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SANTIDADE DA IGREJA

– A Igreja é santa e produz frutos de santidade.

– Santidade da Igreja e membros pecadores.

– Temos de ser bons filhos da Igreja.

I. O ANTIGO TESTAMENTO anuncia e prefigura de mil formas diferentes


tudo o que se realiza no Novo. E este é a plenitude e o cumprimento daquele.
Cristo, no entanto, sublinha o contraste entre o espírito que traz e o do
judaísmo da época. O espírito do Evangelho não haverá de ser algo
acrescentado ao que já existe, mas um princípio pleno e definitivo que
substituirá as realidades provisórias e imperfeitas da antiga Revelação. A
novidade da mensagem de Cristo, a sua plenitude, tal como o vinho novo, já
não cabe nos moldes da Antiga Lei. Ninguém lança vinho novo em odres
velhos...1

Aqueles que o escutam entendem bem as imagens que emprega para falar
do Reino dos Céus. Ninguém deve cometer o erro de remendar uma peça de
roupa velha com um pedaço de tecido novo, porque o remendo encolherá ao
ser molhado, rasgará ainda mais o vestido velho e ambos se perderão ao
mesmo tempo.

A Igreja é esta veste nova, sem rasgões; é o recipiente novo preparado para
receber o espírito de Cristo e levar generosamente até os confins do mundo,
enquanto existirem homens sobre a terra, a mensagem e a força salvífica do
seu Senhor.

Com a Ascensão, encerra-se uma etapa da Revelação e, com o


Pentecostes, começa o tempo da Igreja2, Corpo Místico de Cristo, que continua
a acção santificadora de Jesus, principalmente através dos sacramentos, mas
também através dos ritos externos que institui: as bênçãos, a água benta... A
sua doutrina ilumina a nossa inteligência, dá-nos a conhecer o Senhor, permite-
nos relacionar-nos com Ele e amá-lo.

É por isso que a nossa Mãe a Igreja jamais transigiu com o erro em
questões de fé, com a verdade parcial ou deformada; esteve sempre vigilante
para manter a fé em toda a sua pureza e ensinou-a pelo mundo inteiro. Graças
à sua fidelidade indefectível, pela assistência do Espírito Santo, podemos
conhecer no seu sentido original, sem nenhuma mudança ou variação, a
doutrina que Jesus Cristo ensinou. Desde os dias de Pentecostes até hoje, a
voz de Cristo continua a fazer-se ouvir por toda a face da terra.

Toda a árvore boa dá bons frutos3, e a Igreja dá frutos de santidade4. Desde


os primeiros cristãos, que se chamavam entre si santos, até os nossos dias,
têm resplandecido na Igreja os santos de qualquer idade, raça ou condição. A
santidade não está normalmente em coisas chamativas, não faz barulho, é
sobrenatural; mas repercute imediatamente, porque a caridade, que é a
essência da santidade, tem manifestações externas: impregna o modo de viver
as virtudes, a forma de realizar o trabalho, a acção apostólica... “Vede como se
amam”, diziam os contemporâneos dos primeiros cristãos5; e os habitantes de
Jerusalém contemplavam-nos com admiração e respeito, porque notavam
neles os sinais da acção do Espírito Santo6.

Hoje, neste tempo de oração e durante o dia, podemos agradecer a Deus


por todos os bens que recebemos por meio da nossa Mãe a Igreja. São dons
sem preço. O que seria da nossa vida sem esses meios de santificação que
são os sacramentos? Como poderíamos conhecer a Palavra de Jesus e os
seus ensinamentos – palavras de vida eterna! –, se não tivessem sido
guardados pela Igreja com tanta fidelidade?

II. DESDE A SUA FUNDAÇÃO, o Senhor teve na sua Igreja um povo santo
cheio de boas obras7. Pode-se afirmar que em todos os tempos “a Igreja de
Deus, sem nunca deixar de oferecer aos homens o sustento espiritual, gera e
forma novas gerações de santos e santas para Cristo”8.

Santidade na sua Cabeça que é Cristo, e santidade em muitos dos seus


membros também. Santidade pela prática exemplar das virtudes humanas e
sobrenaturais. Santidade heróica daqueles que “são de carne, mas não vivem
segundo a carne. Moram na terra, mas a sua pátria é o Céu... Amam os outros,
mas são perseguidos. São caluniados e, no entanto, abençoam. São injuriados,
mas honram os seus detractores... A sua atitude [...] é uma manifestação do
poder de Deus”9.

São incontáveis os fiéis que viveram a sua fé heroicamente: todos estão no


Céu, embora a Igreja tenha canonizado apenas alguns. São incontáveis, aqui
na terra, as mães de família que levam adiante as suas famílias, cheias de fé,
com generosidade, sem pensarem nelas próprias; incontáveis os trabalhadores
de todas as profissões que santificam o seu trabalho; os estudantes que
realizam um apostolado eficaz e sabem avançar alegremente contra a
correnteza; e tantos os doentes que, em casa ou num hospital, oferecem com
alegria e com paz as suas vidas pelos seus irmãos na fé...

