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ESCOLA POLITÉCNICA José Rodolfo Scarati Martins

Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental

MODELAGEM DE QUALIDADE DA ÁGUA


Guia de estudo para a disciplina PHA3414 Transporte de Poluentes no Meio Hídrico

São Paulo
2017
1
SUMÁRIO

Sumário .................................................................................................................................. 1
Capítulo 1: Transporte de Poluentes no Meio Hídrico ......................................................... 5
1 Qualidade das Águas Superficiais .................................................................................. 5
2 Constituintes e qualidade da água ................................................................................. 5
3 Modelação de Águas Superficiais ................................................................................ 14
4 Um Modelo Conceitual ................................................................................................ 15
5 REferências .................................................................................................................. 17
Capítulo 2: Equações BÁsicas ............................................................................................. 19
1 Introdução .................................................................................................................... 19
2 Equações Fundamentais ............................................................................................... 19
2.1 Conservação da massa .......................................................................................... 20
2.2 Conservação da Quantidade de Movimento ......................................................... 22
2.3 Escoamento bidimensional ................................................................................... 23
2.4 Escoamento Unidimensional ................................................................................ 25
3 Advecção, Difusão e Dispersão ................................................................................... 26
3.1 Difusão Molecular e a Lei de Fick ....................................................................... 26
3.2 Transferência de Massa ........................................................................................ 28
4 Soluções Numéricas ..................................................................................................... 29
4.1 Solução das Equações de Saint Venant ................................................................ 30
4.1.1 Discretização Numérica ............................................................................... 32
4.1.2 Características Geométricas das Seções dos Canais .................................. 34
4.1.3 Condições Iniciais e de Contorno ................................................................ 34
4.1.4 Algoritmo de Solução ................................................................................... 35
4.2 Equação da Dispersão ........................................................................................... 35
4.2.1 Esquema Direto............................................................................................ 36
4.2.2 Esquema Centrado no espaço ...................................................................... 37
4.2.3 Aplicação Prática ........................................................................................ 38
5 ReferÊncias .................................................................................................................. 39
Capítulo 3: Equação da Energia e Dispersão Térmica ........................................................ 39
1 Introdução .................................................................................................................... 39
2 Equações da Energia .................................................................................................... 39
2.1 Equação da Convecção-Difusão Térmica............................................................. 42
2.2 Escoamentos com Influência da Temperatura ...................................................... 42
3 Soluções Numéricas ..................................................................................................... 43
4 Referências ................................................................................................................... 45
Capítulo 4: Processos em Rios ............................................................................................ 46
1 Introdução .................................................................................................................... 46
2 Modelação dos Parâmetros de Qualidade das Águas ................................................... 47
2.1 Reaeração.............................................................................................................. 48
2.1.1 Reaeração Superficial .................................................................................. 48
2.1.2 Reaeração em Estruturas Hidráulicas, Soleiras e Cascatas ....................... 54
2.2 Fotosíntese ............................................................................................................ 55
Guia de Estudo
2
2.3 Demanda Carbônica de Oxigênio ......................................................................... 55
2.3.1 Ciclo do Carbono ......................................................................................... 55
4.1.1 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)................................................... 58
2.3.2 DBO para Rios ............................................................................................. 59
2.3.3 DBO de 5 dias .............................................................................................. 60
2.3.4 Re-aeração com matéria orgânica ............................................................... 61
2.3.5 Re-suspensão da material orgânica ............................................................. 61
2.4 Respiração Vegetal ............................................................................................... 62
2.5 Nitrificação ........................................................................................................... 62
2.6 Efeitos da Temperatura ......................................................................................... 62
3 Métodos de Solução ..................................................................................................... 63
3.1 Soluções Teóricas ................................................................................................. 63
3.2 Equação de Streeter-Phelps .................................................................................. 65
3.3 Soluções Numéricas .............................................................................................. 66
3.4 Dados e Condições de Contorno........................................................................... 67
3.4.1 Coeficiente de Dispersão ............................................................................. 67
4.1.2 Comprimento de Mistura ............................................................................. 68
3.5 Modelando a Temperatura .................................................................................... 68
4 Referências ................................................................................................................... 69
Capítulo 5: Processos em Estuários ..................................................................................... 70
1 Introdução..................................................................................................................... 70
2 Hidráulica Estuarina ..................................................................................................... 71
2.1 Generalidades........................................................................................................ 71
2.2 Marés .................................................................................................................... 72
3 Modelos Estuarinos ...................................................................................................... 78
3.1 Modelo de Segmento ............................................................................................ 80
3.2 Modelo de Diferenças Finitas ............................................................................... 83
4 Referências ................................................................................................................... 84
Processos em Reservatórios e lagos ..................................................................................... 85
1 Introdução..................................................................................................................... 85
2 Parâmetros de Análise de Lagos e Reservatórios ......................................................... 86
2.1 Parâmetros Físicos ................................................................................................ 86
2.1.1 Radiação Solar ............................................................................................. 86
2.1.2 Temperatura da Água................................................................................... 88
2.1.3 Turbidez ........................................................................................................ 91
2.1.4 Sedimentos .................................................................................................... 92
2.1.5 Cor ................................................................................................................ 93
2.1.6 Oxigênio Dissolvido ..................................................................................... 93
4.1.1 Salinidade ..................................................................................................... 94
2.1.7 pH ................................................................................................................. 95
2.1.8 Alcalinidade ................................................................................................. 95
2.1.9 Parâmetros Hidrológicos ............................................................................. 96
2.1.10 Tempo de Detenção ...................................................................................... 96
2.1.11 Variação do Nível d´água e Profundidade Média ....................................... 97
Guia de Estudo
3
2.1.12 Continuidade (Fetch) ................................................................................... 98
2.2 Parâmetros Biológicos .......................................................................................... 98
2.2.1 Fitoplancton ................................................................................................. 99
2.2.2 Zooplancton ............................................................................................... 100
2.2.3 Peixes ......................................................................................................... 101
3 Mistura em Lagos ....................................................................................................... 102
3.1 Trocas Atmosféricas ........................................................................................... 103
3.1.1 Radiação Solar ........................................................................................... 103
3.1.2 Temperatura da Água ............................................................................... 104
3.1.3 Vento .......................................................................................................... 105
3.2 Detecção e Estabilidade da Estratificação .......................................................... 106
3.3 Efeito da Salinidade ............................................................................................ 107
4 Modelos para reservatórios ........................................................................................ 108
5 REferências ................................................................................................................ 108

Modelagem de Qualidade da Água


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Guia de Estudo
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CAPÍTULO 1: TRANSPORTE DE DE POLUENTES NO MEIO HÍDRIDO

Este capítulo visa conceituar a questão do transporte de poluentes no meio ambiente e


em particular as aplicações voltadas para o meio ambiente aquático

1 QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS


A qualidade das águas superficiais está em constante mudança sob a ação das atividades naturais e do
homem. As variações atmosféricas e o uso do solo são os principais agentes geradores dos constituintes
que aportam aos meios aquáticos, e de alguma forma promovem a alteração de sua qualidade. A
engenharia de forma geral e principalmente a engenharia Ambiental tem dedicado esforços ao
desenvolvimento de tecnologias para a gestão, preservação, uso racional e conservação das águas,
incluindo nestes o desenvolvimento de ferramentas para a avaliação e previsão da qualidade das águas,
em todas as suas formas de ocorrência.
As águas superficiais são aquelas abertas a atmosfera, e que estão sujeitas às forçantes naturais, tais
como a precipitação, a radiação solar e ao aporte de constituintes dos terrenos. Se contrapõem às águas
subterrâneas e às águas glaciares em termos de facilidade de uso, sendo por este motivo consideradas
como as mais importantes em termos econômicos e de preservação. Estas águas incorporam
constituintes em diferentes fases do ciclo hidrológico, seja quando atravessam a camada de ar
atmosférico durante as precipitações, durante a interceptação vegetal, no escoamento superficial até os
rios e lagos e durante sua permanência nestes corpos hídricos.
Em diferentes momentos, aportes derivados da ação antrópica1, como esgotos domésticos e industriais e
também resíduos de origem difusa alteram os principais indicadores da qualidade da água. O
escoamento nos rios e canais, a circulação nos lagos e reservatórios e a descarga nos estuários e oceanos
encarregam-se de criar um ambiente para que diversos processos possam atuar, alterando a
concentração dos chamados constituintes presentes na água.
Atualmente, a gestão da qualidade das águas superficiais vai muito além do problema da fonte pontual
de poluentes (Chapra, 2008), que era o foco principal nos anos 1980, para abarcar outros tipos de fontes
de poluição, desde os despejos aquecidos das usinas termelétricas até o aporte de constituintes tóxicos
como os resíduos da queima do PVC em áreas urbanas e os disruptores endócrinos, presentes em áreas
onde a criação animal é significativa.
São utilizadas três ferramentas principais na gestão da qualidade das águas superficiais, o
monitoramento (1), a análise teórica(2) e a modelação matemática(3). Embora cada ferramenta tenha
suas vantagens, todas também tem pontos desfavoráveis, fazendo que apenas o uso conjunto seja
realmente produtivo nos problemas de gestão ambiental.

2 CONSTITUINTES E QUALIDADE DA ÁGUA


As principais variáveis indicadoras da qualidade da água em um manancial superficial incluem a
temperatura, o oxigênio dissolvido, a salinidade, os nutrientes (N e P), a matéria orgânica na forma de
DBO, DQO ou COT, o fitoplancton (algas) e os sólidos suspensos. Ainda que muitos outros indicadores
podem ser relevantes, estão são, em primeiro plano, o que se considera como indicadores gerais de um
corpo hídrico
De forma geral os constituintes presentes na água podem ser agrupados da seguinte forma:

1
feitos, processos, objetos ou materiais antropogénicos são aqueles derivados de atividades humanas, em oposição a aqueles
que ocorrem em ambientes naturais sem influência humana.Este termo é muitas vezes utilizado no contexto de
externalidades ambientais na forma de resíduos químicos ou biológicos que são produzidos como subprodutos de atividades
humanas.
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 Sólidos dissolvidos: compostos orgânicos e inorgânicos presentes na coluna d’agua e na
interface com o fundo.
 Sais (Não orgânicos): presentes nos corpos d’água em geral e particularmente nos estuários,
como os cloretos, iodetos e etc.
 Temperatura: forçante principal na maioria das reações químicas de decaimento e crescimento, é
função da radiação solar e despejo.
 Esgotos orgânicos: fontes de constituintes como o carbono, o nitrogênio e o fósforo.
 Nutrientes: usualmente restrito ao N e P, representa a fonte de vida para o fitoplancton.
 Metais: usualmente associados às atividades antrópicas, também pode ser característico do
ambiente natural
 Materiais radioativos: indicadores de atividades antrópicas prejudiciais a saúde humana.
 Herbicidas: nome genérico dado aos tóxicos utilizados na agricultura (agroquímicos) tais como
os defensivos agrícolas, pesticidas vegetais e animais e demais insumos.
 Flora: representa a vida vegetal, notadamente o fitoplancton.
 Fauna: representa a vida animal, notadamente o zooplancto, invertebrados e peixes.

A poluição da água resulta da introdução de constituintes na mesma (matéria ou energia) de modo a


torná-la prejudicial ou impeditiva de um determinado uso, para o homem e outras formas de vida, ou
impróprias para uma determinada meta estabelecida para este bem. Deve ser observado que poluição é
um conceito diferente de contaminação, geralmente associado a alguma propriedade presente na água e
que é particularmente nociva ao consumo humano.
A qualidade da água é afetada por diversos fatores, com
conseqüências facilmente detectáveis. As principais  Fontes Pontuais: valores
conseqüências do aporte de constituintes que deteriora a característicos associados aos
qualidade de um corpo hídrico superficial são processos de tratamento e tipo de
ocupação/atividade.
 Elevação da temperatura.
 Fontes Difusas: valores variáveis
 Aumento da concentração de sólidos dissolvidos no tempo, associados ao regime
totais resultando em alteração na cor e hidrológico, uso do solo, atividade
transparência. econômica.
 Presença de matéria orgânica, causando alteração
no odor e no sabor.
 Presença de micro-organismos patogênicos.
 Presença de nutrientes, principalmente fósforo.
 Alterações de PH
 Presença de compostos tóxicos
 Presença de corantes
 Presença de espuma, resultado das substâncias tensoativas (surfactantes)
 Radioatividade

A elevação da temperatura provoca, entre outros efeitos, a aceleração das reações químicas de oxidação,
além de atuar no metabolismo do fitoplancton e do zooploancton. A concentração de sólidos altera a
transparência e em conseqüência a propagação da luz e da temperatura, afetando o comportamento
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térmico do corpo hídrico. A matéria orgânica é um indicativo do aporte de esgotos, que resulta, além da
queda do oxigênio dissolvido essencial à fauna aquática, no aumento das concentrações de fósforo e
nitrogênio, nutrientes para a flora aquática.
Os tóxicos e a radioatividade são indicativos das ações antrópicas descontroladas sobre o uso do solo,
assim como os corantes e espumas indicam a existência de atividades especificas como a agricultura e o
manuseio de substancias com potencial nuclear.

Figura 1: Proliferação de algas e espumas na superfície de corpos hídricos são indicadores de poluição
As características de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica contribuinte bem como o uso
pretendido para o manancial são aspectos mais importantes a serem considerados na escolha das
variáveis a serem consideradas para o monitoramento e controle da qualidade da água. A relevância e a
significância dos resultados obtidos através do monitoramento de qualidade apenas poderão ser
analisados levando em consideração o monitoramento hidrológico de quantidade.
A tabela a seguir indica o significado das principais variáveis utilizadas no monitoramento de qualidade
das águas, e que são utilizadas na gestão de mananciais e recursos hídricos de forma geral.
Tabela 2-1: Variaveis de Qualidade da Água (Porto ET all, 2009)
Unidade de
Variável Significado Observações
medida
Podem atribuir cor à água, compostos de íons As partículas interferem na absorção e
Depende do metálicos naturais, matéria orgânica, corantes transmissão da luz. A cor de uma amostra
Cor método de sintéticos e partículas em suspensão. pode ser dividida em cor aparente e cor
análise verdadeira (medida após a eliminação das
partículas em suspensão).
Função das características geológicas e Em programas de monitoramento a
Dureza total climáticas da região, relacionada utilização desta variável é útil para
mg/l CaCO3
principalmente a sais de íons cálcio e demonstrar a concentração de cátions
magnésio. bivalentes na água.
Função de despejos industriais e domésticos Geralmente, o odor não é incluído em
que podem criar odores na água devido ao programas de monitoramento, porém a
estímulo da atividade biológica. Solventes simples observação desta variável no
Odor
Indicadores Gerais

orgânicos, combustíveis e óleos entre outras momento da coleta, pode auxiliar na


substâncias também podem resultar em odor escolha das demais variáveis a serem
na água. monitoradas.
Variável importante que influencia vários A variação do pH num corpo hídrico
processos biológicos e químicos. Variações depende de vários fatores naturais, como
bruscas de pH podem indicar presença de clima, geologia e vegetação. Mudanças que
efluentes industriais. Lagos eutrofizados ocorrem ao longo do tempo no pH devem
pH apresentam pH elevados. ser melhor analisadas. O valor do pH afeta
de maneira significativa outras variáveis
como o aumento da solubilidade de metais,
redução da disponibilidade de nutrientes e
processos biológicos.
ST (Sólidos Refere-se a substâncias remanescentes do A análise de sólidos possibilita uma visão
totais) processo de evaporação da amostra de água e geral sobre a qualidade da água que esta
SST (Sólidos mg/l sua secagem subseqüente. Através do processo sendo analisada e pode revelar a ocorrência
suspensos de filtração, estes sólidos podem ser divididos de processos específicos nos corpos da
totais) em dois grupos: Sólidos em suspensão totais e água e na bacia de drenagem.

Modelagem de Qualidade da Água


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Unidade de
Variável Significado Observações
medida
SDT (Sólidos sólidos dissolvidos totais.
dissolvidos
totais)
A temperatura afeta processos químicos, A temperatura dos corpos hídricos varia
físicos e biológicos os quais influenciam outras com o clima sendo que em alguns, esta
o variáveis de qualidade da água. Estratificação variação pode ocorrer em períodos de 24
Temperatura C
vertical de temperatura observada em horas.
ambientes lênticos afeta significativamente a
qualidade do corpo da água.
A concentração de oxigênio dissolvido nos A medida da concentração de OD em um
corpos da água depende da temperatura, programa de monitoramento de qualidade é
salinidade, turbulência, atividade fotossintética extremamente importante, pois indica
Oxigênio e pressão do oxigênio na atmosfera. É problemas de poluição. A sua medida deve
dissolvido mg/l essencial para todas as formas de vida aquática estar sempre associada à temperatura e
OD e tem papel fundamental no processo de deve ser comparada com a concentração de
autodepuração. A sua concentração na água é saturação que é função da salinidade do
bastante variável tanto a nível espacial quanto corpo da água.
temporal.
A turbidez está associada à presença de Em muitas situações, turbidez elevada pode
μT (unidade de matéria em suspensão na água (silte, argila, significar processos erosivos, manejo
turbidez) partículas coloidais orgânicas e inorgânicas, inadequado do solo e lançamento de
Turbidez UNT (Unidade plâncton e microrganismos). A turbidez despejos industriais e domésticos na bacia.
Nefelométrica interfere nos processos biológicos que ocorrem A turbidez é significativamente afetada
de turbidez) na água porque interfere no processo de pelas condições hidrológicas da bacia.
transmissão da luz.
A condutividade elétrica mede a capacidade A condutividade elétrica é uma medida
que a água tem de transmitir corrente elétrica e muito simples e traz informações
está diretamente relacionada à concentração de importantes sobre a qualidade da água e por
espécies iônicas dissolvidas, principalmente isso a sua medida é bastante recomendada
inorgânicas. Esta medida pode ser relacionada num programa de monitoramento de
Condutividade μS/cm
com a concentração de sólidos dissolvidos qualidade da água. A condutividade elétrica
elétrica (mS/m) totais o que facilita na avaliação do corpo varia com a temperatura.
hídrico, pois é uma medida direta. Valores
superiores a 1.000 μS/cm podem indicar
problemas de poluição.

O carbono orgânico presente na água é O carbono orgânico total representa o


resultado dos organismos vivos presentes na material dissolvido e particulado. O
Carbono água e também do lançamento de despejos. carbono inorgânico interfere no resultado
orgânico total Pode ser utilizado para indicar o grau de da análise e deve ser eliminado antes das
mg/L C
poluição de um corpo hídrico. Valores medidas.
COT superiores a 10 mg/L podem indicar
contaminação por despejos industriais ou
domésticos.
Clorofila são pigmentos que estão presentes A concentração da clorofila-a é
em muitos organismos fotossintetizantes e influenciada pela intensidade luminosa e
existem em 3 formas: a,b e c. A mais pela temperatura, além da presença de
abundante é a clorofila-a que representa 1% a nutrientes. Em programas de
2% da massa de algas planctônicas. A monitoramento, esta variável é uma boa
Clorofila μg/L
concentração de clorofila-a é um indicador do indicadora de processos de eutrofização.
estado trófico de corpos hídricos, pois o
crescimento de organismos planctônicos está
diretamente relacionado à presença de
nutrientes.
Unidade de Significado Observações
Variável
medida
Nutriente essencial para os organismos vivos, Trata-se de nutriente limitante para o
Nutrientes

podendo estar presente nos corpos hídricos na processo de eutrofização. Na pesquisa


Fósforo total forma dissolvida e particulada. Elevadas sobre as fontes de contaminação por
mg/l
P concentrações indicam poluição que pode estar fósforo, é importante avaliar as atividades
relacionada a despejos domésticos ou desenvolvidas na região.
industriais
A presença de Nitrogênio nos corpos hídricos, Geralmente, o nitrogênio presente em
Série do
nas suas mais variadas formas, inclusive despejos domésticos está na forma
Nitrogênio
orgânica, resulta de processos biogênicos orgânica, sendo convertido à forma
N-NO3 naturais que ocorrem no solo ou na água, do amoniacal, nitrito e nitrato a medida que a
(Nitrato) lançamento de despejos industriais ou matéria orgânica vai sendo degradada. Para
mg/L N
N-NO2 domésticos. Elevadas concentrações de avaliação das principais fontes de
(Nitrito) compostos da série do nitrogênio pode ser um nitrogênio em corpos da água é necessário
indicativo de poluição por matéria orgânica. investigar as atividades desenvolvidas no
N-NH4
local e associar com a forma predominante
(Amoniacal)
de nitrogênio encontrada
Demanda mg/l O2 Pode ser definida como a quantidade A análise da DBO está sujeita a vários

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Unidade de
Variável Significado Observações
medida
Bioquímica de necessária de oxigênio para que os fatores intervenientes. A respiração das
Oxigênio microrganismos aeróbios presentes na amostra, algas presentes nos corpos hídricos utilizam
DBO oxidem a matéria orgânica. Dessa forma, pode oxigênio o qual não será utilizado no
ser entendido como a medida aproximada da processo de biodegradação. A presença de
quantidade de matéria orgânica biodegradável substâncias tóxicas aos microrganismos
presente na amostra. Em águas naturais não responsáveis pela biodegradação podem
poluídas a medida de DBO é inferior a 2 mg/L. reduzir o processo. O tempo para análise
desta variável pode dar origem a resultados
distintos. Os resultados da análise de DBO
devem ser avaliados com critério,
utilizando-se outras variáveis na conclusão.
A DQO é uma medida indireta da quantidade A análise da DQO é rápida e simples,
de material orgânico e inorgânico, susceptível viabilizando a sua realização em
à oxidação química por um oxidante praticamente todas as regiões do país.
Demanda energético. Não é uma variável específica, pois
Química de não possibilita identificar as espécies que
Oxigênio mg/l O2
foram oxidadas e nem fazer a distinção entre
DQO materiais orgânicos e inorgânicos. Valores
elevados de DQO podem indicar problemas de
contaminação dos corpos hídricos por despejos
industriais.
O Bário pode estar presente nas águas naturais
Bário devido aos processos de desgaste de rochas
mg/L Ba
Ba ígneas e sedimentares. É bastante utilizado em
processos industriais.
Desgaste de rochas, lixiviação de solos e Concentrações elevadas em corpos hídricos
Boro outros processos naturais são as causas da podem indicar a ocorrência de problemas
mg/L B presença de Boro em corpos hídricos. de poluição. A análise em conjunto com
B outras variáveis pode ajudar na
identificação da principal fonte de poluição.
Esta sempre presente nos corpos hídricos, pois A elevação da temperatura e atividade
proveniente de rochas ricas em minerais de fotossintética pode reduzir a concentração
Cálcio cálcio.É um dos íons responsáveis pela dureza do cálcio na água por ocasião da sua
mg/L Ca da água. As atividades industriais e processos precipitação na forma de carbonato de
Ca de tratamento de água podem contribuir para o cálcio. Os compostos de cálcio são estáveis
aumento da concentração de cálcio nos corpos na água na presença de dióxido de carbono.
hídricos.
Os cianetos ocorrem em águas de forma iônica A estações quentes e ensolaradas
ou como ácido cianídrico fracamente favorecem o processo de oxidação
dissociado e pode formar complexos com bioquímica do cianeto. Outro processo que
Cianeto metais. A sua presença em corpos hídricos é contribui também para essa redução é a
mg/L CN
CN resultado de atividades industriais, adsorção no material suspenso e nos
principalmente aquelas associadas ao sedimentos de fundo
tratamento de superfícies metálicas por
eletrodeposição.
INorgânicos

A presença de elevadas concentrações de A relevância da medida de concentração de


cloretos nas águas está frequentemente cloretos na água esta no fato de ser um
Cloreto associada aos esgotos domésticos, de maneira elemento conservativo podendo ser
mg/L Cl que o seu monitoramento pode ser utilizado relacionado com processos de poluição por
Cl como um indicador de contaminação fecal ou esgotos.
para avaliar a extensão do processo de
dispersão de esgotos nos corpos hídricos.
O fluoreto é originado do desgaste de minerais Uma vez encontrado nos corpos hídricos, a
que o contenham em sua composição, sendo menos que seja resultante de processos de
Fluoreto que as emissões de efluentes líquidos e poluição, não é provável que a sua
mg/L F
F atmosféricos de certos processos industriais concentração seja significamente alterada
também podem contribuir para a presença de com o tempo.
fluoretos em corpos hídricos.
Pode ser proveniente de rochas, porém os seus A disposição inadequada de baterias
Lítio sais e derivados são utilizados em vários contendo lítio pode contribuir para a
mg/L Li
Li segmentos industriais. O lítio é facilmente presença de lítio nos corpos hídricos.
absorvido pelas plantas.
Elemento comum nas águas naturais, Dependendo das características do solo da
resultante principalmente do desgaste de bacia de drenagem, a concentração de
rochas, o magnésio juntamente com o cálcio magnésio nos corpos hídricos pode variar
contribui para a dureza da água, Uma vez que numa faixa muito ampla.
é um elemento essencial para os organismos
Magnésio mg/L Mg vivos, está presente em muitos compostos
organometálicos e na matéria orgânica. A
contribuição de magnésio proveniente de
processos industriais é pouco significativa. O
magnésio não é uma variável importante nos
processos de poluição.

