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PASSOS.O Estilo Moderno Arquitetura em Belo Hor PDF
PASSOS.O Estilo Moderno Arquitetura em Belo Hor PDF
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de veículos rápidos, de povo, dessa massa anónima das metrópoles, de
grandes magazins abrindo suas vitrines vistosas, de luz intensa e
faiscante. Os prédios altos afogarão com suas linhas retas e suas massas
impressionantes a paisagem bucólica e "vergel" de hoje. E os nossos
hábitos também mudarão, seremos mais alegres, iremos mais ao cinema,
ao teatro, às casas de chá, aos footings, aos clubes, faremos sport e
seremos standardisados como todos os habitantes das grandes cidades.
Tempo virá ...1
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e 40, Belo Horizonte vai se firmar como o mais importante pólo
industrial, comercial e financeiro do Estado, consolidando-se como
centro polarizador da economia mineira. Essa mudança faz-se sentir
rapidamente em sua cena urbana, que vai ser marcada nesse período
pela formação de distritos industriais induzidos pelo Estado, pela
verticalização e remodelação de algumas áreas do centro e,
principalmente, pelo incontido crescimento da cidade planejada, que se
espalhava em todas as direções.
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armado, como o edifício de A Noite (Emílio Baumgart, 1928) e o
Martinelli (Fillinger, 1924/1929), recordistas em altura no Brasil da
época, com seus 24 pavimentos. A construção de arranha-céus em
Belo Horizonte iniciava, como prescreviam os urbanistas, uma
ocupação mais densa do centro, contando, para isso, com o aval do
poder público. Já em 1922, a legislação urbanística da capital havia
sido mudada, passando a permitir a verticalização e um grande
aproveitamento dos lotes da área central: os limites de altura máxima
das edificações, que pelo Regulamento de 1901 era de três
pavimentos, são elevados, passando-se a permitir edifícios com até 25
pavimentos nas vias de 25 metros de largura, 35 pavimentos nas
avenidas de 35 metros e, na Avenida Afonso Pena, de 50 metros de
largura, edifícios com até 50 pavimentos. É interessante observar aqui
que esses limites — extraordinariamente elevados quando
comparados seja aos do regulamento anterior seja às construções
empreendidas no Rio e em São Paulo na época — expressavam muito
mais o interesse e as expectativas do poder público em relação à
verticalização e adensamento da zona urbana do que a uma efetiva
demanda do mercado. Assim, não é de se espantar que essa
regulamentação termine por não produzir nenhum efeito concreto no
sentido da verticalização, num primeiro momento.12
Apesar de sua suntuosidade natural, daquela grave nobreza que lhe vem
das suas árvores incomparáveis e das suas avenidas, Belo Horizonte é
hoje uma cidade intensamente humana, sem aquele ar exclusivo de
festa, onde a vida se processa sem preparos especiais; tristezas e
alegrias, dores e aventuras se misturam, nessa fraternidade esquecida
com que cada qual disputa o seu destino. Hoje o forasteiro não "vê" mais
Belo Horizonte, porque a vive. À cidade não é mais um problema de
urbanização forçada, que atrai nossa curiosidade e nossa crítica. Hoje,
Belo Horizonte é uma cidade como as outras e o que ela tem de
excepcional ou de melhor não são teorias aplicadas — as próprias teorias
foram patinadas pelo tempo e desapareceram — mas conquistas
profundamente humanas. 14
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portanto, indignos até de serem citados".15
À recepção negativa que a historiografia reserva à
arquitetura desse período, vem se juntar o quadro complexo que essa
apresenta: de fato, nos anos 30 e 40, encontram-se convivendo na
cena arquitetônica belo-horizontina os últimos avatares do ecletismo, o
chamado "estilo moderno", mais tarde conhecido como art déco — que
se torna hegemónico — e os primeiros exemplares de uma variante do
modernismo vanguardista. E o que é mais interessante: muito mais
que uma oposição frontal entre estilos e perspectivas antitéticas,
parece possível identificar no período um leque de atitudes, onde as
áreas de interpenetração entre uma e outra paleta constituem o que
há de mais característico. Aproximação, superposição, diluição —
ideias que nos permitem pensar um período de buscas, em que a
única certeza era o esgotamento do academicismo e do ecletismo
classicizante do início do século. É neste sentido, que um historiador
da arquitetura latino-americana como Ramón Gutierrez pode
aproximar fenómenos aparentemente tão díspares como o art
nouveau, as "restaurações nacionalistas", como o neocolonial, e o art
déco, que teriam como traço comum uma "ruptura com o
