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São Paulo
2017
1
SUMÁRIO
Sumário .................................................................................................................................. 1
Capítulo 1: Transporte de Poluentes no Meio Hídrico ......................................................... 5
1 Qualidade das Águas Superficiais .................................................................................. 5
2 Constituintes e qualidade da água ................................................................................. 5
3 Modelação de Águas Superficiais ................................................................................ 14
4 Um Modelo Conceitual ................................................................................................ 15
5 REferências .................................................................................................................. 17
Capítulo 2: Equações BÁsicas ............................................................................................. 19
1 Introdução .................................................................................................................... 19
2 Equações Fundamentais ............................................................................................... 19
2.1 Conservação da massa .......................................................................................... 20
2.2 Conservação da Quantidade de Movimento ......................................................... 22
2.3 Escoamento bidimensional ................................................................................... 23
2.4 Escoamento Unidimensional ................................................................................ 25
3 Advecção, Difusão e Dispersão ................................................................................... 26
3.1 Difusão Molecular e a Lei de Fick ....................................................................... 26
3.2 Transferência de Massa ........................................................................................ 28
4 Soluções Numéricas ..................................................................................................... 29
4.1 Solução das Equações de Saint Venant ................................................................ 30
4.1.1 Discretização Numérica ............................................................................... 32
4.1.2 Características Geométricas das Seções dos Canais .................................. 34
4.1.3 Condições Iniciais e de Contorno ................................................................ 34
4.1.4 Algoritmo de Solução ................................................................................... 35
4.2 Equação da Dispersão ........................................................................................... 35
4.2.1 Esquema Direto............................................................................................ 36
4.2.2 Esquema Centrado no espaço ...................................................................... 37
4.2.3 Aplicação Prática ........................................................................................ 38
5 ReferÊncias .................................................................................................................. 39
Capítulo 3: Equação da Energia e Dispersão Térmica ........................................................ 39
1 Introdução .................................................................................................................... 39
2 Equações da Energia .................................................................................................... 39
2.1 Equação da Convecção-Difusão Térmica............................................................. 42
2.2 Escoamentos com Influência da Temperatura ...................................................... 42
3 Soluções Numéricas ..................................................................................................... 43
4 Referências ................................................................................................................... 45
Capítulo 4: Processos em Rios ............................................................................................ 46
1 Introdução .................................................................................................................... 46
2 Modelação dos Parâmetros de Qualidade das Águas ................................................... 47
2.1 Reaeração.............................................................................................................. 48
2.1.1 Reaeração Superficial .................................................................................. 48
2.1.2 Reaeração em Estruturas Hidráulicas, Soleiras e Cascatas ....................... 54
2.2 Fotosíntese ............................................................................................................ 55
Guia de Estudo
2
2.3 Demanda Carbônica de Oxigênio ......................................................................... 55
2.3.1 Ciclo do Carbono ......................................................................................... 55
4.1.1 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)................................................... 58
2.3.2 DBO para Rios ............................................................................................. 59
2.3.3 DBO de 5 dias .............................................................................................. 60
2.3.4 Re-aeração com matéria orgânica ............................................................... 61
2.3.5 Re-suspensão da material orgânica ............................................................. 61
2.4 Respiração Vegetal ............................................................................................... 62
2.5 Nitrificação ........................................................................................................... 62
2.6 Efeitos da Temperatura ......................................................................................... 62
3 Métodos de Solução ..................................................................................................... 63
3.1 Soluções Teóricas ................................................................................................. 63
3.2 Equação de Streeter-Phelps .................................................................................. 65
3.3 Soluções Numéricas .............................................................................................. 66
3.4 Dados e Condições de Contorno........................................................................... 67
3.4.1 Coeficiente de Dispersão ............................................................................. 67
4.1.2 Comprimento de Mistura ............................................................................. 68
3.5 Modelando a Temperatura .................................................................................... 68
4 Referências ................................................................................................................... 69
Capítulo 5: Processos em Estuários ..................................................................................... 70
1 Introdução..................................................................................................................... 70
2 Hidráulica Estuarina ..................................................................................................... 71
2.1 Generalidades........................................................................................................ 71
2.2 Marés .................................................................................................................... 72
3 Modelos Estuarinos ...................................................................................................... 78
3.1 Modelo de Segmento ............................................................................................ 80
3.2 Modelo de Diferenças Finitas ............................................................................... 83
4 Referências ................................................................................................................... 84
Processos em Reservatórios e lagos ..................................................................................... 85
1 Introdução..................................................................................................................... 85
2 Parâmetros de Análise de Lagos e Reservatórios ......................................................... 86
2.1 Parâmetros Físicos ................................................................................................ 86
2.1.1 Radiação Solar ............................................................................................. 86
2.1.2 Temperatura da Água................................................................................... 88
2.1.3 Turbidez ........................................................................................................ 91
2.1.4 Sedimentos .................................................................................................... 92
2.1.5 Cor ................................................................................................................ 93
2.1.6 Oxigênio Dissolvido ..................................................................................... 93
4.1.1 Salinidade ..................................................................................................... 94
2.1.7 pH ................................................................................................................. 95
2.1.8 Alcalinidade ................................................................................................. 95
2.1.9 Parâmetros Hidrológicos ............................................................................. 96
2.1.10 Tempo de Detenção ...................................................................................... 96
2.1.11 Variação do Nível d´água e Profundidade Média ....................................... 97
Guia de Estudo
3
2.1.12 Continuidade (Fetch) ................................................................................... 98
2.2 Parâmetros Biológicos .......................................................................................... 98
2.2.1 Fitoplancton ................................................................................................. 99
2.2.2 Zooplancton ............................................................................................... 100
2.2.3 Peixes ......................................................................................................... 101
3 Mistura em Lagos ....................................................................................................... 102
3.1 Trocas Atmosféricas ........................................................................................... 103
3.1.1 Radiação Solar ........................................................................................... 103
3.1.2 Temperatura da Água ............................................................................... 104
3.1.3 Vento .......................................................................................................... 105
3.2 Detecção e Estabilidade da Estratificação .......................................................... 106
3.3 Efeito da Salinidade ............................................................................................ 107
4 Modelos para reservatórios ........................................................................................ 108
5 REferências ................................................................................................................ 108
Guia de Estudo
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CAPÍTULO 1: TRANSPORTE DE DE POLUENTES NO MEIO HÍDRIDO
1
feitos, processos, objetos ou materiais antropogénicos são aqueles derivados de atividades humanas, em oposição a aqueles
que ocorrem em ambientes naturais sem influência humana.Este termo é muitas vezes utilizado no contexto de
externalidades ambientais na forma de resíduos químicos ou biológicos que são produzidos como subprodutos de atividades
humanas.
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Sólidos dissolvidos: compostos orgânicos e inorgânicos presentes na coluna d’agua e na
interface com o fundo.
Sais (Não orgânicos): presentes nos corpos d’água em geral e particularmente nos estuários,
como os cloretos, iodetos e etc.
Temperatura: forçante principal na maioria das reações químicas de decaimento e crescimento, é
função da radiação solar e despejo.
Esgotos orgânicos: fontes de constituintes como o carbono, o nitrogênio e o fósforo.
Nutrientes: usualmente restrito ao N e P, representa a fonte de vida para o fitoplancton.
Metais: usualmente associados às atividades antrópicas, também pode ser característico do
ambiente natural
Materiais radioativos: indicadores de atividades antrópicas prejudiciais a saúde humana.
Herbicidas: nome genérico dado aos tóxicos utilizados na agricultura (agroquímicos) tais como
os defensivos agrícolas, pesticidas vegetais e animais e demais insumos.
Flora: representa a vida vegetal, notadamente o fitoplancton.
Fauna: representa a vida animal, notadamente o zooplancto, invertebrados e peixes.
A elevação da temperatura provoca, entre outros efeitos, a aceleração das reações químicas de oxidação,
além de atuar no metabolismo do fitoplancton e do zooploancton. A concentração de sólidos altera a
transparência e em conseqüência a propagação da luz e da temperatura, afetando o comportamento
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térmico do corpo hídrico. A matéria orgânica é um indicativo do aporte de esgotos, que resulta, além da
queda do oxigênio dissolvido essencial à fauna aquática, no aumento das concentrações de fósforo e
nitrogênio, nutrientes para a flora aquática.
Os tóxicos e a radioatividade são indicativos das ações antrópicas descontroladas sobre o uso do solo,
assim como os corantes e espumas indicam a existência de atividades especificas como a agricultura e o
manuseio de substancias com potencial nuclear.
Figura 1: Proliferação de algas e espumas na superfície de corpos hídricos são indicadores de poluição
As características de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica contribuinte bem como o uso
pretendido para o manancial são aspectos mais importantes a serem considerados na escolha das
variáveis a serem consideradas para o monitoramento e controle da qualidade da água. A relevância e a
significância dos resultados obtidos através do monitoramento de qualidade apenas poderão ser
analisados levando em consideração o monitoramento hidrológico de quantidade.
A tabela a seguir indica o significado das principais variáveis utilizadas no monitoramento de qualidade
das águas, e que são utilizadas na gestão de mananciais e recursos hídricos de forma geral.
Tabela 2-1: Variaveis de Qualidade da Água (Porto ET all, 2009)
Unidade de
Variável Significado Observações
medida
Podem atribuir cor à água, compostos de íons As partículas interferem na absorção e
Depende do metálicos naturais, matéria orgânica, corantes transmissão da luz. A cor de uma amostra
Cor método de sintéticos e partículas em suspensão. pode ser dividida em cor aparente e cor
análise verdadeira (medida após a eliminação das
partículas em suspensão).
Função das características geológicas e Em programas de monitoramento a
Dureza total climáticas da região, relacionada utilização desta variável é útil para
mg/l CaCO3
principalmente a sais de íons cálcio e demonstrar a concentração de cátions
magnésio. bivalentes na água.
Função de despejos industriais e domésticos Geralmente, o odor não é incluído em
que podem criar odores na água devido ao programas de monitoramento, porém a
estímulo da atividade biológica. Solventes simples observação desta variável no
Odor
Indicadores Gerais
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Unidade de
Variável Significado Observações
medida
Bioquímica de necessária de oxigênio para que os fatores intervenientes. A respiração das
Oxigênio microrganismos aeróbios presentes na amostra, algas presentes nos corpos hídricos utilizam
DBO oxidem a matéria orgânica. Dessa forma, pode oxigênio o qual não será utilizado no
ser entendido como a medida aproximada da processo de biodegradação. A presença de
quantidade de matéria orgânica biodegradável substâncias tóxicas aos microrganismos
presente na amostra. Em águas naturais não responsáveis pela biodegradação podem
poluídas a medida de DBO é inferior a 2 mg/L. reduzir o processo. O tempo para análise
desta variável pode dar origem a resultados
distintos. Os resultados da análise de DBO
devem ser avaliados com critério,
utilizando-se outras variáveis na conclusão.
A DQO é uma medida indireta da quantidade A análise da DQO é rápida e simples,
de material orgânico e inorgânico, susceptível viabilizando a sua realização em
à oxidação química por um oxidante praticamente todas as regiões do país.
Demanda energético. Não é uma variável específica, pois
Química de não possibilita identificar as espécies que
Oxigênio mg/l O2
foram oxidadas e nem fazer a distinção entre
DQO materiais orgânicos e inorgânicos. Valores
elevados de DQO podem indicar problemas de
contaminação dos corpos hídricos por despejos
industriais.
O Bário pode estar presente nas águas naturais
Bário devido aos processos de desgaste de rochas
mg/L Ba
Ba ígneas e sedimentares. É bastante utilizado em
processos industriais.
Desgaste de rochas, lixiviação de solos e Concentrações elevadas em corpos hídricos
Boro outros processos naturais são as causas da podem indicar a ocorrência de problemas
mg/L B presença de Boro em corpos hídricos. de poluição. A análise em conjunto com
B outras variáveis pode ajudar na
identificação da principal fonte de poluição.
Esta sempre presente nos corpos hídricos, pois A elevação da temperatura e atividade
proveniente de rochas ricas em minerais de fotossintética pode reduzir a concentração
Cálcio cálcio.É um dos íons responsáveis pela dureza do cálcio na água por ocasião da sua
mg/L Ca da água. As atividades industriais e processos precipitação na forma de carbonato de
Ca de tratamento de água podem contribuir para o cálcio. Os compostos de cálcio são estáveis
aumento da concentração de cálcio nos corpos na água na presença de dióxido de carbono.
hídricos.
Os cianetos ocorrem em águas de forma iônica A estações quentes e ensolaradas
ou como ácido cianídrico fracamente favorecem o processo de oxidação
dissociado e pode formar complexos com bioquímica do cianeto. Outro processo que
Cianeto metais. A sua presença em corpos hídricos é contribui também para essa redução é a
mg/L CN
CN resultado de atividades industriais, adsorção no material suspenso e nos
principalmente aquelas associadas ao sedimentos de fundo
tratamento de superfícies metálicas por
eletrodeposição.
INorgânicos
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Unidade de
Variável Significado Observações
medida
argilosos, orgânicos ou óxidos de ferro.
As atividades de processamento de minério de O ferro está presente na forma insolúvel em
ferro e as suas ligas, contribuem para a sua ambientes lóticos (ferro trivalente). Em
presença nos corpos hídricos. Estações de ambientes lênticos, principalmente junto ao
Ferro mg/L Fe tratamento que utilizam sais de ferro no fundo, está presente na forma solúvel (ferro
tratamento e descartam o lodo nos corpos bivalente).
hídricos podem ser uma fonte contribuinte
deste elemento na água.
É utilizado na fabricação de ligas metálicas e
Manganês defensivos agrícolas, o que pode contribuir
mg/L Mn
Mn para a presença de manganês nos corpos
hídricos.
A presença de mercúrio nos corpos hídricos é
Mercúrio resultado da deposição atmosférica e drenagem
mg/L Hg superficial, além do desgaste natural de rochas
Hg e contribuição de despejos industriais e
domésticos.