Modelagem de Qualidade da Água


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Unidade de
Variável Significado Observações
medida
O potássio é encontrado em águas naturais em O monitoramento desta variável pode
Potássio baixas concentrações devido a resistência das auxiliar na identificação de fontes
mg/L K rochas que contém este elemento ao responsáveis por problemas de
K intemperismo. Pode atingir os corpos hídricos contaminação por nutrientes
pelo lançamento de efluentes industriais
Em função da sua elevada solubilidade, o
Sódio sódio é encontrado em todos os corpos
mg/L Na hídricos. O aumento de sua concentração pode
Na ser resultado de despejos industriais e
domésticos
O sulfato está presente naturalmente na água O sulfato associado aos íons cálcio e
devido a muitos processos, sendo a forma mais magnésio faz com que a dureza da água
Sulfato estável do elemento enxofre. Os processos seja classificada como permanente.
mg/L SO4 industriais podem adicionar quantidades
SO4 significantes de sulfato as águas naturais,
principalmente aqueles relacionados a
atividade de mineração.
A presença de sulfeto na forma H2S não Em condições aeróbias o sulfeto é
Sulfeto dissociado em águas superficiais é resultado do convertido rapidamente para enxofre ou íon
H2S mg/L H2S processo de degradação anaeróbia da matéria sulfato.
(não orgânica. Elevadas concentrações de sulfeto
dissociado) indicam poluição por despejos industriais ou
domésticos.
O urânio é um elemento radioativo que está
presente em praticamente todas as rochas e
Urânio mg/L U solos, o que o torna um elemento onipresente
nos corpos hídricos. Processos de mineração,
U indústrias de fertilizantes a base de fosfatos
podem ser responsáveis para a elevação de
urânio nos corpos hídricos.
A sua presença em corpos hídricos resulta do
processo de desgaste dos minerais que contém
alumínio, lançamento de despejos industriais e
Alumínio processos de mineração. O alumínio não é
mg/L Al significativamente acumulado pelas plantas e
Al animais. A solubilidade deste elemento é
função do pH sendo que somente em águas
ácidas ou alcalinas, poderá ocorrer a
dissolução do alumínio.
A sua presença na água decorre do desgaste No meio aquático a espécie predominante
natural de rochas que contenham este encontrada de arsênio é a inorgânica, forma
elemento, da dissolução e deposição de menos tóxica que a orgânica.
partículas emitidas nos processos de fundição
de minérios de cobre e chumbo e uso de
Arsênio mg/L Ar
compostos que contenham arsênio. Este
elemento é atualmente utilizado em ligas
metálicas para fabricação de baterias,
semicondutores e diodos, além de pesticidas
orgânicos.
A sua presença nos corpos hídricos é
Cádmio decorrente do lançamento de efluentes
mg/L Cd
Metais

Cd industriais e também pela poluição difusa


causada por fertilizantes.
A presença de chumbo nos corpos hídricos é
principalmente devida às atividades humanas
Chumbo (queima de combustíveis fósseis e processos
mg/L Pb
Pb de incineração), processos de mineração,
lançamento de despejos industriais ou
deposição de material particulado na água.
O aumento da sua concentração na água pode
ser resultado de atividades de mineração,
processamento do metal, processos de
Cobre combustão, despejos industriais e domésticos.
mg/L Cu
Cu A concentração do cobre na água é função do
pH sendo absorvido pela matéria orgânica,
óxidos hidratados de ferro e manganês e pela
argila.
As atividades de tratamento de superfícies
metálicas, beneficiamento de couros e têxteis
Cromo mg/L Cr contribuem para a presença de cromo nos
corpos hídricos. No meio aquático, o cromo
pode estar presente na forma solúvel ou como
sólidos em suspensão, adsorvido em materiais

Guia de Estudo
11
Unidade de
Variável Significado Observações
medida
argilosos, orgânicos ou óxidos de ferro.
As atividades de processamento de minério de O ferro está presente na forma insolúvel em
ferro e as suas ligas, contribuem para a sua ambientes lóticos (ferro trivalente). Em
presença nos corpos hídricos. Estações de ambientes lênticos, principalmente junto ao
Ferro mg/L Fe tratamento que utilizam sais de ferro no fundo, está presente na forma solúvel (ferro
tratamento e descartam o lodo nos corpos bivalente).
hídricos podem ser uma fonte contribuinte
deste elemento na água.
É utilizado na fabricação de ligas metálicas e
Manganês defensivos agrícolas, o que pode contribuir
mg/L Mn
Mn para a presença de manganês nos corpos
hídricos.
A presença de mercúrio nos corpos hídricos é
Mercúrio resultado da deposição atmosférica e drenagem
mg/L Hg superficial, além do desgaste natural de rochas
Hg e contribuição de despejos industriais e
domésticos.
A sua presença nos corpos hídricos pode ser
resultados de processos naturais ou das
atividades humanas. Despejos de indústrias de
tratamento de superfícies metálicas e de
Zn mg/L Zn
sistemas de resfriamento que utilizam
compostos de zinco contribuem para o
aumento da sua concentração nos corpos
hídricos.
A presença em corpos hídricos está associada à
sua utilização como defensivo agrícola e
Aldrin + também no controle de insetos, sendo
μg/l
Dieldrin resultante da deposição atmosférica e
drenagem superficial, devido a sua persistência
no meio ambiente.
Amplamente utilizada na fabricação de resinas O fenol é rapidamente degradado no
sintéticas, podendo ser utilizado como agente ambiente aquático, a menos que a sua
Fenóis mg/l de desinfecção em vários produtos. Em corpos concentração seja elevada causando inibição
hídricos, é resultado do lançamento de da atividade biológica.
despejos industriais e domésticos.
São de grande importância para o
monitoramento da qualidade dos corpos
Orgânicas

hídricos, pois causam diversos danos, podendo


interferir no processo de troca gasosa entre a
Óleos e graxas mg/l
água e atmosfera e reduzir a concentração do
oxigênio dissolvido. A presença destes
elementos em corpos hídricos é resultado do
lançamento de despejos industriais.
Os surfactantes englobam as substâncias ativas A maior parte dos tensoativos utilizados é
presentes nos detergentes e outros produtos biodegradável, porém se não existem
utilizados nas atividades humanas. A sua sistemas de tratamento para promover a sua
Tensoativos presença nos corpos hídricos é resultado de degradação, ele permanecerá ativo no meio e
mg/l LAS despejos industriais e domésticos. Os sua degradação ocorrerá por processos
LAS tensoativos afetam o processo de aeração da naturais os quais ficam prejudicados pela
água e altera a tensão superficial. A formação sua presença.
de espumas propicia a concentração de
poluentes, inclusive organismos patogênicos.

As variáveis de qualidade da água são organizadas, de acordo com a legislação brasileira (CONAMA
357/2005) de forma a estabelecer metas para a preservação dos corpos hídricos de acordo com seu uso
potencial. Veja na tabela a seguir os potenciais usos associados às águas doces e seus parâmetros.

Modelagem de Qualidade da Água


12

Tabela 2-2: Classes de Enquadramento para Águas Doces (CONAMA 357/2005)


Classe Uso
Especial a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,
c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção
integral.
1 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam
rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película;
e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas
2 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e
lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto;
e) à aqüicultura e à atividade de pesca.
3 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;
b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) à pesca amadora;
d) à recreação de contato secundário; e
e) à dessedentação de animais.
4 a) à navegação; e
b) à harmonia paisagística.

Tabela 2-3: Padrões de Qualidade das Águas Doces CONAMA 357/05


Classe Parâmetros
1 a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições
nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de ensaio
ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido.
b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário deverão ser
obedecidos os padrões de qualidade de balneabilidade, previstos na Resolução CONAMA
no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 200
coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6
amostras, coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. A E. Coli
poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de
acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
h) DBO 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2;
i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2;
j) turbidez até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT);
l) cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L;
m) pH: 6,0 a 9,0.
Clorofila a 10 μg/L
Guia de Estudo
13
Classe Parâmetros
Densidade de cianobactérias 20.000 cel/mL ou 2 mm3/L
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/L
2 I - não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não
sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais; II
- coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário deverá ser
obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser
excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou
mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com
freqüência bimestral. A E. coli poderá ser estabelecidos pelo órgão ambiental
competente;
III - cor verdadeira: até 75 mg Pt/L;
IV - turbidez: até 100 UNT;
V - DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2;
VI - OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2;
VII - clorofila a: até 30 μg/L;
VIII - densidade de cianobactérias: até 50000 cel/mL ou 5 mm3/L; e,
IX - fósforo total:
a) até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; e,
b) até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2 e 40
dias, e tributários diretos de ambiente lêntico.
3 a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições
nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de ensaio
ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido;
b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
e) não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não
sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais;
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário não
deverá ser excedido um limite de 2500 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em
80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com
freqüência bimestral. Para dessedentação de animais criados confinados não deverá ser
excedido o limite de 1000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais
de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com freqüência
bimestral. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes
termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas
durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A E. Coli poderá ser
determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com
limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
h) cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidade de
cianobactérias não deverão exceder 50.000 cel/ml, ou 5mm3/L;
i) DBO 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2;
j) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2;
l) turbidez até 100 UNT;
m) cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; e,
n) pH: 6,0 a 9,0.
Clorofila a 60 μg/L
Densidade de cianobactérias 100.000 cel/mL ou 10 mm3/L
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/L
4 I - materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
II - odor e aspecto: não objetáveis;
III - óleos e graxas: toleram-se iridescências;
IV - substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento de canais
de navegação: virtualmente ausentes;
V - fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L de
C6H5OH;

Modelagem de Qualidade da Água


14
Classe Parâmetros
VI - OD, superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e,
VII - pH: 6,0 a 9,0.

3 MODELAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS


A modelação é, nas palavras de Picasso, um pouco de arte, nunca é completamente real, mas contém
muito da verdade (Gang Ji, 2008). As principais razões para o emprego da modelação matemática são
(1) o melhor entendimento dos processos físicos, químicos e biológicos envolvidos e (2) o
desenvolvimento de modelos capazes da representação realística dos corpos d’água superficiais de
modo a permitir a gestão e a tomada de decisão na gestão.
A modelação de qualidade da água é ‘time consuming’, complexa e envolvente. Não existe um
consenso entre os profissionais sobre a melhor maneira de se enfocar os diferentes problemas. Muitas
vezes, modelos simples podem dar resultados muito precisos e acurados, enquanto modelos complexos
podem muitas vezes decepcionar.
A modelação da qualidade da água considera basicamente os processos de Advecção (transporte de
massa), Difusão (molecular e turbulenta), Dispersão (turbulenta), Decaimento e Crescimento (cinético)
e ainda as inter-relações entre os constituintes envolvidos. Em face da importância destes processos, os
modelos podem adotar diferentes cortes da realidade, desde uma simplificação pontual até a
representação completa do efeito tridimensional variado no tempo.

Modelo Zero-dimensional: as condições hidrodinâmicas e de Q(t), Ce(t)


mistura são homogêneas a ponto de ser possível a representação dos
fenômenos de forma pontual. Geralmente aplicável aos Laos e
V(t)
reservatórios de pequena dimensão.

V0
Unidimensional: preservam uma dimensão
preferencial, relacionada a geometria do corpo
hídrico ou ao sentido preferencial do fluxo,
como nos casos dos rios e estuários de
pequena largura.

Bidimensional: indicam a preponderância de


duas dimensões principais, que podem estar
contidas no plano horizontal ou vertical. É usualmente aplicado ao caso dos lagos e reservatórios com
pequena profundidade e estuários de grande largura.

Tridimensional: em águas profundas, onde existe a


segmentação de camadas em função da diferença de
densidade, provocada pela difusividade e
transmissividade térmica, os modelos 3D são os mais
indicados para considerar tanto os efeitos na vertical
como as interações na superfície livre, devido ao vento
e radiação solar.

Guia de Estudo
15
4 UM MODELO CONCEITUAL
Imagine o lançamento de um constituinte qualquer num curso d’água retilíneo e em movimento
permanente uniforme, a montante de uma captação de água. Este problema é representa a primeira
aplicação prática das ferramentas desenvolvidas pela modelação matemática de qualidade da água. Os
passos para sua solução são:

1) Estabelecimento das metas (estudar a concentração do constituinte ao longo do trecho de rio)


2) Obtenção de informações de campo (geometria contornos, seção transversal, vazão, nível
d’água, velocidade, rugosidade das margens)
3) Concentrações pré-existentes deste e outros cosntituintes
4) Variação de temperatura
5) Estabelecimento de um modelo de análise
6) Discretização espacial e temporal
7) Calibração do modelo
8) Simulação de horizontes e alternativas
9) Interpretação dos resultados

Para o estabelecimento do modelo de análise, pode-se considerar os processos intervenientes e que


afetam o problema. Quanto maior complexidade dos processos, mais sofisticado deve ser o
equacionamento. Apenas para exemplo, serão considerados processos independentes e que o rio pode
ser bem representado através de um modelo unidimensional, isto é, composto por pontos alinhados
sobre um eixo disposto na direção do escoamento.

Figura 2: Problema típico para emprego de modelação matemática de qualidade da água

Diluição inicial: considera como hipótese o lançamento e a perfeita homogeneização do constituinte na


corrente líquida, sendo uma prática admissível e usual na falta de outras informações.
Qa – Vazão natural afluente no rio
Ca – concentração pré-existente do constituinte
Qe – Vazão de lançamento do constituinte
Ce – concentração de lançamento do constituinte

Modelagem de Qualidade da Água


16

QaCa  QeCe
C1 
Qa  Qe

Transporte de Massa: compreende o carreamento do constituinte com o fluxo de massa, também


denominado transporte advectivo.

A  x  C  (U1 A1C1  U 2 A2C2 )t

C C
 U
t x

Dispersão: compreende o transporte difusivo, função da agitação molecular e da turbulência do


escoamento, função de um fator de dispersão E. Conceitualmente este valor é função da turbulência e da
viscosidade da água.
E ( A1C1  A2 C2 )
A  x  C  t
x
C C  C
E 1 2 2
t x

Decaimento: o decaimento pode ser representado genericamente por uma função exponencial, indicada
a seguir, onde C0 é a concentração para t=t0 e k um coeficiente de decaimento ou reatividade, cuja
dimensão é t-1.

C  C0e  K t

C
 kC0e  K t
t

C
 kCi
t

Sedimentação: considera a deposição por ação gravitacional das partículas do soluto, com velocidade de
sedimentação v (m/s), ao longo de uma coluna d’água com profundade y (m) sobre a área de fundo,
dada por
C v
A  x  C  v  C  x  p  t  C
Combinação dos efeitos t y
Admitindo-se que os processos são independentes e lineares
pode-se escrever a equação que permite calcular a concentração
Ct+1, isto é, o valor da concentração na seção i no instante
futuro, a partir dos valores de Ci, Ci+1 e Ci-1 no instante t.
Guia de Estudo
17
Ci Ci Ci  Ci 1 v
 U E 2
 kCi  C
t x x y
 C  Ci 1 C  2Ci  Ci 1 v (Ci  Ci 1 ) 
Cit 1  Cit  t  U i  E i 1 2
 kCi  
 x x y 2 
A expressão acima pode ser utilizada para montagem de um
algoritmo em planilha eletrônica de forma a automatizar o
cálculo da seqüência temporal das concentrações ao longo do
trecho simulado. A figura ao lado apresenta os dados utilizados
no exemplo cujos resultados podem ser observados nos gráficos
a seguir, para diferentes instantes de tempo.

Figura 3: Perfil longitudinal de concentrações ao longo do trecho de 15 km de rio, nos instantes (a) 100s, 3.600s, 7.200s e
36.000s após o início

5 REFERÊNCIAS
Piveli, R. P. et all. Qualidade das Águas e Poluição: aspectos físico-químicos. ABES, 2006.
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd.,1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. - Surface Water Quality Modeling. ,Waveland Press, 2008.
Martins, J.R.S, - Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fraguso Jr., C.R. - Modelagem Ecológica em Ambientes Aquáticos. Oficina de Textos, 2009.
Modelagem de Qualidade da Água
18
Gang-Ji, Zhen. – Hydrodynamics and Water Quality. Modeling rivers, lakes and estuaries. Wiley &
Sons, 2008

Guia de Estudo
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CAPÍTULO 2: EQUAÇÕES BÁSICAS
Este capítulo trata das equações básicas do movimento fluido e de substâncias a partir
das equações gerais de Navier-Stokes, Equação de advecção-dispersão e método
numérico de diferenças finitas.

1 INTRODUÇÃO
Os modelos de qualidade das águas se propõe a simular as variações de concentração de poluentes a
medida que os mesmos se movimento no ambiente. Alguns poluentes são suficientemente inertes para
que suas concentrações possam ser consideradas invariáveis a não ser como função do fenômeno físico
de transporte por advecção e dispersão. Estes são denominados constituintes conservativos e
freqüentemente são úteis como traçadores empregados para calibração e validação de modelos de
simulação de qualidade. O mecanismo básico que envolve o processo de advecção e dispersão será
discutido neste capítulo.
Somando-se aos processos de transporte de massa, para a maioria dos poluentes existem processos
físicos, químicos e biológicos que provocam alterações nas concentrações. Como mostra a Figura 4, o
processo de transporte de poluentes é resultado de interações entre o transporte de massa e processos
cinéticos. Os principais fatores determinantes são o tipo do poluente, a natureza do ambiente e o método
de descarga. Um poluente lançado no ambiente divide-se em séries de subsistemas, nos quais sua
concentração pode crescer ou decrescer devido a uma grande variedade de mecanismos. Aparentemente
não se pode considerar a hidrosfera como uma camada isolante nos estudos do transporte dos poluentes.
Sistemas terrestres, especialmente o solo podem ter também um papel significante, em função de
processos como a lixiviação.

ATMOSFERA
Processos incluem
oxidação fotoquímica e
dispersão

BIOSFERA ÁGUAS SUPERFICIAIS SEDIMENTOS


crescimento, dominio, sedimentação, resuspenção,
morte dcaimento, advecção, decaimento anaeróbio,
volatilização lixiviação

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
adsorção e advecção

Figura 4: Inter-relação entre os elementos do meio ambiente e o curso dos poluentes

Nos itens seguintes serão descritas formas de representação dos processos hidráulicos, físicos, químicos
e biológicos que determinam a concentração dos poluentes.

2 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
Existem dois mecanismos básicos responsáveis pelo transporte de soluções dissolvidas e suspensas nos
corpos d´água naturais:

Advecção: refere-se ao transporte de massa devido ao movimento da água que contem o soluto.

Guia de Estudo
20
Difusão: é o transporte não advectivo, devido a migração do soluto em resposta a um gradiente de
concentração. Pode ocorrer no nível molecular, devido ao movimento browniano, resultando em
movimentos aleatórios das moléculas do soluto ou numa escala macroscópica devido aos vórtices
turbulentos e a velocidade de atrito.. Estes mecanismos podem ser tratados de forma separada.
O mecanismo de transporte advectivo é usualmente representado pela equação da advecção-difusão, que
pode ser derivada a partir das equações fundamentais do escoamento fluido.
A análise do movimento dos fluidos de forma genérica pode ser realizada a partir das equações básicas
da mecânica, as conhecidas leis de Newton e as duas primeiras leis da termodinâmica. A essência destas
leis pode ser resumida nos seguintes postulados:

a) um corpo considera seu estado de repouso ou movimento retilíneo uniforme enquanto não é
submetido a uma ação externa.
b) O esforço instantâneo aplicado a um corpo é proporcional ao produto de sua massa instantânea
pela sua aceleração instantânea
c) Ação e reação são esforços de mesmo module e direção, com sentidos opostos
d) Num sistema isolado, o trabalho realizado para a passagem de um estado A para outro estrado B
é totalmente determinado pela diferença entre as energias nestes estados terminais A e B
e) Existe uma tendência de parte da natureza se apresentar em estado de desordem progressiva.

Através das equações fundamentais da física procura-se estabelecer as relações entre as variáveis
hidráulicas (profundidade, velocidade, pressão, massa específica e etc) de modo a expressar em termos
de leis de conservação as funções de massa e do momento aplicáveis aos escoamentos genéricos.

2.1 Conservação da massa

O princípio da conservação da massa num


escoamento pode ser estudado considerando o
volume de controle genérico através do qual o fluido
se movimenta. Este movimento é referenciado a um
sistema tri-ortogonal (i,j,k) sendo suas grandezas
definidas segundo as coordenadas (x,y,z). Esta
definição corresponde ao conhecido tratamento
Euleriano.

Considerando o elemento indicado na figura, o fluxo


Figura 5: Elemento infinitesimal de fluido euleriano líquido que passa pela superfície do elemento na
direção x é:
 (u )  ( u )
  u  dy  dz   u  dy  dz  dx  dy  dz   dx  dy  dz
 x  x
Eq. 2-1
sendo u a componente na direção x do vetor velocidade tridimensional:
   
V  ui  vj  wk
Eq. 2-2
Considerando todas as direções, a variação de massa no intervalo de tempo dt dentro do volume de
controle pode ser expressa por

Guia de Estudo
21
    u v w 
  dx  dy  dz dt   (  dx  dy  dz   dx  dy  dz   dx  dy  dz ) dt
 t   x y z 
Eq. 2-3
A Eq. 2-3 acima é freqüentemente chama de termo local, que descreve as variações que poderiam
ocorrer independentemente do movimento da partícula fluida. Na equação abaixo, escreve-se a taxa de
variação que pode ocorrer para uma partícula em repouso num determinado ponto:
 u v w
   
t x y z
Eq. 2-4
ou em termos vetoriais
 
div ( V )  0
t
Eq. 2-5
Na verdade, considerando o fluido genérico, isto, é no qual a massa específica também pode variar nas
três dimensões, pode-se desdobrar a expressão da Eq. 2-5 em:
  u v w    
        u v w
t  x y z  y y z
Eq. 2-6
Os termos do tipo u( / x)  v( / y)  w( / z) são denominados convectivos e descrevem a taxa de
variação devido ao movimento da partícula num campo de velocidades. A combinação dos termos
( / t )  u( / x)  v( / y)  w( / z) e então denominada derivada substancial ou derivada total e
representa a taxa total de variação de alguma propriedade do fluido em função da movimentação de
uma partícula com velocidades vetorial V. A derivada total pode ser expressa então por:
D    
 u v  w
Dt t y y z
Eq. 2-7
Como exemplo, James (1993), considera um avião voando na direção leste (x crescente) a uma altitude
constante. No trajeto do vôo a temperatura está aumentando à razão de 1 ºC por dia. Para cada 1000 km
de viagem a temperatura aumenta 2 ºC. Assim, o efeito sentido por um corpo estacionado num ponto
qualquer será de 1 ºC/dia. A taxa de variação total da temperatura para o avião será:
D T  2
 u  1 u
Dt t y 1000
Eq. 2-8
onde T é a temperatura média diária. Se o avião viaja a 200 km/h então a taxa de variação total da
temperatura a que o avião estará sujeito será de
D 2
 1  200  24   10,6º C / dia
Dt 1000
Eq. 2-9
Desta forma, a variação total da massa dentro do volume de controle pode ser expressa, a partir da
combinação da Eq. 2-6 com a Eq. 2-7:
D  u v w 
       0
Dt  x y z 
Eq. 2-10
Modelagem de Qualidade da Água
22
A Eq. 2-10 é conhecida como ‘Equação da Continuidade’ ou ‘Equação da Conservação da Massa’, que
pode ser ainda simplificada se considerarmos fluidos incompressíveis, nos quais D / Dt  0 , isto é, a
densidade do fluido permanece constante com o tempo, o que pode ser verdade para rios e estuários,
porém nem sempre se aplica a lagos e reservatórios com estratificação, devido à variação nas
concentrações de sais ou sólidos em suspensão.
2.2 Conservação da Quantidade de Movimento
A conservação da quantidade de movimento deriva-se da Lei de Newton. Considerando-se a resultante
das forças externas sobre o elemento infinitesimal indicado na Figura 5:

 V
Fe    dV 
t
Eq. 2-11

A aceleração sobre o elemento, representa pelo termo V / t é dada pelo desdobramento em três
dimensões:
    
dV V V V V
 u v w
dt t x y z
Eq. 2-12
Os matemáticos utilizam para simplificar a notação o símbolo nabla que representa:
     
 i  j k
x y z
Eq. 2-13
Desta forma a aceleração total do elemento pode ser escrita pelo produto escalar entre o operador nabla
aplicado em V e V:
 
dV V  
  ( V )  V
dt t
Eq. 2-14
e a resultante das forças externas (Fe) sobre o elemento fica:

  V  
Fe    dV    ( V )  V 
 t 
Eq. 2-15
As forças externas ( Eq. 2-16) atuando no elemento podem ser decompostas em quatro parcelas, a
gravidade, atuando na vertical, a componente rotacional, que depende da rotação da terra, a componente
de pressão, que atua nas faces do elemento e a componente de cisalhamento, que representará o atrito
nas 6 faces do elemento.

