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DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

EPIDEMIA: O que 5 décadas de homicídios


em São Paulo têm a ensinar

Dos esquadrões ao PCC, 52 anos de


violência mataram 130 mil pessoas
Das execuções do esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios tes, taxa semelhante à dos três anos de guerra no Iraque. A partir de reportagens para explicar a variação dos assassinatos em São Paulo.
ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias de 2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídios O material é resultado de 13 anos de investigações e estudos e de
hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pes- despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo, disputas mais de cem entrevistas – muitas feitas com matadores que atuaram
soas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento contagioso, incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostra- em diferentes períodos em São Paulo. O trabalho resultou em uma
os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio ram que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas. tese de doutorado, defendida em 28 de agosto no Departamento de
por dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999. Como compreender essas mudanças bruscas no comportamento Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-
Nesseano,acidaderegistrou63,5assassinatospor100milhabitan- doshomicidas? De hoje a quinta-feira, o Estado publica uma série de nas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

maisassustavaeraofurtoqualifi-
ENTRE 1960 E 1999, HOMICÍDIOS cado, quando o ladrão invadia
um comércio ou uma casa quan-
Grupos
PULARAM DE 217 CASOS do o dono estava fora”, lembra o
criminalista Roberto Von Hyde,
de 82 anos, que defendeu crimi-
eram mais
PARA 6.653. EM 2000, AS MORTES nosos perseguidos pelo esqua-
drão, além de João Acácio Perei-
letais que a
COMEÇARAM A CAIR ra da Costa, o Bandido da Luz
Vermelha, que em 1967 foi preso
por assaltar casas e matar quatro
ditadura
Assassinatos aumentam depois que passam a ser pessoas.
“Crimes de sangue” envol- 9/8/1967
vistos como ferramenta de controle do crime viamgeralmentehistóriasdema-
ridos traídos, que, movidos pelo ● Tanto no Rio de Janeiro quanto ranking dos assassinatos no Bra-
ódio incontrolável, muitas vezes em São Paulo, o esquadrão da sil nos anos 1980 e 1990, tam-
Bruno Paes Manso matavam a si próprios em tragé- morte representou o começo da bém teve seu esquadrão.
dias passionais à la Nelson epidemia de assassinatos. Não Considerando levantamentos
ara cada po- Rodrigues. Entre 1960 e pela quantidade de homicídios policiais do período, entre 1963 e

“P
licial mor- 1965, em mais da metade de seus integrantes, mas por co- 1975 os grupos de extermínio
to, dez ban- dos assassinatos em São locar em prática uma nova forma formados por policiais mataram
didos vão Paulo, corpos de vítimas fo- de ver o mundo e lidar com as- quase 900 pessoas no Rio (654)
morrer”, ram encontrados dentro de sassinatos em sociedades em e em São Paulo (200) – mais do
bradou em casa,revelandoforteassocia- processo de urbanização. que os 20 anos de regime militar.
novembro ção entre esse tipo de crime e O esquadrão começou no Rio
de1968 o in- paixõesdomésticasmalresol- em 1958 e serviu de modelo para www.estadao.com.br/acervo
vestigador vidas. o resto do Brasil, inclusive São
Astorige Por serem ações treslouca- Paulo. Policiais paulistas conver-
Correia, o Correinha, na frente das, os assassinos sofriam con- savam com os cariocas antes de
de jornalistas durante o enter- trole acirrado de instituições e se organizar para matar. O Espíri-
ro de Davi Parré, investigador da sociedade. Casos como o de to Santo, Estado que liderou o
mortopor umtraficanteda zo- Benedito Moreira de Carvalho,
nanortedeSãoPauloconheci- que ficou conhecido como o
docomoSaponga.Ojuramen- Monstro de Guaianases ao ser tegrantes do Exército e da Polí- peso ao Fórum de Santana pedir
toantecipava asériede assas- acusado de violentar e matar dez cia Militar no combate à guerri- sua liberdade.
sinatos praticada por poli- mulheres entre 1950 e 1953, tor- lha e para desbaratar os grupos Com o passar dos anos, no en-
ciais civis do famigerado es- navam o homicida um pária, de esquerda. Em 1969, Fleury es- tanto, foi ficando mais claro que
quadrão da morte liderado odiado e caçado como persona- tava à frente da emboscada que oshomicídios,em vezde contro-
pelo delegado Sérgio Para- gem de filme de terror. levou à morte do líder comunis- larem o crime, acabavam provo-
nhos Fleury. ta Carlos Marighella na Alameda cando novos assassinatos, em
Na semana passada, a fa- Mudança. A epidemia de assas- Casa Branca, nos Jardins. círculos ininterruptos de violên-
tídicasentençavoltouaas- sinatos em São Paulo começou cia. Se por um lado eliminavam
sombrar o cotidiano dos quando homicídios passaram a Rota. No combate ao crime co- suspeitos, consolidavam tam-
paulistas como se as 130 ser vistos como ferramenta para mum, policiais das Rondas Os- bém nesses bairros o medo da
mil mortes ocorridas em limpar a sociedade dos bandi- tensivasTobias deAguiar (Rota) mortee estimulavam o desejo de
52 anos tivessem sido in- dos.Comocrescimentodosrou- assumiram nos anos 1970 o pos- vingança.
suficientes para dar li- bos e dos assaltos a banco no fim to de “caçadores de bandidos”, Éoquerevelaahistória doma-
ções.Ohomicídiodepo- dos anos 1960, viraram instru- celebrados pelo povo. “Em bair- tador César de Santana Souza,
liciais militares na Bai- mento de extermínio ou vingan- ros das periferias, a população quenosanos1990diziatermata-
xada Santista e em Ta- ça para ser usado em benefício pedia para beijar nossa mão”, do mais de 50 pessoas no Grajaú,
boãoda Serraprovoca- da população com medo. lembra o coronel Niomar Cyrne na zona sul. Ele praticou o pri-
ram uma sequência de Em vez de monstros, os homi- Bezerra, ex-comandante da Ro- meiro homicídio por vingança,
20 homicídios nos cidas que alegavam agir em defe- ta na época. depois que um amigo foi morto
bairros vizinhos. Mo- sa da sociedade e tornar a cidade Nos anos 1980, saiu da PM um em um campinho de futebol. Ju-
radores que viram o mais segura se transformaram dos principais matadores da his- rado de morte por inimigos que
massacre apontaram PMs à em heróis. Os chamados “pre- tóriadacidade.OsoldadoFloris- queriam vingança, passou a ma-
paisana como suspeitos. suntos” eram desovados em es- valdo de Oliveira, conhecido co- tar por razões cada vez mais ba-
Em dois momentos distantes, me em São Paulo era quase ro- tradas de São Paulo, depois de mo Cabo Bruno, morto há duas nais, sempre que pressentia que
separadospormaisdemeiosécu- mântico, palco dos desviantes serem retirados de presídios co- semanas depois de ficar 27 anos corriariscodesermorto.Eleche-
lo, a vingança continua fazendo que vagavamna boca do lixo per- maria na cracolândia, em vez de mo o antigo Tiradentes. na prisão, iniciou sua carreira de gou a acreditar que a violência o
aengrenagemdoshomicídiosgi- to da Estação da Luz e da velha revólveres, os malandros usa- Chefe do esquadrão da morte, justiceiromatando asoldode co- ajudaria a dominar o bairro. De-
rar. Para compreender a violên- rodoviária do centro. No chama- vam navalhas em noitadas abas- o delegado Fleury – que come- merciantes. Logo justiceiros pi- pois de um tempo, percebeu, no
cia nos dias de hoje, é fundamen- do Quadrilátero do Pecado, re- tecidas por anfetaminas e desti- çou em 1968 a matar suspeitos pocaram por todos os cantos de entanto, que homicídios ser-
talentenderavariaçãodoshomi- gião da Avenida Duque de Ca- lados. com ajuda de outros integrantes São Paulo. De forma geral, todos viam apenas para provocar no-
cídiosnos últimos 52 anos.A epi- xias, que no futuro se transfor- Mais do que um reduto de cri- do bando – virou um dos ídolos alegavammatarbandidosemde- voshomicídios.Em2006, termi-
demia dos assassinatos começa minosos violentos, o submundo do período, recebendo homena- fesa dos trabalhadores. nou assassinado por integrantes
no fim dos anos 1960, depois que paulistano era palco de contra- gens em letras de canções popu- Em 1987, depois da prisão de do Primeiro Comando da Capi-
as mortes à bala passam a ser vis- estadão.com.br venções e contraventores que lares. E os métodos cruéis do es- Francisco Vital da Silva, justicei- tal (PCC) que passaram a ven-
tas como uma maneira de se vendiam sexo, jogos de azar e quadrãotambémganharampres- ro conhecido como Chico Pé de der drogas em seu bairro.
manter o controle dos roubos Online. Áudios e músicas sobre drogas leves. Assassinatos, nes- tígio durante o regime militar. Pato, a população do Jardim das
emumacidadequecresciadesor- a violência e os esquadrões se tempo, eram a opção dos vi- Técnicas de tortura e assassina- Oliveiras, na zona leste, foi em
1968
denadamente. www.estadao.com.br lões,malvadoseloucos.“Ostem- tos passaram a ser usadas por in-
10,4 1969
Antes disso, o mundo do cri- pos eram outros. O crime que
1966 1967 9,9
1963 1965 9,0 9,2
ESCALADA
8,1 1964 8,3
1961
7,7
Maioria das mortes (aqui por 100
mil/hab) era passional e em casa 6,4
1960
5,7 1962
6,4
DELEGADO FLEURY
Líder do esquadrão