A sua presença nos corpos hídricos pode ser
resultados de processos naturais ou das
atividades humanas. Despejos de indústrias de
tratamento de superfícies metálicas e de
Zn mg/L Zn
sistemas de resfriamento que utilizam
compostos de zinco contribuem para o
aumento da sua concentração nos corpos
hídricos.
A presença em corpos hídricos está associada à
sua utilização como defensivo agrícola e
Aldrin + também no controle de insetos, sendo
μg/l
Dieldrin resultante da deposição atmosférica e
drenagem superficial, devido a sua persistência
no meio ambiente.
Amplamente utilizada na fabricação de resinas O fenol é rapidamente degradado no
sintéticas, podendo ser utilizado como agente ambiente aquático, a menos que a sua
Fenóis mg/l de desinfecção em vários produtos. Em corpos concentração seja elevada causando inibição
hídricos, é resultado do lançamento de da atividade biológica.
despejos industriais e domésticos.
São de grande importância para o
monitoramento da qualidade dos corpos
Orgânicas
As variáveis de qualidade da água são organizadas, de acordo com a legislação brasileira (CONAMA
357/2005) de forma a estabelecer metas para a preservação dos corpos hídricos de acordo com seu uso
potencial. Veja na tabela a seguir os potenciais usos associados às águas doces e seus parâmetros.
V0
Unidimensional: preservam uma dimensão
preferencial, relacionada a geometria do corpo
hídrico ou ao sentido preferencial do fluxo,
como nos casos dos rios e estuários de
pequena largura.
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4 UM MODELO CONCEITUAL
Imagine o lançamento de um constituinte qualquer num curso d’água retilíneo e em movimento
permanente uniforme, a montante de uma captação de água. Este problema é representa a primeira
aplicação prática das ferramentas desenvolvidas pela modelação matemática de qualidade da água. Os
passos para sua solução são:
QaCa QeCe
C1
Qa Qe
C C
U
t x
Decaimento: o decaimento pode ser representado genericamente por uma função exponencial, indicada
a seguir, onde C0 é a concentração para t=t0 e k um coeficiente de decaimento ou reatividade, cuja
dimensão é t-1.
C C0e K t
C
kC0e K t
t
C
kCi
t
Sedimentação: considera a deposição por ação gravitacional das partículas do soluto, com velocidade de
sedimentação v (m/s), ao longo de uma coluna d’água com profundade y (m) sobre a área de fundo,
dada por
C v
A x C v C x p t C
Combinação dos efeitos t y
Admitindo-se que os processos são independentes e lineares
pode-se escrever a equação que permite calcular a concentração
Ct+1, isto é, o valor da concentração na seção i no instante
futuro, a partir dos valores de Ci, Ci+1 e Ci-1 no instante t.
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Ci Ci Ci Ci 1 v
U E 2
kCi C
t x x y
C Ci 1 C 2Ci Ci 1 v (Ci Ci 1 )
Cit 1 Cit t U i E i 1 2
kCi
x x y 2
A expressão acima pode ser utilizada para montagem de um
algoritmo em planilha eletrônica de forma a automatizar o
cálculo da seqüência temporal das concentrações ao longo do
trecho simulado. A figura ao lado apresenta os dados utilizados
no exemplo cujos resultados podem ser observados nos gráficos
a seguir, para diferentes instantes de tempo.
Figura 3: Perfil longitudinal de concentrações ao longo do trecho de 15 km de rio, nos instantes (a) 100s, 3.600s, 7.200s e
36.000s após o início
5 REFERÊNCIAS
Piveli, R. P. et all. Qualidade das Águas e Poluição: aspectos físico-químicos. ABES, 2006.
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd.,1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. - Surface Water Quality Modeling. ,Waveland Press, 2008.
Martins, J.R.S, - Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fraguso Jr., C.R. - Modelagem Ecológica em Ambientes Aquáticos. Oficina de Textos, 2009.
Modelagem de Qualidade da Água
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Gang-Ji, Zhen. – Hydrodynamics and Water Quality. Modeling rivers, lakes and estuaries. Wiley &
Sons, 2008
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CAPÍTULO 2: EQUAÇÕES BÁSICAS
Este capítulo trata das equações básicas do movimento fluido e de substâncias a partir
das equações gerais de Navier-Stokes, Equação de advecção-dispersão e método
numérico de diferenças finitas.
1 INTRODUÇÃO
Os modelos de qualidade das águas se propõe a simular as variações de concentração de poluentes a
medida que os mesmos se movimento no ambiente. Alguns poluentes são suficientemente inertes para
que suas concentrações possam ser consideradas invariáveis a não ser como função do fenômeno físico
de transporte por advecção e dispersão. Estes são denominados constituintes conservativos e
freqüentemente são úteis como traçadores empregados para calibração e validação de modelos de
simulação de qualidade. O mecanismo básico que envolve o processo de advecção e dispersão será
discutido neste capítulo.
Somando-se aos processos de transporte de massa, para a maioria dos poluentes existem processos
físicos, químicos e biológicos que provocam alterações nas concentrações. Como mostra a Figura 4, o
processo de transporte de poluentes é resultado de interações entre o transporte de massa e processos
cinéticos. Os principais fatores determinantes são o tipo do poluente, a natureza do ambiente e o método
de descarga. Um poluente lançado no ambiente divide-se em séries de subsistemas, nos quais sua
concentração pode crescer ou decrescer devido a uma grande variedade de mecanismos. Aparentemente
não se pode considerar a hidrosfera como uma camada isolante nos estudos do transporte dos poluentes.
Sistemas terrestres, especialmente o solo podem ter também um papel significante, em função de
processos como a lixiviação.
ATMOSFERA
Processos incluem
oxidação fotoquímica e
dispersão
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
adsorção e advecção
Nos itens seguintes serão descritas formas de representação dos processos hidráulicos, físicos, químicos
e biológicos que determinam a concentração dos poluentes.
2 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
Existem dois mecanismos básicos responsáveis pelo transporte de soluções dissolvidas e suspensas nos
corpos d´água naturais:
Advecção: refere-se ao transporte de massa devido ao movimento da água que contem o soluto.
Guia de Estudo
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Difusão: é o transporte não advectivo, devido a migração do soluto em resposta a um gradiente de
concentração. Pode ocorrer no nível molecular, devido ao movimento browniano, resultando em
movimentos aleatórios das moléculas do soluto ou numa escala macroscópica devido aos vórtices
turbulentos e a velocidade de atrito.. Estes mecanismos podem ser tratados de forma separada.
O mecanismo de transporte advectivo é usualmente representado pela equação da advecção-difusão, que
pode ser derivada a partir das equações fundamentais do escoamento fluido.
A análise do movimento dos fluidos de forma genérica pode ser realizada a partir das equações básicas
da mecânica, as conhecidas leis de Newton e as duas primeiras leis da termodinâmica. A essência destas
leis pode ser resumida nos seguintes postulados:
a) um corpo considera seu estado de repouso ou movimento retilíneo uniforme enquanto não é
submetido a uma ação externa.
b) O esforço instantâneo aplicado a um corpo é proporcional ao produto de sua massa instantânea
pela sua aceleração instantânea
c) Ação e reação são esforços de mesmo module e direção, com sentidos opostos
d) Num sistema isolado, o trabalho realizado para a passagem de um estado A para outro estrado B
é totalmente determinado pela diferença entre as energias nestes estados terminais A e B
e) Existe uma tendência de parte da natureza se apresentar em estado de desordem progressiva.
Através das equações fundamentais da física procura-se estabelecer as relações entre as variáveis
hidráulicas (profundidade, velocidade, pressão, massa específica e etc) de modo a expressar em termos
de leis de conservação as funções de massa e do momento aplicáveis aos escoamentos genéricos.
Guia de Estudo
21
u v w
dx dy dz dt ( dx dy dz dx dy dz dx dy dz ) dt
t x y z
Eq. 2-3
A Eq. 2-3 acima é freqüentemente chama de termo local, que descreve as variações que poderiam
ocorrer independentemente do movimento da partícula fluida. Na equação abaixo, escreve-se a taxa de
variação que pode ocorrer para uma partícula em repouso num determinado ponto:
u v w
t x y z
Eq. 2-4
ou em termos vetoriais
div ( V ) 0
t
Eq. 2-5
Na verdade, considerando o fluido genérico, isto, é no qual a massa específica também pode variar nas
três dimensões, pode-se desdobrar a expressão da Eq. 2-5 em:
u v w
u v w
t x y z y y z
Eq. 2-6
Os termos do tipo u( / x) v( / y) w( / z) são denominados convectivos e descrevem a taxa de
variação devido ao movimento da partícula num campo de velocidades. A combinação dos termos
( / t ) u( / x) v( / y) w( / z) e então denominada derivada substancial ou derivada total e
representa a taxa total de variação de alguma propriedade do fluido em função da movimentação de
uma partícula com velocidades vetorial V. A derivada total pode ser expressa então por:
D
u v w
Dt t y y z
Eq. 2-7
Como exemplo, James (1993), considera um avião voando na direção leste (x crescente) a uma altitude
constante. No trajeto do vôo a temperatura está aumentando à razão de 1 ºC por dia. Para cada 1000 km
de viagem a temperatura aumenta 2 ºC. Assim, o efeito sentido por um corpo estacionado num ponto
qualquer será de 1 ºC/dia. A taxa de variação total da temperatura para o avião será:
D T 2
u 1 u
Dt t y 1000
Eq. 2-8
onde T é a temperatura média diária. Se o avião viaja a 200 km/h então a taxa de variação total da
temperatura a que o avião estará sujeito será de
D 2
1 200 24 10,6º C / dia
Dt 1000
Eq. 2-9
Desta forma, a variação total da massa dentro do volume de controle pode ser expressa, a partir da
combinação da Eq. 2-6 com a Eq. 2-7:
D u v w
0
Dt x y z
Eq. 2-10
Modelagem de Qualidade da Água
22
A Eq. 2-10 é conhecida como ‘Equação da Continuidade’ ou ‘Equação da Conservação da Massa’, que
pode ser ainda simplificada se considerarmos fluidos incompressíveis, nos quais D / Dt 0 , isto é, a
densidade do fluido permanece constante com o tempo, o que pode ser verdade para rios e estuários,
porém nem sempre se aplica a lagos e reservatórios com estratificação, devido à variação nas
concentrações de sais ou sólidos em suspensão.
2.2 Conservação da Quantidade de Movimento
A conservação da quantidade de movimento deriva-se da Lei de Newton. Considerando-se a resultante
das forças externas sobre o elemento infinitesimal indicado na Figura 5:
V
Fe dV
t
Eq. 2-11
A aceleração sobre o elemento, representa pelo termo V / t é dada pelo desdobramento em três
dimensões:
dV V V V V
u v w
dt t x y z
Eq. 2-12
Os matemáticos utilizam para simplificar a notação o símbolo nabla que representa:
i j k
x y z
Eq. 2-13
Desta forma a aceleração total do elemento pode ser escrita pelo produto escalar entre o operador nabla
aplicado em V e V:
dV V
( V ) V
dt t
Eq. 2-14
e a resultante das forças externas (Fe) sobre o elemento fica:
V
Fe dV ( V ) V
t
Eq. 2-15
As forças externas ( Eq. 2-16) atuando no elemento podem ser decompostas em quatro parcelas, a
gravidade, atuando na vertical, a componente rotacional, que depende da rotação da terra, a componente
de pressão, que atua nas faces do elemento e a componente de cisalhamento, que representará o atrito
nas 6 faces do elemento.
Guia de Estudo
23
Eq. 2-18
Forças de Cisalhamento: as forças de cisalhamento são originadas
por tensões de cisalhamento provenientes do atrito com o fundo e
com a superfície (vento e etc). Desta forma definem-se inicialmente
as tensões nas faces do elemento da forma:
x xy j xz k
x ( x )dx xy ( xy )dx j xz ( xz )dx k
x x x
y yx i yz k
y ( y )dy yx ( yx )dy i yz ( yz )dy k Figura 6: Tensões de Cisalhamento nas faces
y y y
z zxi yz k
z ( z )dz zx ( zx )dz i zy ( zy )dz j
z z z
1 1 V
gz p FR FC ( V ) V
dV t
Eq. 2-20
h 0 h 0
U u dz V v dz
Uh Vh
dx dy h dt ( dx dy dx dy) dt
t x y
de onde se obtém a equação da continuidade para o escoamento em duas dimensões.
h U V
h h 0
t x x
Eq. 2-21
Para a equação da quantidade de movimento tem-se:
dV V U V U U V V
( V ) V i j U V i U V
y
j
dt t t t x y x
Eq. 2-22
As forças intervenientes no elemento bidimensional são:
Cisalhamento: são consideradas na face de contato com a face superior e inferior de forma a permitir
representar os atritos com o fundo do leito e o efeito de vento sobre a superfície. Admite-se que o valor
de tensão é uniforme no plano de atuação, sendo positivo quando tem o mesmo sentido que a
velocidade e negativo quando sentidos opostos:
1
dV
FC
1
h
( 0 x 0 y )i ( wx wy ) j
Eq. 2-24
Guia de Estudo
25
Os valores de 0 e w são respectivamente as tensões de cisalhamento devido ao atrito no fundo e ao
atrito com o vento, e podem ser estimados a partir dos coeficientes tradicionais empregados no
escoamento hidráulico:
VV
0 g e w arCarW 2
C2
Eq. 2-25
onde V é a velocidade do escoamento e W a velocidade do vento. O Coeficiente C pode ser calculado
pela expressão de Chezy e Car é um coeficiente típico de arrastamento pelo ar.