academicismo", "ainda que seus planos de conflito não sejam
similares, oscilando entre uma dialética conceituai e uma disputa
sobre modelos formais".16
No que se refere à variante "moderna" hegemónica nessa
época, a complexidade do período reflete-se na própria denominação a
empregar: o termo art déco, hoje largamente difundido, é recente —
foi utilizado nesta acepção apenas a partir do final da década de 60,
quando Bevis Hillier o popularizou com a publicação de seu livro Art
Déco (1968) — e controverso — muitos autores não o consideram
propriamente um estilo, ou fazem uma série de distinções internas à
ideia.17 (Cabe notar que no período essa arquitetura é conhecida em
Belo Horizonte como "cubista", "futurista" ou simplesmente
"moderna".) Como denominação geral para a arquitetura "moderna"
que começa a dominar a cena urbana belo-horizontina no período, no
entanto, o termo art déco parece-nos adequado: ao remeter
imediatamente à "Exposição de Arte dustrial e Decorativa Moderna",
acontecida em Paris em 1925, remete-nos imediatamente também
déia de um "estilo moderno", que vai ser a tônica desse evento. Em
contraposição à Exposição anterior, de 1900, a de 1925 não deveria
ser, de acordo com seus organizadores, uma exposição historicista,
mas voltada para o futuro, "aberta para todos os fabricantes cujo
produto é artístico no caráter e mostra claramente tendências
modernas". Assim, nos pavilhões da exposição patrocinados pelas
grandes lojas de departamento francesas —Lês Grands Magazins du
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Louvre, Bon Marche, Lês Galleries Lafayette e Lê Printemps —
expuseram-se objetos que refletiam o novo estilo, que se queria
artístico, industrial e moderno. É interessante perceber, ao analisar os
pavilhões construídos, a influência difusa de traços da vanguarda
arquitetônica da virada do século: ausência de motivos clássicos,
simplificação de formas, ortogonalidade, jogos com volumes. Aquilo
que duas décadas atrás — na obra da primeira geração de arquitetos
modernos — era recebido como excentricidade, ajudava agora a
vender móveis, papéis de parede e objetos de decoração sofisticados.
Se ainda não se aceitava de todo a crítica radical das vanguardas à
tradição, e suas formulações plásticas ascéticas, o período do entre-
guerrras também não mais se sentia ligado ao passado ou à linguagem
clássica, tornando-se necessário, como nos aponta Roberto Segre,
"tornar a propor um novo sistema de signos identificadores da alta
burguesia, mas que se inserissem ao mesmo tempo nos parâmetros
estabelecidos pela estética da máquina sem renegar os supostos
valores universais da cultura clássica".18 Assim, com o art déco logra-se,
como bem resume Aracil, "uma síntese figurativa que, incorporando
soluções formais de vanguarda, consegue criar um amplo repertório de
imagens de fácil assimilação entre amplas camadas da população".19
A partir dos anos 30, essa arquitetura chega a Belo Horizonte
e se difunde largamente, alcançando em 1935 a própria arquitetura
oficial: o projeto vencedor do concurso para o novo Palácio da
Municipalidade, de autoria do arquiteto Luiz Signorelli, vai ter, como
anuncia uma revista da época, sua "fachada lançada em linhas
modernas, obedecendo na sua estrutura e no seu conjunto os moldes
da arquitetura contemporânea".20 (Num outro artigo, publicado na
Folha de Minas, em 25 de dezembro de 1936, o edifício — então em
construção — também é descrito como sendo "em sóbrio estilo
moderno" e com "todos os requisitos de conforto e disposição
racional", chegando a ser saudado como "a vitória da arquitetura
racional em Minas".) A mudança da sede do governo municipal é sinal
de uma cidade que crescera: a antiga Prefeitura, que passou a sediar o
Arquivo Público Mineiro, tornara-se pequena, e, como alegara Negrão
de Lima em seu relatório anual, "não era dado ao Prefeito receber,
decorosamente, na sede da Administração, visitas ilustres".21 Esse
edifício vai expressar bem, a nosso ver, a atitude dominante no
período: elementos e preocupações "modernos" mesclam-se a uma
lógica compositiva e projetual ainda parcialmente tradicional. Assim,
ao mesmo tempo em que, em artigo publicado na época, enfatiza-se o
uso do concreto armado _ que permite grandes vãos —, de grandes
vitrais "basculantes e modernos", e de um "moderno" telhado de vidro
e concreto que encima "um amplo salão central", solução "prática e
lógica" para um edifício público,22 permanecem elementos tradicionais
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— o tema da torre do relógio municipal, a predominância das massas
sobre os vazados e a presença de elementos monumentais, como o
pórtico e a escadaria de entrada.
