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Augustus – Rio de Janeiro – Vol. 08 – N. 17 – Jul./Dez.

– 2003 – Semestral

POTENCIALIDADES E DIFICULDADES
NA APLICAÇÃO DA AGENDA 21 LOCAL
EM PEQUENAS COMUNIDADES
– Estudo de caso: ilha de Itaoca

Luiz Carlos de A Nascimento1


Nei Pereira Jr2
Denise Dias de Carvalho3
RESUMO: A preocupação com a preservação ambiental, a busca de um sadio meio
ambiente global e a valorização do homem foram as principais preocupações que emergi-
ram da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Earth
Summit on Environment and Development) realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992.
Neste artigo, mostra-se que um dos documentos produzido nessa conferência, a Agenda 21,
é confrontado com uma dualidade, onde se, de um lado, ela pode ser entendida como uma
forma plena de expressão de cidadania, por outro lado, sua implementação enfrenta uma
série de obstáculos.

ABSTRACT: The concern with the environmental preservation, the search of a healthy
global environment and the man's valorization the main concerns that emerged of the
Conference of the United Nations on the environment and Development was (Earth
Summit on Environment and Development) accomplished in the city of Rio of January
in 1992. In that article, it is shown that one of the documents produced in that it con-
fers, the Calendar 21 is confronted with a duality where if on a side she can be under-
stood on the other hand as a full form of citizenship expression your implantation it faces a
series of obstacles.

Palavras-chave: Agenda 21, Desenvolvimento sustentável, Países em desenvolvimento,


Pequenas comunidades, Cidadania.
Keywords: Calendar 21, Maintainable Development, Countries in Development, Small
Communities, Citizenship.
––––––––––
1
Doutorando na Área de Gestão – Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EQ/UFRJ) – luizcarlos@terra.com.br.
2
Ph.D., Prof. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia dos Processos Químicos e Bioquímicos da Escola de Química
da UFRJ (EQ/UFRJ) – nei@eq.ufrj.br.
3
D.Sc. Prof. Adjunto – Departamento de Engenharia dos Processos Bioquímicos da Escola de Química.

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1 – INTRODUÇÃO Sua implementação deve ser feita pelos gover-


nos, agências de desenvolvimento, organizações
Este estudo pretende analisar os pontos necessá- das Nações Unidas e grupos setoriais independen-
rios ao estabelecimento de uma Agenda 21 local. tes (ONG) em cada área onde a atividade humana
Para alcançar tal objetivo utiliza como uma área afeta o meio ambiente. A execução deste progra-
piloto, a ilha de Itaoca, localizada no Município ma de ajuste de conduta deve levar em conta as
de São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro, parte diferentes situações dos países e regiões e a ple-
integrante da Região Metropolitana do Rio de Ja- na observância de todos os princípios contidos
neiro (RMRJ). Este trabalho integra o Projeto de na Declaração do Rio. Trata-se de uma pauta de
Desenvolvimento de Pesquisas voltadas para a ações em longo prazo, estabelecendo os temas,
solução de problemas ambientais no âmbito do projetos, objetivos, metas, planos e mecanismos
Projeto do Grupo de Tecnologia e Engenharia do de execução para os diferentes tópicos abordados
Meio Ambiente desenvolvido na Escola de Quí- na Conferência. Ele é composto de quatro seções,
mica da Universidade Federal do Rio de Ja- 40 capítulos, 115 programas, e aproximadamente
neiro (EQ/UFRJ). 2.500 ações a serem implementadas (GUERRA et
alii, 1999, p. 6).