1
V V V h V (U 2 V 2 ) 2 wy
U V g g 0
t x y x C 2h h
Eq. 2-26
Para o escoamento unidimensional, considera-se um elemento de largura unitária (dy=1) e altura finita
h, como ilustra aFigura 7 fica:
h Uh
dx dt ( dx dt
t x
h U
h 0
t x
Eq. 2-27
U U h UU
U g g 2 0
t x x C h
Eq. 2-28
Para a segunda lei de Fick, emprega-se o mesmo conceito definido no elemento de volume infinitesimal
apresentado na Figura 8, considerando que o mecanismo de transporte é puramente difusivo:
Guia de Estudo
27
Admitindo-se que o coeficiente de difusão molecular é constante em todas as coordenadas, pode
escrever a taxa de variação da concentração com o tempo de uma substancia sujeita somente ao
processo de difusão molecular, como função de uma constante de proporcionalidade Dm:
c 2c 2c 2c
Dm 2 2 2
t x x y z
Eq. 3-3
A dispersão de constituintes sujeitos a
processos de advecção de larga escala e
turbulência pode ser feita matematicamente
com base na equação da continuidade,
conforme mostra a Eq. 2-4:
c cu cv cw
Figura 11:Fluxo de massa de um constituinte de concentração
t x y z C
Os valores de concentração me velocidade,
embora na teoria instantâneos, são na prática medidos em pequenos intervalos de tempo. Assim, a
componente da velocidade u pode ser expressa como um valor médio u acrescido de uma flutuação u
(Figura 10) e assim também as demais componentes:
u u u
v v v
w w w
c c c
Eq. 3-4
Substituindo-se estas velocidades instantâneas na Eq. 3-3 resultará
c c c c c c c
u v w ( Dx ) ( Dy ) ( Dz ) 0
t x y y x x y y z z
Eq. 3-8
Os valores de Dx, Dy e Dz não são os mesmos em todas as direções, mas costuma-se por simplificação,
adotar um valor fixo Dm para representar uma difusão homogênea. A Eq. 3-8 é a equação
tridimensional de advecção-difusão, que não tem solução analítica. Os valores para Dm são obtidos a
partir medições de campo com traçadores, para estimativa do valor a ser utilizado nos cálculos. A Eq.
3-8 pode ser reduzida a uma dimensão tomando-se valores médios para todos os parâmetros ao longo da
seção de um rio ou estuário, considerando a concentração apenas como função de x e t. Assim:
c 1
A
0 U u dA
y A0
c 1
A
0 C c dA
z A0
vw0
C C 1 C
U (E )0
t x A x x
Eq. 3-9
2
O coeficiente E é denominado coeficiente de dispersão longitudinal e tem a dimensão L /T.
Guia de Estudo
29
A resistência é usualmente descrita em termos de coeficiente de transporte de massa. Um coeficiente
global é um parâmetro integrado que incorpora os efeitos de turbulência, tipo de constituinte e é
tipicamente uma função da temperatura.
Um reservatório contém um constituinte a uma concentração uniforme Cw. O constituinte pode mover-
se através da superfície do reservatório, entre a água e a atmosfera, que tem concentração Ca. A área da
superfície é A, o volume V e ao relação entre o volume e a área é d V / A sendo d denominado
profundidade média. O balanço de massa então fica:
VdC
kA(Cw Ca )
dt
Eq. 3-10
ou então
dC C
k
dt d
Eq. 3-11
cuja solução analítica é
t
k
C C0e d
Eq. 3-12
A direção do movimento é determinada pelo sinal da quantidade (Cw-Ca). Por exemplo, se um
constituinte sintético foi lançado no reservatório então Cw > Ca e o transporte de massa ocorrerá entre a
água e o ar. Se o constituinte for oxigênio e a o reservatório não está saturado, a transferência de massa,
freqüentemente chamada de reaeração, ocorrerá do ar par a água. A Eq. 3-13 é usualmente utilizada
como um modelo de reaeração. O coeficiente kL pode ser reescrito na forma de um coeficiente
volumétrico de reaeração ka k L A / V , com unidade [T-1].
Vdc
k L A(cs c)
dt
Eq. 3-13
dc
ka (cs c)
dt
Eq. 3-14
Outra forma comum de se expressar a concentração de oxigênio na água é através do déficit de O2, na
forma D (cs c) . Como dD dcs dc
dD dc
ka D s
dt dt
Eq. 3-15
Se for admitido que os fatores que afetam a concentração de saturação cs (temperatura, salinidade e
pressão) são constantes, então dcs/dt = 0 e:
dD
ka D
dt
Eq. 3-16
4 SOLUÇÕES NUMÉRICAS
Muitas das equações diferenciais descritas para avaliação do movimento dos fluidos e da dispersão de
poluentes, como as equações 2.22, 2.30 e 3.9 não podem ser resolvidas analiticamente em função da
complexidade e não linearidade de seus termos, além de possuírem coeficientes variáveis, condições de
Modelagem de Qualidade da Água
30
contorno complexas e outros fatores. A solução das equações de fluxo, assim como da adveção-
dispersão, é freqüentemente alcançada com o emprego do método numéricos, que aproximam os
termos destas equações em elementos passíveis de serem calculados.
O método mais empregado nas aplicações ligadas ao fluxo de água é o das diferenças finitas, até mesmo
quando a solução analítica é possível. O método de diferenças finitas consiste em aproximar as
diferenciais infinitesimais das equações por diferenças mensuráveis, admitindo que as mesmas possam
operar em variáveis discretas e em pequenos intervalos de tempo. Apesar de ser uma aproximação, não
significa que os resultados serão grosseiros ou pouco acurados. Mesmo as soluções analíticas podem
apresentar erros, em função dos dados de entrada e, em ambos os casos, a precisão da solução será
sempre função da qualidade dos dados de entrada empregados.
1 16
C Rh Eq. 4-3
n
Guia de Estudo
31
1
2
8g
C
Eq. 4-4
2 log 12Rh
K
onde:
n coeficiente de rugosidade de Manning
Rh raio hidráulico
Q Q 2 Q Q 2 h Q 2 A
2 gA1 Fr 2 gAS f qt v cos
t A x A x x A x hconst
Eq. 4-6
onde
B largura na superfície livre
Fr número de Froude do Escoamento V / g.h
L largura lateral da planície de inundação
10
6
Tempo em Dt
2 t**
1 t*
0 t
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Espaço
Guia de Estudo
33
A aplicação das Eq. 4-7 às equações básicas Eq. 4-5 e Eq. 4-7 definem o passo de cálculo denominado
preditor, da forma simplificada
_
t Qit1 Qit
*
yi yi _
t
qs
i1 x
_
Bi 1 Li
Eq. 4-9
_2 _
Q t it
Q Q t Qit _ _ _
y t y t
Qi* Qit t i_1 i1 2 i1 _i1 i1 g Ai1 1 i1 Fri 1 2 i1 i g Ai1 S fi 1
Ai1 x Ai1 x x
Eq. 4-10
_ _
qti 1 vi1 cos i1
Bi Li x
Eq. 4-11
2 _
Qi i i1
* *
* *
Qi Qi Qi1
2 yi yi 1
* * * *
Qi Qi t
** *
2 i g Ai 1 i Fri g Ai S f1
Ai x Ai x x
Eq. 4-12
qti vi cos i
Os valores finais das incognitas Q e y são calculados após os passos predictor e corrector da forma:
yit yi** Qit Qi**
y t 1 Qt 1
2 2
Eq. 4-13
Muitos autores indicam que o cálculo dos das variáreis Y e Q podem ser corrigidos através da
introdução de uma viscosidade artificial, para amortecimento das oscilações numéricas de altas ordens
derivadas do método de discretização. Esta correção é dada por:
y 2 yi yi 1 i 1 k
t
max i 1 , i
Git 1 Git 1 i 12 Git11
i i 1 2
x
yi 1 2 yi yi 1
t Eq. 4-16
Eq. 4-15 i 1 k max i , i 1
2
x O coeficiente de
Eq. 4-14 amortecimento k,
segundo
Chaudhry et alli.(1991) deve ser adotado em cada caso sempre o menor possível, mas suficiente para
amortecimento das oscilações de alta freqüência características. Sendo um método explicito, a
estabilidade numérica é garantida ao ser obedecida as condições de Courant-Friedrichs-Lewys,
conforme indicado pela relação abaixo:
Modelagem de Qualidade da Água
34
C n v gh xt 1
Eq. 4-17
d) Raio Hidráulico Rh i
A
A C
n 1 2
i i Rhi S f
c) Coeficiente 1
A C Rh S f
4.1.3 Condições Iniciais e de Contorno
As condições iniciais indicam o estado de partida da simulação e representam a situação de Q(0) e h(0),
muitas vezes condicionando a solução final do problema. Geralmente a condição inicial representa uma
situação observada em campo ou, na falta desta a condição do regime permanente uniforme compatível
com o problema em estudo.
Para a obteção do regime permanente uniforma deve-se considerar a simulação de um intervalo de
tempo em regime permanente gradualmente variado de forma a garantir a condição inicial correta
As condiões de contorno representam as hipóteses a serem analisadas com o modelo de regime variado.
Em geral empregam-se condições do tipo:
a montante: hidrograma afluente ou condição de nível d´água conhecida a partir da operação de
uma estrutura hidráulica
jusante: limnigrama ou relação Q x h, que permita representar a condição do nível d´água em
função do tempo, como o comportamento do nível de um reservatório, maré ou estrutura
hidráulica, ou ainda uma curva-chave de um rio.
Guia de Estudo
35
Cota 110
105
100
95
90
85
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000
Progressiva
Q m³/s
Q m³/s
1000 110 1000 110
400 95 400 95
200 90 200 90
0 t (h) 85 0 t (h) 85
0,00 5,00 10,00 15,00 0,00 5,00 10,00 15,00
-200 80 -200 80
1. Predictor
a) calculam-se os valores de Q* e y* para os pontos i=1,...n-1, utilizando-se as equações
(7).
b) com as condições de contorno corrigem-se os valores de Q1 ou y1 e Qn ou Yn.
2. Corrector
a) calculam os valores de Q** e y** para os pontos i=2,... n, com as equações (8).
b) com as mesmas condições de contorno corrigem os valores de Q1 ou y1 e Qn ou yn.
3. Cálculo de Y e Q
a) calculam-se os valores de Qt+1 e yt+1 a partir de (9).
b) com Qt+1 e yt+1 estima-se o novo t para calculo do passo seguinte
4. Correção dos valores de Qt+1 e yt+1 através das equações (10).
kC k
C i ,n Ci ,n1
2
Eq. 4-19
b) O termo La pode ser representado por Li , o incremento de poluente descarregado durante o
intervalo de tempo no ponto i.
c) O termo de primeira ordem c / t deve ser representado por uma diferença progressiva, de
forma a permitir o avanço do tempo de cálculo:
c Ci ,n1 Ci ,n
t t
Eq. 4-20
d) o termo Uc / t deve ser aproximado por uma diferença regressiva, de forma a permitir
representar a advecção pura, isto é, uma partícula no ponto i-1 deve se mover para um ponto
distante x num intervalo t de tal forma que x / t U :
C C Ci1,n
U U i ,n
x x
Eq. 4-21
e) o termo de dispersão deve ser representado por uma diferença central, que é derivada a partir da
expansão em série de Taylor.
Guia de Estudo
37
C C 2Ci , n Ci 1, n
E ( ) E i 1, n
x x x 2
Eq. 4-22
Para que esta solução seja estável é necessário que
tE 1
x 2
Eq. 4-23
A relação de diferenças finitas resultante fica então:
Ci ,n1 Ci ,n C Ci1,n
U i ,n
C 2Ci ,n Ci1,n
E i1,n
C Ci,n1 L
k i ,n
2
t x x 2
i
Eq. 4-24
A Eq. 4-24 pode ser resolvida explicitamente tomando-se como condição de contorno as concentrações
conhecidas na primeira e na última seção. Para evitar o surgimento de valores negativos nos primeiros
intervalos de tempo sugere-se calcular o primeiro time-step considerando apenas a conveção da carga
Li . A partir do segundo time-step podem ser considerados os demais termos.
4.2.2 Esquema Centrado no espaço
A Eq. 4-18 pode ser escrita de forma mais genérica como:
AC AC AC
U E ( )S
t x x x
Eq. 4-25
Esta equação representa um esquema unidimensional convectivo-difusivo com seção transversal,
velocidade e coeficiente de dispersão variando ao longo da distancia. Os termos de lançamentos e
decaimento são representados pelo parâmetro S.
Uma melhor aproximação pode ser obtida pelo uso do esquema de diferenças centrado no espaço no
qual os valores são calculados no centro do intervalo entre (i) e (i+1) como mostra a Figura 19:
( AC )i ,n1 ( AC )i ,n 1
U i112,n ( AC )i112,n U i112,n ( AC 1 )
t x i 1 , n
2
1 ( AC ) ( AC )
Ei112,n Ei112,n Si
x x i112,n x i112,n
( AC ) ( AC )i1,n ( AC )i ,n
x i112,n x
Solução:
a) envoltória de concentrações máximas
5.00
4.00
3.00
C(i,t)
2.00
1.00
0.00
0 5000 10000 15000 20000
Distância (m)
b) Cerca de 9 horas.
c) Cerca de 1000 s
Guia de Estudo
39
5 REFERÊNCIAS
Piveli, R. P. et all. Qualidade das Águas e Poluição: aspectos físico-químicos. ABES, 2006.
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd.,1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. - Surface Water Quality Modeling. ,Waveland Press, 2008.
Martins, J.R.S, - Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fraguso Jr., C.R. - Modelagem Ecológica em Ambientes Aquáticos. Oficina de Textos, 2009.
Gang-Ji, Zhen. – Hydrodynamics and Water Quality. Modeling rivers, lakes and estuaries. Wiley &
Sons, 2008.
1 INTRODUÇÃO
Nas estações de tratamento de esgotos, usinas termoelétricas, industrias metalmecânicas dentre outras,
é comum o lançamento de efluentes em temperatura superior aquela encontrada nos rios, lagos,
estuários e oceanos. A dispersão da chamada pluma térmica se da na forma de condução através do
contato da massa líquida com o solo e ar e da convecção.
O tratamento deste tipo de escoamento e seus efeitos ambientais pode ser feito a partir da equação
diferencial da energia.