Neste sentido, é interessante comparar o projeto de Signorelli
com duas outras construções contemporâneas: a Casa d'Itália
(Raffaello Berti, 1935) e o prédio dos Correios e Telégrafos (José Story
dos Santos, 1936/1939), que representariam combinações diferentes
entre elementos tradicionais e modernos. A primeira, localizada à Rua
Tamoios e que mais tarde passa a abrigar a Câmara dos Vereadores,
mostra exemplarmente como a modernidade ainda penetra
timidamente: se, por um lado, incorpora materiais e elementos visuais
modernos, por outro mantém uma lógica compositiva tradicional e
explora com muita parcimônia os recursos técnicos disponíveis. Neste
caso, é importante perceber como a edificação de uma imponente
Casa d 'Itália testemunha não só a importante presença dos italianos e
seus descendentes em Belo Horizonte, mas principalmente a política
de aproximação Itália-Brasil, que se ensaiava nesse período, e que,
reforçada durante o Estado Novo, refletia a identificação comum a
políticas modernizadoras. A atitude ambígua que apontamos pode ser
percebida a partir da própria composição em planta da "Casa d'Itália":
se, por um lado, a sua resolução em blocos (com o destaque para o
salão de festas), aponta para uma setorização mais nítida — como
propugnada pela arquitetura moderna, por outro, pode-se perceber
ainda um claro eixo de simetria central, ao longo do qual se articulam
as divisões internas da edificação, que se mantêm em módulos muito
acanhados. Também em relação à fachada, a mesma atitude: ao
mesmo tempo em que sua composição mantém-se "clássica", com a
tradicional tripartição, recebendo o bloco principal marcação vertical
em seu centro, ladeado por dois blocos laterais proeminentes, sua
imagem e os elementos decorativos são modernos, geométricos,
emprestando à entrada um caráter de dinamismo e força. Também a
técnica quer ser moderna: o único texto que acompanha o projeto na
sua publicação na revista "Arquitetura" (1935) chama a atenção para
os materiais — modernos — e seus fornecedores. "Foram empregados
neste prédio os seguintes materiais: cimento Perus, fornecido por
Rezende Rache & Cia. Ferros, fabricados pela Siderúrgica Belgo-
Mineira."23.