“GUARDEI (O RELÓGIO
DE UMA VÍTIMA) SÓ DE
LEMBRANÇA”

A PM só é criada em 1969. No dia 23 de novembro de O delegado Fleury conversa


Antes, cabia à Força Pública 1968, é morto Saponga, acusa- com a mãe de Saponga, que
defender o patrimônio do do de matar o investigador era jurado de morte acusado
Estado. Pouco saía às ruas. Davi Parré de matar um policial
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012

60 70 80 90 00 10
A CURVA ● A epidemia começou
Entre 1900 e 1960, São Paulo nunca havia ultrapassado a no fim dos anos 1960 e
barreira dos 10 casos por 100 mil habitantes. Os homicídios cresceu principalmente
eram endêmicos e não criavam círculos de vingança depois de 1975

Vingador oficial, Fleury CRESCIMENTO DAS PERIFERIAS


Tiroteio com a
polícia é disfarce
inicia a onda de mortes PARQUE
ANHANGUERA
SERRA DA
CANTAREIRA

PARQUE
ECOLÓGICO
para execuções
● Em maio de 1970, o tenente da
DO TIETÊ
Polícia Militar Alberto Mendes
Policiais retiravam vítimas de presídio para executá-las até que um padre, PIRITUBA Júnior foi assassinado a coronha-
VILA
um promotor e um juiz desvendaram o que havia por trás dos crimes PARQUE
ESTADUAL
MEDEIROS
ITAIM
das pelos guerrilheiros do grupo
DO JARAGUÁ PAULISTA de Carlos Lamarca depois de
LAPA

TATUAPÉ
cair em uma emboscada no Vale
Um delegado ligava para os jor- Vingança. Depois da morte de SÉ do Ribeira. A informação só che-
nalistas anunciando que havia ● Apoio popular Saponga, em vingança ao crime BUTANTÃ gou ao Exército quatro meses
VILA CIDADE
um“presunto” naestrada. Afon- contra o investigador Davi Par-
te secreta tinha o apelido de Lí-
rio Branco e passava a ficha cri-
60%
da população de SP em 1970
ré, as execuções do esquadrão
passaram a se tornar corriquei-
MORUMBI
PARQUE
DO IBIRAPUERA
MARIANA

SAPOPEMBA
TIRADENTES depois, quando um integrante da
Vanguarda Popular Revolucioná-
ria (VPR) foi torturado e apontou
minal do morto. Em alguns ca- apoiavam esquadrão (Marplan) ras e banais. Jornais da época CAMPO
LIMPO
onde estava o corpo do oficial.
sos, os matadores deixavam ao contabilizavam o total de mor- A “ameaça comunista” estava
PARQUE
ladodocorpodesenhos decavei- tos anunciados pelo esquadrão.
ra do esquadrão da morte. Não
bastava matar. Era preciso avi-
49%
apoiavam o esquadrão por consi-
Havia uma certa tolerância com
essas ações, cujas investigações
DO ESTADO