2 EQUAÇÕES DA ENERGIA
T
Q kA
n
Eq. 2-1
pAV
Eq. 2-2
onde pA é a força de pressão e V a velocidade na direção da força. De acordo com a primeira lei da
termodinâmica, a variação da energia de um corpo ou uma partícula pode ser expressa pelo balanço
entre o fluxo de calor e o trabalho das forças externas sobre o corpo ou partícula. A variação da energia
será expressa na forma da Eq. 2-9 do Capítulo 2:
DE
Q
Dt
Eq. 2-3
A Eq. 2-4 apresenta os fluxos de calor pelas faces do elemento infinitesimal já utilizado na
apresentação das equações básicas na forma euleriana. Para a partícula que ocupa o elemento pode-se
escrever:
Figura 20: Taxas de Transferência de calor e massa sobre um elemento infinitesimal de fluido (Potter & Wiggert, 2004)
Guia de Estudo
41
D u 2 v 2 w2
dx dy dz gz uˆ
Dt 2
T T 2T
k dy dz k dy dz 2 dx
x x x
pu
p u dy dz p u dy dz dx dy dz
x
T T 2T
k dx dz k dx dz 2 dy
y y y
pv
p v dx dz p v dx dz dx dy dz
y
T T 2T
k dx dy k dx dy 2 dz
z z z
pw
p w dx dy p w dx dy dx dy dz
z
Eq. 2-4
onde u, v e w são as componentes do vetor velocidade V ui vj wk e û é a energia interna do
elemento. Sendo a massa da partícula constante, o produto dx dy dz pode ser eliminado dividindo-se
ambos os lados por ele, o que resulta:
2T 2T 2T u v w p p p
k 2 2 2 p u v w
x y z x y z x y z
Du Dv Dw Dz Duˆ
u v w g
Dt Dt Dt Dt Dt
Eq. 2-6
Duˆ 2T 2T 2T u v w
k 2 2 2 p
Dt x y z x y z
Eq. 2-7
Costuma-se utilizar a expressão acima na forma simplificada (Potter & Wiggert, 2004):
Considerando que a energia interna û pode ser escrita na forma de û=cpT, onde cp é o calor específico
do fluido a volume constante, e que V=0. a Eq. 2-8 pode ser simplificada ainda mais para:
DT k
2T
Dt C p
Eq. 2-9
k
sendo a relação denominada de ‘difusividade térmica’.
C p
Se k é uniforme, o que pode ser admitido na maioria dos líquidos, pode-se considerar na forma
bidimensional a equação da energia como sendo:
T T T 2T 2T
U V 2 2
t x y x y
Eq. 2-10
que é a equação parabólica de convecção-difusão para a temperatura T (Fortuna, 2000). Na forma
unidimensional, aplicável aos rios, tem-se:
U U 2T
U 2
t x x
Eq. 2-11
Para análise dos escoamentos com variação de temperatura, devem ser introduzidas modificações na
componente vertical da Eq. 2-29 do Capítulo 2. Esta equação compreende a velocidade w, na direção z,
que é afetada pela variação da densidade do líquido com a temperatura, introduzindo um empuxo
(positivo ou negativo) sobre a massa de liquido que está abaixo dele.
Para tal, considera-se a aproximação de Boussinesq (Fortuna, 2000) que indica o desenvolvimento do
termo de densidade através das primeiras parcelas da série de Taylor :
(T ) 0 dT
t
Eq. 2-12
Guia de Estudo
43
1
(T ) 0 1 dT 0 1 dT
0 t
Eq. 2-13
A força externa atuante na direção z, devido ao empuxo gerado pela diferença de densidade fica:
0
Femp (1 dT ) g
Eq. 2-14
u u u u 1 p
u v w g ox wx 0
t x y z x
v v v v 1 p
u v w g oy wy 0
t x y z y
w w w w 1 p
u v w g oz (1 (T T0 ) 0
t x y z w
Eq. 2-15
A solução pode então ser feita determinando-se a temperatura T em cada elemento a partir da equação
de convecção-difusão térmica Eq. 2-10.
3 SOLUÇÕES NUMÉRICAS
A solução da Eq. 2-10 pode ser obtida através do esquema de diferenças apresentado no Capítulo 2,
denominado ‘centrado no espaço’, onde os valores são calculados no centro do intervalo entre (i) e (i+1)
como mostra a Figura 21:
T uT vT 2T 2T
2 2
t x y x y
Ti ,nj1 Ti ,nj t CONVi ,nj VISCin, j
onde i,j representa o ponto da malha e CONV o termo convectivo da equação e VISC o termo viscoso:
uT vT (uT )i 12, j (uT )i 12, j (uT )i , j 12 (uT )i , j 12
CONVi ,nj
x y x y
ui 12, jTi 12, j ui 12, jTi 12, j ui , j 12Ti , j 12 ui , j 12Ti , j 12
CONVi ,nj
x x
1 Su 1 Su
Ti 1 , j Ti , j Ti1, j
2 2 2
1 Su 1 Su
Ti 1 , j Ti , j Ti1, j
2 2 2
1 Sv 1 Sv
Ti , j 1 Ti , j Ti , j 1
2 2 2
1 Sv 1 Sv
Ti , j 1 / 2 Ti , j Ti , j 1
2 2
ui , j ui1, j
u
i 1 , j
2 2
ui , j ui1, j
u
i 1 , j
2 2
vi , j vi1, j
v
i 1 , j
2 2
Guia de Estudo
45
vi , j vi1, j
v
i 1 , j
2 2
Su sinal (ui 1 / 2, j )
Sv sinal (vi , j 1 / 2 )
Eq. 3-1
4 REFERÊNCIAS
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
1 INTRODUÇÃO
Os rios têm, desde a pré-história, sido o caminho natural para lançamento e disposição de detritos
domésticos, da agricultura e industriais no meio ambiente. Isto se deu pelo fato de que os cursos d´água,
pelo fato de estarem situados invariavelmente nos pontos mais profundos dos vales, oferecem-se como
um meio fácil de afastar do convívio humano, os rejeitos de forma geral.
James & Elliot (1993) listam algumas das características que transformaram os rios em depósitos
naturais de lixo e outros contaminantes:
Com o passar do tempo, alterações indesejáveis na flora e na fauna aquáticas e presença de constituintes
nocivos à saúde passaram a comprometer o uso destes recursos, criando a necessidade de análise
acurada e detalhada do comportamento das variáveis de qualidade.
A maioria dos modelos para rios procura simular a relação entre a taxa de DBO, (demanda bioquímica
de oxigênio – resultado da ação microbiológica) e sua influência na concentração de oxigênio
dissolvido. A maioria destes modelos emprega a equação da advecção-difusão, a partir de soluções
teóricas analíticas e soluções numéricas.
No inicio do século 20, a preocupação com a qualidade de água era devido à saúde pública e ao
saneamento, foi nesse sentido que os modelos
começaram a ser desenvolvidos (Pereira, 2004) . Em
1925 foi proposto o primeiro modelo analítico para
relacionar a concentração de oxigênio com o lançamento
dos esgotos domésticos nos corpos hídricos, denominado
Equação de Streeter- Phelps. Em 1967 apenas estes
conceitos foram expandidos para situações mais realistas,
como o escoamento não permanente em rios.
Guia de Estudo
47
Quanto aos parâmetros de qualidade, os modelos se diferenciam em função dos constituintes físicos e
químicos que simulam, como temperatura, salinidade, oxigênio, organismos vegetais e patogênicos. Em
geral os modelos de qualidade representam o oxigênio dissolvido simulando os seguintes processos:
degradação ou oxidação da DBO carbonácea, oxidação ou nitrificação da DBO nitrogênica, re-aeração
ou troca de gases com a atmosfera e a respiração de animais ou vegetais. Quanto ao material em
suspensão, são considerados os processos de sedimentação, re-suspensão e floculação.
C C 1 C
U EA R( x, t ) La
t x A x x
Eq. 1-1
Nos capítulos anteriores foram estudados métodos de solução da Eq. 1-1 sendo que agora a atenção
será direcionada para as variáveis a serem consideradas nos termos R e La.
2.1 Reaeração
VdC
k L A(Cs C )
dt
Eq. 2-1
onde KL é a velocidade de transferência de massa do oxigênio (m/s) e D o
coeficiente de difusão molecular do oxigênio em água (m2/s)
D
KL
H
Eq. 2-2
Guia de Estudo
49
Dividindo-se ambos os lados da Eq. 2-1 por V e rearranjando:
dC A 1
k L (Cs C ) k L (Cs C ) k2 (Cs C )
dt V H
Eq. 2-3
-1 -1
Sendo K2 (s ou dia ) denominado coeficiente de re-aeração, também chamado de kar, ka ou kL,a.:
A
K2 KL
V
A solução analítica da Eq. 2-3 é para t=0 e Cs=0 é:
C C s (1 e k 2t )
Eq. 2-4
e portanto:
dC
k2 (Cs C )
dt
Eq. 2-5
Outra forma comum de se expressar a concentração de oxigênio na água é através do déficit de O2, na
forma D (Cs C ) . Como dD dCs dC :
dD dCs
k D
dt dt
Eq. 2-6
Se for admitido que os fatores que afetam a concentração de saturação cs (temperatura, salinidade e
pressão) são constantes, então dCs/dt = 0 e:
dD
k2 D
CsmgO/l
16
14
dt
12
Eq. 2-7
10
8
A concentração de Saturação Cs depende das
6 condições locais como altitude, temperatura do ar,
4 temperatura da água e pressão atmosférica. Para
2 temperatura da água de 20ºC, ao nível do mar a
0 concentração de saturação é igual a 9,1 mg/l.
Utiliza-se a relação abaixo para correlação entre
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
T ºC
temperatura e concentração de saturação:
Figura 25:Variação da Concentração de Saturação com a temperatura
Eq. 2-8
A influência da salinidade pode ser estimada a partir da relação
Modelagem de Qualidade da Água
50
Guia de Estudo
51
Tabela 2-2: Relação entre Pressão atmosférica e Solubilidade do Oxigênio em Água para diferentes temperaturas
Guia de Estudo
53
Para estuários tem-se as expressões
Broecker et al
(1978):
k L 0,894U w[m / dia ]
Uw é a velocidade do
Banks (1975) vento
k L 0,728U w0,5 0,317U w 0,0372U w2
Wanninkhof et al k L 0,0986U w1,64 Combinação dos efeitos
(1991):
As figuras abaixo ilustram equipamentos de re-aeração forçada que podem ser empregados em rios e
reservatórios.
dC U C Ci
(Cs ,i1 s ,i1 Ci )
dt soleiras x rd
Eq. 2-12
Guia de Estudo
55
2.2 Fotosíntese
dC
B f Pmax sen 2 (t ts ) para t>ts e t< ts + t
dt fotosíntese
Eq. 2-13
sendo ts o instante do nascer do sol, t o intervalo de foto período e Bf a biomassa por unidade de
volume (mg/l).
A biosfera pode ser entendida como um ciclo de vida e morte. Através da energia do sol, organismos
autotróficos (vegetais) convertem nutrientes inorgânicos simples em moléculas mais complexas. Na
fotosíntese, a energia solar é armazenada na forma de energia química em moléculas orgânicas. Como
resultado, o oxigênio é liberado e o dióxido de carbono é consumido.
A matéria orgânica serve então como fonte de energia para organismos heterotróficos (bactérias e
micro-organismos) no processo inverso de respiração e decomposição, retornando assim a matéria
orgânica para o estado mais simples inorgânico. Durante esta decomposição, o oxigênio é consumido e
o dióxido de carbono liberado. Este ciclo é representado pela equação química :
Além das mudanças químicas, o esgoto também leva a significantes efeitos sobre a biota. Pode-se
observar que bactérias e mofo (bolor) dominam a região do lançamento. As bactérias propriamente
Guia de Estudo
57
servem também de alimento para uma sucessão de organismos do tipo ciliados rotíferos e crustáceos. A
diversidade de organismos maiores diminui drasticamente na zona de degradação e de decomposição
ativas a jusante. Ao mesmo tempo, o número total de organismos aumenta.
O primeiro passo para modelação do decaimento do OD por ação do carbono consiste em caracterizar a
composição do esgoto e a simulação do semi-ciclo respiração/decomposição.
O exemplo mais simples consiste em se imaginar açúcar colocado numa garrafa com água contendo
uma concentração inicial de oxigênio O0. Adiciona-se uma quantidade de bactérias tampando-se a
garrafa. Admitindo-se que a decomposição é uma reação de primeira ordem da forma:
dg
V k1Vg
dt
Eq. 2-14
g g 0e k1t
Eq. 2-15
dO
V rog k1Vg
dt
Eq. 2-16
2 mg de glicose
250 ml de água
concentração inicial de oxigênio: r0 10 mg/l
taxa de decomposição da glicose k1 0,1 d-1
rog= 6 x 2 16 / ( 6 x 12 + 12 x 1 + 6 x 16)
rog= 1,0667 mgO / mg glicose
12
Tempo (dias) Glicose (mgO/l) Oxigenio (mgO/l)
0 8,53336 10 10
C mg/l
2 6,986524 8,453164
8
4 5,720082 7,186722
6 4,683207 6,149847 4.1.1 Dem 6
Glicose (mgO/l)
8 3,834286 5,300926
anda 4 Oxigenio (mgO/l)
10 3,139248 4,605888
12 2,570199 4,036839
Bioquímica 2
20 1,154865 2,621505 de
Oxigênio
0
50 0,057497 1,524137 0 50 100 150 200 250
(DBO)
Tempo (dias)
100 0,000387 1,467027
200 1,76E-08 1,46664
No exemplo anterior, o processo simulado representa uma reação simples, que difere em muito do
processo que ocorre no esgoto real, composto de diversos constituintes nos quais cada um se decompõe
a diferentes taxas. No inicio da modelação matemática de qualidade da água estas restrições eram
significativamente mais severas em face das limitações tecnológicas para determinação dos compostos
orgânicos. Como conseqüência, os primeiros modelos de analise de qualidade consistiam em
aproximações empíricas desprezando-se a composição do esgoto real. Desta forma, assim como no
exemplo anterior, a quantidade de oxigênio consumido quando esgoto é adicionado a um reator fechado
denomina-se demanda bioquímica de oxigênio, ou DBO.