O prédio dos Correios e Telégrafos, por sua vez, parece se
prender menos às soluções tradicionais, apresentando uma pesquisa
formal mais arrojada e claras preocupações funcionais. Construído no
final dos anos 30, essa edificação retraia bem a remodelação urbana
pela qual passava Belo Horizonte, a que nos referimos anteriormente:
ao mesmo tempo em que se inauguravam o novo Palácio da
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Municipalidade, o Parque Santo António (conjunto esportivo que viria a
dar origem ao Minas Ténis Clube), um Matadouro Modelo, o Viaduto da
Floresta e se deslocava a "estação central" dos bondes para a Praça
Sete, o Relatório de Prefeito de 1937 anunciava estar entre os planos
do governo a construção de uma nova sede para os Correios e
Telégrafos, devendo a antiga — uma imponente edificação eclética —
ser demolida. Retraía também um desejo de modernização dos
serviços públicos em nosso país, com o fim da República Velha: nos
anos 30, como anola Hugo Segawa, conceitos como funcionalidade,
eficiência e economia na arquitetura, "termos próprios de equações
racionalistas", passam a ter firme aplicação em obras públicas em todo
o Brasil, "boa parte delas projetos de repartições oficiais de engenharia
e arquitetura".24 Nesta direção trabalhava o então Departamento de
Correios e Telégrafos, que se empenhava num ambicioso projeto de
normalização arquitetônica, projetando e construindo sedes regionais
nas capitais e agências nas principais cidades brasileiras: Belém, São
Luiz, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba,
Florianópolis, entre outras. Localizado estrategicamente na Avenida
Afonso Pena, a principal da cidade, ao lado da Prefeitura Municipal, a
edificação dos Correios apresenta uma composição moderna,
movimeniada em diversos volumes — geometrizados e simplificados
— que a compõem, numa combinação de linhas retas e sinuosas.
Internamente, é marcada por uma setorização clara, articulando-se em
torno de um amplo e funcional salão de alendimento, possibilitado pelo
uso de concrelo armado.
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recebe um tratamento artesanal de qualidade. Este vai ser o caso do
salão-restaurante, no primeiro andar, que mantém ainda hoje suas
características estilísticas, apresentando trabalho decorativo em
madeira (imbuia) nas vigas do teto, nas colunas e no barrado das
paredes e balcões. O cuidado no tratamento estende-se ao próprio
mobiliário, que se harmoniza com a composição, formando o encosto
em couro das cadeiras desenhos geométricos de inspiração indígena.
D IV ER SÃO PA R A AS M AS SA S
Como observado, o déco ligara-se, desde o seu início, à ideia
de modernidade, espalhando-se sob este signo pela Europa e pelas
Américas. Em todas as latitudes, este estilo parece se prestar bem às
novas exigências de uma sociedade que se via às voltas com a
mecanização de seu cotidiano, sendo utilizado num sem número de
edifícios verticalizados, indústrias, estações de hidroaviões, e outras
tipologias relacionadas com os novos tempos. Para Roberto Segre, a
sua identificação com o mundo industrial e seu vínculo com a moderna
tecnologia da construção vão dar às suas formas "um sentido de
modernidade, de projeção para o futuro".31 Aqui vai ser
particularmente digno de nota como esse "estilo moderno" parece
adequado para o caso dos cinemas, onde o geometrismo déco
substitui a ornamentação clássica até então dominante: de Nova
Iorque a Paris, de Dacar a Buenos Aires, por toda a parte, fachadas
atraentes com linhas aerodinâmicas convidavam a assistir aos filmes
americanos, que se impunham no período. Vivia-se a era dos grandes
estúdios e produções de Hollywood, com filmes como "No Tempo das
Diligências", "Ninotchka", "E o Vento Levou ..." e "Casablanca" atraindo
multidões. No Rio de Janeiro, a revista Arquitetura e Urbanismo
apresentava com entusiasmo os novos cinemas Ipanema e Metro,
chamando a atenção para os seus aspectos modernos, funcional e
decorativamente. Em 1940, uma revista de Belo Horizonte saudava o
cinema como "a grande diversão, a popular, a acessível, a que todos
gostam (...)", explicando tal preferência pela sua capacidade de
"proporcionar de certo modo todas as sensações".32
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ao lançar mão de uma estrutura de inéditos oito pavimentos.