A EXPANSÃO DE SP
no auge. Um dos responsáveis
pelo cerco mal sucedido a Lamar-
ca era o coronel do Exército Eras-
ÁREA URBANIZADA ATÉ 1949
sar o público, pelos jornais, que derarem bandidos irrecuperáveis eram inexistentes. Afinal, aque- PARQUE mo Dias. Em companhia do dele-
ESTADUAL ÁREA URBANIZADA ATÉ 1962
os assassinos tentavam livrar o les que deveriam investigar GUARAPIRANGA
gado Sérgio Paranhos Fleury, ele
ÁREA URBANIZADA ATÉ 2002
mundo dos bandidos. eram os mesmos que matavam.
Entre 1969 e 1971, mais de 200
suspeitosforamexecutadospelo
38%
achavam que a Justiça não era
O jornalista Afanásio Jazadji,
que cobria o assunto no período,
GRAJAÚ
LIMITE DA ÁREA DE PROTEÇÃO
DOS MANACIAIS
participou da caçada à VPR, um
dos grupos da guerrilha urbana.
Três anos depois, em 1974, Dias
esquadrão. O efeito dessas mor- suficiente para coibir o crime lembraquando,certanoite,aten- assumiria a Secretaria da Segu-
tes, no entanto, transcenderam deuumtelefonemanasaladeim- rança para combater o crime co-
asvítimas.Aplaudidospelapopu- prensa da central de polícia que mum. Os bandidos seriam seus
lação e respaldados pelas autori- Amigo de infância do delega- existia no Pátio do Colégio e lhe novos inimigos e alvos. A tortura
dadespaulistasenacionais,osas- do Sérgio Paranhos Fleury, com disseram que havia quatro cor- e os assassinatos continuariam
sassinos consolidaram em São quem jogava futebol no mesmo pos jogados em um matagal em sendo as ferramentas de traba-
Paulo a ideia de que os homicí- clube da Vila Mariana, padre Guararema, na Via Dutra. Ini- MARSILAC As mortes do esquadrão lho de alguns policiais.
EM 21 MESES
dios podiam ser usados como Agostinho conseguiu, em 1969, ciante, ele foi apurar o crime em “Desde aqueles anos, as simu-
uma ferramenta eficaz para lim- autorização do secretário da Se- busca de um furo sem falar para
123 2.351
lações de resistências seguidas
par a sociedade dos bandidos, ao gurançaPública,HelyLopesMei- os outros jornalistas, que conti- de morte se tornariam uma das
mesmo tempo em que aplaca- relles, para ingressar no antigo nuaram jogando baralho. Para mortos tiros formas de disfarçar execuções”,
vam o desejo de vingança de uma PresídioTiradentes,emSãoPau- evitar que concorrentes depois 13 afirma Ivan Seixas, que hoje pre-
população amedrontada. lo, onde a presidente Dilma chegassem ao local e reportas- 12 12 side uma entidade de direitos
“Os efeitos dos assassinatos Rousseff também cumpriu pena sem a informação aos seus jor- 10 humanos. Em abril de 1971, aos
9 9
praticados pelo esquadrão são com outros presos políticos, se- nais, mudou os corpos de lugar 8 16 anos, Ivan foi preso com o
sentidos até hoje. A limpeza so- parada dos presos comuns. para despistar os outros colegas. 6 6 pai, o operário Joaquim Alencar
cial continuou sendo defendida Conversando com os deten- “Imagina. Naquele tempo isso 5 5 Seixas, do Movimento Revolucio-
4 4
e praticada por grupos de exter- tos, padre Agostinho descobriu era possível. Foi quando deixei 3 3 3 3 nário Tiradentes. Ambos foram
2 2 2
míniohojelocalizados principal- comooesquadrão da morteagia. de ser foca.” levados ao Destacamento de Ope-
mente na Polícia Militar”, afir- Os presos comuns eram retira- A situação dos integrantes do rações e Informações – Centro
ma o padre Agostinho Duarte dosdascelasnasmadrugadaspa- esquadrão mudou em 17 de julho de Operações de Defesa Interna
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR JUN JUL
Oliveira, de 81 anos, na sede do ra serem exterminados e terem de 1970, depois da morte de ou- 1968 1969 1970
(DOI-Codi), formado por integran-
Instituto Brasileiro de Ciências o corpo cheio de balas jogado em tro investigador. O suspeito da INFOGRÁFICO/AE
tes do Exército e das Polícias Ci-
Criminais, em São Paulo. alguma estrada. Para provar o autoria da morte do policial vil e Militar. O pai de Ivan foi mor-
que falava, o religioso conseguiu Agostinho Gonçalves de Carva- eles o entregassem. tos trouxeram à luz informações to no dia seguinte, durante ses-
a lista oficial dos presos. Como lho era um jovem de 20 anos co- Guri acabou sendo encontra- preciosas. sões de tortura. Oficialmente,
ANOS 60
eles apareciam nas estradas com nhecido como Guri. No mesmo donamatafechadadeumafazen- Vieram à tona, por exemplo, policiais informaram que ele ha-
suas identidades divulgadas nos dia da morte do investigador, oi- da no Parque do Carmo, na zona daods de que traficantes de São via morrido em um tiroteio no dia
O ASSASSINO jornais, bastava checar a lista e to corpos baleados foram leva- leste. Os policiais chegaram Paulo eram beneficiados por anterior.
ver quem deveria estar nas celas. dos ao Instituto Médico-Legal. acompanhados de jornalistas mortes praticadas pelo grupo. A A caçada aos bandidos co-
O homicida deixa de ser um “EucompravaoantigojornalNo- Opromotor Hélio Bicudo, que que descreveram a cena nos dias promiscuidadedepoliciaiseban- muns, iniciada pelo esquadrão
pária para se tornar um herói ao tícias Populares e lia o nome dos passariaaatuarnocasodoesqua- seguintes nos jornais. Guri foi didos da boca do lixo motivou da morte no fim de 1968 e adapta-
matar em defesa da sociedade mortos para saber se eram os drão, descobriria, com a ajuda morto com mais de 100 tiros em várias mortes do esquadrão, que da na luta contra a guerrilha, le-
que estavam no Tiradentes.” posterior do padre Agostinho, seu corpo, que ficou desfigura- protegiatraficantesamigosderi- varia tensão e medo para as peri-
que quatro mortos tinham sido do. O homicídio, anunciado aos vais,comorevelaram depoimen- ferias em formação ao longo da
CABEÇA retirados do Presídio Tiraden- quatro ventos pelos policiais, tos do processo. década de 1970. Os novos agen-
Com o crescimento dos assaltos tes.Nosdiasquese seguiram,pa- provocou a reação das institui- “A violência era tolerada por- tes dos homicídios seriam gru-
e o medo da população, policiais ra achar Guri, Fleury e seus ho- ções comoo Tribunal deJustiça. que aparentemente ocorria em pos de policiais militares.
do esquadrão da morte passa- mens foram acusados de tortu- Em agosto de 1970, o depoi- defesa da sociedade, mas na ver- O enfrentamento era incentiva-
ram a matar sob a justificativa de rar os pais do suspeito para que mento do padre Agostinho, de dadeerausadaparaacobertarou- do pelo secretário Erasmo Dias,
que tornavam a sociedade mais sobreviventes e de presos do Ti- tros tipos de crime”, lembra Bi- que premiava com medalhas e
segura e livre dos ladrões radentes ajudaram o então pro- cudo, um dos principais respon- elogios PMs envolvidos em tiro-
motor Hélio Bicudo, hoje procu- sáveis pelas investigações do pe- teio, como conta o coronel João
rador aposentado, e o juiz corre- ríodo, hoje com 92 anos. “Os es- Pessoa Nascimento.
EFEITOS gedor Nelson Fonseca a inicia- quadrões da morte acabaram se-
Em vez de coibirem os roubos, rem o processo que levaria ao in- guindo o caminho do crime. É o
os homicídios provocam a rea- diciamento de 35 pessoas. Só que costuma ocorrer. Engana-se
ção daqueles que se sentem víti- seis foram condenadas. Apesar quem acredita em um assassi-
mas dos assassinos. Vinganças e da dificuldade em punir, os au- no”, diz.
1980
18,5
disputas territoriais criam círcu-
los viciosos de violência
CORONEL ERASMO DIAS
LOCAL Secretário de Segurança
O esquadrão retirava as vítimas
dos presídios e, por isso, não se “TINHA DE MANTER A ● Rua
vinculava aos territórios. Quando
a PM passa a matar, a partir dos
ORDEM. NÃO ACEITAVA Sob o discurso
1979 da defesa da
DESOBEDIÊNCIA”
13,1
anos 1970, as mortes começam sociedade, poli-
a se concentrar nas periferias ciais da Rota
assumem o
1972 posto de
11,2 1973 1978
“caçadores de
1971
10,1 10,0
bandidos”
1970
1970 9,6 1977