Em termos matemáticos, para quantificar esta reação define-se a variável L (mgO/l) que representa a
quantidade de matéria orgânica oxidável restante na garrafa, expressa em termos de quantidade de
oxigênio equivalente. O balanço de massa para o sistema fechado pode ser escrito por:
dL
V rog k1VL
dt
L L0e k1t
Eq. 2-19
Guia de Estudo
59
O oxigênio consumido durante a decomposição pode ser definido por
y L0 L L0 (1 e k1t )
O O0 L0 (1 e k1t )
Como este desenvolvimento é idêntico ao feito para a garrafa com glicose, verifica-se que se torna
desnecessária a caracterização exata do esgoto presente e sua relação estequiométrica com o oxigênio.
L0 rog g 0
Entretanto, a quantidade de carbono pode ser medida diretamente no efluente, de forma que pode-se
correlacionar:
L0 rocCorg
onde Corg é a concentração de carbono orgânico no esgoto (mgC/l) e roc a relação estequiométrica da
massa de oxigênio consumida pela massa de carbono processada ou digerida mgO/mgC:
6 2 16
roc 2,67mgO / mgC
6 12
Por fim deve se observar que além da decomposição dos carbonáceos exite uma demanda adicional de
oxigênio necessária para a oxidação das amônias em nitritos, processo denominado nitrificação,
também chamado de NDBO
A aplicação deste conceito para um rio deve ser feita levando-se em conta que além da decomposição, a
DBO pode ser removida também pela sedimentação da matéria orgânica. Aplicando-se a Eq. 1-1 tem-
se que:
Modelagem de Qualidade da Água
60
C C 1 C
U EA kr L(t ) La
t x A x x
onde kr representa a taxa total de decaimento de DBO, seja por decomposição (k1) e por sedimentação
(ks).
kr = k1 + k3
Eq. 2-20
A taxa de decomposição representará o mesmo papel que k1 no exemplo da garrafa enquanto que para a
sedimentação adota-se:
v
k3 s
H
Eq. 2-21
sendo vs a velocidade de sedimentação e H a profundidade da água.
L
0 U k1L
x
k1
t
L L0 e U
Eq. 2-22
sendo que L0 pode ser obtido, como dos exemplos anteriores, considerando a mistura plena na seção do
lançamento:
Qw Lw Qr Lr
L0
Qw Qr
A DBO de 5 dias é tomada como padrão de referência para os testes de decomposição de material
orgânica. A estimativa da DBO original pode ser feita por:
L5
L0
(1 e k1 5 )
Eq. 2-23
Guia de Estudo
61
dL
V k1VL
dt
dC
V k1VL k2V (Cs C )
dt
dC
k1L k2 (Cs C )
dt DBO
Eq. 2-24
onde Cs e C são as concentrações de oxigênio como já visto anteriormente, o termo k2 indica a taxa de
absorção de ar pela garrafa aberta e D = Cs–C representa o déficit de oxigênio dissolvido, que
diferenciado produz:
dD dC
dt dt
dD
V k1VL k2VD
dt
Se L = L0 e D=0 para t=0 tem-se um,a solução analítica que pode ser útil:
L L0e k1t
k1 L0
D (e k1t e k 2t )
k 2 k1
Eq. 2-25
A respiração vegetal é associada à biomassa presente no corpo d´água e a uma taxa de absorção de O2.
Desta forma:
dC Bk
v 5
dt respvegetal h
Eq. 2-27
2.5 Nitrificação
dC
k6CNH
dt nitrificação
Eq. 2-28
pode ser generalizada de forma a representar as variações dos parâmetros empregados na modelação de
qualidade da água de forma:
kT k20 T 20
Eq. 2-29
Guia de Estudo
63
3 MÉTODOS DE SOLUÇÃO
A soluções da Eq. 1-1 podem ser feitas de forma analítica ou numérica. No item 3.2, apresentou-se uma
solução simplificada (Streeter-Phelps) que permite a estimativa do déficit de oxigênio em escoamentos
com regime permanente e uniforme. Simplificações como esta, embora restritivas, apresentam vários
resultados práticos interessantes.
Soluções particulares para a Eq. 1-1 devem satisfazer simultaneamente a equação diferencial bem como
as condições de contorno estabelecidas. As condições iniciais especificam que valores para La e C são
conhecidos no instante 0 ao longo do eixo X. As condições de extremidade (contorno) são estabelecidas
a uma distancia suficiente do trecho sob análise para que sua influencia no resultado possa ser aceita.
Uma das soluções da Eq. 1-1 é admitir que o escoamento é permanente, isto é C / t 0 . Também
admite-se que o trecho em estudo tem escoamento uniforme bem como sua seção transversal constante
e o termo de decaimento de primeira ordem com coeficiente genérico k. Desta forma a equação resulta:
C 2C
U E 2 kC 0
x x
Eq. 3-1
Seja o problema de uma descarga de massa W (kg/dia) em solução num efluente Qw (m3/dia) em um
trecho de rio com descarga natural (água fresca) Q (m3/dia).
A solução analítica é:
kE
AU 1 4 2
U
Eq. 3-2
Na Eq. 3-2 o sinal negativo é utilizado para os x positivos. As figuras abaixo ilustram o
comportamento da solução analítica da Eq. 3-2 para os dados indicados a seguir.
W 518400kg/dia
k 0.4dia-1
U 0.25m/s 21600m/dia
A 10m²
E 345000m²/dia
Verifica-se que para a situação usual de difusão advectiva e dispersão as curvas apresentam-se variáveis
a montante e jusante (lançamento feito no ponto o). Se E=0 não há transporte para montante.
C(mg/l)
C(mg/l)
3 3
2.5 2.5
2 2
1.5 1.5
1 1
0.5 0.5
0 0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
X Km) X Km)
2.5
1.5
0.5
0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
X Km)
E=0
Figura 30: Solução analítica para descarga contínua
Outra solução particular da equação Eq. 3-1 pode ser obtida par a situação de lançamento pontual e
instantâneo de uma carga W (kg) de material conservativo (k=0), que resulta em:
( x Ut ) 2
M kt
C ( x, t ) e 4 Et
A 4Et
Eq. 3-3
As figures a seguir ilustram o comportamento da solução analítica para os dados abaixo
W 6000kg
k 0dia-1
A 10m²
Guia de Estudo
65
E 350000m²/dia
1 1
0.1 0.1
0.2 0.2
C mg/l
C mg/l
0.8 0.8
0 0
-5 0 5 10 15 Dist (km) 20 -5 0 5 10 15 Dist (km) 20
Aplicando o conceito para águas naturais em um rio, com uma fonte pontual de DBO, em regime
permanente e uniforme:
L
0 U k1L sendo que k1 = kd + ks
x
D
0 U k1L k2 L
x
k1
x
L L0e U
k2 k k
x k1 L0 1x 2x
D D0 e U
(e U
e U )
k 2 k1
Eq. 3-4
que é a equação de Streeter & Phelps para escoamento unidimensional. Esta equação pode ser aplicada
para um curso d´água em regime permanente e uniforme, obtendo-se o perfil da concentração de O2 ao
longo do eixo do mesmo, como mostra o exemplo a seguir. O instante crítico ou de máximo déficit pode
ser obtido analiticamente pela expressão:
1 k k k
tc ln 2 1 D0 2 1
k 2 k1 k1 k1 L0
Eq. 3-5
Cs 9mg/l
9
35
8 K1 0.4dia-1
K2 1.5dia-1
30
7
6
25
Co 2.5 Dt 0.25
5 D(mg/l) O (mg/l) DBO (mg/l) 20 Do 6.5mg/l
4
15 t (dias) X Km) D(mg/l) O (mg/l) DBO (mg/l)
3
10 - - 6.50 2.50 35.00
2
5 0.25 17.28 7.24 1.76 31.67
1
0 0
0.50 34.56 7.48 1.52 28.66
0 100 200 300 400 500 600 700
X (Km)
800 0.75 51.84 7.41 1.59 25.93
1.00 69.12 7.14 1.86 23.46
1.25 86.40 6.76 2.24 21.23
1.50 103.68 6.33 2.67 19.21
A solução proposta por James(1992) é a mesma empregada em modelos clássicos como o QUAL2E
(EPA, 1987) e partem da equação básica (Eq. 1-1) aplicando-a para a concentração de DBO (L) e OD
(C) juntamente com os efeitos discutidos nos itens 2.1.1,2.3.4, 2.3.5 e 2.4:
L L L
U E 2 (k1 k3 k4 ) L La
t x x
C C C
U E 2 k1L k2 (C s C ) La
t x x
Eq. 3-6
Li ,n1 Li ,n L Li1,n
U i ,n
L 2Li ,n Li1,n
E i1,n
L Li,n1 La
(k1 k3 k4 ) i ,n
2
t x x 2
i
Ci ,n1 Ci ,n C Ci1,n
U i ,n
C 2Ci ,n Ci1,n
E i1,n
L Li,n1 k (C C ) La
k1 i ,n
2 2 i ,n
t x x 2
s
Eq. 3-7
Observa-se que o termo advectivo foi considerado em termos de diferenças regressivas já que o
transporte de massa se faz no sentido do escoamento (da seção i-1 para a seção i). O termo Lai
representa o lançamento de DBO com concentração constante no tempo no trecho i. Rearranjando a
equações obtém-se a Eq. 3-8, que permite o cálculo explícito em dois passos DBO-OD.
Guia de Estudo
67
k k k t t k k k t
Li ,n1 1 t 1 3 4 Li ,n 1 U 2 E 2 t 1 3 4 Li1,n E 2
2 x x 2 x
t t
Li1,n U E 2 tLai
x x i
k t t t
Ci ,n1 1 t 2 Ci ,n 1 U 2 E 2 t k2 Ci1,n E 2
2 x x x
t
Ci1,n U
t
k
E 2 t 1 Li ,n1 Li ,n t k2Cs tLa
2
x x i
Eq. 3-8
A estabilidade do método fica condicionada aos parâmetros empregados na discretização dos termos de
1a. e 2a. ordem:
c gy
t
(U c) 1
x
t 1
E 2
x 2
Eq. 3-9
A estimativa dos parâmetros para modelação é comumente feita a partir de estudos específicos e
experiências de laboratório. Desta forma, enquanto os parâmetros K1 e K2 são obtidos a partir de
ensaios, outros como o coeficiente de dispersão, são avaliados a partir de experiências de campo com
traçadores ou marcadores radioativos.
O coeficiente E pode ser estimado analiticamente a partir de relações que levam em conta a turbulência
do escoamento. Fisher (1979) propôs as expressões da Eq. 3-10 para a dispersão longitudinal (E) e
transversal (Et):
U 2B2
Et 0,6HU* E 0,011
HU*
Eq. 3-10
U* gHS0
B2
Lançamento no centro do canal Lm 0,1U
Et
Eq. 3-12
A temperatura interfere nos coeficientes de reatividade k, conforme mostrado em 2.6. A Eq. 2-8
permite a correção dos valores de k para a temperatura 20ºC para qualquer outro valor. Desta forma
torna-se necessária a modelação da temperatura ao longo do curso d´água. Chapra e Pelletier(2003)
propõe o uso da equação da energia, conforme apresentado no Capitulo 3, da forma:
T uT 2T W J J
2 sup fun
t x y CAx CH CH
Eq. 3-13
A difusividade térmica pode ser estimada por k / C , onde k é a condutividade térmica da água
(0,59 w/mºC), o que resulta =1,40.10-7 m2/s ou 0,012 m2/dia. Os valores de J dependem de diversos
fatores como a Radiação solar, atenuação atmosférica, atenuação das nuvens, refletividade, radiação
Guia de Estudo
69
atmosférica de longo período (mais importante), radiação de longo período da água, condução e
convecção moleculares, evaporação e condensação, e condução através dos sedimentos de fundo.
Para São Paulo, o fluxo médio anual de energia (calor) pode ser estimado em 16.500 kCal/m2dia (800
w/m2). O fluxo de calor através dos sedimentos de fundo pode ser considerado pela condutividade
térmica dos sedimentos, espessura da camada de sedimentos e temperatura do fundo:
s
J fun sCs (Tsed T ) [kCal/m2.dia]
H sed
Eq. 3-14
W CQLTL [kCal/Dia]
s
s Cs (Tsed Ti ,n )
Ti ,n1 Ti ,n T T T 2Ti ,n Ti1,n Wi J H sed
U i ,n i1,n i1,n sup
t x x 2
CAx CH CH
Eq. 3-15
4 REFERÊNCIAS
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13
Este capítulo tem por objetivo apresentar os conceitos da modelação de qualidade das
águas em estuários
1 INTRODUÇÃO
Os estuários apresentam-se como ambientes aquáticos mais complexos do que os rios porque muitas
vezes apresentam-se como problemas bidimensionais, com efeito da variação da densidade ao longo da
vertical e da variabilidade dos parâmetros no tempo. James (1993) aponta quatro principais fatores que
aumentam a complexidade dos estuários em relação aos rios:
Em termos da fauna, os estuários são distintos do rio porque representam uma transição entre a zona de
água doce e a água salgada, que é desfavorável para a maioria das plantas aquáticas, animais e
microorganismos. A seção central de um estuário com salinidade constantemente variável é
especialmente desfavorável e quase sempre não habitada ou ocupada por uma flora e fauna bastante
restrita.
Desta forma, a análise do comportamento de constituintes nos estuários tem por objetivo identificar as
populações sob risco, de forma a permitir a aplicação de padrões ambientais apropriados. Geralmente
estes padrões são:
2 HIDRÁULICA ESTUARINA
2.1 Generalidades
O movimento da água nos estuários é complexo e resulta do escoamento da água doce e das variações
de maré, com influencia adicional do vento. Adicionalmente existem movimentos verticais e horizontais
induzidos pela aceleração de Coriolis, pelo vento e pela diferença de densidades
O movimento da água nos estuários pode ser representado pelo diagrama mostrado na Figura 33. Se não
existe diferença de densidade no estuário, então a resultante sobre o ciclo de maré será um movimento
vertical de AA para A’A’. Entretanto, quando existe uma significativa diferença de densidades a
superfície responde mais significativamente pelo movimento advectivo do que sendo que o fundo, e a
resultante do movimento em um ciclo de maré é alinha BB. Na figura também se verifica que as
variações na vazão de água doce não afeta fundamentalmente este movimento. Altas descargas de água
doce simplesmente aumentam de tamanho da intrusão de água doce no meio estuarino.