2 – SOBRE A AGENDA 21 2.1 – Agenda 21 brasileira


No âmbito nacional, as implementações desses
No ano de 1992, foi realizada na cidade do Rio documentos ganham outra dimensão face às no-
de Janeiro, Brasil, a Conferência das Nações vas necessidades a enfrentar, decorrentes de com-
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimen- promisso também assumido pelo Brasil, entre
to (Earth Summit on Environment and Develop- eles os projetos de capacitação de recursos huma-
ment), sendo a maior reunião já realizada em toda nos que vem sendo desenvolvidos pelas Univer-
a história, por qualquer motivo. Nela foram ela- sidades e Organismos Governamentais ou não
borados cinco documentos, assinados pelos Che- envolvidos com o problema.
fes de Estado e representantes presentes: a De- Gestão Ambiental, Educação Ambiental, Con-
claração do Rio, a Agenda 21, a convenção sobre trole Ambiental e Direito Ambiental constituem-
a diversidade biológica, a convenção sobre a mu- se em novas fronteiras do conhecimento, cuja a-
dança do clima e a declaração de princípios da plicação é vital para se colocar em prática
floresta.
“as estratégias de desenvolvimento sustentável, apoi-
A Agenda 21 é basicamente um programa de adas pela ação integrada desses novos saberes. Há ne-
trabalho visando à sistematização de ações na cessidade, portanto, de uma nova postura profissio-
busca do Desenvolvimento Sustentável, entendi- nal frente à aplicação de conhecimentos interdisci-
do como plinares” (PHILIPPI Jr et alii, 2002, p. 4).

