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Jusbrasil ­ Artigos

05 de junho de 2016  

A nova ação revisional do FGTS e o novo prazo de
prescrição
Os efeitos da diminuição do prazo prescricional na ações de revisão da correção
monetária do FGTS (TR­1999­2014)
Publicado  por  Gustavo  Borceda ­  1  ano  atrás

Recentemente o STF alterou a regra de prescrição para as parcelas do FGTS não
depositadas pelo empregador (ARE 709212), fazendo com que surgisse a dúvida
com relação às ações revisionais de correção monetária que estão sendo
impetradas em decorrência da defasagem da TR.

Em primeiro lugar, quero deixar claro que só será possível ter certeza absoluta
após a divulgação do acórdão, mas consegui assistir a sessão de julgamento (na
íntegra ao final do texto), e acredito ter conseguido compreender o que realmente
importa neste tocante (a prescrição nas futuras ações de revisão do FGTS), e que
pode ser resumido em um vídeo de pouco mais de 1 minuto, de parte do voto do
Ministro Gilmar Mendes (o qual estará nalgum ponto ao longo deste artigo).

Contudo, antes de adentrar neste assunto quero fazer uma breve digressão sobre o
que penso desta decisão relativamente a seu efeito direto, porque este sim trará
muito mais prejuízo ao trabalhador do que qualquer efeito reflexo que pudesse ter
na ação revisional.

. A mudança da prescrição foi ruim ou muito ruim para o trabalhador?
A alteração da regra foi péssima para o trabalhador, que perderá o direito de
pleitear os próprios depósitos do FGTS (e não apenas a correção) vencidos há
mais de 5 anos quando de seu desligamento da empresa. E isso, na prática, terá
um efeito terrível para o patrimônio do empregado.

Imagine a situação: José é contratado no dia de hoje, 18/11/2014, e apenas à
partir de 18/11/2019 seu empregador começa a depositar o FGTS, situação esta
que perdura até 18/11/2024, quando, enfim, José, com 10 anos de trabalho
prestado, é dispensado do serviço sem justa causa. Considere ainda que José,
mesmo que tenha conhecimento da situação, jamais ingressaria com uma
reclamação trabalhista enquanto o contrato estivesse em curso.

Então vamos fazer uma conta simples: Digamos que José receba R$ 1.000,00 por
mês, o que geraria depósitos mensais de R$ 80,00. Com o décimo terceiro e as
férias, sem contar horas extras e outras eventuais verbas de natureza salarial, José
deveria receber na rescisão contratual, pelo prazo de 5 anos, o valor equivalente a
R$ 7.840,00 (no caso de dispensa ou rescisão indireta: 14 meses x 5 anos +
40%). Isso sem os juros e a correção (pífia e confiscatória de hoje em dia).

Alguém poderá dizer que existe uma fiscalização, e que a falta de depósitos pode
gerar uma multa pesada para a empresa, mas isso não basta. A multa não
reverterá ao trabalhador, que terá perdido para sempre seus R$ 7.840,00. Além
disso, o empregador não precisa chegar ao extremo de não realizar nenhum
depósito em 5 anos (atraindo assim, talvez, a atenção da fiscalização), mas apenas
"falhar" alguns meses, ou até, quem sabe, sistematicamente depositar apenas
alguns meses por ano. Quem duvida?

Agora imagine um trabalhador que ganhe R$ 5.000,00 (eles são poucos, mas sim,
eles existem).

Ele terá perdido R$ 39.200,00.

. O efeito ex nunc no julgamento do ARE 709212
A pergunta é a seguinte: É possível ao trabalhador, hoje, ingressar com uma ação
pleiteando parcelas do FGTS anteriores à data de julgamento, pelo prazo
prescricional trintenário?

Depois de muito refletir, porque não é algo que foi declarado expressamente
durante o julgamento (pelo menos eu não vi) acredito que a resposta seja sim.
Isto porque o marco determinado para a mudança da regra foi o vencimento de
cada depósito, e não a data de ingresso em juízo.

