ciência deixou de precisar
do respaldo (e dos
limites) da religião

Ocidente começou desde


então a acreditar que
Separação entre ciência, moral
uma pessoa, para ser boa,
Cultura e arte que antes estavam
não precisaria
juntas dentro da religião
necessariamente ser
religiosa. Ela poderia ser
racionalmente boa e
instituir para si mesmo
normas de conduta que
norteariam sua relação
com o mundo e com as
outras pessoas. Por outro
lado, um homem muito
religioso (fanático e
dogmático) poderia fazer
mal em nome de sua fé
No plano cultural, aos
poucos ocorreu o
desencantamento do
mundo: o mundo
moderno só poderia ser
entendido pela razão,
sem necessitar recorrer a
mitos, a lendas, ao temor,
à superstição. Ou seja, a
Ciência Autonomia da ciência
ciência ganhou um poder
de compreensão do
mundo que deveria
permitir ao homem
escapar de visões mágicas
(fantasmas, bruxas, seres
imaginários), derrubando
os altares e instalando o
reino da Razão.
6. Se o Iluminismo representa um projeto de modernização do mundo, logo é possível afirmar
que não há uma homogeneidade em torno do conceito. Ou seja, é possível falar em
modernidades;
7. Se a modernidade que analisamos e à qual nos referimos remete-se, portanto, à períodos e
locais distintos ao longo da história (sim, pois seria impróprio vislumbrar a modernidade como
uma instituição, um agente ou um ser vivo que perdura desde a Idade Moderna igualmente
em todos os país e épocas), e consequentemente a grupos específicos (como os iluministas,
por exemplo), torna-se necessário reconhecer que:

 Estamos estudando o que uma classe (cultural, intelectual e historicamente situada),


ou melhor, como uma classe (ou grupo, se preferir) compreendia o mundo (as coisas
que nele estão, as relações entre passado-presente-futuro, valores humanos e morais
etc.), fazia planos, entendia seu papel na sociedade, o papel da religião, das
instituições;
 Em consequência, isso significa dizer que enquanto os iluministas (que eram uma
fração de uma sociedade maior; e que fique claro que estou frisando que a
modernidade sobre a qual nos debruçamos é a modernidade desta fração da
sociedade francesa ou inglesa) desenvolviam (por meio de livros, veiculação de ideias,
disputas políticas, instituição de valores morais etc.) o que chamamos de
modernidade, camponeses, trabalhadores, proletariado poderiam estar pensando
sobre o mundo do mesmo jeito. O que está em evidência aqui são os parâmetros dos
diferentes grupos e os pesos que damos a eles;
 A questão é, assim, saber como se deu a modernização no Oriente, por exemplo, e
saber se podemos mesmo chamar qualquer processo que lá tenha ocorrido de
modernização ou modernidade.

8. Diante de tantas idealizações, a modernidade posta em prática desde o XIX foi a do liberalismo
na maioria do tempo, mas também pelo socialismo;
9. Ambos modelos acima não emanciparam o homem, como propunham idealmente (minha
hipótese é de que o capitalismo potencializou a dimensão da eficácia sobre a dimensão da
autonomia. Não se pode depositar a emancipação humana ou o cuidado e desenvolvimento da
sociedade sob seus diversos aspectos nas mãos daqueles que não têm tais primazias como
objetos de suas empreitadas comerciais, ou seja, nas mãos de quem os objetivos são
primordialmente a obtenção de lucros);
10. A modernidade se converteu em uma ocidentalização (?). Ou seja, a conversão aos valores
políticos, econômicas, culturais e morais do Ocidente (Europa e USA atualmente, diga-se de
passagem);
11. Foi a Reforma Protesta que teve início o processo de secularização do mundo ocidental, mas
sua laicização só ocorreu com os pensadores do século XVIII;
12. O projeto iluminista de modernização: eficácia e autonomia;
13. Alguns pensadores acham que o processo de modernização já foi concluído (talvez por isso a
pós-modernidade) outros, com Sérgio Paulo Rouanet, acham que não (talvez por isso um
posicionamento de impossibilidade sobre a existência de uma pós-modernidade);
14. Alguns pensadores “acreditam que a dimensão da eficácia conduziu a humanidade a um
grande desenvolvimento material, ao passo que a dimensão da autonomia ficou no meio do
caminho. Ou seja, o progresso material não foi acompanhado de maior liberdade, nem da
emancipação do homem”;
15. Para Edgar Morin, “a cultura de massa promoveu incontáveis imagens nas quais o amor, a
felicidade, o bem-estar, o descanso, o lazer parecem possível a todos. A modernidade, assim,
se tornou cultura de massas”;
16. Um dos pilares da modernidade é o surgimento de uma sociedade capitalista. Seguindo tal
lógica, a pós-modernidade deveria conseguir provar, então, a existência de uma sociedade
igualmente pós-capitalista;

Possibilidades de abordagem da modernidade em sala de aula


Assim, o professor de História tem em mãos um tema polêmico, atual e abrangente, que
toca em nossas vidas diretamente. O desafio é como associar temas como cidadania, ética,
ciência, política, democracia, felicidade, liberdade em sua relação com a modernidade
entendida como um momento histórico que, para alguns autores ainda não acabou, mas
também como um projeto universalista de libertação da humanidade. Podemos trabalhar
com os alunos a modernidade real, presente nas instituições políticas que nos regem, na
nossa vida pessoal, nos valores que defendemos, nas utopias que ainda pairam no ar, no
ceticismo de muitos, no
bombardeio de informações dos meios de comunicação de massa etc. Além disso, para
discutir a modernidade há um leque bastante amplo de possibilidades de pesquisa:
podemos trabalhar a ética, a ecologia, a industrialização, as tradições populares e a
resistência cultural e o choque de culturas.

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