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PANORAMA ECONÔMICO

autores
CRISTIANE VIEIRA VALENTE
JOSÉ MACHADO CARREGOSA
RONALD CASTRO PASCHOAL

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  jose dario menezes, roberto paes e paola gil de almeida

Autores do original  cristiane vieira valente, josé machado carregosa e ronald


castro paschoal

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  antonio elder de oliveira tavares

Imagem de capa  imageflow | shutterstock.com

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

V154p Valente, Cristiane Vieira


Panorama econômico / Cristiane Vieira Valente; José Machado Carregosa
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
160 p: il.

isbn: 978-85-5548-314-1

1. Economia. 2. Economia - Brasil. I. Carregosa, José Machado.


II. Paschoal, Ronald Castro. III. SESES. IV. Estácio.
cdd 330

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. O ambiente empresarial 9
1.1 Introdução 10
1.2  Analisando o ambiente econômico 14
1.2.1  Estado e mercado 14
1.2.2  Mas, enfim, como funciona o mercado? 17
1.2.3  Como funciona uma economia centralmente planificada 22
1.3  A empresa 23
1.3.1  Estruturas de mercados 25
1.3.2  Oferta e demanda 26
1.3.3  A demanda 27
1.3.4  A oferta 30
1.3.5  O equilíbrio do mercado 32
1.3.6  Os efeitos da ação do governo sobre os preços 35
1.3.7  O panorama econômico 38

2. Sociedade, estado e economia 41

2.1 Introdução 42
2.1.1  Sociedade e mercado 43
2.1.2  Sociedade e estado 43
2.1.3  Funções do Estado 44
2.1.4 Governo 44
2.1.5  Políticas públicas 45
2.2  Economia e governo 45
2.2.1 Governo, déficit e inflação 49
2.3  O setor público 51
2.3.1  Falhas de mercado 52
2.3.2  Bens públicos 52
2.3.3  Monopólios naturais 53
2.3.4  Externalidades 55
2.3.5  Mercados incompletos 55
2.3.6  Falhas de informação 56
2.3.7  Desemprego e inflação 56
2.3.8  Falhas de mercado e governo 56
2.3.9  A política fiscal e funções do governo 58
2.3.10  A função alocativa 58
2.3.11  A função distributiva 59
2.3.12  A função estabilizadora 60
2.4  Organização das finanças públicas 61
2.4.1  Receitas públicas e tributos 62
2.4.2  Existe um limite para a cobrança de impostos? 63
2.4.3  Curva de Laffer 63
2.4.4  Despesas públicas 65
2.4.5  Programas de governo 66
2.4.6  Títulos públicos 66
2.4.7  A taxa Selic 67
2.5  Perspectivas da ação governamental e do gasto público. 67
2.5.1  Falhas de governo 68
2.5.2  A Lei de Responsabilidade Fiscal 69
2.5.3  O papel regulador do Estado 71
2.5.4  A parceria público-privada 72

3. Moeda e inflação 75

3.1  Introdução 76
3.2 Moeda 76
3.2.1  Evolução do sistema de trocas 76
3.3 Inflação 82
3.4  Política monetária 87
3.5  Sistema Financeiro Nacional (SFN) 91
3.5.1  Banco Central do Brasil 93
3.5.2  Comissão de Valores Mobiliários 94
3.6  Taxa de juros 95
4. O setor externo 101

4.1 Introdução 102
4.2 Câmbio 103
4.2.1  Valorização e desvalorização da moeda nacional 104
4.3  Políticas cambiais e o câmbio como instrumento de regulação
comercial 107
4.4  Estrutura e aplicação do balanço de pagamentos nas
organizações 108
4.4.1  A estrutura do balanço de pagamentos: 108
4.4.2  Balanço de pagamentos 109
4.4.3  O balanço de pagamentos no Brasil e sua aplicação nas
organizações 110
4.5  Organismos internacionais: FMI, BIRD e OMC 112
4.5.1  Fundo Monetário Internacional (FMI): 112
4.5.2  Banco Mundial ou BIRD (Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento) 113
4.5.3  Organização Mundial do Comércio (OMC) 114
4.6  Integração econômica 115
4.6.1 Mercosul 115
4.6.2  União Europeia 117
4.6.3 Nafta 118
4.7 Globalização 119

5. Crescimento e desenvolvimento econômico 121

5.1  Introdução 122


5.2  O Sistema de Contas Nacionais do Brasil 124
5.2.1  Produto Interno Bruto 124
5.2.2  PIB Nominal e PIB Real 125
5.2.3  Renda “Per Capita” 125
5.3  Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 126
5.4  A Constituição brasileira e o desenvolvimento econômico
sustentável 127
5.5  A desigualdade de renda como elemento restritivo ao
desenvolvimento econômico 128
5.6  A segurança pública como fator preponderante para ao
desenvolvimento econômico sustentável 131
5.7  A pobreza como processo restritivo ao desenvolvimento
econômico sustentável 132
5.8  Desenvolvimento: Econômico: setores formais/informais e suas
consequências 133
5.9  Educação e Saúde para a sustentabilidade 135
5.10  A infraestrutura e o setor de regulação brasileiro 136
5.11  Legislação ambiental e desenvolvimento sustentável 138
5.12  Responsabilidade ambiental corporativa 139
5.13  Industrialização, competitividade e meio ambiente 140
5.14  Padrões de energia 141
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

O estudo da Economia é importante para que os profissionais dos mais va-


riados segmentos possam desenvolver suas atividades. No caso das áreas de
Gestão Empresarial, o estudo da Economia é fundamental para o exercício da
profissão, estando interligado com os diversos ramos da administração empre-
sarial.
Por sua vez, o gestor deve entender como os fatores econômicos afetam o dia
a dia no desempenho de suas funções e como lidar com situações que podem
afetar diretamente suas decisões empresariais. O livro Panorama Econômico
mostra como analisar os fatos de natureza econômica de forma a utilizar esse
conhecimento nos processos de gestão. Exemplos do noticiário econômico são
apresentados propiciando ao leitor visualizar o fato real e como aplicar a teoria
econômica equivalente.
No capítulo I, será analisado o ambiente empresarial, de maneira conhecer
os fatores de ordem econômica que poderão afetar o processo de decisão do
administrador. Para isso, será necessário conhecer as características dos Siste-
mas Econômicos e entender o funcionamento do mercado e como o Governo
intervém no Mercado.
No capítulo II, será abordado a relação entre a Sociedade, o Mercado e o
Estado. Pode-se dizer que o objetivo do Governo é estimular o desenvolvimento
econômico-social do país e, ao lado disso, manter o nível de atividade econô-
mica. Portanto, a maneira que o Estado arrecada os recursos dos impostos, e
a forma como venha a gastar na realização das políticas públicas têm efeito no
desenvolvimento da sociedade.
Além disso, será importante analisar as funções do governo (Alocativa, Dis-
tributiva e Estabilizadora) e como se processa a organização das finanças públi-
cas. Não menos importante, será objeto de estudo a Lei de Responsabilidade
Fiscal e a parceria público-privada.
No capítulo III, será analisada a definição de moeda e sua evolução para que
se possa entender o mercado monetário atual. Os tipos de moeda, assim como
as funções da moeda, são importantes para a análise de políticas monetárias.
Neste mesmo capítulo, será estudado o conceito de inflação. A inflação faz
parte dos noticiários do nosso país assim como pautas de campanhas políticas

7
e projetos de governo. Mas qual o significado de inflação? Como a inflação pode
aparecer, ou seja, quais suas causas? E o ponto nervoso dos debates econômi-
cos e políticos: o que a inflação pode causar no país? É importante que o leitor
tenha essa visão do que se passa nessa área tão discutida por anos no Brasil.
Para manter o equilíbrio no mercado monetário, o governo pode utilizar a
política monetária. Os instrumentos de política monetária podem ser utiliza-
dos para restringir ou expandir a base monetária do país. Vamos estudar quais
são esses instrumentos e como o governo pode utilizá-los. Para tal, torna-se ne-
cessário apresentar os componentes do Sistema Financeiro Nacional.
No capítulo IV, será analisado o Setor Externo com suas complexidades e
importância para a economia brasileira. É fundamental compreender a influ-
ência do câmbio e a Política Cambial brasileira sobre a estrutura do Balanço de
Pagamentos. Hoje, os Organismos Internacionais relacionados ao setor exter-
no passam a ter uma participação preponderante na economia mundial.
Entretanto, o processo de integração econômica está cada vez mais presen-
te nas economias que dependem uma das outras para alcançar o estágio dese-
jado de desenvolvimento. No entanto, o processo de processo de Globalização
aprofunda essa interdependência entre as economias.
No Capítulo V, será abordada a questão do crescimento e desenvolvimento
econômico. Como a questões da quantificação do Produto podem se contrapor
as questões do índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Será importante co-
nhecer a relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico sus-
tentável.
As questões sociais como pobreza e segurança podem comprometer a sus-
tentabilidade da economia brasileira. A Saúde e a Educação têm um papel im-
portante na definição da competitividade das empresas brasileiras. Por fim,
será importante compreender como a infraestrutura e o setor de regulação bra-
sileiro, podem contribuir para o desenvolvimento econômico.

Bons estudos!

8
1
O ambiente
empresarial
1.  O ambiente empresarial

OBJETIVOS
•  Refletir sobre a natureza das atividades do Administrador;
•  Conhecer os fatores a serem considerados em um processo de decisão;
•  Identificar as características dos Sistemas Econômicos;
•  Analisar o funcionamento do Mercado;
•  Avaliar os efeitos da intervenção do Governo no Mercado.

1.1  Introdução

O ambiente empresarial contemporâneo é complexo, exigindo administrado-


res capazes de analisar e tomar decisões rápidas e precisas para lidar com um
mercado extremamente dinâmico. Para isso, têm de estar aptos a analisar um
grande número de variáveis que afetam os rumos de sua organização. Seja uma
organização industrial, comercial ou uma prestadora de serviços, com fins lu-
crativos, seja uma organização sem fins lucrativos de caráter social, seja uma
organização governamental, todas elas têm em comum exigirem que decisões
consequentes sejam tomadas, para que operem eficientemente e atinjam
seus objetivos.
O processo de tomada de decisões resume-se em fazer escolhas entre ações
e aplicações alternativas de recursos. O cotidiano de um administrador envolve
decisões sobre ampliar ou não a empresa, escolher entre a aquisição de diver-
sos equipamentos, ou simplesmente não comprá-los, contratar, ou não, mais
funcionários, alugar ou comprar o prédio para novas instalações, enfim, fazer
uma série de escolhas entre ações alternativas.
Toda decisão empresarial é de natureza econômica, mesmo quando envol-
ve assuntos não diretamente relacionados à economia, como a definição de
certo perfil psicológico para uma dada função. Isso porque, ao fim, espera-se
que todos os recursos empregados se combinem para atingir o melhor resul-
tado possível, quer dizer, o maior lucro possível. Mesmo uma instituição sem
fins lucrativos, se quiser atingir resultados amplos, como distribuir alimentos
para a população carente, deve ser eficiente, para que cada recurso empregado
atenda ao maior número de pessoas possível.

10 • capítulo 1
Existem diversas formas de se medir o retorno de uma ação empresarial, de
acordo com o tipo de atividade a que se refere. Um investimento produtivo gera
lucro, a remuneração de uma aplicação financeira chama-se juros e a renda
pela cessão temporária de um bem, imóvel ou não, chama-se aluguel. Existem
diversas outras denominações para a remuneração dos investimentos, mas,
basicamente, os investimentos serão remunerados por lucro, juros ou aluguel.
A comparação entre os retornos desses investimentos define o que se chama
custo de oportunidade. Quando se faz um investimento qualquer, esperando um
determinado retorno, está se deixando de fazer outros investimentos, e de receber
suas respectivas remunerações. Então, o custo de oportunidade de uma determi-
nada escolha define-se pelo que se deixa de ganhar com uma escolha alternativa.
Usando uma imagem clássica sobre o conceito: o custo de oportunidade de ir à
festa no sábado é deixar de estudar para a prova, e o custo de estudar é perder a
festa. Paul Krugman, economista ganhador do Prêmio Nobel de Economia, diz
que o custo de oportunidade é o custo real das coisas, pois tudo o que se adquire
resulta de outros bens a que se renuncia (KRUGMAN & WELLS, 2007, pp. 7-8).
Aplicando-se o conceito a uma decisão empresarial típica, considere que
você, executivo de uma empresa, dispõe de uma determinada quantia para in-
vestir e pode ou aplicar no mercado financeiro, comprando um título da dívida
pública, ou investir no seu negócio, comprando uma nova máquina que aumen-
tará a sua capacidade de produção. O custo de oportunidade de comprar o títu-
lo é o lucro que você deixará de ter comprando a nova máquina. Inversamente,
o custo de oportunidade de comprar uma nova máquina corresponde aos juros
que deixará de receber pela aplicação no título do governo. Você deverá esco-
lher a alternativa que oferecer a melhor rentabilidade, isto é, o maior ganho por
unidade investida em relação à outra. Dizendo de outra forma, escolherá aque-
la que tiver o menor custo de oportunidade, ou seja, aquela em que a alternativa
não escolhida apresenta menor rentabilidade.
Suponha que o título do governo renda em um ano 9% e o lucro esperado
com a aquisição da máquina seja de 10%, também em um ano. Fica claro que o
custo de oportunidade de investir na produção é menor, isto é, se escolher essa
alternativa deixará de ganhar 9% ao ano (e ganhará 10%). Se optasse pelo título
público seu custo de oportunidade seria de 10%, isto é, deixaria de ganhar mais
do que ganharia de fato com essa escolha (9%).
Essa comparação é extremamente importante para os destinos de uma em-
presa, pois, se seu objetivo é ter bons resultados ao longo do tempo, cada de-
cisão deve buscar maximizar os ganhos possíveis naquele momento. Note-se

capítulo 1 • 11
que, como se busca a manutenção desse ganho ao longo do tempo, deve-se fa-
zer essa avaliação considerando períodos comparáveis, digamos um mês, um
ano ou dez anos.
As decisões estudadas pela economia envolvem a alocação dos fatores de
produção e o seu uso pelos agentes econômicos, definidos como pessoas ou
organizações que realizam transações econômicas. As empresas, as entidades
produtoras de bens e serviços, decidem sobre o que, quanto e como produzir.
O Governo, ao cumprir suas funções, é demandante dos bens e serviços pro-
duzidos pela economia. Os consumidores, que somos todos nós, tomam de-
cisões sobre o que e quanto consumir. Por fim, o resto do mundo, composto
pelos países que se relacionam economicamente. Em especial, o executivo da
empresa é que efetivamente toma as decisões necessárias à alocação de recur-
sos, buscando a melhor forma de aproveitar as oportunidades que se oferecem
no mercado.
Diversos fatores devem ser considerados ao se tomar uma decisão. Esses fa-
tores não atuam, contudo, de forma isolada, eles se influenciam mutuamente,
explicando, assim, a natureza complexa do ambiente empresarial. Para tomar
decisões de qualidade, o executivo deve partir de uma análise do ambiente in-
terno e externo da organização, considerando os fatores que podem influenciar
os resultados que pretende alcançar. No entanto, como são muitas as variáveis
a serem analisadas e se dispõem de recursos e tempo escassos, deve-se aí tam-
bém escolher que informações serão utilizadas.
Além daquelas informações específicas a cada organização e a cada decisão
particular, existe um conjunto básico de variáveis que, quase necessariamente,
são utilizadas nas análises do ambiente empresarial. Elas referem-se à aplica-
ção de conceitos que, mesmo que com um alto grau de generalização, permi-
tem uma boa base para a tomada de decisões.
Muitas dessas informações estão disponíveis nos jornais, outras na litera-
tura técnica, em publicações estatísticas ou são geradas por pesquisas espe-
cíficas sobre a economia, o mercado ou o consumidor, entre várias possíveis.
Esse leque de fontes de informação deve ser aproveitado pelo administrador
para embasar as decisões que deve tomar, como parte de seu dia a dia. A quali-
dade das suas decisões depende da compreensão do ambiente em que opera,
tanto em relação à empresa, mas mesmo quanto às suas estratégias profissio-
nais pessoais.
Concretamente, como executivo de uma empresa, ao saber das projeções
de alta do preço do petróleo, você pode considerar que haverá, em princípio,

12 • capítulo 1
um aumento nos custos de produção em toda a economia, pois o petróleo é
utilizado na fabricação de combustíveis e plásticos, insumos utilizados em pra-
ticamente todos os processos produtivos. Pode esperar, então, que além dessa
elevação dos custos haverá, por consequência, um aumento generalizado nos
preços praticados na economia, o que pode ocasionar uma variação na taxa de
juros.
Essa análise e o correspondente diagnóstico irão lhe auxiliar a tomar deci-
sões quanto à política de preços, à escolha de tecnologias de produção, ao mo-
mento de investir e muitas outras. Mais do que isso, essa nova configuração do
ambiente econômico deverá alterar o quadro dos custos de oportunidade, le-
vando à necessidade de revisão das decisões tomadas e a novas decisões. Assim,
continuando no exemplo, poderia alterar a taxa de juros praticada na economia
ou os níveis da demanda, obrigando a revisão dos programas de investimento.

Essa página do jornal Valor Econômico, de 14 de janeiro de 2016, mostra dois


conjuntos de informações relativos às decisões empresariais e às pessoais que um
executivo deve tomar. Na manchete menor, “Petróleo e China podem frear os EUA”,
vemos que uma série de crenças sobre o comportamento da economia foi contrariada
pelos fatos, alterando todas as análises que se faziam sobre o ambiente econômico.
Esse novo quadro certamente conduziu a novas decisões sobre ampliação da capa-
cidade de produção e sobre os setores a investir, por exemplo, além de trazer mais
incerteza sobre os rumos da economia. Na maior, “Desanimo ‘expulsa’ executivos”,

capítulo 1 • 13
vemos a mudança no comportamento dos profissionais, como consequência das
transformações no cenário empresarial, que passam a procurar melhores possibilida-
des para suas carreiras em outros países. Esse tipo de análise não precisa necessa-
riamente concluir pela saída do país, mas pode apontar para a busca de posições em
setores mais dinâmicos. Além disso, na parte inferior, uma matéria fala sobre o filme
A Grande Aposta, que conta a história de um pequeno grupo de investidores que,
valendo-se de análises criteriosas do mercado financeiro, antecipou a crise de 2008 e
lucrou com isso. O filme é bem instrutivo quanto aos dois aspectos abordados acima.

Um exercício interessante seria discutir a relação entre essas três notícias, com o
objetivo de traçar um quadro analítico abrangente do ambiente econômico global
após 2008.

1.2  Analisando o ambiente econômico

A Ciência Econômica trata de como os agentes econômicos combinam os re-


cursos escassos para a satisfação de suas necessidades. Dessa forma, é um
instrumento auxiliar poderoso de apoio às decisões empresariais, ajudando a
desenhar cenários que permitam ao administrador antecipar mudanças e me-
lhorar a qualidade de suas decisões. As análises feitas pela Economia partem de
duas abordagens básicas:
1. Da perspectiva dos agregados econômicos e de seus efeitos sobre a so-
ciedade, ramo chamado de macroeconomia;
2. E da perspectiva dos indivíduos e das firmas, ramo chamado
de microeconomia.

O comportamento da economia como um todo, que é o objeto da


Macroeconomia, é o principal assunto do restante deste livro, e por onde, neste
capítulo, será contextualizada a atuação núcleo a partir do qual são tomadas
as decisões econômicas: o consumidor e a empresa. Examinaremos, por fim,
introdutoriamente, os efeitos da intervenção do Governo no Mercado.

1.2.1  Estado e mercado

Viu-se que existem informações básicas sobre o ambiente econômico, de aces-


so quase imediato, que permitem se traçar um quadro de análise útil à tomada

14 • capítulo 1
de decisões. Essas informações podem ser agrupadas de diversas formas, ten-
do em vista os objetivos da análise que se pretende fazer e o alto grau de inter
-relações que mantém.
Normalmente, por questões conceituais e relativas à prática dos agentes
econômicos, identifica-se o setor público, constituído pelas instituições que
compõem o Estado, e o setor privado, que abrange as empresas que interagem
no Mercado. O papel de cada um constitui-se na discussão central sobre a con-
dução dos negócios econômicos.
Existem diversas formas de a sociedade se organizar para atender a esses
fins. Gilpin (2002, pp. 25-27), estudando a natureza das relações internacionais,
define duas esferas de alocação de recursos e produtos: o Estado e o Mercado.
O Estado corresponde à esfera política da alocação dos recursos, onde estes se-
riam distribuídos de acordo com os interesses políticos e sociais, expressos na
forma de um orçamento estatal. Já o mercado corresponde à esfera econômica
dessa alocação, onde as decisões seriam baseadas no sistema de preços e na
busca do interesse individual. Nenhuma dessas esferas existe de forma isola-
da, no entanto, mas sim de forma interativa, com o peso de um e de outro, no
âmbito da formação dos sistemas econômicos, variando com o tempo e com
as circunstâncias.
Um sistema econômico se define como “a forma política, social e econô-
mica de organização de uma sociedade”, sendo seus elementos constitutivos:
•  Os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, que incluem
os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as
reservas naturais e a tecnologia;
•  O complexo de unidades de produção, constituído pelas empresas;
•  O conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais, que
são a base da organização da sociedade. (BRAGA & VASCONCELLOS, 2011, p. 5)

Pode-se classificar os sistemas econômicos em dois grandes grupos: o sis-


tema socialista, onde as atividades econômicas subordinam-se às decisões do
Estado e o sistema capitalista, onde o funcionamento da economia é regido
pelo mercado (BRAGA & VASCONCELLOS, 2011, p. 6).
No sistema socialista, ou de economia planificada, as questões econômicas
são resolvidas pelo Estado, através de órgãos de planejamento que organizam a
produção e a distribuição do produto, de acordo com os interesses da socieda-
de identificados pelo governo. Nessas economias, as unidades produtivas são,

capítulo 1 • 15
em sua quase totalidade, pertencentes ao Estado, ficando de fora as pequenas
atividades comerciais e artesanais. Naturalmente, os bens de uso pessoal – rou-
pas, automóveis etc. – constituem propriedade privada do indivíduo, o que ca-
racteriza o socialismo. É importante ter clara essa noção, é a propriedade es-
tatal dos meios de produção. Atualmente poucos países adotam esse sistema,
como Cuba e Coreia do Norte. No sistema capitalista, ou economia de mercado,
predominam a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção.
A alocação de recursos e sua distribuição se resolvem pelo mecanismo de pre-
ços resultante do jogo da oferta e demanda. São exemplos as economias dos
Estados Unidos, do Brasil e dos países da União Europeia.
Nenhum desses dois sistemas existe em estado puro e nenhum deles re-
solve plenamente os problemas econômicos de uma sociedade. As economias
planificadas tendem a uma baixa dinâmica de crescimento, embora mantendo
um perfil de distribuição de renda mais igualitário. Já nas economias de mer-
cado, embora mais dinâmicas, tendem a manter fortes distorções em termos
de distribuição da riqueza. De qualquer forma, o Estado tem um papel impor-
tante no capitalismo contemporâneo, desempenhando funções necessárias à
manutenção do mercado, como, por exemplo, na regulação da relação entre as
empresas e os consumidores.
Cuba e Coréia do Norte acabam por serem os últimos representantes orto-
doxos das doutrinas socialistas, conforme foram implantadas no século XX.
No entanto, não são as únicas sociedades que não adotam o capitalismo. Na
verdade, muitos países ainda se organizam em sistemas tradicionais, ainda
tribais, enquanto outros experimentam movimentos de caráter mais voltados
ao atendimento das necessidades da população fora das soluções de mercado.
Neste segundo caso, encontram-se tantos países ainda em desenvolvimento,
como a Venezuela, quanto os principais países europeus, cujo sistema de previ-
dência e assistência social é importante na manutenção do elevado padrão de
vida da população, convivendo, contudo, com um mercado capitalista maduro
e desenvolvido.
Fica clara, com esse breve panorama do ambiente mundial, a afirmação fei-
ta anteriormente de que os sistemas, independentemente da forma que sejam
descritos, podem ser apenas tomados como representações ideais da realida-
de. Os países organizam-se em torno de objetivos e meios próprios, condicio-
nados por sua história, por sua dinâmica interna e pelas relações com os ou-
tros países.

16 • capítulo 1
Países e Sistemas Econômicos: organização social, política e econômica
Arábia Saudita:
Monarquia. Forte influência da religião e do Estado na condução da vida econômica
e na distribuição do produto. Atravessando processo de modernização econômica
e tecnológica.
Angola:
Presidencialismo. Economia de mercado incipiente. Estado em vias de construção.
Suécia:
Monarquia constitucionalista. Mercado maduro, com forte presença do Estado,
principalmente na manutenção de um sistema previdenciário e de assistência social
bastante abrangente.
Estados Unidos:
Presidencialismo. Embora disponha de um sistema de previdência e assistência social
relativamente inclusivo e um Estado bastante forte, a maior parte das soluções econô-
micas se dá via mercado.
China:
Estado forte, de origem socialista, que controla e administra a economia, mas vem
implantando uma economia de mercado bastante dinâmica.
Desse ponto de vista, é interessante refletir sobre como se organiza o Brasil. Como
se organiza o Estado brasileiro? Como se dá sua relação com o Mercado? Como
ocorrem as decisões de alocação dos recursos econômicos? Fazer essa discussão
sobre uma realidade na qual estamos imersos pode se mostrar mais complicada do
que avaliar outros países, de quem dispomos de menos informação. Mas é um exercí-
cio interessante.
(Brasil - MRE - Ministério das Relações Exteriores, 2011)

1.2.2  Mas, enfim, como funciona o mercado?

Vamos supor uma economia em que não exista governo. Nessa economia, exis-
tem apenas as famílias, que são as únicas ofertantes dos fatores de produção –
recursos naturais, trabalho e capital – e as empresas (firmas), as únicas deman-
dantes dos fatores de produção. O quadro a seguir representa a relação circular
que se estabelece entre as famílias e as empresas através de dois mercados: o
mercado de fatores e o mercado de bens.
As famílias detêm a propriedade dos fatores de produção, isto é, em últi-
ma instância, os recursos naturais e os capitais disponíveis na economia são

capítulo 1 • 17
propriedade das famílias (lembre-se de que, nesse modelo, não há governo),
além, é claro, do fator trabalho, que é a força de trabalho dos indivíduos. As
famílias oferecem esses recursos no mercado de fatores às empresas, que são
as unidades produtoras. O que as empresas fazem é adquirir os fatores de pro-
dução para organizá-los na produção de algum bem ou serviço. Estes, por sua
vez, são oferecidos no mercado de bens e serviços para as famílias que os usam
para seu sustento e reprodução (ver quadro) (PINHO, et al., 2011, p. 308), satis-
fazendo suas necessidades e desejos.
Este ciclo, onde circulam fatores que produzem bens, é o chamado fluxo
real da economia. Em contrapartida, em sentido inverso, as famílias recebem a
remuneração pelos fatores empregados na produção em dinheiro que será uti-
lizado para comprar os bens no mercado que por sua vez retornarão às empre-
sas e assim por diante. Este fluxo é chamado de fluxo nominal, ou fluxo circu-
lar da renda. Na verdade, apenas quando se olha o modelo pela ótica da renda
é que podemos chamá-lo de circular, pois o dinheiro segue efetivamente um
fluxo contínuo e ininterrupto nesse caminho. Pelo lado das mercadorias isso
não ocorre, uma vez que os bens comprados são consumidos, parte para repor
a força de trabalho e retornam como oferta indistinta de fatores de produção.
Nota-se nesse esquema, no entanto, uma igualdade importante: o total
do fluxo nominal é equivalente ao total de bens que circulam na economia.
Algumas igualdades básicas decorrem daí: a renda de uma economia é igual ao
valor dos produtos produzidos e o total gasto, ou o dispêndio, também é igual a
renda e a produção. Essas igualdades são medidas do nível da atividade econô-
mica e expressam a mesma riqueza sob diversas formas.

Dinheiro Dinheiro
Mercado de fatores

Fatores Fatores

Famílias Firmas

Bens e Bens e
serviços serviços

Mercado de bens e serviços


Dinheiro Dinheiro
Fluxo real da economia Fluxo nominal da economia

18 • capítulo 1
Vamos agora nos deter no exame do ocorre no interior desse mercado. Uma
economia de mercado deve se basear na liberdade dos agentes econômicos.
Esses agentes buscariam sempre seu melhor benefício, seja comprando, seja
vendendo algum bem ou recurso, sempre agindo individualmente. Tal situação
criaria um ambiente de concorrência, onde, em princípio, nem pessoa, nem
organização atuaria senão em seu próprio benefício e buscaria obter para si a
maior quantidade de recursos possíveis.
O sistema de mercado visa, assim, garantir a concorrência e a liberdade de
escolha, embora poucos mercados funcionem de modo plenamente concorren-
cial e algumas escolhas, de fato, não sejam permitidas (como drogas ilegais). Mas
funciona para atender a quase todas as necessidades, pois exatamente essa bus-
ca da satisfação dos interesses individuais garante a produção e a circulação de
mercadorias em grande quantidade. E na verdade, pelo encadeamento e comple-
mentariedade das necessidades, o mercado funciona com ordem, coordenando
as atividades dos agentes econômicos e garantindo um fluxo constante de mer-
cadorias, sem que na verdade exista qualquer entidade controlando os níveis de
produção e da demanda (PINHO, et al., 2011, pp. 16-19).
O mecanismo que permite essa coordenação e esse controle é o sistema de
preços.
Pode-se aceitar que, se um bem é bastante desejado, seu preço tende a subir
e se é pouco procurado, tende a cair. Esse é um conceito que intuitivamente
nós, que vivemos em uma economia de mercado, compreendemos bem.
Pelo lado da oferta, isto é dos produtores, se houver excesso de oferta em
relação à demanda, devido à concorrência, o preço tenderá a cair, levando a um
aumento de consumo. Ao contrário, uma redução na oferta levará a um aumen-
to no preço, pois haverá uma disputa entre os consumidores pelo bem.
O sistema de preços funciona exatamente pela conjugação das forças, ou
interesses, da demanda e da oferta, determinando dessa forma os preços relati-
vos de todas as mercadorias: os bens mais desejados ou menos disponíveis ten-
dem a ter um preço maior e os bens poucos procurados ou muito disponíveis
um preço menor.
A interação entre os desejos dos indivíduos e a produção das empresas de-
terminará o preço das mercadorias. Pode-se entender essa interação como se
vivêssemos em um permanente leilão: os consumidores fariam lances para
comprar os bens que desejam, e as empresas avaliariam quanto estariam dis-
postas a aceitar em troca de suas mercadorias. No ponto em ambos os valores

capítulo 1 • 19
coincidissem seria o preço de equilíbrio do mercado. Esse ajustamento quase
automático da economia é o que Adam Smith chamou de “a mão invisível”.

Preço
(P)
A Oferta

B
P

C Demanda

Q Quantidade (Q)

No gráfico acima, colocamos no eixo vertical todos os preços.