9,9
1976
1974 1975
8,7 9,0
8,4 8,3

129.278
ASSASSINATOS
Variação se acelera a partir de
meados de 1975 e a capital
registra em 1999 quase 1
homicídio por hora. Em 1960,
era menos de 1 por dia

No dia 17 de julho de 1970, Como secretário da Seguran-


policiais do esquadrão encon- ça, coronel Erasmo Dias pre-
tram Guri, que seria morto miava policiais que se envol-
com mais de 100 tiros viam em confrontos
Cidades/Metrópole C5
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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2012

● Acompanhe até quinta-feira

EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar a série especial sobre seis dé-
cadas de homicídios em SP.

60 70 80 90 00 10
A CURVA
A violência migra para os territórios periféricos da
cidade nos anos 1980, década em que o crescimento
das taxas de homicídio alcançou 144%.

PAULO CERCIARI/AE

Justiceiros e
PMs fazem
parceria
para matar
Boinas pretas.
Em 1987, Cabo Bruno tentou assassinar Truculência nas
sobrevivente de chacina feita por policiais periferias

ENTRE 1975 E DireitosHumanos,10dedezem- comerciantes, assim como, na rivais e círculos de vingança. lo.Matavamaquelesqueviamco-
bro, eu nunca me esqueço. Eu décadaanterior,industriaispau- Comerciante em Diadema mo “bandidos”, integrantes da
1989, A EPIDEMIA não sabia queera o Cabo Bruno.” listas já haviam financiado ações MORTOS PELA PM nosanos1980,LaércioSoaresan- geração de jovens urbanos, des-
SE ACELERA: Em tese, Cabo Bruno deveria
estarno RomãoGomes, presídio
nos porões do regime militar.
A estimativa é de que os justi-
dava com duas armas na cintura
para se proteger nos campinhos
cendentes de migrantes, que ne-
gavam os valores dos pais e bus-
PASSA, EM 1979, A da Polícia Militar onde cumpria ceiros tenham matado pelo me- 1500
de várzea da cidade. Ele e outros cavam uma identidade própria.
pena por seus crimes. Mas, na- nos mil pessoas na Grande São pequenos empresários também Jovens de uma geração que aca-
BARREIRA DOS quelamadrugada,ele buscavaPi- Paulo. 1200
pagavam advogados para defen- bou sendo dizimada na São Pau-
MIL CASOS. DEZ rulito,filhode dona Luzia,mora- Conforme os assassinatos 900
der os justiceiros locais. lo dos anos 1980 e 1990.
dora do Jardim Ângela. cresciam,apopulaçãodasperife- Com raras exceções, os justi-
ANOS DEPOIS, 229
Três anos antes, Pirulito havia rias começava a reagir aos cor- ceiros eram migrantes rurais
sido o único sobrevivente de posno meio da rua e às pequenas
600
apegados aos valores tradicio- 1990
44,1
ALCANÇA 3.850 uma chacina praticada por PMs tragédias cotidianas. Em vez de 300 nais das pequenas cidades onde
contraquatro jovens. Etestemu- aumentarasensação deseguran- nasceram.Chegavamacre-
0
MEDO DA MORTE E VINGANÇAS nharia nos próximos dias. Para ça,asaçõeshomicidasacabavam 1991 2012 ditando nas oportunida-
PROVOCAM MAIS HOMICÍDIOS que ficasse em silêncio, levou 15 armandoosespíritoseproduzin- desoferecidasporSãoPau- 1989
tiros. Cabo Bruno fugiria oficial- do novos assassinatos. Cada no- INFOGRÁFICO/AE
41,7
mente do Romão Gomes depois vo caso instigava a compra de re- 1987
Bruno Paes Manso
do atentado, na noite de Natal.
“Essa é a história de Pirulito que
vólveres, a formação de grupos
40,1
padre irlandês Jai- me revelou a parceria entre os
1984