Forças Peso : atua apenas na direção vertical


 
 Fg  g    dV  k
Eq. 2-16
Força Rotacional : depende da aceleração de Coriolis ( ) , que mantém a rotação da Terra, e fica:
  
 FR      dV  (vi  uj ) Eq. 2-17
Forças de Pressão:
  p   p    p 
 Fp   dx  dy  dz i   dx  dy  dz  j   dx  dy  dz k
 x   y   z 

Guia de Estudo
23
Eq. 2-18
Forças de Cisalhamento: as forças de cisalhamento são originadas
por tensões de cisalhamento provenientes do atrito com o fundo e
com a superfície (vento e etc). Desta forma definem-se inicialmente
as tensões nas faces do elemento da forma:

  
 x   xy j   xz k
        
x  ( x )dx   xy  ( xy )dx  j   xz  ( xz )dx k
x  x   x 
  
 y   yx i   yz k
        
y  ( y )dy   yx  ( yx )dy i   yz  ( yz )dy k Figura 6: Tensões de Cisalhamento nas faces
y  y   y 
  
 z   zxi   yz k
        
z  ( z )dz   zx  ( zx )dz i   zy  ( zy )dz  j
z  z   z 

Compondo-se o esforço resultante através da multiplicação pela área obtém-se a equação:


             
 FC   ( yx )  ( zx ) i   ( xy )  ( zy )  j   ( xz )  ( yz ) k  dx  dy  dz
 y z   x z   x y  
Eq. 2-19
Compondo-se as equações anteriores (Eq. 2-15 a Eq. 2-19) e dividindo-se pela massa específica  e
pelo volume dV  dx  dy  dz , obtém-se a equação da quantidade de movimento:
    
Fe  Fg  Fp  FR  FC


1  1   V  
 gz  p  FR  FC    ( V )  V 
 dV  t 
Eq. 2-20

2.3 Escoamento bidimensional


O escoamento em duas dimensões é uma simplificação do caso genérico tridimensional e tem larga
aplicação a rios, estuários e lagos com pequena profundidade. Para tratamento do escoamento
bidimensional considera-se que a aceleração vertical das partículas no escoamento é pequena e
desprezivel em relação da gravidade. O esquema da Figura 6considera um elemento bidimensional com
altura h e velocidades u e v com pequena variação ao longo da vertical de modo que:
1 1
h h

h 0 h 0
U u  dz V v  dz

A Eq. 2-9, considerando-se o fluido incompressível (   cte ) permite escrever:

Modelagem de Qualidade da Água


24

Figura 7: Esquema do elemento bidimensional

    Uh Vh 
  dx  dy  h dt   (  dx  dy   dx  dy) dt
 t   x y 
de onde se obtém a equação da continuidade para o escoamento em duas dimensões.
h U V
h h 0
t x x
Eq. 2-21
Para a equação da quantidade de movimento tem-se:

 
dV V   U  V   U U    V V  
  (  V )  V  i j  U V  i  U V
y 
j
dt t t t  x y   x
Eq. 2-22
As forças intervenientes no elemento bidimensional são:

Peso: atua apenas na direção vertical, portanto é automaticamente excluída


Rotacional: desprezível a não ser quando atua em grandes dimensões
Pressão: adota-se uma distribuição hidrostática no elemento de forma que a pressão nas laterais resulta
em p  p0  gh
1  h 1 p0    h 1 p0  
 p   g    
x  x   y  y 
i g j
 
Eq. 2-23

Cisalhamento: são consideradas na face de contato com a face superior e inferior de forma a permitir
representar os atritos com o fundo do leito e o efeito de vento sobre a superfície. Admite-se que o valor
de tensão é uniforme no plano de atuação, sendo positivo quando tem o mesmo sentido que a
velocidade e negativo quando sentidos opostos:


1 
dV
FC  
1
h
 
 
( 0 x   0 y )i  ( wx   wy ) j

Eq. 2-24

Guia de Estudo
25
Os valores de  0 e  w são respectivamente as tensões de cisalhamento devido ao atrito no fundo e ao
atrito com o vento, e podem ser estimados a partir dos coeficientes tradicionais empregados no
escoamento hidráulico:
VV
 0  g e  w  arCarW 2
C2
Eq. 2-25
onde V é a velocidade do escoamento e W a velocidade do vento. O Coeficiente C pode ser calculado
pela expressão de Chezy e Car é um coeficiente típico de arrastamento pelo ar.

Compondo-se a equação da quantidade de movimento resulta:


1
U U U h U (U 2  V 2 ) 2  wx
U V g  g  0
t x y x C 2h h

1
V V V h V (U 2  V 2 ) 2  wy
U V g  g  0
t x y x C 2h h
Eq. 2-26

2.4 Escoamento Unidimensional

Para o escoamento unidimensional, considera-se um elemento de largura unitária (dy=1) e altura finita
h, como ilustra aFigura 7 fica:
 h   Uh 
  dx dt   (  dx dt
 t   x 
h U
h 0
t x
Eq. 2-27

Da equação Eq. 2-26 resulta:

U U h UU
U  g  g 2  0
t x x C h

A generalização para um rio de seção natural pode ser


feita integrando-se ao longo da largura B, como mostra
a Figura 8.

Figura 8: Elemento unidimensional B B


A   h  dB Q   uhdB
0 0

Eq. 2-28

Modelagem de Qualidade da Água


26

Figura 9: Seção de um rio natural


A equação da continuidade resultará em:
A Q
 0
t x
Eq. 2-29
Na quantidade de movimento, de forma semelhante:
Q   Q 2  h QQ
     gA  g 2 0
t x  A  x C Ah
Eq. 2-30
As equações 2.22 e 2.30 são tradicionalmente conhecidas como ‘Equações de Saint-Venant’.

3 ADVECÇÃO, DIFUSÃO E DISPERSÃO


3.1 Difusão Molecular e a Lei de Fick
A primeira lei de Fick estabelece que a taxa de transporte de massa ou fluxo por uma superfície unitária
de um líquido, em função da difusão molecular, é proporcional ao gradiente de concentração c do
material no líquido.
c
N   Dm
x
Eq. 3-1
onde Dm é o coeficiente de difusão molecular ou constante de proporcionalidade. Dm è proporcional à
temperatura absoluta e inversamente proporcional ao peso molecular. O sinal negativo indica que a
massa escoa das áreas de maior concentração para de menor concentração devido ao provesso difusivo.

Para a segunda lei de Fick, emprega-se o mesmo conceito definido no elemento de volume infinitesimal
apresentado na Figura 8, considerando que o mecanismo de transporte é puramente difusivo:

Figura 10: Elemento infinitesimal para consideração da concentração


c  c  c  c
  ( Dm )  ( Dm )  ( Dm )
t x x y y z z
Eq. 3-2

Guia de Estudo
27
Admitindo-se que o coeficiente de difusão molecular é constante em todas as coordenadas, pode
escrever a taxa de variação da concentração com o tempo de uma substancia sujeita somente ao
processo de difusão molecular, como função de uma constante de proporcionalidade Dm:
c    2c  2c  2c 
  Dm  2  2  2 
t x  x y z 
Eq. 3-3
A dispersão de constituintes sujeitos a
processos de advecção de larga escala e
turbulência pode ser feita matematicamente
com base na equação da continuidade,
conforme mostra a Eq. 2-4:
c cu cv cw
    Figura 11:Fluxo de massa de um constituinte de concentração
t x y z C
Os valores de concentração me velocidade,
embora na teoria instantâneos, são na prática medidos em pequenos intervalos de tempo. Assim, a
componente da velocidade u pode ser expressa como um valor médio u acrescido de uma flutuação u 
(Figura 10) e assim também as demais componentes:
u  u  u
v  v  v
w  w  w
c  c  c
Eq. 3-4
Substituindo-se estas velocidades instantâneas na Eq. 3-3 resultará

Figura 12: Velocidade média e instantânea


(c  c) (c  c)(u  u) (c  c)(v  v) (c  c)(w  w)
   0
t x y z
Eq. 3-5
Os termos podem ser expandidos, desprezando-se os produtos entre os valores de flutuação e os médios,
como Cu . Desta forma resulta:

c c u c v c w cu cv cw


      0
t x y z x y z
Aplicando-se a regra da cadeia, dá-se mais um passo da forma:
c c c c  u v w  Cu C v Cw
u v w  c        0
t x y y  x y z  x y z
Eq. 3-6
Modelagem de Qualidade da Água
28
Para um fluido incompressível, a Eq. 2-10 diz que:
D  u v w 
       0
Dt  x y z 
e assim a Eq. 3-6 se simplifica para:
C C C C Cu Cv Cw
u v w    0
t x y y x y z
Eq. 3-7
Os produtos cruzados Cu representam a convecção líquida devido ‘as flutuações turbulentas e por
analogia com a Lei de Fick de difusão moelcular, podem ser representadas por um equivalente
coeficiente de difusividade, no qual o fluxo de massa é proporcional ao gradiente médio da
concentração, sendo Dx, Dy e Dz os coeficientes de difusão turbulenta. Reescrevendo a Eq. 3-7, tem-se:
c c c
cu   Dx cv   Dy cw   Dz
x y z

c c c c  c  c  c
 u  v  w  ( Dx )  ( Dy )  ( Dz )  0
t x y y x x y y z z
Eq. 3-8
Os valores de Dx, Dy e Dz não são os mesmos em todas as direções, mas costuma-se por simplificação,
adotar um valor fixo Dm para representar uma difusão homogênea. A Eq. 3-8 é a equação
tridimensional de advecção-difusão, que não tem solução analítica. Os valores para Dm são obtidos a
partir medições de campo com traçadores, para estimativa do valor a ser utilizado nos cálculos. A Eq.
3-8 pode ser reduzida a uma dimensão tomando-se valores médios para todos os parâmetros ao longo da
seção de um rio ou estuário, considerando a concentração apenas como função de x e t. Assim:
c 1
A
0 U   u dA
y A0

c 1
A
0 C   c dA
z A0
vw0

C C 1  C
U  (E )0
t x A x x
Eq. 3-9
2
O coeficiente E é denominado coeficiente de dispersão longitudinal e tem a dimensão L /T.

3.2 Transferência de Massa


Se as concentrações são diferentes em duas partes de um sistema, este sistema tenderá a ajustar-se a
uma condição de equilíbrio. A velocidade na qual este ajuste se dá é proporcional à magnitude da
diferença de concentrações, que é denominada ‘forçante’ ou ‘diferença potencial’ e à área da interface
entre as duas partes do sistema entre as quais ocorre a transferência.O fluido ou sólido através do qual o
constituinte se movimente oferece resistência a exte equilíbrio na forma:
(área)(forçante)
fluxo 
resistência

Guia de Estudo
29
A resistência é usualmente descrita em termos de coeficiente de transporte de massa. Um coeficiente
global é um parâmetro integrado que incorpora os efeitos de turbulência, tipo de constituinte e é
tipicamente uma função da temperatura.
Um reservatório contém um constituinte a uma concentração uniforme Cw. O constituinte pode mover-
se através da superfície do reservatório, entre a água e a atmosfera, que tem concentração Ca. A área da
superfície é A, o volume V e ao relação entre o volume e a área é d  V / A sendo d denominado
profundidade média. O balanço de massa então fica:
VdC
 kA(Cw  Ca )
dt
Eq. 3-10
ou então
dC C
 k
dt d
Eq. 3-11
cuja solução analítica é
t
k
C  C0e d

Eq. 3-12
A direção do movimento é determinada pelo sinal da quantidade (Cw-Ca). Por exemplo, se um
constituinte sintético foi lançado no reservatório então Cw > Ca e o transporte de massa ocorrerá entre a
água e o ar. Se o constituinte for oxigênio e a o reservatório não está saturado, a transferência de massa,
freqüentemente chamada de reaeração, ocorrerá do ar par a água. A Eq. 3-13 é usualmente utilizada
como um modelo de reaeração. O coeficiente kL pode ser reescrito na forma de um coeficiente
volumétrico de reaeração ka  k L A / V , com unidade [T-1].
Vdc
 k L A(cs  c)
dt
Eq. 3-13
dc
 ka (cs  c)
dt
Eq. 3-14
Outra forma comum de se expressar a concentração de oxigênio na água é através do déficit de O2, na
forma D  (cs  c) . Como dD  dcs  dc
dD dc
 ka D  s
dt dt
Eq. 3-15
Se for admitido que os fatores que afetam a concentração de saturação cs (temperatura, salinidade e
pressão) são constantes, então dcs/dt = 0 e:
dD
 ka D
dt
Eq. 3-16

4 SOLUÇÕES NUMÉRICAS
Muitas das equações diferenciais descritas para avaliação do movimento dos fluidos e da dispersão de
poluentes, como as equações 2.22, 2.30 e 3.9 não podem ser resolvidas analiticamente em função da
complexidade e não linearidade de seus termos, além de possuírem coeficientes variáveis, condições de
Modelagem de Qualidade da Água
30
contorno complexas e outros fatores. A solução das equações de fluxo, assim como da adveção-
dispersão, é freqüentemente alcançada com o emprego do método numéricos, que aproximam os
termos destas equações em elementos passíveis de serem calculados.
O método mais empregado nas aplicações ligadas ao fluxo de água é o das diferenças finitas, até mesmo
quando a solução analítica é possível. O método de diferenças finitas consiste em aproximar as
diferenciais infinitesimais das equações por diferenças mensuráveis, admitindo que as mesmas possam
operar em variáveis discretas e em pequenos intervalos de tempo. Apesar de ser uma aproximação, não
significa que os resultados serão grosseiros ou pouco acurados. Mesmo as soluções analíticas podem
apresentar erros, em função dos dados de entrada e, em ambos os casos, a precisão da solução será
sempre função da qualidade dos dados de entrada empregados.

4.1 Solução das Equações de Saint Venant


As equações 2.22 e 2.30, para solução do escoamento não permanente em superfície livre, podem ser
calculadas através de diferentes métodos numéricos, propostos por diferentes autores, e tem conseguido
sucesso na representação dos escoamentos em rios e canais. Os métodos de maior aplicação são os
denominados ‘Esquema de Preissman’ e Esquema McCormack’, sendo o primeiro um esquema
implícito no tempo e o segundo um esquema explícito.
Para desenvolvimento de aplicações ligada a dispersão de poluentes, o esquema McCormack é
particularmente adequado, pois se aplica a praticamente qualquer caso prático e é facilmente
programável para uso em aplicativos de planilha eletrônica.
As equações básicas do escoamento unidimensional nos canais expressam a conservação da massa e da
quantidade de movimento, em termos da vazão em escoamento num trecho discreto e da cota do nível
dágua. As perdas de energia por atrito são representadas pelo gradiente energético do trecho, segundo a
expressão de Chézy.
Q A
 q Eq. 4-1
x t
Q   Q 2  h
    gA  gAS f  qv cos  Eq. 4-2
t x  A  x
onde :
A área da seção transversal do escoamento
Q vazão em escoamento na seção
h cota do nível dágua'
y profundidade'
 coeficiente de quantidade de movimento
g aceleração da gravidade
v velocidade do escoamento contribuinte
q vazão linear de contribuição lateral no trecho de canal representado.
 ângulo de entrada da contrbuição
Sf declividade da linha de energia
O termo C pode ser estimado através da expressão de Manning ou ainda através de Darcy-Weissbach:

1 16
C Rh Eq. 4-3
n

Guia de Estudo
31
1
 
2
8g
C   
 Eq. 4-4
  2 log 12Rh 
K

onde:
n coeficiente de rugosidade de Manning
Rh raio hidráulico

As figuras a seguir esquematizam os principais termos envolvidos nas expressões.

Figura 13: Seção transversal Típica

Figura 14: Definição dos elementos de cálculo


As equações anteriores podem ser rearranjadas tomando a forma:
1 Q y qe L h
  
B x t B B t
Eq. 4-5

Q Q 2    Q  Q  2 h Q 2  A 
    2    gA1  Fr    2    gAS f  qt v cos 
t A  x  A  x  x A  x  hconst
Eq. 4-6
onde
B largura na superfície livre
Fr número de Froude do Escoamento V / g.h
L largura lateral da planície de inundação

Modelagem de Qualidade da Água


32
4.1.1 Discretização Numérica
A discretização numérica do esquema de MacCormack considera um grid espaço-tempo conforme o
indicado na Figura 15, e dois grupos de operadores para representar por diferenças finitas finitas uma
grandeza genérica G, denominados Preditor e Corretor. Espacialmente, o canal é discretizado através
das seções transversais distanciadas de x. O domínio do tempo é dividido em intervalos t.

Figura 15: Discretização numérica do esquema McCormack

 Operador Progressivo – Preditor


G Gi*  Git G Giti  Git _
Git1  Git
 .....  ..... G 
t t x x 2
Eq. 4-7

 Operador Regressivo – Corretor


G Gi**  Gi* G Gi*  Gi*1  Gi*  Gi*1
 .....  .....G 
t t x x 2
Eq. 4-8

10

6
Tempo em Dt

2 t**

1 t*

0 t
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Espaço

Figura 16: Esquema de Diferenças Finitas Mc Cormack

Guia de Estudo
33
A aplicação das Eq. 4-7 às equações básicas Eq. 4-5 e Eq. 4-7 definem o passo de cálculo denominado
preditor, da forma simplificada
 _

t   Qit1  Qit 
*
yi  yi  _
t
 qs    
   i1  x
_
 Bi 1  Li   

 
Eq. 4-9

 _2 _ 
 Q   t   it  
Q  Q t  Qit  _  _ _
 y t  y t    
Qi*  Qit  t  i_1  i1   2  i1 _i1  i1   g Ai1 1   i1 Fri 1 2  i1 i  g Ai1 S fi 1 
 Ai1  x  Ai1  x    x  
 
Eq. 4-10
_ _
 qti 1 vi1 cos  i1

Aplicando-se as equações Eq. 4-8, obtém-se o passo Corretor


 
   Qi*  Qi*1  
t
y  y  _ _  q si  
** *
 
  
i i

 Bi  Li    x 

 
Eq. 4-11

 2  _

 Qi  i   i1
 * *
   * *
Qi Qi  Qi1     
2  yi  yi 1 
* * * * 
Qi  Qi  t   
** *
  2  i     g Ai 1   i Fri   g Ai S f1 
 Ai  x  Ai  x     x  
 
Eq. 4-12
 
 qti vi cos  i
Os valores finais das incognitas Q e y são calculados após os passos predictor e corrector da forma:
yit  yi** Qit  Qi**
y t 1  Qt 1 
2 2
Eq. 4-13
Muitos autores indicam que o cálculo dos das variáreis Y e Q podem ser corrigidos através da
introdução de uma viscosidade artificial, para amortecimento das oscilações numéricas de altas ordens
derivadas do método de discretização. Esta correção é dada por:

y  2 yi  yi 1  i 1 k
t
max  i 1 ,  i  
Git 1  Git 1   i  12 Git11 
 i  i 1 2
x
yi 1  2 yi  yi 1
t Eq. 4-16
Eq. 4-15  i 1 k max  i ,  i 1 
2
x O coeficiente de
Eq. 4-14 amortecimento k,
segundo
Chaudhry et alli.(1991) deve ser adotado em cada caso sempre o menor possível, mas suficiente para
amortecimento das oscilações de alta freqüência características. Sendo um método explicito, a
estabilidade numérica é garantida ao ser obedecida as condições de Courant-Friedrichs-Lewys,
conforme indicado pela relação abaixo:
Modelagem de Qualidade da Água
34

C n  v  gh   xt  1
Eq. 4-17

4.1.2 Características Geométricas das Seções dos Canais


As características geométricas das seções dos canais naturais são estimadas através da sub-divisão da
área em lamelas verticais. O cômputo dos parâmetros fica assim definido:
n 1
a) Área Molhada  A   Ai
1
n 1
b) Perímetro Molhado  p   pi
1
n 1
c) Largura Superficial  B   Bi
1
3
 Ai Rh 3 
2 2

d) Raio Hidráulico  Rh   i 
 A 
 

 A C 
n 1 2
i i Rhi S f
c) Coeficiente     1


A C Rh S f 
4.1.3 Condições Iniciais e de Contorno
As condições iniciais indicam o estado de partida da simulação e representam a situação de Q(0) e h(0),
muitas vezes condicionando a solução final do problema. Geralmente a condição inicial representa uma
situação observada em campo ou, na falta desta a condição do regime permanente uniforme compatível
com o problema em estudo.
Para a obteção do regime permanente uniforma deve-se considerar a simulação de um intervalo de
tempo em regime permanente gradualmente variado de forma a garantir a condição inicial correta

As condiões de contorno representam as hipóteses a serem analisadas com o modelo de regime variado.
Em geral empregam-se condições do tipo:
 a montante: hidrograma afluente ou condição de nível d´água conhecida a partir da operação de
uma estrutura hidráulica
 jusante: limnigrama ou relação Q x h, que permita representar a condição do nível d´água em
função do tempo, como o comportamento do nível de um reservatório, maré ou estrutura
hidráulica, ou ainda uma curva-chave de um rio.

Guia de Estudo
35
Cota 110

105

100

95

90

85
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000
Progressiva
Q m³/s

Q m³/s
1000 110 1000 110

800 105 800 105

600 100 600 100

400 95 400 95

200 90 200 90

0 t (h) 85 0 t (h) 85
0,00 5,00 10,00 15,00 0,00 5,00 10,00 15,00
-200 80 -200 80

Figura 17: Condições de Contorno a montante e jusante de um canal

4.1.4 Algoritmo de Solução


O algoritmo de solução apresenta 4 etapas para cada passo de tempo:

1. Predictor
a) calculam-se os valores de Q* e y* para os pontos i=1,...n-1, utilizando-se as equações
(7).
b) com as condições de contorno corrigem-se os valores de Q1 ou y1 e Qn ou Yn.
2. Corrector
a) calculam os valores de Q** e y** para os pontos i=2,... n, com as equações (8).
b) com as mesmas condições de contorno corrigem os valores de Q1 ou y1 e Qn ou yn.

3. Cálculo de Y e Q
a) calculam-se os valores de Qt+1 e yt+1 a partir de (9).
b) com Qt+1 e yt+1 estima-se o novo t para calculo do passo seguinte
4. Correção dos valores de Qt+1 e yt+1 através das equações (10).

4.2 Equação da Dispersão


Para ilustração do método será empregada a Eq. 3-9 combinada com um termo de decaimento como o
da Eq. 3-16 e uma fonte constante de lançamento de constituinte La.
C C  C
U  E ( )  kC  La
t x x x
Eq. 4-18
A equação Eq. 4-18 é utilizada para descrever um rio com escoamento unidimensional, coeficiente de
dispersão E constante, seção transversal constante e velocidade constante. A concentração do poluente
era variar ao longo do tempo e da distancia x. No conceito de diferença finita, a área de integração será
Modelagem de Qualidade da Água
36
ajustada a uma malha retangular e a solução aproximada da equação diferencial é encontrada nos pontos
de intersecção da malha, partindo-se de valores conhecidos para cálculo dos valores desejados (presente
-> futuro).

Figura 18: Malha de discretização de diferenças finitas

4.2.1 Esquema Direto


No método explicito, o processo é similar ao cálculo de equações diferencias ordinárias, nas quais a
solução é obtida passo a passo através do tempo, partindo-se de uma concentração conhecida. No
método explicito, o valor desconhecido Ci,n+1 é calculado a partir de três valores conhecidos Ci-2,n, Ci,n e
Ci,n+1, para aproximação das diferenciais, como m ostra a Figura 18.
Examinando cada termo da Eq. 4-18 separadamente:

a) o termo de ordem zero kC pode ser representado por:

kC  k
C i ,n  Ci ,n1 
2
Eq. 4-19

b) O termo La pode ser representado por Li , o incremento de poluente descarregado durante o
intervalo de tempo no ponto i.
c) O termo de primeira ordem c / t deve ser representado por uma diferença progressiva, de
forma a permitir o avanço do tempo de cálculo:
c Ci ,n1  Ci ,n

t t
Eq. 4-20
d) o termo Uc / t deve ser aproximado por uma diferença regressiva, de forma a permitir
representar a advecção pura, isto é, uma partícula no ponto i-1 deve se mover para um ponto
distante x num intervalo t de tal forma que x / t  U :
C C  Ci1,n
U  U i ,n
x x
Eq. 4-21
e) o termo de dispersão deve ser representado por uma diferença central, que é derivada a partir da
expansão em série de Taylor.