Suponha que os consumidores estejam dispostos a pagar, no máximo,


R$ 20,00 por uma unidade de um bem e que, a esse preço, estariam dispostos
a adquirir 100 unidades. A partir daí, a cada redução do preço, estariam dis-
postos a comprar maiores quantidades. O ponto A representa o preço máximo
(R$ 20,00) que os consumidores estariam dispostos a pagar pelo bem. O exato
ponto onde a reta intercepta o eixo vertical corresponderia ao preço em que os
consumidores não comprariam nem uma unidade. A partir desse ponto, quan-
to menor o preço, maiores as quantidades que os consumidores estariam dis-
postos a adquirir, por isso a declividade da reta.
O ponto C corresponde ao preço mínimo em que as empresas estariam dis-
postas a receber pelas mercadorias vendidas. Na interseção com o eixo vertical,
o preço seria tão baixo que os produtores não estriam dispostos a oferecer ne-
nhuma mercadoria. Ao inverso da curva da demanda, a partir do preço míni-
mo, quanto maior o preço que os consumidores estivessem dispostos a pagar
pelos bens, maiores seriam as quantidades ofertadas, daí a inclinação positiva
da curva da oferta.
O ponto B indica o preço em que a quantidade que os consumidores esta-
riam dispostos a adquirir seria exatamente igual à quantidade que as empresas
estariam dispostas a ofertar. Este é o ponto de equilíbrio do mercado. O triân-
gulo formado pelos vértices ABC corresponde à área de negociação do preço

20 • capítulo 1
e da quantidade, entre o preço mínimo da oferta, o máximo da demanda e o
preço de equilíbrio (PINHO, et al., 2011, pp. 16-19).
Deve ficar claro que este modelo representa simplificadamente uma reali-
dade bastante complexa. Uma série de fatores influencia a determinação dos
preços, como as características do setor de produção e do mercado consumi-
dor. Em termos gerais, este modelo nos mostra o comportamento básico dos
preços e nos permite explicar como o sistema de preços funciona como aloca-
dor de recursos, respondendo às três questões básicas da economia: o que e
quanto produzir, como produzir e para quem (PINHO, et al., 2011, pp. 16-19).
O que produzir será definido pelos consumidores, que no mercado procu-
rarão maximizar sua satisfação, buscando os bens que atendam seus desejos
e necessidades.
O quanto produzir será definido pelo sistema de ajustamento de preços
que, por aproximações sucessivas, tende a igualar via preço a quantidade ofer-
tada e a demandada.
Como produzir é resultado da concorrência entre os produtores, pois como
o objetivo das empresas é maximizar os lucros, sempre buscarão os métodos
de produção com menores custos, deslocando, isto é, tirando do mercado os
mais ineficientes.
Para quem produzir será determinado pelo jogo da oferta e da demanda
no mercado de fatores de produção que redistribui o dinheiro arrecadado no
mercado de bens através dos salários, juros, alugueis e lucros. A distribuição da
renda resultante define o quanto da produção será absorvido pelos detentores
dos fatores de produção. “A produção destina-se a quem tem renda para pagar,
e o preço é o instrumento de exclusão” (PINHO, et al., 2011, p. 17).
O modelo apresentado mostra o funcionamento de um sistema impessoal –
os efeitos descritos valem para todos – designando assim um sistema econômi-
co. No entanto, na prática, inúmeras imperfeições impedem que os objetivos
esperados sejam alcançados:
1. As distorções na concorrência, que ocorrem em mercados com um ou
poucos produtores, tornando possível a manipulação dos preços.
2. As externalidades ou os efeitos externos que não são computados entre
os custos ou benefícios que as empresas geram ou incorrem. Por exemplo: os cus-
tos da poluição gerados por um determinado processo produtivo ou o uso de es-
tradas públicas que são pagas por todos, via tributos (PINHO, et al., 2011, p. 19).

capítulo 1 • 21
A correção dessas e outras consequências do funcionamento real das eco-
nomias de mercado justificam a intervenção do Estado para ajustar as econo-
mias aos objetivos da sociedade como um todo. No próximo e no último ca-
pítulo, será estudado mais detidamente o papel que o Estado desempenha na
condução dos negócios econômicos, não só corrigindo as distorções provoca-
das pelo mercado, como conduzindo a economia em direção a um maior de-
senvolvimento, função fundamental especialmente para as economias não ma-
duras. Não existe, na verdade, nenhuma economia que funcione e tenha toda
a alocação e distribuição de recursos feita pelo mercado, sem a participação
do Estado.

1.2.3  Como funciona uma economia centralmente planificada

Embora poucos países, na atualidade, sejam economias centralmente planifi-


cadas, isto é, onde o Estado responde quase integralmente pela alocação dos
recursos econômicos cabe se fazer uma breve descrição de seu funcionamento
ideal, considerando serem eventualmente apresentadas como alternativa às
economias ditas capitalistas.
O que caracteriza uma economia centralizada, ou socialista, é a propriedade
pública dos meios de produção, ou seja, a propriedade das unidades produti-
vas, normalmente organizadas em empresas estatais. Os meios de produção
pertencentes às atividades dos artesãos e dos pequenos camponeses mantêm-
se privados. A unidades produtivas, fábricas e fazendas, submetem-se em ter-
mos organizacionais ao Estado.
Como não existe um sistema de preços que regule os níveis de produção e
de distribuição do produto, é o Estado, através de órgãos centrais de planeja-
mento, que cumpre essa função. Esquematicamente, esse planejamento segue
três etapas:
1. Definição das necessidades de consumo a serem atendidas;
2. Levantamento dos recursos de produção disponíveis;
3. Definem-se as prioridades de produção para atendimento das necessi-
dades; são os planos de metas para a produção e o consumo.

Os preços nas economias socialistas têm um caráter auxiliar no contexto do


planejamento, desempenhando duas funções básicas (PINHO, et al., 2011, pp.
22-24):

22 • capítulo 1
1. No processo de produção, desempenham uma função contábil, isto é,
são usados como recurso de contabilização para apuração dos custos de pro-
dução. Dessa forma, comparam-se esses custos com os da indústria em termos
médios, medindo-se a eficiência do processo. Ao contrário das economias de
mercado, onde as medidas de eficiência produtiva e o lucro ou prejuízo ser-
vem de indicador quanto aos níveis de produção, esta decisão em uma eco-
nomia centralizada é tomada pelos órgãos planejadores, com base em crité-
rios políticos.
2. Na distribuição da produção, os preços servem para regular o consumo
sem necessidade de uso de medidas não econômicas como o racionamento. Se
um produto apresentar um custo de produção baixo, mas em quantidades in-
suficientes para atender a população, seu preço poderá ser elevado para reduzir
a demanda. Ao contrário, alguns produtos podem ter seu preço de venda em
níveis menores do que o custo de produção, caso seja interessante promover
seu consumo.

Caso se comparem os dois sistemas, parece bem evidente, pelo que a his-
tória recente mostrou, que o sistema de mercado é mais eficiente e dinâmico
em termos de crescimento econômico. Por outro lado, nas economias centra-
lizadas tem-se uma distribuição do produto mais igualitária. Atualmente, é
mais amplamente adotado o sistema de mercado, porém com uma forte parti-
cipação do Estado na economia. Especialmente após a crise desencadeada em
2008, o Estado retornou ao centro das atenções como ordenador da economia
e estimulador do crescimento.

1.3  A empresa

A empresa, a entidade responsável diretamente pelas decisões de produção,


tem como objetivo primeiro obter os melhores resultados possíveis, a partir
de uma lógica econômica. A essência dessa lógica se define pelo conceito de
eficiência. Como o objetivo da ciência econômica é buscar resolver o proble-
ma de atender às necessidades infinitas das pessoas com os recursos escassos
disponíveis, esses recursos são utilizados eficientemente e quando “exploram
plenamente as oportunidades de melhorar a situação de cada um” (KRUGMAN,
WELLS, & OLNEY, 2010, p. 12).

capítulo 1 • 23
A eficiência na empresa, ou em qualquer organização, corresponde, então,
ao uso de todos os recursos na produção, de tal forma que não se pode aumen-
tar a produção de um bem sem diminuir a de outro.
Esse conceito é central para a economia, tanto para países quanto para em-
presas, pois sua aplicação determina a dimensão dos resultados a serem alcan-
çados. Os recursos devem ser empregados de tal forma que se obtenha a maior
produção possível com dada quantidade de recursos.
Isso define a natureza econômica das organizações contemporâneas, inde-
pendentemente de ter ou não fins lucrativos, conforme vimos. As decisões de
mercado e produção são feitas tendo sempre como base esse conceito. Pode
ocorrer, no entanto, que organizações tomem decisões que não sejam racio-
nais, por erro ou algum comportamento disfuncional, o que levará a resultados
abaixo do esperado ou do possível.

Essa notícia do Valor Econômico, de 18/12/2015, mostra como a eficiência deve ser a prin-
cipal preocupação das empresas, especialmente em períodos de incerteza. É interessante
relacionar as recomendações da especialista com os ganhos de eficiência a serem obtidos.

24 • capítulo 1
1.3.1  Estruturas de mercados

Quando se fala de oferta e demanda, está se falando de mercado. A feira livre


e o setor de energia elétrica são mercados, no entanto é possível perceber que
não funcionam da mesma forma. Na feira livre, temos uma grande quantidade
de pequenos ofertantes, sem que nenhum deles possa individualmente afetar o
preço, pois pela competição os preços tenderão a estabilizar-se em torno de um
mínimo possível para a manutenção dos negócios. Já o setor de fornecimento
de energia elétrica é operado por uma ou poucas empresas, tendo seus preços,
por causa disso, normalmente controlados pelo governo.
Existem diversas estruturas de mercado que determinam dinâmicas dife-
rentes na formação do preço. Esquematicamente encontram-se as seguintes es-
truturas no mercado de bens e serviços (SILVA & SINCLAYR, 2010, pp. 185-187).
1. Concorrência perfeita: muitos ofertantes de um mesmo produto, sem
que nenhum tenha capacidade de influenciar os preços. Na verdade, esse tipo de
mercado raramente é encontrado, embora seja utilizado como modelo para se
entender o funcionamento do mecanismo de preços em termos ideais. Poucos
exemplos disponíveis: feiras livres podem se enquadrar nessa concepção ou o
setor agrícola, quando em uma região temos pequenos produtores especializa-
dos em um mesmo produto. Os lucros nesse caso são sempre lucros normais,
isto é, definidos pelo mínimo possível para que os empresários se mantenham
no negócio (poderíamos dizer, no ponto em que os ganhos igualam o seu custo
de oportunidade).
2. Concorrência imperfeita ou monopolista: muitos ofertantes de produ-
tos diferenciados, mas substituíveis uns pelos outros. A diferenciação de produ-
to pode se dar por produto, por localização ou por qualidade.O comportamento
das empresas em tal mercado é concorrencial e não cooperativo, podendo existir
vantagens momentânea nos preços. Nesse caso os lucros tendem a ser extraordi-
nários, mas se tornando, no longo prazo, normais. (KRUGMAN & WELLS, 2007,
pp. 372-373). Exemplo: lojas de roupas de moda, com coleções exclusivas.
3. Monopólio: uma empresa vende um produto que não possui substitu-
tos. Isso pode ocorrer por conta de uma patente que garanta a exclusividade,
pelo domínio de uma tecnologia ou pela escala de produção, normalmente en-
contrados no fornecimento dos serviços públicos, como no fornecimento de
água e de energia. O monopólio sempre maximiza seus lucros, pois como único
fornecedor de um bem, escolhe o preço em que a quantidade demandada ma-
ximiza sua receita.

capítulo 1 • 25
4. Oligopólio: pequeno número de ofertantes de um mesmo produto, mas
que mantém certo grau de diferenciação do produto, fazendo que a ações de uma
em relação ao preço e ao produto afete as demais, quer dizer afete o mercado
como um todo. Existe uma competição de preços mantida em estritos limites,
pois qualquer movimento mais acentuado na tentativa de aumentar a partici-
pação de mercado pode ter como resultante uma guerra de preços, em caso de
redução unilateral, ou exclusão do mercado, em caso de elevação. É a forma pre-
dominante de organização de mercados dos setores mais dinâmicos da econo-
mia, como o automobilístico, o de eletrodomésticos, o de produtos de higiene,
entre outros. O grau de diferenciação dos produtos é identificado diretamente
pela marca.
A determinação dos preços, portanto, subordina-se a estrutura de mercado: em
um regime concorrencial os preços resultam de um equilíbrio quase autônomo en-
tre a oferta e a demanda, enquanto nos regimes monopolistas os preços são intei-
ramente controlados pela oferta (exceto quando há controle governamental). Nos
outros dois tipos de mercado, existe uma concorrência limitada entre os agentes e,
pelas suas características, mecanismos específicos de determinação do preço.

1.3.2  Oferta e demanda

O modelo de formação de preço que passaremos a estudar baseia-se em um


mercado em competição perfeita, útil, pela simplicidade e elegância, para com-
preender-se o mecanismo de preços em sua essência.
O modelo de oferta e demanda é composto por cinco elementos (KRUGMAN,
et al., 2010, p. 49):
•  A curva de demanda;
•  A curva de oferta;
•  O conjunto de fatores que desloca, respectivamente, as curvas de oferta e
de demanda;
•  O preço de equilíbrio;
•  A mudança do preço de equilíbrio quando há deslocamento das curvas de
oferta e demanda.

26 • capítulo 1
1.3.3  A demanda

Define-se a demanda como “a quantidade de um determinado bem ou serviço


que o consumidor deseja adquirir em certo período” (PINHO, et al., 2011, p.
115). A demanda é, então, o desejo de comprar, expressa como uma quantida-
de desejada em dado período de tempo. Assim, ao fazermos nossas compras
de mantimentos, por exemplo, estabelecemos uma quantidade desejada de 4
quilos de arroz por mês. Essa seria nossa demanda por arroz.
Vejamos como se forma a demanda de uma pessoa examinando como faz
suas escolhas de alimentos. Vamos supor que ela sempre use folhetos do su-
permercado, com os preços das mercadorias a venda, para fazer suas escolhas.
Primeiro, em função da sua renda estabelecerá um montante a ser gasto nas
compras. Depois avaliará o preço dos bens que deseja comprar, por exemplo, ar-
roz, feijão, carne e legumes. Se algum deles estiver muito alto poderá substituí-lo
por outro. Digamos que a carne bovina tenha experimentado um aumento de pre-
ço, o consumidor poderá decidir trocá-la por carne de frango, de modo a manter-
se dentro de seu limite de gasto. Como não comprou carne bovina, resolveu não
fazer churrasco e não comprou carvão. Verificou que a carne de carneiro baixou
de preço, mas ele não gosta dessa carne e, então, decide comprar mesmo frango.
Pronto, constatamos que a demanda do consumidor foi determinada por
quatro variáveis (PINHO, et al., 2011, p. 116):
•  A renda do consumidor;
•  O preço do bem;
•  O preço de outros bens;
•  O gosto ou preferência individual.

A demanda do mercado corresponde ao somatório das demandas individuais.

1.3.3.1  Preço e quantidade demandada

Quanto menor o preço maior a quantidade que estamos dispostos a comprar de


um bem. No nosso exemplo, o aumento do preço da carne fez que o consumidor
diminuísse a quantidade adquirida. A tabela de demanda (tabela 1.1) e a curva
de demanda (figura1. 1) mostram esse efeito (KRUGMAN, et al., 2010, pp. 49-51):

capítulo 1 • 27
P(carne)

25,00

20,00

15,00

10,00

D(carne)

2 4 6 8 Quantidade Kg

Figura 1.1  – 

TABELA DE OFERTA
PREÇO DA CARNE QUANTIDADE OFERTADA
R$ 10,00 2 kg
R$ 15,00 4 kg
R$ 20,00 6 kg
R$ 25,00 8 kg

Tabela 1.1  – 

1.3.3.2  Deslocamento da curva de demanda

A curva de demanda, então, expressa a intenção de consumo em um dado pe-


ríodo de tempo, assumindo uma inclinação negativa, por conta da propensão a
se consumir mais conforme o preço se reduza, conforme a figura 1.1.
Contudo, alguns fatores podem modificar essa curva de demanda. Por
exemplo, se há um aumento na preferência do consumidor por determinado
bem, os consumidores estarão dispostos a pagar mais pela mesma quantidade
daquele bem. Isso fará com que a curva se desloque para a direita, de D0 para
D1, como podemos ver na figura 1.2. Esse deslocamento significa um aumento
generalizado da demanda, isto é, para cada preço verificado anteriormente, o
consumidor estará disposto a consumir uma quantidade maior.

28 • capítulo 1
Px

P0

D1
D0
D2

Q1 Q0 Q2 Qx

Figura 1.2  – 

Inversamente, quando, por exemplo, há uma redução na renda, verificamos


uma diminuição da demanda por qualquer bem, ocorrendo um deslocamento
da curva para a esquerda, de D0 para D2. Significa que, para o mesmo nível de
preços, o consumidor estará demandando menos unidades do produto.

Entendendo a Demanda Real

Conhecer o comportamento da demanda é um aspecto crucial no processo de


tomada de decisões dos governos e das empresas. O que e quanto as famílias estão
dispostas a consumir, e a que preço, são informações que requerem pesquisas exten-
sas e muitas vezes bastante sofisticadas do ponto de vista metodológico. As empresas,
com essas informações, procuram atender o consumidor da melhor forma possível e,
com isso, aumentar suas vendas. Os governos buscam medir o nível de qualidade de
vida da população, de forma a orientar suas políticas econômicas e sociais.
O Governo brasileiro efetua diversas pesquisas com o objetivo de traçar, entre outros,
os perfis econômico, social, demográfico e comportamental do brasileiro. Por exemplo,
a Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF mede as estruturas de consumo, dos
gastos, dos rendimentos e parte da variação patrimonial das famílias, possibilitando
traçar um perfil das condições de vida da população brasileira a partir da análise de
seus orçamentos domésticos (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
2010, p. Introdução).

capítulo 1 • 29
Vejamos uma aplicação imediata da microeconomia à interpretação das informa-
ções obtidas na POF. O gráfico, extraído da POF 2008-2009 (IBGE, 2011), mostra o
consumo, em gramas por dia, de alguns itens alimentares por classe de renda. O 1º
quarto corresponde ao grupo de renda mais baixa, crescendo até o 4º quarto, a parcela
da população de renda mais alta. Pode-se perceber que o consumo dos bens varia com
a renda, mas não da mesma forma. Alguns bens têm seu consumo reduzido conforme
a renda aumenta e são chamados de bens inferiores, enquanto o consumo de outros
aumenta em proporção ao aumento da renda, chamados bens normais.
g/dia
250,0

200,0

150,0

100,0

50,0

0,0
Arroz Feijão Salada crua Farinha de Banana e
mandioca laranja

1º quarto 2º quarto 3º quarto 4º quarto

Tabela 1.2  –  Consumo per capita de arroz, feijão, salada crua, farinha de mandioca,
banana e laranja, por quartos de renda - Brasil - período 2008 - 2009 . Fonte: IBGE,
Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orça-
mentos Familiares 2008 - 2009.

1.3.4  A oferta

A oferta é definida como “a quantidade de um bem que os produtores desejam


vender por unidade de tempo” (PINHO, et al., 2011, p. 121). Assim como a de-
manda, devemos entender a oferta como um desejo medido como um fluxo por
unidade de tempo.
A declividade da curva de oferta é positiva, isto é, quanto maior o preço do
bem, maior será a quantidade que os produtores estarão dispostos a ofertar. A
tabela 1.3 e a figura 1.3 expressam esse comportamento.

30 • capítulo 1
TABELA DE OFERTA
PREÇO DA CARNE QUANTIDADE OFERTADA
R$ 10,00 2 kg
R$ 15,00 4 kg
R$ 20,00 6 kg
R$ 25,00 8 kg

Tabela 1.3  – 
P(bem x)
O(bemx)
25,00

20,00

15,00

10,00

2 4 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.3  – 

1.3.4.1  O que determina a oferta

Pelo gráfico vê-se que a oferta responde às variações do preço, isto é, uma varia-
ção do preço corresponderá uma variação da quantidade ofertada que ocorrerá
ao longo da curva. Isso pode ocorrer quando se verifica um aumento, ou redu-
ção, da demanda, alterando o que os consumidores estão dispostos a pagar
pelo bem (figura 1.4).
Px

Px1

Px0

Px2

Qx2 Qx0 Qx1 Qx

Figura 1.4  – 

capítulo 1 • 31
No entanto, outros fatores irão influenciar a própria decisão de oferta do
produtor. Vejamos (PINHO, et al., 2011, p. 122):
1. O preço dos outros bens. Se os preços de outros bens subirem e o preço
de um dado bem considerado permanecer inalterado, sua produção se tornará
menos atraente que a dos outros, resultando em diminuição da oferta.
2. O preço dos fatores e dos insumos de produção. Esses preços consti-
tuem, em um sentido amplo, os custos de produção. A elevação desses preços
implicará em diminuição da rentabilidade, tornando mais atraente a produção
de bens que tenham sofrido menor aumento desses custos (VASCONCELLOS &
SAKURAI, 2011, p. 81).
3. A tecnologia. Atrelada ao fator de produção capital, a tecnologia, no
entanto, merece uma consideração a parte, pois, independentemente de seu
custo, transformações tecnológicas podem acarretar em redução dos custos
de produção.

Quando, então, ocorre um aumento ou uma diminuição na oferta como um


todo, temos um deslocamento da curva inteira para a esquerda, no caso de au-
mento, ou para a direita, em caso de redução, conforme vemos na figura 1.5.
Isso significa que, a qualquer preço, os produtores estarão dispostos a ofertar
mais, ou menos, do bem.
Px O”
O
O’

Qx

Figura 1.5  – 

1.3.5  O equilíbrio do mercado

Conhecendo o comportamento da demanda e da oferta, pode-se construir um


modelo ideal que nos permita compreender como o preço se estabelece. Os
mercados caminham para situações de equilíbrio definidas como aquelas em

32 • capítulo 1
que nenhum dos participantes conseguiria melhorar sua situação particular
caso adotasse um curso de ação diferente. Em um mercado competitivo, a con-
dição de equilíbrio se daria quando o nível de preço fizer com que a quantidade
demanda seja igual à quantidade ofertada.
O preço de equilíbrio define, então, o preço que será praticado pelo merca-
do, considerando todas as demais condições constantes.
A tabela 1.4 nos mostra as expectativas dos consumidores e dos produtores
em termos das quantidades, respectivamente, demandadas e ofertadas. Vemos
que quanto maior o preço maior a quantidade ofertada e, em contrapartida,
quanto menor o preço maior a quantidade demandada.

TABELA DE OFERTA E DEMANDA (EM MIL KG)


PREÇO DA CARNE QUANTIDADE OFERTADA QUANTIDADE DEMANDADA
R$ 10,00 2 kg 8 kg
R$ 15,00 4 kg 6 kg
R$ 17,50 5 kg 5 kg
R$ 20,00 6 kg 4 kg
R$ 25,00 8 kg 2 kg

Tabela 1.4  – 

Ao se superporem as duas curvas, a de demanda e a de oferta, como na


figura 1.6, pode-se ver graficamente que o preço de equilíbrio do mercado
é de R$ 17,50, pois, com este preço, as quantidades ofertadas e demandas se
igualarão.
P(bem x)
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00

10,00
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.6  – 

capítulo 1 • 33
Na prática, vemos lojas praticando preços diferentes. Como isso se expli-
ca? Bem, na verdade, esse modelo é teórico. Supõe um funcionamento ideal do
mercado, em que todos os participantes têm acesso às mesmas informações.
Além disso, variáveis como conveniência (lojas que ficam abertas durante a ma-
drugada, por exemplo, cobram por isso) também influem no preço. Mas em
mercados concorrenciais, os preços tendem a se estabilizar em torno de um
equilíbrio geral (KRUGMAN, et al., 2010, p. 59).
Mas vejamos como se dá esse ajuste, considerando o mercado como um
todo. Suponha que o preço se fixe, por alguma razão, em R$ 25,00. Qual seria o
efeito sobre o mercado? Examinemos a figura 1.7.
P(bem x)
Excesso de oferta
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00

10,00
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.7  – 

A este preço os produtores iriam querer ofertar o equivalente a 8 mil quilos


do bem, mas os consumidores, por sua vez, estariam dispostos a consumir ape-
nas 2 mil quilos, o que provocaria um excesso de oferta. Os produtores, então,
irão reajustando as quantidades produzidas e os preços, deslocando-se ao lon-
go da curva de oferta (figura 1.8) até o preço de equilíbrio.
P(bem x)
Excesso de oferta
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00

10,00
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.8  – 

34 • capítulo 1
Agora, e se o preço se situar em R$ 15,00. A consequência, mostrada na fi-
gura 1.9, seria a ocorrência de escassez, pois a esse preço os consumidores de-
mandariam 6 mil quilos do bem, enquanto os produtores estariam dispostos a
ofertar 4 mil quilos.
P(bem x)
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00

10,00 Escassez
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.9  – 

Nesse caso, os consumidores não atendidos, devido à falta de mercadorias,


ficariam dispostos a pagar mais pelo bem, levando a um progressivo aumento
da oferta até que o preço se estabilizasse no ponto de equilíbrio (Gráfico 5a).
P(bem x)
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00

10,00 Escassez
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Isso demonstra que os mercados tendem a operar em condições de equi-


líbrio, pois os agentes econômicos, ao buscarem maximizar seus benefícios,
resolvem, via esse mecanismo de preço, os eventuais desequilíbrios.

1.3.6  Os efeitos da ação do governo sobre os preços

Quando se diz que o Governo não deve intervir no mercado, pretende-se mos-
trar que o efeito de tal participação seria danosa ao sistema de mercado. Cabe
examinar-se, então, qual seria o efeito de uma intervenção governamental no
sistema de preços.

capítulo 1 • 35
Primeiro, cabe examinar o efeito do aumento dos impostos sobre o consu-
mo. Eles agem diretamente sobre a curva de oferta, provocando um desloca-
mento à esquerda, como uma elevação dos custos de produção. Isso faria com
que o preço de equilíbrio aumente e a quantidade demandada diminua, con-
forme a figura 1.10 mostra. Ao contrário, uma redução dos impostos permitiria
a redução dos preços, aumentando correspondentemente a demanda.
Px

P1
P0

Q1 Q0 Qx

Figura 1.10  – 

Já o tabelamento de preços ou a fixação de preços mínimos faz com que se es-


tabeleçam situações artificiais no mercado, levando a condições de desequilíbrio.
O Governo, buscando garantir a toda população acesso a algum bem essen-
cial, pode determinar um tabelamento de preços, ou a fixação de um preço má-
ximo a ser praticado pelos ofertantes do produto. Vejamos o efeito desse tabe-
lamento de preços, utilizando o exemplo anterior. O preço de equilíbrio seria,
no exemplo, de R$ 17,50, onde as quantidades demandadas e ofertadas seriam
iguais. Suponha que o Governo tabele o preço em R$ 15,00. A tabela 1.11 mos-
tra que a esse preço os produtores estariam dispostos a ofertar 4 mil quilos do
bem, quantidade inferior à demanda a este preço, 6 mil quilos, e mesmo ao pre-
ço de equilíbrio, que seria de 5 mil quilos. Teríamos, nesse caso, uma situação
de desabastecimento.
Essa situação ocorreu, de fato, na época do Plano Real, em 1986, quando o
governo determinou o congelamento dos preços, o que equivale a um tabela-
mento geral em toda a economia. O resultado foi o esvaziamento das pratelei-
ras das lojas, poucos produtos eram de fato ofertados. Quando cessou, por fim,
o congelamento, as mercadorias voltaram às prateleiras

36 • capítulo 1
P(bem x)
O(bemx)
25,00

20,00
17,50
15,00 Preço tabelado

10,00 Escassez
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.11  – 

Eventualmente, com o objetivo de proteger o produtor, o Governo pode es-


tabelecer um preço mínimo, ou um piso para os preços. Suponha que fosse es-
tabelecido o preço mínimo de um bem em R$ 25,00. A esse preço os produtores
estariam dispostos a ofertar 8 mil quilos da mercadoria, enquanto os consu-
midores estariam dispostos a demandar apenas 2 mil quilos, resultando em
excesso de oferta. O efeito dessa medida é mostrado na tabela 1.12.
P(bem x)
Excesso de oferta
O(bemx)
25,00 Preço mínimo

20,00
17,50
15,00

10,00
D(bemx)

2 4 5 6 8 Quantidade (bem x)

Figura 1.12  – 

Mostra-se, nesses casos, que a intervenção do Governo distorce o funcio-


namento do mercado, impedindo que funcione como um alocador impessoal
de recursos. Esse modelo, no entanto, se aplica a uma situação genérica, ideal,
sem nenhuma das distorções encontradas no mundo real, resultante das estru-
turas da oferta e do papel do Governo. Existem outras dimensões relacionadas
à economia e um país em que o Governo pode e deve atuar. Esse assunto será
abordado no próximo capítulo.

capítulo 1 • 37
Figura 1.13  –  A matéria do Valor Econômico de 5/1/2016 é um bom exemplo de como o
Governo pode usar os impostos para proteger as indústrias siderúrgicas nacionais.

1.3.7  O panorama econômico

O quadro conceitual delineado acima mostra o ambiente em que a empresa


privada deve atuar para atingir seu objetivo de realização de lucro. As decisões
que seus executivos tomam habitualmente devem compreender os seus condi-
cionantes operacionais internos, o seu mercado, nacional e internacional, e o
ambiente institucional, dado pelas leis e pela ação do Governo, em que opera.
O Governo constitui-se, na verdade, no agente econômico com maior poder
individual, pois suas decisões pela magnitude e abrangência afetam não só a
economia do país, mas a toda a sociedade e, além disso, criam impactos no
próprio ambiente internacional. Assim, este será o tema do próximo capítulo,
onde serão abordados os aspectos referentes ao papel que desempenha na eco-
nomia e ao seu processo decisório.
Da leitura dos jornais sabemos que periodicamente o Governo estabelece a
taxa de juros Selic, a qual define os juros básicos da economia, influenciando
os juros praticados nas transações financeiras em todos os níveis. O mercado
financeiro, em sua ligação orgânica com o Estado, na medida em que serve si-
multaneamente ao financiamento da máquina pública e de instrumento de es-
tímulo à atividade econômica, além, claro, de financiar as atividades privadas,
será o tema do terceiro capítulo. Serão abordadas também as relações entre
moeda e inflação.
A globalização do mundo contemporâneo põe em evidência o setor externo
da economia como instância fundamental ao desenvolvimento, tendo alavan-
cado nosso crescimento econômico neste início de século. No capítulo 4, serão

38 • capítulo 1
tratados esses aspectos do comércio exterior brasileiro e do fluxo de investi-
mentos entre o Brasil e o mundo.
Finalmente, no capítulo 5, serão abordadas as políticas desenvolvimentis-
tas e as formas de se avaliar e medir o desenvolvimento econômico e social do
país, de modo a concluir-se este panorama econômico com as perspectivas fu-
turas do Brasil, ante aos desafios do século XXI.

ATIVIDADE

01. A matéria do Valor Econômico de 5/1/2016 é um bom exemplo de como o Governo


pode usar os impostos para proteger as indústrias siderúrgicas nacionais. Como você expli-
caria o efeito dessa medida utilizando o modelo estudado?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, M. B., & VASCONCELLOS, M. S. (2011). Introdução à Economia. Em D. B. PINHO, M. S.
VASCONCELLOS, & R. TONETO Jr., Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva.
GILPIN, R. (2002). A Economia Política da Relações Internacionais. Brasília: Editora Universidade
de Brasília.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Pesquisa de Orçamentos Familiares
2008-2009 - Despesas, rendimentos e condições de vida. Acesso em 5 de maio de 2013,
disponível em IBGE: hhttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/
pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf
IBGE. (2011). Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal
no Brasil (1 ed.). Rio de Janeiro: IBGE.

capítulo 1 • 39
KRUGMAN, P. R., & WELLS, R. (2007). Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Elsevier.
KRUGMAN, P. R., WELLS, R., & OLNEY, M. L. (2010). Princípios de Economia. Rio de Janeiro:
Elsevier.
PINHO, D. B., VASCONCELLOS, M. A., & TONETO Jr, R. (2011). Manual de Economia (6. ed.). São
Paulo: Saraiva.
SILVA, C. L., & SINCLAYR, L. (2010). Economia e Mercados - Introdução à Economia (19ª ed.).
São Paulo: Saraiva.
VASCONCELLOS, M. S., & SAKURAI, S. N. (2011). Demanda, Oferta e equilíbrio de mercado.
Elasticidades. Em D. B. PINHO, M. S. VASCONCELLOS, & R. TONETO Jr., Introdução à Economia.
São Paulo: Saraiva.

40 • capítulo 1
2
Sociedade, estado e
economia
2.  Sociedade, estado e economia
OBJETIVOS
•  Analisar as relações entre a Sociedade, o Mercado e o Estado;
•  Conhecer o funcionamento da máquina estatal;
•  Analisar, com os conceitos da ciência econômica, o papel do Estado;
•  Relacionar as políticas econômicas e os seus efeitos na economia.

2.1  Introdução

A nossa sociedade surge como resultado da interação dos indivíduos, no con-


texto das suas relações culturalmente estabelecidas em todos os níveis da con-
vivência. O ser humano existe como um ser social, já nascido no interior da so-
ciedade, pois ele se define por suas atividades – como fala, como se reproduz,
como provê seu sustento, logo sua própria existência – que são atos definidos
socialmente, isto é, são atos sociais1 .
O termo sociedade vai ser comumente usado em três sentidos: (1) a socie-
dade humana; (2) tipos históricos de sociedade (sociedade feudal ou sociedade
capitalista, por exemplo) e (3) qualquer sociedade específica (a Roma antiga ou
a França moderna)2 .
São diversas as definições de sociedade, pois resultam de diversas con-
cepções sobre sua natureza e caráter que os autores têm dela, mas podemos
resumi-las, para nossos objetivos, na definição de Del Vecchio3 , 1979, citado
por Matias-Pereira (2010): É o “complexo de relações pelo qual vários indiví-
duos vivem e operam conjuntamente, de modo que formem uma nova e supe-
rior unidade”.
Por qualquer dessas perspectivas, no entanto, a forma como as Instituições
sociais são arranjadas para manter e desenvolver economicamente a própria
sociedade é bastante variada. Desde uma tribo nômade que atue coletivamente
para a caça e a coleta até as sociedades industriais bastante complexas, encon-
tramos, no tempo e no espaço, sociedades com formas específicas de organiza-
ção das atividades de produção, de convívio e de mando. Essas formas distintas
1  (BOTTOMORE, 1993)
2  (BOTTOMORE, 1993)
3  Citado por Matias-Pereira (2010).

