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Aula 6 - Uma Longa Introdução Ao Segundo Reinado
Aula 6 - Uma Longa Introdução Ao Segundo Reinado
REINADO
1. Introdução
Nesta exposição, como mencionado, será apresentado o ambiente cultural do Rio de Janeiro,
que é o mesmo de todo o Brasil, e será feito um recorte dentro do recorte no que será exposto
sobre cultura. Indica-se a obra de Adolfo Morales do Los Rios Filho, chamada O Rio de Janeiro
Imperial. Este livro é técnico, cheio de dados e recursos, fontes, documentos e indicações, e
aborda o Rio de Janeiro imperial, seu desenvolvimento urbano, suas ruas, as procissões
religiosas, as músicas, os folclores etc. Quando se fala de Império, necessariamente, o Segundo
Império está intimamente ligado não apenas ao termo, mas ao imaginário popular.
A lembrança nostálgica de um Império é muito viva, principalmente no Rio de Janeiro. A
presença física de Dom Pedro II ainda é muito sentida neste lugar, ainda que nem sempre
assumida e compreendida.
3.1. Livrarias
Adolfo Morales de Los Rios Filho cita uma série de principais livrarias da primeira metade
do século XIX e mostra que a vendagem de livros não era pequena. Muitos nomes em francês
e outros estrangeiros; muitos livros e traduções recém iniciadas; muitos livros no seu original;
muitos autores brasileiros que inclusive escreveram seus textos em francês, como Nabuco, por
exemplo: esse era o ambiente da época. Sem discutir o ideal francês de parte do século XIX
durante os conflitos de aspiração ora inglesa, ora francesa, ora de repudio ao legado português,
neste período, dentro de seus homens alfabetizados, havia uma venda significativa de livros, de
maneira proporcional, logicamente.
Uma das críticas feita a Dom Pedro II, era a de que ele, tão erudito, era imperador de um
país com muitos analfabetos. Esta, no que tange o citado, é um tanto quanto injusta, pois ele
não organizou o século XIX e o Segundo Império sozinho. É simplista culpar especificamente
o homem que está no poder como culpado por todo o desenvolvimento histórico, ainda que
tenha culpa. É possível que se discorde dele, mas não se pode ser injusto no que envolve o seu
próprio mérito enquanto indivíduo, pois se assim fosse feito, seria relegado o seu legado cultural
de ter sido o mecenas de homens como Carlos Gomes e de outros tantos notáveis da música, da
escultura etc.
3.2. As bibliotecas
Para falar das bibliotecas, é preciso ter em mente que há uma continuidade. Por exemplo,
quando se fala da Biblioteca Nacional, fala-se de Dom João VI e de um aperfeiçoamento técnico
e científico durante o Segundo Reinado, ou seja, algo contínuo. Adolfo Morales diz que:
“Há aqui uma forma de organização em que a principal das instituições públicas de
difusão do saber era a Biblioteca Nacional (...) é a sexta maior biblioteca do mundo”.
É possível ver o quão paradoxal é o Brasil possuir a sexta maior [1] biblioteca do mundo e
não ter uma universidade entre as cem melhores do planeta. E mais do que isso: ter um número
tão pífio de leitores. Segue Morales:
“Organizada em 1810 com a livraria trazida por Dom João VI e enriquecida com o
valioso espolio de Frei José Mariano da Conceição Veloso e com as bibliotecas do
Conde da Barca, dos doutores Manuel da Silva Alvarenga e Francisco de Melo Franco
e de José Bonifácio, além do arquivo de documentos do marquês de Santo Amaro,
teve na sua direção homens do valor de Gregório José Viegas, Padre Joaquim
Damasco, Frei Antônio de Arrabida, Cônego Januário da Cunha Barbosa e doutor José
de Assis Alves Branco Muniz Barreto.”
Os dois exemplos foram dados para mostrar que um dia este país teve homens que possuíam
grandes bibliotecas pessoais. É importante notar que isto é coerente, uma vez que há uma
Biblioteca Nacional tão forte e pungente como a que se tem no Rio de Janeiro.
Outro ponto no que envolve os ambientes culturais do Brasil é o fato de sempre haver um
padre ou um frei. Inclusive na citação feita acima sobre o Biblioteca Nacional pode-se perceber
isto. Uma das crises do momento atual é justamente a desqualificação do clero, este mesmo que
serviu como pedagogo do barbarismo brasileiro.