Implantada estrategicamente em terreno de esquina da Praça 7 de
Setembro, o Cine Brasil passa a simbolizar uma nova atitude
construtiva na capital mineira, tanto por sua altura, quanto pela
maneira aerodinâmica com que o seu volume curvo resolvia o tema
tradicional da esquina. Esse papel de símbolo e umbral é reconhecido
num artigo de 1936, do jornal Folha de Minas, onde se avalia que com
aquela construção teria se encerrado o "ciclo do tijolo" em Belo
Horizonte, inaugurando-se o "ciclo do cimento armado", que "teve sua
realização máxima nesse edifício grandioso".33 E, de fato, projetado
pelo arquiteto Ângelo Murgel, em sua construção unem-se
pioneiramente atores que, nos anos seguintes, vão desempenhar um
importante papel neste novo "ciclo": o calculista Emílio Henrique
Baumgart, — que, mais tarde, vai ser conhecido como o "pai do
concreto armado", por suas realizações com esse material, tendo
colaborado com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer na renovação da
arquitetura brasileira —, e a firma "Cia Alfredo Carneiro Santiago",
responsável por inúmeras edificações em concreto armado neste
período.34 Não vai ser por acaso que, em 1936, jovens artistas
escolhem o andar térreo daquele edifício para a "Exposição de Arte
Moderna", mais conhecida como "Salão do Bar Brasil", por se realizar
— transgressivamente — no bar ali localizado. Organizada pelo artista
plástico Delpino Jr., essa exposição também representa um marco na
introdução do "estilo moderno" nas artes plásticas de Belo Horizonte,
reunindo nomes como Jeanne Milde, Renato de Lima, Érico de Paula,
Monsã a jovens arquitetos e estudantes de arquitetura como J. Coury,
Hardy Filho, Remo de Paoli, Shakespeare Gomes e Santólia.35
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mais moderna", e o prédio é colocado em hasta pública. Arrematado
pela Empresa Cine Teatral, tem sua destinação transformada,
prevendo-se ali a construção de um "luxuoso cine-teatro, com ar
condicionado, poltronas estofadas etc., para lançamento na Capital,
em primeira-mão, de películas de qualidade".36 Ao ser contratado para
executar o projeto, o arquiteto Raffaello Berti encontra praticamente
tudo pronto, mantendo as diretrizes básicas do projeto anterior,
especialmente no que se refere à fachada. Inaugurado em 1942, este
cinema passa a constituir — já a partir de seu próprio nome —
importante signo de modernidade local, o que se pode perceber na
imprensa da época, que exalta os seus aspectos "modernos", em
especial o seu conforto e mecanização. Assim, já na própria
programação de abertura, lê-se: "O Metrópole é seu, pois, Belo-
horizontino! Foi para Você que a Cine-Teatral o realizou, numa
homenagem singela ao progresso vertiginoso, incomparável,
gigantesco da metrópole linda e encantadora dos filhos de Minas-
Gerais". Também sua ornamentação era louvada, sendo descrita como
"ao gosto moderno", composta por "formas simplificadas, seguindo
padrões geométricos e linhas retas", em oposição às características
ecléticas — ultrapassadas — do antigo Municipal.37
A C ASA FU TU RISTA
João Alphonsus, um dos mais atentos observadores da cena
belo-horizontina dos anos 30, registra em seu romance Totônio
Pacheco (1935) a rapidez das transformações da cidade, o rápido
envelhecimento dos "bairros burocráticos", "cheios de casas de
platibandas que foram nos primeiros tempos a última palavra em
arquitetura". A cena era decididamente eclética:
O "CICLO DO ARRANHA-CÉU'
No início dos anos 30, a cidade de Belo Horizonte vai ser
personagem importante nas crónicas que Carlos Drummond de
Andrade escreve sob o pseudónimo de António Crispim. Numa delas,
flagra-se a Avenida Afonso Pena desnudada após uma drástica poda
de seus fícus:
30
NOTAS
32
Janeiro: Editora UFRJ/Tempo Brasileiro, 1994. p.133-136.
28. O DISCURSO do Presidente Getúlío Vargas na parada esportiva do Minas
Ténis Clube. Folha de Minas, Belo Horizonte, p.12,14 maio 1940. É
interessante observarmos que a implantação do Minas Tênis Clube ilustra,
à perfeição, a proximidade suspeita entre interesses públicos e privados,
que tem caracterizado a nossa historia: construído pelo Poder Público, em
terreno público, é rapidamente repassado a um grupo privado, que, em
troca de tímidas "contrapartidas", passa a ter o direito de sua utilização,
tornando-se, algum tempo depois, proprietário do terreno e das
instalações.