42 • capítulo 2
de organização surgem como resultado de processos históricos, isto é, de acon-
tecimentos transformadores da existência humana.

2.1.1  Sociedade e mercado

Uma questão importante, que surge quando examinamos qualquer sociedade,


é como ela supre as necessidades materiais de seus membros, ou seja, como
ela organiza a produção e a distribuição dos bens e serviços produzidos. Em so-
ciedades menos complexas, por exemplo, as sociedades tribais, essa organiza-
ção se faz de modo tradicional pela produção coletiva e pela distribuição mais
ou menos igualitária dos bens. Nessas sociedades, embora possamos identifi-
car um local onde eventualmente trocas sejam feitas, o que chamaríamos de
mercado, este não ocupa um lugar fundamental na organização econômica.
Mesmo em sociedades onde o comércio assume papel relevante na geração de
riquezas, como ocorreu nas civilizações da antiguidade, a distribuição dos re-
cursos materiais não é inteiramente regulada pelo mercado.
Apenas na sociedade do tipo capitalista, que se desenvolveu a partir do sécu-
lo XVIII, encontraremos uma economia construída em torno do mercado. Uma
economia de mercado, conforme Polanyi (2000), significa um sistema autorre-
gulável de mercados, isto é, uma economia onde os bens, serviços e fatores de
produção (terra, trabalho e capital) são distribuídos e alocados, exclusivamen-
te, pela troca. É claro que isso não se aplica inteiramente a nenhuma sociedade,
pois existem imperfeições nesse sistema que exigem intervenções externas a
ele, como examinaremos mais adiante.

2.1.2  Sociedade e estado

Podemos definir o Estado como a nação politicamente organizada4 , consti-


tuindo-se em um organismo político-administrativo cuja existência se justifica
a partir de três elementos essenciais: o povo, o território e o poder político. Ao
examinarmos as concepções podemos notar que a relação entre Estado e Socie-
dade consiste na questão central de uma discussão bastante atual: qual o papel
e o grau de intervenção do Estado na sociedade civil?

4  (LIMA E. Q., 1937)

capítulo 2 • 43
2.1.3  Funções do Estado

Podemos entender o Estado como um instrumento para a humanidade alcan-


çar seus objetivos. Dessa perspectiva, o Estado não é um fim em si mesmo, mas
tem por finalidade última atender às expectativas humanas nas suas realiza-
ções, ou seja, o Estado busca o bem comum.
É competência do Estado exercer seu poder sobre os negócios e as pessoas,
sendo sua finalidade o objetivo que busca alcançar. Esse objetivo é o bem pú-
blico, ou o bem comum, que não pode ser entendido como a soma do bem de
cada indivíduo, o que seria impossível realizar. Esse bem comum, assim, pode
ser definido como “o complexo de condições indispensáveis para que todos os
membros do Estado – nos limites do possível – atinjam livremente e esponta-
neamente sua felicidade na terra”5 .
O bem público pode ser definido resumidamente por dois bens sociais fun-
damentais: a segurança e o progresso dos indivíduos6 .
Para ao primeiro objetivo, o Estado desempenha funções que atendem aos
diversos aspectos da proteção ao indivíduo e à sociedade, como, por exemplo, a
segurança das fronteiras, os direitos do consumidor, o policiamento, entre ou-
tros. Para atingir os objetivos de progresso dos indivíduos, poderíamos acres-
centar as seguintes funções, de acordo com Joseph Stiglitz 7:
•  Promover a educação;
•  Fomentar a tecnologia;
•  Oferecer suporte ao setor financeiro;
•  Investir em infraestrutura;
•  Promover a concorrência;
•  Promover o desenvolvimento sustentável;
•  Manter uma rede de seguridade social.

2.1.4  Governo

O exercício do poder ou da autoridade do Estado constitui o Governo. A ele cabe


executar as políticas que resultam no cumprimento de suas funções. Nesse sen-
tido, devemos fazer a distinção entre as Políticas de Estado e as Políticas de Go-

5  Jean Dabin, citado por Azambuja (2008, p. 146).


6  (AZAMBUJA, 2008, p. 149)
7  Apud Matias-Pereira (2010).

44 • capítulo 2
verno, o que é importante para entendermos o caráter das ações governamen-
tais quanto à vontade do governante e sua obrigação como chefe de Estado.
As Políticas de Estado são aquelas definidas por lei que estabelecem as
premissas e objetivos do Estado, possuindo por isso um sentido de perma-
nência e estabilidade, resultantes de um diálogo da sociedade através das ins-
tituições políticas nacionais, em dado momento histórico. Assim, por exem-
plo, a Constituição brasileira de 1988 estabeleceu uma série de princípios
de defesa do cidadão e da cidadania que se tornaram a própria doutrina do
Estado brasileiro.
As Políticas de Governo, por seu turno, correspondem às orientações e
ações concretas do governante no cumprimento do seu programa de governo,
submetendo-se, naturalmente, às Políticas de Estado.
A Constituição Federal brasileira separa claramente as funções de Estado
e as funções de Governo, quando, por exemplo, estabelece como obrigação do
Estado brasileiro a promoção da saúde e da educação, tornando mandatório
aos Governos orientarem suas ações para o atendimento dessas áreas.

2.1.5  Políticas públicas

As políticas públicas correspondem àquelas ações “estabelecidas no espaço go-


vernamental, conjugando os objetivos e princípios das políticas de Estado (...)
com as metas e orientações de políticas governamentais”8 . Buscam estabelecer
diretrizes, através de metas, programas, princípios e objetivos, estabelecidos
politicamente, que orientem, articulem e coordenem a atuação dos agentes pú-
blicos e privados e a correspondente alocação dos recursos.
As políticas públicas abrangem a uma diversidade de doutrinas e ações ne-
cessárias ao desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, políticas de saúde,
de educação, de cultura, entre tantas outras. Estamos, aqui, especialmente
interessados nas políticas econômicas. Para isso, temos de entender a rela-
ção que existe entre o Governo e a Economia, utilizando os conceitos da ciên-
cia econômica.

2.2  Economia e governo

Podemos dizer, então, ser objetivo do Governo fomentar o desenvolvimento


econômico-social do país e, ao lado disso, sustentar o nível de atividade econô-
8  (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 89)

capítulo 2 • 45
mica. A forma como o Estado arrecada os recursos para sua manutenção, atra-
vés dos impostos, e a forma como gasta-os na realização das políticas públicas
têm efeito de igual poder no desenvolvimento da sociedade.
A ciência econômica, quando surge como área de conhecimento, definida
pelo pensamento de Adam Smith, define que o Estado deve ser não intervencio-
nista. A doutrina estabelecia o Estado fora das atividades econômicas, que cres-
ceriam naturalmente com a expansão dos negócios privados. Essa visão foi re-
forçada pelos economistas da chamada escola neoclássica, que entendiam que
o Estado deveria ter apenas um papel de guardião das instituições econômicas.
No entanto, as sucessivas crises do capitalismo, que ocasionaram, aqui e
ali, profundas depressões, com todas as implicações negativas sobre a renda
e o emprego, fizeram surgir uma doutrina econômica onde a participação do
Estado na economia tivesse um papel preponderante para a manutenção dos ní-
veis de atividade econômica. Fundada principalmente sobre o trabalho de John
Maynard Keynes, esta escola de pensamento entende que sempre que ocorrer
uma insuficiência de demanda – o que ocasionaria uma redução da atividade
econômica – caberia ao Estado através da redução dos impostos ou do aumento
dos seus gastos reestabelecer o equilíbrio de curto prazo da economia.
O modelo é bastante simples na sua concepção e pode nos ajudar a enten-
der as discussões que se vêm nos jornais sobre as políticas de governo para o
crescimento econômico. Como vimos no diagramado Fluxo Circular da Renda,
a renda de uma economia é correspondente a todo o consumo da sociedade
mais os investimentos havidos nas atividades produtivas.
Intuitivamente, podemos perceber que a renda de uma população, seja
fruto de salário, lucro ou rendas diversas, pode ser destinada ao consumo e a
poupança que por sua vez, num momento posterior, se torna investimento. Se
considerarmos a renda Y, o consumo C e o investimento I, poderemos expres-
sar essa igualdade na equação:

Y=C+I

Isso significa que se, por qualquer razão, tivermos uma diminuição no con-
sumo ou no investimento haveria uma diminuição na renda que, por sua vez,
no momento seguinte traria uma nova redução no consumo e / ou no investi-
mento trazendo, então, nova queda no nível da renda e assim por diante. Um

46 • capítulo 2
quadro como esse afetaria o nível de emprego desejável na economia e buscar
uma situação de pleno emprego, isto é, de plena utilização dos recursos dis-
poníveis na produção de bens e serviços, seria o principal objetivo das políti-
cas econômicas.
No entanto, sabemos que o Governo (G) é um agente econômico bastante
influente e, se acrescentarmos os gastos governamentais na equação, poderia
se ter uma melhor explicação e poder de intervenção sobre os ciclos de curto
prazo da economia.

Y = C + I + G9

Consideremos que o Governo efetua uma série de gastos (G), seja mantendo
a burocracia estatal, seja fazendo gastos com programas sociais ou de qualquer
outra natureza. Esses gastos, por sua vez, são financiados pela arrecadação de
tributos (T). Assim, poderiam ocorrer as seguintes situações:
1. G = T → o Governo gasta tanto quanto arrecada: o dinheiro retirado da
economia via tributos é restituído via gastos governamentais em igual medida.
2. G < T → o Governo gasta menos do que arrecada: retira-se mais dinhei-
ro da economia do que se reintroduz.
3. G > T → o Governo gasta mais do que arrecada: a massa de dinheiro
retirada da economia é mais do que compensada pelos gastos do governo.

Repare que os gastos governamentais afetam a renda positivamente, isto é,


um aumento dos gastos públicos levam a um aumento do consumo e do inves-
timento. O limite de sua aplicação está nas consequências sobre os preços: o
Governo tem de manter um estreito balanceamento dos seus gastos para que
não haja uma aceleração da inflação. Ao contrário, os tributos têm um efeito
depressivo sobre a economia, um aumento dos tributos ocasiona diminuição
da renda.
A política de economia que trata da administração dos gastos públicos
chama-se política fiscal, da qual iremos tratar mais a frente. No entanto, diver-
sos aspectos da economia de um país são abordado por políticas específicas.
As questões relativas à moeda, isto é, aos meios de pagamentos, são tratadas
pela política monetária e as relativas ao câmbio, isto é à troca de moedas, pela
9  O Produto Interno Bruto – PIB, que tanto se fala, corresponde a essa equação, que poderia ser assim escrita,
PIB = C + I + G, em uma economia sem comércio exterior. Considerando o comércio exterior, isto é, o total das as
exportações menos as importações, teríamos PIB = C + I + G + X – M. Esse assunto será tratado no capítulo V.

capítulo 2 • 47
política cambial. Além dessas, temos as políticas de promoção ao comércio ex-
terior e ao conjunto de políticas de desenvolvimento.
Dessa forma, o Governo passa a dispor de instrumentos de política econô-
mica capazes de administrar os ciclos econômicos de curto prazo. Embora, na
sua aplicação, seja mais complexa do que o exposto como modelo, em essência
é essa a discussão, que você deve acompanhar pelos jornais diariamente, em
torno dos gastos do Governo e da carga tributária imposta à sociedade.

Quando falamos das ações econômicas do governo, estamos nos referindo a atuação
de vários órgão que, no poder executivo, tem funções distintas no planejamento, exe-
cução e controle das políticas de governo. Vejamos os principais:
1. Ministério da Fazenda - MF: o órgão responsável pelo planejamento, formulação
e execuçãodas políticas econômicas nacionais, abrangendo a administração dos recur-
sos públicos e a arrecadação tributária federal. Fazem parte de sua estrutura organiza-
cional os principais órgãos responsáveis pela condução da economia. Visite a página
<http://www.fazenda.gov.br>.
2. Secretaria da Receita Federal do Brasil: subordinada ao MFé responsável pela
administração dos tributos de competência da União, inclusive os previdenciários, e aque-
les incidentes sobre o comércio exterior. Visite: <http://www.receita.fazenda.gov.br/>.
3. Secretaria do Tesouro Nacional: responsável pela administração e utilização
dos recursos financeiros que entram nos cofres do Estado brasileiro, fazendo, também,
o controle da dívida pública da União. Visite: <https://www.tesouro.fazenda.gov.br/>.
4. Banco Central do Brasil: é o principal executor da política monetária, responsável
por garantir o poder de compra da moeda nacional, tendo as seguintes atribuições,
entre outras: emitir papel-moeda e moeda metálica, efetuar operações de compra e
venda de títulos públicos federais, exercer a fiscalização das instituições financeiras e
controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. Visite: <http://www.bcb.gov.br>
Ressalte-se que não é a política fiscal o único instrumento de política econômica que
o governo dispõe para cumprir essas funções, ele dispõe de outras formas de influir na
economia como, por exemplo, através da política monetária e a da cambial.

48 • capítulo 2
A política monetária também tem efeitos sobre a economia. Nesse caso, o governo
reagiria a uma queda na demanda reduzindo a taxa de juros, estimulando, dessa forma,
que empresas e indivíduos peguem recursos no mercado financeiro para investir ou
consumir, aumentando, de qualquer forma, a demanda agregada. Em caso inverso, por
exemplo, se o governo julga elevada a inflação, provocada por um aumento da deman-
da, pode elevar a taxa de juros, provocando um desaquecimento da economia.
A política cambial, por seu turno, por referir-se ao estabelecimento de uma taxa de
troca entre a moeda local e a estrangeira, afeta os níveis de preço e o desempenho do
setor externo da economia e constitui-se em outro instrumento de política econômica
de competência do Estado.
A ação de governo se dá no uso dessas e outras políticas, de acordo com as par-
ticularidades de cada situação e, buscando obter o melhor resultado, ao menor custo,
para o crescimento da economia.

A atuação do Estado sobre a economia, no entanto, se dá de forma integrada,


conjugando o aparato jurídico-institucional e o conjunto de políticas econômi-
cas. Os objetivos da sociedade são expressos pelos canais de representatividade
existentes e próprios a cada formação social, sendo moldados pela atuação dos
poderes legislativo e judiciário, que fazem e aplicam as leis e pelo poder execu-
tivo, que implementa e operacionaliza as políticas de Estado e de Governo.

2.2.1  Governo, déficit e inflação

Na execução da política fiscal, isto é, na execução das políticas de arrecadação e


de gastos do governo, interessa-nos especialmente entender o impacto líquido
sobre a sociedade. Este é o significado das políticas fiscais.
Como é função do governo, entre outras, estimular o crescimento econô-
mico e como, no desempenho de suas funções ele é chamado a gastar cada vez
mais, entender e administrar o déficit público é um ponto central nas discus-
sões sobre as finanças públicas.
As ações imediatas de Política Fiscal em caso de déficit são o aumento de
impostos ou o corte nos gastos. No entanto, pelo impacto que tais medidas po-
dem ter sobre a economia, pode-se considerar financiá-lo com recursos extra
fiscais, obtendo os recursos necessários junto ao Banco Central ou junto ao se-
tor privado. O impacto dessas duas formas sobre a economia é diferenciado

capítulo 2 • 49
pelo efeito que provocam na quantidade de moeda em circulação e sobre o grau
de endividamento do governo.
Na primeira forma, o Tesouro Nacional obtém o recurso do Banco Central,
que, por sua vez, emite moeda para compensação do déficit. Essa forma é, por
isso, inflacionária, pois eleva a quantidade de moeda em circulação. Isso cria o
que se chama de imposto inflacionário, isto é, uma diminuição do poder aqui-
sitivo da população pela defasagem entre os preços e os salários, pois estes são
corrigidos após a elevação dos preços. Isso é uma decorrência do monopólio de
emissão do Banco Central e da sua capacidade de emitir quase indefinidamen-
te, fazendo que a moeda, pelo aumento da quantidade em circulação, perca seu
valor frente aos bens e serviços ofertados.
O efeito inflacionário da política fiscal é uma das consequências mais gra-
ves do desequilíbrio das contas públicas e explica por que a preocupação do go-
verno em controlar os déficits. Atualmente, o déficit público é colocado, de for-
ma quase consensual, como elemento chave a ser contemplado em qualquer
estratégia que vise manter sob controle a inflação no Brasil10 .
A obtenção dos recursos com o setor privado, a segunda forma, é feita com
a emissão de títulos da dívida pública11, trocados por moeda em circulação, o
que não traria, de imediato, efeitos inflacionários, mas elevaria o montante da
dívida pública. Eventualmente, a depender das condições de crescimento da
dívida, o governo poderia ser obrigado a elevar as taxas de juros oferecidas, de
modo a atrair investidores, internos e externos. Uma consequência disso seria a
diminuição dos investimentos no setor produtivo, que seriam voltados para os
empréstimos ao governo. O aumento da dívida, considerada como uma propor-
ção do PIB, poderia, enfim, aumentar o risco percebido pelos emprestadores e
forçar uma escalada nos juros.
Este é, na verdade, um ponto importante: o nível dos juros é, em parte, fun-
ção do risco percebido pelo emprestador, quanto maior o risco de uma opera-
ção maior os juros a partir do qual os investidores estariam dispostos a aplicar
seu capital. Em se tratando de empréstimos a governos, o risco associado resul-
ta da capacidade percebida de pagamento. Assim, países desenvolvidos, como
os Estados Unidos, pelo tamanho de sua economia e da força de seu Estado, são
avaliados como de risco baixo para o investidor, isto é, supõem-se que eles sem-
pre honrarão os títulos emitidos. Seus governos podem, então, mesmo com um
10  (MASSENBERG, 1996)
11  Dívida Pública: é a dívida, contraída pelo governo com entidades e pessoas da sociedade, visando angariar
recursos para cumprimento de suas funções. A dívida pública federal exclui os governos estaduais, o Banco Central
e as empresas estatais.

50 • capítulo 2
elevado nível de endividamento, trabalhar não só com níveis baixos de juros,
mas, principalmente, oferecer títulos de longo prazo, com vencimento para
mais de 10 anos.
Situações como essa, normalmente aplicáveis a países desenvolvidos, po-
dem, no entanto, serem revertidas, por conta de um continuado crescimento
da dívida pública ou de fatores externos que se combinem para forçar uma di-
minuição no grau de confiança na capacidade de um país gerenciar sua dívida.

As Agências de Risco desempenham um papel importante para o investidor. Elas


são agências privadas, prestadoras de serviços de avaliação de risco de governos
e empresas, de modo geral. A partir do exame dos balanços e das contas públicas,
atribuem “notas” relacionadas ao risco que os investidores correm ao aplicarem seus
recursos em ações ou títulos de dívida de determinada empresa, ou em títulos da
dívida pública de governos.

2.3  O setor público

A intervenção do Estado na economia não se justifica apenas por sua capacida-


de de aumentar a demanda agregada via gastos, mas para corrigir situações ou
suprir carências que o mercado por si não consegue atender.
Vimos, no capítulo anterior, que, em uma economia de mercado, as neces-
sidades do conjunto da sociedade são satisfeitas pelas empresas privadas, que
seriam, em tese, mais eficientes do que o governo.
Mercados competitivos, sob certas condições específicas, promoveriam
uma melhor alocação dos recursos, o que resultaria sempre na maximização
das satisfações individuais, isto é, em uma situação de equilíbrio teórico em
que nenhum indivíduo conseguiria melhorar seu grau de satisfação sem piorar
o de outro indivíduo. Tal condição de alocação de recursos, estabelecida pelo
livre jogo de mercado, é denominada ótimo de Pareto.
Para atingir esse nível ótimo de alocação, é dispensável a atuação de uma
entidade reguladora, de um planejador central (como o governo). Na verdade,
de acordo com essa teoria, apenas operação das empresas em um mercado
competitivo, buscando a maximização de seu lucro, permitiria a maximização
do produto total, logo da maior eficiência no uso dos recursos.

capítulo 2 • 51
2.3.1  Falhas de mercado

Essas condições não se realizam, na prática, de forma generalizada. Circuns-


tâncias específicas, chamadas de “falhas de mercado”, impedem que se verifi-
que esse equilíbrio automático no jogo de forças do mercado, são elas:
•  A existência de bens públicos;
•  A existência de monopólios naturais;
•  As externalidades;
•  Os mercados incompletos;
•  As falhas de informação;
•  A ocorrência de desemprego e inflação.

2.3.2  Bens públicos

Bens públicos são aqueles cujo consumo por um indivíduo não afeta o consu-
mo do mesmo bem por outro indivíduo. Resulta disso que toda a sociedade
se beneficia da produção de bens públicos, mesmo que alguns se beneficiem
mais do que outros12 .
Exemplos de bens públicos: ruas, iluminação pública, justiça, seguran-
ça pública e defesa nacional. O consumo desses bens, é fácil constatar, não é
afetado pela quantidade consumida por cada indivíduo, todos podem indis-
tintamente usufruir dos benefícios gerados. É claro que, se muitas pessoas
transitarem por uma determinada rua a uma determinada hora, haverá engar-
rafamentos e lentidão no trânsito, mas esse efeito afetará igualmente a todos
os usuários.
Uma das características do bem público é sua indivisibilidade: pelos exem-
plos vistos, é fácil perceber que esses bens não podem utilizados parcialmente
e de forma identificável por cada indivíduo: todos nós nos beneficiamos da ilu-
minação pública como um todo.
Outra característica importante é o chamado princípio da não-exclusão:
de um modo geral todos podem usufruir do bem público, sendo praticamen-
te impossível vedar seu acesso a um indivíduo em particular. Isso implica na
não rivalidade do consumo, ao contrário do que ocorre com os bens privados,
quando seu uso por uma pessoa implica da exclusão de uso por outra pessoa.
Exemplificando: todos beneficiam-se igualmente da administração da justiça,
12  (GIAMBIAGI & ALÉM, 2011) e (PINHO, VASCONCELLOS, & TONETO Jr, 2011)

52 • capítulo 2
direito assegurado constitucionalmente à cada cidadão, e o fato de um cidadão
recorrer à justiça não implica na diminuição do direito e do uso por outro cida-
dão (aqui vale o que ocorre no trânsito intenso de uma rua: se todos acorrerem
à justiça ela poderá se tornar mais lenta, mas isso não invalida o princípio). Por
outro lado, se adquiro qualquer bem ou serviço privado excluo, automatica-
mente, a possibilidade de outro consumidor adquiri-los, isto é, são consumos
“rivais”.
Por essas características essenciais ao bem público, uma questão essen-
cial se coloca à sociedade: como ratear esses custos de produção desses bens
entre a população?
Dada sua indivisibilidade, é impossível determinar o efetivo benefício que
cada cidadão terá com seu consumo. Os cidadãos não poderiam ser chamados
a atribuir preços no montante de sua utilização, pois tenderiam a minimizar o
valor dos benefícios gerados para reduzir o valor de suas contribuições. Além
disso, alguns, Giambiagi e Além chamam de “caronas”, poderiam alegar que
não precisam daquele bem ou serviço, recusando-se a pagar por eles, o que se-
ria possível pelo princípio da não exclusão.
Por conta disso, o mercado não tem como suprir esse tipo de bens. Um
sistema de mercado só pode funcionar quando o princípio da exclusão pode
ser inteiramente aplicado, pois o comércio só pode ocorrer quando é garanti-
do o direito à propriedade, isto significa que há a determinação do consumo
individual.
Decorre daí que apenas o Estado pode prover os bens públicos, pois tem a
capacidade de financiar-se com impostos, cobrindo assim os custos do forneci-
mento sem atribuir um preço específico ao consumo.

2.3.3  Monopólios naturais13

São definidos por aqueles setores onde os ganhos de escala são relevantes no
âmbito da produção, isto é, quanto maior o produto gerado menor será o custo
unitário de produção. Esse fenômeno ocorre em setores que possuem carac-
teristicamente um elevado custo fixo, implicando na queda do custo unitário
conforme a produção aumente.
Por exemplo, as companhias de gás possuem um elevado custo fixo, resul-
tante do custo de implantar uma rede de tubulação para distribuição do gás,

13  (KRUGMAN & WELLS, 2007) e (GIAMBIAGI & ALÉM, 2011).

capítulo 2 • 53
fazendo que apenas grandes distribuidores sejam economicamente viáveis. O
mesmo é válido para o setor elétrico, na produção e distribuição de energia.
São chamados monopólios naturais porque se formam como decorrência
das características de operação de determinados setores, não necessitando,
teoricamente, de nenhuma ação específica empresarial ou governamental que
leve à concentração da oferta (que seria o caso dos outros tipos de monopólio).
Considerando a melhor eficiência alocativa resultante da livre competição,
o monopólio não trará os melhores resultados para a sociedade, já que ofertará
uma quantidade menor de produto a um preço maior. O conflito de interesses
que se estabelece aí, entre a empresa monopolista e a sociedade, é evidente,
podendo exigir uma ação governamental.
As políticas públicas possíveis para intervir nesse mercado assumem
duas formas:
1. Propriedade pública: o próprio Estado passa a se responsabilizar pela
oferta do bem. Este foi o caso, na nossa história recente, dos setores de tele-
fonia e eletricidade, por exemplo. Estamos falando aqui da atuação do Estado
frente à existência de um monopólio natural. Outras razões, por exemplo, ques-
tões relativas à segurança nacional, podem levá-lo a assumir o encargo da pro-
dução. De uma forma ou de outra, no entanto, alguns economistas irão dizer
que a atuação do Estado trará um prejuízo à sociedade maior ainda do que cau-
saria o próprio monopólio, pois aspectos políticos interferindo na produção
poderiam levar à escassez e à corrupção. O que nos levaria à segunda forma
de intervenção.
2. Regulação: dessa forma o Governo deixa o setor em mãos da iniciativa
privada e apenas controla a fixação dos preços e a qualidade da oferta. O contro-
le de preços em um mercado monopolista não levará, necessariamente, a uma
situação de escassez, pois, desde que o nível dos preços estabelecidos fique aci-
ma do custo de produção de uma unidade adicional, a empresa estará disposta
a atender a demanda àquele preço.

De uma forma ou de outra, a ação do governo é necessária para minimizar


o conflito de

54 • capítulo 2
2.3.4  Externalidades14

As externalidades podem ser definidas como “impactos gerados pelas ativida-


des de produção e consumo de agentes envolvidos em um mercado específico
e que atingem outros agentes não diretamente envolvidos no mercado”15 . De-
pendendo do valor desse efeito gerado, podemos classificá-las como “externa-
lidades positivas” ou “externalidades negativas”.
Por exemplo, investimentos feitos na geração de energia elétrica geram be-
nefícios para todos os outros setores da economia e não só para a empresa e a
produz e aufere lucros com isso. Ao contrário, os dejetos da indústria química
jogados no mar geram prejuízos ambientais para todo o planeta.
O Estado passa a ter um papel importante na redistribuição desses efeitos,
tanto positivos quanto negativos, para toda a sociedade. Assim, o Estado pode
conceder subsídios para estimular ou retribuir a geração de externalidades po-
sitivas ou cobrar impostos ou multas para desestimular externalidades negati-
vas. É crescente, na atualidade, a responsabilidade do Estado em regulamentar
e atuar sobre a geração de externalidades.
Uma rede de saneamento para uma comunidade carente sem dúvida ne-
nhuma gera efeitos positivos não só para aquela comunidade, mas para toda
a sociedade, na medida em que, por exemplo, diminuem as doenças e, por
consequência, a demanda por serviços sociais de saúde. O governo pode, al-
ternativamente, assumir o encargo pelo investimento ou conceder subsídios
para que o setor privado o faça. A cobrança de multas ou a fixação de tetos
quantitativos para a emissão de gases na atmosfera é outro exemplo da atua-
ção governamental.

2.3.5  Mercados incompletos

Define-se que um mercado é incompleto “quando um bem ou serviço não é


ofertado mesmo que seu custo de produção esteja abaixo do preço que os po-
tenciais consumidores estariam dispostos a pagar”16 .
Essa noção aplica-se principalmente a economias em desenvolvimento,
quando o mercado não é capaz de atender às demandas da economia, mesmo
que estas se refiram a atividades típicas de mercado. Isso porque nem sempre
14  (GIAMBIAGI & ALÉM, 2011)
15  (PINHO, VASCONCELLOS, & TONETO Jr, 2011)
16  (GIAMBIAGI & ALÉM, 2011)

capítulo 2 • 55
o setor privado está disposto a assumir certos riscos, ou mesmo não possui a
capacidade organizadora da produção necessária à produção.
Nos processos de industrialização, a coordenação entre os diversos agentes
produtivos (empresas, bancos e outros agentes, como escolas técnicas) deman-
da a ação de Governo, posto que a iniciativa privada não possui, normalmente,
essa capacidade de ação integradora.

2.3.6  Falhas de informação

Falhas de informação ocorrem porque o mercado não fornece por si todas as


informações necessárias às tomadas de decisão dos consumidores e das em-
presas. O Estado pode então induzir essa transparência, mediante uma legisla-
ção adequada que obrigue a divulgação de determinadas informações. A obri-
gatoriedade de publicação dos demonstrativos contábeis das empresas, ou de
informações sobre a composição dos produtos nas embalagens, são exemplos
da ação do Estado para garantir um fluxo de informações eficiente.

2.3.7  Desemprego e inflação

O funcionamento normal do mercado não garante, por sua dinâmica de ope-


ração, a manutenção dos níveis de emprego do nível dos preços nos patamares
mais próximos possíveis do desejado pela sociedade. Somente o Estado pode
estabelecer políticas que conduzam a economia a operar dentro de limites que
maximizem a geração do produto.

2.3.8  Falhas de mercado e governo

Essas condições não ocorrem isoladamente, mas combinam-se muitas vezes


de forma variada, gerando benefícios, ou malefícios, para a sociedade como
um todo. A despoluição do ar, por exemplo, gera uma externalidade positiva
para todo e, ao mesmo tempo, constitui-se em um bem público, já que todos
têm acesso ao ar de melhor qualidade. Além disso, por gerarem um efeito sobre
toda a sociedade, essas falhas de mercado demandam necessariamente a ação
governamental para sua correção, pois o mercado é incapaz de resolver a con-
tento todas as demandas de uma população.

56 • capítulo 2
Podemos, enfim, estabelecer a necessidade da ação do Governo sobre a eco-
nomia por que:
1. O sistema de mercado necessita de uma série de contratos, isto é, de
uma estrutura legal que os definam e os tornem efetivos. Assim, na compra de
um bem, em que o vendedor dá uma garantia quanto a defeitos de fabricação,
o sistema jurídico existente garante ao consumidor a obrigatoriedade do cum-
primento daquele contrato de compra e venda.
2. O sistema de mercado é imperfeito. Os monopólios naturais, as exter-
nalidades, positivas ou negativas, a existência de bens públicos, por exemplo,
tornam necessária a ação do Estado para sua correção.
3. A manutenção das taxas de crescimento e dos níveis de desenvolvimen-
to desejados pela sociedade não são garantidos, necessariamente, pelo sistema
de mercado. Os níveis de emprego e a estabilidade de preços, por exemplo, re-
querem muitas vezes a intervenção do governo na economia.
4. A promoção do desenvolvimento social requerido pela sociedade é ou-
tra dimensão que não é necessária e automaticamente atingida pelo livre fun-
cionamento do mercado.

No ambiente internacional, cada vez mais complexo, cada vez mais interde-
pendente, a ação do governo tem se tornado crescente. O quadro a seguir mos-
tra o gasto público como percentual do Produto Interno Bruto de alguns países
selecionados, para o período de 2006 a 2015.