3.3. Artes
Los Rios Filho ainda diz, destacando as artes no Brasil:
“O Museu de Belas Artes, somente em 1843, é que pela iniciativa de Felix Emilio
Taunay, então diretor da Academia de Belas Artes, é organizada a pequena pinacoteca
do Brasil, com as obras trazidas da Europa por Joachim Lebreton, chefe da Missão
Artística Francesa, e com as que pertenceram ao Conde da Barca.”.
Há com isso o embrião da Academia de Belas Artes, que também merece destaque e deve
ser visitado.
3.4. Jornais
No que envolve os jornais é importante mencionar que os partidos políticos tinham os seus
próprios e a imprensa era livre. O primeiro ato de perseguição a alguém, ou seja, uma censura,
foi à Carlos de Laet, já no período republicano. Ainda que muitas vezes de maneira excessiva,
havia a liberdade máxima dentro da imprensa, tanto que Dom Pedro I e Dom Pedro II jamais
versaram para que essa ela fosse censurada, ainda que ela os atacasse.
Os jornais tinham uma clara linha política, os jornalistas eram opinativos, as críticas
literárias não se davam entre pares, impressões políticas eram dadas com arrojo e as sátiras
transitavam com liberdade dentro dos periódicos. E inclusive a Questão Religiosa já citada,
pode ser compreendida a partir dos próprios jornais de Recife.
Um dos barbarismos explícitos do sistema escravocrata dá-se na presença de classificados
de escravos: homens vendidos em jornais. Eles têm uma grande força enquanto fonte e vestígio
do século XIX, com todas as suas facetas. Assim diz Alfredo em seu livro:
“Quando os negros fugiam ou eram seduzidos, expressão muito corrente significando
que já tinham sido induzidos a abandonar seus patrões ou senhores, lá viam os seus
indefectíveis anúncios com curiosos detalhes: o João Carioca era descrito como sendo
grosso de corpo, com o sinal, rodeando o olho esquerdo que diz ser de garrafa. Sem
dois dedos no pé esquerdo, pés muito chatos; muito barbado e feio de cara”.
Compositor de Guarani, apresenta ao seleto público brasileiro a ópera que narra a epopeia
indígena, este legado e esta vertente que o brasileiro possui em sua genética, com uma dignidade
ocidental. Carlos Gomes, com seu trabalho, utiliza o outrora bárbaro e o dignifica à uma ópera
que faz jus a grandeza do Brasil. Apresenta não só ao imperador e à Imperatriz – que o estimulou
a ir estudar na Itália –, mas ao autor primeiro de Guarani, esta pérola, que como Ítala descreveu,
dignificou ainda mais o escrito de José de Alencar.
Este era o país em que o escritor e o compositor estavam juntos, dignificando, cada um a
seu modo, o indígena. E mais do que este, o brasileiro e sua cultura. Esta exuberante descrição
do ainda menino Cernicchiaro, com 16 anos, tem estilo e capacidade descritiva, algo que muitas
vezes não é encontrado em senhores. Em suma, há neste trecho um pouco da descrição dessa
esfera cultural do Rio de Janeiro e do Brasil.
Carlos Gomes apresentou essa mesma peça no teatro Scala de Milão, e muitas vezes
recebendo do europeu o olhar preconceituoso ao pensar que no Brasil só havia mata. Gomes,
no Scala, dignificou o seu país, a arte e o legado brasileiros de tal modo que ele foi
respeitadíssimo durante toda a sua vida, não só na Itália, mas por outros grandes nomes da
música.
Ele é uma figura inescapável quando se fala do ambiente cultural do Segundo Império. Foi
financiado por Dom Pedro II e foi amigo fiel dele, e também foi fiel àquilo que Santo Tomás
ensina, que é a virtude da gratidão. Em um momento de intensa dificuldade, de doença,
amargando luto, e de pobreza, recusou ser o compositor do hino republicano, não por um ideal
monárquico, mas pela gratidão que está na sua própria essência como seu alicerce.
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[1] Atualmente a Biblioteca Nacional não é mais a sexta maior biblioteca do mundo.