Modos
Eclesiásticos
' Le istitutloni harmoniche, Parte IV. Em Gioseppe Zarlino, On the medes, traduzido por Vered Cohen,
(NewHaven: Yale Univereity Press, 1983), p. 2.
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o número de modos anticjos diícre de acordo com o autor da época. Exemplo 11 - üs Modos Ec/esiüsticos.
Por exemplo, Platão propõe ouso de seis modos; Aristoxenus utüizu quinze
modos, sendo cinco principais e dez colaterais, acrescentarido-se os prefixos
hipo e hiper aos originais. Ptolemy propõe sele modos, enquanto Aristides !• IVifitu
gos. No entanto, o teórico medieval não compreendeu bem o sistema gre 2- Hipoitóríco É1
go, acarretando diferenças significativas entre eles (Ammer, 1972:68). Ape
nas alguns dos nomes dos modos eram iguais aos dos modos eclesiásticos,
e as escalas antigas eram tidas como descendentes, ao contrário das medie
m -
3- Frfgio
V," •
vais.
Na realidade, o número de modos utilizados pelos antigos e seus no
-v-s-
mes não têm grande importância. E importante apenas reconhecer que, 4- Hipofhgio
conforme o seu uso por músicos modernos, isto e, de acordo com a prática
de colocar os modo" em uma das sete espécies como diapasão dividido -ò ^ A
harmônica e aritmeticamente (Zarlino, 1983:36), existem doze modos, in 5- Udio fcr-
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rico, frígio, lídio, mixolídio, eólio e jônico.
O sistema modal nada mais é do que uma forma de organizar e clas ^ f ^ C
sificar as melodias de cantochão, o qual também gerou uma nova forma de 7- MixoUdio
composição. Os modos eclesiásticos, formados por quatro modos autênti
cos e quatro modos plagais, eram escalas ascendentes. Nos modos autênti
cos, de numeração ímpar, a primeira nota da escala recebeu o nome finalis 8-Hiponiixülfdio
(Exemplo 11). O quinto grau da escala denominou-se confinalis (ou domi
nante).^ Os modos autênticos eram utilizados em ocasiões festivas devido
ao seu caráter mais forte. A confinalis era usada como nota recitante, prin ' f = finalis:
cipalmente nos salmos, onde a mesma nota é entoada para uma grande " c = confinalis.
hym- num De
Uma meíiodiáa-pertencia ao modo autêntico quando sua extensão es
tava contida (ou cquase 'toda contida) entre as notas de sua escala. O mes
mo ocorria com ais ictàos plagais, sendo que estes eram obrigados a termi
Exemplo 14 - LU 1043.
nar na //na/is do steu modo autêntico correspondente. A /ína/ís determina se
a melodia pertencce a ujn dos modos dórico, frígio, lídio ou mixolídio. Po
rém, não eroeciíiicca qual dos modos, se autêntico ou plagal. No Exemplo
D»- mi • ne in aux- i • li • um me um f«-pi • ce' con • a- íurxl
12, retirado do L-iber CJsua/is (LU; uma importante coleção de melodias
gregorianas), a m-iidodia. pertence ao modo dórico, pois termina na nota ré.
No Exempio 13: (LU lt043), o modo é evidentemente lídio, pois finda na
nota fá.
lur Cl le-ve-teon luc qui quae- rum an- i - mam me - am
à
li • bi sii Rex Chns-sie Re-demp - lor: ui au • fe-ranl e-am: Domi - ne in aux-i-
Gla n - 1,
li • um me • um res-pi • «e
Qj . , pu-f rs- l! ik • eus promp-sii iio-san - na pi- um
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38
Exemplo 15 - LU 653.
duste período produzia, dc certa forma, a mesma sensação de modulaçat
na obra moderna. A cadência convincente utiliza a sensível e. quando est<
é ; , , .r -i -; Y 1^, semitom não está presente em um determinado modo, é criado através dt
lui- nu) Uiu-t4u»ni i> VIS ad ^ - OI- miim dii- iiui csl cl iiuii uso de musica jídti.'' Ü modo trígio, no entanto, ê o único modo onde t
semitom é invertido, isto é, ocome acima da /ina/is, enquanto que o grai
abaixo da finaiis é de tom. O ré sustenido nunca é empregado neste modo
Portanto, no modo frígio, o sétimo grau da escala aparece na cadência fi
naí, mas não é a sensível.