Analisando a economia real

GASTOS GOVERNAMENTAIS COMO PERCENTAGEM DO PIB - %


PAÍS 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Argentina 22,4 24,6 28,1 29,4 29,6 31,7 33,9 35,4 38,1 40,3
Brazil 39.,2 37,7 37,4 37.2 38,8 37,6 38,0 38,6 40,2 41,2
Chile 18,7 19,4 21,7 24,7 23,9 23,3 23,7 23,9 24,9 28,2
China 18,5 18,3 22,6 25,8 25,9 28,5 28,1 29,2 29,7 30,8
Germany 44,5 42,7 43,4 473 47,0 44,4 44,0 44,1 44,3 43,9
Korea 20,3 20,5 20,8 21,3 19,5 19,9 20,6 20,9 20,0 20,8
Mexico 22,9 23,4 25,8 28,2 28,7 27,1 27,7 28,0 28,1 28,1
United
33,6 34,5 36,8 41,5 39,7 38,6 37.,3 38,2 35,7 36,0
States

Fonte: Fundo Monetário Internacional - http://www.imf.org

capítulo 2 • 57
A série anteriormente mostra os gastos governamentais de um grupo de países selecionados
expressos como percentagem do PIB, indicando o tamanho do Governo em relação à economia.
A partir dessa amostra, sugerimos que você faça as seguintes análises:

1. Existe alguma relação entre o tamanho do governo e o grau de desenvolvimento


dos países?
2. O que ocorreu com os gastos públicos, de um modo geral, após 2008? O que po-
deria explicar esse comportamento?

2.3.9  A política fiscal e funções do governo17

Através da Política Fiscal o governo cumpre, do ponto de vista estritamente eco-


nômico, três funções básicas:
1. A função alocativa: que se refere ao fornecimento de bens públicos,
bens não oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado.
2. A função distributiva: relacionada à distribuição de renda, já o sistema
de preços nem sempre leva a uma distribuição de renda desejável pela socieda-
de como um todo.
3. A função estabilizadora: que busca alterar o comportamento dos pre-
ços e emprego, uma vez que nem a estabilidade de preços, nem o pleno empre-
go ocorrem de modo automático.

2.3.10  A função alocativa

Vimos que o mercado não é sempre eficiente no fornecimento dos bens e pro-
dutos à sociedade. Por suas características de oferta, os bens públicos não
criam um vínculo direto entre o fornecedor do bem ou serviço e o consumidor,
tonando impossível, ou inviável, estabelecer um mecanismo de pagamento ao
produtor. A intervenção necessária para garantir o fornecimento desses bens,
sem um sistema de preços que os regule, impõe ao governo determinar a quan-
tidade de bens públicos a serem ofertados e calcular o nível de contribuição de
cada consumidor.
Cabe, então, ao governo:
1. Determinar o tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados:
essa escolha é feita pelo governante, mas deve espelhar a vontade da sociedade

17  (GIAMBIAGI & ALÉM, 2011) e (PINHO, VASCONCELLOS, & TONETO Jr, 2011)

58 • capítulo 2
que irá corresponder a um determinado arranjo político. Em regimes democrá-
ticos o voto do eleitor substitui, nesse caso, a escolha que o consumidor faz no
mercado: os políticos estabelecem suas plataformas em termos dos bens pú-
blicos julgados prioritários (redução da poluição, segurança etc.) e os eleitores
fazem suas escolhas, estabelecendo pelo voto o quadro de prioridades.
2. Calcular o nível de contribuição de cada consumidor: na realidade é
praticamente impossível determinar e obter o pagamento relativo ao consumo
do bem público de cada indivíduo. Pelas razões vistas, os consumidores desses
bens tenderiam a não identificar o consumo efetivo do bem e, então, não seria
possível estabelecer uma contribuição proporcional como pagamento. Decorre
daí que somente via impostos o bem público pode ter financiada sua produção.

Acontece, ainda, que em determinados estágios de desenvolvimento econô-


mico de um país a iniciativa privada, via o sistema de mercado, é incapaz de
fornecer todos os bens necessários, especialmente aqueles de infraestrutura
(como, por exemplo, a geração de energia elétrica ou a construção de ferrovias),
que demandam investimentos de grande porte. Nesse caso, o Estado pode, e
assumirá em vários casos, o papel de empreendedor, pois seria capaz de mo-
bilizar os recursos necessários à produção desses bens e suportar os grandes
prazos de maturação18 desses investimentos.

2.3.11  A função distributiva

A distribuição de renda resultante do livre jogo do mercado nem sempre é a


desejada pela sociedade. Uma série de fatores estruturais, isto é, decorrentes
da formação econômica e social de um país, e às vezes conjunturais, produzem
efeitos na remuneração dos fatores de produção (terra, trabalho e capital), nem
sempre adequados à manutenção do crescimento econômico e do desenvolvi-
mento social. Cabe ao Governo intervir, transferindo a renda de uma parcela da
população para outra através dos seguintes instrumentos:
1. Transferências: a partir dos tributos arrecadados, na sua maior par-
te das classes de renda mais altas, pode-se aumentar os rendimentos finan-
ceiros dos indivíduos de renda mais baixa. Pode-se, também, aplicar esses

18  Isto é, o prazo necessário até que o empreendimento comece a gerar lucro. Na geração de energia hidrelétrica,
por exemplo, decorrem anos entre o início da construção da represa e da usina até sua conclusão, início das
operações e a distribuição efetiva da energia.

capítulo 2 • 59
recursos arrecadados em programas de cunho social, como a construção de
moradias populares.
2. Impostos: o governo pode, e normalmente o faz, estabelecer alíquotas
de impostos mais altas sobre os bens considerados de luxo, ou de consumo su-
pérfluo. Além disso, a própria forma de cálculo do imposto sobre a renda impli-
ca em maior taxação das rendas mais altas.
3. Subsídios: o governo pode ainda subsidiar atividades econômicas de
interesse social, aplicando, por exemplo, zerando ou reduzindo as alíquotas
para produtos de consumo popular.

2.3.12  A função estabilizadora

O Estado tem um papel importante na manutenção dos níveis de emprego na


economia, pois o montante de seus gastos e dos impostos aplicados pode gerar
um efeito positivo ou negativo no crescimento econômico. O modelo keynesia-
no, brevemente apresentado, estabelece as bases conceituais para essa ação. A
principal contribuição desse modelo foi, exatamente, mostrar que o mercado
por si só não teria as condições de manter a economia nos níveis de pleno em-
prego, cabendo ao Estado, através da política fiscal, isto é, da administração
dos gastos e dos tributos, a manutenção do crescimento. Além da política fis-
cal, o governo dispõe, para esse fim, das políticas monetárias, o conjunto de
ações sobre a moeda e os juros.
Suponha que a demanda agregada – a demanda por todos os bens e serviços
da economia – esteja em declínio, por exemplo, por conta de um aumento dos
impostos. Os empresários, prevendo uma redução nas suas vendas, deixam de
contratar novos empregados, ou mesmo reduzem o quadro dos funcionários
contratados, fazendo demissões. O efeito disso é que, no período seguinte, de-
vido à redução, ou não crescimento, do número de pessoas empregadas, veri-
ficaremos uma nova queda na demanda agregada, o que levará às empresas a
reduzirem ainda mais suas expectativas de venda, e assim por diante, em um
círculo vicioso.
A intervenção do governo, nesse caso, poderá recuperar os níveis de cres-
cimento, através da política fiscal. O aumento de seus gastos, por exemplo,

60 • capítulo 2
fazendo novas compras para o setor da saúde, trará a elevação da demanda do
setor, que por sua vez contratará novos empregados para atender a essa de-
manda. Esses contratados naturalmente aumentarão o seu consumo por ou-
tros bens, afetando positivamente as vendas de outras empresas, que em razão
dessa nova demanda contratarão mais funcionários, gerando, por sua vez, um
efeito positivo sobre outras empresas e assim sucessivamente.
Nota-se, pelo exemplo, o efeito depressivo na economia dos tributos, por
retirarem poder de compra dos consumidores ao aumentar os impostos e, por
outro lado, o efeito positivo dos gastos governamentais, por recuperarem os ní-
veis de demanda agregada e, com isso, o crescimento econômico.

2.4  Organização das finanças públicas

As Finanças Públicas, como atividade de Estado, têm a sua organização esta-


belecida por leis que a definem. No Brasil, a matéria é disciplinada em espe-
cial pela Constituição Federal, pela Lei 4320/64 e pela lei Complementar nº
101/2000, que estruturam as linhas de atuação dos governos federal, estadual
e municipal.
O objetivo final das Finanças Públicas é desempenhar a atividade fiscal, isto
é, aquela atividade “desempenhada pelos poderes públicos com o propósito de
obter e aplicar recursos para o custeio dos serviços públicos” (Matias-Pereira,
2010). Ela se estabelece em dois conjuntos de diretrizes:
1. Política Tributária: correspondente a captação de recursos.
2. Política Orçamentária: refere-se à orientação e sistematização das re-
ceitas e dos gastos governamentais.
Na realidade, é a função orçamentária que conjuga todas, ou quase todas,
ações governamentais, estabelecendo de forma sistemática todos os ingressos
e dispêndios financeiros do Estado. O orçamento é, então, o instrumento de
planejamento que representa e condiciona o fluxo previsto de ingressos e de
aplicação de recursos financeiros em determinado período. Toda e qualquer
movimentação financeira verificada nos cofres públicos está no âmbito das
Finanças Públicas, no entanto, em um sentido estrito, apenas aquelas cons-
tantes no Orçamento são consideradas como tais, tanto no que diz respeito à
receita quanto à despesa.

capítulo 2 • 61
A elaboração do orçamento do Estado é um processo longo e formal, envol-
vendo todas as esferas do poder público, cumprindo as etapas de planejamen-
to, elaboração, discussão e aprovação. Vamos, agora, entender um pouco como
o Orçamento do estado se organiza e como se dá sua elaboração.
O Orçamento Geral da União (OGU) é formado pelo Orçamento Fiscal, da
Seguridade e pelo Orçamento de Investimento das empresas estatais federais.
A Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Executivo a responsabili-
dade pelo sistema de Planejamento e Orçamento que irá, então, gerir o proces-
so orçamentário público, que compreende duas fases, as de elaboração e as de
execução das leis orçamentárias.
As leis orçamentárias, por sua vez, compreendem os instrumentos de pla-
nejamento utilizados, quais sejam, o PPA, a LDO e a LOA, que tomam a forma
de lei para sua efetividade (Senado Federal, 2011):
1. Plano Plurianual – PPA: é o instrumento de planejamento de médio
prazo, que estabelece as diretrizes, objetivos e metas os projetos e programas de
longa duração, definindo as prioridades do governo por um período de quatro
anos. Nenhuma obra de grande vulto ou cuja execução ultrapasse um exercício
financeiro pode ser iniciada sem prévia inclusão no plano plurianual (BRASIL,
Ministério do Planejamento, 2011).
2. Diretrizes Orçamentárias: A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
orienta a elaboração e execução do orçamento anual e trata de vários outros
temas, como alterações tributárias, gastos com pessoal, política fiscal e trans-
ferências da União.
3. Orçamento Anual: a Lei Orçamento Anual (LOA) estima as receitas que
o governo espera arrecadar durante o ano e fixa os gastos a serem realizados
com tais recursos.

2.4.1  Receitas públicas e tributos

O Estado tem a necessidade de gerar recursos financeiros que permitam o de-


sempenho de suas funções. Esses recursos podem provir de uma variedade de
fontes, como a prestação de um serviço, ou a venda de um bem, ou, ainda, como
resultado de uma operação de capital, contudo a realização de receita pelo Esta-
do se dá através da arrecadação tributária.
O art. 3o do Código Tributário Nacional (CTN, 1966) define tributo da se-
guinte forma:

62 • capítulo 2
Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Cria-se, então, a partir do estabelecido pela Constituição brasileira, um con-


junto de regras, instrumentos e procedimentos que tem por objetivo instituir,
efetuar fiscalizar a arrecadação tributária: o Sistema Tributário Nacional.

2.4.2  Existe um limite para a cobrança de impostos?

Pode-se pensar que o governo tem capacidade de financiamento quase infinita,


pois qualquer aumento na despesa poderá ser custeado pelo aumento de impos-
tos. Na verdade, existe um limite a cobrança de impostos, dado pela disposição
decrescente dos contribuintes em entregar uma parte de seus rendimentos, fruto
de seu esforço, ao fisco. Nem todo aumento nas alíquotas dos impostos corres-
ponderá a um aumento da receita do governo. A relação entre o aumento das alí-
quotas e a receita total foi expressa por Arthur Lafer na chamada “curva de Lafer”.

2.4.3  Curva de Laffer

Segundo esse modelo, a partir de um determinado nível de carga tributária,


haverá uma redução e não um aumento da receita para qualquer aumento da
alíquota do imposto. A partir desse ponto, os agentes econômicos não estarão
dispostos a produzir mais ou sonegarão impostos.
Intuitivamente podemos compreender da seguinte forma, conforme
Giambiagi & Além (2011):
a) Com uma alíquota nula, a receita é nula.
b) Com uma alíquota de 100%, a receita também é nula, pois ninguém es-
tará disposto a trabalhar para ver toda a sua renda ser apropriada pelo governo.
c) A receita governamental, então, irá crescendo, a partir da alíquota zero,
até o ponto a partir do qual a atividade econômica geradora do imposto deixará
de ser interessante ao indivíduo, pois sua renda seria crescentemente destina-
da ao pagamento de impostos.

capítulo 2 • 63
Entre esses dois pontos, então, haveria uma alíquota que maximizaria a re-
ceita do governo, conforme demonstra o gráfico:
Receita do
governo Curva de
Laffer

0 Ponto de maximização da 10 Alíquotas %


receita do governo

Esse ponto de maximização da receita governamental corresponderia, en-


tão, ao limite da capacidade de cobrança de impostos: qualquer aumento da
alíquota do imposto, nesse ponto, corresponderia a uma efetiva diminuição na
receita tributária.
Podem-se também classificar os impostos, pelo seu impacto na renda do
contribuinte, em: regressivos, proporcionais ou neutros e progressivos.
Impostos regressivos: são aqueles em que a alíquota do imposto não é pro-
porcional ao nível de renda, fazendo com que o peso relativo do imposto seja
maior para os menores níveis de renda. É o caso dos impostos sobre o consu-
mo, pois são calculados tendo por base o preço do produto e não a renda do
consumidor /contribuinte. Por exemplo, o ICMS incidente sobre as mercado-
rias é fixo, fazendo com que a população de menor poder aquisitivo tenha uma
proporção maior de sua renda destinada ao pagamento do imposto. Fazendo
numericamente, para ilustrar:
•  Preço da mercadoria: R$ 100,00
•  Alíquota do imposto: 19%
•  Valor do imposto: R$ 19,00
•  Proporção do imposto em uma renda de R$ 2.000,00: 19,00 / 2000,00 =
0,95% (menos de 1%) da renda.
•  Proporção do imposto em uma renda de R$ 600,00: 19,00 / 600,00 = 3,2%
da renda.

Isso demonstra que esse tipo de imposto incide mais fortemente sobre a
população com menor poder aquisitivo.

64 • capítulo 2
Impostos proporcionais ou neutros: são aqueles em que o aumento do im-
posto pago é proporcional ao aumento na renda. Não aplicado no Brasil.
Impostos progressivos: correspondem àqueles em que o aumento da
contribuição é proporcional ao aumento da renda, recaindo mais fortemen-
te sobre o contribuinte com maior poder aquisitivo. É o caso do imposto de
renda, conforme mostra a tabela apresentada quando discutimos o conceito
de progressividade.

2.4.4  Despesas públicas

Definindo formalmente, “a despesa pública é o conjunto de dispêndios reali-


zados pelos entes públicos para o funcionamento e manutenção dos serviços
públicos prestados à sociedade” , cumprindo, de um ponto de vista econômico,
um duplo objetivo:
1. Por um lado, quando o governo executa suas ações, injeta dinheiro na
economia, seja pagando salários aos funcionários públicos, que irão gastá-lo
adquirindo bens no mercado, seja contratando empresas para alguma presta-
ção de serviços ou para o fornecimento de bens necessários às operações do
Estado. A consequência desse gasto é o aumento do consumo e do investimen-
to, significando o aumento da renda. Resulta daí a célebre recomendação, atri-
buída a Keynes, de que seria benéfico à economia que o governo pagasse ope-
rários para enterrar e desenterrar latas, o que seria uma atividade inútil por si,
mas que, pelos salários pagos, elevaria o nível de renda. Assim, a política fiscal,
no contexto do conjunto das políticas econômicas, servirá como instrumento
de estímulo ao crescimento econômico, sem contar os efeitos sociais obtidos
por aquela despesa.
2. No entanto, felizmente, os gastos governamentais não são sempre utili-
zados de forma inútil (embora alguns possam discordar), servem para que o go-
verno cumpra suas funções alocativa, distributiva e estabilizadora. Os gastos do
governo servirão aos objetivos, do governo e da sociedade, de desenvolvimento
social e econômico.

Por exemplo: um programa de prevenção à dengue geraria um duplo efeito: (1)


haveria a injeção de mais recursos na economia através dos gastos que o governo
fará na execução desse fim, a contratação de pessoal, a compra de equipamentos

capítulo 2 • 65
e, se o programa for bem feito (o que seria uma externalidade do programa), (2)
provavelmente teríamos a redução da dengue e todos os benefícios decorrentes.

2.4.5  Programas de governo

A realização dos objetivos estratégicos do Governo é feita através de Programas


definidos no Plano Plurianual – PPA para o período de quatro anos. Busca-se,
dessa forma, maior racionalidade, eficiência e transparência na administração
pública, ampliando a visibilidade dos resultados e benefícios gerados para a
sociedade19 .
O Programa é peça fundamental na organização da administração pública, ar-
ticulando um conjunto de ações que voltadas para um objetivo comum visando à
solução de um problema ou ao atendimento de determinada necessidade ou de-
manda da sociedade. O Manual de Despesa do Tesouro Nacional estabelece que:

O programa é o módulo comum integrador entre o plano e o orçamento. O plano


termina no programa e o orçamento começa no programa, o que confere a esses
instrumentos integração desde a origem. O programa, como módulo integrador, e as
ações, como instrumentos de realização dos programas .

Um programa deve definir objetivo e indicador que quantifique a situação


que tenha como finalidade modificar, além dos produtos (bens e serviços) ne-
cessários para atingir seus objetivos. A partir do programa são identificadas as
ações sob a forma de atividades, projetos ou operações especiais, especificando
os respectivos valores e metas e as unidades

2.4.6  Títulos públicos

São títulos financeiros emitidos pelo governo com a finalidade de captar recur-
sos, visando:
•  Financiar o déficit orçamentário;
•  Realizar operações para fins específicos, definidos em lei;
•  Refinanciar a dívida pública.

19  (BRASIL, Ministério da Fazenda, Tesouro Nacional, 2008)

66 • capítulo 2
Esses ativos são ofertados considerando um prazo de resgate e uma remu-
neração que pode incluir, além dos juros, a correção monetária e a correção
cambial. Podem ser oferecidos internamente ou internacionalmente, buscan-
do captar recursos externos.

2.4.7  A taxa Selic

O Banco Central mantém o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Se-


lic), que é um sistema informatizado que se destina à custódia de títulos escri-
turais de emissão do Tesouro Nacional, bem como ao registro e à liquidação de
operações com esses títulos. Esse sistema apura a chamada taxa Selic, obtida
mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de finan-
ciamento lastreadas em títulos públicos federais e feitas no próprio sistema ou
em câmaras de compensação e liquidação de ativos.
O Comitê de Política Monetária – Copom, cuja função é ditar as diretrizes
da política monetária do Estado e fixar a taxa de juros, estabelece periodica-
mente a meta para a taxa Selic, que funciona, assim, como uma taxa básica
da economia.

2.5  Perspectivas da ação governamental e do gasto público.

Uma analogia, frequentemente usada, compara as decisões de gastos do Go-


verno e as decisões tomadas por uma família. Em que pese o fato de para am-
bos ser desejável um equilíbrio em suas contas – não se deve gastar mais do
que se ganha –, temos que entender a natureza diferenciada das decisões de
uma família – decisões de caráter privado – com as decisões de governo, que
são resultantes de um complexo jogo político, onde vários centros de interesse
constroem decisões que acabam por não ter um centro específico de onde es-
sas decisões emanem.
As decisões tomadas por um Governo resultam dos diversos interesses da
sociedade representados pelos deputados e senadores, pelas organizações po-
líticas, sociais e empresariais e por todo o conjunto da sociedade civil.
Esses atores dispõem, de fato, de informações limitadas sobre as melhores
políticas, considerando o efeito de sua aplicação no curto e médio prazo, e, no
contexto do ordenamento jurídico e nos desdobramentos conjunturais do am-
biente interno e externo, condicionam as decisões que visam o desenvolvimento

capítulo 2 • 67
social e econômico. Vamos, nesse contexto, buscar entender os condicionantes
da dinâmica da política fiscal e dos instrumentos mais recentes utilizados pelo
Estado na condução da economia

2.5.1  Falhas de governo

Vimos como as falhas de mercado servem para justificar a participação do Go-


verno na economia. Isto porque o crescimento econômico pode provocar ou
acentuar desequilíbrios sociais e regionais, e a existência de monopólios e
cartéis pode impedir ou retardar o processo de desenvolvimento econômico.
A correção dessas distorções, as quais tirariam o mercado de seu funcionamen-
to ótimo, justificam-se de modo mais claro nos países em desenvolvimento,
cuja imaturidade do mercado não conduz necessariamente a um crescimen-
to equilibrado.
No entanto, o crescimento da participação do Governo na economia acabou
por gerar as chamadas falhas de governo. O aumento dos gastos públicos acom-
panhado por má gestão dos recursos e corrupção teve como resultado uma
continuada perda de eficiência econômica. Reforçam-se, a partir de 1980, as
críticas à participação do Estado na economia diante desse quadro, sugerindo
que deveria restringir-se, de fato, às suas funções básicas na saúde, educação
e segurança.
Adam Smith preconizou que a busca de cada para a maximização de seu
ganho levaria a um aumento generalizado da riqueza, atingindo-se, por fim o
ótimo de Pareto, isto é, para qualquer grupo não haveria possibilidade de me-
lhorar sua situação a não ser piorando a de outro grupo. Assim, somente com
o aumento da produtividade e do crescimento econômico pode haver aumento
no nível de riqueza geral sem que alguém saia perdendo. Isso significa que o
bem-estar social não aumenta quando há simplesmente a transferência de ri-
queza de um grupo para outro, sem crescimento do produto.
Em uma sociedade excessivamente regulamentada, em que os princípios de
mercado não são exatamente aplicados, e grupos de interesse controlam partes
do sistema público ou de setores produtivos de forma cartelizada, verifica-se
uma elevação de custos privados e sociais. Essa elevação de custos comprome-
te a eficiência da economia como um todo, fazendo com que o produto efetivo
fique abaixo do produto potencial.
A busca de ganhos improdutivos, ou rent-seeking, isto é, que não correspon-
dam a um efetivo incremento da produção, reduz, ao fim, o desenvolvimento

68 • capítulo 2
econômico. O termo rent-seeking, aplicado pela economista Anne Krueger, em
1974, serve “para designar as atividades improdutivas, envolvendo desperdício
de recursos, exercidas por indivíduos que procuram embolsar parcelas da ren-
da, geralmente sob a égide do Estado”20 .
A procura por lucros (profit-seeking) empreendida por pessoas e grupos
é característica do comportamento de maximização dos retornos que geram
benefícios sociais em uma estrutura de mercado competitiva. No entanto, em
determinado contexto institucional esse comportamento se converteria em
simples transferência de “parte do excedente pessoal em proveito próprio”.
Exemplo desse comportamento é o que resulta do protecionismo alfandegário
ou da concessão, pelo Governo, de um monopólio. A possibilidade da manu-
tenção de um preço acima dos preços médios implicará não na criação de valor,
mas na transferência líquida de valor dos consumidores aos produtores.
Segundo Buchanan21 , há três níveis de rent-seeking:
•  Pela criação de privilégios a grupos;
•  Pela ampliação da burocracia estatal;
•  Pelo surgimento de grupos de pressão ou de lobby.

O resultado final desse comportamento, que ocorre em especial nas econo-


mias não maduras, é que os custos de crescimento são mais altos, disseminan-
do uma série de custos de natureza não econômica e, como visto, funcionando
como freio ao crescimento.

2.5.2  A Lei de Responsabilidade Fiscal

A Lei de Responsabilidade Fiscal deve ser entendida como parte de um longo


processo de construção do Estado brasileiro no sentido de prover uma gestão
dos recursos públicos planejada e transparente. O artigo 1 da Lei Complemen-
tar nº 101, de 4 de maio de 2000 define como seu escopo estabelecer “normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal”, especi-
ficando, em seu §1º:
A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transpa-
rente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equi-
líbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados
entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a

20  (SOUZA, 2012)


21  Citado por Souza (2012)

capítulo 2 • 69
renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e
outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por
antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar.
A LRF se impõe a partir da regulamentação prevista na Constituição de
1988, no seu artigo 163, estabelecendo os princípios das finanças públicas no
Brasil. Parte da necessidade identificada de obter-se um equilíbrio nas contas
públicas, através da regulamentação do déficit, do endividamento e da despe-
sa com pessoal. Além da LFR, que estabelece as normas voltadas para a gestão
fiscal, a Constituição prevê, também, a regulamentação das normas gerais para
a elaboração e o controle dos orçamentos e balanços, função que é cumprida,
ainda hoje, pela Lei 4.320, de 1964, com status de Lei Complementar até a pro-
mulgação de nova lei 22 (Nascimento & Debus, 2002).
A noção de equilíbrio das contas públicas é diferente nessas duas leis:
1. Na Lei 4320;64, busca-se o equilíbrio orçamentário, isto é, à previsão
das despesas contrapõe-se a previsão das receitas orçamentárias, admitindo-se
aí as operações de crédito;
2. A LRF busca o equilíbrio das contas primárias, isto é, o equilíbrio do
resultado primário, das despesas e receitas não financeiras, o que significa um
equilíbrio sem aumento da dívida pública, autossustentável.

Os instrumentos previstos pela LFR para o planejamento dos gastos públi-


cos são os mesmos estipulados na Constituição Federal: o Plano Plurianual
– PPA, A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual -
LOA. Constituem-se, na realidade, em uma das condições fundamentais para
se atingir os objetivos constitucionais, introduzindo-se uma forte vinculação
entre as atividades de planejamento e de execução do gasto público.
Busca, além disso, a participação da sociedade em todo o processo de plane-
jamento obtida através dos seguintes mecanismos receitas e despesas e crian-
do mecanismos específicos para seu controle23 :
•  A participação popular na discussão e elaboração dos planos e orçamentos;
•  A disponibilidade das contas dos administradores, durante todo o exercí-
cio, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade;
•  A emissão de relatórios periódicos de gestão fiscal e de execução orça-
mentária, igualmente de acesso público e ampla divulgação.

22  (DEBUS & NASCIMENTO, 2002)


23  (DEBUS & NASCIMENTO, 2002)

70 • capítulo 2
2.5.3  O papel regulador do Estado

A discussão sobre o tamanho do Estado e o grau de intervenção na economia


tem, na atualidade, diminuído sensivelmente seu papel de Estado produtor.
Isso impõe e ressalta a importância do Estado regulador, pois algumas ativida-
des, independentemente de quem as executa, têm natureza pública, decorren-
te de sua essencialidade. Cabe ao governo, então, retirando-se do envolvimen-
to com a operação, cuidar para uma efetiva prestação dos serviços. No Brasil,
isso está vinculado e condicionado ao contrato de concessão, um instrumento
complexo que busca dois objetivos: a garantia do bem-estar do consumidor e a
garantia de um retorno atrativo para o investidor .
Para tal, a partir de 1995, quando se inicia o processo de reestruturação e regu-
lação dos setores de infraestrutura, principalmente de comunicações e energia,
desenha-se uma estrutura de controle baseada em agências reguladoras, como
por exemplo: a Agência Nacional de energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional
de Telecomunicações – ANATEL e a Agência Nacional de Petróleo – ANP.
Essa atividade reguladora impõe às agências algumas necessidades na sua
organização :
1. Independência, isto é autonomia da agência no cumprimento de suas
funções, desvinculada das interferências de natureza política de curto prazo;
2. A assimetria de informações determina a constituição de um copo téc-
nico permanente, capaz de acumular conhecimentos específicos à atividade
de regulação;

Os órgãos de governo Federal colocam à disposição toda a legislação brasileira, prin-


cipalmente a Presidência da República e o Senado Federal. Alguns mostram apenas a
legislação específica à sua área, mas bem completa, como o Banco Central e o Tesouro
Nacional, entre outros.
As leis citadas podem ser obtidas no sítio da Presidência da República
<http://www4.planalto.gov.br/legislacao>.
Constituição Federal:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.
Lei nº 4320/64:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm>.
Lei complementar nº 101 / 2000:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm>.

capítulo 2 • 71
3. Descentralização da fiscalização, tendo em vista o caráter local das
prestações dos serviços e da grande dispersão geográfica na sua execução;
4. Coordenação das agências com outros órgãos do Estado, por exemplo,
com o CADE – Conselho administrativo de Defesa Econômica ou o PROCON.

O Estado, após o processo de privatização, na verdade verificado em maior


ou menor grau em todo o mundo, apenas muda de papel, mas é ainda, em úl-
tima instância, responsável pela ordenação na prestação dos serviços de natu-
reza pública.

2.5.4  A parceria público-privada

No contexto da reorganização patrimonial do Estado em nível internacional,


não cabia uma simples retirada do Estado das atividades produtivas pura e sim-
plesmente, pois, em muitos casos permanece a demanda por investimentos es-
tatais, em especial em setores de infraestrutura. Para manter uma capacidade
de investimento condizente com as necessidades de crescimento e moderni-
zação sem forte pressão sobre as finanças estatais instituiu-se o que veio a se
chamar Parceria Público-Privada. A PPP foi adotada por vários países, embora
não de modo uniforme, cada país desenvolveu seu próprio modelo.
A experiência com as PPP tem resultado em ganhos efetivos com a acelera-
ção de investimentos que poderiam, a depender do Estado, demorar na sua im-
plementação, no regime de concessões comuns. Além disso, permite a transfe-
rência dos riscos de construção e operação para o setor privado, melhorando o
sistema de contratação, via concorrência, e maximizando os benefícios finan-
ceiros para o Estado via compartilhamento dos riscos e custos.
A utilização dos PPP deve ser encarada de forma pragmática e bem avaliada
na sua oportunidade e forma de operação, para representar um ganho efetivo
para a administração pública e para a sociedade.
Neste capítulo, procuramos desenhar um quadro abrangente que mostras-
se a relação orgânica entre a sociedade civil, o Estado e a condução da econo-
mia. Vimos que existem muitos condicionantes à ação governamental e que os
resultados esperados nem sempre ocorrem, dadas as ocorrências de falhas de
mercado e de falhas de governo, além das incertezas do ambiente econômico e
das limitações da própria ciência econômica. Entendemos, ainda, os mecanis-
mos através dos quais o Estado age sobre a economia, cumprindo suas funções
de promoção do progresso da sociedade.

72 • capítulo 2
ATIVIDADE

01. De acordo com esta notícia, de 17 de fevereiro de 2016, a Conferência das Nações Uni-
das sobre Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD recomenda que para reverter os efeitos,
ainda sentidos, da crise de 2008, os países devem aumentar o os gastos governamentais.
Essa recomendação parece bem de acordo com o modelo que estudamos. A questão é saber
se tal medida seria sempre recomendável. Haveria situações em que o aumento do gasto
público seria contraproducente para a economia de um país?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZAMBUJA, D. (2008). Introdução à Ciência Política (2 ed.). São Paulo: Globo.
BOTTOMORE, T. (1993). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
BRASIL, Ministério da Fazenda - Secretaria do Tesouro Nacional. (2011). Manual de Contabilidade
Aplicada ao Setor Público - Parte I. Acesso em: 14, novembro, 2011, disponível em Tesouro da
Fazenda - Ministério da Fazenda - Governo do Brasil: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/
download/contabilidade/ParteI_PCO2011.pdf
BRASIL, Ministério da Fazenda, Tesouro Nacional. (2008). Manual de Despesa Nacional. Acesso
em: 21, janeiro, 2012, disponível em http://www.jf.jus.br/cjf/orcamento-e-financas/manuais/Manual_
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capítulo 2 • 73
DEBUS, I., & NASCIMENTO, E. (2002). Entendendo a Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei
Complementar nº 101/2000. Acesso em: 20 de março de 2016, disponível em Tesouro Nacional:
http://www3.tesouro.gov.br/hp/downloads/EntendendoLRF.pdf
GIAMBIAGI, F., & ALÉM, A. (2011). Finanças Públicas - Teoria e Prática no Brasil. Rio de Janeiro:
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KRUGMAN, P. R., & WELLS, R. (2007). Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Elsevier.
LIMA, E. Q. (1937). Theoria do Estado (3. ed.). (J. R. Santos, Ed.) Rio de Janeiro: Jacintho.
LIMA, F. C., FEIJÓ, C. A.-o., RAMOS, R. O.-o., BARBOSA Fi., N. H., & PALIS, R. (2013). Contabilidade
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MASSENBERG, R. P. (1996). Inflação e estabilização: Déficit público e taxa de juros na
formulação dos programas antiinflacionários no Brasil. (ESAF, Ed.) Acesso em 21 de 2 de 2012,
disponível em www.tesouro.fazenda.gov.b: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/Premio_TN/Ipremio/
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MATIAS-PEREIRA, J. (2010). Finanças Públicas - A Política Orçamentária no Brasil. São Paulo:
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PINHO, D. B., VASCONCELLOS, M. A., & TONETO Jr, R. (2011). Manual de Economia (6. ed.). São
Paulo: Saraiva.
PSOUZA, N. J. (2012). Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Atlas.