“aquele que atende as necessidades do presente sem Mais que um documento, a Agenda 21 Brasi-
comprometer a possibilidade de as gerações futuras leira é um processo de planejamento estratégico
atenderem as suas próprias necessidades”. participativo. Esse processo está sendo conduzido
pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento
O conceito de Desenvolvimento Sustentável Sustentável e da Agenda 21 Nacional – CPDS
contém dois conceitos-chave: a) o conceito de (MMA, 2003). A metodologia de elaboração da
“necessidades”, sobretudo as necessidades essen- Agenda privilegia uma abordagem multi-setorial
ciais dos pobres do mundo, que devem receber a da realidade brasileira, procurando focalizar a in-
máxima prioridade; e b) a noção das terdependência das dimensões ambiental, econô-
mica, social e institucional. Além disso, deter-
“limitações que o estágio da tecnologia e da organi-
zação social impõe ao meio ambiente”, impedindo-o mina que o processo de elaboração e implemen-
de atender as necessidades presentes e futuras (Nos- tação deve estabelecer parcerias, entendendo que
so Futuro Comum, 1991, p. 46). a Agenda 21 não é um documento de governo,
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mas um produto de consenso entre os diversos se- de Janeiro, o Grupo Executivo sugere a adoção
tores da sociedade visando o bem estar comum. dos seguintes indicadores:
Dois documentos compõem a Agenda 21 Bra- 1. Redução de desperdício de recursos (natu-
sileira: a Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritá- rais, financeiros, humanos);
rias, que estabelece os caminhos preferenciais 2. Controle e prevenção da degradação ambi-
da construção da sustentabilidade brasileira, e a ental;
Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritárias, pro- 3. Redução do volume de lixo e tratamento do
duto das discussões realizadas em todo o territó- mesmo;
rio nacional.
4. Melhoria nas condições de moradia, sanea-
Para consecução desses objetivos, esta Comis-
mento e provisão de água;
são decidiu fazer licitação pública para a realiza-
5. Melhoria no nível de saúde (higiene e pre-
ção de seis diagnósticos setoriais que apontassem
venção) e educação básica;
o quadro vigente em seis áreas básicas, os pro-
6. Oportunidades para cultura, lazer e recreação;
blemas, os conflitos, as estratégias e a ações prio-
ritárias. As áreas escolhidas foram: 7. Promoção de oportunidades para trabalho; e
1. Gestão de recursos naturais; 8. Acesso à informação e aos processos de to-
2. Agricultura sustentável; mada de decisão. (AGENDA 21-RJ, 2003, p. 3).
3. Cidades sustentáveis; No que se refere à preservação do meio ambi-
4. Redução das desigualdades sociais; ente e da busca do desenvolvimento sustentável, a
5. Infra-estrutura e integração regional e aplicação da Agenda 21 local em paises em de-
6. Ciência e tecnologia para o desenvolvimen- senvolvimento defronta-se com uma dualidade
to sustentável. quando os cenários de sua aplicação são pequenas
comunidades com baixo poder aquisitivo, já que
Esses diagnósticos, com as críticas e sugestões
os problemas ambientais no geral e em particular
incorporadas em Brasília, transformaram-se no
os de gestão ambiental
documento Agenda 21 brasileira – Bases para
discussão, que incluía uma síntese dos diagnósti- “estão basicamente ligados à pobreza, à marginalida-
cos e suas propostas, bem como uma visão geral de, ao subdesenvolvimento, à corrupção, os verdadei-
de cada uma das áreas tratadas. Depois dessa e de ros problemas maiores da região. A pobreza significa,
novas discussões no âmbito da CPDS, o resultado entre outras coisas, um importante processo de deteri-
oração do meio ambiente, utilizado como recurso fi-
foi sistematizado na Agenda 21 brasileira. (NO- nal na resolução de problemas urgentes de subsis-
VAES, 2003, p. 326). tência. O meio ambiente é, assim, virtualmente sa-
queado em função das necessidades básicas dos mais
carentes. Esse processo pode adquirir proporções gi-
2.2 – A Agenda 21 Local gantescas quando começam a produzirem-se gran-
No âmbito da administração pública em nível des concentrações de populações marginais, de-
correntes da migração campo – cidade, do desempre-
estadual, visando o cumprimento dos compromis- go, dos desastres naturais” (ALMEIDA et alii, 2000,
sos assumidos durante a Conferência das Nações p. 188.).
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimen-
to no ano de 1992, consolidados e agora sistema-
tizados na Agenda 21 brasileira, foi criado no 3 – METODOLOGIA
Estado do Rio de Janeiro, com base na Lei (esta-
dual) no 2.787/97, o Grupo Executivo da Agenda Na elaboração da Agenda 21 Local para a ilha
21, Por esse ato administrativo, as comunidades de Itaoca adotou-se uma metodologia de pesquisa
podem eleger uma série de indicadores apropria- baseada no Modelo metodológico proposto por
dos para suas respectivas realidades. (TACHIZAWA et alii, 1991. p. 49).
Objetivando materializar os objetivos preconi- Por se tratar de um projeto de pesquisa, pecu-
zados pela Agenda 21 brasileira bem como tam- liar no seu enfoque, já que trata de uma pequena
bém a sua adequação ao cenário do Estado do Rio comunidade que habita em uma ilha margeada de
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um lado por uma área de manguezais e por outro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (Fun-
lado pela Baía da Guanabara, sempre que neces- dação CIDE); no Instituto Brasileiro de Adminis-
sário serão feitos ajustes no modelo visando uma tração Municipal (IBAM), na Federação das In-
melhor adequação do mesmo. dústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e
Assim considerado, as etapas da metodologia na Secretaria de Planejamento da Prefeitura Mu-