Apesar dos modos autênticos e plagais serem escalas distintas, cad.
qual com sua con/Ina/is, o ato de combinar vozes de âmbitos diferentes crioi
a necessidade de se estabelecer uma mesma confinalis para todas as vozes
A identificação do modo somente pela /ína/is e f^xtensão, às vezes optando-se pela confinalis do modo autêntico. Como as vozes, em geral, si
toma-se difícil. Neste caso, o fator determinante é a con/ína/is. Nos Exem distanciavam umas da outras por um intervalo de quarta (baixo e tenor, po
plos 13 e 14, ambas as melodias terminam na nota fá, portanto caracteri exemplo), o uso do modo plagal na polifonia tornou-se meramente um.
zam o modo lídio. No entanto, a primeira enfatiza a con/Ina/is dó, identifi questão de extensão. O caníus/irmus, portanto, era colocado no tenor. C
cando o modo como lídio; na segunda melodia a nota mais enfatizada é lá, início da composição freqüentemente indicava o modo, introduzindo a fi
definindo claramente o modo hipolídio. Compare-se o Exemplo 12 com o na/is ou a confinalis como sua primeira nota; o baixo continha a /Ina/is d(
Exemplo 15. A extensão utilizada nos dois trechos não ultrapassa uma modo autêntico como sua primeira nota. Os oito modos eclesiásticos vigo
quinta; em ambos afincUs é a mesma (ré). A identificação do modo neces raram até os séculos Vlll e IX, quando mais quatro modos foram acrescen
sariamente será feita pela confinalis. No modo autêntico dórico, a con/ina/is tados, por influência de Carlos Magno (Miller. 1941:10): os modos eólio .
é lá, portanto, a segunda nota de maior importância neste modo (Exemplo jônico com suas escalas autêntica e plagais.
12). No modo hipodórico, modo plagal, a confinalis é a nota fá, vista como
nota enfatizada no Exemplo 15. Concluímos, então, que os modos ecle
siásticos são classificados conforme sua jinalis, confinalis e extensão. Tabela 2 - Modos eólio e jônico.
Os modos também são determinados pela sua estrutura intervalar,
N" DO MODO AUTÊNTICO OU PU\GAL CXTENS.ÃO
distinta em cada modo. A disposição e a ordem dos tons e semitons é res NOME DO MODO FINALIS CONFINALIS
9 eólio lá
ponsável pela característica peculiar de cada modo.^ Analise a disposição 10
autentico
plaqal hipocólio lá
mi
dó
lá a lá
lá .1 lá
dos tons e semitons nas oito escalas do Exemplo 11. 13^ autêntico jônico dó sol dó a dó
Com o desenvolvimento da monotonia na idade Média, através do 14 plaqal hipoiónico dó mi dó a dó
40-
Exemplo 16 - Gfe modos tolio e Joi MCÜ. Quanto à escolha do modo na composição de um moteto, madrigal,
ou outra forma musical da época, Zarlino aconselha considerar púmeira-
- /\.