74 • capítulo 2
3
Moeda e inflação
3.  Moeda e inflação

OBJETIVOS
•  Conhecer a definição de moeda e sua evolução;
•  Entender o significado de inflação, suas causas e consequências para o país;
•  Descrever sobre os instrumentos da política monetária;
•  Apresentar os componentes do Sistema Financeiro Nacional;
•  Analisar o impacto da taxa de juros na economia.

3.1  Introdução

Diariamente somos bombardeados por notícias no jornal, rádio ou internet so-


bre o aumento da Taxa Selic, ou da taxa básica de juros, indicadores de inflação,
medidas das autoridades monetárias etc. Mas, afinal, o que tudo isso influen-
cia em nossa vida? De uma forma ingênua, pensamos: se o problema é falta de
dinheiro para comprar, por que o governo não emite mais papel moeda?
Bem, para que possamos entender como tudo isso mexe nas nossas vidas,
no nosso consumo, na decisão da empresa em investir, precisamos conhecer
alguns conceitos básicos.

3.2  Moeda

Moeda pode ser definida como “um objeto de aceitação geral, utilizado na troca
de bens e serviços” (VASCONCELLOS, M. A. S pag. 285).
Como chegamos a nossa atual moeda? Vejamos a evolução do sistema
de trocas:

3.2.1  Evolução do sistema de trocas

Nas sociedades primitivas, o fluxo de trocas de bens e serviços se dava através


do escambo, ou seja, trocas de mercadorias por mercadorias ou serviços.
Contudo, a partir da expansão das relações comerciais entre os indivíduos,
desenvolve-se, numa etapa seguinte, uma forma de realizar estas trocas através

76 • capítulo 3
de um conjunto de mercadorias utilizadas como padrão para as demais, que
variavam de acordo com o local em que seriam utilizadas, sendo estas converti-
das em “Moeda-Mercadoria”, pois se constituíam em bens com um valor de uso
comum para todos os seus detentores.
Dentre estas “moedas-mercadorias” mais utilizadas estavam o gado, o chá,
o sal e, posteriormente, os metais, principalmente o ouro e a prata.
Devido às dificuldades de conservação, guarda, acesso e fracionamento de
algumas destas mercadorias, os metais preciosos passaram a assumir cada vez
mais a função de mercadoria básica de troca e de referência de valor, uma vez
que eram de fácil fracionamento e guarda (acúmulo) e não eram perecíveis.
Surge, então, a “Moeda-Papel” que tinha por característica ser uma moeda re-
presentada por um certificado ou recibo – papel – emitido por uma casa de ou-
rivesaria (ourives) a partir dos depósitos em metais preciosos. Seu valor, portan-
to, estava no lastro dado pelos metais preciosos depositados e pelas garantias
de guarda dadas pelo certificado que registrava as quantidades.
As transações passaram, então, a se realizar pela troca destes certificados
que assumiram a função de moeda, sendo trocados de forma integral ou fracio-
nária de acordo com o valor das transações em curso. Esta prática se expandiu
de tal forma que os ourives, responsáveis pela guarda dos depósitos em me-
tais preciosos e pela emissão dos certificados – “moeda-papel”, passa a se utili-
zar dos valores que transitavam em seu poder como forma de financiar outros
agentes econômicos, em troca do pagamento de juros, o que se constituiu na
fase embrionária das atividades bancárias. No entanto, o surgimento e a propa-
gação de problemas causados pelo excesso da concessão destes créditos, frente
depósitos insuficientes para garanti-los, fez com que as autoridades públicas
passassem a intervir e a controlar estas atividades, passando, posteriormente,
a assumi-las integralmente.
Com o surgimento dos estados nacionais, surge o “Papel-Moeda”, onde o
Estado emite cédulas em papel através de uma instituição bancária que atua
como agente público responsável pelo controle central das atividades ligadas a
colocação, manutenção e circulação da moeda, sendo esta ainda lastreada em
ouro (Padrão – Ouro ).
Posteriormente, o Padrão – Ouro foi abandonado, e a emissão de moeda
passou a ser livre a critério de uma “Autoridade Monetária” identificada na fi-
gura de um banco central, sendo a aceitação e a circulação (curso) desta “moe-
da sem lastro” garantida por lei – moeda fiduciária.

capítulo 3 • 77
É esta a moeda que temos hoje: a moeda fiduciária (de confiança), sem las-
tro e s sua aceitação é garantida por lei. “Com a passagem do padrão ouro para
a moeda fiduciária, a moeda não é mais função do estoque de ouro, o que dá ás
autoridades monetárias mai9or capacidade de afetar a quantidade de moedas,
de acordo com as necessidades do país” (VASCONCELLOS, M. A. S. p, 286)

Quais os tipos de moedas na economia?

Moeda metálica ("moedinhas"): destina-se a operações de pequeno valor e


empregadas especialmente para troco. Veja a reportagem a seguir. É um caso
interessante de moedas que são utilizadas para colecionadores. No caso da re-
portagem as "moedinhas" comemorativas acabam por valer mais do que seu
valor de face por uma questão de raridade.
Papel – Moeda (cédulas): representa parcela significativa de dinheiro em
poder do público e que não pode ser recusada como meio de pagamento.
Moeda Bancária ou Escritural: representada pela escrituração contábil dos
depósitos à vista feitos junto aos bancos comerciais.

Então vejamos: não existe somente papel moeda como meios de pagamen-
to! O conceito de meios de pagamento é que são ativos que podem ser utiliza-
dos sem restrições para pagamento de uma dívida (liquidez imediata). É repre-
sentada pela soma da Moeda Metálica e o Papel – Moeda em poder do público
com os depósitos à vista nos bancos comerciais. A oferta de moeda também é
chamada de meios de pagamento.

Mas para que serve a moeda? Quais suas funções?

Funções da Moeda:
Instrumento ou meio de troca: serve para intermediar o fluxo de bens, ser-
viços e fatores de produção da economia. Ou seja, é aceito pela sociedade para
intermediar as trocas (de bens e serviços)
Instrumento de medida de valor (denominador monetário/unidade de
conta): os valores dos bens e serviços transacionados na economia são expres-
sos em quantidade de moeda, representado pelos seus preços. Dessa forma,
todos os bens são expressos na mesma unidade monetária dentro do país.

78 • capítulo 3
Instrumento de pagamentos futuros ou reserva de valor: a moeda pode ser
utilizada para pagamento de um bem ou serviço no futuro. A poupança do indi-
víduo pode ser guardada em forma de moeda, constituindo num ativo financei-
ro que não rende juros.

24/10/2015 23:45:42 - Atualizada às 25/10/2015 01:26:50


Moedas que valem ouro: Exemplares de R$ 1 chegam a 200 vezes o
seu valor.
Algumas raras em circulação chegam a R$ 700
TÁSSIA DI CARVALHO

Após encontrar moeda de 2 mil réis da época do Império, Felipe Ramos ficou curio-
so. Hoje tem uma coleção
Rio - O que você faz com suas moedas? Passa adiante? Antes de se livrar delas
preste atenção, pois você pode estar dando uma fortuna de presente para alguém.
Exemplares raros como o feito para homenagear o cinquentenário da Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos, cunhada em 1998, podem valer até R$ 200!

capítulo 3 • 79
Uma moeda de 5 centavos de 1999 que vale entre R$ 10 e R$ 35 ou seja: entre 200
e 700 vezes o seu valor de face. Segundo José Oswaldo Aranha, vice-presidente da
Associação Brasileira de Numismática, o preço das moedas depende da sua raridade,
tipo de cunhagem e estado de conservação. “Avaliamos se houve circulação daquele
exemplar ou se ficou guardado.”
Quem tem um exemplar raro pode aproveitar a Olimpíada para começar a cole-
cionar. Segundo o Banco Central, 36 moedas comemorativas serão lançadas para os
Jogos, 16 para circulação e 20 moedas especiais para colecionadores. Os temas va-
riam desde as modalidades competidas passando por pontos turísticos como Cristo
Redentor, Lagoa Rodrigo de Freitas e os Arcos da Lapa.
Segundo o Banco Central são produzidos 150 milhões de moedas de R$ 1. Mas,
para o programa Olímpico a tiragem será de 20 milhões para cada um dos 16 tipos
feitos para circulação, totalizando 320 milhões de moedas.
Segundo José Oswaldo, a coleção atrai novos colecionadores para a numismática,
principalmente jovens e crianças. “É novidade e acaba chamando a atenção.” Segundo
ele, os álbuns que são produzidos para comportar as coleções também ajudam no au-
mento da procura por moedas, pois são separados em séries. “Para crianças é como se
fossem álbuns de figurinhas, acabam atraindo.”
Segundo Julio Cesar Vieira, sócio da Numismática Vieira, que atua no ramo há 70
anos, o que faz as moedas serem raras é a quantidade de peças que foram cunhadas.
Foram cunhadas apenas 600 mil moedas com detalhes dos Direitos Humanos.
“Para um país como o Brasil, isso não é nada, o que justifica o valor.” Julio Cesar
afirma que as moedas da primeira família do real, impressas de 1994 a 1997 também
são valiosas. “Pagamos 50 centavos pelas moedas de 1 centavo desta época.”

Foto: Márcio Mercante/Agência O Dia

80 • capítulo 3
Jovens são alvo para numismáticos
Pensando na continuidade da numismática, colecionadores comemoram o aumento de
adeptos e esperam que com a proximidade dos Jogos Olímpicos este número cres-
ça ainda mais. “Nosso foco são mulheres, crianças e adolescentes” afirma Julio Ce-
sar Vieira.
O estudante de Turismo Felipe Ramos, 28 anos, é um exemplo disto. Aos 18 anos
ele achou na rua uma moeda de 2 mil réis da época do Império e ficou curioso, resol-
veu guardar e pesquisar. “Comecei a procurar moedas nas ruas, pedir para amigos e
pessoas mais velhas.”
Hoje sua coleção conta com 1.500 moedas. O tema acabou motivando pesquisas
em História e Geografia. “Via a moeda e pensava quem é esta pessoa e ia procurar.” Ele
acredita que assim como teve o interesse despertado pelas moedas, outros estudantes
também podem ter. “As moedas podem ser utilizadas até para ensinar matemática.”
Felipe acredita que a numismática possa ser utilizada, além das escolas, como uma
forma de potencializar o turismo dentro do país, assim como os Estados Unidos têm fei-
to desde 1999 divulgando personalidades e parques nacionais. “Poderiam fazer séries
com a fauna e flora, além de pontos turísticos.”
Moedas de ouro do Banco Central custam R$ 1.180
Em novembro do ano passado o Banco Central lançou uma coleção de moedas come-
morativas para as Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio. Lançado em conjuntos, três já
estão disponíveis para compra.
O último conjunto deve ser lançado no primeiro semestre de 2016 e trará 40 mi-
lhões de moedas com os mascotes Tom e Vinicius, 20 milhões cada, cunhados nas
moedas de R$ 1.
Além de moedas para a circulação, outros modelos feitos em ouro e prata também
estão disponíveis para colecionadores. Os exemplares especiais tem tiragem máxima
de 5 mil (ouro) e 25 mil (prata).
As moedas especiais custam R$ 1.180 (ouro) e R$ 195 (prata) e podem ser adqui-
ridas no site do Banco do Brasil (www.bb.com.br) ou nas agências do BB relacionadas
abaixo, onde o pagamento deve ser feito em dinheiro.
Quem quiser adquirir moedas comemorativas de R$ 1, pode acessar o site da Nu-
mismática Vieira que as vende por R$ 5 ou em outras lojas especializadas.

capítulo 3 • 81
3.3  Inflação

Mas, afinal, o que é inflação? Como ela surge? Quais seus tipos? Qual a solu-
ção? Suas consequências? Enfim, são questões que nos rodeiam. Vamos tentar
respondê-las por parte:

O que é inflação?

A inflação é definida como sendo uma alta persistente e generalizada dos pre-
ços da economia. A alta de preços deve ser persistente, não podendo ser con-
fundida com altas esporádicas de preços ocasionadas por flutuações sazonais.
Bom, essa é a sua definição clássica.

Mas por que a inflação surge de forma diferente em cada país?

A inflação costuma diferir em função das condições de cada país, como


por exemplo:
1. Tipo de estrutura de mercado (oligopolista ou monopolista), que per-
mitem aumentos autônomos das margens de lucros das empresas além de fa-
cilitar o repasse do aumento de custo ao preço do produto.
2. Grau de abertura da economia ao comércio exterior: uma economia
aberta ao comércio internacional, poderá permitir uma competição do produto
fabricado internamente com o produto importado, resultando em menores os
preços dos produtos.
3. Estrutura das organizações sindicais: os setores que possuem uma es-
trutura sindical mais forte poderão obter reajustes de salários acima dos índi-
ces de produtividade e da inflação, gerando maior pressão sobre os preços.
4. Desequilíbrio do Setor Público: desequilíbrios do Setor Público levam
ao déficit constante nas contas públicas. Se o Governo optar pela emissão de
moeda esse desequilíbrio gerará inflação.

E podemos dizer que existem três tipos de Inflação, a saber:

Inflação de Demanda: Refere-se ao excesso de demanda agregada de mercado-


rias e serviços, tanto de consumo como de produção, em relação à oferta dessas

82 • capítulo 3
mercadorias e serviços. A economia quando está produzindo perto do pleno
emprego de recursos está mais sujeita ao processo inflacionário. O aumento da
demanda agregada pode ser ocasionado pelo aumento dos investimentos, au-
mento dos gastos do governo, aumento das exportações, redução dos tributos,
redução das importações, e aumento da oferta da moeda.
As medidas de combate ao processo inflacionário devem se basear em ins-
trumentos que provoquem uma redução da demanda por mercadorias e servi-
ços – redução dos gastos governamentais, aumento da carga tributária, contro-
le sobre salários, restrição ao crédito e elevação da taxa de juros.
Inflação de Custos: A inflação de custos está associada a uma elevação dos
custos de produção. O nível da demanda permanece constante, mas os custos
de certos fatores produção aumentam. Com isso, as empresas repassam o au-
mento de custo para o preço final do produto.
As causas mais comuns dos aumentos dos custos de produção são os au-
mentos salariais, aumentos do custo de matérias primas ou estrutura monopo-
lista ou oligopolista de mercado.
Inflação inercial: é a aquela em que a inflação presente é uma função da in-
flação passada. Deve-se à inércia inflacionária, que é a resistência que os preços
de uma economia oferecem às políticas de estabilização que atacam as causa
primárias da inflação.
Aqui no Brasil temos quase que diariamente notícias sobre inflação. O índi-
ce de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mede a inflação e fazemos a referên-
cia frente a “meta” do governo.

O que é essa “meta”?

O sistema de metas de inflação é um compromisso que o país assumiu em


1999, para dar segurança ao mercado sobre os rumos da economia. Esse sis-
tema prevê que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) deve ficar dentro de um limite de tolerância; ou seja, dentro de uma
faixa estabelecida.
O governo estabelece, para cada ano, uma meta de inflação, que é uma taxa
fixa que deve ser buscado. A partir desse número, é estabelecida uma faixa de
tolerância – quanto à inflação pode variar acima ou abaixo dessa meta.

capítulo 3 • 83
Prévia da inflação oficial é a menor para março desde 2012, diz IBGE
23/03/2016 09h00 - Atualizado em 23/03/2016 10h19
Neste mês, índice ficou em 0,43% - em março de 2015, foi de 1,24%.
No acumulado dos últimos 12 meses, índice desacelerou para 9,95%.
Do G1, em São Paulo

O Índice de Preços ao Consumidor - Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia


da inflação oficial, recuou de 1,42% em fevereiro para 0,43% em março, segundo
informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira
(23). Em relação ao mês de março, é o índice mais baixo desde 2012 ,quando ficou
em 0,25%.
IPCA - 15 No Mês de Março

Em %

1,5

1,25 1,24
1,14

0,75 0,73

0,6
0,55
0,5 0,49
0,41 0,43
0,4
0,35 0,37

0,23 0,25
0,25
0,11

0
Ano 2003
Ano 2004
Ano 2005

Ano 2006

Ano 2007
Ano 2008

Ano 2009
Ano 2010
Ano 2011
Ano 2012
Ano 2013

Ano 2014

Ano 2015

Ano 2016

Fonte: IBGE

84 • capítulo 3
No acumulado dos últimos 12 meses, o índice foi de 9,95%, recuando dos 10,84%
registrados nos 12 meses imediatamente anteriores, segundo o IBGE. Em março de
2015, a taxa havia ficado em 1,24%.
Para os analistas do mercado financeiro, a o IPCA deve dar sinais de desacele-
ração ao longo do ano, já que eles preveem que o índice chegue no final de 2016
em 7,43%, segundo o boletim Focus mais recente. Ainda assim, o indicador vai
permanecer acima do teto de 6,5% do sistema de metas do governo.
Alimentos
Os alimentos, responsáveis por 46% do índice do mês, mostraram significativa redução
na taxa de variação, passando de 1,92% de fevereiro para 0,77% em março, de acordo
com o IBGE. Entre os destaques com queda no preço estão o tomate (-19,21%) e a
batata-inglesa (-4,61%). Já a cenoura (24,08%), as frutas (6,11%) e a farinha de man-
dioca (5,94%) continuam a registrar alta.
Energia elétrica e educação
A energia elétrica, que teve queda de 2,87%, exerceu o impacto mais expressivo no
IPCA-15, devido, segundo o IBGE, à redução na cobrança extra da bandeira tarifária,
que, a partir de 1º de março, passou dos R$ 3, da bandeira vermelha, para R$ 1,50, da
bandeira amarela, por cada 100 kilowatts-hora consumidos.
As contas de energia de todas as regiões pesquisadas ficaram mais baratas, espe-
cialmente em Salvador, com queda de 5,85%.
Além da energia, outros itens contribuíram para a desaceleração do IPCA-15, como
é o caso das passagens aéreas (-10,79%), e também do grupo Educação, que passou
de 5,91% para 0,67%, deixando para trás a maior parte dos reajustes ocorridos nas
mensalidades escolares.
Itens que subiram
No mês, o principal impacto individual no índice de 0,43% ficou com os combustíveis,
onde a alta foi 1,23%. O preço do litro da gasolina subiu 0,82%, com a região metropo-
litana de Salvador na liderança, com 5,45%, enquanto o litro do etanol ficou 3,2% mais
caro, também tendo Salvador na liderança, onde o preço do litro atingiu 9,27%.
Entre os demais itens que tiveram alta no mês, os destaques ficam com cigar-
ro (3,26%), motocicleta (2,85%), TV, som e informática (2,11%), eletrodomésticos
(1,89%), artigos de limpeza (1,49%), plano de saúde (1,06%), ônibus urbano (0,76%)
e empregado doméstico (0,72%).

capítulo 3 • 85
Variações regionais

Na análise regional, as maiores variações foram em Goiânia (0,67%) e Porto Ale-


gre (0,66%). O índice de Goiânia foi pressionado pelo resultado dos ônibus urbanos
(8,19%), que refletiu o reajuste de 12,1% ocorrido em 6 de fevereiro, além da alta de
4,01% no litro da gasolina e de 4,94% no etanol. Em Porto Alegre, os alimentos au-
mentaram 1,73%, bem acima da média nacional (0,77%).
O menor índice foi registrado na região metropolitana do Rio de Janeiro (0,11%)
onde os alimentos apresentaram variação de 0,21%, abaixo da média nacional (0,77%).
Brasília vem em seguida no menor índice, em 0,19%. Salvador vem em terceiro, com
0,23%.

Existem várias teorias sobre inflação e a busca de soluções. Na teoria tradi-


cional, a causa clássica da inflação decorre da Teoria Quantitativa da Moeda,
proveniente da escola monetarista, na qual o aumento do meio circulante pro-
voca o aumento geral dos preços. Ou seja, o valor ou o poder aquisitivo da moe-
da seria inversamente proporcional ao montante da moeda em circulação.
A inflação, portanto, seria provocada pelo aumento da oferta de moeda no
mercado. Caso a emissão de moeda for intensa é natural que os preços subam
visto que, quanto maior for a quantidade de moeda em poder do público, maior
a demanda e essa elevação da demanda acaba resultando no processo inflacio-
nário. Veremos mais à frente como o governo tenta controlar essa inflação uti-
lizando políticas monetárias restritivas
A crítica feita à teoria monetarista preconizada por Milton Friedman situa-
se na sua pretensão de querer elaborar uma teoria geral de inflação que seja
aplicada a quaisquer realidades sem distinção. Estas escolas são consideradas
ortodoxas, pois se contrapõe as teorias que procuram a origem dos processos
inflacionários em outras variáveis observadas nas chamadas economias em
processo de desenvolvimento.
A mais tradicional teoria heterodoxa refere-se à concepção estruturalista de
teóricos da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina – que atribui
a origem real da inflação aos problemas estruturais de tais países. Para teóricos
como Osvaldo Sunkel, Aníbal Pinto e Ignácio Rangel, as pressões inflacioná-
rias seriam originada pela rigidez do mercado que não seria capaz de atender à
demanda da sociedade, de problemas exógenos ao sistema ou pela realimenta-
ção do próprio processo inflacionário tornando a inflação sempre crescente e

86 • capítulo 3
acumulativa. A saída se encontraria na redistribuição de renda que permitiria
dar um novo dimensionamento à economia e poria fim aos conflitos de interes-
ses existentes na sociedade.

Mas quais as consequências do processo inflacionário que tanto


preocupa a economia?

São vários e podem afetar as economias de diferentes intensidades , a saber:


a) Redução do poder aquisitivo e piora na distribuição de renda – os as-
salariados e os rendimentos de aluguel são diretamente afetados, pois, com o
passar do tempo, vão ficando com seus orçamentos reduzidos até a chegada de
um novo reajuste.
b) Desequilíbrio no Balanço de Pagamentos – encarecimento do produto
nacional em relação ao produzido no exterior, provocando um estímulo às im-
portações e um desestímulo às exportações.
c) Redução da arrecadação tributária – a inflação tende a reduzir o valor
da arrecadação dos tributos pelo governo, pela defasagem existente entre o fato
gerador e o recolhimento efetivo do imposto, ocasionando menor arrecadação
real pelo governo.
d) Desestímulo a aplicação no setor produtivo – desestímulo à aplicação
de recursos no mercado financeiro, estímulo à compra de imóveis e de moe-
da estrangeira.
e) Menor crescimento econômico/ efeito sobre as expectativas – deses-
tímulo à produção devido a insegurança do empresariado no que se refere aos
seus investimentos, provocando desemprego.

3.4  Política monetária

Mas como buscar o equilíbrio? O que o governo faz para atingir a meta? Como?
É através da Política Monetária que o governo pode atuar sobre a quantidade
de moeda e de títulos públicos e, com isso, buscar um equilíbrio, pois a moeda
também tem oferta de demanda. Existem Instrumentos de Política Monetária
que precisamos destacar:
•  Emissões - o Banco Central controla o montante de moeda na economia,
decidindo sobre as necessidades de novas emissões e respectivos volumes;

capítulo 3 • 87
•  Depósitos compulsórios - os bancos comerciais são obrigados a deposi-
tar no Banco Central um percentual determinado sobre os depósitos à vista.
•  Operações com mercado aberto (open market) - consistem na compra e
venda, pelo Banco Central, de títulos da dívida pública;
•  Operações de redesconto - correspondem à liberação de recursos pelo
Banco Central aos bancos comerciais, que podem ser classificados como em-
préstimos ou redesconto de títulos.

Como utilizar esses instrumentos para buscar o equilíbrio no


mercado monetário?

Vejamos :
Se o governo quiser adotar uma política monetária restritiva ( reduzir a ofer-
ta monetária) , ele utilizará os instrumentos da seguinte maneira.
•  Depósito Compulsório - Caso o governo queira restringir a oferta mone-
tária, poderá aumentar a porcentagem dos depósitos á vista que os bancos co-
merciais são obrigados a depositar no Banco Central;
•  Operações com mercado aberto (open market) – aumentaria a Venda de
Títulos públicos. Quando o Banco Central vende títulos públicos ele retira moe-
da da economia, que é trocada pelos títulos. Desta forma há uma contração dos
meios de pagamento e da liquidez da economia.
•  Operações de redesconto - o Banco Central empresta dinheiro aos ban-
cos comerciais, sob determinado prazo e taxa de pagamento. Quando esse pra-
zo é reduzido e a taxa de juros do empréstimo é aumentada, a taxa de juros da
própria economia aumenta, causando uma diminuição na liquidez. Ou seja,
se o Banco Central elevar a taxa aplicada às operações de redesconto, poderá
desestimular o sistema bancário em recorrer a este tipo de socorro financeiro.

Se o governo quiser adotar uma política monetária expansionista ( aumen-


tar a oferta monetária), ele utilizará os instrumentos da seguinte maneira:
•  Aumento da emissão monetária
•  Depósito Compulsório - Caso o governo queira aumentar a oferta mone-
tária, poderá reduzir a porcentagem dos depósitos á vista que os bancos comer-
ciais são obrigados a depositar no Banco Central. Com isso, um efeito multipli-
cador para os bancos comerciais e os clientes

88 • capítulo 3
•  Operações com mercado aberto (open market) – o governo compraria
Títulos públicos nas mãos do setor privado. Quando o Banco Central compra tí-
tulos públicos ele coloca moeda da economia, que é trocada pelos títulos. Desta
forma há um aumento dos meios de pagamento e da liquidez da economia.
•  Operações de redesconto - o Banco Central empresta dinheiro aos ban-
cos comerciais, sob determinado prazo e taxa de pagamento. Quando esse pra-
zo é aumentado e a taxa de juros do empréstimo é reduzida, a taxa de juros da
própria economia reduz,, causando um aumento na liquidez.

BC reduz depósito compulsórios dos bancos de 12% para 6%

Medida faz parte dos esforços do governo para estimular o crescimento


POR GABRIELA VALENTE

29/06/2012 18:16 / ATUALIZADO 29/06/2012 22:46


BRASÍLIA – Um dia depois de o governo anunciar que aumentará o financiamento
da safra agrícola de 2012/2013 em R$ 14,8 bilhões, o Banco Central (BC) explicou
que o dinheiro vai sair de um corte feito nos depósitos compulsórios. Na sexta-feira, a
autoridade monetária informou que diminuiu o percentual de recursos dos clientes que
os bancos são obrigados a deixar nos cofres do BC. A decisão foi tomada para reani-
mar a agricultura, que enfrenta grave crise por causa da seca que derrubou a produção
na Região Sul e fez com que o setor encolhesse 8,5% nos primeiros três meses do ano.
Por isso, o BC cortou de 12% para 6% a parcela adicional de compulsório sobre
depósitos à vista. Segundo as regras do compulsório, todos os bancos têm de recolher
43% do que os clientes mantêm em depósitos à vista, além de um adicional. Essa foi a
parcela alterada pela instituição.
A autarquia mexeu também em outra regra para garantir que esses recursos libe-
rados não sejam usados para qualquer outro fim, como, por exemplo, financiamentos
mais caros, que dão lucro maior para os bancos. O Banco Central aumentou o percen-
tual que as instituições financeiras têm que repassar obrigatoriamente para o crédito
rural, de 28% dos depósitos à vista para 34%.
Atualmente, o volume de dinheiro dos correntistas que o BC retira da economia
está em R$ 393 bilhões. O que era visto como uma anomalia do sistema financeiro
brasileiro passou a ser considerado um seguro depois da crise financeira global de
2009. Na época, ao liberar parte desses recursos, a autoridade monetária reduziu o
impacto das turbulências que levaram o crédito a secar em praticamente todo o mundo.

capítulo 3 • 89
Agora, a fórmula se repete. Essa foi a primeira mudança no compulsório desde a
quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, que abalou a economia global.
A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) faz parte de um conjunto de medi-
das para estimular a produção nacional de alimentos. Foi tomada na quinta-feira, mesmo
dia em que o BC cortou drasticamente a previsão de crescimento para a agropecuária,
estimando que o setor deve encolher 1,5% neste ano. A queda da estimativa foi de quatro
pontos percentuais, sobretudo por causa dos efeitos da seca no início do ano, maiores do
que o esperado. Essa reversão foi uma das responsáveis pela diminuição da expectativa
do BC para o crescimento da economia, de 3,5% para 2,5% neste ano.
Para ajudar o setor, o CMN aprovou também uma resolução para ampliar o amparo
do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária da Agricultura Familiar (Proagro
Mais) para os produtores rurais. Os pequenos agricultores vinculados ao programa
foram beneficiados com a elevação, de R$ 3,5 mil para R$ 7 mil, de uma cobertura que
recebem na ocorrência de perdas na lavoura em razão de problemas climáticos.<http://
oglobo.globo.com/economia/bc-reduz-deposito-compulsorios-dos-bancos-de-12-
para-6-5355587#ixzz4421LTqah>.

Vejam a notícia acima de 2012, o Banco Central reduz o depósito compul-


sório para estimular a economia, ou seja, a utilização da política monetária
expansionista para estimular a economia. Neste caso ainda há um direciona-
mento maior para o crescimento do setor agropecuário quando o Conselho
Monetário Nacional (CMN) amplia o amparo do Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária da Agricultura Familiar (Proagro Mais) para os produ-
tores rurais.
O Banco Central poderá também afetar o fluxo de moeda pela regulamen-
tação da moeda e do crédito, por exemplo, aumentando o crédito, fixando taxa
de juros, prazos para o crédito ao consumidor etc. se a meta for de crescimen-
to econômico.
Se o objetivo é o controle da inflação, a medida apropriada de política mone-
tária seria diminuir o estoque monetário da economia (por exemplo, aumento
dos depósitos compulsórios, ou captação de recursos através do open market).
Mas a todo momento estamos lendo sobre Banco Central, Conselho
Monetário Nacional. Mas quem são esses atores do sistema? Vejamos agora
como funcionam esses órgãos no Sistema Financeiro Nacional:

90 • capítulo 3
3.5 Sistema Financeiro Nacional (SFN)

O principal ramo do SFN lida diretamente com quatro tipos de mercado


(<http://www.bcb.gov.br/>):
•  Mercado monetário: é o mercado que fornece à economia papel-moeda e
moeda escritural, aquela depositada em conta-corrente;
•  Mercado de crédito: é o mercado que fornece recursos para o consumo
das pessoas em geral e para o funcionamento das empresas;
•  Mercado de capitais: é o mercado que permite às empresas em geral cap-
tar recursos de terceiros e, portanto, compartilhar os ganhos e os riscos;
•  Mercado de câmbio: é o mercado de compra e venda de moeda estrangeira.