Esta santidade radiante da Igreja fica velada às vezes pelas misérias


pessoais dos homens que a compõem. Mas, por outro lado, essas mesmas
deslealdades e fraquezas contribuem para manifestar por contraste – tal como
as sombras de um quadro realçam a luz e as cores – a presença santificadora
do Espírito Santo na Igreja, que a mantém limpa no meio de tantas debilidades.
Apoiados na fé e no amor, entendemos que a Igreja seja santa e que, ao
mesmo tempo, os seus membros tenham defeitos e sejam pecadores. Nela
“estão reunidos bons e maus; está ela formada por uma diversidade de filhos,
porque os gera a todos na fé, mas de tal maneira que não consegue conduzi-
los a todos – por culpa deles – à liberdade da graça mediante a renovação das
suas vidas”10.
Não é razoável, portanto – e vai contra a fé e contra a justiça –, julgar a
Igreja pela conduta de alguns dos seus membros que não sabem corresponder
à chamada de Deus; é uma deformação grave e injusta que esquece a entrega
de Cristo, o qual amou a sua Igreja e se sacrificou por ela, para santificá-la,
limpando-a no baptismo da água, a fim de fazê-la comparecer diante d’Ele
cheia de glória, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e
imaculada11.

Não esqueçamos Santa Maria, São José, tantos mártires e santos;


tenhamos presente sempre a santidade da doutrina, do culto, dos sacramentos
e da moral da Igreja; consideremos frequentemente as virtudes cristãs e as
obras de misericórdia que adornam e adornarão sempre a vida de tantos
cristãos... Isso nos moverá a portar-nos sempre como bons filhos da Igreja, a
amá-la cada vez mais, a rezar por aqueles dos nossos irmãos que mais
necessitam de que nos lembremos deles.

III. A IGREJA não deixa de ser santa pelas fraquezas dos seus filhos – que
são sempre estritamente pessoais –, ainda que essas faltas tenham muita
influência no resto dos seus irmãos. Por isso um bom filho não tolera insultos à
sua Mãe, nem que lhe atribuam defeitos que não tem, ou que a critiquem e
maltratem.

Por outro lado, mesmo nos tempos em que o verdadeiro rosto da Igreja
esteve velado pela infidelidade de muitos que deveriam ter sido fiéis, e em que
só se observavam vidas de muito pouca piedade, nesses mesmos momentos
houve almas santas e heróicas, talvez ocultas ao olhar dos outros. Mesmo nas
épocas mais obscurecidas pelo materialismo, pela sensualidade e pelo desejo
de bem-estar como a nossa, sempre houve e há homens e mulheres fiéis que,
no meio dos seus afazeres, foram e são a alegria de Deus no mundo.

A Igreja é Mãe; a sua missão é “gerar filhos, educá-los e dirigi-los, guiando


com cuidado maternal a vida dos indivíduos e dos povos” 12. Ela, que é santa e
mãe de todos nós13, proporciona-nos todos os meios para conseguirmos a
santidade. Ninguém pode chegar a ser um bom filho de Deus se não acolhe
com amor e piedade filiais esses meios de santificação, porque “não pode ter a
Deus por Pai quem não tiver a Igreja por Mãe”14. Por isso não se concebe um
grande amor a Deus sem um grande amor à Igreja.

Se a Igreja é, por vontade de Jesus Cristo, Mãe – uma boa mãe –, nós
devemos ter a atitude dos bons filhos. Não permitamos que seja tratada como
se fosse uma sociedade humana, esquecendo o mistério profundo que nela se
esconde; não queiramos sequer escutar críticas contra sacerdotes, bispos... E
se alguma vez virmos erros e defeitos naqueles que talvez devessem ser mais
exemplares, saibamos desculpar, ressaltar outros aspectos positivos dessas
pessoas, rezar por elas... e, se for o caso, ajudá-las com a correcção fraterna,
sempre que nos seja possível.

“Amor com amor se paga”. A Igreja oferece-nos continuamente os


sacramentos, a liturgia, o tesouro da fé que guardou fielmente ao longo dos
séculos... Olhamos para ela com um olhar de fé e de amor que quer traduzir-se
em obras.

Terminamos a nossa oração invocando Santa Maria, Mater Ecclesiae, Mãe


da Igreja, para que nos ensine a amá-la cada dia mais.

(1) Mc 2, 22; (2) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 4; (3) Mt 7, 17; (4) cfr. Catecismo
Romano, 1, 10, n. 15; (5) Tertuliano,Apologético, 39, 7; (6) cfr. Act 2, 33; (7) Tit 2, 14; (8) Pio XI,
Enc. Quas primas, 11-XII-1925, 4; (9) Epístola a Diogneto, 5, 6, 16; 7, 9; (10) São Gregório
Magno, Homilia 38, 7; (11) Ef 5, 25-27; (12) João XXIII, Enc. Mater et magistra, Introd.; (13)
São Cirilo de Jerusalém, Catequeses, 18, 26; (14) São Cipriano, Sobre a unidade da Igreja
Católica, 6.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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