Nem todos os efeitos mencionados são significativos nos estuários sendo importante, para escolha da
técnica de modelação apropriada, avaliar o tipo do estuário. A forma mais simples desta avaliação
consiste na relação D/T onde
2.2 Marés
Maré é o fenômeno da alteração da altura dos mares e oceanos causado pela interferência da Lua e do
Sol, principalmente, sobre o campo gravitacional da Terra.
Desta forma as massas oceânicas que estão mais próximas da Lua sofrem uma aceleração de intensidade
significativamente superior às massas oceânicas mais afastadas da Lua. É este diferencial que provoca
as alterações da altura das massas de água à superfície da Terra.
Guia de Estudo
73
Os movimentos relativos da Terra, Lua e Sol provocam um número elevado de forças periódicas
geradoras de maré. As variações da altura de água associadas podem ser representadas pela soma de um
número finito de termos harmônicos (cossenos) aos quais se dá o nome de constituintes harmônicas da
maré. O período de cada constituinte é determinado a partir de estudos astronômicos. Porém, a
amplitude e a fase da resposta da maré a cada constituinte é impossível de determinar através das forças
geradoras. Chamam-se constantes harmônicas (CH) aos pares de valores (amplitude, fase) de cada
constituinte. As CH não dependem do tempo e, sendo típicas de cada porto, constituem a base
fundamental para a caracterização da maré num dado local sendo que, delas dependem a boa qualidade
das previsões.
Dá-se o nome de análise harmônica ao processo matemático através do qual a maré observada num
dado local é separada em constituintes harmônicas simples. A sua finalidade é determinar a amplitude H
(em metros) e a fase g (em graus) das diferentes constituintes harmônicas da maré, a partir da série de
alturas de água registradas. A fase de uma constituinte harmônica de maré é o atraso em relação à
chamada maré de equilíbrio. Na prática, as CH vão ser calculadas como sendo os parâmetros da
seguinte fórmula harmônica que melhor se ajustam às séries temporais:
n
h(t ) A0 f i H i coswit (V0 u )i gi Eq. 2-1
1
onde h(t) é a altura de água no instante t, os valores wi representam as velocidades angulares das ondas
constituintes, V0+u é o seu argumento inicial, isto é o argumento na maré de equilíbrio para o instante
inicial da série de dados e A0 representa o nível médio do ponto. A importância da aplicação da fórmula
harmônica deve-se à sua universalidade ou seja, serve para qualquer tipo de maré.
A previsão de maré faz-se igualmente recorrendo à fórmula harmônica, sendo usado o nível médio
adotado no lugar de A0. Diversos programas permitem a realização da previsão de marés. As constantes
harmônicas constituem, assim, a base fundamental para a boa qualidade das previsões. Devido a obras
Guia de Estudo
75
portuárias e fenômenos como a erosão e os assoreamentos, as características da maré num dado local
sofrem alterações ao longo do tempo, pelo que é de extrema importância a renovação freqüente das CH.
Para efetuar uma previsão de maré é necessário portanto o conhecimento dos pares amplitude e fase das
principais componentes que afetam a maré num ponto. A Marinha do Brasil mantém uma série de
estações de medição de maré e fornece através de seu sitio na internet as constantes dos principais
portos brasileiros (http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm).
Height = Datum;
for a = 1 to numconst
Height = Height +
amplitude[a] * nodefactor[a] * cos (speed[a] * time + phase[a])
next a
Diversos programas de uso livre são disponíveis para o cálculo de previsão de marés. Estes aplicativos
basicamente permitem a determinação das alturas a cada instante, tendo rotinas otimizadas para a
obtenção dos máximos e mínimos rapidamente. A seguir apresenta-se uma aplicação do programa Jtide,
disponível em www.arachnoide.com.
Tabela 2: Previsão de Maré para Vitória (ES) feita com o programa Jtide (www.arachnoide.com)
Dia Hora Local Dia Hora GMT Altura
2008-5-4 03:00:00 2008-5-4 00:00:00 +1,41 Meters
2008-5-4 04:00:00 2008-5-4 01:00:00 +1,50 Meters
2008-5-4 05:00:00 2008-5-4 02:00:00 +1,42 Meters
2008-5-4 06:00:00 2008-5-4 03:00:00 +1,18 Meters
2008-5-4 07:00:00 2008-5-4 04:00:00 +0,84 Meters
2008-5-4 08:00:00 2008-5-4 05:00:00 +0,49 Meters
2008-5-4 09:00:00 2008-5-4 06:00:00 +0,22 Meters
2008-5-4 10:00:00 2008-5-4 07:00:00 +0,10 Meters
2008-5-4 11:00:00 2008-5-4 08:00:00 +0,18 Meters
2008-5-4 12:00:00 2008-5-4 09:00:00 +0,43 Meters
2008-5-4 13:00:00 2008-5-4 10:00:00 +0,79 Meters
Modelagem de Qualidade da Água
78
2008-5-4 14:00:00 2008-5-4 11:00:00 +1,17 Meters
2008-5-4 15:00:00 2008-5-4 12:00:00 +1,48 Meters
2008-5-4 16:00:00 2008-5-4 13:00:00 +1,64 Meters
2008-5-4 17:00:00 2008-5-4 14:00:00 +1,62 Meters
2008-5-4 18:00:00 2008-5-4 15:00:00 +1,42 Meters
2008-5-4 19:00:00 2008-5-4 16:00:00 +1,08 Meters
2008-5-4 20:00:00 2008-5-4 17:00:00 +0,69 Meters
2008-5-4 21:00:00 2008-5-4 18:00:00 +0,35 Meters
2008-5-4 22:00:00 2008-5-4 19:00:00 +0,14 Meters
2008-5-4 23:00:00 2008-5-4 20:00:00 +0,13 Meters
2008-5-5 00:00:00 2008-5-4 21:00:00 +0,30 Meters
2008-5-5 01:00:00 2008-5-4 22:00:00 +0,61 Meters
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2008-5-5 07:00:00 2008-5-5 04:00:00 +1,05 Meters
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2008-5-5 09:00:00 2008-5-5 06:00:00 +0,34 Meters
2008-5-5 10:00:00 2008-5-5 07:00:00 +0,11 Meters
2008-5-5 11:00:00 2008-5-5 08:00:00 +0,05 Meters
2008-5-5 12:00:00 2008-5-5 09:00:00 +0,18 Meters
2008-5-5 13:00:00 2008-5-5 10:00:00 +0,48 Meters
2008-5-5 14:00:00 2008-5-5 11:00:00 +0,86 Meters
2008-5-5 15:00:00 2008-5-5 12:00:00 +1,24 Meters
2008-5-5 16:00:00 2008-5-5 13:00:00 +1,52 Meters
2008-5-5 17:00:00 2008-5-5 14:00:00 +1,65 Meters
2008-5-5 18:00:00 2008-5-5 15:00:00 +1,59 Meters
2008-5-5 19:00:00 2008-5-5 16:00:00 +1,35 Meters
2008-5-5 20:00:00 2008-5-5 17:00:00 +1,01 Meters
2008-5-5 21:00:00 2008-5-5 18:00:00 +0,63 Meters
2008-5-5 22:00:00 2008-5-5 19:00:00 +0,33 Meters
2008-5-5 23:00:00 2008-5-5 20:00:00 +0,18 Meters
3 MODELOS ESTUARINOS
Várias técnicas são utilizadas com razoável sucesso para modelação do comportamento estuarino:
Guia de Estudo
79
c) Modelo de segmentos móveis: representa o estuário por uma serie de tanques moveis, cada um
comportando-se como um tanque isolado.
d) Diferenças Finitas: simula as variações de qualidade da água dinamicamente por sucessivas
mudanças nas concentrações dos constituintes em função da advecção e dispersão calculada
através de uma malha fina.
h dU dV
S 0
t x x
Eq. 3-1
1
U U U h d U (U 2 V 2 ) 2 wx
U V g g g 0
t x y x 2 x C 2d d
V (U 2 V 2 ) 2 wy
1
V V V h d
U V g g g 0
t x y x 2 y C 2d d
2
dc dUc dVc 2 dE x c dE y c
R( x, t ) La
t x y x 2 y 2
Eq. 3-2
Onde:
As técnicas para solução das equações empregam geralmente os métodos de diferenças finitas usando
modelos implícitos, capazes de operarem com altos números de Courant, evitando-se assim as
limitações impostas pelos esquemas explícitos onde, por questões de estabilidade, fica-se limitado a
relação:
1
1 1
2
C t gd 2 2 1 Eq. 3-3
x x
Nestes tipos de modelos a complexa hidrodinâmica dos estuários, com a combinação de advecção e
dispersão, é reduzida a uma simples operação de mistura. É admitido que o estuário possa ser dividido
em um número de segmentos, cada um considerado uniforme e bem misturado de forma que a
concentração em cada seguimento pode ser representada por um único valor. Desta forma, o estuário
pode ser imaginado como uma série de tanques isolados contínuos.
a) Modelo Simplificado
É necessário o calculo do tempo de detenção de cada segmento, que é igual ao da água doce, uma vez
que é admitido que o efluente lançado não afeta de forma significativa o padrão de mistura. Para
qualquer segmento n do volume total de meia maré Vn e salinidade Sn.
Guia de Estudo
81
Se a salinidade da água do mar é S0 e da água doce igual a zero, o volume de água do mar do segmento
é:
Sn
VSn Vn Eq. 3-4
S0
Sn S Sn
VFn Vn VSn Vn Vn Vn 0 Eq. 3-5
S0 S0
Se a descarga de água doce do rio é Q durante o ciclo de maré, então o tempo de detenção da água doce
no segmento é:
VFn Vn S0 S n
Rn Eq. 3-6
Q Q S0
O tempo do efluente será o mesmo, conforme a consideração acima.
CnVn
F Eq. 3-7
Rn
onde Cn é a concentração de equilíbrio no segmento n. Rearranjando a equação anterior resulta:
F Rn V S S n 1 S0 S n F
Cn F n 0 Eq. 3-8
Vn Q S0 Vn S0 Q
Para uma substancia conservativa, a quantidade transportada para jusante é sempre igual ao total
descarregado no lançamento e a concentração em qualquer segmento n a jusante será dada por:
S0 S n F
Cn Eq. 3-9
S0 Q
Cm S m
Cn S n
Sm
C m Cn Eq. 3-10
Sn
Utilizando-se as equações anteriores juntamente com a vazão do efluente, a descarga de água doce,
salinidade média da meia maré pode-se então fazer uma estimativa do comportamento da salinidade ao
longo do estuário.
b) Modelo Aperfeiçoado
Neste caso também será considerada a mistura completa entre os segmentos, o escoamento permanente
de água doce e do efluente, além de uma concentração salina em equilíbrio. O comprimento dos
seguimentos será considerado como 1/5 do comprimento de onda da maré.
Considerando o estuário dividido em segmentos. O efeito de mistura da maré é representado por iguais
e opostas descargas F entre os seguimentos. Q, V e S são: a descarga de água doce, o volume da meia
maré e a salinidade média da meia maré, respectivamente. Tomando-se o balanço de massa para a
salinidade ao longo de cada segmento, pode-s escrever uma série de equações nas quais a única
incógnita será o valor de Fi:
Segmento n
F n(Sn1 Sn ) S n(Q Qn ) 0
Segmento n+1
F n1(Sn2 Sn1 ) F n(Sn Sn1 ) S n(Q Qn ) S n1(Q Qn Qn1 ) 0
Segmento n+2
F n2(Sn3 Sn2 ) F n1(Sn1 Sn2 ) S n1(Q Qn Qn1 ) S n2(Q Qn Qn1 Qn2 ) 0
Eq. 3-11
Resolvendo-se estas equações simultaneamente obtém-se os valores de F para cada segmento, e a partir
deste, pode-se aplicar para qualquer outro constituinte dissolvido ou em suspensão.
Guia de Estudo
83
(Cn1 ,Vn1 ) Fn (Cn Cn1 ) Fn1 (Cn2 Cn1 ) Cn (Q Qn ) Cn1 (Q Qn Qn1 )
t
kCn1Vn1 La 0
Eq. 3-12
onde La é a massa adicionada por ciclo de maré. Este modelo, embora melhor que o anterior, não pode
ser aplicado para reproduzir a concentração de constituintes com grandes gradientes de concentração
devido a discretização espacial adotada. Este, por outro lado, não é o caso na maioria dos estuários, que
tem variações suaves de concentração.
AC AUC C
( EA ) kAC La 0 Eq. 3-13
t x x x
C 1 1 t 1 t 1 2 1
t t 6
3
6
Ai 1 Ci 1 Ait1Cit1 Ait 1Cit 1 Ait Cit Ait11Cit11 Ait1Cit1
AUC 1 1 t 1 t 1 1
x
2x 2
Qi 1 Ci 1 Qit11Cit11 Qit1Cit1 Qit1Cit1
2
E
2 AC
x 2
1
4x 2
( EA) ti 11 ( EA) ti 1 C it11 Cit 1 ( EA) ti 1 ( EA) ti 11 Cit 1 Cit11
1
4x 2
( EA) ti 1 ( EA) ti Cit1 Cit ( EA) ti ( EA) ti 1 C it Cit1
( AC ) ti 1 ( AC ) ti
kAC k
2
1 t 1 1 1
F
6t
Ai 1
4x
Qit11 2
( EA) ti 11 ( EA) ti 1
4x
2 t 1 1 1 1
G
3t
Ai
4x
Qit11 2
( EA) ti 11 ( EA) ti 1 2
k
( EA) ti 1 ( EA) ti 11 Ait 1
2
4x 4x
1 t 1 1 1
H
6t
Ai 1
4x
Qit11 2
( EA) ti 1 ( EA) ti 11
4x
1 1 t t 2 1 1
I
t 6 3 6
Ai1Ci1 Ait Cit Ait1Cit1
Qit1Cit1 Qit1Cit1
4x
1
4x 2
( EA)ti1 ( EA)ti Cit1 Cit ( EA)ti ( EA)ti1 Cit Cit1 Ait
k
2
t 1 I F Cit11 H Cit11
C i Eq. 3-15
G
4 REFERÊNCIAS
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13
Chapra, S.C. and Pelletier, G.J. 2003. QUAL2K: A Modeling Framework for Simulating River and
Stream Water Quality: Documentation and Users Manual. Civil and Environmental Engineering Dept.,
Tufts University, Medford, MA.,
Guia de Estudo
85
PROCESSOS EM RESERVATÓRIOS E LAGOS
Este capítulo tem por objetivo apresentar os conceitos da análise e modelação de
qualidade das águas em lagos e reservatórios estuários
1 INTRODUÇÃO
Nutrientes são elementos essenciais ao desenvolvimento da biota aquática e que podem, em excesso,
provocar a eutrofização dos lagos e reservatórios, ou seja, o seu enriquecimento exagerado, com danos
consideráveis para o meio ambiente. Os principais nutrientes são o Fósforo, Nitrogênio, Carbono e
Sílica
Os sedimentos são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios graças
ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição de
matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.