O
me Crowe chegou PMs e justiceiros”, diz o padre. ● Em todos os cantos de SP
em fevereiro de Osdetalhesdaparceriaforampa- 37,9 1985 Da esquerda para direita: João
1987aoJardimÂnge-
la, na zona sul da ci-
raotúmulodeFlorisvaldodeOli-
veira, morto há duas semanas. 36,9 Balaio, Jonas Félix, Diógenes e
Índio, justiceiros que durante a
dade, para coman- Assassinatos praticados por década de 1980 atuaram nas dife-
dar a Igreja Santos policiais para coibir roubos aca- rentes regiões da Grande São
Mártires, um dos pi- ramincentivandoasescolhasho- 1986 Paulo. Omissão ou parceria com
lares da pacificação micidas dos justiceiros. Como 1988
36,5
policiais acabou incentivando a
do bairro nos anos
2000. O prédio ainda estava em
eram tolerados pelas autorida-
des, viraram opção popular. Os 36,2 carreira dos matadores.

construção quando, em dezem- justiceiros eram bancados por


bro, no ano de sua chegada, um
meninoveio chamá-loparaaten-
der a um homem armado, com
1983
bigodes negros e grossos.
Diante dele, estava o mais fa- 30,5
moso justiceiro da zona sul: Flo-
risvaldo de Oliveira, ex-policial
conhecido como Cabo Bruno,
quenãoseidentificouepediupa- durante o período do esquadrão morte,o sargentoDavidMontei- PM foi criada e passou a ser co-
ra dormir na igreja. “Era Dia dos Depois da PM, da morte as vítimas eram tiradas ro conta que se enxergava como mandada por oficiais do Exérci-
de presídios, quando os homicí- umpolicialmodelo. Sópercebeu to. Nesse ano, as mortes subi-
mortes migram diosse tornaramferramentas do queestavaagindo de formaequi- ram para 28, pulando para 59 em
policiamentoostensivoosassas- vocada quando o comando o 1975, no auge da repressão.
CURVA DE HOMICÍDIOS para a periferia sinatosmigraram paraos territó- afastou da rua para trabalhos bu- A execução de suspeitos não
rios das periferias de metrópole. rocráticos.“Nessemomentoafi- parou de crescer, revelando o
Justiceiros imitam policiais e 1981 Matar se transformou em ins- cha caiu”, recorda. Ele já havia despreparo dos policiais. Só na
matam suspeitos para tentar 21,7 A recente eleição para vereador trumento de trabalho de parte recusado o convite de um justi- décadade1980,foram4.093mor-
manter a ordem no bairro dedoisoficiaisdareservadaRon- dosPMsque tentavam controlar ceiro para matarem juntos. tes. Longe de diminuir o crime, a
das Ostensivas Tobias de Aguiar ocrimede norte asulde São Pau- Em 1960, quando os homicí- truculência aumentou a desor-
(Rota) mostra como, até hoje, o lo. Nos anos 1980, em Guaiana- diosemSãoPauloaindaeramen- dem na cidade e acendeu o sinal
discurso truculento de combate ses, na zona leste, um tenente dêmicos e as autoridades de se- de alerta. Em vez de aplauso, o
1982 ao crime tem apelo popular. que pediu para ser identificado gurança se dividiam entre Força excesso pediria ajustes.
1980 20,4 Quando na ativa, o coronel Pau-
lo Telhada se envolveu em 36 re-
apenas como Pereira passou a
matar quando percebeu que os
Pública, Guarda Civil e Polícia
Civil,oficialmente foi registrado

18,5 sistências seguidas de morte e o


capitão Conte Lopes, em 41.
O excesso de violência virou
suspeitoseramrapidamentesol-
tos nos distritos policiais. Na zo-
na sul, depois de 11 anos agindo
apenas um óbito cometido pelas
forças policiaisno Estado. Cinco
anos depois, em 1965, foram
estadão.com.br
TV Estadão. Confira análise
umadascaracterísticasdacorpo- deforma violentaao longodadé- duas mortes. sobre homicídios
ração, postura que acabou se es- cada de 1980, com inúmeros ca- A situação começou a mudar www.estadao.com.br/
tendendo a outros batalhões. Se sos de resistência seguida de em 1970, no regime militar. A

ANOS 60 JUSTIFICATIVA
Boa parte dos justiceiros costu-
O ASSASSINO mava afirmar que tinham come-
çado a matar depois que familia-
A ação territorial dos justiceiros e dos policiais militares res foram ameaçados ou violenta-
provocam disputas localizadas e concentradas na periferia dos por bandidos locais.

409
CABEÇA LOCAL HOMICÍDIOS
ABISMO
Contando com a omissão e o in- Os homicídios passaram a se foram praticados por ano Bairros em área nobre da zona
centivo da polícia, justiceiros pas- concentrar nas periferias de nor- durante a década de 1980 em sul, como o Jardim Paulista, ti-
saram a matar suspeitos nos te a sul de São Paulo. Nos anos supostos casos de resistência nham taxa de homicídio europeia
anos 1980 acreditando agir em que viriam, os mesmos bairros seguida de morte envolvendo (3 por 100 mil), enquanto mortes
defesa dos trabalhadores do bair- das periferias vão liderar os ran- policiais militares. no Jardim Ângela ultrapassavam
ro e bancados por comerciantes. kings de assassinatos. 100 casos por 100 mil.

Nos anos 1980, a vida do justi- Corpos amanhecidos no chão


ceiro Clidenor Ancelmo Bri- viraram rotina nas periferias.
lhante, que atuou em São Ber- Cabo Bruno (à esquerda) agiu
nardo, acabou virando filme. em parceria com PMs
L. GEVAERD/AE
C6 Cidades/Metrópole
%HermesFileInfo:C-6:20121016:

TERÇA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar


● Acompanhe até quinta-feira
a série especial sobre seis
décadas de homicídios em SP.

60 70 80 90 00 10
A CURVA
Nunca São Paulo registrou tantos homicídios quanto
os 6.653 casos de 1999. O total é 30 vezes maior do
que os 217 ocorridos nos anos 1960.