de pesquisa foram então ordenadas: nicipal de São Gonçalo. Informações foram tam-
Etapa 1 – Levantamento bibliográfico perti- bém obtidas através de consulta ao acervo de or-
nente ao tema com vistas à fundamentação teórica; ganizações não governamentais e a pesquisadores
Etapa 2 – Levantamento de dados da área sob da história do município.
estudo;
Etapa 3 – Diagnóstico da área sob estudo
Etapa 3 – Diagnóstico da área sob estudo;
De posse das informações obtidas nas etapas
Etapa 4 – Análise e interpretação das infor-
anteriores e do levantamento preliminar efetuado
mações, e
pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo, foi e-
Etapa 5 – resultados e conclusões.
laborado um questionário constando de perguntas
fechadas e perguntas abertas visando à obtenção
3.1 – As cinco etapas da metodologia de dados primários através de pesquisa de campo.
Como apoio a essa etapa da pesquisa foram tam-
Etapa 1 – Levantamento bibliográfico bém realizadas entrevistas com as lideranças co-
pertinente ao tema com vistas munitárias locais.
à fundamentação teórica. Na elaboração do questionário foi levado em
Essa etapa consistiu inicialmente de pesquisa consideração, a ótica dos representantes setori-
em fontes convencionais (livros, jornais, revistas ais como, por exemplo, a Federação das Indus-
e outros), bem como pesquisa em acervo digital trias do Rio de Janeiro (FIRJAN, 1998) que po-
(vídeos, cd-rom e outros). derão servir de balizadores nas futuras ações
Foi realizada também coleta de dados e infor- corretivas.
mações complementares acerca do assunto junto
a entidades, instituições e pessoas ligadas ao mes- Etapa 4 – Análise e interpretação
mo. Ao fim dessa etapa foi feita uma seleção e das informações.
anotação de conceitos aplicáveis ao tema. Nessa etapa foram interpretados os dados e as
Como resultado final foi possível construir a informações coletadas anteriormente nas diversas
fundamentação teórica, que serve de suporte des- fontes de informação consultadas, estas foram
sa pesquisa. adequadamente tratadas e analisadas de acordo
com o suporte teórico e conceitual da fundamen-
Etapa 2 – Levantamento de dados
tação teórica adotada na pesquisa.
da área sob estudo.
Nessa etapa de consulta a fonte de dados se- Etapa 5 – Resultados e conclusões.
cundários, visou-se o levantamento de dados his- Buscou-se cotejar os resultados obtidos dos
tóricos, físicos, sociais, demográficos, econômi- levantamentos realizados nas etapas anteriores
cos, ambientais, potencialidade econômica e com os indicadores sugeridos pelo grupo executi-
competitividade e outros que se fizeram necessá- vo da Agenda 21 do Estado do Rio de Janeiro
rios para ser traçado perfil histórico temporal. com vistas a identificar os pontos de contorno pa-
Como principal resultado obtido nessa fase, des- ra a elaboração da agenda 21 Local
taca-se a caracterização socioeconômica dos ha-
bitantes da Ilha de Itaoca, bem como a definição
da vocação dos mesmos em relação aos recursos
naturais lá existentes. 4 – ALGUNS RESULTADOS
A pesquisa se utilizou entre outras, de infor-
mações coletadas na Fundação Instituto Brasilei- A Ilha de Itaoca se constitui em um dos 90
ro de Geografia e Estatística (IBGE); no Centro (noventa) bairros criados no Município de São
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Gonçalo (pelo Decreto-Lei 1.063, de 28/01/94), ras de frutas e a criação de gado; os manguezais,
sendo que o Município de São Gonçalo faz parte antes imponentes, deram lugar a loteamentos; os
do elenco dos 92 (noventa e dois municípios) rios, importantes para o equilíbrio da Baía de
constituintes do Estado do Rio de Janeiro, e é in- Guanabara, viraram verdadeiros depósitos de es-
tegrante da Região Metropolitana do Rio de Ja- goto in natura.
neiro (RMRJ) que congrega um total de 19 (de- Somando-se a tudo isso, nunca houve, por
zenove) Municípios (Portal do Cidadão, 2004; parte das autoridades responsáveis, o interesse
Fundação CIDE, 2004). por questões que contemplassem a conservação
O bairro de Itaoca dista aproximadamente seis da APA, com a população dependendo de sua
quilômetros do centro de São Gonçalo e possui dinâmica ambiental para o sustento de suas fa-
cerca de 3.019 moradores (PMSG, 1998). mílias, acrescendo o fato de que a maior parte
A ilha de Itaoca apresenta características físi- do bairro de Itaoca está localizada em áreas de
cas e geográficas bem peculiares. Está localizada manguezais, sendo estes protegidos por legisla-
dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental ção específica e proibida, durante os meses de
(APA) de Guapimirim criada pelo Decreto Fede- outubro a dezembro, a “catação” de carangue-
ral 90.225, de 25/09/84, abrangendo também os jos, por estarem eles em período de reprodução
municípios de Itaboraí, Guapimirim e Magé. Esta (época do defeso). Assim, a população local, que
APA é caracterizada por abrigar os maiores man- vive diretamente da pesca e da “catança” de ca-
guezais da Baía da Guanabara. ranguejos, fica vulnerável quanto ao sustento de
suas famílias.
– “As Áreas de Proteção Ambiental pertencem ao Esse contexto onde se entrecruzam: uma forte
grupo de unidades de conservação de uso sustentá-
vel. Constituídas por áreas públicas e/ou privadas
degradação do meio ambiente, a falta de sanea-
têm o objetivo de disciplinar o processo de ocupação mento básico, a ausência do poder público, uma
das terras e promover a proteção dos recursos abióti- prestação precária de serviços de transporte cole-
cos e bióticos dentro de seus limites, de modo a as- tivo, a presença de grande quantidade de jovens
segurar o bem-estar das populações humanas que aí sem ocupação e de adultos excluídos do mercado
vivem, resguardar ou incrementar as condições eco-
lógicas locais e manter paisagens e atributos cultu-