As substâncias tóxicas permanecem retidas por mais tempo nas águas e sedimentos dos lagos e
reservatórios do que na água corrente dos córregos e rios, aumentando naqueles o risco à exposição em
termos de concentração e duração, quer para a biota aquática como para o homem, que depende da água
para beber ou de alimentos, como os peixes, retirados dos mesmos.
Guia de Estudo
86
Os parâmetros comumente utilizados para o estudo dos lagos e reservatórios são os seguintes:
A absorção e redução da luz pela coluna d´água são os principais fatores que controlam a temperatura e
a fotossíntese. A fotossíntese interfere na cadeia alimentar e fornece a maior parte do oxigênio
dissolvido encontrado na água dos lagos e reservatórios. Os raios do sol são a maior fonte de calor para
a coluna d´água e colaboram na formação dos ventos e na movimentação da água.
Ao penetrar na coluna d´água, a radiação solar sofre profundas alterações, tanto na sua intensidade
como na qualidade espectral. Estas alterações dependem, basicamente, das concentrações de material
dissolvido e em suspensão. Destacam-se: a) mudança de direção; b) absorção e transformação em
clorofila e calor; c) dispersão; etc. A soma da absorção e da dispersão, provoca a atenuação vertical da
radiação, cujo coeficiente k pode ser calculado pela expressão:
ln L0 ln L
k
z
A tabela abaixo mostra o coeficiente de atenuação vertical médio e seus limites, segundo Williams e
Vicent (1984), em diferentes tipos de lagos temperados:
A intensidade da luz solar na superfície varia com a estação do ano e com a nebulosidade, diminuindo
com a profundidade da coluna d´água. A fotossíntese ocorre até aonde a luz alcança em profundidade.
Guia de Estudo
87
A taxa de diminuição da luz com a profundidade depende do tipo e da quantidade de substâncias
dissolvidas (compostos orgânicos da decomposição vegetal) e dos materiais em suspensão (partículas
do solo da bacia, algas e detritos) na água.
A transparência da água varia de alguns centímetros a dezenas de metros. Esta região da coluna d´água
chama-se zona eufótica e varia com a capacidade da água em atenuar a radiação subaquática e
corresponde à profundidade onde a intensidade da radiação solar equivale a 1% daquela que atinge a
superfície. A transparência da água pode ser estimada a partir de um instrumento simples denominado
Disco de Secchi, que permite ainda, de forma indireta, a estimativa do coeficiente de extinção da luz KL.
Embora a profundidade do disco de Secchi não forneça dados sobre a qualidade e a quantidade de
radiação solar, pode-se utilizá-la para o cálculo indireto do coeficiente vertical de atenuação através da
expressão de Poole e Atkins (1929), na qual a profundidade de Secchi é aproximadamente o inverso de
k, ou seja:
1,7
kL
ZS
A temperatura da água é ditada pela radiação solar, salvo nos casos de despejos industriais, de
termelétricas e de usinas atômicas que operem nas margens do lago ou reservatório. A temperatura
exerce maior influência nas atividades biológicas e no crescimento. Também governa os tipos de
organismos que podem viver ali: peixes, insetos, zooplâncton, fitoplâncton e outras espécies aquáticas,
todas têm uma faixa preferida de temperatura para se desenvolverem. Se essa faixa for ultrapassada
(para menos ou para mais), o número de indivíduos das espécies diminui até se extinguirem totalmente.
A temperatura comanda uma importante característica física da água: a densidade. A água difere da
maioria dos compostos porque ela é menos densa no estado sólido do que no seu estado líquido (o
normal). Conseqüentemente, o gelo flutua enquanto a água em temperaturas um pouco acima da
temperatura de congelamento tende a afundar. A água é mais densa a 4ºC e torna-se menos densa tanto
nas temperaturas inferiores como superiores a esse limite.
1,005
0,995
0,99
0,985
0,98
0,975
0,97
y = 7,9719E-09x 3 - 5,3788E-06x 2 + 4,3801E-05x + 9,9984E-01
0,965
R² = 9,9999E-01
0,96
0
0,955
0 20 40 60 80 100 120
Temperatura (ºC) Estado Físico Densidade (g/cm3)
A figura acima mostra a relação entre a temperatura e a densidade da água destilada. Quando as
diferenças de temperatura geram camadas d´água com diferentes densidades, formando uma barreira
física que impede que se misturem e se a energia do vento não for suficiente para misturá-las, o calor
não se distribui uniformemente na coluna d´água, criando assim a condição de estabilidade térmica, e o
ecossistema aquático é considerado estratificado termicamente. Os estratos ou camadas formados
freqüentemente estão diferenciados física, química e biologicamente. Além da temperatura, a salinidade
da água, por sua maior densidade, também provoca estratificação de camadas nos lagos.
Por outro lado, com níveis de temperatura mais elevadas (superiores a 20oC, comuns nas regiões
tropicais), não há necessidade de grandes diferenças de temperatura entre as sucessivas camadas, para
que se processe a estratificação térmica da coluna d´água. A explicação, mais uma vez, está na forma da
curva Temperatura-Densidade. Diferenças de apenas 1oC, nos lagos tropicais, podem provocar e manter
a estratificação estável da coluna d´água, segundo Coelho, da UFMG.
Numa situação sem turbulência, o perfil de temperatura seria igual ao da curva exponencial de extinção
da luz. São vários os impactos da estratificação sobre a qualidade da água; sendo este, na verdade, o
principal fator de interferência nessa qualidade. A estratificação térmica foi observada na prática, pela
primeira vez, em 1880 em lagos suíços.
Guia de Estudo
91
EPILIMNIO: quente, menos denso, turbulento
HIPOLIMNIO: frio, mais denso, menos turbulento
METALIMNIO: forte variação de temperatura e contém
o TERMOCLINA, que é um plano definido pelo maior
gradiente de temperatura ou, no perfil de Oxigênio, a
OXICLINA
2.1.3 Turbidez
A turbidez é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água,
conferindo uma aparência turva à mesma. Essa medição é feita com o turbidímetro ou nefelômetro, que
compara o espalhamento de um feixe de luz ao passar pela amostra, com o de um feixe de igual
intensidade, ao passar por uma suspensão padrão. Quanto maior o espalhamento, maior será a turbidez.
As principais causas da turbidez da água são: presença de matérias sólidas em suspensão (silte, argila,
sílica, coloides), matéria orgânica e inorgânica finamente divididas, organismos microscópicos e algas.
A origem desses materiais pode ser o solo (quando não há mata ciliar); a mineração (como a retirada de
areia ou a exploração de argila); as indústrias; ou o esgoto doméstico, lançado no manancial sem
tratamento. O exame microscópico e observações in loco do manancial podem ajudar a determinar as
causas da turbidez. Esses materiais se apresentam em tamanhos diferentes, variando desde partículas
maiores (> 1 um), até as que permanecem em suspensão por muito tempo, como é o caso das partículas
coloidais (diam.=10^-4 a 10^-6 cm).
Há que se distinguir entre a matéria suspensa ou sedimento, que precipita rapidamente, daquela que se
precipita vagarosamente e que provoca a turbidez. A turbidez é encontrada em quase todas as águas de
superfície, em valores elevados (até 2.000 mg/l de SiO2), mas está normalmente ausente nas águas
subterrâneas.
As águas de lagos, lagoas, açudes e represas apresentam, em geral, baixa turbidez, porém variável em
função dos ventos e das ondas que, nas rasas, podem revolver os sedimentos do fundo. Via de regra,
após uma chuva forte, as águas dos mananciais de superfície ficam turvas, graças ao carreamento dos
sedimentos das margens pela enxurrada. Assim, os solos argilosos e as águas em movimentação,
ocasionam turbidez.
A turbidez, além de reduzir a penetração da luz solar na coluna d´água, prejudicando a fotossíntese das
algas e plantas aquáticas submersas, pode recobrir os ovos dos peixes e os invertebrados bênticos (que
Modelagem de Qualidade da Água
92
vivem no fundo). Os sedimentos em suspensão podem carrear nutrientes e pesticidas, obstruindo as
guelras dos peixes, e até interferir na habilidade do peixe em se alimentar e se defender dos seus
predadores. As partículas em suspensão localizadas próximo à superfície podem absorver calor
adicional da luz solar, aumentando a temperatura da camada superficial da água.
2.1.4 Sedimentos
Os SEDIMENTOS são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios
graças ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição
de matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.
a) Assoreamento
b) Turbidez
c) Fonte de alimentos e habitat para a fauna
d) Retenção de produtos tóxicos
Os sedimentos como alimento e habitat cumprem uma função ecológica muito importante nos lagos e
reservatórios. Existe toda uma comunidade bentônica que se alimenta dos detritos (ou sedimentos) aí
depositados: peixes (como o bagre da foto), invertebrados aquáticos, e outros.
A retenção de produtos tóxicos pelos sedimentos é, possivelmente, o maior dano ecológico, depois da
eutrofização . Os sedimentos podem ser considerados a memória de um lago. São neles que a poluição
já ocorrida fica acumulada e armazenada. São medidos em mg/kg de peso seco de Fe, Zn, Mn, Cu, Pb,
Cr, Ni, Cd, Hg, etc.
2.1.5 Cor
A Cor é uma característica da água que pode fornecer ao pesquisador importantes indícios de
fenômenos naturais (lavagem do solo pelas enxurradas, p.ex.) ou da efeitos antrópica (proliferação de
algas devido o lançamento de esgotos) ao lago ou reservatório. Dependendo de sua intensidade, pode
interferir na medição da transparência e da turbidez.
Como as descrições verbais são inseguras e subjetivas, ao se registrar a cor da água de um manancial, é
desejável que se utilize um padrão reprodutível de comparação. A Tabela abaixo apresenta as cores
mais encontradas na água dos lagos e reservatórios.
Assim como os animais terrestres, os peixes e outros organismos aquáticos precisam de Oxigênio para
viverem. O Oxigênio também é necessário para muitas reações químicas que são importantes para o
funcionamento do lago ou reservatório. As principais fontes de Oxigênio para os lagos e reservatórios
são:
4.1.1 Salinidade
A salinidade mede a quantidade de sais dissolvidos nas águas dos lagos e reservatórios. Enquanto nas
águas salobras a unidade de medida da Salinidade é o ppm ou "partes por milhão" ou o mg/l (miligrama
por litro), nas águas doces, uma unidade usual é o ppb (partes por bilhão) ou mesmo o ppt ou "partes
por trilhão". Na água do mar, a Salinidade costuma ser de 35 ppt, enquanto na água doce, é comum 0,5
ppt.
Na ausência de quaisquer organismos vivos, o lago dispõe de uma grande série de íons e moléculas
oriundos da intemperização dos solos de sua bacia de drenagem, da atmosfera e do seu leito. Portanto, a
composição química de um lago é fundamentalmente uma função do seu microclima (que afeta sua
hidrologia) e da sua bacia geológica.
Todo lago ou reservatório possui um balanço de íons dos seus três maiores ânions e dos seus mais
importantes cátions. A Tabela abaixo dá uma idéia dessa composição média
ânions % cátions %
HCO3 73 Ca 63
SO4 16 Mg 17
Cl 10 Na 15
K 4
outros <1 outros <1
O balanço de íons significa a soma dos íons negativos igual a soma dos cátions positivos, quando
expressos em miliequivalentes. Estes íons estão geralmente presentes nas concentrações de mg/l
(miligramas por litro, partes por milhão ou ppm), enquanto outros íons, tais como os nutrientes: fosfato,
nitrato e amônia, estão presentes nas dosagens de g/l (microgramas por litro, partes por bilhão ou ppb).
Os sais, como sabemos, são produtos químicos formados pela reação de um ânion com um cátion;
assim, quando o ânion cloreto (Cl) encontra o cátion cálcio (Ca), forma-se o Cloreto de Cálcio ou
Cl2Ca.
Guia de Estudo
95
A quantidade total de íons presentes em uma amostra de água é chamada de SDT (sais dissolvidos
totais). Tanto a concentração de SDT como as quantidades relativas ou proporções dos diferentes íons,
influem nas espécies de organismos que podem melhor se desenvolver nos lagos, além de participarem
de muitas reações químicas importantes que ocorrem nas suas águas.
2.1.7 pH
2.1.8 Alcalinidade
A Alcalinidade é a medida total das substâncias presentes na água, e capazes de neutralizarem ácidos.
Em outras palavras, é a quantidade de substâncias presentes na água e que atuam como tampão. Se
numa água quimicamente pura (pH=7) for adicionada pequena quantidade de um ácido fraco seu pH
mudará instantaneamente. Numa água com certa alcalinidade a adição de uma pequena quantidade de
ácido fraco não provocará a elevação de seu pH, porque os íons presentes irão neutralizar o ácido.
Se um manancial tem abundância de material tampão (alta alcalinidade), ele é mais estável e resistente
às variações de pH. Se, por outro lado, volumes crescentes de ácidos (a chuva ácida, por ex.) são
adicionados ao lago, a sua capacidade tampão é consumida. Se os solos e rochas do entorno
acrescentam material tampão adicional, a alcalinidade pode, eventualmente, ser restaurada. Mesmo uma
perda temporária da capacidade tampão pode permitir que sejam atingidos níveis de pH perigosos para a
vida aquática.