Sua composição é a seguinte:


Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Previdência fechada
Órgãos normativos

CMN CNSP CNPC


Conselho Monetário Conselho Nacional de Conselho Nacional de
Nacional Seguros Privados Previdência Complementar
Supervisores

BCB CVM Susep Previc


Banco Central Comissão de Valores Superintendência de Seguros Superintendência Nacional de
do Brasil Mobiliários Privados Previdência Complementar
Operadores

Bancos e Administradoras de Bolsa Seguradoras e Entidades fechadas de


caixas econômicas consórcios de valores Resseguradores previdência complementar
(fundos de pensão)

Cooperativas Corretoras Bolsa de mercadorias e Entidades abertas de


de crédito e distribuidoras* futuros previdência

Instituições Demais instituições não Sociedades


de pagamento** bancárias de capitalização

Fonte: http://www.bcb.gov.br

capítulo 3  • 91
Os órgãos normativos determinam regras gerais para o bom funcionamen-
to do Sistema Financeiro Nacional; as entidades supervisoras trabalham para
que os cidadãos e os integrantes do sistema financeiro sigam as regras defini-
das pelos órgãos normativos. Já Os operadores são as instituições que lidam
diretamente com o público, no papel de intermediário financeiro.
Cada um tem o seu papel dentro do Sistema . Segundo o site oficial do Banco
Central (<http://www.bcb.gov.br>), vejamos:
O Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão colegiado ao Ministério da
Fazenda - é o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Ao
CMN compete: estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial
e creditícia; regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização
das instituições financeiras e disciplinar os instrumentos de política . Criado
pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, o CMN foi efetivamente instituí-
do em 31 de março de 1965, uma vez que o art. 65 da Lei nº 4.595 estabeleceu
que a Lei entraria em vigor 90 dias após sua publicação
O CMN é constituído pelo Ministro de Estado da Fazenda (Presidente), pelo
Ministro de Estado do Planejamento e Orçamento e pelo Presidente do Banco
Central do Brasil (Bacen). Os serviços de secretaria do CMN são exercidos pelo
Bacen. Os seus membros reúnem-se uma vez por mês para deliberarem sobre
assuntos relacionados com as competências do CMN. Em casos extraordiná-
rios pode acontecer mais de uma reunião por mês. As matérias aprovadas são
regulamentadas por meio de Resoluções, normativo de caráter público, sem-
pre divulgado no Diário Oficial da União e na página de normativos do Banco
Central do Brasil.
Junto ao CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito
(Comoc), composta pelo Presidente do Bacen, na qualidade de Coordenador,
pelo Presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Secretário
Executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, pelo Secretário
Executivo do Ministério da Fazenda, pelo Secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, pelo Secretário do Tesouro Nacional do Ministério da
Fazenda e por quatro diretores do Bacen, indicados por seu Presidente.
Está previsto o funcionamento também junto ao CMN de comissões consul-
tivas de Normas e Organização do Sistema Financeiro, de Mercado de Valores
Mobiliários e de Futuros, de Crédito Rural, de Crédito Industrial, de Crédito
Habitacional e para Saneamento e Infra-Estrutura Urbana, de Endividamento
Público e de Política Monetária e Cambial.

92 • capítulo 3
Sendo, portanto, o órgão máximo de todo o sistema financeiro nacional.
Dentre as suas atribuições destacamos:
•  A autorização de emissão de papel moeda;
•  A fixação dos coeficientes dos encaixes obrigatórios dos Depósitos à Vista
e Depósitos a Prazo;
•  A regulamentação das operações de redesconto;
•  O estabelecimento de diretrizes do Banco Central para operações com tí-
tulos públicos;
•  A regulamentação das operações de câmbio e a política cambial;
•  A aprovação do orçamento monetário elaborado pelo Banco Central.

3.5.1  Banco Central do Brasil

O Banco Central do Brasil, autarquia federal integrante do Sistema Financeiro


Nacional, foi criado em 31.12.64, com a promulgação da Lei nº 4.595. É o prin-
cipal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e responsável
por garantir o poder de compra da moeda nacional, tendo por objetivos:
•  Zelar pela adequada liquidez da economia;
•  Manter as reservas internacionais em nível adequado;
•  Estimular a formação de poupança;
•  Zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sis-
tema financeiro.

Sendo, portanto, o órgão executor da política monetária, além de exercer a


regulamentação e fiscalização de todas as atividades de intermediação finan-
ceira no país. Entre as suas atribuições, destacam-se:
•  A emissão de moeda;
•  O recebimento dos depósitos obrigatórios dos bancos comerciais e dos
depósitos voluntários das instituições financeiras em geral;
•  Realização de operações de redesconto de liquidez e seletivo;
•  Operações de mercado aberto (open market);
•  Controle do crédito e das taxas de juros;
•  A fiscalização das instituições financeiras e a concessão da autorização
para seu funcionamento;
•  A administração das reservas cambiais do país.

capítulo 3 • 93
3.5.2  Comissão de Valores Mobiliários

A CVM, autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda, possui caráter


normativo e têm poderes para disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação
dos diversos integrantes do mercado de capitais. As Leis que criaram a CVM
(6385/76) e as “Sociedades por Ações” (6404/76) objetivam disciplinar o fun-
cionamento do mercado de valores mobiliários, principalmente ações e de-
bêntures, e a atuação de seus protagonistas, classificados em: – companhias
abertas, – intermediários financeiros, – Bolsas de Valores e – investidores; além
de outros agentes cuja suas atividades giram em torno desses negócios. O seu
poder normatizador abrange todas as matérias referentes ao mercado de valo-
res mobiliários.
A CVM não exerce julgamento de valor em relação a qualquer informação
divulgada pelas companhias de capital aberto, incluindo as suas demonstra-
ções contábeis. Zela, entretanto, pela sua regularidade e confiabilidade e, para
tanto, normatiza e exige a sua padronização. A Lei atribui a CVM competência
para apurar, julgar e punir irregularidades eventualmente cometidas no merca-
do. Diante de qualquer suspeita a CVM pode iniciar um inquérito administra-
tivo, através do qual, recolhe informações, toma depoimentos e reúne provas
com vistas a identificar claramente o responsável por práticas ilegais, oferecen-
do-lhe, a partir da acusação, amplo direito de defesa.
Cabe a CVM, entre outras, disciplinar as seguintes matérias:
•  Registro de companhias abertas;
•  Registro de distribuições de valores mobiliários;
•  Credenciamento de auditores independentes e administradores de car-
teiras de valores mobiliários;
•  Organização, funcionamento e operações das bolsas de valores;
•  Negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
•  Administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários;
•  Suspensão ou cancelamento de registros, credenciamentos
ou autorizações;
•  Suspensão de emissão, distribuição ou negociação de determinado valor
mobiliário ou decretar recesso de bolsa de valores.

94 • capítulo 3
3.6  Taxa de juros

A taxa de juros representa o preço do dinheiro no tempo. No entanto, em outros


momentos, assume ele um sentido inverso, qual seja, de servir como um preço
pelo não pagamento do dinheiro. Enquanto que no seu sentido inicial infere-se
uma natureza compensatória dos juros, no segundo caso o que há é uma fun-
ção nitidamente moratória. É uma taxa de rentabilidade para os aplicadores, e
o custo de empréstimo para os tomadores ( VASCONCELLOS, M. A. S. pág 305)
A taxa de juros tem um papel importante na tomada de decisões pelos mais
variados agentes econômicos. As decisões dos empresários quanto ao mon-
tante de capital de giro, à compra de maquinário e equipamentos, elevação ou
diminuição de estoques de matérias-primas e de bens finais, deverá sofrer in-
fluência tanto do nível atual, quanto das expectativas futuras das taxas de juros.
Se os empresários esperarem uma elevação da taxas de juros, poderão manter
níveis baixos de estoques e mesmo de capital de giro, considerando o custo fu-
turo desses ativos. Por outro lado, se as taxas estiverem elevadas, isso impedirá
muitos projetos de investimentos em bens de capital, optando os empresários
por aplicarem seus recursos no mercado financeiro.
Taxas de juros elevadas resultam na diminuição do consumo, pois os indi-
víduos vão optar pela poupança ao invés do consumo. Por sua vez, a elevação
da taxa de juros terá influência sobre as prestações do crediário, que deverá ser
mais onerosa, reduzindo as compras a prazo. Caso o governo optar por reduzir
a demanda, o nível da taxa de juros tem um papel preponderante, pois sua ele-
vação poderá resultar na redução do consumo por parte das famílias.
Uma das siglas mais conhecidas de quem acompanha os noticiários é a
Selic. A cada 45 dias, o Comitê de política Monetária do banco Central (Copom)
se reúne e decide se a taxa básica da economia brasileira irá subir, reduzir ou se
manter. Selic significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia, Ela é usada
nos empréstimos feitos entre os bancos e também nas aplicações feitas por es-
tas instituições bancárias em títulos públicos federais.
A Selic também é usada como referência de juros para empréstimos e finan-
ciamentos. Vale ressaltar que a Taxa Selic não é a utilizada para empréstimos e
financiamentos na ponta final (pessoas físicas e empresas). Os bancos tomam
dinheiro emprestado pela Taxa Selic, porém ao emprestar para seus clien-
tes a taxa de juros bancários é outra, bem maior. Isto ocorre, pois os bancos

capítulo 3 • 95
embutem seus custos operacionais, lucros e riscos de não obter de volta o va-
lor emprestado.
A Taxa Selic é um importante instrumento usado pelo Banco Central para
controlar a inflação. Quando está alta, ela favorece a queda da inflação, pois de-
sestimular o consumo, já que os juros cobrados nos financiamentos, emprésti-
mos e cartões de crédito ficam mais altos. Por outro lado, quando está baixa, ela
favorece o consumo, pois tomar dinheiro emprestado ou fazer financiamentos
fica mais barato, já que os juros cobrados nestas operações ficam menores.
Selic é o sistema responsável pela negociação dos títulos públicos. Dentro
dele são feitas todas as operações de liquidação financeira e também de custó-
dia dos títulos. Um aumento na Selic provoca um aumento na remuneração dos
títulos de dívida pública.
A dívida pública interna é uma necessidade eventual do Estado e um ins-
trumento gerencial da economia. Pode-se afirmar que a dívida pública interna
surge de uma dificuldade do governo em financiar seus gastos por um aumento
de tributos.
O aumento da dívida líquida na última década gerou preocupação sobre a
capacidade de gerenciamento da dívida pelo setor público. As situações de mo-
ratória e confisco patrimonial voltaram à memória dos investidores, muitos dos
quais já haviam convivido com esta situação em passado não muito distante.
O endividamento governamental dos últimos anos, com elevados dispêndios
com juros, vem desviando recursos que são fundamentais para o financiamen-
to da educação, na saúde pública e outras áreas importantes para a sociedade
Além disso, a combinação de superávit primário com taxas básicas de ju-
ros elevadas vem se constituindo numa forma de transferência de renda da po-
pulação mais pobre, recolhida através de impostos sobre o consumo, para os
mais ricos, que usufruem dos elevados juros dos títulos da dívida pública. Isso
explica, em parte, os elevados índices de concentração de renda no Brasil nos
últimos anos.

ATIVIDADE
01. Leia a reportagem a seguir e faça uma análise da relação da SELIC com a inflação e o
crescimento econômico.

96 • capítulo 3
Banco Central mantém taxa de juros: Entenda a queda de braço
Ruth Costas Da BBC Brasil em São Paulo 20 de janeiro de 2016

Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira a decisão do Comitê de Política


Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros da economia - a chamada Selic
- em 14,25%.
"Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual
balanço de riscos, e considerando a elevação das incertezas domésticas e, principal-
mente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25%, sem viés, por seis
votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual (p.p.)",
afirma o texto do BC sobre a decisão.
Até o início da semana, o mercado apostava em uma alta de 0,5 p.p., em função
de declarações recentes de autoridades do banco ressaltando a necessidade de se
controlar a inflação.
Na terça-feira, porém, o cenário ficou mais turvo com a divulgação de um relatório
do Fundo Monetário Internacional (FMI) em que a instituição revisou drasticamente
suas previsões para a economia brasileira em 2016 - de uma queda de -1% do PIB
para uma de -3,5%.
Há certo consenso de que um dos riscos de um eventual aumento mais contun-
dente da taxa de juros em um cenário recessivo poderia ser um aprofundamento da
recessão - embora também haja quem argumente que assumir esse risco vale a pena
para se evitar um descontrole da inflação.

capítulo 3 • 97
Ainda na terça, o presidente do BC, Alexandre Tombini, emitiu uma nota afirmando
que via como "significativas" as novas projeções do FMI e que elas seriam considera-
das pelo Copom.
Alguns analistas do mercado reclamaram da "troca de sinais" do BC na véspera da
reunião do colegiado.
A BBC Brasil conversou com analistas e economistas de diferentes vertentes teóri-
cas para entender o que entrou em jogo nessa decisão sobre os juros. Confira:
1. Combate à inflação
A taxa de juros sempre foi tida como um instrumento crucial no combate a inflação.
A ideia é que, ao encarecer o crédito, os juros mais altos ajudam a reduzir o consumo,
segurando o reajuste de preços.
Para os defensores do aumento, sua elevação também sinalizaria para o mercado
que o BC estaria disposto a fazer o que for necessário para combater a inflação - o que
faria com que empresários, comerciantes e prestadores de serviço esperassem uma in-
flação menor para o futuro e reajustassem seus preços de acordo com essa estimativa
mais moderada, como explica o professor do Insper Michael Viriato.
"A lógica desse raciocínio é que, com um aumento da Selic, consegue-se ancorar
as expectativas para a alta de preços, o que ajuda a conter a inflação inercial", diz.
Como no ano passado a inflação medida pelo IPCA (medição oficial da inflação)
ficou em 10,67%, bem acima do teto da meta definido pelo BC (de 4,5% com margem
de 2 p.p. para cima ou para baixo), parte dos economistas - principalmente os ortodo-
xos - defendiam que, como resposta, a Selic deveria subir de forma mais contundente.
O próprio presidente do BC deu indicações de que estaria de acordo com essa tese
em declarações recentes. Numa carta aberta ao Ministério da Fazenda para justificar
o não cumprimento da meta, Tombini reafirmou que adotaria as medidas necessárias
para manter a inflação de 2016 abaixo de 6,5%. E, em uma entrevista ao Jornal Nacio-
nal, ressaltou que a Selic é o instrumento que o BC vem utilizando e "utilizará quando
necessário" para atingir tal objetivo.
Tal política, porém, não é consenso.
Para um grupo de economistas, a alta de juros não seria eficiente no combate à
inflação hoje porque não há um excesso do consumo. Alguns também ressaltam que
uma Selic mais elevada complicaria os esforços do governo de fazer um ajuste fiscal,
uma vez que parte da dívida pública é referenciada pela taxa - ou seja, essa dívida au-
menta conforme os juros sobem.

98 • capítulo 3
E alguns acham também que um aumento da taxa poderia até dificultar o controle
de preços, ao fazer com que seja mais vantajoso para o empresário deixar o dinheiro no
banco, rendendo juros, em vez de investir na economia real - o que poderia levar a uma
restrição da oferta de alguns produtos.
"Em 2015, o que impulsionou a inflação foi o aumento dos preços administrados,
como energia e combustíveis, além de questões ligadas ao suprimento de alguns ali-
mentos. Como o problema não é o excesso de consumo, a alta dos juros não seria uma
solução. E poderia até agravar a recessão na medida em que inibiria novos investimen-
tos", opina Cristina Reis, professora de economia da Universidade Federal do ABC.
Viriato, do Insper, admite que o peso dos preços administrados na inflação de 2016
foi grande. "Mas por outro lado, o mercado precisa de um choque de credibilidade
do BC, porque o governo não está dando esse choque quando o tema é o ajuste",
diz Viriato.
Para Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, “há argumentos
para os dois lados”. “Acho que o importante é o BC deixar claro que não vai descuidar
da política de inflação independente da decisão de agora", diz.
2. Retomada do crescimento
Até quem defendia um aumento maior da taxa de juros admite que, no curto prazo,
o resultado pode ser um aprofundamento da recessão e mais dificuldade para se reto-
mar o crescimento da economia.
Eles argumentam, porém, que esse é o preço a ser pago para se segurar a inflação - e
que se os preços saírem do controle, a dificuldade para ajustar a economia será ainda maior.
"A questão é que tanto as expectativas do cenário nacional quanto as do cenário
internacional estão se deteriorando muito rápido", diz Viriato.

capítulo 3 • 99
"Recentemente foram reajustadas para baixo as previsões de crescimento para
a China e o preço do petróleo caiu em uma velocidade impressionante, por exemplo."

O relatório do FMI, ao fazer um reajuste tão drástico das perspectivas para a traje-
tória do PIB brasileiro em 2016, colocou em evidência esse processo e reacendeu os
temores de que a situação brasileira possa piorar bastante antes de melhorar.
"É por isso que se você tinha argumentos para subir os juros agora, também tinha
argumentos para esperar um pouco mais, até porque essa recessão pode ajudar a
segurar a inflação", diz Zara.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, F. J. C. et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
KRUGMAN, P. R., & WELLS, R. (2007). Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Elsevier.
FRIEDMAN, Milton. O papel da política monetária. In: CARNEIRO, Ricardo (Org.). Os clássicos da
economia. v. 2. São Paulo: Ática, 1997.
FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.
SIMONSEN, M.H.; CYSNE, R. P. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009..
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia Micro e Macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA M. E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2004.

100 • capítulo 3
4
O setor externo
4.  O setor externo

OBJETIVOS
•  Analisar os conceitos da Teoria das Vantagens Comparativas;
•  Conhecer a influência do câmbio e a Política Cambial brasileira;
•  Compreender a estrutura do Balanço de Pagamentos;
•  Conhecer os Organismos Internacionais relacionados ao setor externo;
•  Discutir o processo de integração econômica;
•  Compreender a importância do processo de Globalização.

4.1  Introdução

Ao longo das últimas décadas, os países intensificaram seus relacionamentos


econômicos criando uma interdependência de natureza comercial. Portanto,
a globalização aprofundou essas relações internacionalmente, seja por fluxos
comerciais, seja por fluxos financeiros. Com isso, a Economia Internacional,
como um ramo específico da teoria econômica, passa a se destacar, e será ana-
lisada em seus aspectos mais relevantes.
O comércio internacional resulta de uma aplicação da divisão do trabalho
em sentido mais amplo na economia internacional. Fundamentada pela teo-
ria das vantagens comparativas, cada país se especializa em produzir os bens
ou oferecer os serviços em que possui melhores condições naturais e técnicas
profissionais. Cada país utiliza seus fatores de produção na produção de bens
e na prestação de serviços, buscando menores custos, baseado nas melhores
condições de seu solo, seu clima e de seu desenvolvimento tecnológico.
A teoria das vantagens comparativas foi formulada por David Ricardo em
1817, considerado um dos grandes nomes do pensamento econômico. David
Ricardo analisa o comércio internacional, mostrando por que os países nego-
ciam entre si e os benefícios obtidos com a especialização em produtos que pos-
suam vantagem comparativa, comercializando-os no mercado internacional.
David Ricardo fornece uma explicação para os movimentos de mercadorias
no comércio internacional, que está do lado da oferta ou dos custos de produ-
ção existentes nesses países. Portanto, os países exportarão e se especializarão

102 • capítulo 4
na produção dos bens cujo custo for comparativamente menor em relação
àqueles existentes, para os mesmos bens, nos demais países exportadores24. A
consequência natural será aquela de que cada país irá produzir o bem menos
oneroso em termos de recursos empregados.
O país se especializaria naquele segmento de produção em que fosse mais
bem-dotado: recursos naturais, capital, trabalho ou tecnologia. Sua produção
a menor custo tornaria seus produtos mais atrativos no mercado externo, e de
certa forma, seria como se um país estivesse importando bens e serviços que
fossem mais escassos em seu território25.
As críticas quanto à teoria das vantagens comparativas se fundamentam
quanto à sua rigidez, ao não considerar as estruturas da oferta e da demanda
existentes em cada país, assim como das relações de preços à medida que se
observa o crescimento do nível de renda a nível mundial. Utilizando o exemplo
formulado por David Ricardo, Portugal deveria se especializar na produção de
vinho e a Inglaterra na de tecido, entretanto, à medida que ocorresse o cresci-
mento da renda da população e o volume do comércio internacional, a deman-
da por tecidos cresceria mais que proporcionalmente à demanda por vinho, e
ocorreria uma tendência à deterioração da relação de trocas entre Portugal e
Inglaterra, em benefício da Inglaterra.
O gestor de uma organização preocupado na inserção no comércio interna-
cional deverá atentar ao aspecto da vantagem comparativa de seu produto. O
Brasil apresenta maior produtividade na exportação de commodities em fun-
ção das pesquisas e disponibilidades de recursos naturais no país. O adminis-
trador, portanto, deverá analisar o mercado para o seu produto levando em con-
ta o potencial de produção interna e sua capacidade de competição no mercado
internacional.

4.2  Câmbio

a) Conceito:
A taxa de câmbio pode ser definida como a medida de conversão da moeda
nacional em moeda de outros países. Representa o preço da moeda estrangeira
(divisa) em termos da moeda nacional. Pode-se afirmar, por exemplo, que 1 dó-
lar vale 3,00 reais, ou 1 euro vale 1,35 dólar.

24  VASCONCELLOS M. A., Economia Micro e Macro, p. 356, 2002


25  GALVEZ, C., Manual de Economia Política, p. 335, 2004

capítulo 4 • 103
b) Regimes cambiais: fixo e flutuante:
A taxa de câmbio é denominada fixa quando seu valor é fixado pela auto-
ridade econômica do país (Banco Central), que se obriga a comprar e vender
qualquer quantidade de divisa àquela taxa fixada. Portanto, ao fixar sua taxa de
câmbio, o país se obriga a disponibilizar suas reservas para o mercado quando
requisitadas pelos importadores, turistas ou pelos investidores.
As taxas de câmbio são flutuantes ou flexíveis quando seu valor é determina-
do pelo funcionamento do mercado de divisas, através do movimento de com-
pra e venda de divisas. Ao contrário do regime cambial fixo, o Banco Central
não é obrigado a disponibilizar suas reservas cambiais.
c) Regimes ou Sistema de bandas cambiais:
No regime de câmbio fixo, a autoridade monetária pode adotar o sistema de
bandas cambiais. O Banco Central fixa os limites superior e inferior (bandas)
no qual a taxa de câmbio pode variar.

4.2.1  Valorização e desvalorização da moeda nacional

A demanda de divisas é constituída pelos importadores de bens e serviços, que


desejam pagar suas compras no exterior, ou por outras pessoas que necessitam
remeter recursos para o exterior (turistas, investidores etc.). A oferta de divisas
é realizada pelos exportadores de bens e serviços, que recebe divisa por suas
vendas no exterior, ou por outras pessoas que tiverem recebido recursos no
exterior (turistas do exterior, capitais financeiros internacionais etc.). A divisa
necessita ser convertida em real, pois não pode ser utilizada no pagamento de
despesas correntes no Brasil.
Quando a taxa de câmbio aumenta de valor, significa que houve desvalori-
zação da moeda nacional (depreciação), ou seja, ela perdeu valor em relação à
divisa. Assim, a desvalorização cambial indica que será necessário um maior
número de reais para cada unidade de moeda estrangeira. A moeda nacional,
por exemplo, é desvalorizada em relação ao dólar. A valorização cambial (apre-
ciação), por sua vez, significa que a moeda nacional se fortaleceu em relação
à divisa, sendo necessário um menor número de reais para cada unidade de
moeda estrangeira.

104 • capítulo 4
A taxa de câmbio influencia diretamente o resultado da Balança Comercial
do país. Se a moeda nacional estiver desvalorizada, estimulará as exportações,
pois os exportadores receberão mais reais pela mesma quantidade de divisa,
aumentando, consequentemente o volume de divisas disponíveis no país. No
caso da desvalorização da moeda nacional, o custo do bem produzido no país
torna-se mais competitivo em relação à produção externa. Por outro lado, se a
moeda nacional estiver valorizada, há um estímulo às importações e um deses-
tímulo às exportações, pois os exportadores receberão menos reais pela mesma
quantidade de divisa, reduzindo-se a oferta de divisa internamente.
Caso haja alteração nas taxas de juros internas, relativamente às interna-
cionais, haverá movimentação dos capitais financeiros com impacto na taxa de
câmbio. No caso de aumento das taxas de juros internas em relação às externas,
acontece uma elevação do fluxo de capitais financeiros para o país, aumentan-
do a disponibilidade de moeda estrangeira. A maior oferta de divisas no mer-
cado interno resultará na valorização da moeda nacional. O processo ocorre
de forma inversa quando as taxas de juros internas diminuem em relação às
externas26.
Em termos empresariais, a taxa de câmbio afeta inúmeras decisões inter-
nas de seus gestores. A interdependência das economias afeta diretamente as
organizações que necessitam de insumos importados para seu processo produ-
tivo. A desvalorização da moeda nacional torna os produtos importados mais
onerosos impactando os custos de produção. De acordo com as condições de
mercado, a empresa poderá ou não repassar o aumento de custos para o preço
final do produto ou reduzir sua margem de lucro.
Entretanto, empresas nacionais captam recursos no mercado financeiro in-
ternacional para seus investimentos. A desvalorização da moeda nacional en-
carece esses empréstimos internacionais, considerando que as empresas deve-
rão converter maior quantidade de reais para pagamento das amortizações da
dívida. Companhias com alta exposição em relação a financiamentos externos
poderão ter seus resultados financeiros afetados por variações cambiais.

26  VASCONCELLOS M. A., Economia Micro e Macro, p. 356, 2002

capítulo 4 • 105
ESTUDO DE CASO

Essa notícia do O Globo de 29/12/2015 mostra que a entrada de divisas no país resul-
tou na desvalorização do dólar no mercado nacional e a consequente valorização da moe-
da nacional.
Com isso, esse fator poderá desestimular as exportações brasileiras e incentivar as im-
portações. Por sua vez, ao aumentar a Selic (taxa de juros) o governo atrai investimentos
externos para procura aproveitar o retorno obtido com a aplicação em títulos do governo.
Os leilões para concessão de energia estimulam a entrada de recursos de mais longo
prazo. Esses investimentos em infraestrutura podem estimular o crescimento do país, mas
contribuem para valorizar a nossa moeda.

106 • capítulo 4
Como um gestor de uma organização pode antecipar essa movimentação do dólar e
tomar decisão quanto à importação ou não de insumos do exterior necessários à produção?
O governo acerta ao permitir que o câmbio flutue de acordo com o mercado? A atuação do
governo comprando e vendendo dólar no mercado seria recomendável? Com base na visão
do administrador desenvolva as respostas.

4.3  Políticas cambiais e o câmbio como instrumento de regulação


comercial

O governo interfere na área internacional, seja por meio da política cambial ou


da política Comercial. A política cambial se refere à sua atuação na questão da
taxa de câmbio, enquanto que a política Comercial referem-se a sua interferên-
cia no movimento de mercadorias e serviços.
O Brasil adotou o regime de câmbio fixo quando era necessário combater a
elevada taxa de inflação que permanecia por anos no país. Com a valorização da
nossa moeda, o produto importado ficava com preço mais competitivo no mer-
cado interno estimulando as importações. Com isso, o governo pode combater
a elevação interna de preços através do aumento das importações, impedindo
desabastecimentos e estimulando a competição em nosso país.
A desvantagem do regime de câmbio fixo é o fato de que as reservas cambiais
ficam mais sujeitas à especulação e cria maior dependência do capital externo
de curto prazo necessário para o país manter suas reservas internacionais. No
regime de taxa de câmbio fixa, quando ocorre esse ataque especulativo, o gover-
no costuma manter elevadas as taxas de juros, para atrair o capital financeiro
internacional de curto prazo.
A vantagem do regime de câmbio flutuante é quando o governo precisa
manter o nível de reservas cambiais. Como o mercado determina a taxa de câm-
bio pelo movimento de oferta e demanda de divisas, o governo não se vê obri-
gado a dispor de suas reservas cambiais. Caso ocorra um ataque especulativo, a
moeda nacional vai se desvalorizar até encontrar um novo ponto de equilíbrio.
No entanto, podem ocorrer elevadas desvalorizações cambiais, que afetam os
preços dos insumos importados e o nível de preços internos.
No Brasil, o Banco Central pode interferir indiretamente no nível de taxa de
câmbio, através da compra e venda de divisas no mercado, mantendo-o dentro
do patamar que considera desejável para manutenção de sua política econômi-
ca. Quando a moeda nacional atinge nível de valorização indesejável, podendo

capítulo 4 • 107
afetar o nível de exportações do país, o Banco Central adquire divisas no mer-
cado nacional, evitando uma apreciação excessiva da moeda. Pode-se chamar
este tipo de regime cambial em que a taxa de câmbio é determinada pelo mer-
cado, mas que o Banco Central interfere no mercado comprando e vendendo
divisas, como flutuante sujo.
O quadro a seguir mostra as principais diferenças entre os regimes de câm-
bio fixo e o câmbio flutuante.

REGIMES CÂMBIO FLUTUANTE


CÂMBIO FIXO
CAMBIAIS (FLEXÍVEL)
O mercado determina a taxa
Banco Central fixa a
DEFINIÇÃO taxa de câmbio.
de câmbio, pela oferta e
demanda de divisas.

Maior estabilidade
As reservas cambiais ficam
de preços, através do
VANTAGENS controle do custo dos
mais protegidas em relação à
especulação.
insumos importados.

Reservas cambiais
O governo detém menor con-
sujeitas à especulação
trole sobre as desvalorizações
DESVANTAGENS e maior dependência do
cambiais e seus impactos
capital externo de curto
inflacionários.
prazo.

4.4  Estrutura e aplicação do balanço de pagamentos nas


organizações

4.4.1  A estrutura do balanço de pagamentos:

Balança de Pagamentos é o registro contábil de todas as transações econômicas


- financeiras de um país com o exterior. Reflete a verdadeira condição do país
no cenário internacional. No Balanço de Pagamentos, estão registradas todas
as transações com mercadorias, serviços e capitais financeiros entre o país e o
resto do mundo. Por ser uma moeda de aceitação mundial, o dólar americano
é a divisa empregada para representar os valores contidos nas diversas contas.

108 • capítulo 4
O Balanço de Pagamentos apresenta as seguintes subdivisões:
•  Balança Comercial: essa conta compreende as exportações e importações
de mercadorias, computadas pelo valor FOB (free on board, ou seja, isentas de
fretes e seguros). Se as exportações FOB superam as importações FOB, tem-se
um superávit no Balanço de comércio; senão, ocorre um déficit;
•  Balanço de Serviços: registram-se as transações dos serviços entre o País e
o exterior, tais como: turismo, fretes, seguros, lucros, juros e royalties;
•  Transferências unilaterais: referem-se ao movimento de donativos do
país com o exterior;
•  Balanço de Transações Correntes: o somatório dos Balanços Comercial,
de Serviços e de Transferências Unilaterais resulta no saldo do Balanço de
Transações Correntes. Se o saldo do Balanço de Transações Correntes for ne-
gativo, indica que o país aumentou seu nível de bens e serviços recebidos do
exterior. Se o Balanço de Transações Correntes for positivo, indica que o país
enviou mais bens e serviços para o exterior do que recebeu;
•  Movimento de capitais autônomos: registra os capitais que entram e
saem do país, na forma de investimentos diretos, de empréstimos para proje-
tos de desenvolvimento no país e de capitais de curto prazo aplicados no mer-
cado financeiro. Além disso, registram o capital destinado ao financiamento
do saldo do Balanço de Pagamentos, quando o país precisa cobrir o déficit no
Balanço de Pagamentos e apresenta problemas de liquidez internacional.
•  Erros e Omissões: representam as transações com o exterior que não fo-
ram corretamente contabilizadas, causando diferenças no saldo do Balanço de
Pagamentos.

4.4.2  Balanço de pagamentos

a) Balança Comercial (Mercadorias)


•  Importações FOB;
•  Exportações FOB.

b) Balanço de Serviços
•  Turismo;
•  Fretes;
•  Seguros;

capítulo 4 • 109
•  Juros, lucros, dividendos e lucros;
•  Royalties e assistência técnica;
•  Serviços governamentais (embaixadas).
c) Transferências Unilaterais (Donativos)
d) Balanço de Transações Correntes (Resultado Líquido de A+B+C)
e) Movimento de capitais Autônomos (Transações Monetárias)
•  Investimentos diretos líquidos (novas firmas estrangeiras);
•  Reinvestimentos (multinacionais já instaladas no país);
•  Empréstimos e financiamentos (Banco Mundial, BID, Bancos privados e ofi-
ciais estrangeiros);
•  Amortizações;
•  Capitais de curto prazo.
f) Erros e Omissões
g) Saldo do Balanço de Pagamentos (resultado líquido de D+E+F)

4.4.3  O balanço de pagamentos no Brasil e sua aplicação nas organizações

A economia brasileira tem apresentado, na última década, um superávit no re-


sultado da Balança Comercial, mas historicamente apresenta um Balanço de
Serviços deficitário, principalmente devido à remessa de lucros pelas multi-
nacionais instaladas no Brasil, mas também em decorrência da conta sobre o
turismo e pelos pagamentos de fretes e seguros. Mesmo que a Balança Comer-
cial venha apresentando saldos positivos, o resultado negativo do Balanço de
Serviços, vem comprometendo o saldo do Balanço de Transações Correntes. O
déficit em conta corrente na maioria das vezes tem sido financiado pela entra-
da líquida de capitais externos, tanto na forma de investimentos diretos como
de capitais especulativos.
Uma análise do Balanço de Pagamentos por parte do gestor de uma empre-
sa permite avaliar as dificuldades enfrentadas pelo país em seu relacionamento
econômico – financeiro com o resto do mundo. Por exemplo, a busca de recursos
em organismos internacionais para financiar o déficit no balanço de pagamen-
tos pode resultar em uma desvalorização de nossa moeda. O mesmo pode ocor-
rer quando existem déficits constantes no Balanço de Transações Correntes.