/N rnenle o assunto, isto é. o texto, e depois escolher o modo mais adequado à
Eólio
natureza deste. Depois, deve-se ler o cuidado para que o Icnor permaneça
sempre dentro do modo.... Acima de tudo deve-se compor o tenor (no qual
se baseia toda a composição) de forma regular e bonita, graciosa e doce,
ISpoeóio i para que seja o alicerce e o laço para todas as vozes da composição. (Zar
lino, 1983:92). Como o tenor estabelece o modo em uma composição a
quatro vozes no modo autêntico, por exemplo, o baixo conterá notas do
modo plagal e vice-versa. As outras vozes deverão ser escritas da melhor
Jôaico - - • - o - -t maneira, sem gerar inconveniência à composição (Zarlino, 1983:92).
Musica ficta
f
Hipojòmco
é O sistema modal era baseado nas escalas diatônicas, sem o uso de
acidentes. O primeiro acidente a ser utilizado foi o si bemol, para evitar a
• f= finilis ênfase melódica do trítono fá-si, e também para produzir um som mais de
"c=Confinaiis
sejável, ao cantar-se os intervalos lá-si-lá:
Exemplo 17
Cada modo possuía sua própria individualidade, uma mistura de
grandeza, solenidade e devoção fervorosa. Ocontraste entre um modo au
têntico e plagal, obviamente, era menor do que o contraste de um modo
para outro. Mesmo assim, suas diferenças eram menores do que o atual
contraste entre os modos maior e menor modernos. A principal diferença Poreste motivo, o modo lídio, na verdade, só foi utilizado nos modos
entre os modos é a estrutura intervalar peculiar a cada um, isto é, onde se eclesiásticos monofònicos, ou seja, no cantochão. Como seu IV grau forma
localizam os tons e semitons. O reverendo Thomas Helmore em seu Phin uma tríade diminuta (Exemplo 18), ao ser usado na música polifònica. o si
song (Miller, 1941:10) cita que o próprio Adam de Fulda discriminava os era substituído pelo si bemol, tornando o modo equivalente ao jônico
modos da seguinte forma: transposto (Jeppesen, 1939:74).
Omnibus est primus, sed alter trisíifaus aptus.
Tertias iratus, quartus diciturjieri blandus. Exemplo 18
Quintum da laetis, sexíum pietate probatis.
Septimus estjuuenum; sed postremus sapientium.^
Modo Lídio
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^^ritochão, o SI bemol era utilizado para resolver o problema do do si bemol. Por exemplo, o modo dórico transposto começariacom a nota
tntono, Com o desenvolvimenlo da pollíonia outros acidentes surgiram, sol, conforme mostra o Exemplo 20:
denommando-se esta prática musicn ficta, ou 'música falsa". Esta conota
ção deve-se ao fato dos acidentes não serem inserido'' nas partituras, mas Exemplo 20
subentendidos e executados na prática. Além do si bemol, usava-se fá sus-
tenido, dó sustenido e sol sustenido, principalmente nas cadências {Exem
plo 19), e mi bemol na transposição. Dórico
ri —O-
«»- o
Exemplo 19 - Cadências.
era bemolizado, assim como quando sucedia a nota lá. A nota rii nunca
precedia ou seguia a nota si bemol. Em uma melodia as endente para dó, -V-
Transposição V
Jõnico
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o modo jonico, ou escala moderna de dó maior, apesar de existir há Exemplo 23
multo tempo, era visto como iníerior em qualidade. No entanto, as escalas
lldla e mixoUdia, com a utilização de musica ficta, acabaram se amoldando
aescala rnaior, assim como as escalas dórica, frígia eeólia tomaram-se pre Dórico
Jífa^
Tabela 3
MODO RELAÇÃO COM A NOTA DÓ INVERSO DA RELAÇÃO COM DÓ ARMADURA DA ESCALA MAIOR
Lídio: escala maior com quarto grau elevado. Dórico 2M acima 2M abaixo Si bemol
Fríqlo 3M acima 3M abaixo La bemol
T o - o • z ~—- — ihr-"- '"i*" Udio 4j acima A]abaixo Sol
Mixolídio 5] acima 5) abai.\o Fá
Eólio 3m abaixo 3m acima Mi bemol
46 47
Notação
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