No auge do caos, 1 morte levava a 150


Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias

preservar a integridade do grupo semelhante à guerra do Iraque. tério Público, entre 1993 e 1998 é pai de duas meninas. O jovem 1999
EFEITO DOMINÓ: de amigos e a hegemonia nos vá- Corpos nas ruas, rodinhas em as rivalidades entre grupos no matador que ele foi nos anos 65,3
QUANTO MAIS rios tipos de negócios criminais torno dos defuntos, enterros de Jardim Ângela provocaram 156 1990 cresceu em um contexto
em uma pequena área do Grajaú, amigose parentes, conversas so- mortes, sobretudo de jovens. violento e foi resultado das
HOMICÍDIOS EM na zona sul. bretiroteiosecrimes faziampar- escolhas erradas que to-
Depoisdecincoanosdeconfli- te da rotina e popularizaram as Mudança. A trajetória de Ale- mou. “Eu, de verdade,
UM TERRITÓRIO, toscomjovensrivais, elecalcula- escolhas homicidas. No leque de xandre no crime terminou quan- sou essa pessoa que vo-
MAIOR A va que já tinha matado mais de alternativas dos moradores dos do ele foi preso, em 1998. Repen- cê conhece hoje. Em
50 pessoas. Narrou pelo menos bairros violentos, o homicídio sou a vida e hoje está em liberda- paz”, resume.
CHANCE DE três chacinas. A primeira morte tornou-se aomesmo tempo uma de provisória. Virou evangélico
1998 2000
59,4
NOVAS MORTES que praticou foi por vingança de ameaça real e uma opção de rea- há quase uma década. Aos 38
um colega no campinho de fute- ção. Foi nos anos 1990 que a en- anos, trabalha com decoração e 58,3
OCORREREM bol. Vários conflitos se sucede- grenagem de homicídios se azei-
ram. “Os problemas vão brotan- tou e passou a girar com mais 1996
força. As mortes dos anos 1995
DE NORTE A SUL, RIXAS CRIAM A
GERAÇÃO DE JOVENS MORTOS
do e parece que não acabam
mais”, explicou. 1980 chegaram como uma bo- 54,8 55,2
Em 2006, César e João Carlos la de neve.
foram queimados dentro do car- Em 1990, aos 15 anos, Ale-
Bruno Paes Manso rocom outras três pessoas. A po- xandreRodriguesdaSilvaini- estadão.com.br
lícia apurou que os autores eram ciou sua trajetória no crime
os 21 anos, César de integrantesdoPrimeiroComan- no Jardim Ângela, na zona 1997 TV Estadão. Confira análises
54,0

A
Santana Souza sabia do da Capital (PCC) que passa- sul. Ele e os amigos ti- sobre homicídios
que seu tempo estava ram a vender drogas no bairro. nham rivais em bairros www.estadao.com.br
se esgotando. Em Idelvan morreu no mesmo ano, vizinhos. A maior das
1999, como ele pró- assassinado na frente do filho de rivalidades começou
prio dizia, estava fa- 6 anos. em 1995, contra os
zendo “hora extra na As periferias da São Paulo dos Ninjas, moradores
terra”. Juntamente anos 1990 são o resultado das do Jardim Tupi.
comos“aliados”JoséIdel-
van dos Santos e João Car- 1991
mortes praticadas por poli-
ciais e justiceiros nas déca-
Segundo apu-
rações da polí- PCC surge do mata-mata em SP
los Queiroz, ele tentava 45,5 das anteriores. Em 1999, os ciaedoMinis-
assassinatos na cidade al-
cançariam seu ponto mais
1994
45,5
e tenta criar hegemonia no crime
1990 alto na curva, com 65 mor-

44,1
tes por 100 mil habitantes, da do crack.
Enquanto o crime no Rio Entre 1981 e 1996, o roubo em
era tocado por facções São Paulo cresceu em média 9% Chacina e crack
ao ano. Enquanto no Rio os cri-
desde 1980, só no fim dos minosos se vinculavam a fac- revelam ápice da
1990 uma organização ções que dominavam territórios
marcou presença em SP nos morros, em São Paulo os in-
desordem nos 1990
1992 1993
tegrantes do mundo do crime se
ANOS 90 40,7 40,4
A mística em torno das facções
no Rio de Janeiro começou em
relacionavam de igual para igual,
como indivíduos, pisando em
● No começo dos 1990, o crack
– droga feita a partir da pasta de
1981,quandoZéBigode,cofunda- ovos e disputando poder em ter- cocaína com bicarbonato de só-
O ASSASSINO dordoComandoVermelho,refu- ritórios conflagrados, onde vi- dio e vendida em pequenas pe-
giou-se no Conjunto dos Bancá- viam sob risco de matar ou mor- dras que tornavam a dose barata
Nos anos 1990, nos territórios violentos, o excesso de armas e rios, na Ilha do Governador, tro- rer a qualquer momento. – aumentou o giro das bocas e a
de riscos induzem a escolha homicida até em conflitos banais cando tiros com 400 policiais Nessa estrutura criminal sem quantidade das biqueiras nas
por 10 horas até ser morto. hierarquia, horizontal, sobra- periferias de São Paulo. Viciados
Com um bom fornecedor de vamoportunidadesemotivospa- em crack, chamados de noias,
cocaína, entre 1983 e 1986 o Co- ra vinganças e assassinatos ba- mergulharam de cabeça no con-
273 mando dominou as bocas de fu-
mo tradicionais, tocadas por pe-
nais. “Ninguém é melhor do que
ninguém” sempre foi uma frase
sumo, fazendo de tudo por novas
doses. Eles se tornaram um dos
CHACINAS quenos traficantes de maconha. repetida nesse cenário igualitá- alvos preferenciais dos matado-
PAULO LIEBERT /AE 7/11/2002