Guia de Estudo
37
 C C  2Ci , n  Ci 1, n
E ( )  E i 1, n
x x x 2
Eq. 4-22
Para que esta solução seja estável é necessário que
tE 1

x 2
Eq. 4-23
A relação de diferenças finitas resultante fica então:
Ci ,n1  Ci ,n C  Ci1,n
 U i ,n
C  2Ci ,n  Ci1,n
 E i1,n
C  Ci,n1   L
 k i ,n
2
t x x 2
i

Eq. 4-24
A Eq. 4-24 pode ser resolvida explicitamente tomando-se como condição de contorno as concentrações
conhecidas na primeira e na última seção. Para evitar o surgimento de valores negativos nos primeiros
intervalos de tempo sugere-se calcular o primeiro time-step considerando apenas a conveção da carga
Li . A partir do segundo time-step podem ser considerados os demais termos.
4.2.2 Esquema Centrado no espaço
A Eq. 4-18 pode ser escrita de forma mais genérica como:
AC AC  AC
U E ( )S
t x x x
Eq. 4-25
Esta equação representa um esquema unidimensional convectivo-difusivo com seção transversal,
velocidade e coeficiente de dispersão variando ao longo da distancia. Os termos de lançamentos e
decaimento são representados pelo parâmetro S.
Uma melhor aproximação pode ser obtida pelo uso do esquema de diferenças centrado no espaço no
qual os valores são calculados no centro do intervalo entre (i) e (i+1) como mostra a Figura 19:

Figura 19: Esquema de diferenças centrado no espaço

( AC )i ,n1  ( AC )i ,n 1
  U i112,n ( AC )i112,n  U i112,n ( AC 1 ) 
t x  i 1 , n 
2 
1   ( AC )   ( AC )  
  Ei112,n    Ei112,n     Si
x   x i112,n  x i112,n 
 ( AC )  ( AC )i1,n  ( AC )i ,n
  
 x i112,n x

Modelagem de Qualidade da Água


38
 ( AC )  ( AC )i ,n  ( AC )i1,n
  
 x i112,n x
Eq. 4-26

4.2.3 Aplicação Prática


Uma barcaça carregada deixa vazar durante uma hora, 20.000 litros de substância salina em um rio
cujos dados estão indicados abaixo. A concentração do sal é de 300 mg/L e sabe-se que no rio já se
detecta 1 mg/L do mesmo sal proveniente de fontes difusas. Considerando um trecho de 20 km a
jusante do ponto de lançamento, construa um modelo com o auxílio de um esquema numérico de
diferenças finitas para a equação de advecção-difusão. A seguir responda as seguintes questões:
a) Trace o perfil de máximas concentrações ao longo do canal (envoltória)
b) Quanto tempo depois do acidente, a concentração do sal a 20km do ponto de lançamento retorna
a valores inferiores a 1,5 mg/l?
c) Qual o máximo intervalo de tempo de cálculo que pode ser utilizado sem interferir nos
resultados?
Dados Hidráulicos
Vazão Afluente 25m³/s
Base 20.00m
Taludes 1V:_H 2
Declividade 0.00025m/m
Rugosidade 0.025Manning
Produndidade y 1.47m
Área Molhada 33.72m²
Perímetro Molhado 26.57m
Raio Hidráulico 1.27m
Velocidade 0.74m/s
Coeficiente de Dispersão Longitudinal 1.01/s
Comprimento do Trecho 20km

Solução:
a) envoltória de concentrações máximas
5.00

4.00

3.00
C(i,t)

2.00

1.00

0.00
0 5000 10000 15000 20000
Distância (m)

b) Cerca de 9 horas.
c) Cerca de 1000 s

Guia de Estudo
39

5 REFERÊNCIAS
Piveli, R. P. et all. Qualidade das Águas e Poluição: aspectos físico-químicos. ABES, 2006.
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd.,1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. - Surface Water Quality Modeling. ,Waveland Press, 2008.
Martins, J.R.S, - Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fraguso Jr., C.R. - Modelagem Ecológica em Ambientes Aquáticos. Oficina de Textos, 2009.
Gang-Ji, Zhen. – Hydrodynamics and Water Quality. Modeling rivers, lakes and estuaries. Wiley &
Sons, 2008.

CAPÍTULO 3: EQUAÇÃO DA ENERGIA E DISPERSÃO TÉRMICA

Este capítulo trata da equação da energia na forma diferencial e de seu emprego na


modelação da convecção-difusão térmica.

1 INTRODUÇÃO

Em muitas das aplicações usuais da engenharia ambiental necessita-se considerar a variação da


temperatura do ar ou da água durante os fenômenos de transporte e mistura de constituintes. É o caso do
lançamento de efluentes industriais nos quais a temperatura de emissão é superior ou inferior a
temperatura do corpo receptor.

Nas estações de tratamento de esgotos, usinas termoelétricas, industrias metalmecânicas dentre outras,
é comum o lançamento de efluentes em temperatura superior aquela encontrada nos rios, lagos,
estuários e oceanos. A dispersão da chamada pluma térmica se da na forma de condução através do
contato da massa líquida com o solo e ar e da convecção.

O tratamento deste tipo de escoamento e seus efeitos ambientais pode ser feito a partir da equação
diferencial da energia.

2 EQUAÇÕES DA ENERGIA

Para conceituação da equação da energia torna-se necessário o estabelecimento de alguns conceitos


relativos à trabalho e energia. O fluxo de calor através de uma área A é dada pela lei de Fourrier

T
Q  kA
n
Eq. 2-1

Modelagem de Qualidade da Água


40

onde T é a temperatura, A é a área da superfície k a condutividade térmica e n a direção normal à


superfície de área A. O trabalho realizado por uma força é definido como sendo o produto desta força
pela velocidade na direção da força:

  pAV
Eq. 2-2

onde pA é a força de pressão e V a velocidade na direção da força. De acordo com a primeira lei da
termodinâmica, a variação da energia de um corpo ou uma partícula pode ser expressa pelo balanço
entre o fluxo de calor e o trabalho das forças externas sobre o corpo ou partícula. A variação da energia
será expressa na forma da Eq. 2-9 do Capítulo 2:

DE
   Q
Dt
Eq. 2-3

A Eq. 2-4 apresenta os fluxos de calor pelas faces do elemento infinitesimal já utilizado na
apresentação das equações básicas na forma euleriana. Para a partícula que ocupa o elemento pode-se
escrever:

Figura 20: Taxas de Transferência de calor e massa sobre um elemento infinitesimal de fluido (Potter & Wiggert, 2004)

Guia de Estudo
41
D  u 2  v 2  w2 
  dx  dy  dz    gz  uˆ 
Dt  2 
T  T  2T 
 k  dy  dz   k  dy  dz    2 dx 
x  x x 
 pu 
 p  u  dy  dz   p  u  dy  dz  dx  dy  dz 
 x 
T  T  2T 
 k  dx  dz   k  dx  dz    2 dy 
y  y y 
 pv 
 p  v  dx  dz   p  v  dx  dz  dx  dy  dz 
 y 
T  T  2T 
 k  dx  dy   k  dx  dy    2 dz 
z  z z 
 pw 
 p  w  dx  dy   p  w  dx  dy  dx  dy  dz 
 z 
Eq. 2-4
   
onde u, v e w são as componentes do vetor velocidade V  ui  vj  wk e û é a energia interna do
elemento. Sendo a massa da partícula constante, o produto   dx  dy  dz pode ser eliminado dividindo-se
ambos os lados por ele, o que resulta:

  2T  2T  2T   pu pv pw  D  u 2  v 2  w2 


k  2  2  2           gz  uˆ 
 x y z   x y z  Dt  2 
Eq. 2-5

Desdobrando-se as diferenciais tem-se que:

  2T  2T  2T   u v w   p p p 
k  2  2  2   p      u  v  w 
 x y z   x y z   x y z 
Du Dv Dw Dz Duˆ
 u  v  w  g 
Dt Dt Dt Dt Dt
Eq. 2-6

que, eliminando-se os termos nulos resulta em:

Duˆ   2T  2T  2T   u v w 
  k  2  2  2   p   
Dt  x y z   x y z 
Eq. 2-7

Costuma-se utilizar a expressão acima na forma simplificada (Potter & Wiggert, 2004):

Modelagem de Qualidade da Água


42
Duˆ
  k 2T  pV
Dt
Eq. 2-8

2.1 Equação da Convecção-Difusão Térmica

Considerando que a energia interna û pode ser escrita na forma de û=cpT, onde cp é o calor específico
do fluido a volume constante, e que V=0. a Eq. 2-8 pode ser simplificada ainda mais para:

DT k
  2T
Dt C p
Eq. 2-9

k
sendo a relação   denominada de ‘difusividade térmica’.
C p

Se k é uniforme, o que pode ser admitido na maioria dos líquidos, pode-se considerar na forma
bidimensional a equação da energia como sendo:

T T T   2T  2T 
U V    2  2 
t x y  x y 
Eq. 2-10
que é a equação parabólica de convecção-difusão para a temperatura T (Fortuna, 2000). Na forma
unidimensional, aplicável aos rios, tem-se:

U U  2T
U  2
t x x
Eq. 2-11

2.2 Escoamentos com Influência da Temperatura

Para análise dos escoamentos com variação de temperatura, devem ser introduzidas modificações na
componente vertical da Eq. 2-29 do Capítulo 2. Esta equação compreende a velocidade w, na direção z,
que é afetada pela variação da densidade do líquido com a temperatura, introduzindo um empuxo
(positivo ou negativo) sobre a massa de liquido que está abaixo dele.

Para tal, considera-se a aproximação de Boussinesq (Fortuna, 2000) que indica o desenvolvimento do
termo de densidade através das primeiras parcelas da série de Taylor :


 (T )  0  dT
t
Eq. 2-12
Guia de Estudo
43

De forma compacta pode-se escrever:

 1  
 (T )  0 1  dT   0 1  dT 
 0 t 
Eq. 2-13

Onde  é o coeficiente de expansão térmica do líquido.

A força externa atuante na direção z, devido ao empuxo gerado pela diferença de densidade fica:

0
Femp  (1  dT ) g

Eq. 2-14

Compondo-se a equação da quantidade de movimento com o fator de variação da densidade resulta:

u u u u 1 p 
u v  w   g ox  wx  0
t x y z  x 

v v v v 1 p 
u v w   g oy  wy  0
t x y z  y 

w w w w 1 p
u v w   g oz  (1   (T  T0 )  0
t x y z  w
Eq. 2-15

A solução pode então ser feita determinando-se a temperatura T em cada elemento a partir da equação
de convecção-difusão térmica Eq. 2-10.

3 SOLUÇÕES NUMÉRICAS

A solução da Eq. 2-10 pode ser obtida através do esquema de diferenças apresentado no Capítulo 2,
denominado ‘centrado no espaço’, onde os valores são calculados no centro do intervalo entre (i) e (i+1)
como mostra a Figura 21:

T uT vT   2T  2T 
     2  2 
t x y  x y 

Modelagem de Qualidade da Água


44

Figura 21: Esquema de diferenças centrado no espaço

A solução geral fica:


Ti ,nj1  Ti ,nj  t  CONVi ,nj  VISCin, j 
onde i,j representa o ponto da malha e CONV o termo convectivo da equação e VISC o termo viscoso:

uT vT (uT )i 12, j  (uT )i 12, j (uT )i , j  12  (uT )i , j  12
CONVi ,nj    
x y x y
ui 12, jTi 12, j  ui 12, jTi 12, j ui , j  12Ti , j  12  ui , j  12Ti , j  12
CONVi ,nj  
x x

 1  Su   1  Su 
Ti  1 , j   Ti , j   Ti1, j
2  2   2 
 1  Su   1  Su 
Ti  1 , j   Ti , j   Ti1, j
2  2   2 
 1  Sv   1  Sv 
Ti , j  1   Ti , j   Ti , j 1
2  2   2 
 1  Sv   1  Sv 
Ti , j 1 / 2   Ti , j   Ti , j 1
 2   2 

ui , j  ui1, j
u 
i 1 , j
2 2
ui , j  ui1, j
u 
i 1 , j
2 2
vi , j  vi1, j
v 
i 1 , j
2 2

Guia de Estudo
45
vi , j  vi1, j
v 
i 1 , j
2 2

Su  sinal (ui 1 / 2, j )

Sv  sinal (vi , j 1 / 2 )
Eq. 3-1

  2T  2T   Tin1, j  2Ti ,nj  Tin1, j Ti ,nj 1  2Ti ,nj  Ti ,nj 1 


VISCi , j    2  2     2
 2


  x  y    x  y 
Eq. 3-2

4 REFERÊNCIAS

James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.

Modelagem de Qualidade da Água


46
CAPÍTULO 4: PROCESSOS EM RIOS
Este capítulo trata de diversos modelos de análise e modelação de qualidade da água
em rios.

1 INTRODUÇÃO

Os rios têm, desde a pré-história, sido o caminho natural para lançamento e disposição de detritos
domésticos, da agricultura e industriais no meio ambiente. Isto se deu pelo fato de que os cursos d´água,
pelo fato de estarem situados invariavelmente nos pontos mais profundos dos vales, oferecem-se como
um meio fácil de afastar do convívio humano, os rejeitos de forma geral.

James & Elliot (1993) listam algumas das características que transformaram os rios em depósitos
naturais de lixo e outros contaminantes:

- são caminhos naturais das águas servidas para o mar;


- permitem o processo rápido de mistura para diluição e dispersão
- retardam a sedimentação e a re-suspensão, que espalha os sedimentos sobre uma grande área
- apresentam condições de escoamento turbulento, que causa uma rápida re-aeração.

Com o passar do tempo, alterações indesejáveis na flora e na fauna aquáticas e presença de constituintes
nocivos à saúde passaram a comprometer o uso destes recursos, criando a necessidade de análise
acurada e detalhada do comportamento das variáveis de qualidade.

A maioria dos modelos para rios procura simular a relação entre a taxa de DBO, (demanda bioquímica
de oxigênio – resultado da ação microbiológica) e sua influência na concentração de oxigênio
dissolvido. A maioria destes modelos emprega a equação da advecção-difusão, a partir de soluções
teóricas analíticas e soluções numéricas.

No inicio do século 20, a preocupação com a qualidade de água era devido à saúde pública e ao
saneamento, foi nesse sentido que os modelos
começaram a ser desenvolvidos (Pereira, 2004) . Em
1925 foi proposto o primeiro modelo analítico para
relacionar a concentração de oxigênio com o lançamento
dos esgotos domésticos nos corpos hídricos, denominado
Equação de Streeter- Phelps. Em 1967 apenas estes
conceitos foram expandidos para situações mais realistas,
como o escoamento não permanente em rios.

Os modelos de simulação em rios podem ser de diversas


naturezas. É usual, para fins didáticos classificá-los de
Figura 22: Representação espacial dos modelos acordo com a representação espacial da simulação, ou
(Pereira, 2004)
discretização espacial, em modelos Zero-dimensionais,
Unidimensionais, Bidimensionais verticais, bidimensionais horizontais e tridimensionais (Pereira,
2004). Na representação temporal, tem-se os modelos denominados de ‘regime permanente’ ou ‘steady-
state’ e regime não-permanente ou ‘transients’.

Guia de Estudo
47
Quanto aos parâmetros de qualidade, os modelos se diferenciam em função dos constituintes físicos e
químicos que simulam, como temperatura, salinidade, oxigênio, organismos vegetais e patogênicos. Em
geral os modelos de qualidade representam o oxigênio dissolvido simulando os seguintes processos:
degradação ou oxidação da DBO carbonácea, oxidação ou nitrificação da DBO nitrogênica, re-aeração
ou troca de gases com a atmosfera e a respiração de animais ou vegetais. Quanto ao material em
suspensão, são considerados os processos de sedimentação, re-suspensão e floculação.

O modelo básico de transporte para rios é o da equação de advecção-difusão unidimensional, na forma:

C C 1   C 
U   EA   R( x, t )  La
t x A x  x 
Eq. 1-1

Onde U é a velocidade na direção principal do escoamento , C a concentração do constituinte A á área


da seção transversal, E o coeficiente de difusão longitudinal, e La uma função associada ao lançamento
de um constituinte em um ponto e R(x,t) uma função associada à variação de concentração devido a
outros processos como o decaimento, o crescimento vegetal e etc.

Nos capítulos anteriores foram estudados métodos de solução da Eq. 1-1 sendo que agora a atenção
será direcionada para as variáveis a serem consideradas nos termos R e La.

2 MODELAÇÃO DOS PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS


As variáveis de qualidade em sua grande maioria se combinam de forma a formar o denominado
‘ecossistema aquático’, no qual as interrelaçãoes
entre constituintes, flora e fauna são complexas e não
totalmente dominadas. A Figura 23 apresenta um
diagrama relacionando o oxigênio dissolvido com os
demais parâmetros que dependem da oxidação e da
respiração:

Figura 23: Interrelações entre as variáveis de qualidade da


água (Brown & Barnwell, 1987)

Modelagem de Qualidade da Água


48
- Degradação bioquímica da matéria orgânica
- Oxidação da amônia
- Respiração animal
- Respiração vegetal
- Produção de oxigênio vegetal
- Reaeração atmosférica e turbulenta

O diagrama da Figura 24 apresenta as interrelações


dita ecológicas entre as diversas variáveis de
qualidade utilizadas para interpretar o estado de um
corpo hídrico.

Os principais processos a serem analisados são:


- Reaeração superficial
- Fotosíntese
- Demanda carbônica de O2
- Desoxigenação biológica
- Respiração vegetal
- Respiração animal
Figura 24: Diagrama de interrelações entre as variáveis
- Nitrificação de qualidade denominado de Diagrama de relações
ecológicas (Pereira, 2004)

2.1 Reaeração

2.1.1 Reaeração Superficial


E o processo natural de incorporação de ar a partir da superfície livre do copo d´agua. A concentração
de O2 depende basicamente da pressão atmosférica local, da temperatura e da salinidade da água. Para
quantificação deste processo recorre-se ao equacionamento apresentado no Capítulo 2, no qual se
considera um reservatório com água e ar

O O2 pode mover-se através da superfície do reservatório, entre a água e a


atmosfera, que tem concentração Cs denominada Concentração de
Saturação. A área da superfície é A, o volume V e o ar atravessa o líquido
na espessura H, que é a relação entre o volume e a área é H  V / A . O
balanço de massa então fica:

VdC
 k L A(Cs  C )
dt
Eq. 2-1
onde KL é a velocidade de transferência de massa do oxigênio (m/s) e D o
coeficiente de difusão molecular do oxigênio em água (m2/s)
D
KL 
H
Eq. 2-2

Guia de Estudo
49
Dividindo-se ambos os lados da Eq. 2-1 por V e rearranjando:

dC A 1
 k L (Cs  C )  k L (Cs  C )  k2 (Cs  C )
dt V H
Eq. 2-3
-1 -1
Sendo K2 (s ou dia ) denominado coeficiente de re-aeração, também chamado de kar, ka ou kL,a.:
A
K2  KL
V
A solução analítica da Eq. 2-3 é para t=0 e Cs=0 é:

C  C s (1  e  k 2t )
Eq. 2-4
e portanto:

dC
 k2 (Cs  C )
dt
Eq. 2-5

Outra forma comum de se expressar a concentração de oxigênio na água é através do déficit de O2, na
forma D  (Cs  C ) . Como dD  dCs  dC :

dD dCs
 k D 
dt dt
Eq. 2-6

Se for admitido que os fatores que afetam a concentração de saturação cs (temperatura, salinidade e
pressão) são constantes, então dCs/dt = 0 e:

dD
 k2 D
CsmgO/l

16

14
dt
12
Eq. 2-7
10

8
A concentração de Saturação Cs depende das
6 condições locais como altitude, temperatura do ar,
4 temperatura da água e pressão atmosférica. Para
2 temperatura da água de 20ºC, ao nível do mar a
0 concentração de saturação é igual a 9,1 mg/l.
Utiliza-se a relação abaixo para correlação entre
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
T ºC
temperatura e concentração de saturação:
Figura 25:Variação da Concentração de Saturação com a temperatura

Cs  14,652  0,4102T  7,991103 T 2  7,74 105 T 3

Eq. 2-8
A influência da salinidade pode ser estimada a partir da relação
Modelagem de Qualidade da Água
50

1.0754 x 101 2.1407 x 103


ln Cod ,satS  ln Cod ,satT  S(1.7674 x 10  2
 2 )
Ta Ta
Eq. 2-9
O coeficiente de re-aeração (velocidade de transferência líquida dividido pela profundidade de água a
ser atravessada) depende muito das condições locais do curso d´água como temperatura, mistura
interna, vento induzindo a mistura, cachoeiras, correnteza e filmes superficiais. As expressões abaixo
permitem uma estimativa em função dos parâmetros de do escoamento (Brown & Barnwell, 1987)

Tabela 2-1: Formulações para estimativa de K2 em rios

Eq. 2-10, onde  é igual a 1,024.


k2,T  k2, 20 T 20
Eq. 2-10

A expressão de O’Connor & Dolbins é apropriada


para rios de profundidade moderada profundidade
moderada à profunda, com profunda, com
velocidade de moderada à baixa. A fórmula de
Churchill aplica--se a se a profundidades similares,
mas com velocidades elevadas. A relação de
Owens-Gibbs é utilizada para utilizada para rios
mais rasos.

Figura 26 Comparação das Expressões para rios (Chapra,


1997)

Figura 26 Comparação das Expressões para rios (Chapra,


1997)

Guia de Estudo
51

Tabela 2-2: Relação entre Pressão atmosférica e Solubilidade do Oxigênio em Água para diferentes temperaturas

Modelagem de Qualidade da Água


52
Tabela 2-3: Fatores de Correção em funcão da salinidade (baseado na condutividade)

Guia de Estudo
53
Para estuários tem-se as expressões

O’Connor - Dolbins Do é a difusividade do


oxigênio em águas naturais
= 2,09 10-5 cm2/s
k2 
DoU m
H 3/ 2 Um é a velocidade média
durante um ciclo completo
de maré
Banks 0,728U w0,5  0,317U w  0,0372U w2 Uw é a velocidade do
k2  vento
H
Thomann e e U m 0,728U w0,5  0,317U w  0,0372U w2 Combinação dos efeitos
Fitzpatrick k 2  3,93 *
H 3/ 2 H

Para lagos têm-se as expressões:

Broecker et al
(1978):
k L  0,894U w[m / dia ]
Uw é a velocidade do
Banks (1975) vento
k L  0,728U w0,5  0,317U w  0,0372U w2
Wanninkhof et al k L  0,0986U w1,64 Combinação dos efeitos
(1991):

As figuras abaixo ilustram equipamentos de re-aeração forçada que podem ser empregados em rios e
reservatórios.

Modelagem de Qualidade da Água


54

2.1.2 Reaeração em Estruturas Hidráulicas, Soleiras e Cascatas

A re-aeração em rios é influenciada pela presença de


estruturas de controle como soleiras, vertedouros,
barragens, eclusas e quedas d’água de forma geral.
Butts & Evans (1983) sugerem a expressão geral,
função da altura da queda Hd:

rd  1  0,38ad bd H d (1  0,11H d )(1  0,046T )


Eq. 2-11
Onde rd é a relação entre o déficit de oxigênio entre montante e jusante da soleira, T a temperatura da
água em ºC, Hd o desnível e ad e bd são coeficientes que dependem da qualidade da água e do tipo
de barragem (Chapra & Peletier, 2003)

Tabela 2-4: Valores dos coeficientes ad e bd (Chapra e Pelletier, 2003)

A expressão proposta para cálculo da entrada de oxigênio a jusante da estrutura é:

 dC  U C  Ci
   (Cs ,i1  s ,i1  Ci )
 dt  soleiras x rd
Eq. 2-12

Guia de Estudo
55

onde Ci-1 e Ci são as concentrações de O2 a montante e jusante da soleira.

2.2 Fotosíntese

É um processo de re-aeração que depende da biomassa


de material fotosintetisante, por exemplo algas e outros
organismos portadores de clorofila. O processo
depende da presença de luz e de nutrientes como o
nitrogênio e fósforo, portanto ocorre de forma senoidal
durante o foto período (nascer e o por do sol). Neste
processo a produção de o2 será máxima no centro do
intervalo de foto período e zero fora dele. Pmax é a
produção máxima de O2 por unidade de biomassa
fotosintetisante (mgO2/s/Kg).

 dC 
   B f Pmax sen 2 (t  ts )  para t>ts e t< ts + t
 dt  fotosíntese
Eq. 2-13

sendo ts o instante do nascer do sol, t o intervalo de foto período e Bf a biomassa por unidade de
volume (mg/l).

2.3 Demanda Carbônica de Oxigênio

2.3.1 Ciclo do Carbono

A biosfera pode ser entendida como um ciclo de vida e morte. Através da energia do sol, organismos
autotróficos (vegetais) convertem nutrientes inorgânicos simples em moléculas mais complexas. Na
fotosíntese, a energia solar é armazenada na forma de energia química em moléculas orgânicas. Como
resultado, o oxigênio é liberado e o dióxido de carbono é consumido.

A matéria orgânica serve então como fonte de energia para organismos heterotróficos (bactérias e
micro-organismos) no processo inverso de respiração e decomposição, retornando assim a matéria
orgânica para o estado mais simples inorgânico. Durante esta decomposição, o oxigênio é consumido e
o dióxido de carbono liberado. Este ciclo é representado pela equação química :

6CO2 + 6H2O  C6H12O6 + 6O2


De acordo com esta reação reversível, o dióxido de carbono e a água são utilizados para sintetizar a
matéria orgânica na forma de açúcar e criar o oxigênio na reação de fotosíntese e de forma reversa,
decompor a matéria orgânica e consumir oxigênio durante a respiração. A química do ciclo de
produção/decomposição é muito mais complicada do que a reação acima porque muitos compostos
orgânicos são criados e decompostos durante o processo e outros elementos além do carbono,
hidrogênio e oxigênio estão envolvidos.

Modelagem de Qualidade da Água


56
Se uma corrente liquida é originalmente limpa, a concentração de oxigênio se encontra perto da
saturação, devido ao contato superficial com o ar atmosférico. O lançamento de esgotos não tratados
causa a elevação dos níveis de matéria orgânica dissolvida e particulada na água. Este fato tem dois
impactos. No primeiro a matéria orgânica torna a água turva e a luz não consegue penetrar, suprimindo
o crescimento vegetal. Alguns dos sólidos se depositam a jusante do ponto de lançamento criando uma
zona de lodo que pode emitir maus odores. Em
segundo lugar, a matéria orgânica serve de fonte
de alimentação para organismos heterotróficos
que, na sua digestão reduzem a concentração do
oxigênio dissolvido. Em complemento a
decomposição da matéria orgânica no leito
lodoso também consome oxigênio.

A medida em que o nível de oxigênio da água


cai, o oxigênio presente no ar entra na água de
forma a compensar o déficit. A princípio o
consumo de oxigênio na água e no lodo vence
esta reaeração.

Entretanto, como a matéria orgânica é


assimilada e o oxigênio cai, haverá um ponto de
equilíbrio, no qual a concentração de oxigênio é
critica. Deste ponto em diante o taxa de
oxigênio começa a aumentar porque a maior
parte da descarga terá se sedimentado,
iniciando-se o processo de reaeração. Em
complemento, uma grande quantidade de
nutrientes liberados durante a decomposição
estarão presentes, motivo pelo qual nesta zona
nota-se o domínio do crescimento vegetal.