ALCALINIDADE SIGNIFICADO
<10 ppm Baixa capacidade tampão
20 a 200 ppm Boa capacidade tampão
Os principais parâmetros hidrológicos dos lagos são a Área da superfície, a Descarga ou vazão afluente
e efluente, o Tempo de detenção, a Flutuação do N.A., a Profundidade e a extensão de ação do vento.
As represas ou reservatórios são ambientes que diferem dos lagos, fundamentalmente, por 2 fatores: a)
introdução constante de sedimentos e nutrientes dos seus tributários; e b) a água é renovada com maior
frequência, pela ação dos vertedores (menor tempo de concentração ou de residência = volume/vazão).
Em termos de comportamento ambiental, quanto mais rápido o lago renova as suas águas (menor tempo
de detenção) melhor, pois assim os poluentes são expulsos antes que causem danos maiores à biota
aquática e ao homem que usa a água e os peixes do mesmo. Mais rápido, também, ele responderá às
atividades de controle da poluição na bacia.
volume total
t
vazão de saída
r
onde T é o tempo de detenção (dias); V é o Volume do reservatório (m3) e Q a Descarga ou vazão (m3/s
x 86.400s).
Guia de Estudo
97
A flutuação do nível d´água pode ser um fenômeno natural e sazonal (em função da evaporação) ou
artificial, ditado pela(s) abertura(s) da(s) comporta(s) de uma hidrelétrica, por exemplo.
No caso das represas, como durante o ano há flutuação da descarga nos tributários, dependendo do seu
volume, estas podem sofrer oscilação significativa em seu N.A.
Teoricamente, o local mais profundo de um lago, fica na intersecção do comprimento com a largura
máximos; enquanto nas represas ou reservatórios, geralmente, fica próximo à barragem.
A profundidade mais representativa para um lago é a profundidade média, obtida quando se divide a
área da seção transversal pela largura média. A profundidade do lago ou reservatório tem a ver com a
penetração da luz solar na coluna d´água (zona fótica) e com a possibilidade da ocorrência da inversão
térmica.
As relações de área superficial e volume em um lago são importantes pois determinam as porções
sujeitas à mistura e a penetração da luz. Pode-se representar a forma geométrica de um lago
considerando-se a idealização proposta por Junge (1966):
P 6 ZZmed
max
3
onde Zmed é aprofundidade média e Zmáx a máxima atingida pelo reservatório e P é o parâmetro de forma
do reservatório, entre –1 e 1.
Para um dado parâmetro de forma, pode-se estimar a relação adimensional cota-area-volume através das
relações:
2
Z Z
A(%) (1 P) P
Z max Z max
2 3
Z Z Z
V (%) 6 3(1 P) 2 P
Z max Z max Z max
onda A(%) V(%) são respectivamente a fração de área e volume acima da profundidade Z. Desta forma,
a fração de volume contida no epilímnio pode ser obtida através do cálculo d v(%) para a profundidade
correspondente à profundidade de mistura.
A importância hidrológica de um lago não é medida apenas pela sua extensão (comprimento e largura),
mas também pela continuidade do seu espelho dágua, cuja maior medida em linha reta (sem cortar
qualquer obstáculo físico como ilhas e penínsulas) é chamada de fetch. A equação de Stevenson-Molitor
é usada no cálculo da altura de ondas em reservatórios:
As ondas, como se sabe, interferem na agitação da massa líquida (aumentam a turbidez) e facilitam a
dissolução do oxigênio do ar na água.
Um lago típico possui zonas distintas de comunidades bióticas relacionadas à sua estrutura física. A
zona litorânea fica próxima ás margens e onde a luz solar penetra até o fundo, permitindo assim a
existência de plantas aquáticas ou macrófitas (emersas, flutuantes e submersas) e delimitando a zona
eufótica. A zona bêntica é formada pelos sedimentos e detritos que se acumulam no fundo do lago ou
reservatório.
A biota é de fundamental importância para o estudo e o controle dos metais pesados e outras substâncias
tóxicas inorgânicas presentes nos sistemas lacustres. Micróbios, plantas e animais desempenham papéis
significativos na determinação do transporte, formas químicas e transferência de metais para diversos
locais, porém o fator mais importante é o efeito dessas substâncias
Guia de Estudo
99
2.2.1 Fitoplancton
Como muitas plantas superiores, as algas precisam de luz, de suprimento de nutrientes inorgânicos e de
faixas específicas de temperatura para crescerem e se reproduzirem. Dentre esses fatores, o suprimento
de nutrientes (especialmente o Fósforo) é um dos principais, pois é ele que ditará a evolução do seu
crescimento.
Há uma série de fatores ambientais que influem no crescimento das algas nos lagos e reserevatórios. Os
principais são os seguintes:
A quantidade de luz solar que penetra na água (afetada pela intensidade dos raios solares; pela
quantidade de material em suspensão; e pela cor da água);
A disponibilidade de nutrientes para o crescimento das algas (determinado tanto pela fonte como
pelos mecanismos de remoção);
A temperatura da água (regulada pelo clima, altitude, lançamento de efluentes, etc.);
A remoção física das algas (pelo seu afundamento ou saída através de um vertedor);
O pastoreio da população algal (por peixes, animais microscópicos e outros organismos
(zooplâncton));
O parasitismo por bactérias, fungos e outros microrganismos; e
A competição de outras plantas aquáticas por alimento e luz.
Essas mudanças ambientais podem ou não apresentar ótimos habitats para o crescimento ou mesmo a
sobrevivência de uma espécie particular de alga. Consequentemente há, em geral, uma sucessão de
espécies diferentes de algas no lago ao longo do ano e de ano para ano.
Costuma-se utilizar a concentração de clorofila (em ug/l) para expressar a biomassa fitoplanctônica.
Assim, o estudo do fitoplâncton e da biomassa (Clorofila-a), associado aos parâmetros físicos e
químicos, pode detectar possíveis alterações na qualidade das águas, bem como avaliar tendências ao
longo do tempo, que se reflitam em modificações no habitat ou no comportamento dos organismos
aquáticos. Além disso, a análise dos níveis de clorofila pode estabelecer uma correlação entre a
ocorrência das espécies e a biomassa e, desta forma, buscar indicadores biológicos da qualidade de
água.
As algas (e outras partículas em suspensão) contidas numa amostra de água e retidas em papel de filtro,
serão analisadas em laboratório para a obtenção da concentração da Clorofila-a. Um dos métodos,
consiste na extração, durante 12 horas, com acetona a 90%, dos pigmentos existentes no resíduo da
filtração da amostra de água. Após esse tempo, a solução é centrifugada e o líquido obtido tem sua
absorvância determinada, nos comprimentos de onda específicos (Aminot e Chaussepied, 1983).
2.2.2 Zooplancton
Lagos e reservatórios, independente de seu tamanho, assim como os grandes rios, são habitados por
inúmeros organismos planctônicos. Esses organismos estão na base da cadeia alimentar e, graças a seu
elevado metabolismo, são capazes de influenciar processos ecológicos fundamentais, como ciclagem de
nutrientes e magnitude da produção biológica. O zooplâncton é constituído de consumidores primários
(herbívoros) e predadores de diferentes níveis tróficos.
Ao contrário dos ambientes marinhos, o zooplâncton dos lagos e reservatórios, é composto de poucos
grupos de invertebrados aquáticos. São animais microscópicos, ou muito pequenos, podendo atingir, em
Guia de Estudo
101
poucos casos, alguns milímetros, que nadam na zona de água aberta dos lagos e reservatórios. Os
principais componentes dessa comunidade são, por ordem de tamanho:
Alguns representantes do Zooplâncton, como a Daphnia sp. são usados como bioindicadores da
degradação ambiental. O zooplâncton pode afetar diretamente a composição e a quantidade de
fitoplâncton. A composição das espécies e o tamanho atingido pelo zooplâncton são ditados pelos
peixes que dele se alimentam, originando um fator indicativo do aspecto, a longo prazo, da biologia do
manancial. O zooplâncton pode ser regulado artificialmente. O tamanho e a estrutura do zooplâncton
são uma importante variável da qualidade da água.
2.2.3 Peixes
Entre os vertebrados atualmente conhecidos, os peixes formam o grupo mais rico em espécies
(constituem pouco mais da metade do total), atingindo cerca de 24.600 representantes vivos, exibindo
enorme diversidade na sua morfologia, na biologia e nos habitats que ocupam. A importância da espécie
para o comportamento da qualidade da água em lagos é devido aos seguintes fatores:
Geralmente os lagos podem ser classificados em função da freqüência de mistura a que obedecem no
tempo:
Em regiões de clima temperado, os lagos são geralmente monomíticos enquanto nos climas tropicais
assumem comportamento polimíticos, dependendo do tempo de residência. Lagos meromíticos estão
usualmente associados a outras formas de estratificação como a estratificação por salinidade. A tabela a
seguir ilustra o tempo de detenção e o tipo de mistura de alguns lagos:
A análise e caracterização do estado mítico de um lago é fundamental para avaliação da qualidade das
águas no mesmo. Em lagos tropicais a estratificação costuma ser bastante estável, porém nas mudanças
de estação, por exemplo inverno-primavera, podem ocorrer freqüentemente situações de mistura
freqüentes em função das variações da temperatura do ar. A mistura nos lagos é condicionada à
quantidade de energia fornecida, tendo como agentes a difusão molecular, a difusão turbulenta, a
dispersão, a advecção e a convecção induzida pela diferença de densidade.
TRABALHO
As fontes de energia para a mistura em lagos são as trocas atmosféricas através da interface ar-água, os
ventos que introduzem turbulência e a advecção, causada pelos fluxos de entrada e saída do lago.
Guia de Estudo
103
As trocas com a atmosfera envolvem diversos fatores que dependem das condições meteorológicas e da
própria água, destacando-se entre eles a radiação solar e a as trocas convectivas. A radiação solar é o
fator mais importante nas análises que envolvem múltiplas estações, que também influem nas trocas
convectivas.
H at =radiação da atmosfera
A luz solar é importante como fator de controle da fotosíntese e da fotólise. Normalmente as estações
meteorológicas e climáticas fazem observações de radiação solar instantânea, permitindo-se uma análise
estatística do comportamento desta forçante. É usual nos estudos considerar-se a radiação solar como
função senoidal do tempo, admitindo-se um valor médio de potência específica (Langleys/dia = 10
kcal/m2/dia) e uma variação senoidal de período anual:
H max H min
H sn H m sin(0,0174533Dia 1,76)
2
onde Hsn é a potência específica da radiação solar (kcal/m2/dia), Hmax e Hmin representam o máximo e o
mínimo observados e Dia é a data no calendário Juliano (01/01/01 = 1).
sendo A o número de horas de luz no dia subtraído de 12 e Dia a data no calendário Juliano. O valor A
pode ser obtido através da equação de Groden (1977) que considera a diferença entre o número de
horas de luz no dia no solstício de verão e no equinócio de inverno:
onde Lat é a latitude local, positiva par ao hemisfério norte e negativa para o sul. As figuras a seguir
ilustram as variações do fotoperíodo da energia da radiação solar ao longo do ano.
Horas de Insolação / dia
14
25
13
12 20
11
15
10 Fortaleza
9 Goiania 10
São Paulo
8
Porto Alegra 5
7
6 0
se apenas a variação do ciclo anual de forma Figura 58: Variação Típica da Temperatura
senoidal, a partir da média e da faixa de variação
observadas em campo:
Tmax Tmin
T Tmed sin(0,0174533(0,987( Dia Def ) 30))
2
onde Tmed é a temperatura média história, Tmax e Tmin os valores máximos e mínimos, Dia a data na
contagem Juliana e Def a defasagem, usualmente adotada em torno de 90 dias (Ward, 1963).
Guia de Estudo
105
3.1.3 Vento
O vento é, freqüentemente, a principal fonte de energia para mistura nos lagos, induzindo ondas na
superfície que criam turbulência e condições de efetivação da mistura no epilímnio. A transferência de
O vento é muitas vezes responsável pela oxigenação e pela volatilização de alguns compostos, sendo
medido diretamente nas estações meteorológicas através dos anemômetros automáticos, situados a uma
altura padrão de 10 m. São medidas a velocidade (m/s) e a direção (º com o N) O vento é considerado
sempre na direção predominante, ou seja, aquela em que permanece a maior parte do tempo.
Pode-se detectar a estratificação num lago através de diferentes indicadores além das observações de
campo. Nestas, o levantamento de um perfil de temperatura ou de concentração de oxigênio é suficiente
para indicar o comportamento mítico ou estratificado. O tempo de residência (ou retenção) também
permite um prognóstico sobre a estratificação:
LQ 0
FD << 0.3 estratificado
FD 0.1 < FD < 1.0 estratificação fraca
zV g
> 1.0 misturado
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107
sendo L o comprimento do reservatório, Q a vazão média de saída, z a profundidade média, V o volume
do reservatório, a massa específica e o gradiente médio de densidade z
g
z Ri > 0.25 - estável
Ri
u
2 Ri < 0.25 - instável
z
Em geral, lagos e reservatórios nas regiões tropicais com grande profundidade e tempo de residência
superior a 6 meses tendem a ter a circulação comandada por fatores meteorológicos, resultando numa
estratificação estável.
Já reservatórios com menos de 20 dias de período de residência, normalmente rasos, tem a circulação
comandada por fatores advectivos, o que leva a uma condição polimítica.
>T, >S
+leve
<T, <S
+pesado
A modelação de reservatórios pode ser considerada, de acordo com a estruturação espacial adotada
como:
5 REFERÊNCIAS
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Guia de Estudo
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Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13
Chapra, S.C. and Pelletier, G.J. 2003. QUAL2K: A Modeling Framework for Simulating River and
Stream Water Quality: Documentation and Users Manual. Civil and Environmental Engineering Dept.,
Tufts University, Medford, MA.,
POLUIÇÃO, PROTEÇÃO E USOS MÚLTIPLOS DE REPRESAS. Branco,S.M., CETESB, São Paulo,
p.104, 1977.