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Comentário a Ligeti

György Ligeti (28 de maio de 1923 — 12 de junho de 2006), compositor de


nacionalidade austríaca mas de origem húngara, foi uma das maiores figuras da composição
"erudita" do século XX, a par de Stockhausen, Pierre Boulez ou do seu compatriota Béla
Bartók. De origem judaica e sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, a vida conturbada de
Ligeti aparenta expressar-se na forma radical como revolucionou a escrita clássica (basta
observar o "Poema Sinfónico para 100 Metrónomos" ou “Future of Music...”, para um
conferencista que não fala e audiência), após a sua mudança para Viena. Foi também
librestista, pianista e professor em Budapeste, Darmstadt, Hamburgo, Estocolmo e Stanford
e na Hamburg Hochschule für Musik und Theater. Além da música, interessou-se pela
geometria fractal de Benoît Mandelbrot e nas obras literárias de Lewis Carroll e Douglas R.
Hofstadter.

As suas primeiras obras seguem ainda a linguagem de Barók, com destaque para a
convergência de estilos entre Musica Ricercara e Mikrokosmos. Daí, Ligeti entra no universo
da música eletrónica, ponto importante pois, ainda que contribua com apenas três peças a
este movimento, a estética que demonstra no retorno à composição instrumental e vocal é
largamente influenciada por este marco. Em termos de técnica, em duas das suas mais
conhecidas obras, estas mencionadas no excerto, "Atmospheres" e "Apparitions", o
austríaco recorre ao que denomina como "micropolifonia" :"a complexa polifonia das partes
individuais está fundida num fluxo harmônico-musical, no qual as harmonias não mudam
subitamente; em vez disso, mesclam-se umas com as outras. É uma combinação de
intervalos claramente reconhecível e que vai se tornando nebulosa. Nesta nebulosidade,
pode-se distingüir uma nova combinação de intervalos se formando". Abandonou o foco na
melodia, na harmonia e no ritmo, para se concentrar apenas no timbre dos sons, uma
técnica conhecida como "massa de som", sendo os "clusters cromáticos" e as "texturas
muito densas" um comprovativo desta ideia. Pinho Vargas descreve o compositor como: "o
grande compositor da segunda metade do século XX”, “brilhante, inteligente e muito culto
(...) Era um homem muito atento ao mundo, para além do que habitualmente são os
compositores da sua geração”.

No excerto apresentado, Ligeti realça a importância que teve a sua saída da Hungria,
que na altura vivia sob um regime comunista, proibitivo de vanguardas, para a sua evolução.
Afirma que a mesma seria possível também em Budapeste, mas demoraria muito mais
tempo, dando o exemplo de Kurtag, um compositor que inclui no seu estilo. Destaca
também a importância que teve na sua composição o contacto com Stockhausen e Boulez,
se bem que a sua obra "Visions", escrita ainda em território húngaro, é referida por si como
um prenúncio de "Apparitions".

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Assim, é de notar o efeito que tem a sua emigração para a sua afirmação como um
dos expoentes do Modernismo. Conhecido sobretudo pela banda sonora do filme "2001:
Odisseia no Espaço", ao qual não cedeu os direitos das obras usadas, demarcou-se como um
compositor de música única, herdeiro da linha de Messiaen e Bartók, definido pelo seu
carácter radical e espontâneo.

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