Figura 27 Clico do Carbono e Oxigênio na água

Figura 28 : Comportamento do OD em um rio com lançamentos orgânicos

Além das mudanças químicas, o esgoto também leva a significantes efeitos sobre a biota. Pode-se
observar que bactérias e mofo (bolor) dominam a região do lançamento. As bactérias propriamente
Guia de Estudo
57
servem também de alimento para uma sucessão de organismos do tipo ciliados rotíferos e crustáceos. A
diversidade de organismos maiores diminui drasticamente na zona de degradação e de decomposição
ativas a jusante. Ao mesmo tempo, o número total de organismos aumenta.

O primeiro passo para modelação do decaimento do OD por ação do carbono consiste em caracterizar a
composição do esgoto e a simulação do semi-ciclo respiração/decomposição.

C6H12O6 + 6O2  6CO2 + 6H2O

O exemplo mais simples consiste em se imaginar açúcar colocado numa garrafa com água contendo
uma concentração inicial de oxigênio O0. Adiciona-se uma quantidade de bactérias tampando-se a
garrafa. Admitindo-se que a decomposição é uma reação de primeira ordem da forma:

dg
V  k1Vg
dt
Eq. 2-14

onde g é a concentração de glicose (mg-g/l), k1 a taxa de decomposição na garrafa (d-1) e V o volume


da garrafa (l). Se a concentração inicial de glicose é g0, esta equação pode ser resolvida analiticamente
por

g  g 0e  k1t
Eq. 2-15

O balanço de massa para o oxigênio pode ser expresso por:

dO
V  rog k1Vg
dt
Eq. 2-16

onde O é a concentração de oxigênio (mgO/l) e rog é a relação estequiométrica de oxigênio consumido


para decomposição da glicose (mg/mg-g). Substituindo-se as equações:
dO
V  rog k1Vg 0 e k1t
dt
Eq. 2-17

Se a concentração inicial de oxigênio é O0, esta equação tem solução da forma:


O  O0  rog g 0 (1  e  k1t )
Eq. 2-18
Exemplo:

2 mg de glicose
250 ml de água
concentração inicial de oxigênio: r0 10 mg/l
taxa de decomposição da glicose k1 0,1 d-1

Concentração inicial de glicose: g0 = 2/250 = 8 mg/l


Modelagem de Qualidade da Água
58
Relação estequiométrica:

C6H12O6 + 6O2  6CO2 + 6H2O

rog= 6 x 2 16 / ( 6 x 12 + 12 x 1 + 6 x 16)
rog= 1,0667 mgO / mg glicose

Assim, o consumo total de oxigênio na garrafa será:

r0gg0 = 1,0667 x 8 = 8,5333 mg/l

e a concentração de oxigênio na garrafa ira tender para :

O = 10 – 8,5333 = 1,46667 mg/l

Empregando a equação da reação teremos:

12
Tempo (dias) Glicose (mgO/l) Oxigenio (mgO/l)
0 8,53336 10 10
C mg/l

2 6,986524 8,453164
8
4 5,720082 7,186722
6 4,683207 6,149847 4.1.1 Dem 6
Glicose (mgO/l)
8 3,834286 5,300926
anda 4 Oxigenio (mgO/l)
10 3,139248 4,605888
12 2,570199 4,036839
Bioquímica 2

20 1,154865 2,621505 de
Oxigênio
0
50 0,057497 1,524137 0 50 100 150 200 250

(DBO)
Tempo (dias)
100 0,000387 1,467027
200 1,76E-08 1,46664

No exemplo anterior, o processo simulado representa uma reação simples, que difere em muito do
processo que ocorre no esgoto real, composto de diversos constituintes nos quais cada um se decompõe
a diferentes taxas. No inicio da modelação matemática de qualidade da água estas restrições eram
significativamente mais severas em face das limitações tecnológicas para determinação dos compostos
orgânicos. Como conseqüência, os primeiros modelos de analise de qualidade consistiam em
aproximações empíricas desprezando-se a composição do esgoto real. Desta forma, assim como no
exemplo anterior, a quantidade de oxigênio consumido quando esgoto é adicionado a um reator fechado
denomina-se demanda bioquímica de oxigênio, ou DBO.

Em termos matemáticos, para quantificar esta reação define-se a variável L (mgO/l) que representa a
quantidade de matéria orgânica oxidável restante na garrafa, expressa em termos de quantidade de
oxigênio equivalente. O balanço de massa para o sistema fechado pode ser escrito por:

dL
V  rog k1VL
dt

Se a concentração inicial é L0, a equação pode ser resolvida por

L  L0e  k1t
Eq. 2-19

Guia de Estudo
59
O oxigênio consumido durante a decomposição pode ser definido por

y  L0  L  L0 (1  e  k1t )

onde y será a DBO (mgO/l). Desta forma, L0


pode ser definido como sendo a concentração
inicial de matéria orgânica oxidável (expressa
em termos de unidades de oxigênio necessário
para tal) ou como a concentração de DBO
limite.

O balanço de massa pode ser escrito na forma:

Figura 29 : Ciclo do O2 e da DBO ao longo do tempo dO


V  k1VL0 e k1t
dt

Se a concentração inicial de oxigênio é O0, a solução pode ser escrita na forma:

O  O0  L0 (1  e k1t )

Como este desenvolvimento é idêntico ao feito para a garrafa com glicose, verifica-se que se torna
desnecessária a caracterização exata do esgoto presente e sua relação estequiométrica com o oxigênio.

L0  rog g 0

Entretanto, a quantidade de carbono pode ser medida diretamente no efluente, de forma que pode-se
correlacionar:

L0  rocCorg

onde Corg é a concentração de carbono orgânico no esgoto (mgC/l) e roc a relação estequiométrica da
massa de oxigênio consumida pela massa de carbono processada ou digerida mgO/mgC:

6  2 16
roc   2,67mgO / mgC
6 12

Por fim deve se observar que além da decomposição dos carbonáceos exite uma demanda adicional de
oxigênio necessária para a oxidação das amônias em nitritos, processo denominado nitrificação,
também chamado de NDBO

2.3.2 DBO para Rios

A aplicação deste conceito para um rio deve ser feita levando-se em conta que além da decomposição, a
DBO pode ser removida também pela sedimentação da matéria orgânica. Aplicando-se a Eq. 1-1 tem-
se que:
Modelagem de Qualidade da Água
60

C C 1   C 
U   EA   kr L(t )  La
t x A x  x 

onde kr representa a taxa total de decaimento de DBO, seja por decomposição (k1) e por sedimentação
(ks).

kr = k1 + k3
Eq. 2-20

A taxa de decomposição representará o mesmo papel que k1 no exemplo da garrafa enquanto que para a
sedimentação adota-se:
v
k3  s
H
Eq. 2-21
sendo vs a velocidade de sedimentação e H a profundidade da água.

Para o caso do regime permanente e uniforme (C e U=constante e E=0) tem-se:

L
0  U  k1L
x

cuja solução é da forma:

k1
 t
L  L0 e U

Eq. 2-22

sendo que L0 pode ser obtido, como dos exemplos anteriores, considerando a mistura plena na seção do
lançamento:

Qw Lw  Qr Lr
L0 
Qw  Qr

2.3.3 DBO de 5 dias

A DBO de 5 dias é tomada como padrão de referência para os testes de decomposição de material
orgânica. A estimativa da DBO original pode ser feita por:
L5
L0 
(1  e  k1 5 )
Eq. 2-23

Guia de Estudo
61

Tabela 2-5: Valor estimativo de K1 considerando diferentes condições de decaimento


Tratamento K1 (20ºC) (d-1) DBO5/DBOu
Não tratado 0,35 (0,2-0,50) 0,83
Primário 0,20 (0,10 – 0,30) 0,63
Lodos Ativados 0,075 ( 0,05 – 0,10) 0,31

2.3.4 Re-aeração com matéria orgânica

Retomando a experiência da garrafa, porém agora sem a rolha, tem-se

dL
V  k1VL
dt
dC
V  k1VL  k2V (Cs  C )
dt

 dC 
   k1L  k2 (Cs  C )
 dt  DBO
Eq. 2-24

onde Cs e C são as concentrações de oxigênio como já visto anteriormente, o termo k2 indica a taxa de
absorção de ar pela garrafa aberta e D = Cs–C representa o déficit de oxigênio dissolvido, que
diferenciado produz:

dD dC

dt dt

Substituindo-se as equações tem-se:

dD
V  k1VL  k2VD
dt

Se L = L0 e D=0 para t=0 tem-se um,a solução analítica que pode ser útil:

L  L0e k1t

k1 L0
D (e  k1t  e  k 2t )
k 2  k1
Eq. 2-25

2.3.5 Re-suspensão da material orgânica

Modelagem de Qualidade da Água


62
A velocidade e a turbulência do escoamento podem alterar a concentração de DBO em função da re-
suspensão de material depositado. O coeficiente de re-suspensão k4 é pode ser relacionado com a
declividade da corrente:
S0 (m/m) K4
0,047 0,1  dC 
0,095 0,15    k4 L
 dt resuspensão
0,189 0,25
0,473 0,4 Eq. 2-26
0,497 0,6

2.4 Respiração Vegetal

A respiração vegetal é associada à biomassa presente no corpo d´água e a uma taxa de absorção de O2.
Desta forma:

 dC  Bk
   v 5
 dt  respvegetal h
Eq. 2-27

onde Bv é a biomassa vegetal seca (kg/m2), k5 é a taxa de absorção de O2 (hora-1) e h a profundidade. O


valor de k5 pode ser estimado entre 05 a 2 h-1, sendo usualmente utilizado em torno de 1,5.

2.5 Nitrificação

A oxidação da amônia é uma reação de primeira ordem dependente de um coeficiente de decaimento da


amônia (k6) e da concentração da amônia. O valor de k6 tipicamente varia entre 0005 a 0,05 sendo
usualmente adotado em torno de 0,02.

 dC 
   k6CNH
 dt  nitrificação
Eq. 2-28

2.6 Efeitos da Temperatura

pode ser generalizada de forma a representar as variações dos parâmetros empregados na modelação de
qualidade da água de forma:

kT  k20 T 20
Eq. 2-29

Guia de Estudo
63

Tabela 2-6: Correção da Temperatura nos coeficientes de reatividade


Reação 
Oxidação da DBO k1 1,047
Re-aeração k2 1,024
Nitrificação k6 1,08
Respiração vegetal k5 1,047
Crescimento Fitoplancton 1,03
Crescimento Zooplancton 1,07

3 MÉTODOS DE SOLUÇÃO

A soluções da Eq. 1-1 podem ser feitas de forma analítica ou numérica. No item 3.2, apresentou-se uma
solução simplificada (Streeter-Phelps) que permite a estimativa do déficit de oxigênio em escoamentos
com regime permanente e uniforme. Simplificações como esta, embora restritivas, apresentam vários
resultados práticos interessantes.

As soluções completas, envolvendo vários fatores intervenientes, como a resuspensão, respiração


vegetal e etc exigem soluções numéricas, como aquelas vistas no Capítulo 2.
3.1 Soluções Teóricas

Soluções particulares para a Eq. 1-1 devem satisfazer simultaneamente a equação diferencial bem como
as condições de contorno estabelecidas. As condições iniciais especificam que valores para La e C são
conhecidos no instante 0 ao longo do eixo X. As condições de extremidade (contorno) são estabelecidas
a uma distancia suficiente do trecho sob análise para que sua influencia no resultado possa ser aceita.
Uma das soluções da Eq. 1-1 é admitir que o escoamento é permanente, isto é C / t  0 . Também
admite-se que o trecho em estudo tem escoamento uniforme bem como sua seção transversal constante
e o termo de decaimento de primeira ordem com coeficiente genérico k. Desta forma a equação resulta:
C  2C
U  E 2  kC  0
x x
Eq. 3-1
Seja o problema de uma descarga de massa W (kg/dia) em solução num efluente Qw (m3/dia) em um
trecho de rio com descarga natural (água fresca) Q (m3/dia).

A solução analítica é:

Modelagem de Qualidade da Água


64
U kE
W (1 1 4 2 ) x
C ( x, t )  e 2E U

kE
AU 1  4 2
U
Eq. 3-2
Na Eq. 3-2 o sinal negativo é utilizado para os x positivos. As figuras abaixo ilustram o
comportamento da solução analítica da Eq. 3-2 para os dados indicados a seguir.

W 518400kg/dia
k 0.4dia-1
U 0.25m/s 21600m/dia
A 10m²
E 345000m²/dia

Verifica-se que para a situação usual de difusão advectiva e dispersão as curvas apresentam-se variáveis
a montante e jusante (lançamento feito no ponto o). Se E=0 não há transporte para montante.
C(mg/l)

C(mg/l)

3 3

2.5 2.5

2 2

1.5 1.5

1 1

0.5 0.5

0 0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
X Km) X Km)

K e E são diferentes de zero K=0


C(mg/l)

2.5

1.5

0.5

0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
X Km)

E=0
Figura 30: Solução analítica para descarga contínua
Outra solução particular da equação Eq. 3-1 pode ser obtida par a situação de lançamento pontual e
instantâneo de uma carga W (kg) de material conservativo (k=0), que resulta em:

( x Ut ) 2
M   kt
C ( x, t )  e 4 Et

A 4Et
Eq. 3-3
As figures a seguir ilustram o comportamento da solução analítica para os dados abaixo

W 6000kg
k 0dia-1
A 10m²

Guia de Estudo
65
E 350000m²/dia

1 1

0.1 0.1

0.2 0.2

C mg/l
C mg/l

0.5 0.4 0.5 0.4

0.8 0.8

0 0
-5 0 5 10 15 Dist (km) 20 -5 0 5 10 15 Dist (km) 20

U=0 U=0,25 m/s


Figura 31: Solução analítica para carga concentrada instantânea

3.2 Equação de Streeter-Phelps

Aplicando o conceito para águas naturais em um rio, com uma fonte pontual de DBO, em regime
permanente e uniforme:

L
0  U  k1L sendo que k1 = kd + ks
x

D
0  U  k1L  k2 L
x

Se L = L0 e D = D0 para t=0 tem-se que

k1
 x
L  L0e U

k2 k k
 x k1 L0  1x  2x
D  D0 e U
 (e U
e U )
k 2  k1
Eq. 3-4
que é a equação de Streeter & Phelps para escoamento unidimensional. Esta equação pode ser aplicada
para um curso d´água em regime permanente e uniforme, obtendo-se o perfil da concentração de O2 ao
longo do eixo do mesmo, como mostra o exemplo a seguir. O instante crítico ou de máximo déficit pode
ser obtido analiticamente pela expressão:

1 k  k  k 
tc  ln  2 1  D0 2 1 
k 2  k1  k1  k1 L0 
Eq. 3-5

Cs 9mg/l

Modelagem de Qualidade da Água


66
L0 35mg/l
10 40
U 0.8m/s
C (mg/l)

9
35
8 K1 0.4dia-1
K2 1.5dia-1
30
7

6
25
Co 2.5 Dt 0.25
5 D(mg/l) O (mg/l) DBO (mg/l) 20 Do 6.5mg/l
4
15 t (dias) X Km) D(mg/l) O (mg/l) DBO (mg/l)
3
10 - - 6.50 2.50 35.00
2
5 0.25 17.28 7.24 1.76 31.67
1

0 0
0.50 34.56 7.48 1.52 28.66
0 100 200 300 400 500 600 700
X (Km)
800 0.75 51.84 7.41 1.59 25.93
1.00 69.12 7.14 1.86 23.46
1.25 86.40 6.76 2.24 21.23
1.50 103.68 6.33 2.67 19.21

3.3 Soluções Numéricas 1.75 120.96 5.87 3.13 17.38

As soluções numéricas permitem simular o comportamento do oxigênio considerando efeitos como a


advecção, difusão, reaeração devido à presença de soleiras e barragens e outros, que são desprezados
nas soluções teóricas e admitidos como efeitos englobados nos parâmetros k1 e k2.

A solução proposta por James(1992) é a mesma empregada em modelos clássicos como o QUAL2E
(EPA, 1987) e partem da equação básica (Eq. 1-1) aplicando-a para a concentração de DBO (L) e OD
(C) juntamente com os efeitos discutidos nos itens 2.1.1,2.3.4, 2.3.5 e 2.4:

L L L
U  E 2  (k1  k3  k4 ) L  La
t x x
C C C
U  E 2  k1L  k2 (C s C )  La
t x x
Eq. 3-6

Utilizando—se a técnica de solução já empregada no Cap. 3, por diferenças finitas, obtém-se um


método numérico de solução significativamente aperfeiçoado em relação à equação de Streeter-Phelps e
de fácil implementação em aplicativos de planilha eletrônica.

Li ,n1  Li ,n L  Li1,n
 U i ,n
L  2Li ,n  Li1,n
 E i1,n
L  Li,n1   La
 (k1  k3  k4 ) i ,n
2
t x x 2
i

Ci ,n1  Ci ,n C  Ci1,n
 U i ,n
C  2Ci ,n  Ci1,n
 E i1,n
L  Li,n1   k (C  C )  La
 k1 i ,n
2 2 i ,n
t x x 2
s

Eq. 3-7

Observa-se que o termo advectivo foi considerado em termos de diferenças regressivas já que o
transporte de massa se faz no sentido do escoamento (da seção i-1 para a seção i). O termo Lai
representa o lançamento de DBO com concentração constante no tempo no trecho i. Rearranjando a
equações obtém-se a Eq. 3-8, que permite o cálculo explícito em dois passos DBO-OD.

Guia de Estudo
67
 k k k   t t k k k   t 
Li ,n1 1  t 1 3 4   Li ,n 1  U  2 E 2  t 1 3 4   Li1,n  E 2  
 2   x x 2   x 
 t t 
Li1,n U  E 2   tLai
 x x i

 k   t t   t 
Ci ,n1 1  t 2   Ci ,n 1  U  2 E 2  t  k2   Ci1,n  E 2  
 2  x x   x 
 t
 Ci1,n U
t 

k

 E 2   t 1 Li ,n1  Li ,n  t  k2Cs  tLa
2
 x x i
Eq. 3-8

A estabilidade do método fica condicionada aos parâmetros empregados na discretização dos termos de
1a. e 2a. ordem:

c  gy
t
(U  c) 1
x
t 1
E 2 
x 2
Eq. 3-9

3.4 Dados e Condições de Contorno

3.4.1 Coeficiente de Dispersão

A estimativa dos parâmetros para modelação é comumente feita a partir de estudos específicos e
experiências de laboratório. Desta forma, enquanto os parâmetros K1 e K2 são obtidos a partir de
ensaios, outros como o coeficiente de dispersão, são avaliados a partir de experiências de campo com
traçadores ou marcadores radioativos.

O coeficiente E pode ser estimado analiticamente a partir de relações que levam em conta a turbulência
do escoamento. Fisher (1979) propôs as expressões da Eq. 3-10 para a dispersão longitudinal (E) e
transversal (Et):

U 2B2
Et  0,6HU* E  0,011
HU*
Eq. 3-10

onde H é a profundidade e o termo U* é a velocidade tangencial ou ‘velocidade de atrito’,definida por:

U*  gHS0

Modelagem de Qualidade da Água


68
Eq. 3-11

4.1.2 Comprimento de Mistura

A condição inicial de lançamento pode ser definida a partir


do coeficiente de dispersão e do comprimento de mistura,
definido com sendo a distancia mínima para a obtenção das
condições de mistura plena longitudinal. As expressões a
seguir permitem a estimativa do comprimento d emistura em
função da turbulência do escoamento (Fisher, 1979)
B2
 Lançamento lateral ao canal Lm  0,4U
Et

B2
 Lançamento no centro do canal Lm  0,1U
Et
Eq. 3-12

Figura 32: Exemplo de comprimento de mistura em lançamento lateral ao canal

3.5 Modelando a Temperatura

A temperatura interfere nos coeficientes de reatividade k, conforme mostrado em 2.6. A Eq. 2-8
permite a correção dos valores de k para a temperatura 20ºC para qualquer outro valor. Desta forma
torna-se necessária a modelação da temperatura ao longo do curso d´água. Chapra e Pelletier(2003)
propõe o uso da equação da energia, conforme apresentado no Capitulo 3, da forma:

T uT  2T W J J
  2   sup  fun
t x y CAx CH CH
Eq. 3-13

onde U e T representam a temperatura da água no trecho unidimensional,  é a difusividade térmica, W


a carga térmica pontual (Kcal/dia), Jsu o fluxo de calor por unidade de área e tempo através da superfície
e Jfun o fluxo de calor por unidade de área e tempo através do fundo.

A difusividade térmica pode ser estimada por   k / C , onde k é a condutividade térmica da água
(0,59 w/mºC), o que resulta =1,40.10-7 m2/s ou 0,012 m2/dia. Os valores de J dependem de diversos
fatores como a Radiação solar, atenuação atmosférica, atenuação das nuvens, refletividade, radiação
Guia de Estudo
69
atmosférica de longo período (mais importante), radiação de longo período da água, condução e
convecção moleculares, evaporação e condensação, e condução através dos sedimentos de fundo.

Para São Paulo, o fluxo médio anual de energia (calor) pode ser estimado em 16.500 kCal/m2dia (800
w/m2). O fluxo de calor através dos sedimentos de fundo pode ser considerado pela condutividade
térmica dos sedimentos, espessura da camada de sedimentos e temperatura do fundo:

s
J fun   sCs (Tsed  T ) [kCal/m2.dia]
H sed
Eq. 3-14

onde   e C são respectivamente a difusividade térmica do sedimento de fundo, o calor específico e a


massa específica deste sedimento. Valores típicos são obtidos da tabela a seguir:

Tabela 3-1: Propriedades térmicas de materiais

Material Cond Térmica k Difusividade Massa Calor Específico


térmica Especifica
W/mºC 10-7 m2/s Kg/m3 kCal/kgºC
Água 0,59 1,40 1,0 1,0
Argila 1,3 9,8 1,49 0,21
Solo Seco 1,09 3,7 1,50 0,465
Areia 0,59 4,7 1,52 0,19
Solo úmido 1,8 4,5 1,81 0,525
Granito 2,89 12,7 2,7 0,202

A solução numérica pode ser escrita na forma:

W  CQLTL [kCal/Dia]

s
 s Cs (Tsed  Ti ,n )
Ti ,n1  Ti ,n T T T  2Ti ,n  Ti1,n Wi J H sed
 U i ,n i1,n   i1,n   sup 
t x x 2
CAx CH CH
Eq. 3-15

4 REFERÊNCIAS
James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13

Modelagem de Qualidade da Água


70
Chapra, S.C. and Pelletier, G.J. 2003. QUAL2K: A Modeling Framework for Simulating River and
Stream Water Quality: Documentation and Users Manual. Civil and Environmental Engineering Dept.,
Tufts University, Medford, MA.,

CAPÍTULO 5: PROCESSOS EM ESTUÁRIOS

Este capítulo tem por objetivo apresentar os conceitos da modelação de qualidade das
águas em estuários

1 INTRODUÇÃO

Os estuários apresentam-se como ambientes aquáticos mais complexos do que os rios porque muitas
vezes apresentam-se como problemas bidimensionais, com efeito da variação da densidade ao longo da
vertical e da variabilidade dos parâmetros no tempo. James (1993) aponta quatro principais fatores que
aumentam a complexidade dos estuários em relação aos rios:

a) escoamento bi-direcional (a montante e jusante) resultado da interação entre o escoamento


fluvial e os movimentos de maré, o que faz surgir períodos de águas paradas
b) diferenças de densidade entre a ‘água doce’ proveniente do escoamento fluvial e das
contribuições laterais e efluentes e a água salgada, proveniente do mar produzem um grau de
mistura altamente variável e nos casos onde a mistura não é completa, o surgimento de correntes
de circulação devido à densidade.
c) Os rios freqüentemente tendem a alargar, a medida em que se aproximam dos estuários e o
corpo d´água resultante é freqüentemente afetado por padrões de circulação horizontal,
induzidos pelas forças de atrito geradas pelo vento sobre a superfície e pela aceleração de
Coriolis.
d) Nas proximidades da boca do estuário, a ação das ondas se torna importante por induzir
correntes adicionais e transporte de sedimentos. Ondas raramente transportam sedimentos
diretamente, com exceção da zona de arrebentação mas, em águas mais profundas, as
velocidades conservam os sedimentos em suspensão permitindo que os mesmos sejam
transportados por correntes de baixas velocidades.

Em termos da fauna, os estuários são distintos do rio porque representam uma transição entre a zona de
água doce e a água salgada, que é desfavorável para a maioria das plantas aquáticas, animais e
microorganismos. A seção central de um estuário com salinidade constantemente variável é
especialmente desfavorável e quase sempre não habitada ou ocupada por uma flora e fauna bastante
restrita.

Desta forma, a análise do comportamento de constituintes nos estuários tem por objetivo identificar as
populações sob risco, de forma a permitir a aplicação de padrões ambientais apropriados. Geralmente
estes padrões são:

 Não perturbação: variações de O2 inferiores a 1mg/l e ausência de filmes superficiais


 Peixes locais: limitação nas toxinas e variações de O2 inferiores a 3 mg/l
 Peixes migratórios: limitação nas toxinas e variações de O2 inferiores a 5mg/l

Considera-se portanto como variável de análise a concentração de oxigênio dissolvido. Entretanto


também para os estuários existe a preocupação com a relação DBO/OD, com a diferença que devido ao
maior tempo de detenção nos estuários (em comparação com os rios) existe tempo suficiente para a
Guia de Estudo
71
oxidação completa da matéria orgânica. Desta forma o conceito de Dbo5 dias e substituído para DBO20 dias
.