110 • capítulo 4
Antecipar futuros movimentos no câmbio pode ser um diferencial compe-
titivo para a empresa. A contratação de empréstimos em moeda estrangeira
poderá ser onerosa para a organização em caso de desvalorização da moeda,
portanto, uma avaliação periódica dos principais indicadores do Balanço de
Pagamentos pode ajudar ao gestor em seu processo decisório. Por sua vez, o
conhecimento desses indicadores pode auxiliar na decisão sobre o momento
adequado para a realização de uma importação ou exportação.

ESTUDO DE CASO

Essa notícia do O Globo de 29/12/2015 mostra que a valorização do dólar perante o


real permitiu que a Balança Comercial se tornasse positiva no período. Por sua vez, o desa-
quecimento da demanda interna também contribuiu para esse resultado positivo em razão da
menor procura por insumos importados.
Como administrador, comente a afirmação do presidente da Associação de Comércio
Exterior (AEB), José Augusto de Castro, de que o fator mais preocupante para a balança
comercial brasileira é a redução das importações, que indica que não há atividade industrial.
Segundo ele, as empresas não estão comprando insumos e investindo em bens de capital.
Como um gestor de uma organização poderia aproveitar as oportunidades no mercado ex-
terno quando verificamos o enfraquecimento do mercado interno?

capítulo 4 • 111
4.5  Organismos internacionais: FMI, BIRD e OMC

A ONU (Organização das Nações Unidas), em 1944, realizou em Bretton Woods


(New Hampshire, USA), a Conferência Financeira e Monetária das Nações Uni-
das com objetivo de organizar as relações econômicas internacionais, após um
período crítico no cenário mundial que finalizava com a segunda guerra mun-
dial. Na Conferência de Bretton Woods, com presença destacada do economis-
ta inglês John Maynard Keynes, surgiu um novo Sistema Monetário Internacio-
nal, que fundamentou o crescimento econômico internacional após a guerra.
O baixo nível de produção e suas consequências (desemprego, inflação
etc.), determinaram uma nova tomada de posição por parte das nações no sen-
tido de não resolver os problemas econômicos internacionais a nível nacional,
mas procurando soluções a nível internacional. Com isso, o advento do Sistema
Monetário Internacional propiciou uma maior integração entre os países, esta-
belecendo mecanismos que regulassem as relações monetárias e financeiras
internacionais e não criassem dificuldades ao desenvolvimento mundial.
Foram definidas as formas de controle das reservas internacionais e o seu
relacionamento com as moedas nacionais (regime cambial), o financiamento
dos desajustes nos Balanços de Pagamentos, a circulação dos capitais privados,
a regulação e o incentivo ao comércio internacional e, por fim, os planos de re-
construção para as economias destruídas pela guerra.
Assim, o objetivo de criar um Sistema Monetário Internacional foi o de via-
bilizar as transações entre países, estabelecendo regras e convenções que regu-
lassem as relações monetárias e financeiras e não gerassem entraves ao desen-
volvimento mundial.
Surgem da Conferência de Bretton Woods, o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial; como os organismos econômicos internacionais que
iriam regular o Sistema Monetário Internacional. Pouco depois da Conferência de
Bretton Woods foi criado o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), que se
transformou em abril de 1994 na Organização Mundial do Comércio (OMC).

4.5.1  Fundo Monetário Internacional (FMI):

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que começou a funcionar em 1º de


março de 1947, tem a finalidade de auxiliar os países que apresentam déficits
nas contas externas e desequilíbrios ocasionais em seu balanço de pagamen-
tos, causados por conjunturas internacionais adversas, e incentivar a livre cir-

112 • capítulo 4
culação internacional de bens e serviços. O FMI procura também promover a
cooperação monetária internacional, a expansão do comércio de modo harmô-
nico, visando o pleno emprego em níveis elevados, e, ainda, promove a estabi-
lidade cambial contribuindo para constituição de um sistema multilateral de
pagamentos, supervisionando, por fim, a dívida externa.
O capital do fundo é formado por contribuições dos países-membros, na ra-
zão da importância econômica de cada contribuinte. Ao invés de tomar um em-
préstimo, o país em dificuldade no seu balanço de pagamentos pode realizar
um convênio “stand-by”, em que apesar de disponível apenas utiliza o recurso
quando efetivamente necessita. O ativo financeiro usado pelo FMI é o Direito
Especial de Saque (DES).
Em sua tarefa de auxiliar os países-membros com desajuste em suas contas
externas, o FMI impõe aos países solicitantes de recursos financeiros que cum-
pram determinadas metas até que venha a recuperar sua estabilidade. Com
isso, o país solicitante fica sujeito a severas programações de ajuste econômico
interno, impostas pelo FMI, em seu papel de zelar pelo livre comércio e moni-
torar as finanças internacionais.

4.5.2  Banco Mundial ou BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e


Desenvolvimento)

Conhecido também por BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desen-


volvimento), o Banco Mundial tem seu capital subscrito pelos países na pro-
porção de sua importância econômica no cenário internacional. As operações
de empréstimo são realizadas a taxas de juros mais reduzidas direcionadas a
países em desenvolvimento, com a finalidade de promover projetos economi-
camente viáveis, especialmente de infraestrutura, importante para o desenvol-
vimento desses países.
Assim, a função do BIRD é a de financiar empréstimos como também dar
assistência aos países em desenvolvimento investindo em saúde, educação,
proteção ao meio ambiente, redução da pobreza.
Há de se ressaltar que o Banco pode também garantir empréstimos, como tam-
bém participar de empréstimos ou conceder empréstimos a favor de seus mem-
bros ou de qualquer subdivisão política ou ainda de qualquer empresa comercial,
industrial ou agrícola, estabelecida nos territórios do membro, porém sob reservas
de condições. Ou seja, ao garantir um empréstimo concedido por outras entida-
des, o Banco receberá uma compensação razoável pelo risco assumido.

capítulo 4 • 113
4.5.3  Organização Mundial do Comércio (OMC)

Ao findar a segunda grande guerra, em 1946, 23 países decidiram estabelecer


o processo de regulação das relações econômicas internacionais, visando im-
pulsionar a liberalização comercial e combater práticas protecionistas adota-
das internacionalmente. Posteriormente, os países denominados fundadores,
iniciaram negociações tarifárias (primeira rodada) e o conjunto de normas e
concessões proveniente do acordo passou a ser chamado Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio - GATT.
O GATT desempenhou papel importante nas sucessivas rodadas de nego-
ciações entre os países envolvidos no comércio internacional e conseguiu redu-
zir o protecionismo ao comércio internacional, estabeleceu a compensação aos
países atingidos por elevação de tarifas alfandegárias, e produziu a arbitragem
dos conflitos de natureza comercial. Com o acordo de Marrakesh, em abril de
1994, o GATT transformou-se na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O GATT é um tratado multilateral de tarifa aduaneira e comércio interna-
cional, que visa:
a) a não discriminação entre os países - membros sejam países desenvol-
vidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvimento;
b) gradativa redução das barreiras tarifárias (aduaneiras) e não-tarifárias
(cambiais ou de outra natureza);
c) elaboração de normas de intercâmbio que garantam livre fluxo das
mercadorias no comércio internacional;
d) contribuição das partes integrantes para a permanente elevação do pa-
drão de vida dos povos.

A OMC estabeleceu regra mais rigorosa de fiscalização do que as emprega-


das pelo GATT, especialmente na que proíbe o estabelecimento de cotas sobre
o montante de importações. Os países mais desenvolvidos, especialmente os
Estados Unidos e os membros da União Européia, vêm estabelecendo cotas
na importação de similares aos produzidos internamente, prejudicando paí-
ses como o Brasil mais competitivo em inúmeros produtos agrícolas. Pode-
se, assim, concluir que a OMC tem como finalidade precípua, combater o
abuso do poder econômico, relativo às desigualdades comerciais entre as na-
ções membros.

114 • capítulo 4
No que se refere à propriedade intelectual, os países-membros da OMC
estão obrigados a proteger os direitos às patentes, assim como aos segredos
profissionais e ao registro de marcas. Com isso, procura-se combater a pirata-
ria e desestimular práticas desleais que afetam o investimento de companhias
como as do setor farmacêutico e as do setor de vestuário/calçado.

COMENTÁRIO
Os Acordos Anti-Dumping (Dumping é a introdução no mercado de outro país de um produto
a preço inferior ao seu valor normal ou custo de fabricação) e sobre Subsídios – (Subsídio é
o auxílio financeiro, fiscal e comercial concedido pelo governo ou entidade pública localizada
no país de exportação) e Medidas Compensatórias (compensação sobre o dano causado ao
país exportador por práticas contrárias ao comércio exterior como o subsídio), também foram
incorporadas à Ata final.
O Acordo sobre Salvaguardas que faz parte da Ata Final refere-se às normas que disci-
plinam os procedimentos administrativos relativos à aplicação de Medidas de Salvaguardas
(medida protecionista temporária visando à defesa da indústria e da produção doméstica em
virtude de ameaça de importação de mercadorias com valores inferiores ao produtor nacional
em razão de melhor técnica). Desta forma, poderão ser aplicadas tais medidas em situações
em que a importação cause ou venha ameaçar causar prejuízo grave à indústria doméstica
de bens similares ou diretamente concorrentes.

4.6  Integração econômica

O processo de integração econômica pode ser definido como o acordo de natu-


reza econômico-político entre governos nacionais e soberanos com a finalida-
de de redução das barreiras tarifárias e não-tarifárias que restringem o comér-
cio entre os respectivos países signatários.

4.6.1  Mercosul

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi concluído em 26/03/91, entre Argenti-


na, Brasil, Paraguai e Uruguai, para a constituição do Mercosul, tendo entrado
em vigor em 29 de novembro do mesmo ano. O objetivo do acordo é de criar um
Mercado comum entre os países integrantes, por meio de:

capítulo 4 • 115
a) livre circulação de bens, serviços e fatores de produção;
b) eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os
países membros;
c) adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC) – em função da TEC todos
os produtos importados de países não-participantes do MERCOSUL, estão su-
jeitos à mesma alíquota de importação ao serem internalizados em qualquer
dos Estados – Partes;
d) coordenação das políticas macroeconômicas entre os países membros
dentro do Mercosul.

Os membros do MERCOSUL (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, paí-


ses fundadores, e Venezuela, que completou seu processo de adesão em mea-
dos de 2012) abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do
Sul (12,8 milhões de km², equivalente a três vezes a área da União Europeia);
70% da população sul-americana (275 milhões de habitantes) e 77% do PIB da
América do Sul em 2012 (US$ 3,18 trilhões de um total de US$ US$ 4,13 trilhões,
segundo dados do Banco Mundial). Em dezembro de 2012, com a assinatura
do Protocolo de Adesão do Estado Plurinacional da Bolívia ao Mercosul, deu-se
início ao processo de adesão daquele país também como Estado Parte27.
Desde sua criação, o MERCOSUL provou ser um grande sucesso em termos
econômico-comerciais. O comércio intrabloco multiplicou-se mais de dez ve-
zes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$ 58,2 bilhões (2012). No mesmo
período, o comércio mundial cresceu apenas cinco vezes. O comércio do Brasil
com o MERCOSUL aumentou por cerca de dez vezes – ao passo que, com o resto
do mundo, o aumento foi de oito vezes. O comércio intrabloco corresponde a
cerca de 15% do total global do MERCOSUL e reduziram-se quase totalmente as
tarifas para comércio entre os países do bloco28.
Portanto, o MERCOSUL não se limita à dimensão econômica e comercial,
contando com iniciativas comuns que abrangem da infraestrutura às teleco-
municações; da ciência e tecnologia à educação; da agricultura familiar ao meio
ambiente; da cooperação fronteiriça ao combate aos ilícitos transnacionais;
das políticas de gênero à promoção integral dos direitos humanos. Isso é o que
faz do MERCOSUL um dos projetos de integração mais amplos do mundo29.

27  Site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, www.itamaraty.gov.br, acesso em 25/03/2016
28  Site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, www.itamaraty.gov.br, acesso em 25/03/2016
29  Site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, www.itamaraty.gov.br, acesso em 25/03/2016

116 • capítulo 4
A integração regional através do Mercosul é importante para o fortaleci-
mento das economias dos países participantes. Conforme visto anteriormen-
te, o potencial de mercado é significativo, podendo as empresas desses paí-
ses aproveitarem as oportunidades de negócio. Um dos principais segmentos
do MERCOSUL é o automotivo, pois o bloco possibilitou a Brasil e Argentina
integrar suas cadeias produtivas de automóveis. Um gestor de uma empresa
com atuação no mercado exterior deverá estudar o Mercosul e vislumbrar as
chances de comercialização de seus produtos. Apesar de todas as críticas, algu-
mas de ingerências políticas, o acordo de integração comercial dos países da
América do Sul é irreversível.

4.6.2  União Europeia

A União Europeia tem como objetivo fazer a integração econômica entre os paí-
ses pertencentes ao bloco europeu signatários do acordo, através da eliminação
total dos impostos de importação e exportação, promovendo a livre circulação
de pessoas, bens e serviços.
O Tratado da União Europeia surge em 07.02.1992, em Maastricht, assina-
lando um novo período no processo de integração europeia com a criação das
Comunidades Europeias. Com ele está definida a base da política e das insti-
tuições europeias, estabelecendo a cidadania europeia e identificando como
objetivos a união econômica e monetária, a política externa e a política de se-
gurança comum.
A uniformização da política econômica conta nos títulos VI e VII , art. 102-
A “Os Estados-Membros conduzirão as suas políticas econômicas no sentido
de contribuir para a realização dos objetivos da Comunidade, [...] Os Estados-
Membros e a Comunidade atuarão de acordo com o princípio de uma econo-
mia de mercado aberto e de livre concorrência, favorecendo uma repartição
eficaz dos recursos [...]”.
A constituição da União Europeia permitiu que países com menor grau
de desenvolvimento pudessem se integrar em um mercado mais amplo e pu-
dessem alavancar suas economias. A tendência de acordo entre MERCOSUL e
União Europeia vai permitir maior acesso das empresas brasileiras a um gran-
de mercado consumidor e com grau de desenvolvimento elevado. Caberá aos
gestores nacionais aproveitar as oportunidades que surgirão com esses no-
vos acordos.

capítulo 4 • 117
4.6.3  Nafta

O Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) tem como partici-


pantes os Estados Unidos, México e Canadá. Sua finalidade é constituir uma
zona de livre comércio visando à eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifá-
rias sobre as transações de bens, serviços e capitais.
A questão a ser resolvida na implantação plena deste acordo é a grande di-
ferença socioeconômica do México em relação aos outros membros do bloco.
Por sua vez, os Estados Unidos e o Canadá receiam em perder suas indústrias
para um país com mão-de-obra muito mais barata, apesar de serem bem mais
competitivas comparadas com a indústria mexicana.

ESTUDO DE CASO

118 • capítulo 4
MUDANÇA DE POSTURA
PAÍS VAI DISCUTIR TEMAS CONSIDERADOS TABUS

OS NOVOS ACORDOS CORRENTE DE COMÉRCIO


COMERCIAIS Exportações mais importações entre o Brasil e os mercados com
os quais estão sendo negociados acordos mais amplos, de janeiro
· Até agora, os acordos a novembro de 2015.
comerciais negociados 65,164
com o Brasil são pautados
exclusivamente pela
redução das tarifas de
importação no comércio
bilateral.
· A partir de agora, os 7,440
acordos passarão a conter 4,408 3,059 2,799
elementos novos, como a
abertura do Brasil em áreas
como compras governamentais
e serviços e proteção União México Canadá Colômbia Peru
aos investimentos. Européia

Essa notícia do O Globo de 01/01/2016 mostra a preocupação do Brasil de expandir


suas trocas internacionais com outros países. Quando o Brasil negocia em conjunto com
o Mercosul, ele não tem a liberdade de negociar em separado redução de tarifa com ou-
tros blocos. Entretanto, em outros segmentos não depende da concordância dos sócios
do Mercosul.
Em relação às compras governamentais, a intenção é de que as empresas de países
que mantenham acordos com o Brasil recebam os mesmos benefícios que as nacionais em
licitações e outras operações que tenham como contratante o governo brasileiro. No entanto,
o Brasil sempre relutou em permitir essa abertura, requerendo sempre a contrapartida dos
países desenvolvidos.
Comente sobre a importância, do Brasil, realizar acordos com outros blocos econômicos
para as empresas nacionais. Como um gestor pode se preparar para enfrentar uma nova
realidade com a integração em nível mundial? A abertura internacional de serviços como
áreas jurídicas, financeira, arquitetura, engenharia e tecnologia da informação pode afetar os
interesses nacionais e particulares?

4.7  Globalização

No mundo globalizado, as economias estão cada vez mais interdependentes. A


globalização econômica tem origem no próprio incremento do comércio inter-
nacional e pela mobilidade do capital internacional. O liberalismo, no entanto,

capítulo 4 • 119
passou a ter papel de destaque, em particular com a adesão da Rússia e países
asiáticos ao modelo, com o capitalismo experimentando uma internacionaliza-
ção em proporção jamais verificada anteriormente.
O Brasil se inseriu no capitalismo globalizado durante a década de 1990,
quando aconteceu o fim o processo de substituição de importações e iniciou-
se a abertura da economia ao comércio exterior. A paridade cambial do Real
perante o Dólar tornou atrativas as importações e se constituiu em elemento
de política macroeconômica para manutenção da estabilidade de preços. A in-
dústria nacional teve que se adaptar à nova conjuntura se inserindo no cená-
rio globalizado.
Nesse período, para poder financiar o déficit em conta corrente fruto da va-
lorização do Real perante o dólar, o governo promoveu um grande ajuste fiscal
e incentivou a desmobilização do ativo do setor público, especialmente através
da venda de empresas estatais. O ajuste fiscal ocorreu junto com a reforma do
Estado, transferindo uma significativa parte da responsabilidade social para as
entidades de natureza não-estatal.
Entretanto, a globalização e a inserção numa nova unidade internacional
não garantem qualquer sustentabilidade em economias periféricas como a bra-
sileira, ainda dependentes de equilíbrios macroeconômicos. A impossibilida-
de de financiar políticas públicas e sociais, no momento em que o crescimento
econômico é reduzido, resulta no agravamento das desigualdades sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, L. V. Lições de Direito Econômico. Rio de Janeiro: Forense,2006.
FIORI, J. L. Neoliberalismo e políticas públicas; Globalização e Democracia; O novo papel do estado
frente à globalização. In: FIORI, J. F. Os moedeiros falsos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 201-239.
GALVEZ, C., Economia Política Atual. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
GASTALDI, J. P. Elementos de Economia Política. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
LEOPOLDINO DA FONSECA, J. B. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL, site oficial, acesso em 25/03/2016.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia Micro e Macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA M. E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2004.
VICECONTI, P. E. V.; DAS NEVES, S. Introdução à Economia. 4. ed.. São Paulo: Frase, 2000.

120 • capítulo 4
5
Crescimento e
desenvolvimento
econômico
5.  Crescimento e desenvolvimento
econômico

OBJETIVOS
•  Analisar o Sistema de Contas Nacionais no Brasil;
•  Compreender o Índice de Desenvolvimento Humano IDH;
•  Visualizar como a desigualdade de renda constitui um elemento restritivo ao desenvolvi-
mento econômico;
•  Conhecer como a segurança pública consiste num fator preponderante para ao desenvol-
vimento econômico;
•  Discutir a pobreza como processo restritivo ao desenvolvimento econômico sustentável;
•  Conhecer o Desenvolvimento: Econômico relacionado a formalização da mão de obra;
•  Analisar a Educação e Saúde como instrumento para o desenvolvimento;
•  Compreender a importância da infraestrutura e do setor de regulação brasileiro;
•  Conhecer a relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico sustentável

5.1  Introdução

A Comissão Brundland criada pelas Nações Unidas definiu desenvolvimento


sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente, sem com-
prometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias ne-
cessidades”. A posição da Comissão Brundland prevê um crescimento econô-
mico baseado em questões sociais e ambientais perfeitamente solidificadas.
O desenvolvimento econômico com desigualdade social e degradação do meio
ambiente não teria sustentação num futuro próximo, resultando apenas no
agravamento da concentração da riqueza e na piora nos indicadores sociais e
ambientais (Comissão Brundland, 1988).
A comunidade internacional vem se preocupando com os limites do desen-
volvimento desde a década de 1960, quando iniciaram os debates sobre os pe-
rigos da degradação do meio ambiente. Tais discussões chegaram a tamanha

122 • capítulo 5
intensidade que levaram a ONU a gerar uma Conferência sobre o Meio Ambiente
( Estocolmo 1972).
Os meios para se atingir o desenvolvimento seriam: atender as necessida-
des básicas; preservação para as gerações futuras; envolvimento da população;
preservação do meio ambiente e dos recursos naturais; criação de um sistema
social com garantia de emprego, segurança e respeito às culturas; e educação
para todos. A teoria dirigia-se principalmente às regiões em desenvolvimento,
entremeando uma crítica à sociedade industrial. Estes debates a respeito de
meio ambiente e desenvolvimento abriram espaço ao conceito de desenvolvi-
mento sustentável.
As normas do desenvolvimento sustentável estão baseadas nas necessi-
dades, sobretudo nas necessidades fundamentais e, principalmente, aquelas
das populações mais carentes; e limitações tecnológicas e sociais impostas ao
meio ambiente, diminuindo a capacidade de atender às necessidades presen-
tes e futuras.
Desenvolvimento sustentável deve ser assumido pelas lideranças empresa-
riais como uma inovadora forma de produzir sem destruir o meio ambiente,
difundindo essa cultura a todos os níveis organizacionais, a fim de que seja es-
truturado um processo de assimilação do impacto da produção no meio am-
biente e tenha como resultado a execução de um projeto que conjugue produ-
ção e preservação ambiental, com a utilização de tecnologia adequada a esse
preceito. Hoje já se encontram empresas que implementaram um projeto de
desenvolvimento sustentável como por exemplo a McDonalds, Dow, Boticário,
DuPont, Pepsi, Coca-Cola e Natura.
A fim de conseguir o Desenvolvimento Sustentável, faz-se necessário que
a proteção do meio ambiente seja entendida como uma parte importante do
processo de desenvolvimento, e não um apêndice. A diferença entre o desen-
volvimento e o crescimento é que: o crescimento não elimina automaticamente
à desigualdade nem à injustiça social, pois não considera qualquer aspecto da
qualidade de vida que não seja o acúmulo de riquezas, que acontece apenas
com uns poucos indivíduos da população. O desenvolvimento, ao contrário,
preocupa-se com a produção de riquezas, contudo tem por objetivo a distribuí
-las, a melhora da qualidade de vida da população, tendo em consideração, des-
te modo, a qualidade ambiental.

capítulo 5 • 123
5.2  O Sistema de Contas Nacionais do Brasil

A contabilidade nacional é a representação quantitativa de toda atividade eco-


nômica do país. O Sistema de Contas Nacionais no Brasil é elaborado pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ele segue o padrão recomenda-
do pela ONU, que consiste em agrupar a atividade econômica em quatro contas
básicas, a saber:
a) Conta Produto Interno Bruto – corresponde às transações que refletem
a atividade produtiva final durante um determinado período de tempo.
b) Conta Renda Nacional Disponível Bruta – corresponde às transações
que indicam a apropriação e a utilização da renda pelas famílias e governo.
c) Conta consolidada de Capital – corresponde às transações que
representam aumento da capacidade produtiva e seu financiamento pe-
las poupanças.
d) Conta das Transações correntes com o resto do Mundo – correspon-
de às transações de mercadorias e serviços entre residentes e não residentes
do país.

Alguns conceitos importantes para entender o sistema de contas nacionais:


•  Produto - é o total de bens e serviços finais que foram produzidos numa
economia durante um determinado intervalo de tempo (usualmente anual). Os
bens e serviços finais são àqueles destinados diretamente para satisfação da
população (automóveis, geladeiras etc.), não sendo incluídos os bens interme-
diários (utilizados na produção de outros bens).
•  Renda – é o total das remunerações recebidas pelos proprietários dos fa-
tores de produção.
•  Despesa – é o total dos gastos realizados para aquisição dos bens e servi-
ços finais produzidos na economia.

5.2.1  Produto Interno Bruto

O Produto Interno Bruto (PIB) é o somatório de todas as mercadorias e serviços


finais produzidos dentro do território nacional num dado período de tempo,
valorizados a preço de mercado, sem considerar se os fatores de produção são
de propriedade de residentes ou não-residentes.

124 • capítulo 5
Entretanto, para calcular o PIB utilizam-se os fatores de produção que per-
tencem a não-residentes, cuja remuneração é remetida aos seus proprietários
no exterior, na forma de juros, lucros e royalties. Os juros representam a remu-
neração pela utilização do capital monetário externo; as remessas de lucros é o
pagamento pelo capital físico de propriedade das empresas estrangeiras insta-
ladas no país; e os royalties representam o pagamento pelo uso da tecnologia
estrangeira. Por sua vez, existem residentes que possuem fatores de produção
fora do país e recebem renda do exterior (Petrobras, Vale etc.).
Adicionando ao PIB à renda recebida do exterior e diminuindo a renda en-
viada ao exterior tem-se o Produto Nacional Bruto (PNB), que é a renda que efe-
tivamente pertence aos residentes do país.
A diferença entre a renda recebida e a renda enviada ao exterior é chamada
de renda líquida do exterior (RLE).

5.2.2  PIB Nominal e PIB Real

Quando são comparados os valores do PIB em períodos diferentes, eles incor-


poram o aumento da inflação. Para tirar o efeito da inflação, é necessário de-
sinflacionar esses valores, transformando valores nominais em valores reais ou
deflacionados. Daí surge a diferença entre PIB nominal e PIB real.
•  PIB Nominal: É o PIB medido a preços correntes. Quando são compara-
dos os valores do PIB Nominal entre dois anos, não se é possível diferenciar qual
a parcela se deve ao aumento de preços e qual se refere a da quantidade física.
•  PIB Real: Para calcular o crescimento do produto físico deve se considerar
que os preços se mantiveram constantes entre os dois anos. O PIB Real é o PIB
medido a preços constantes de um dado ano qualquer, denominado ano-base.

5.2.3  Renda “Per Capita”

A renda per capita é o resultado da divisão da produção total e real de um país


pela sua população. Como indicador para definir o desenvolvimento de um
país, a renda per capita apresenta algumas limitações. Uma economia como
a brasileira que apresenta elevada desigualdade de renda pessoal e regional, a
renda per capita pode criar uma falsa expectativa. A renda per capita do interior
de São Paulo é muitas vezes superior à renda per capita do interior do nordeste,
gerando distorções que não são refletidos no indicador.

capítulo 5 • 125
5.3  Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

O índice de desenvolvimento humano (IDH) foi criado pelos economistas Mah-


bub ul Haq e Amartya Sem e mede a qualidade de vida levando-se em conta
indicadores como renda “per capita”, saúde (expectativa de vida ao nascer) e
educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamen-
tal, médio e superior).
Conforme relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), em contraponto a visão de crescimento econômico, que
observa a sociedade apenas pelos recursos ou pela renda, a abordagem de de-
senvolvimento humano foca as pessoas, suas oportunidades e capacidades. A
renda faz parte da medição, mas como um dos meios do desenvolvimento e não
como seu objetivo principal. Portanto, com o desenvolvimento humano, o foco
deixa de ser o crescimento econômico, para privilegiar o ser humano30.
O conceito de Desenvolvimento Humano parte do princípio de que para
conhecer o nível de qualidade de vida de uma população é necessário consi-
derar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam seu
bem-estar. Esse conceito é a base do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
e do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicados anualmente
pelo PNUD.
Tendências do Índice de Desenvolvimento Humano, 1980–2012

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)


VALOR
CLASSIFI-
CAÇÃO DO 1980 1990 2000 2005 2007 2010 2011 2012
IDH
DESENVOLVIMENTO HUMANO MUITO ELEVADO
1 Noruega 0,804 0,852 0,922 0,948 0,952 0,952 0,953 0,955
2 Austrália 0,857 0,880 0,914 0,927 0,931 0,935 0,936 0,938
3 Estados
Unidos 0,843 0,878 0,907 0,923 0,929 0,934 0,936 0,937
4 Países
Baixos 0,799 0,842 0,891 0,899 0,911 0,919 0,921 0,921
5 Alemanha 0,738 0,803 0,870 0,901 0,907 0,916 0,919 0,920
6 Nova
Zelândia 0,807 0,835 0,887 0,908 0,912 0,917 0,918 0,919
7 Irlanda 0,745 0,793 0,879 0,907 0,918 0,916 0,915 0,916
7 Suécia 0,792 0,823 0,903 0,905 0,909 0,913 0,915 0,916

30  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD – www.pnud.org.br

126 • capítulo 5
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)
VALOR
CLASSIFI-
CAÇÃO DO 1980 1990 2000 2005 2007 2010 2011 2012
IDH
DESENVOLVIMENTO HUMANO MUITO ELEVADO
9 Suíça 0,818 0,840 0,882 0,898 0,901 0,912 0,912 0,913
10 Japão 0,788 0,837 0,878 0,896 0,903 0,909 0,910 0,912
11 Canadá 0,825 0,865 0,887 0,906 0,909 0,909 0,910 0,911
12 Coreia,
República da 0,640 0,749 0,839 0,875 0,890 0,905 0,907 0,909
13 Hong
Kong,
China (RAE) 0,712 0,788 0,815 0,857 0,877 0,900 0,904 0,906
13 Islândia 0,769 0,815 0,871 0,901 0,908 0,901 0,905 0,906
15 Dinamarca 0,790 0,816 0,869 0,893 0,898 0,899 0,901 0,901
16 Israel 0,773 0,809 0,865 0,885 0,892 0,896 0,899 0,900
17 Bélgica 0,764 0,817 0,884 0,884 0,891 0,896 0,897 0,897
18 Áustria 0,747 0,797 0,848 0,867 0,879 0,892 0,894 0,895
18 Singapura - 0,756 0,826 0,852 - 0,892 0,894 0,895
20 França 0,728 0,784 0,853 0,877 0,885 0,891 0,893 0,893
DESENVOLVIMENTO HUMANO ELEVADO
85 Brasil 0,522 0,590 0,669 0,699 0,710 0,726 0,728 0,730
31
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013 – Pnud

De 1980 a 2012, o IDH do Brasil foi o que mais cresceu entre os países da
América Latina e do Caribe, com alta acumulada de 36,4%, um crescimento
médio anual de 0,95% no período. O IDH do país é considerado um nível de
desenvolvimento elevado. No entanto, ainda ocupa a 85ª posição no ranking do
IDH ainda distante das principais nações com desenvolvimento humano mui-
to elevado. Observa-se a melhoria dos indicadores de desenvolvimento huma-
no dos países que ocupam as 20 primeiras posições no período de 1980 a 2012,
mostrando a eficácia das políticas de valorização do ser humano nas regiões.

5.4  A Constituição brasileira e o desenvolvimento econômico


sustentável

Nos princípios fundamentais, artigo 3o da Carta Magna, existe a preocupação


do legislador em promover o desenvolvimento nacional, numa sociedade livre,
justa e solidária, sem discriminação, e onde não tenha pobreza e desigualdade
social.
31  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD – WWW.pnud.org.br

capítulo 5 • 127
O artigo 170 da Constituição Federal define a ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, deve defender o meio am-
biente, reduzir as desigualdades regionais e sociais, e buscar o pleno emprego.
Já o §1o do artigo 174 da Carta Maior estabelece que a lei definirá as diretrizes e
bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incor-
porará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.
Assim, pode-se entender a grande preocupação do legislador em consonân-
cia com a preocupação nacional e mundial em promover um desenvolvimento
econômico em base sustentáveis. Não deixando de lembrar a importância da
Agenda 21, definida por ocasião da Rio – 92, Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que objetiva mudanças tanto nos
padrões de produção e consumo, quanto nas questões políticas e sociais que
cercam o meio ambiente.