ocorreram entre 1998 e 2000. Em1985,jádetinha70%dospon- rio e instável das redes criminais res. “Noia se mata com pedrada,
Facção. Em Casos em que morrem três pes- tos de venda em um grande e lu- paulistas.Na prática,jovens des- não precisa nem gastar balas de
1993, Geleião soas ou mais no mesmo evento, crativo mercado. confiavam de outros jovens, vis- tão tranqueira”, dizia César Sou-
cria o PCC com elas começaram a crescer de- Em São Paulo, desde os anos tos como homicidas em poten- za em 1999, matador do Grajaú.
outros presos pois de meados dos anos 1990. 1970, quando as taxas de crime cial, e matavam motivados às ve- As chacinas – casos em que
começaram a crescer, pequenas zes por conflitos banais. três ou mais vítimas são assassi-
células isoladas de criminosos nadas – alcançaram 95 casos
REFÚGIO se equilibravam parcamente, Origem. É nesse contexto de anuais em 2000. E eram o retra-
CABEÇA LOCAL correndo o risco de serem caça- mata-mataedesordemqueoPri- to da desordem generalizada. Na
O alto grau de risco, o medo ex- Os homicídios se concentram O resultado da matança de jo- dasporjusticeiros,policiaisecri- meiro Comando da Capital co- maior ocorrência do Estado, em
cessivo e a grande quantidade de nos bairros das periferias. No vens viciados em crack é a craco- minoso rivais. meçou a se formar nas prisões 1998, 12 pessoas foram mortas
armas em circulação transforma- ano 2000, a taxa em Parelheiros lândia no centro, que se torna um O roubo sempre foi o negócio em 1993. E a se fortalecer, com em Francisco Morato. Os auto-
ram qualquer conflito em risco (106 por 100 mil habitantes) é 28 refúgio dos jovens que querem principal. O tráfico de drogas só discurso que propunha fim das res, PMs que também faziam se-
de vida para os jovens que se sen- vezes maior do que no Jardim fugir das chacinas das periferias se fortaleceria em São Paulo de- mortes de integrantes do crime gurança, buscavam uma menina
tiam ameaçados. Paulista (3,6 casos por 100 mil). da cidade. pois dos anos 1990, com a chega- e incentivo a negócios ilegais. que testemunharia contra eles
FREDERIC JEAN/EDITORA ABRIL
na Justiça. Mataram os outros
para evitar o risco de sobrarem
mais testemunhas.
Matadores do Grajaú.
“É aquela coisa. Está de ma-
Em conflitos com jovens
drugada, bebendo com quem
rivais, disputas eram
não presta, coisa boa não deve
travadas na periferia
ser”, explicava José Idelvan dos
Santos sobre as três chacinas
que praticou nos anos 1990.
Nesse contexto de extermínio,
as periferias passaram a expur-
gar os consumidores para o cen-
tro de São Paulo. A cracolândia
se tornaria uma zona neutra, um
refúgio onde se podia traficar sob
os olhos da polícia e consumir a
droga sem o risco de ser assassi-
nado.
Nas periferias, com revólveres
e medo em excesso, conflitos
banais podiam provocar esco-
lhas homicidas. O aluno de uma
escola em Diadema explicou o
assassinato praticado por um
amigo. Ele ia toda manhã levar a
irmã à aula e um jovem o encara-
va do lado de fora da escola. No
terceiro dia, atirou e matou o jo-
vem sem questionar. “Está certo.
Desacreditou, tem de morrer.”

Em 1992, 111 são mortos por A chegada do crack nas bocas Episódio da Favela Naval, em
PMs na Casa de Detenção do das periferias aumenta a quan- Diadema, em 1997, revela des-
Carandiru. Episódio vai mudar tidade de pontos de venda e preparo da PM e força coman-
a política carcerária em SP. de conflitos. do a mudar a gestão da tropa.
HEITOR HUI/AE 4/10/1992 AGLIBERTO LIMA/AE 1/12/1998 REPRODUÇÃO
Cidades/Metrópole C5
%HermesFileInfo:C-5:20121017:

O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2012

EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar


● Acompanhe até amanhã a
série especial sobre seis
décadas de homicídios em SP.

60 70 80 90 00 10
A CURVA
A surpreendente queda ininterrupta dos homicídios
salvou mais de 30 mil vidas entre 2000 e o ano
passado, quando as 6.653 mortes caíram para 1.403.

TIAGO QUEIROZ/AE

Após desordem e
dor, mortes caem
aceleradamente
2000 Homicídios se tornam estorvo para todos,
59,4 2001até para assassinos, e abrem espaço para a
57,8intervenção do Estado no crime

2001
57,8

2002
50,9 Jardim Ângela. Enoc com crianças do bairro: dono do time em que Leandro Damião jogou

tico de Ibi-
INTERVENÇÃO rama,deSan- 2003
ANTIVIOLÊNCIA ta Catarina, e
47,7 York, que pela primeira vez con-
DO ESTADO FOI
chamar a atenção
doInternacional,quan- Todos perderam com seguiu reduzir homicídios em
curtoprazo,incentivouamudan-
do em2010 marcou o gol ça no patrulhamento dos poli-
EFICAZ PORQUE
MORADORES DA
que deu ao clube o título
da Libertadores. homicídios e ação do ciais militares, que passaram a
agir nos lugares com taxas maio-
O presidente do Família res de homicídio. Um dos focos
PERIFERIA
APRENDERAM
Tupi City é o motoboy Paulo
Enoc. Em outubro de 2001, Estado surtiu efeito era retirar armas frias das ruas,
aproveitando o rigor de novas
ele havia sido ameaçado de leis contra o porte.
COM TRAGÉDIAS morte por integrantes da Gan- No auge dos homicídios, em tanto, não mudaram sozinhos.
gue dos Ninjas, um dos grupos 1999, José Idelvan, matador do Dependeramdeumaforçaexter- Organização. No mundo do cri-
O MESMO OCORREU EM OUTRAS mais perigosos do bairro na épo- Grajaú, autor de dezenas de as- na, capaz de induzir potenciais me, o impacto dessas políticas
CAPITAIS BRASILEIRAS ca,protagonistaderixasquepro- sassinatos e de pelo menos três homicidas a optar por soluções públicas levou a mudanças radi-
vocaram mais de 150 assassina- chacinas, explicava que pararia alternativas. Só o Estado tinha a cais no comportamento de seus
2004
tos no Jardim Ângela de 1990. de matar se pudesse. “Mas não capilaridade e a capacidade de integrantes. Como o homicídio
Bruno Paes Manso Para lidar com a situação, 37,3 tem como. Se eu parar, aqueles agir com abrangência suficiente prejudicava os criminosos – que
Enoc comprou uma arma e foi que querem me pegar teriam vi- para reverter as taxas de homicí- estãointeressados em ganhardi-