2 HIDRÁULICA ESTUARINA

2.1 Generalidades

O movimento da água nos estuários é complexo e resulta do escoamento da água doce e das variações
de maré, com influencia adicional do vento. Adicionalmente existem movimentos verticais e horizontais
induzidos pela aceleração de Coriolis, pelo vento e pela diferença de densidades

O movimento da água nos estuários pode ser representado pelo diagrama mostrado na Figura 33. Se não
existe diferença de densidade no estuário, então a resultante sobre o ciclo de maré será um movimento
vertical de AA para A’A’. Entretanto, quando existe uma significativa diferença de densidades a
superfície responde mais significativamente pelo movimento advectivo do que sendo que o fundo, e a
resultante do movimento em um ciclo de maré é alinha BB. Na figura também se verifica que as
variações na vazão de água doce não afeta fundamentalmente este movimento. Altas descargas de água
doce simplesmente aumentam de tamanho da intrusão de água doce no meio estuarino.

Figura 33: Efeito da água doce nos estuários

Nem todos os efeitos mencionados são significativos nos estuários sendo importante, para escolha da
técnica de modelação apropriada, avaliar o tipo do estuário. A forma mais simples desta avaliação
consiste na relação D/T onde

D  volume de água doce aportado ao estuário durante o ciclo de maré


T  volume de água movimentado durante a maré, isto é, a diferença entre o volume de maré alta e
baixa.

Modelagem de Qualidade da Água


72
Quando D/T é baixo (D/T<0,1), o estuário
tende a ser bem misturado verticalmente e
as isosalinas tendem a ser verticais..
Quando a descarga de água doce é mais
importante (0,1<D/T<1,0) o grau de
mistura é reduzido e as isosalinas tendem a
se inclinar. Em estuários que são
dominados pela descarga de água doce
(D/T>1.0) a mistura entre a água doce e
salina é muito limitada e o fluxo de água
doce tende a escoar por sobre a água
salgada, resultando em isosalinas que são
quase horizontais.

A topografia também tem influência na


determinação do padrão de mistura nos
estuários mais complexos. Por exemplo,
estuários rasos e largos tendem a ser bem
misturados verticalmente mas tem
significativas diferenças na salinidade ao
longo da seção transversal. Estuários profundos e estreitos são freqüentemente bem misturados
horizontalmente mas apresentam estratificação vertical acentuada.

2.2 Marés

Maré é o fenômeno da alteração da altura dos mares e oceanos causado pela interferência da Lua e do
Sol, principalmente, sobre o campo gravitacional da Terra.

Considerando-se o campo gravitacional


terrestre sem interferências dos demais
planetas, as águas na superfície sofrem
uma aceleração na direção do centro do
planeta, como todos os corpos. Como os
astros, principalmente Lua e Sol tem
massas consideráveis, que atuam com
intensidade inversamente proporcional à
distância, as acelerações sentidas nos
diversos pontos da Terra não são as
mesmas, com capacidade de deformar a
superfície de água.

Desta forma as massas oceânicas que estão mais próximas da Lua sofrem uma aceleração de intensidade
significativamente superior às massas oceânicas mais afastadas da Lua. É este diferencial que provoca
as alterações da altura das massas de água à superfície da Terra.

Guia de Estudo
73

Quando a maré está em seu ápice chama-se


maré alta, maré cheia ou preamar; quando está
no seu menor nível chama-se maré baixa ou
baixa-mar. Em média, as marés oscilam em um
período de 12 horas e 24 minutos. Doze horas
devido à rotação da Terra e 24 minutos devido
à órbita lunar.
A altura das marés alta e baixa (relativa ao
nível do mar médio) também varia. Nas luas
nova e cheia, as forças gravitacionais do Sol
estão na mesma direção das da Lua, produzindo
marés mais altas, chamadas marés de sizígia.
Nas luas minguante e crescente as forças
gravitacionais do Sol estão em direções
diferentes das da Lua, anulando parte delas,
produzindo marés mais baixas chamadas marés
de quadratura.
Figura 34: Evolução das marés
O comportamento das marés é observado no
mundo inteiro, principalmente devido a sua importância para a navegação. Como as alturas derivam de
movimentos cíclicos dos astros é usual a previsão das alturas de maré através de processos de análise
harmônica, onde são determinadas a partir de observações de nível d´água as alturas associadas às
principais componentes astrais

Figura 35: Registro maregráfico típico

Modelagem de Qualidade da Água


74

Figura 36: Estações maregráficas no mundo

Os movimentos relativos da Terra, Lua e Sol provocam um número elevado de forças periódicas
geradoras de maré. As variações da altura de água associadas podem ser representadas pela soma de um
número finito de termos harmônicos (cossenos) aos quais se dá o nome de constituintes harmônicas da
maré. O período de cada constituinte é determinado a partir de estudos astronômicos. Porém, a
amplitude e a fase da resposta da maré a cada constituinte é impossível de determinar através das forças
geradoras. Chamam-se constantes harmônicas (CH) aos pares de valores (amplitude, fase) de cada
constituinte. As CH não dependem do tempo e, sendo típicas de cada porto, constituem a base
fundamental para a caracterização da maré num dado local sendo que, delas dependem a boa qualidade
das previsões.

Dá-se o nome de análise harmônica ao processo matemático através do qual a maré observada num
dado local é separada em constituintes harmônicas simples. A sua finalidade é determinar a amplitude H
(em metros) e a fase g (em graus) das diferentes constituintes harmônicas da maré, a partir da série de
alturas de água registradas. A fase de uma constituinte harmônica de maré é o atraso em relação à
chamada maré de equilíbrio. Na prática, as CH vão ser calculadas como sendo os parâmetros da
seguinte fórmula harmônica que melhor se ajustam às séries temporais:

n
h(t )  A0    f i H i coswit  (V0  u )i  gi  Eq. 2-1
1

onde h(t) é a altura de água no instante t, os valores wi representam as velocidades angulares das ondas
constituintes, V0+u é o seu argumento inicial, isto é o argumento na maré de equilíbrio para o instante
inicial da série de dados e A0 representa o nível médio do ponto. A importância da aplicação da fórmula
harmônica deve-se à sua universalidade ou seja, serve para qualquer tipo de maré.

A previsão de maré faz-se igualmente recorrendo à fórmula harmônica, sendo usado o nível médio
adotado no lugar de A0. Diversos programas permitem a realização da previsão de marés. As constantes
harmônicas constituem, assim, a base fundamental para a boa qualidade das previsões. Devido a obras
Guia de Estudo
75
portuárias e fenômenos como a erosão e os assoreamentos, as características da maré num dado local
sofrem alterações ao longo do tempo, pelo que é de extrema importância a renovação freqüente das CH.

Figura 37: Níveis de referência para trabalhos envolvendo maré e estuários

Para efetuar uma previsão de maré é necessário portanto o conhecimento dos pares amplitude e fase das
principais componentes que afetam a maré num ponto. A Marinha do Brasil mantém uma série de
estações de medição de maré e fornece através de seu sitio na internet as constantes dos principais
portos brasileiros (http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm).

O código abaixo permite o calculo da altura de maré conhecidos os parâmetros citados:

Height = Datum;
for a = 1 to numconst
Height = Height +
amplitude[a] * nodefactor[a] * cos (speed[a] * time + phase[a])
next a

O datum é o parâmetro de referência, normalmente a altura do nivel médio do mar. As amplitudes e as


freqüências angulares são padronizadas assim como o fator de amplitude. Como as amplitudes são
definidas em m e a velocidade angular em graus por dia, o tempo é definido em dias ( e frações) a partir
do início do ano. A fase inclui um ajuste anual, chamado de argumento de equilíbrio e é tabelado
subtraído da fase especifica do local (em graus). De forma a padronizar, a fase é definida de forma a ter-
se o inicio do ano calculo na hora zero do dia 1 de janeiro. Desta forma, a fase é escolhida igual ao
meridiano de referencia local (-3 horas : Brasília). Nestes cálculos não se considera o horário de verão.

Diversos programas de uso livre são disponíveis para o cálculo de previsão de marés. Estes aplicativos
basicamente permitem a determinação das alturas a cada instante, tendo rotinas otimizadas para a
obtenção dos máximos e mínimos rapidamente. A seguir apresenta-se uma aplicação do programa Jtide,
disponível em www.arachnoide.com.

Modelagem de Qualidade da Água


76

Figura 38: Constantes Harmônicas da Estação Maregráfica de Vitória )ES)

Tabela 2-1:Velocidade angular das principais constantes harmônicas


J1 15.5854433
K1 15.0410686
K2 30.0821373
L2 29.5284789
M1 14.4966939
M2 28.9841042
M3 43.4761563
M4 57.9682084
Guia de Estudo
77
M6 86.9523126
M8 115.9364169
N2 28.4397295
2N2 27.8953548
O1 13.9430356
OO1 16.1391017

Figura 39: Previsão de maré feita com o programa Jtide (www.arachnoide.com)

Tabela 2: Previsão de Maré para Vitória (ES) feita com o programa Jtide (www.arachnoide.com)
Dia Hora Local Dia Hora GMT Altura
2008-5-4 03:00:00 2008-5-4 00:00:00 +1,41 Meters
2008-5-4 04:00:00 2008-5-4 01:00:00 +1,50 Meters
2008-5-4 05:00:00 2008-5-4 02:00:00 +1,42 Meters
2008-5-4 06:00:00 2008-5-4 03:00:00 +1,18 Meters
2008-5-4 07:00:00 2008-5-4 04:00:00 +0,84 Meters
2008-5-4 08:00:00 2008-5-4 05:00:00 +0,49 Meters
2008-5-4 09:00:00 2008-5-4 06:00:00 +0,22 Meters
2008-5-4 10:00:00 2008-5-4 07:00:00 +0,10 Meters
2008-5-4 11:00:00 2008-5-4 08:00:00 +0,18 Meters
2008-5-4 12:00:00 2008-5-4 09:00:00 +0,43 Meters
2008-5-4 13:00:00 2008-5-4 10:00:00 +0,79 Meters
Modelagem de Qualidade da Água
78
2008-5-4 14:00:00 2008-5-4 11:00:00 +1,17 Meters
2008-5-4 15:00:00 2008-5-4 12:00:00 +1,48 Meters
2008-5-4 16:00:00 2008-5-4 13:00:00 +1,64 Meters
2008-5-4 17:00:00 2008-5-4 14:00:00 +1,62 Meters
2008-5-4 18:00:00 2008-5-4 15:00:00 +1,42 Meters
2008-5-4 19:00:00 2008-5-4 16:00:00 +1,08 Meters
2008-5-4 20:00:00 2008-5-4 17:00:00 +0,69 Meters
2008-5-4 21:00:00 2008-5-4 18:00:00 +0,35 Meters
2008-5-4 22:00:00 2008-5-4 19:00:00 +0,14 Meters
2008-5-4 23:00:00 2008-5-4 20:00:00 +0,13 Meters
2008-5-5 00:00:00 2008-5-4 21:00:00 +0,30 Meters
2008-5-5 01:00:00 2008-5-4 22:00:00 +0,61 Meters
2008-5-5 02:00:00 2008-5-4 23:00:00 +0,96 Meters
2008-5-5 03:00:00 2008-5-5 00:00:00 +1,27 Meters
2008-5-5 04:00:00 2008-5-5 01:00:00 +1,46 Meters
2008-5-5 05:00:00 2008-5-5 02:00:00 +1,48 Meters
2008-5-5 06:00:00 2008-5-5 03:00:00 +1,34 Meters
2008-5-5 07:00:00 2008-5-5 04:00:00 +1,05 Meters
2008-5-5 08:00:00 2008-5-5 05:00:00 +0,69 Meters
2008-5-5 09:00:00 2008-5-5 06:00:00 +0,34 Meters
2008-5-5 10:00:00 2008-5-5 07:00:00 +0,11 Meters
2008-5-5 11:00:00 2008-5-5 08:00:00 +0,05 Meters
2008-5-5 12:00:00 2008-5-5 09:00:00 +0,18 Meters
2008-5-5 13:00:00 2008-5-5 10:00:00 +0,48 Meters
2008-5-5 14:00:00 2008-5-5 11:00:00 +0,86 Meters
2008-5-5 15:00:00 2008-5-5 12:00:00 +1,24 Meters
2008-5-5 16:00:00 2008-5-5 13:00:00 +1,52 Meters
2008-5-5 17:00:00 2008-5-5 14:00:00 +1,65 Meters
2008-5-5 18:00:00 2008-5-5 15:00:00 +1,59 Meters
2008-5-5 19:00:00 2008-5-5 16:00:00 +1,35 Meters
2008-5-5 20:00:00 2008-5-5 17:00:00 +1,01 Meters
2008-5-5 21:00:00 2008-5-5 18:00:00 +0,63 Meters
2008-5-5 22:00:00 2008-5-5 19:00:00 +0,33 Meters
2008-5-5 23:00:00 2008-5-5 20:00:00 +0,18 Meters

3 MODELOS ESTUARINOS

Várias técnicas são utilizadas com razoável sucesso para modelação do comportamento estuarino:

a) caixa preta: simula a concentração da variável de qualidade da água como OD ou DBO


relacionada com outra variável de fácil determinação como o fluxo de água doce.
b) Modelo de segmento: representando o estuário por uma série de tanques isolados

Guia de Estudo
79
c) Modelo de segmentos móveis: representa o estuário por uma serie de tanques moveis, cada um
comportando-se como um tanque isolado.
d) Diferenças Finitas: simula as variações de qualidade da água dinamicamente por sucessivas
mudanças nas concentrações dos constituintes em função da advecção e dispersão calculada
através de uma malha fina.

A representação matemática hidrodinâmica


nos estuários mais complexos é feita a partir
das equações de SaintVenant para duas
dimensões, considerando a representação
bidimensional horizontal média vertical:

Figura 40: Esquema do elemento bidimensional

h dU dV
  S  0
t x x
Eq. 3-1
1
U U U h d U (U 2  V 2 ) 2  wx
U V g g g  0
t x y x 2 x C 2d d

V (U 2  V 2 ) 2  wy
1
V V V h d
U V g g  g  0
t x y x 2 y C 2d d

2
dc dUc dVc  2 dE x c  dE y c
     R( x, t )  La
t x y x 2 y 2
Eq. 3-2

Onde:

U e V são as velocidades médias verticais nas direções x e y,


h é a cota do nível d´água em relação a uma referencia de nível,
z é a cota de fundo num determinado ponto,
d= h – z,
 é a massa específica da água,
C o coeficiente de Chezy,
Twx e Txy as tensões tangenciais devido ao vento nas direções x e y
c é a concentração do soluto considerado
Ex e Ey os coeficientes de dispersão nas direções x e y
Modelagem de Qualidade da Água
80
R(x,t) a lei de decaimento/crescimento do constituinte
S o lançamento líquido no ponto
La o lançamento de soluto no ponto considerado.

As técnicas para solução das equações empregam geralmente os métodos de diferenças finitas usando
modelos implícitos, capazes de operarem com altos números de Courant, evitando-se assim as
limitações impostas pelos esquemas explícitos onde, por questões de estabilidade, fica-se limitado a
relação:

1
  1 1 
2

C  t  gd  2  2    1 Eq. 3-3
  x x  

3.1 Modelo de Segmento

Nestes tipos de modelos a complexa hidrodinâmica dos estuários, com a combinação de advecção e
dispersão, é reduzida a uma simples operação de mistura. É admitido que o estuário possa ser dividido
em um número de segmentos, cada um considerado uniforme e bem misturado de forma que a
concentração em cada seguimento pode ser representada por um único valor. Desta forma, o estuário
pode ser imaginado como uma série de tanques isolados contínuos.

a) Modelo Simplificado

Neste modelo o estuário é dividido em um número de segmentos de comprimento igual a metade do


comprimento de onda da maré. O efluente é admitido como instantaneamente misturado no seguimento
de lançamento e tem as mesmas características da água doce. A advecção e a dispersão longitudinal
transporta o efluente para o segmento adjacente a jusante enquanto a concentração a montante é afetada
somente pela mistura longitudinal.

É necessário ainda conhecer-se a seção transversal do estuário em cada seguimento selecionado.

Figura 41: esquema do Modelo Simplificado

É necessário o calculo do tempo de detenção de cada segmento, que é igual ao da água doce, uma vez
que é admitido que o efluente lançado não afeta de forma significativa o padrão de mistura. Para
qualquer segmento n do volume total de meia maré Vn e salinidade Sn.

Guia de Estudo
81
Se a salinidade da água do mar é S0 e da água doce igual a zero, o volume de água do mar do segmento
é:

Sn
VSn  Vn Eq. 3-4
S0

o volume da água doce no segmento é:

Sn S  Sn
VFn  Vn  VSn  Vn  Vn  Vn 0 Eq. 3-5
S0 S0

Se a descarga de água doce do rio é Q durante o ciclo de maré, então o tempo de detenção da água doce
no segmento é:

VFn Vn S0  S n
Rn   Eq. 3-6
Q Q S0
O tempo do efluente será o mesmo, conforme a consideração acima.

Considerando que no seguimento N o volume de efluente conservativo descarregado durante um ciclo


de maré é F, no equilíbrio, a quantidade de efluente aportado no seguimento deve ser igual a quantidade
transportada para jusante durante o ciclo de maré. Fazendo o balanço de massa tem-se:

CnVn
F Eq. 3-7
Rn
onde Cn é a concentração de equilíbrio no segmento n. Rearranjando a equação anterior resulta:

F  Rn V S  S n 1 S0  S n F
Cn  F n 0  Eq. 3-8
Vn Q S0 Vn S0 Q
Para uma substancia conservativa, a quantidade transportada para jusante é sempre igual ao total
descarregado no lançamento e a concentração em qualquer segmento n a jusante será dada por:

S0  S n F
Cn  Eq. 3-9
S0 Q

Para um segmento a montante sujeito ao processo dispersivo apenas, a concentração do constituinte, C m


, será função da relação entre as salinidades dos dois seguimentos:

Cm S m

Cn S n

Sm
C m  Cn Eq. 3-10
Sn

Modelagem de Qualidade da Água


82

Utilizando-se as equações anteriores juntamente com a vazão do efluente, a descarga de água doce,
salinidade média da meia maré pode-se então fazer uma estimativa do comportamento da salinidade ao
longo do estuário.

b) Modelo Aperfeiçoado

Neste caso também será considerada a mistura completa entre os segmentos, o escoamento permanente
de água doce e do efluente, além de uma concentração salina em equilíbrio. O comprimento dos
seguimentos será considerado como 1/5 do comprimento de onda da maré.

Figura 42 Esquema do modelo aperfeiçoado

Considerando o estuário dividido em segmentos. O efeito de mistura da maré é representado por iguais
e opostas descargas F entre os seguimentos. Q, V e S são: a descarga de água doce, o volume da meia
maré e a salinidade média da meia maré, respectivamente. Tomando-se o balanço de massa para a
salinidade ao longo de cada segmento, pode-s escrever uma série de equações nas quais a única
incógnita será o valor de Fi:

Segmento n
F n(Sn1  Sn ) S n(Q  Qn )  0

Segmento n+1
F n1(Sn2  Sn1 )  F n(Sn  Sn1 ) S n(Q  Qn ) S n1(Q  Qn  Qn1 )  0

Segmento n+2
F n2(Sn3  Sn2 )  F n1(Sn1  Sn2 )  S n1(Q  Qn  Qn1 ) S n2(Q  Qn  Qn1  Qn2 )  0
Eq. 3-11

Resolvendo-se estas equações simultaneamente obtém-se os valores de F para cada segmento, e a partir
deste, pode-se aplicar para qualquer outro constituinte dissolvido ou em suspensão.

Se a concentração C da substancia lançada decai, então a taxa de decaimento da substancia é kCn1Vn1 ,


onde k é o coeficiente de decaimento, considerado constante. O balanço de massa no segmento fica:

Guia de Estudo
83

(Cn1 ,Vn1 )  Fn (Cn  Cn1 )  Fn1 (Cn2  Cn1 )  Cn (Q  Qn )  Cn1 (Q  Qn  Qn1 )
t
 kCn1Vn1  La  0
Eq. 3-12

onde La é a massa adicionada por ciclo de maré. Este modelo, embora melhor que o anterior, não pode
ser aplicado para reproduzir a concentração de constituintes com grandes gradientes de concentração
devido a discretização espacial adotada. Este, por outro lado, não é o caso na maioria dos estuários, que
tem variações suaves de concentração.

3.2 Modelo de Diferenças Finitas

No caso de estuários, a equação da advecção-difusão estudada para rios dificilmente admite a


simplificação na qual a área da seção transversal é constante. Desta forma, pode-se escrever que:

AC AUC  C
  ( EA )  kAC  La  0 Eq. 3-13
t x x x

onde A é a área da seção transversal, U a velocidade no trecho, E a dispersão longitudinal, k o


coeficiente de decaimento e La o lançamento do efluente.

As aproximações numéricas podem ser escritas da forma de diferenças finitas de 6 pontos:

C 1  1 t 1 t 1 2 1
 
t t  6
 3
  6
  
Ai 1 Ci 1  Ait1Cit1  Ait 1Cit 1  Ait Cit  Ait11Cit11  Ait1Cit1  

AUC 1  1 t 1 t 1 1
x
 
2x  2
   
Qi 1 Ci 1  Qit11Cit11  Qit1Cit1  Qit1Cit1 
2

E
 2 AC
x 2

1
4x 2
     
( EA) ti 11  ( EA) ti 1 C it11  Cit 1  ( EA) ti 1  ( EA) ti 11 Cit 1  Cit11 

1
4x 2
    
( EA) ti 1  ( EA) ti Cit1  Cit  ( EA) ti  ( EA) ti 1 C it  Cit1 

 ( AC ) ti 1  ( AC ) ti 
kAC  k  

 2 

Modelagem de Qualidade da Água


84
Re-arranjando-se a equação acima tem-se:

F  Cit11  G  Cit 1  H  Cit11  I Eq. 3-14

onde os coeficientes F, G e H dependem de parâmetros do instante futuro t+1, e o coeficiente I dos


parâmetros no instante t. A solução é obtida a partir das condições de contorno de montante e jusante,
de forma iterativa.

1 t 1 1 1
F
6t
Ai 1 
4x
Qit11  2

( EA) ti 11  ( EA) ti 1 
4x

2 t 1 1 1 1
G
3t
Ai 
4x
Qit11  2

( EA) ti 11  ( EA) ti 1  2
  k

( EA) ti 1  ( EA) ti 11  Ait 1
2
4x 4x

1 t 1 1 1
H
6t
Ai 1 
4x
Qit11  2

( EA) ti 1  ( EA) ti 11 
4x

1 1 t t 2 1 1
I 
t  6 3 6

Ai1Ci1  Ait Cit  Ait1Cit1   
Qit1Cit1  Qit1Cit1  
 4x

1
4x 2
    
( EA)ti1  ( EA)ti Cit1  Cit  ( EA)ti  ( EA)ti1 Cit  Cit1  Ait
k
2


t 1 I  F  Cit11  H  Cit11
C i  Eq. 3-15
G

4 REFERÊNCIAS

James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13
Chapra, S.C. and Pelletier, G.J. 2003. QUAL2K: A Modeling Framework for Simulating River and
Stream Water Quality: Documentation and Users Manual. Civil and Environmental Engineering Dept.,
Tufts University, Medford, MA.,

Guia de Estudo
85
PROCESSOS EM RESERVATÓRIOS E LAGOS
Este capítulo tem por objetivo apresentar os conceitos da análise e modelação de
qualidade das águas em lagos e reservatórios estuários

1 INTRODUÇÃO

A análise e a modelação do decaimento e mistura de poluentes nos ambientes aquáticos é diferente


daquelas feitas para os rios, estuários e mesmo o mar, apesar dos usos da água serem basicamente os
mesmos, como abastecimento de água, recreação e laser, geração de energia e transporte e navegação.
James (1992) destaca as principais diferenças:

a) lagos e reservatórios raramente recebem grandes descargas de matéria orgânica a ponto de


causarem problemas sérios de depleção de oxigênio
b) lagos e reservatórios tem tempo de detenção muito maior do que rios e estuários, o que permite
que as algas sejam dominantes e sensíveis aos nutrientes inorgânicos
c) o tempo de resposta dos lagos e reservatórios à poluição é muito maior do que o dos rios
d) as principais variações nos indicadores de qualidade das águas se dão na vertical

Os principais agentes de deterioração da qualidade das águas armazenadas em lagos e reservatórios, a


partir dos elementos orgânicos e inorgânicos conservados na área inundada (caso dos reservatórios) ou
introduzidos durante e após a inundação são:

a) Carreamento de nutrientes das habitações


pelos esgotos e do solo agrícola pelas
enxurradas, respectivamente (em especial
o fósforo, nitrogênio e carbono);
a.
b) Transporte de sedimentos da bacia de
drenagem (areia, silte e argila) e
decomposição da matéria orgânica de
plantas e animais (algas, plâncton, etc.)
existentes no próprio lago/reservatório; e
c) Introdução de produtos tóxicos
(pesticidas e metais pesados),
organolépticos (clorofenóis) e seres
patogênicos, pelo ar, pelos esgotos e pela Figura 43: Agentes de alteração da qualidade de lagos
chuva (ácido sulfúrico, mercúrio, etc.). e reservatórios

Nutrientes são elementos essenciais ao desenvolvimento da biota aquática e que podem, em excesso,
provocar a eutrofização dos lagos e reservatórios, ou seja, o seu enriquecimento exagerado, com danos
consideráveis para o meio ambiente. Os principais nutrientes são o Fósforo, Nitrogênio, Carbono e
Sílica
Os sedimentos são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios graças
ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição de
matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.
As substâncias tóxicas permanecem retidas por mais tempo nas águas e sedimentos dos lagos e
reservatórios do que na água corrente dos córregos e rios, aumentando naqueles o risco à exposição em
termos de concentração e duração, quer para a biota aquática como para o homem, que depende da água
para beber ou de alimentos, como os peixes, retirados dos mesmos.