de trabalho, quadro esse agravado pela constata-
rais relevantes” (IBAMA, 2004). ção in loco que alguns de seus habitantes subsis-
tem extraindo o seu sustento do lixão lá existente
Dentro dos limites do bairro, existem regiões incentivou o início do processo de elaboração de
ocupadas por catadores de caranguejos e pescado- uma Agenda 21 Local para Ilha de Itaoca.
res, exercendo plenamente suas atividades. A
maioria da população que constitui o bairro é
formada por famílias de baixa renda, cujas crian-
ças e adolescentes não possuem muitas expectati- 5 – CONCLUSÕES
vas quanto ao mercado de trabalho. Muitos dos
adolescentes do bairro ajudam suas famílias na A aplicação da Agenda 21 Local é possível de
pesca e na catação de caranguejos e siris, além de ser realizada em pequenas comunidades como é o
alguns moradores trabalharem na separação e caso da Ilha de Itaoca.
comercialização informais de lixo, já que, na ilha Considerando-se que a pesquisa continua em
de Itaoca, está localizado o único vazadouro de andamento a interpretação de alguns dados e in-
lixo do município de São Gonçalo. A dinâmica formações já coletadas nos permite listar uma sé-
ambiental do bairro e do município de São Gon- rie de pontos de contorno que poderão vir a nor-
çalo é muito complexa e vulnerável. tear o estabelecimento da Agenda 21 local para a
Hoje a ilha de Itaoca sofre com o crescimento Ilha de Itaoca.
desordenado, que trouxe como conseqüência o O primeiro ponto a ser destacado é a necessi-
agravamento da dinâmica ambiental, acarretando dade de resgatar a confiança dos moradores, na
com isso uma baixa na qualidade de vida. A mata medida em que a presença dos entrevistadores era
atlântica de outrora deu lugar a incipientes cultu- nitidamente sentida como uma ameaça para eles,
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talvez devido ao fato de não possuírem título de zações não governamentais, a associação de mo-
propriedade do terreno onde estavam edificadas radores e lideranças locais.
suas residências. Além disso, a descrença de al-
guns deles, que externavam descontentamento Redução do volume de lixo
por estarem ser sentindo “usados”, já que, para e tratamento do mesmo:
eles, entrevistas eram feitas e seus resultados e Nessa etapa fica evidenciada a ausência da
conclusões não eram discutidas com a comunida- prestação de um serviço público que legalmente
de, o que os fazia sentir como meros objetos, deveria ser exercido pela Prefeitura Municipal,
“que eram usados e depois descartados”. visto ser uma atribuição Municipal a coleta e des-
Isso reforça a necessidade de que a agenda 21 tinação do lixo.
Local seja feita a partir da discussão dos resulta- Igualmente nesse caso o problema pode ser
dos com os moradores buscando-se soluções sim- minimizado pela adoção na comunidade de um
ples e coerentes com a realidade local. programa de Educação Ambiental associado com
Á partir do confronto dos resultados obtidos a busca de destinação adequada dos resíduos do-
até o presente momento com as ações propostas mésticos/urbanos gerados na comunidade.
pela Comissão pró-Agenda 21 designada pelo
Governo do Estado do Rio de Janeiro que definiu Melhoria nas condições de moradia,
os parâmetros a serem obedecidos, quando do es- saneamento e provisão de água:
tabelecimento de uma Agenda 21 Local em nosso Essa etapa também pode ser bem realizada
Estado, podemos destacar os seguintes pontos de quando de uma articulação entre as esferas de
contorno: administração estadual e municipal, já que abar-
ca ações de governo típicas das duas esferas
administrativas.
Redução de desperdício de recursos Do mesmo modo, a criação de atividades de
(naturais, financeiros, humanos): educação ambiental em muito contribuirá na mu-
Esse tipo de ação depende, para ser bem suce- dança de hábitos e comportamentos dos morado-
dida, de uma perfeita articulação entre as três es- res locais no que se refere à arte de morar.
feras de poder da administração publica federal,
estadual e municipal, expressa através da articu- Melhoria no nível de saúde
lação político administrativo entre as já existentes (higiene e prevenção) e educação básica:
Secretarias. A consecução dessa etapa poderá em muito se
A comunidade deverá ser incentivada a exercer beneficiar da participação de alguns moradores
sua cidadania plena participando do controle da locais como agentes comunitários de saúde, os
aplicação dos recursos financeiros destinados à quais serviriam como difusores e multiplicadores
comunidade. do conhecimento.
Essa ação deve ser precedida de um adequado
treinamento prático-teórico da equipe de agentes
Controle e prevenção em sala de aula, e da confecção de uma cartilha
da degradação ambiental: que, escrita em linguagem de fácil entendimento
Essa etapa pode ser influenciada na busca de poderia potencializar o trabalho realizado pelos
soluções pela ação ordenada de implantação de agentes comunitários.
programas de Educação Ambiental visando con- Uma adequada articulação entre as diversas es-
templar uma articulação entre áreas de maior fra- feras administrativas na área da saúde e a comu-
gilidade ambiental e de importância econômica. nidade através de seus representantes poderá em
Na nossa pesquisa fica evidenciada que no nosso muito contribuir na melhoria do nível de saúde da
cenário essas áreas são as de manguezais e as do comunidade, constituindo-se os agentes comuni-
litoral da Baia da Guanabara. tários de saúde como os vetores de mudança de
Entendemos que essa ação deve ser desenvol- comportamento da comunidade em relação à saú-
vida pelo poder público em parceria com organi- de e aos hábitos de higiene.
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Oportunidades para cultura, Por outro lado, a vocação pesqueira da comuni-