29. A MAIS bella praça de esportes do Brasil. Estado de Minas, p.4, Belo
Horizonte, 28 nov. 1937.
30. Aqui caberia acrescentar que um terceiro momento na construção do
conjunto do MTC é representado pelo ginásio coberto, cujo projeto do
arquiteto Rafael Hardy Filho, escolhido em concorrência púbica aberta em
1948 e inaugurado em 1951, constitui um importante exemplar da
arquitetura modernista realizada pela primeira geração formada pela
Escola de Arquitetura. (A esse respeito, confira CONCURSO de ante-projeto
para o gimnasium do Minas Tênis Clube. Arquitetura, Belo Horizonte, ano l,
n.4, p.31-32,1948.)
31. SEGRE, Roberto. América Latina, fim de milênio: raízes e perspectivas de
sua arquitetura. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Studio Nobel, 1991. p.l
11.
32. ONDE a cidade se diverte. O cinema é ainda a grande distração popular.
Furos cinematográficos. Revista Bello Horizonte, Belo Horizonte, ano VIII,
n.l 19, p.108, ago. 1940.
33. FOLHA DE MINAS, Belo Horizonte, p.12,14 jul. 1936.
34. A respeito da trajetória Baumgart, também responsável pelo projeto do
Viaduto de Santa Tereza, confira DICIONÁRIO BIOGRÁFICO DE
CONSTRUTORES E ARTISTAS DE BELO HORIZONTE: 1894/1930. Belo
Horizonte: IEPHA/MG, 1997. p.54. A respeito da firma construtora, confira a
mesma obra, à p.239.
35. A respeito do Salão do Bar Brasil, confira VIEIRA, Ivone Luzia. Emergência
do modernismo. In: RIBEIRO, Marília Andrés, SILVA, Fernando Pedro da
(Org.). Um século de artes plásticas em Belo Horizonte. Belo Horizonte:
C/Art/ Fundação João Pinheiro, 1997. p.147-163. 1.
36. FOLHA DE MINAS, Belo Horizonte, 8 ago. 1941.
37. PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Metrópole: a trajetória de um espaço
cultural. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte / Secretaria
Municipal de Cultura, 1993. P.28-32. A esse respeito, confira ainda
CASTRIOTA, Leonardo Barci. O Cine Metrópole e a Pampulha. O art déco e o
moderno em Belo Horizonte. Art Déco na América Latina, Rio de Janeiro,
Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro/SMU, Solar Grandjean de Montigny –
PUC/RJ, p.179-183, 1997.
38. ALPHONSUS, João. Totônio Pacheco. 2.ed. Rio de Janeiro: Edições o
Cruzeiro, 1955. p.70-71.
39. Ibidem. P.71.
40. PLAMBEL. O processo de desenvolvimento de Belo Horizonte: 1897-1970.
Belo Horizonte: Superintendência de Desenvolvimento da Região
Metropolitana – PLAMBEL, 1979. P.182-255.
41. ESTADO DE MINAS, Belo Horizonte, 26 jul. 1936. 2ª seção, p.2.
42. ANDRADE, Carlos Drummond de. Crônicas. 1930-1934. Belo Horizonte:
33
Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais / Banco de
Desenvolvimento de Minas Gerais, 1987. P.76.
43. VISÕES da mais moderna metrópole brasileira. Homenagem da AE ao
cinquentenário de Belo Horizonte. Arquitetura e Engenharia, Belo
Horizonte, n.6, p.24-33, nov./dez. 1947.
44. FRIEIRO, Eduardo. O cabo das Tormentas. 2.ed. Belo Horizonte: Itatiaia,
1981. p.156. (A primeira edição é de 1936).
45. AS GRANDES iniciativas particulares e o que elas representam no
embellezamento da Capital. Estado de Minas, Belo Horizonte, p.5,12out.
1934.
46. EDIFÍCIO Sulamérica/Sulacap. Arquitetura, BeIo Horizonte, n.l, p.31-33,
set./out. 1946.
34