5.5  A desigualdade de renda como elemento restritivo ao


desenvolvimento econômico

A medida mais conhecida do nível de desigualdade de renda de um país é co-


nhecida como Coeficiente de Gini. Ele consiste em um número entre 0 e 1,
onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma
renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a
renda, e as demais não têm nada). O índice de Gini é o coeficiente expresso em
pontos percentuais, e é igual ao coeficiente multiplicado por 100.
O progresso exige mais do que uma melhoria média do IDH. Não é reco-
mendável, nem sustentável, que os progressos no IDH sejam acompanhados
pelo aumento das desigualdades de rendimento e padrões insustentáveis de
consumo. A desigualdade reduz o ritmo de desenvolvimento humano e, em al-
guns casos, pode inclusivamente impedi-lo por completo. Em nível mundial,
nas últimas duas décadas, registrou-se um declínio muito mais acentuado na

128 • capítulo 5
desigualdade na saúde e na educação do que no rendimento. Os estudos mos-
tram que a desigualdade de rendimento geral é elevada, embora não exista um
consenso quanto às tendências recentes.
O Brasil ao longo das últimas décadas tem apresentado um nível de ren-
da bastante desigual. A estabilização da economia dos anos 1990 melhorou
a distribuição de renda observada na redução do nível de pobreza no país.
O Coeficiente de Gini da renda dos chefes de família, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), melhorou de 0,6366 em 1991 para
0,6090 em 2000, resultado do plano de estabilização32.
O RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) de 2014 aponta que a re-
gião da América Latina e do Caribe foi a que mais reduziu as desigualdades
nos últimos anos, mas segue no topo da lista como a região mais desigual do
planeta, quadro influenciado principalmente pelas disparidades na dimen-
são renda. No caso do Brasil, quando descontado o valor do IDH em função da
desigualdade, o índice fica 27% menor (0,542). Mesmo com a redução signifi-
cativa nos últimos anos do coeficiente de Gini – que mede a desigualdade em
renda – a perda maior do Brasil dentro do IDH ainda está nesta dimensão do
índice (39,7%), seguida de educação (24,7%) e da expectativa de vida (14,5%).
Diferentemente do IDH, este índice ajustado à desigualdade foi calculado para
145 países, impossibilitando, portanto, a comparação com o ranking do IDH.
A desigualdade de renda regional no Brasil é bastante significativa, sendo a
região Sudeste mais rica que as demais regiões. A região sudeste (44% da popu-
lação) concentra 62% da renda. As regiões Sul e Sudeste apresentam menor de-
sigualdade de renda interna do que as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O Brasil comparativamente aos demais países apresenta um Coeficiente de
Gini muito elevado, sendo menos desigual somente em relação a países pobres
como Namíbia e Serra Leoa. A desigualdade de renda de renda não é privilégio
do Brasil, na América Latina, em geral, é mais acentuada, inclusive, em relação
aos países que se encontravam no eixo da antiga União Soviética.
32  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – WWW.ibge.gov.br

capítulo 5 • 129
ESTUDO DE CASO

130 • capítulo 5
Essa notícia do O Globo de 06/04/2016, mostra que, nos Estados Unidos, existe uma
discrepância entre a renda de homens e mulheres. A desigualdade de renda não está pre-
sente somente no Brasil e sim na principal economia mundial.
Comente sobre a importância de se reduzir a desigualdade de renda de toda a natureza
para alcançar o desenvolvimento econômico sustentável.
Como a desigualdade de renda pode afetar o mercado consumidor brasileiro e conse-
quentemente a produção?
A partir do texto, comente sobre a discriminação quanto ao trabalho feminino e seu im-
pacto na concentração de renda da população.
Com base na visão do administrador desenvolva as respostas.

5.6  A segurança pública como fator preponderante para ao


desenvolvimento econômico sustentável

A segurança constitui um bem público que tem como característica principal a


indivisibilidade do consumo. Como não se pode avaliar a quantidade de servi-
ços consumida pelos diferentes indivíduos, a determinação do preço por meio
de mecanismos de mercado torna-se, senão impossível, pelo menos muito difí-
cil. Por este motivo, a intervenção do governo se faz indispensável para o aten-
dimento das necessidades coletivas, utilizando-se a tributação para a obtenção
compulsória de recursos necessários ao financiamento da “produção” destes
serviços.
Para as pessoas e para o país, a segurança se constitui em um bem funda-
mental, constituindo-se em uma das obrigações do Estado para com o cidadão.
Para que a vida em sociedade possa se desenvolver de maneira adequada, faz-se
necessário que cada indivíduo tenha um mínimo de segurança que lhe permita
trabalhar, estudar, consumir, aprimorar-se, divertir-se, estar em casa ou na rua
sem que esteja sob o risco de ser agredido ou lesado.
Nas últimas décadas, uma questão social grave vem causando preocupação
à sociedade, afastando investimentos e gerando insegurança na economia. A
violência constitui em um problema que cada vez mais se incorpora na socie-
dade, desafiando à própria ordem constituída. Ela surge inicialmente nas gran-
des cidades, no meio urbano, sob a forma do crime organizado, associado ao
tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, submetendo pessoas e famílias a

capítulo 5 • 131
sequestros e assassinatos, principalmente nas camadas de baixa renda. A ques-
tão social brasileira é um problema em que adiciona o problema da violência.
O conceito de desenvolvimento sustentável compreende, além dos indica-
dores sociais, econômicos, e políticos, o direito à vida e consequentemente à
segurança. A partir desse objetivo, a fim de que os indivíduos possam desen-
volver adequadamente todas as suas capacidades, é fundamental a igualdade
de direitos, apesar das diferenças de gênero e idade, etnia, de riqueza e poder.
A isonomia de direitos demanda, entre outras coisas, acesso igualitário às ins-
tituições responsáveis pela implantação do bem-estar e aplicação das leis e am-
paro aos direitos humanos fundamentais, entre os quais o direito à segurança.
Nessa sociedade, há uma disposição a resolver seus conflitos por meio da vio-
lência, sem levar em conta se essa violência resulta de cidadãos comuns ou de
agentes do Estado em suas tarefas de combate da criminalidade.
Em princípio, a violência afeta a todos na mesma magnitude: qualquer ci-
dadão, independente de classe social, etnia, idade e sexo. O que é veiculado pe-
los meios de comunicação reforça essa percepção. Análises mostraram que, no
entanto, nem todos são alcançados da mesma forma pela violência. Os índices
de homicídio, por exemplo, são mais altos nos bairros em que a renda média é
menor e há uma deficiência nos serviços urbanos.
Por muitos anos no Brasil, acreditava-se que o problema da violência, prin-
cipalmente a urbana, tinha como origem a pobreza. No entanto, o crescimento
econômico e a redução das desigualdades sociais não reduziram os níveis de
violência, incentivada também pelas más condições de vida das metrópoles.

5.7  A pobreza como processo restritivo ao desenvolvimento


econômico sustentável

Um fator restritivo a qualidade de vida do ser humano é a fome. Se reconheci-


damente o principal ativo das comunidades carentes é sua força de trabalho
e, assim sendo, sua renda, uma pessoa subnutrida nunca terá condições de se
manter com emprego num mercado de trabalho tão competitivo como o atual.
A renda adquirida permite no máximo sua sobrevivência, e não a aquisição de
bens materiais primordiais para o seu desenvolvimento. A pessoa carente é ex-
cluída do mercado de trabalho por não ter aptidões à geração do lucro esperado
pelo setor produtivo, excluindo-se, assim, de conseguir salários, férias, direito
ao FGTS, assistência médica e da alimentação necessária. Apesar de que a pes-

132 • capítulo 5
soa carente não possa usufruir dos benefícios de uma sociedade organizada, a
pobreza é um processo doloroso. Este tipo de carência pode degradar o meio
ambiente e disseminar doenças incuráveis.
Parte significativa da população se encontra em pobreza extrema, ou seja,
aquelas pessoas cuja renda familiar per capita não é suficiente para nem mes-
mo o atendimento de suas necessidades de alimentação, sendo esta a parcela
da população considerada vulnerável à fome e principal como público-alvo de
políticas públicas de erradicação da pobreza extrema.
A pobreza pessoal e regional poderá entravar o próprio desenvolvimento
econômico, na medida em que perpetuar o nível de pobreza, e exigir cada vez
mais recursos públicos para ações sociais, em detrimento de um maior nível
de tributação e da ausência de investimentos em infraestrutura básica. Por sua
vez, a ausência de investimento em educação para a camada mais pobre da po-
pulação, tornará mais difícil sua inserção no mercado formal de trabalho, apro-
fundando ainda mais as discrepâncias de renda no país.

5.8  Desenvolvimento: Econômico: setores formais/informais e suas


consequências

A economia informal é um tema que vem sendo objeto de grande preocupação


e discussão a nível internacional desde o final do século passado. O crescimen-
to das atividades informais, proveniente do maior número de atividades econô-
micas que atuam à margem da economia oficial (formal – tributável), traz à dis-
cussão o aspecto social, o processo de fiscalização e de arrecadação tributária,
o sistema de saúde e de benefícios da previdência e o fato de que estão sendo
produzidas riquezas que não são registradas nas estatísticas oficiais. Além dis-
so, o comércio informal é o mecanismo pelo qual a pirataria passa a distribuir
seus produtos ameaçando, inclusive, a própria sobrevivência das atividades
econômicas formais.
A importância das questões sociais que acompanham a redução das vagas
no setor formal da economia, causado entre outros motivos pela maior produ-
tividade das empresas modernas, resulta numa maior tolerância por parte do
Estado para existência das atividades econômica informais, preservando-as
como uma alternativa para absorver uma mão de obra que, na ausência da eco-
nomia informal, ficaria dependente mais fortemente dos serviços de nature-
za pública.

capítulo 5 • 133
No entanto, devem ser ressaltados os riscos advindos do crescimento da
economia informal que desmoraliza do sistema de arrecadação tributária do
Estado ou estimula a falta de interesse dos indivíduos em realizar investimen-
tos no setor formal da economia em face da concorrência desleal.
O crescimento do mercado informal pode ser considerado uma característi-
ca inerente das economias desajustadas. A pouca eficiência do sistema estatal,
os elevados impostos e a burocracia, faz com que seja difícil a permanência na
formalidade, estimulando-se o surgimento do setor informal, que à margem da
lei, garantem ao menos a sobrevivência de seus integrantes, evitando crises de
natureza social.
A tendência no mundo moderno é o crescimento das empresas que não tem
empregados. Nos Estados Unidos, de um total de 27 milhões de empresas, 72%
(19,5 milhões) não têm empregados. No Brasil, segundo o IBGE, aproximada-
mente 17% da população economicamente ativa trabalha em empresas sem
empregados. De acordo com o estudo do IBGE, aproximadamente 22% dessas
empresas se dedicam à prestação de serviços a outras empresas. A regulamen-
tação precária dessa forma de prestação de serviços tem criado uma vasta gama
de pequenas empresas informais sem o devido respaldo legal.
As empresas do setor informal no Brasil pertenciam principalmente aos
trabalhadores por conta própria (86% do total de empresas), enquanto os pe-
quenos empregadores respondiam por 14% do total. As atividades econômicas
preponderantes neste setor eram o comércio (26%) e serviços de reparação, pes-
soais, domiciliares e de diversão (20%). Das empresas pesquisadas, 94% tinham
um único proprietário e 80% possuíam apenas uma pessoa ocupada, ou seja,
eram empreendimentos de trabalhadores por conta própria que trabalhavam
sozinhos, sem sócios ou ajudantes não remunerados33.
Origem de grande parte dos empregos existentes, as pequenas e microem-
presas respondem por uma restrita parcela dos empregos formais. As peque-
nas empresas e microempresas constituem nas principais responsáveis pelo
emprego informal, sendo, ao mesmo tempo, a mais prejudicada pelo excesso
de burocracia e pela elevada tributação. Uma economia com os problemas es-
truturais como a brasileira depende da pequena empresa para reduzir as ten-
sões sociais, criando uma informalidade que ameaça a própria sobrevivência
do setor formal.

33  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – WWW.ibge.gov.br

134 • capítulo 5
Por sua vez, em relação aos encargos trabalhistas, no Brasil, verifica-se uma
escassez de capital e uma relativa abundância do fator de produção trabalho
que resulta numa estrutura produtiva que privilegia o emprego em relação ao
maquinário. O processo começa a reverter no momento em que o custo da mão-
de-obra com seus elevados encargos, estimulam as empresas para investir em
tecnologia pouco intensiva em trabalho. Com isso, observam-se duas tendên-
cias na economia, em que as grandes empresas optam pelo investimento em
tecnologia substitutas do fator de produção trabalho e, por outro lado, a micro
e pequena empresa caminha para a informalidade.

5.9  Educação e Saúde para a sustentabilidade

A educação representa um requisito fundamental para uma adequada inserção


do indivíduo na sociedade. A melhoria do desempenho em qualquer profissão
demanda um crescente grau de conhecimento, tanto específico (as técnicas
próprias de cada atividade), como geral e diversificado, ao mesmo tempo em
que a participação na democracia requer cada vez mais capacidade de absorver
informações acerca dos problemas da sociedade e do Estado.
No entanto, o analfabetismo no Brasil ainda não foi erradicado e continua
a se constituir como um sério entrave ao desenvolvimento econômico do país,
comprometendo o avanço da cidadania, restringindo, ainda hoje, as possibili-
dades de bem-estar de parte da população.
Outro problema que se apresenta no campo da educação é o que diz respei-
to à baixa escolaridade da população que é, em grande parte, influenciada pelas
altas taxas de reprovação e evasão escolares.
Por sua vez, a saúde pode ser considerada como um investimento e não
como uma despesa de consumo. O investimento ineficiente na saúde pode
causar sérios desequilíbrios socioeconômicos, tendo impactos significativos
no desenvolvimento econômico. Por exemplo, na Amazônia, estudos sobre o
controle da malária, mostraram que nos locais em que foi implantada uma po-
lítica de saúde verificou-se um maior desenvolvimento econômico da região.
O investimento em saúde está associado a uma melhora do nível de produti-
vidade na economia. O planejamento dos gastos em saúde segundo o desenvol-
vimento econômico de cada região é importante para reduzir as desigualdades
pessoais e regionais observadas no país.

capítulo 5 • 135
No que se refere à saúde do Brasil, três problemas merecem destaque de
acordo com o impacto que têm na mortalidade geral da população, bem como
com a importância que assumem para a promoção dos direitos humanos e da
justiça social:
•  A elevada taxa de mortalidade infantil e de mortalidade materna;
•  A crescente elevação da taxa de mortalidade por doenças
não-transmissíveis;
•  A elevada taxa de mortalidade por acidentes e violência.

O impacto das doenças transmissíveis na estrutura da mortalidade da po-


pulação brasileira vem diminuindo, mas ainda requerem controle. É o caso
da AIDS, da tuberculose, da dengue e da malária. O número de novos casos de
AIDS vem se mantendo estável no país, enquanto que a dengue transformou-se
em epidemia, gerando um incremento de custos bastante significativo para os
serviços de saúde e para a própria sociedade.
Por outro lado, as taxas de mortalidade por causas externas se mostram
crescentes, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, em razão da
alta incidência de homicídios e acidentes de transporte.
Comparado com outros países, o Brasil tem indicadores pouco favoráveis.
A expectativa de vida no Brasil é menor que uma grande maioria de países do
continente americano. O mesmo diz respeito à mortalidade infantil. Apesar
dos avanços conseguidos nos últimos anos, a mortalidade infantil apresenta
números piores que os da Costa Rica, o mesmo se verificando com os índices
de mortalidade materna.
Na verdade, os problemas de saúde no Brasil devem ser enfrentados por
meio de um conjunto complexo de políticas, com capacidade de dar conta da
diversidade das condições de vida dos vários grupos populacionais brasileiros
e da grande desigualdade regional que caracteriza nosso país.

5.10  A infraestrutura e o setor de regulação brasileiro

Ao longo dos anos, o desenvolvimento da sociedade capitalista mostra que o


Estado, especialmente nas economias centrais, esteve presente no processo de
formação dos mercados nacionais, das diversas infraestruturas econômicas
e sociais (transportes, energia comunicações, redes de distribuição de água,
de gás canalizado, redes de esgoto e de águas pluviais, sistemas de educação),

136 • capítulo 5
das inserções competitivas das economias nacionais no âmbito do mercado
internacional.
No Brasil o processo não foi diferente, no entanto, a redução significativa
dos níveis de investimento nos diversos setores da infraestrutura e a perda da
qualidade da prestação dos serviços trouxe como consequência grave proble-
mas ao desempenho de vários setores da economia nacional.
Com isso, verificou-se a implantação das agências reguladoras como uma
mudança profunda que se verificou na relação do aparelho estatal com a socie-
dade e com a ordem econômica. As transformações que se processaram a nível
global, apontaram para uma redução da intervenção direta do Estado na eco-
nomia e para o incremento de uma nova forma de intervenção, através da qual
se observa um fortalecimento do papel regulador do Estado, em detrimento do
papel como produtor de bens e de serviços.
As agências reguladoras foram criadas com o objetivo de normatizar os se-
tores dos serviços públicos delegados e de buscar equilíbrio e harmonia entre o
Estado e os demais setores envolvidos. Ainda que as agências atuem dentro de
um escopo de dimensões grandes, seus poderes são delimitados por lei. O âm-
bito de atuação passa por diversas áreas, sendo que as mais importantes são as
de fiscalização, regulamentação, regulação e por vezes, arbitragem e mediação.
Cada agência foi concebida mediante uma lei. Dentre as principais agên-
cias, podemos destacar:
•  ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – criada pela lei 9.427/96;
•  ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações – criada pela lei
9.472/97;
•  ANP – Agência Nacional do Petróleo – criada pela lei 9.478/97;
•  ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – criada pela lei
9.782/99;
•  ANS – Agência Nacional de Saúde – criada pela lei 9.961/2000;
•  ANA – Agência Nacional das Águas – criada pela lei 9.984/2000;
•  ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e ANTAQ (Agência
Nacional de Transportes Aquaviários) – criadas pela lei 10.233/2001;
•  ANCINE – Agência Nacional do Cinema – criada pela MP 2228 de
06/08/2001
•  ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil – criada pela lei 11.182/2005.

capítulo 5 • 137
Entretanto, por força dos baixos níveis de investimentos privados nos se-
tores de infraestrutura econômica (especialmente transportes e energia elé-
trica) e diante da necessidade de realização de investimentos em um contex-
to de restrição fiscal, o setor público vem buscando no arranjo de parcerias
público-privadas um mecanismo que fosse capaz de sanar as deficiências em
termos de investimentos necessários à implantação de projetos de infraestru-
tura econômica.
Então, após intenso debate público propiciado por Governo, entre parla-
mentares e a sociedade em geral, a Lei das Parcerias Público-Privadas - PPP
foi sancionada em 30 de dezembro de 2004 (Lei 11.079). Na PPP, a implanta-
ção da infraestrutura necessária para a prestação do serviço contratado pela
Administração dependerá de iniciativas de financiamento do setor privado e
a remuneração do particular será fixada com base em padrões de desempe-
nho e será devida somente quando o serviço estiver à disposição do Estado ou
dos usuários.
O art. 4o da Lei 11.079/04 determina que na contratação de parceria público
-privada devam ser observadas as seguintes diretrizes:
a) eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos
recursos da sociedade;
b) respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos
entes privados incumbidos da sua execução;
c) indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício
do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado;
d) responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;
e) transparência dos procedimentos e das decisões;
f) repartição objetiva de riscos entre as partes;
g) sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos
de parceria.

5.11  Legislação ambiental e desenvolvimento sustentável

A Lei no. 6.938, de 31/08/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, estabelece a relação entre a melhoria e a recuperação do meio am-
biente com o processo de desenvolvimento socioeconômico. As atividades eco-
nômicas que não se adequarem à nova realidade deverão ter ameaçadas sua
própria sustentabilidade.

138 • capítulo 5
O art 2o. da Lei define que: “A Política Nacional do Meio Ambiente tem por
objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propí-
cia à vida, visando assegurar, no País, condições de desenvolvimento socioe-
conômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da
vida humana.”.
No art. 225 Caput da Constituição Federal brasileira de 1988, o legislador
define que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
Em face da importância do meio ambiente para o desenvolvimento sus-
tentável, a Lei Fundamental impôs ao Poder Público e à coletividade o dever
de preservá-lo para presente e futura geração. A Constituição criou uma orde-
nação jurídica obrigando a quem se utiliza dos recursos naturais zelar pelo
meio ambiente.
O Meio Ambiente do trabalho está previsto no art. 200 inciso VIII da
Constituição Federal brasileira de 1988, onde determina que “Ao sistema único
de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] colaborar
na proteção do meio ambiente, nele compreendido o trabalho”.

5.12  Responsabilidade ambiental corporativa

Na histórica Conferência de Estocolmo (1972), não muito distante, evento que


representou o primeiro alerta sobre os riscos ambientais do modelo vigente; o
representante brasileiro argumentou que o controle da poluição era um entra-
ve ao progresso e estimulou a vinda de empresas com elevado nível de poluição
como as que se instalaram na cidade de Cubatão. Na década seguinte, Cubatão
foi considerada uma das cidades mais poluídas do mundo, imagem que carre-
ga até os dias de hoje.
O principal adversário à adoção da gestão ambiental era a ideia de que meio
ambiente e lucro eram elementos incompatíveis. Os investimentos em meio
ambiente iriam elevar custos que seriam automaticamente repassados ao con-
sumidor. Em poucos anos, ficou evidenciado que as tecnologias ambientais
tinham o efeito inverso, reduziam custos por meio de uma melhor racionaliza-
ção dos processos produtivos.
O processo de globalização e a inserção da economia brasileira no cená-
rio internacional promoveram mudança na maneira do empresário nacional

capítulo 5 • 139
vivenciar a questão socioambiental. A empresa para sobreviver no mercado
competitivo e internacionalizado, deverá ter sua imagem associada aos progra-
mas sociais e de preservação do meio ambiente. A própria sustentabilidade do
empreendimento depende do equacionamento dos conflitos sociais e da con-
servação da natureza
Existem duas dimensões da responsabilidade social das empresas: o foco
no público-interno e na comunidade. A responsabilidade social interna foca-
liza o público interno e seus dependentes. Ao criar um ambiente de trabalho
agradável e contribuir para o bem-estar do trabalhador a empresa ganha em
produtividade. A responsabilidade social externa tem o foco na comunidade
mais próxima ou no local em que está situada a empresa. Atuando em ambas as
dimensões a empresa adquire a condição de empresa cidadã.
Os riscos da falta ou da perda da responsabilidade social poderão vir a ser
fundamental para a organização. Se o problema surge a nível interno, ocorre
a deterioração do clima organizacional, a falta de motivação dos empregados,
o aparecimento de conflitos internos, a perda dos melhores funcionários, bai-
xa produtividade e o aumento de faltas, atrasos e de acidentes de trabalho. No
caso de o problema ocorrer a nível externo, pode surgir acusações de injustiças
sociais, boicote de consumidores, reclamações dos fornecedores e revendedo-
res, queda nas vendas, gastos extras com passivo ambiental, ações na justiça,
ameaças de invasões e mesmo riscos de falência.

5.13  Industrialização, competitividade e meio ambiente

O setor industrial é um dos que mais provoca danos ao meio ambiente, seja por
seus processos produtivos ou pela fabricação de produtos poluentes e/ou que
tenham problemas de disposição final após sua utilização. Se, por um lado, as
tecnologias adotadas levaram à degradação ambiental, elas também possibi-
litaram maior eficiência no uso dos recursos naturais e a substituição de in-
sumos no processo produtivo – um exemplo marcante foi o melhor aproveita-
mento energético dos derivados do petróleo e a substituição parcial por outras
fontes energéticas após o primeiro choque do petróleo em 1973. Portanto, o de-
senvolvimento tecnológico na direção de um padrão menos agressivo ao meio
ambiente é visto como uma solução parcial do problema.
Em oposição a essas ideias estão conservacionistas, que acreditam que os
recursos naturais não podem ser perfeitamente substituíveis, pois possuem

140 • capítulo 5
características particulares, cuja reprodução pelo seu humano seria pratica-
mente impossível. Ao serem consumidos, esses recursos não voltam a ser igual
ao anterior, caracterizando-se pela irreversibilidade, ou seja, o consumo hoje
leva à sua indisponibilidade para o consumo de gerações futuras.
O problema central é, portanto, como induzir mudanças tecnológicas na di-
reção de tecnologias mais limpas a fim de obter sustentabilidade ambiental –
ou seja, que os recursos naturais sirvam para as gerações atuais e futuras, e que
os níveis de poluição sejam reduzidos mesmo com o aumento da produção. A
mudança do padrão tecnológico atual na direção de padrões tecnológicos que
degradem menos o meio ambiente é uma condição necessária para que o cres-
cimento econômico possa ser contínuo e que justamente com uma distribui-
ção mais igualitária dos benefícios desse crescimento caminhe na direção do
desenvolvimento sustentável.
Na medida em que a preservação do meio ambiente tornou-se um fator de
diferenciação para as empresas, caracterizando-se como uma oportunidade de
negócios, surgiu a possibilidade de incluir preocupações ambientais em suas
estratégias empresariais, por práticas ecologicamente mais adequadas – ado-
ção de tecnologias ambientais, implantação de sistema de gestão ambiental,
racionalização do uso de recursos naturais, entre outros.

5.14  Padrões de energia

O consumo de energia tem sido objeto de grandes discussões no que toca seu
papel no desenvolvimento dos países. O consumo de energia, base das ativida-
des produtivas, gera impactos sobre o meio ambiente. Assim, se no passado a
energia era tratada como sendo meramente um problema de fornecimento de
insumo para a produção, ameaçada nos anos 1970 pelos choques de petróleo e
pela consequente elevação do seu preço, nos anos 1980 torna-se uma questão
fortemente ligada à preservação do meio ambiente. O que se constata nas dis-
cussões internacionais e nos estudos em diversos países é o aprofundamento
dessa relação. A crescente ligação entre energia e meio ambiente articula-se
com a ciência e a tecnologia, mobilizadas para resolver o problema de melhorar
a eficiência na transformação (produção e consumo final), no transporte e na
distribuição, e na disposição dos resíduos.
A existência de um vínculo estreito entre energia e desenvolvimento cos-
tuma ser tomada como ponto pacífico. Não são poucos os que tomam essa

capítulo 5 • 141
afirmação como se fosse à expressão de uma lei geral, em que a ascensão a ní-
veis mais altos de consumo energético significaria, por si só, a obtenção de pa-
drões mais elevados de desenvolvimento.
À primeira vista, parece haver uma correspondência bastante nítida entre
os níveis de consumo energético e os de desenvolvimento humano. Ocorre,
porém que a associação entre os níveis de consumo energético e o desenvolvi-
mento humano não é tão óbvio. Assim, dois países com resultados similares no
Índice de desenvolvimento Humano (IDH) podem apresentar níveis bastante
distintos de consumo de energia per capita. O exemplo clássico é o dos Estados
Unidos, com IDH próximo da Noruega, mas apresentando um consumo de
energia per capita quase duas vezes maior que o norueguês.
A enumeração de casos similares ainda poderia ir muito mais longe, embo-
ra nem por isso se segue que os consumos de energia tendam a encontrar algu-
ma correspondência em patamares mais elevados do desenvolvimento. O que,
no entanto, cabe ressaltar é que a constatação de variações expressivas de país
para país sugere que alguns países se vêm mostrando mais bem-sucedidos do
que outros na tarefa de traduzirem a elevação dos padrões médios de consumo
energético em melhorias da qualidade de vida de sua população.
Para que essas questões possam ser devidamente tratadas, um modelo de
desenvolvimento menos intensivo em consumo e energia, como uma forma de
lutar contra as mudanças climáticas globais, passa por questões relacionadas
à vontade de modificação de estilos de vida, mas também por relações econô-
micas mais equilibradas no que toca à cooperação em nível global para atingir
esse objetivo.
As negociações internacionais sobre mudanças climáticas têm demonstra-
do a necessidade de discussão e pesquisa acerca de inúmeras barreiras e opor-
tunidades para desenvolver, promover e aceitar os mecanismos de cooperação
internacional para fortalecer a entrada de energia renovável, promover a efi-
ciência energética e a redução do consumo de energia, e reduzir as emissões de
dióxido de carbono.
Nesse ambiente, surge a discussão sobre a responsabilidade socioambien-
tal das empresas, como um elo importante para se alcançar esse desenvolvi-
mento sustentável. A questão origina-se com a Rio-92 (Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento), onde numa visão crítica, se
contestou o processo de produção capitalista, e possibilitou-se a rediscussão de
temas que abordassem formas alternativas de produção.

142 • capítulo 5
ESTUDO DE CASO

Relatório da ONU aponta que três em cada


quatro empregos dependem de recurso

Mais de três em cada quatro empregos no


mundo dependem muito ou moderadamente da
disponibilidade de água, o que faz com que a gestão
eficaz do recurso e os investimentos no setor sejam
fundamentais para o crescimento econômico e o
desenvolvimento sustentável. O recado é de um
relatório da Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura (Unesco), divulgado
nesta terça-feira por ocasião do Dia Mundial da
Água. Intitulado “Água e empregos”, o documento
destaca iniciativas que podem ajudar o planeta a
enfrentar a crescente pressão sobre suas fontes
hídricas e os riscos que elas sofrem, assim como
estudos que indicam de que maneira melhorias no
abastecimento e saneamento podem influenciar a
economia e o mercado de trabalho dos países mais
desenvolvidos aos mais pobres.

Sem dados
Inferior a 10
10 - 25
25 - 60
60 - 75
N
Superior a 75%

Essa notícia do O Globo de 22/03/2016 mostra que a disponibilidade de água é fun-


damental para maior parte das atividades econômicas e para a geração de empregos. A
escassez de recursos hídricos pode inviabilizar o próprio processo de produção capitalista.

capítulo 5 • 143
Algumas cidades brasileiras já convivem com a escassez de recursos hídricos o que pode
gerar racionamentos e elevação acentuada do preço da água. Isso pode reduzir a competitivi-
dade das empresas brasileiras em setores mais dependentes dos recursos hídricos.
O Brasil tem, na agricultura, o segmento em que possui maior vantagem comparativa.
Esse segmento da atividade econômica utiliza intensamente a água em situação de escas-
sez. Conforme consta do texto, quanto maior a proporção de água retirada, mais os países
estão expostos a sua escassez.
Como um gestor de uma organização pode enfrentar as questões climáticas e de escas-
sez dos recursos naturais no processo produtivo? Comente as vantagens do gestor de uma
organização optar pela tecnologia limpa. Comente sobre a importância da preservação do
meio ambiente para evitar a escassez dos recursos naturais. Com base na visão do adminis-
trador desenvolva as respostas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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no Brasil In BENECK, D.S.; NASCIMENTO, R. (organizadores) Opções de política econômica para o
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frente à globalização. In: FIORI, J. F. Os moedeiros falsos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 201-239.
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144 • capítulo 5
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2004.
VICECONTI, P. E. V.; DAS NEVES, S. Introdução à Economia. 4. ed. São Paulo: Frase, 2000.

GABARITO
Capítulo 1

01. Ao pedirem o aumento das tarifas de importação do aço estrangeiro altas, o Instituto Aço
Brasil, que defende os interesses das siderúrgicas brasileiras, tem a intenção e elevar o preço
do produto importado, conforme mostra o Gráfico:

Px

P1
P0

Q1 Q0 Qx

Governo entende, provavelmente, que a elevação da alíquota, levará a um aumento do


preço no mercado interno.

Capítulo 2

01. Um aumento nos gastos públicos teria o efeito de aumentar a renda, conforme mostra
o modelo, o que compensaria qualquer efeito recessivo na economia, como o desencadeado
pelo estouro da bolha especulativa em 2008. No entanto, há um limite para os gastos públicos
promoverem o crescimento: quando a capacidade de produção da economia como um todo
chega ao seu limite, o efeito gerado será o de uma elevação geral dos preços, isto é, inflação.

capítulo 5 • 145
Capítulo 3

01. Há certo consenso de que o aumento dos juros pode acarretar uma redução ainda maior
do crescimento econômico, em um momento delicado da economia. Como a inflação aparente-
mente não é de demanda, um aumento dos juros não causaria um efeito de retração da inflação
e poderia comprometer o esforço fiscal do governo, visto que a SELIC reajusta a dívida pública.

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

148 • capítulo 5
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 149
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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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