lazer e recreação dade, já identificada a partir do diagnóstico, deverá
Essa etapa pode ser caracterizada pela pos- ser incentivada pela adoção de programa que per-
sibilidade de ser desenvolvido na comunidade mitam ao pescador agregar maior valor ao pesca-
um projeto de educação onde possam ser res- do. Isso poderá ser feito pelo aumento da atuação
gatados os valores da cultura local, sua memó- da cooperativa de pescadores, realizando cursos
ria, as aspirações dos moradores e bem como como, por exemplo, obtenção de embutidos a par-
suas expectativas. tir de pescado, curso já ministrado regularmente
As atividades comunitárias de lazer, cultura e pelo SEBRAE do Município de São Gonçalo.
recreação devem ser incentivadas já que visam
estimular a socialização, a prática de atividades
lúdicas em todas a faixas etárias, o resgate da cul- Acesso à informação e aos processos
tura local e por extensão a cidadania. de tomada de decisão
A concretização dessa etapa é claramente de-
pendente da articulação entre as esferas de admi-
Promoção de oportunidades para trabalho: nistração federal, estadual e municipal.
Nessa etapa fica clara a possibilidade de gera- A população poderá ser informada sobre seus
ção de trabalho através de um processo de gera- direitos e deveres, através de cartilhas expli-
ção de renda com emprego dos recursos poten- cando de forma simples e objetiva as diversas
cialmente já existentes na comunidade. formas de gerenciamento orçamentário, de efe-
Como exemplo disso podemos mencionar a tivação das cooperativas já existentes, e da ges-
criação de um minhocário que empregando como tão participativa por parte dos representantes da
insumo, dejetos bovinos gerados na ilha, passari- comunidade.
am a produzir húmus que poderiam ser comercia- O trabalho dos entrevistadores deve ser inter-
lizados na praça local, sendo empregados também mediado com as lideranças comunitárias e com os
como um motivador para a implementação de componentes da associação de moradores. Sem-
hortas comunitárias que se constituem em uma pre que possível, deve ser buscada uma parceria
fonte nutricional complementar e numa pequena com organizações não governamentais que já rea-
fonte adicional de renda. lizem algum tipo de trabalho na área.

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