Guia de Estudo
86
Os parâmetros comumente utilizados para o estudo dos lagos e reservatórios são os seguintes:

Físicos: Luz Solar, Temperatura, Turbidez, Sedimentos e Cor


Químicos: Oxigênio Dissolvido, Salinidade, pH, Alcalinidade, Fosfatos e Nitratos e Outros
Bióticos: - Fitoplâncton, Zooplâncton, Peixes, Crustáceos, Invertebrados aquáticos
Hidrológicos: Área da superfície, Descarga ou vazão, Tempo de detenção, Flutuação do N.A.,
Profundidade, Continuidade
Geomorfológicos: Cobertura vegetal da bacia, Aglomerados urbanos, Mata ciliar e ripária, Evolução da
paisagem

2 PARÂMETROS DE ANÁLISE DE LAGOS E RESERVATÓRIOS


2.1 Parâmetros Físicos
2.1.1 Radiação Solar

A absorção e redução da luz pela coluna d´água são os principais fatores que controlam a temperatura e
a fotossíntese. A fotossíntese interfere na cadeia alimentar e fornece a maior parte do oxigênio
dissolvido encontrado na água dos lagos e reservatórios. Os raios do sol são a maior fonte de calor para
a coluna d´água e colaboram na formação dos ventos e na movimentação da água.

Ao penetrar na coluna d´água, a radiação solar sofre profundas alterações, tanto na sua intensidade
como na qualidade espectral. Estas alterações dependem, basicamente, das concentrações de material
dissolvido e em suspensão. Destacam-se: a) mudança de direção; b) absorção e transformação em
clorofila e calor; c) dispersão; etc. A soma da absorção e da dispersão, provoca a atenuação vertical da
radiação, cujo coeficiente k pode ser calculado pela expressão:
ln L0  ln L
k
z

onde Lo é a radiação na superfície, L é a radiação numa dada profundidade e z é a profundidade em


metros.

A tabela abaixo mostra o coeficiente de atenuação vertical médio e seus limites, segundo Williams e
Vicent (1984), em diferentes tipos de lagos temperados:

Tabela 2-1Coeficiente de Atenuação Vertical (k)

Tipos de Lagos KL Limites


Oligotróficos 0,19 0,10 - 0,28
Mesotróficos 0,53 0,28 - 0,90
Eutróficos 1,86 0,97 - 3,20
Ricos em húmus 2,51 0,81 - 4,51
Túrbidos 6,70 0,34-35,30
FONTE: Fundamentos de Limnologia,Esteves,1998.

A intensidade da luz solar na superfície varia com a estação do ano e com a nebulosidade, diminuindo
com a profundidade da coluna d´água. A fotossíntese ocorre até aonde a luz alcança em profundidade.
Guia de Estudo
87
A taxa de diminuição da luz com a profundidade depende do tipo e da quantidade de substâncias
dissolvidas (compostos orgânicos da decomposição vegetal) e dos materiais em suspensão (partículas
do solo da bacia, algas e detritos) na água.

A transparência da água varia de alguns centímetros a dezenas de metros. Esta região da coluna d´água
chama-se zona eufótica e varia com a capacidade da água em atenuar a radiação subaquática e
corresponde à profundidade onde a intensidade da radiação solar equivale a 1% daquela que atinge a
superfície. A transparência da água pode ser estimada a partir de um instrumento simples denominado
Disco de Secchi, que permite ainda, de forma indireta, a estimativa do coeficiente de extinção da luz KL.

Figura 44: Disco de Secchi

Figura 45: Exemplo de aplicação do disco Secchi

Embora a profundidade do disco de Secchi não forneça dados sobre a qualidade e a quantidade de
radiação solar, pode-se utilizá-la para o cálculo indireto do coeficiente vertical de atenuação através da
expressão de Poole e Atkins (1929), na qual a profundidade de Secchi é aproximadamente o inverso de
k, ou seja:

1,7
kL 
ZS

A profundidade máxima na qual as algas e as macrófitas (plantas aquáticas) podem se desenvolver é


ditada pelos níveis de luz. Estima-se que nesse ponto a quantidade de luz disponível seja reduzida à
metade ou totalmente daquela encontrada na superfície. É a chamada zona eufótica. Corresponde,
aproximadamente, de 2 a 3 vezes o limite de visibilidade indicado pelo disco de Secchi.

Modelagem de Qualidade da Água


88
Alguns pesquisadores brasileiros (p.ex., Ishii, 1987) assumem o valor da profundidade do disco de
Secchi como sendo aquele que corresponde a 10% da
radiação superficial.

Uma vez que a fotossíntese depende


fundamentalmente da luz, mudanças significativas da
sua penetração na coluna d´água, também produzirão
uma variedade de efeitos (diretos e indiretos) químicos
e biológicos. As variações acentuadas na transparência
da água de um lago, geralmente, são o resultado das
atividades do homem; quase sempre estão associadas
às atividades de uso da terra em sua bacia de
contribuição.

Figura 46: Exemplo do compostamento da penetração


da luz

Tabela 2-2: Exemplos de Aplicação do Disco Secchi e estimativa do Estado trófico


LAGO Profundidade Secchi Zona Eufótica Estado Trófico
Lake Tahoe 40 90-136 Oligotrófico
Lake Superior 15 - 20 46 - 60 Oligotrófico
St. Louis Riv. 0.7 5 Sedimento
Ice Lake, MN 2–5 6 - 15 Mesotrófico
Halsted Bay, MN 0,5 <2 Eutrófico

2.1.2 Temperatura da Água

A temperatura da água é ditada pela radiação solar, salvo nos casos de despejos industriais, de
termelétricas e de usinas atômicas que operem nas margens do lago ou reservatório. A temperatura
exerce maior influência nas atividades biológicas e no crescimento. Também governa os tipos de
organismos que podem viver ali: peixes, insetos, zooplâncton, fitoplâncton e outras espécies aquáticas,
todas têm uma faixa preferida de temperatura para se desenvolverem. Se essa faixa for ultrapassada
(para menos ou para mais), o número de indivíduos das espécies diminui até se extinguirem totalmente.

A temperatura também influi na química da água. A água


fria, por exemplo, contém mais Oxigênio dissolvido do
que a água quente e, por outro lado, alguns compostos são
mais tóxicos para a vida aquática nas temperaturas mais
elevadas. A relação entre a temperatura, o oxigênio
dissolvido e a profundidade pode ser melhor visualizada
na figura ao lado

A Tabela abaixo apresenta, em linhas gerais, a importância


da temperatura para a biota aquática.
Figura 47 Perfil de T O2 e Osat ao longo da
profundidade Tabela 2-3: Relação entre a Temperatura e a Vida Aquática nos Lagos de Clima Temperado
(Hemisfério Norte)

TEMPER. NÍVEL VIDA AQUÁTICA


menor14oC baixa Poucas plantas, truta, poucas doenças.
Guia de Estudo
89
15 a 20oC média Algumas plantas, besouros d´água, algumas doenças.
21 a 27oC alta Muitas plantas, carpa, bagre, muitas doenças de peixes.
maior 27oC muito alta A temperatura começa a reduzir a vida aquática.

A temperatura comanda uma importante característica física da água: a densidade. A água difere da
maioria dos compostos porque ela é menos densa no estado sólido do que no seu estado líquido (o
normal). Conseqüentemente, o gelo flutua enquanto a água em temperaturas um pouco acima da
temperatura de congelamento tende a afundar. A água é mais densa a 4ºC e torna-se menos densa tanto
nas temperaturas inferiores como superiores a esse limite.

1,005

0,995

0,99

0,985

0,98

0,975

0,97
y = 7,9719E-09x 3 - 5,3788E-06x 2 + 4,3801E-05x + 9,9984E-01
0,965
R² = 9,9999E-01
0,96
0
0,955
0 20 40 60 80 100 120
Temperatura (ºC) Estado Físico Densidade (g/cm3)

Figura 48: Relação entre a densidade e a temperatura da água

A figura acima mostra a relação entre a temperatura e a densidade da água destilada. Quando as
diferenças de temperatura geram camadas d´água com diferentes densidades, formando uma barreira
física que impede que se misturem e se a energia do vento não for suficiente para misturá-las, o calor
não se distribui uniformemente na coluna d´água, criando assim a condição de estabilidade térmica, e o
ecossistema aquático é considerado estratificado termicamente. Os estratos ou camadas formados
freqüentemente estão diferenciados física, química e biologicamente. Além da temperatura, a salinidade
da água, por sua maior densidade, também provoca estratificação de camadas nos lagos.

Figura 49: Estratificação térmica em um lago

Em lagos de regiões tropicais, os fenômenos de estratificação da massa d´água ocorrem de maneira


diferenciada daqueles de regiões temperadas. Nestes lagos (inclusive no Brasil), o mais comum é a
Modelagem de Qualidade da Água
90
ocorrência de estratificação e desestratificação diária ou estratificação durante a primavera, verão e
outono, com desestratificação no inverno.

Por outro lado, com níveis de temperatura mais elevadas (superiores a 20oC, comuns nas regiões
tropicais), não há necessidade de grandes diferenças de temperatura entre as sucessivas camadas, para
que se processe a estratificação térmica da coluna d´água. A explicação, mais uma vez, está na forma da
curva Temperatura-Densidade. Diferenças de apenas 1oC, nos lagos tropicais, podem provocar e manter
a estratificação estável da coluna d´água, segundo Coelho, da UFMG.

Segundo Thienemann, quando a relação volume do epilímnio/volume do hipolímnio é igual ou menor


do que um, o lago é oligotrófico, pois o hipolímnio tem volume suficiente para armazenar grandes
quantidades de oxigênio. Ao contrário, quando esta relação é >1, o lago é eutrófico (e tem perfil
clinogrado), pois o pequeno volume do hipolímnio não permite armazenar o oxigênio suficiente para
manter o metabolismo da comunidade sem causar déficit. Assim, a concentração de oxigênio ao longo
da coluna d´água (segundo Esteves) em lagos temperados, no verão, pode ser utilizada como indicador
do nível trófico destes ecossistemas. O mesmo não ocorre nos lagos de clima tropical, visto que a
decomposição da matéria orgânica morta (detrito orgânico) no hipolímnio de um lago tropical é 4 a 9
vezes mais rápida (pois a temperatura é, pelo menos, 20oC maior) do que no hipolímnio de um lago
temperado. Este fato implica, pois, num consumo de O2 de 4 a 9 vezes maior no hipolímnio de um lago
tropical.

Numa situação sem turbulência, o perfil de temperatura seria igual ao da curva exponencial de extinção
da luz. São vários os impactos da estratificação sobre a qualidade da água; sendo este, na verdade, o
principal fator de interferência nessa qualidade. A estratificação térmica foi observada na prática, pela
primeira vez, em 1880 em lagos suíços.

Figura 50: Perfil de Oxigênio e de Temperatura um lago em região de clima temperado

As camadas de estratificação são consideradas conforme a figura:

Guia de Estudo
91
EPILIMNIO: quente, menos denso, turbulento
HIPOLIMNIO: frio, mais denso, menos turbulento
METALIMNIO: forte variação de temperatura e contém
o TERMOCLINA, que é um plano definido pelo maior
gradiente de temperatura ou, no perfil de Oxigênio, a
OXICLINA

A posição do metalímnio depende basicamente da


quantidade de energia transferia para o lago, e que é
Figura 51: Camadas de estratificação térmica
capaz de concretizar a mistura vertical das camadas.
Desta forma, a profundidade de ocorrência da termoclina, ou seja, a separação ideal das camadas, será
basicamente função da radiação solar e do vento.

2.1.3 Turbidez

A turbidez é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água,
conferindo uma aparência turva à mesma. Essa medição é feita com o turbidímetro ou nefelômetro, que
compara o espalhamento de um feixe de luz ao passar pela amostra, com o de um feixe de igual
intensidade, ao passar por uma suspensão padrão. Quanto maior o espalhamento, maior será a turbidez.

Os valores são expressos, normalmente, em Unidades Nefelométricas de Turbidez - UNT, ou em mg/l


de Si02 (miligramas por litro em Sílica). A Cor da água (>15 unidades de cor) e as partículas de
carbono, interferem na medida da turbidez devido às suas propriedades de absorverem a luz. As
amostras devem ser analisadas logo após a coleta (que deve ser feita em recipiente de vidro ou de PVC
bem limpos), pois a turbidez pode mudar se a amostra for armazenada por um certo tempo.

As principais causas da turbidez da água são: presença de matérias sólidas em suspensão (silte, argila,
sílica, coloides), matéria orgânica e inorgânica finamente divididas, organismos microscópicos e algas.
A origem desses materiais pode ser o solo (quando não há mata ciliar); a mineração (como a retirada de
areia ou a exploração de argila); as indústrias; ou o esgoto doméstico, lançado no manancial sem
tratamento. O exame microscópico e observações in loco do manancial podem ajudar a determinar as
causas da turbidez. Esses materiais se apresentam em tamanhos diferentes, variando desde partículas
maiores (> 1 um), até as que permanecem em suspensão por muito tempo, como é o caso das partículas
coloidais (diam.=10^-4 a 10^-6 cm).

Há que se distinguir entre a matéria suspensa ou sedimento, que precipita rapidamente, daquela que se
precipita vagarosamente e que provoca a turbidez. A turbidez é encontrada em quase todas as águas de
superfície, em valores elevados (até 2.000 mg/l de SiO2), mas está normalmente ausente nas águas
subterrâneas.

As águas de lagos, lagoas, açudes e represas apresentam, em geral, baixa turbidez, porém variável em
função dos ventos e das ondas que, nas rasas, podem revolver os sedimentos do fundo. Via de regra,
após uma chuva forte, as águas dos mananciais de superfície ficam turvas, graças ao carreamento dos
sedimentos das margens pela enxurrada. Assim, os solos argilosos e as águas em movimentação,
ocasionam turbidez.

A turbidez, além de reduzir a penetração da luz solar na coluna d´água, prejudicando a fotossíntese das
algas e plantas aquáticas submersas, pode recobrir os ovos dos peixes e os invertebrados bênticos (que
Modelagem de Qualidade da Água
92
vivem no fundo). Os sedimentos em suspensão podem carrear nutrientes e pesticidas, obstruindo as
guelras dos peixes, e até interferir na habilidade do peixe em se alimentar e se defender dos seus
predadores. As partículas em suspensão localizadas próximo à superfície podem absorver calor
adicional da luz solar, aumentando a temperatura da camada superficial da água.

A Tabela abaixo apresenta a turbidez recomendada em alguns usos da água.

Tabela 2-4: Limites de Turbidez Recomendados


USOS DA ÁGUA UNT
Água potável < 0,5 a 5,0
Água subterrânea típica < 1,0
Piscicultura 10 a 40

2.1.4 Sedimentos

Os SEDIMENTOS são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios
graças ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição
de matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.

A dinâmica dos sedimentos compreende 3 fases em sequência:


a) o arraste de partículas ou decomposição de seres vivos;
b) a sedimentação desses materiais ou a precipitação de elementos; e
c) o acúmulo, deposição ou armazenagem dos mesmos no leito dos lagos e reservatórios.

As principais ligações ou interfaces dos sedimentos com os lagos e reservatórios são:

a) Assoreamento
b) Turbidez
c) Fonte de alimentos e habitat para a fauna
d) Retenção de produtos tóxicos

Segundo o Guia de Avaliação de Assoreamento de Reservatórios da Agência Nacional de Energia


Elétrica - ANEEL (Newton O. Carvalho, Brasília, 132 p., 2000), em relação ao aspecto
sedimentológico, as barragens geram uma redução das velocidades da corrente provocando a deposição
gradual dos sedimentos carreados pelo curso d´água, ocasionando o assoreamento, diminuindo
gradativamente a capacidade de armazenamento do reservatório e podendo vir a inviabilizar a operação
do aproveitamento, além de ocasionar problemas ambientais de diversas naturezas.

Segundo a mesma fonte, valores de produção de sedimento altos,


como 200 t/km2.ano, são muito prejudiciais, podendo afetar o Tabela 2-5: Valores de produção de sedimentos
aceitáveis (t/km2.Ano)
reservatório com depósitos indesejáveis. Segundo critérios
Tolerância Produção
internacionais, pode-se considerar os valores da Tabela abaixo
Alta 175
como indicação para estudos.
Moderada 70 a 175
Baixa 35
A turbidez da água é uma conseqüência direta do arraste e
deposição dos sedimentos no leito dos lagos e reservatórios e apresenta danos ecológicos (alguns
Guia de Estudo
93
temporários), tais como: a) impedimento à penetração da luz solar e, portanto, dificultando a
fotossíntese; b) recobrimento dos ovos de peixes e outros animais aquáticos e dos seus habitats; e c)
outros inconvenientes.

Os sedimentos como alimento e habitat cumprem uma função ecológica muito importante nos lagos e
reservatórios. Existe toda uma comunidade bentônica que se alimenta dos detritos (ou sedimentos) aí
depositados: peixes (como o bagre da foto), invertebrados aquáticos, e outros.

A retenção de produtos tóxicos pelos sedimentos é, possivelmente, o maior dano ecológico, depois da
eutrofização . Os sedimentos podem ser considerados a memória de um lago. São neles que a poluição
já ocorrida fica acumulada e armazenada. São medidos em mg/kg de peso seco de Fe, Zn, Mn, Cu, Pb,
Cr, Ni, Cd, Hg, etc.

2.1.5 Cor

A Cor é uma característica da água que pode fornecer ao pesquisador importantes indícios de
fenômenos naturais (lavagem do solo pelas enxurradas, p.ex.) ou da efeitos antrópica (proliferação de
algas devido o lançamento de esgotos) ao lago ou reservatório. Dependendo de sua intensidade, pode
interferir na medição da transparência e da turbidez.

Como as descrições verbais são inseguras e subjetivas, ao se registrar a cor da água de um manancial, é
desejável que se utilize um padrão reprodutível de comparação. A Tabela abaixo apresenta as cores
mais encontradas na água dos lagos e reservatórios.

Tabela 2-6: Cores Usuais e Suas Prováveis Causas


CORES DA ÁGUA ORIGEM PROVÁVEL
Azul Pouco material em suspensão
Verde Rica em fitoplâncton e outras algas
Vermelha Certos tipos de algas ("maré vermelha")
Materiais orgânicos dissolvidos, substâncias úmicas do solo, turfa ou material
Amarela/Marrom
deteriorado de plantas
Mistura de cores Escorrimento de água no solo

2.1.6 Oxigênio Dissolvido

Assim como os animais terrestres, os peixes e outros organismos aquáticos precisam de Oxigênio para
viverem. O Oxigênio também é necessário para muitas reações químicas que são importantes para o
funcionamento do lago ou reservatório. As principais fontes de Oxigênio para os lagos e reservatórios
são:

 A fotossíntese gerada pela flora aquática


 A atmosfera em contato com a água (ventos, ondas, correntes)
 A liberação através de reações químicas que ocorrem na água.

Modelagem de Qualidade da Água


94
A Tabela ao lado mostra a influência do Oxigênio Dissolvido para a
Tabela 2-7Caracterização do OD nos
fauna aquática. Os principais responsáveis pela retirada do Oxigênio lagos e reservatórios
da água são:
OD causa
zero anoxia
 A respiração da fauna e o consumo da flora aquática 1a2 pobre
 A decomposição da matéria orgânica presente 3a5 estresse
 As reações químicas entre os produtos 7 a 14 OK

Tabela 2-8: Consumo do O2 nos lagos e reservatórios


A Tabela ao lado mostra o consumo de
CAUSAS CONSUMO Oxigênio da água dos lagos e
Cada 1.000 kg de relvas 120 kg reservatórios e suas causas
1.000 kg de árvores e arbustos 60 kg
1 kg de aguapés 0,74 kg/m2.d

4.1.1 Salinidade

A salinidade mede a quantidade de sais dissolvidos nas águas dos lagos e reservatórios. Enquanto nas
águas salobras a unidade de medida da Salinidade é o ppm ou "partes por milhão" ou o mg/l (miligrama
por litro), nas águas doces, uma unidade usual é o ppb (partes por bilhão) ou mesmo o ppt ou "partes
por trilhão". Na água do mar, a Salinidade costuma ser de 35 ppt, enquanto na água doce, é comum 0,5
ppt.

A Salinidade é maior no Verão e menor no Inverno. A evaporação pode, também, aumentar a


Salinidade. Por outro lado, as chuvas costumam diminuir a Salinidade.

Na ausência de quaisquer organismos vivos, o lago dispõe de uma grande série de íons e moléculas
oriundos da intemperização dos solos de sua bacia de drenagem, da atmosfera e do seu leito. Portanto, a
composição química de um lago é fundamentalmente uma função do seu microclima (que afeta sua
hidrologia) e da sua bacia geológica.

Todo lago ou reservatório possui um balanço de íons dos seus três maiores ânions e dos seus mais
importantes cátions. A Tabela abaixo dá uma idéia dessa composição média

Tabela 2-9: BALANÇO DE ÍONS PARA A TÍPICA ÁGUA DOCE


(Rios, Lagos e Reservatórios)

ânions % cátions %
HCO3 73 Ca 63
SO4 16 Mg 17
Cl 10 Na 15
K 4
outros <1 outros <1

O balanço de íons significa a soma dos íons negativos igual a soma dos cátions positivos, quando
expressos em miliequivalentes. Estes íons estão geralmente presentes nas concentrações de mg/l
(miligramas por litro, partes por milhão ou ppm), enquanto outros íons, tais como os nutrientes: fosfato,
nitrato e amônia, estão presentes nas dosagens de g/l (microgramas por litro, partes por bilhão ou ppb).
Os sais, como sabemos, são produtos químicos formados pela reação de um ânion com um cátion;
assim, quando o ânion cloreto (Cl) encontra o cátion cálcio (Ca), forma-se o Cloreto de Cálcio ou
Cl2Ca.

Guia de Estudo
95

A quantidade total de íons presentes em uma amostra de água é chamada de SDT (sais dissolvidos
totais). Tanto a concentração de SDT como as quantidades relativas ou proporções dos diferentes íons,
influem nas espécies de organismos que podem melhor se desenvolver nos lagos, além de participarem
de muitas reações químicas importantes que ocorrem nas suas águas.

2.1.7 pH

O pH de uma amostra de água é a medida da concentração de íons Hidrogênio. O pH da água determina


a solubilidade (quantidade que pode ser dissolvida na água) e a disponibilidade biológica (quantidade
que pode ser usada pela biota aquática) dos constituintes
químicos, tais como os nutrientes (P, N e C) e metais
pesados (Pb, Cu, Cd e outros). A figura abaixo mostra a
Escala do pH. Lagos ácidos tendem a ter águas claras,
porque contêm pouca ou nenhuma alga. Também podem
não conter peixes. Uma ligeira acidificação da água
aumenta a solubilização dos fosfatos, fazendo com que
maiores quantidades de fósforo solúvel passem à água em
menos tempo.

Figura 52: Escala de pH

Tabela 2-10: Influencia do pH nos lagos


pH SIGNIFICADO
>=8,5 Sob fotossíntese vigorosa
6,5 a 8,5 Normal
6a7 Levemente ácido
5,6 Água da chuva (referência)
5,5 a 6 Sob perigo
5 a 5,4 Estado crítico
<5,4 Acidificado

2.1.8 Alcalinidade

A Alcalinidade é a medida total das substâncias presentes na água, e capazes de neutralizarem ácidos.
Em outras palavras, é a quantidade de substâncias presentes na água e que atuam como tampão. Se
numa água quimicamente pura (pH=7) for adicionada pequena quantidade de um ácido fraco seu pH
mudará instantaneamente. Numa água com certa alcalinidade a adição de uma pequena quantidade de
ácido fraco não provocará a elevação de seu pH, porque os íons presentes irão neutralizar o ácido.

Se um manancial tem abundância de material tampão (alta alcalinidade), ele é mais estável e resistente
às variações de pH. Se, por outro lado, volumes crescentes de ácidos (a chuva ácida, por ex.) são
adicionados ao lago, a sua capacidade tampão é consumida. Se os solos e rochas do entorno
acrescentam material tampão adicional, a alcalinidade pode, eventualmente, ser restaurada. Mesmo uma
perda temporária da capacidade tampão pode permitir que sejam atingidos níveis de pH perigosos para a
vida aquática.

Modelagem de Qualidade da Água


96
Tabela 2-11Alcalinidade e Capacidade Tampão

ALCALINIDADE SIGNIFICADO
<10 ppm Baixa capacidade tampão
20 a 200 ppm Boa capacidade tampão

2.1.9 Parâmetros Hidrológicos

Os principais parâmetros hidrológicos dos lagos são a Área da superfície, a Descarga ou vazão afluente
e efluente, o Tempo de detenção, a Flutuação do N.A., a Profundidade e a extensão de ação do vento.