Assim, se o depósito venceu antes do julgamento, a prescrição será de 30 anos à
contar do vencimento, ou de cinco anos a contar da data do julgamento (o que
ocorrer primeiro), mesmo para quem não ingressou com a ação.

Para melhor entendimento, segue o vídeo prometido:

Prescrição do FGTS

Repare bem no que consta do seguinte trecho:

“Assim se na presente data já tiver transcorrido 27 anos do prazo
prescricional, bastarão mais 3 anos para que se opere a prescrição [...]
Por outro lado, se na data dessa decisão tiver decorrido 23 anos do prazo
prescricional ao caso se aplicará o novo prazo de 5 anos a contar da data
do presente julgamento.”
Então me parece óbvio que sim, é possível ingressar com novas ações para
pleitear parcelas vencidas anteriores à data de julgamento com base na prescrição
de 30 anos, e isto fica ainda mais claro quando se sabe que o RE em questão foi
julgado improcedente, porque, claro, todas as ações já impetradas pleiteavam
períodos anteriores ao julgamento.

Não faria sentido nenhum o eminente Ministro dizer que “Assim se na presente
data já tiver transcorrido 27 anos do prazo prescricional, bastarão mais 3
anos para que se opere a prescrição”, se apenas se fosse aplicar o prazo
trintenário para as ações ingressadas anteriormente ao julgamento.

Outro fato que me parece relevante para esta conclusão é o seguinte: sempre que
o STF modulou os efeitos da decisão considerando “antes ou após do ingresso da
ação em juízo”, isto foi feito expressamente, como no caso citado minutos antes
do vídeo acima pelo Ministro Gilmar Mendes, e que se refere a débitos ficais da
fazenda pública, ou no caso dos precatórios, com relação à compensação.

Este entendimento, ainda, é o que depreendo da assertiva de Pedro Canário, em
recente artigo na prestigiada revista digital Conjur:

“O ministro Gilmar Mendes também propôs a modulação dos efeitos da
decisão. Ela passa a valer apenas para os direitos vencidos depois desta
quinta, data da decisão pelo Supremo. Os direitos a FGTS existentes até
quarta­feira (11/11) continuam com o prazo prescricional de 30
anos. Os que vencem nesta quinta terão o menor prazo prescricional: ou 30
anos antes da demissão ou cinco, o que acabar antes.”

Então acho que está bem claro: a prescrição é trintenária para as parcelas
vencidas anteriormente ao dia do julgamento, até o limite de 5 anos
após o julgamento.

. E a ação revisional de correção?

É claro que a alteração da prescrição das parcelas (principal) irá atingir o direito à
correção monetária (acessório). Porém, e como já dito, o marco inicial da nova
regra de prescrição é o vencimento da parcela, e não o ingresso da ação em juízo,
de forma que, por enquanto, ninguém está correndo risco de perder o direito à
revisão (da TR) pela ocorrência da prescrição, já que apenas para as parcelas que
vencerem após o julgamento é que a prescrição será de 5 anos.

Foi por isso que utilizei aquelas datas no exemplo do início do texto, porque, salvo
melhor juízo, apenas à partir de novembro de 2019 é que se começará a perder o
direito às parcelas (ou à correção) do FGTS por ocorrência da nova regra de
prescrição. Até lá, todo o período envolvido nesta nova ação revisional, de 1999 à
2014, está obviamente dentro da prescrição de 30 anos, bastando ingressar com a
ação antes de completar 5 anos à partir da data do julgamento do ARE 709212.

De qualquer forma, nada disso muda a sorte desta revisional, estando minha
opinião sobre a sua viabilidade (no sentido de se ingressar com novas ações
individuais, e de recebimento das parcelas pretéritas) absolutamente inalterada
desde a publicação de meu último artigo, que pode ser lido aqui: A nova ação
revisional do FGTS – Mais ações individuais?

. X.

Vídeo na íntegra da sessão de julgamento:

Pleno - Prazo prescricional para cobrança de val...


Gustavo Borceda

advogado

Advogado  e  desenvolvedor  de  sistemas  jurídicos  para  a  web.

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