As represas ou reservatórios são ambientes que diferem dos lagos, fundamentalmente, por 2 fatores: a)
introdução constante de sedimentos e nutrientes dos seus tributários; e b) a água é renovada com maior
frequência, pela ação dos vertedores (menor tempo de concentração ou de residência = volume/vazão).

2.1.10 Tempo de Detenção

Em termos de comportamento ambiental, quanto mais rápido o lago renova as suas águas (menor tempo
de detenção) melhor, pois assim os poluentes são expulsos antes que causem danos maiores à biota
aquática e ao homem que usa a água e os peixes do mesmo. Mais rápido, também, ele responderá às
atividades de controle da poluição na bacia.

volume total
t 
vazão de saída
r

onde T é o tempo de detenção (dias); V é o Volume do reservatório (m3) e Q a Descarga ou vazão (m3/s
x 86.400s).

Tundisi e Straskraba, em seu livro Diretrizes para o Gerenciamento de Lagos, classificam os


reservatórios em três grupos, segundo o seu Tempo de detenção:

a) tR<=15 dias: Curto (reservatório com correntes longitudinais rápidas);


b) tR =15 a 365 dias: Médio; e
c) tR >365 dias: Longo.

Tabela 2-12: Classificação dos Lagos em função do tempo de detenção


TEMPO DET. SIGNIFICADO
< 10 dias similar a rio
10 dias a 1 ano intermediário
> 1 ano caract. lacustre
1 a 20 anos pequeno
20 a 200 anos médio
> 200 anos grande

Guia de Estudo
97

Tabela 2-13: Características das 10 maiores Usinas Hidrelétricas do Brasil


Nome Rio UF V(km3) A(km2) L(km) H(m) Q(m3/s) C(MW) U(cd) T(d)
Itaipu Paraná MS 29.000 1.460 170 128 12.420 12.600 18 27
Mascarenhas Doce ES 51.800 4 0,5 2 14.500 122 3 41
Sobradinho S.Francisco BA 34.116 4.214 8,5 20 22.080 1.050 6 18
Furnas Grande MG 22.950 1.450 0,5 2 13.000 1.216 8 20
Ilha Solteira Paraná SP 21.060 1.200 5,1 47 34.283 3.230 20 7
Porto Prim. Paraná SP 20.000 2.250 10,3 19 52.800 1.854 18 4
Tres Marias S. Francisco MG 15.278 1.142 2,7 55 8.800 387 6 20
Emborcação Paranaíba MG 12.521 455 1,5 130 7.700 1.192 4 19
Água Verm. Grande SP 11.025 647 0,2 55 19.848 1.380 6 6
Capivara Paranapanema SP 10.540 515 1,5 49 17.248 640 4 7

2.1.11 Variação do Nível d´água e Profundidade Média

A flutuação do nível d´água pode ser um fenômeno natural e sazonal (em função da evaporação) ou
artificial, ditado pela(s) abertura(s) da(s) comporta(s) de uma hidrelétrica, por exemplo.

Essa flutuação interfere na área do lago, no volume remanescente, na profundidade média, na


penetração da luz solar e, nos casos extremos, no revolvimento do lodo do fundo pelas ondas e pelas
embarcações, prejudicando a biota aquática.

No caso das represas, como durante o ano há flutuação da descarga nos tributários, dependendo do seu
volume, estas podem sofrer oscilação significativa em seu N.A.

Teoricamente, o local mais profundo de um lago, fica na intersecção do comprimento com a largura
máximos; enquanto nas represas ou reservatórios, geralmente, fica próximo à barragem.

A profundidade mais representativa para um lago é a profundidade média, obtida quando se divide a
área da seção transversal pela largura média. A profundidade do lago ou reservatório tem a ver com a
penetração da luz solar na coluna d´água (zona fótica) e com a possibilidade da ocorrência da inversão
térmica.

As relações de área superficial e volume em um lago são importantes pois determinam as porções
sujeitas à mistura e a penetração da luz. Pode-se representar a forma geométrica de um lago
considerando-se a idealização proposta por Junge (1966):

P  6 ZZmed
max
3
onde Zmed é aprofundidade média e Zmáx a máxima atingida pelo reservatório e P é o parâmetro de forma
do reservatório, entre –1 e 1.

Modelagem de Qualidade da Água


98
Reservatórios artificiais de águas rasas tem relações Cota x área x volume elipsóides e P é da ordem de
0,6. Reservatórios em rio são geralmente elípticos e P=-1, enquanto lagos naturais podem comportar-
se na faixa –1 e 1.

Para um dado parâmetro de forma, pode-se estimar a relação adimensional cota-area-volume através das
relações:

2
Z  Z 
A(%)  (1  P)  P 
Z max  Z max 

2 3
Z  Z   Z 
V (%)  6  3(1  P)   2 P 
Z max  Z max   Z max 

onda A(%) V(%) são respectivamente a fração de área e volume acima da profundidade Z. Desta forma,
a fração de volume contida no epilímnio pode ser obtida através do cálculo d v(%) para a profundidade
correspondente à profundidade de mistura.

2.1.12 Continuidade (Fetch)

A importância hidrológica de um lago não é medida apenas pela sua extensão (comprimento e largura),
mas também pela continuidade do seu espelho dágua, cuja maior medida em linha reta (sem cortar
qualquer obstáculo físico como ilhas e penínsulas) é chamada de fetch. A equação de Stevenson-Molitor
é usada no cálculo da altura de ondas em reservatórios:

h  0,092 W  f 0,2614 f  0,76

onde W é a velocidade do vento(km/h) e f é o fetch(km)

As ondas, como se sabe, interferem na agitação da massa líquida (aumentam a turbidez) e facilitam a
dissolução do oxigênio do ar na água.

2.2 Parâmetros Biológicos

Um lago típico possui zonas distintas de comunidades bióticas relacionadas à sua estrutura física. A
zona litorânea fica próxima ás margens e onde a luz solar penetra até o fundo, permitindo assim a
existência de plantas aquáticas ou macrófitas (emersas, flutuantes e submersas) e delimitando a zona
eufótica. A zona bêntica é formada pelos sedimentos e detritos que se acumulam no fundo do lago ou
reservatório.

A biota é de fundamental importância para o estudo e o controle dos metais pesados e outras substâncias
tóxicas inorgânicas presentes nos sistemas lacustres. Micróbios, plantas e animais desempenham papéis
significativos na determinação do transporte, formas químicas e transferência de metais para diversos
locais, porém o fator mais importante é o efeito dessas substâncias
Guia de Estudo
99

Figura 53: Zoneamento do Reservatório

2.2.1 Fitoplancton

Os fitoplâncton são algas [principalmente dos grupos Pyrrophyta (dinoflagelados) e Chrysophyta


(diatomáceas)], cuja presença e concentração nos lagos e reservatórios está fortemente associada ao
estado trófico do manancial. As algas (plantas inferiores que não apresentam organização complexa do
corpo e que produzem a fotossíntese) são importantes para o ecossistema lacustre porque:

 Convertem material inorgânico em orgânico (através da fotossíntese)


 Oxigenam a água (ainda através da fotossíntese)
 Servem como base essencial para a cadeia alimentar
 Afetam a quantidade de luz solar que penetra na coluna d´água

Como muitas plantas superiores, as algas precisam de luz, de suprimento de nutrientes inorgânicos e de
faixas específicas de temperatura para crescerem e se reproduzirem. Dentre esses fatores, o suprimento
de nutrientes (especialmente o Fósforo) é um dos principais, pois é ele que ditará a evolução do seu
crescimento.

Há uma série de fatores ambientais que influem no crescimento das algas nos lagos e reserevatórios. Os
principais são os seguintes:

 A quantidade de luz solar que penetra na água (afetada pela intensidade dos raios solares; pela
quantidade de material em suspensão; e pela cor da água);
 A disponibilidade de nutrientes para o crescimento das algas (determinado tanto pela fonte como
pelos mecanismos de remoção);
 A temperatura da água (regulada pelo clima, altitude, lançamento de efluentes, etc.);
 A remoção física das algas (pelo seu afundamento ou saída através de um vertedor);
 O pastoreio da população algal (por peixes, animais microscópicos e outros organismos
(zooplâncton));
 O parasitismo por bactérias, fungos e outros microrganismos; e
 A competição de outras plantas aquáticas por alimento e luz.

Modelagem de Qualidade da Água


100
É a combinação destes e de outros fatores ambientais que determinam o tipo e a quantidade de algas
encontradas em um lago. É importante observar, contudo, que esses fatores estão sempre num estado de
fluxo. Isso porque a multiplicidade de eventos, inclusive a mudança das Estações, o uso dos terrenos da
bacia e as enxurradas que, constantemente, criam "novos ambientes" no lago.

Essas mudanças ambientais podem ou não apresentar ótimos habitats para o crescimento ou mesmo a
sobrevivência de uma espécie particular de alga. Consequentemente há, em geral, uma sucessão de
espécies diferentes de algas no lago ao longo do ano e de ano para ano.

Costuma-se utilizar a concentração de clorofila (em ug/l) para expressar a biomassa fitoplanctônica.
Assim, o estudo do fitoplâncton e da biomassa (Clorofila-a), associado aos parâmetros físicos e
químicos, pode detectar possíveis alterações na qualidade das águas, bem como avaliar tendências ao
longo do tempo, que se reflitam em modificações no habitat ou no comportamento dos organismos
aquáticos. Além disso, a análise dos níveis de clorofila pode estabelecer uma correlação entre a
ocorrência das espécies e a biomassa e, desta forma, buscar indicadores biológicos da qualidade de
água.

As algas (e outras partículas em suspensão) contidas numa amostra de água e retidas em papel de filtro,
serão analisadas em laboratório para a obtenção da concentração da Clorofila-a. Um dos métodos,
consiste na extração, durante 12 horas, com acetona a 90%, dos pigmentos existentes no resíduo da
filtração da amostra de água. Após esse tempo, a solução é centrifugada e o líquido obtido tem sua
absorvância determinada, nos comprimentos de onda específicos (Aminot e Chaussepied, 1983).

A concentração de clorofila-a na água


está diretamente relacionada com a
quantidade de algas presentes no
manancial. A concentração excessiva de
algas confere aos lagos a aparência
indesejável de "sopa de ervilha". As
características da qualidade da água
determinam que espécies de algas estão
presentes. Lagos com elevados níveis de
nutrientes, tendem a suportar um maior
número de algas do que aquelas com
baixo nível desses elementos. Outros
fatores, como: temperatura,
Figura 54: Lago em situação eutrofizada profundidade, pH e alcalinidade, também
influem nas espécies e no número de
algas encontradas nos lagos.

2.2.2 Zooplancton

Lagos e reservatórios, independente de seu tamanho, assim como os grandes rios, são habitados por
inúmeros organismos planctônicos. Esses organismos estão na base da cadeia alimentar e, graças a seu
elevado metabolismo, são capazes de influenciar processos ecológicos fundamentais, como ciclagem de
nutrientes e magnitude da produção biológica. O zooplâncton é constituído de consumidores primários
(herbívoros) e predadores de diferentes níveis tróficos.

Ao contrário dos ambientes marinhos, o zooplâncton dos lagos e reservatórios, é composto de poucos
grupos de invertebrados aquáticos. São animais microscópicos, ou muito pequenos, podendo atingir, em
Guia de Estudo
101
poucos casos, alguns milímetros, que nadam na zona de água aberta dos lagos e reservatórios. Os
principais componentes dessa comunidade são, por ordem de tamanho:

 protozoários: amebas, flagelados, ciliados;


 vermes asquelmintos: rotíferos;
 crustáceos: copépodes e cladóceros;
 insetos: larvas de moscas e de mosquitos; e

Os organismos ciliados, se alimentam de bactérias e algas, a maioria dos microcrustáceos (cladóceros)


se alimentam do fitoplâncton ou são omnívoros (copépodes) e os peixes se alimentam do zooplâncton.
Assim, o zooplâncton serve para melhorar a qualidade da água, já que controla o desenvolvimento do
fitoplâncton através de sua alimentação seletiva.

Alguns representantes do Zooplâncton, como a Daphnia sp. são usados como bioindicadores da
degradação ambiental. O zooplâncton pode afetar diretamente a composição e a quantidade de
fitoplâncton. A composição das espécies e o tamanho atingido pelo zooplâncton são ditados pelos
peixes que dele se alimentam, originando um fator indicativo do aspecto, a longo prazo, da biologia do
manancial. O zooplâncton pode ser regulado artificialmente. O tamanho e a estrutura do zooplâncton
são uma importante variável da qualidade da água.

2.2.3 Peixes

Entre os vertebrados atualmente conhecidos, os peixes formam o grupo mais rico em espécies
(constituem pouco mais da metade do total), atingindo cerca de 24.600 representantes vivos, exibindo
enorme diversidade na sua morfologia, na biologia e nos habitats que ocupam. A importância da espécie
para o comportamento da qualidade da água em lagos é devido aos seguintes fatores:

 Constituem rica fonte de alimentos (proteínas)


 Servem à recreação (pesca esportiva e espécies ornamentais)
 Permitem o manejo ecológico (biomanipulação)
 Podem ser usados como indicadores bióticos.

A classificação dos peixes segundo o hábito alimentar, é a seguinte:

Tabela 2-14: Classificação dos peixes em função do comportamento trófico


Classificação Dieta alimentar
Carnívoro Peixes
Herbívoro Vegetais
Omnívoro Peixes e vegetais
Iliófago Lodo
Detritívoro Detritos
Insetívoro Insetos
Frugívoro Frutas
Invertívoro Moluscos, insetos e invertebrados
Planctófago Plâncton
Larvófago Larvas
Malacófago Moluscos

Modelagem de Qualidade da Água


102
3 MISTURA EM LAGOS

Geralmente os lagos podem ser classificados em função da freqüência de mistura a que obedecem no
tempo:

 Monomíticos: misturam 1 vez


 Dimíticos: misturam 2 vezes
 Polimíticos: misturam várias vezes
 Meromíticos: raramente misturam até o fundo

Em regiões de clima temperado, os lagos são geralmente monomíticos enquanto nos climas tropicais
assumem comportamento polimíticos, dependendo do tempo de residência. Lagos meromíticos estão
usualmente associados a outras formas de estratificação como a estratificação por salinidade. A tabela a
seguir ilustra o tempo de detenção e o tipo de mistura de alguns lagos:

Tabela 3-1: Tempo de detenção e tipo de mistura em lagos brasileiros

Barragem Tr(dias) Prof. Tipo de Diferença de


(m) Mistura temp
Tucuruí 48 70 Monom. 20 C
Três Marias 340 66 Monom. 40 C
Paraibuna, SP 800 104 Monom. 50 C
Americana 30 25 Polim. 50C
Jaguari - Jacareí 510 50 Monom. 70 C

A análise e caracterização do estado mítico de um lago é fundamental para avaliação da qualidade das
águas no mesmo. Em lagos tropicais a estratificação costuma ser bastante estável, porém nas mudanças
de estação, por exemplo inverno-primavera, podem ocorrer freqüentemente situações de mistura
freqüentes em função das variações da temperatura do ar. A mistura nos lagos é condicionada à
quantidade de energia fornecida, tendo como agentes a difusão molecular, a difusão turbulenta, a
dispersão, a advecção e a convecção induzida pela diferença de densidade.

TRABALHO

Figura 55: Condição de mistura em um lago

As fontes de energia para a mistura em lagos são as trocas atmosféricas através da interface ar-água, os
ventos que introduzem turbulência e a advecção, causada pelos fluxos de entrada e saída do lago.

Guia de Estudo
103

3.1 Trocas Atmosféricas

As trocas com a atmosfera envolvem diversos fatores que dependem das condições meteorológicas e da
própria água, destacando-se entre eles a radiação solar e a as trocas convectivas. A radiação solar é o
fator mais importante nas análises que envolvem múltiplas estações, que também influem nas trocas
convectivas.

Hsn= radiação solar

H at =radiação da atmosfera

Hw= radiação emitida pelo corpo d’água

He= calor perdido na evaporação

Hc= trocas convectivas


Hsnr= reflexão da radiação solar

H atr =reflexão da radiação


da atmosfera

TAXA LÍQUIDA DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA


H= (Hsn + Hat – Hsnr – Hatr)– (Hw + He ± Hc)
depende de cond. meteorol. depende da temp.da água
Figura 56: Processos de trocas com a atmosfera

3.1.1 Radiação Solar

A luz solar é importante como fator de controle da fotosíntese e da fotólise. Normalmente as estações
meteorológicas e climáticas fazem observações de radiação solar instantânea, permitindo-se uma análise
estatística do comportamento desta forçante. É usual nos estudos considerar-se a radiação solar como
função senoidal do tempo, admitindo-se um valor médio de potência específica (Langleys/dia = 10
kcal/m2/dia) e uma variação senoidal de período anual:

H max  H min
H sn  H m  sin(0,0174533Dia  1,76)
2

onde Hsn é a potência específica da radiação solar (kcal/m2/dia), Hmax e Hmin representam o máximo e o
mínimo observados e Dia é a data no calendário Juliano (01/01/01 = 1).

O fotoperíodo é um parâmetro fundamental no processamento da fotosíntese e pode ser considerado,


nas aplicações práticas como sendo:

Modelagem de Qualidade da Água


104
Dia
F (horas)  12  A cos(380  248)
365

sendo A o número de horas de luz no dia subtraído de 12 e Dia a data no calendário Juliano. O valor A
pode ser obtido através da equação de Groden (1977) que considera a diferença entre o número de
horas de luz no dia no solstício de verão e no equinócio de inverno:

A  0,1414  Lat  Sinal ( Lat ) * 2,413

onde Lat é a latitude local, positiva par ao hemisfério norte e negativa para o sul. As figuras a seguir
ilustram as variações do fotoperíodo da energia da radiação solar ao longo do ano.
Horas de Insolação / dia

Radiação Solar (kWh por dia)


15 30

14
25
13

12 20

11
15
10 Fortaleza
9 Goiania 10
São Paulo
8
Porto Alegra 5
7

6 0

Figura 57: Variações sazonais da energia e fotoperíodo

3.1.2 Temperatura da Água

A temperatura é um importante fator de controle da qualidade da água no lago, pois influencia


virtualmente todos os processos, tais como a
Temperatura Média Diária ºC

estratificação, decomposição, fotosíntese,


30

respiração, reprodução e mortalidade de 25 0

zooplancton e peixes além dos ciclos químicos 20

como decomposição microbial, volatilização,


hidrólise e a bioacumulação. Por outro lado a
15

temperatura raramete varia de forma rápida nos 10

ecossistemas aquáticos. A estimativa da 5

temperatura para as das vazões de aporte nos


reservatórios e lagos pode ser feita considerando-
0

se apenas a variação do ciclo anual de forma Figura 58: Variação Típica da Temperatura
senoidal, a partir da média e da faixa de variação
observadas em campo:

Tmax  Tmin
T  Tmed  sin(0,0174533(0,987( Dia  Def )  30))
2

onde Tmed é a temperatura média história, Tmax e Tmin os valores máximos e mínimos, Dia a data na
contagem Juliana e Def a defasagem, usualmente adotada em torno de 90 dias (Ward, 1963).

Guia de Estudo
105

3.1.3 Vento

O vento é, freqüentemente, a principal fonte de energia para mistura nos lagos, induzindo ondas na
superfície que criam turbulência e condições de efetivação da mistura no epilímnio. A transferência de

Figura 59: Parâmetros básicos das ondas


energia dos ventos para a água se da na forma de atrito na superfície, que ao se deformar aumenta a taxa
de transferência desta energia, num ciclo auto induzido.

O vento é muitas vezes responsável pela oxigenação e pela volatilização de alguns compostos, sendo
medido diretamente nas estações meteorológicas através dos anemômetros automáticos, situados a uma
altura padrão de 10 m. São medidas a velocidade (m/s) e a direção (º com o N) O vento é considerado
sempre na direção predominante, ou seja, aquela em que permanece a maior parte do tempo.

Figura 60: Registro de anemômetro automático

Modelagem de Qualidade da Água


106
Os ventos causam também deformações maiores na
superfície dos lagos, denominadas seiches ou ‘mares
de vento’, caracterizadas pela inclinação da superfície
livre o que ocasiona alterações de pressão e favorece
as condições de mistura. Os seixes inclinam tanto a
superfície quanto a termoclina do lago.

Em geral, os ventos induzem correntes advectivas


também importantes nos processos de mistura nos
lagos.

Figura 61: correntes Induzidas pelo vento

3.2 Detecção e Estabilidade da Estratificação

Pode-se detectar a estratificação num lago através de diferentes indicadores além das observações de
campo. Nestas, o levantamento de um perfil de temperatura ou de concentração de oxigênio é suficiente
para indicar o comportamento mítico ou estratificado. O tempo de residência (ou retenção) também
permite um prognóstico sobre a estratificação:

 tr < 1 mês - fraca e instável


 tr > 6 meses - bem definida e estável

A relação entre as forças de flutuação e as forças gravimétricas atuantes na partícula no lago,


denominada de Número de Froude Densimétrico também permite a avaliação do estado mítico:

LQ  0
FD << 0.3 estratificado
FD  0.1 < FD < 1.0 estratificação fraca
zV g
> 1.0 misturado

Guia de Estudo
107
sendo L o comprimento do reservatório, Q a vazão média de saída, z a profundidade média, V o volume
do reservatório,  a massa específica e  o gradiente médio de densidade    z

Outro parâmetro importante na identificação da estratificação é o número de Richardson, que permite


avaliar a relação entre as forças de flutuação e as forças de atrito, indicando o efeito da velocidade na
mistura.

g 
 z Ri > 0.25 - estável
Ri 
 u 
2 Ri < 0.25 - instável
 
 z 

Em geral, lagos e reservatórios nas regiões tropicais com grande profundidade e tempo de residência
superior a 6 meses tendem a ter a circulação comandada por fatores meteorológicos, resultando numa
estratificação estável.
Já reservatórios com menos de 20 dias de período de residência, normalmente rasos, tem a circulação
comandada por fatores advectivos, o que leva a uma condição polimítica.

A termoclina, plano onde se localiza a maior variação


de temperatura, também é considerada como
profundidade de mistura (Hanna, 1990). Esta
profundidade pode ser estimada a partir de diversas
relações empíricas e, em geral, se dá onde a variação de
temperatura supera 3ºC

log Z mix  0,336 log( L)  0,245

onde Zmix é a máxima profundidade de mistura e L o


fetch do reservatório em m. Desta forma, o vento está
implícito na fórmula de Hanna. Figura 62: Profundidade de Mistura
(Termoclina)

3.3 Efeito da Salinidade

As diferenças de salinidade criam condições de estratificação semelhantes àquelas provocadas pela


temperatura. O aporte salino aos lagos e reservatórios pode se dar de diferentes formas, detacando-se

 Litologia e geoquímica da bacia


 Evaporação
 Ventos predominantes
 Proximidade com o mar
 Presença de aerossóis na atmosfera

Modelagem de Qualidade da Água


108
A estratificação salina é mais estável do que a térmica, levando a longos períodos sem mistura e anoxia
total no fundo. A figura a seguir ilustra o efeito combinado da temperatura e da salinidade na massa
específica da água.

>T, >S
+leve

<T, <S
+pesado

Figura 63: Efeito da salinidade e temperatura na massa específica da água

A estratificação salina causa muitos problemas ao reservatório, principalmente quando o mesmo se


destina a abastecimento e irrigação, sendo muito difícil a criação de uma condição de favorável a
mistura.

4 MODELOS PARA RESERVATÓRIOS

A modelação de reservatórios pode ser considerada, de acordo com a estruturação espacial adotada
como:

 Modelo zero-dimensional: (concentrado) em que se considera o corpo d´água completamente


misturado, com uma concentração única para cada parâmetro
 Modelo Unidimensional: representação dos fenômenos que ocorrem preponderantemente em
uma direção
 Modelo Bidimensional: para situações em que existem variações preponderante em duas
direções, geralmente no perfil e no plano.
 Modelo Tridimensional:há a necessidade de se representar o fenômeno nas três direções.

Como a estratificação produz reduções substanciais no transporte de massa na vertical, a modelação de


lagos depende basicamente da boa modelagem das condições térmicas. Em geral, quando o objetivo é o
de modelar a qualidade da água numa bacia como um todo, os reservatórios são modelados de forma
concentrada. (0D).

5 REFERÊNCIAS

James, A et all., Water Quality Modelling, 2nd. Ed. John Wiley & Sons Ltd., 1993.
Guia de Estudo
109
Potter, M & Wiggert, D. – Mecânica dos Fluidos Ambiental, Ed. Thompson, 2004.
Chapra, S.C.. Surface Water Quality Modeling. MacGraw-Hill, 1997.
Martins, J.R.S, Hidrodinâmica Bidimensional – Estudo em Modelo Matemático, EPUSP, 1989.
Fortuna, Armando O. – Técnicas Computacionais para Dinâmica dos Fluidos, Ed. USP, São Carlos,
2000.
Pereira, Regis S., Modelos de Qualidade de Água, in ReRH – Revista Eletrônica de Recursos Hídricos
Volume 1 n.1 Jul/Dez 2004, 5-13
Chapra, S.C. and Pelletier, G.J. 2003. QUAL2K: A Modeling Framework for Simulating River and
Stream Water Quality: Documentation and Users Manual. Civil and Environmental Engineering Dept.,
Tufts University, Medford, MA.,
POLUIÇÃO, PROTEÇÃO E USOS MÚLTIPLOS DE REPRESAS. Branco,S.M., CETESB, São Paulo,
p.104, 1977.

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