N
atalino Pereira dos San- conversar com Luizinho, um da fácil e eu morreria rapidi- dios em quase todas as cidades nheiro roubando e traficando –,
tos chegou a São Paulo, dos líderes da gangue. Chegou a nho”, disse. Idelvan morreu em paulistas a partir de 2000. as medidas induziram a escolhas
vindo da pequena Jar- um pagode, assustou-se e atirou, 2006,assassinadodepoisqueou- As políticas mais importantes diferentes.
dim Alegre, no Paraná, matando Luizinho e outra pes- troscincocolegasforam queima- começaram a ser executadas nos OPrimeiroComandoda Capi-
em1989.Veio para traba- soa.Sumiuporumtempo,foiaju- dos dentro de um carro. anos 1990, provocadas por acon- tal foi também uma das conse-
lhar em um frigorífico. dado pelos patrões e acabou ino- Aquedadosassassinatosocor- tecimentostrágicos. Depoisdes- quências das políticas públicas.
Separado da mulher, com ajuda centado na Justiça por atirar em reu porque, depois que os homi- sasações,omundodocrimenun- Com o aumento de presos e a or-
dasirmãs conseguiucriar osdois legítima defesa. cídios se disseminaram e se po- ca mais seria o mesmo. ganização da facção, os debates
filhos, Leandro e Edmar, dando Enoc montou o Família Tupi pularizaram, todos se prejudica- O massacre do Carandiru, nas “quebradas” também aca-
duro em diferentes empregos. City para tentar ajudar as crian- ram, incluindo os assassinos, quando 111 presos morreram em bou ajudando a controlar os as-
No ano passado, seu filho mais ças do bairro. Entidades do Jar- que passaram a ser jurados de 1992, foi um desses episódios sassinatos a partir de 2006.
novo, Leandro Damião, foi con- dim Copacabana, como o Cio da morte. Nos anos 1970 e 1980, os transformadores. O círculo virtuoso entrou em
vocado para a seleção brasileira Terra, ajudaram a levar Damião assassinos ainda tinham a ilusão Cinco meses depois, foi criada ação. Assim como no período de
de futebol, aos 22 anos. ao time de várzea do bairro vizi- de que seus crimes podiam exer- a Secretaria da Administração ascensão, no qual um homicídio
A trajetória de Damião no es- nho, visto como violento. “Mon- cer algum controle no território. Penitenciária, que ganhou auto- podia produzir outros homicí-
porte está associada à pacifica- tamos a escolinha de futebol, or- 2005 Vinte cinco anos de nomiaem relação à Secretariada dios, um assassinato a menos
ção não só do Jardim Ângela, na ganizamos festas, distribuímos 24,3 2006
mortes ensinaram Segurança e ampliou as vagas no também provocava redução em
zona sul, como de toda a cidade, leite e tentamos ajudar as crian- 23,5 que não era bem as- sistema.Entre1988ehoje,ocres- escala.
onde homicídios despencaram a ças daqui. A pacificação a partir sim:adesordemten- cimento de presos por 100 mil
partir de 2000. Leandro Damião doano 2000 foifundamental pa- de só a aumentar. habitantes foi de 770%. Passou
fez primeira comunhão e crisma ra isso”, diz Enoc. Os homicídios e de 51 por 100 mil habitantes no estadão.com.br
naParóquiaSantosMártires,on- os assassinos, no en- Estado para 418 por 100 mil nos
deo padre Jaime Crowe passou a PCC. A queda acelerada dos as- dias de hoje. TV Estadão. Confira análises
liderar, em meados dos anos sassinatos a partir da virada do 2007 Paralelamente, o sucesso das sobre homicídios
1990, uma caminhada em defesa século ocorreu com o aumento 17,7 medidas implantadas em Nova www.estadao.com.br
da vida. A queda nas taxas de ho- da venda de drogas e da influên-
micídio em mais de 80% permi- cia do Primeiro Comando da Ca- 2009
tiu que ele seguisse sua trajetó- pital (PCC) na região. Mas a ten- 2008
15,3 2010
ria em paz. são permanece na cidade, que 14,8 14,5 2012
13,3
Em 2006, Damião jogou no ti- ainda sofre ameaça de retomada
me de várzea do Família Tupi da epidemia. Mesmo que ocorra 2011
City,antesdesedestacarnoAtlé- pela ação de outro tipo de vírus. 12,5
ANOS 2000 Damião. Do
Jardim Ângela Índice de
O ASSASSINO para a seleção homícidios
brasileira por 100 mil
Quando todos podem matar, o homicida deixa habitantes
de ter poder e fica sujeito a ser assassinado.
Ganham força, assim, soluções alternativas

CABEÇA LOCAL EFEITOS 1.403


O PCC de Marcola (acima) não Apesar de os homicídios terem O Cemitério São Luís, na zona HOMICÍDIOS
foi causa da queda dos homicí- caído em bairros da periferia, sul, que ficou conhecido como ocorreram na capital em 2011.
dios, mas resultado de políticas eles continuam liderando os ran- o “cemitério dos jovens” por Esse número é inferior ao total
antiviolência. A facção ganhou kings de assassinato. O total de enterrar muitas vítimas de ho- de 1980, quando 1.470 pessoas
força por conseguir, dentro e fora casos, contudo, cai acentuada- micídio, passou a ter áreas foram assassinadas em São
das prisões, mediar mortes. mente ao longo da década. vagas e arborizadas. Paulo.

As caminhadas contra a vio- Os ataques praticados pelo


lência até o Cemitério São PCC em 2006 evidenciaram
Luís, na região do Jardim Ân- ao público a força da facção,
gela, continuam até hoje. principalmente nas prisões.
VIVI ZANATTA/AE 21/11/2005 NIGEL RODDIS/REUTERS EVELSON DE FREITAS / AE 7/8/2006
C10 Cidades/Metrópole
%HermesFileInfo:C-10:20121018:

QUINTA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar


como roubos. Grampos mostra-

Homicídio ramintegrantes do PrimeiroCo-


mando da Capital (PCC) dando
ordens para matar PMs – as cha-
madas “xeque-mate”.
Sequências suspeitas de mor-
VIOLÊNCIA
G Todos
G Todos
os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos
os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos

retoma alta tes ocorreram logo após assassi-


nato de policiais. Em Osasco, oi-
to morreram dois dias depois do
atentado a um soldado que so-
breviveu.Duassemanasmaistar-
2000

● Mapa
46º DP

com embate
46º DP 72º DP
74º DP
de, seis pessoas foram executa- vermelho 72º DP 20º DP 73º DP
74º DP
das em Guarulhos após um PM Cidade tinha 45º DP
38º DP
20º DP 73º DP
87º DP
das Rondas Ostensivas Tobias homicídios
45º DP
38º DP 39º DP
87º DP 62º DP
de Aguiar (Rota) levar um tiro. espalhados 28º DP 40º DP 39º DP 22º DP 59º DP
62º DP
Moradores disseram que os

‘PM x PCC’
por todos os 33º DP 28º DP 40º DP
13º DP 9º DP 19º DP 24º DP 63º DP 22º DP 59º DP50º DP
PMs da Rota passaram na região distritos, com 33º DP 13º DP 9º DP 19º DP
90º DP 10º DP 24º DP 63º DP
67º DP
50º DP
ordenando toque de recolher. bolsões de 91º DP 7º DP
2º DP
12º DP 90º DP 10º DP
64º DP
32º DP
67º DP
77º DP 52º DP 68º DP
81º DP
Parte dos assassinatos ocorreu a violência nas
91º DP
23º DP
2º DP
3º DP
12º DP
21º DP 64º DP
32º DPDP 68º DP
103º
7º DP 77º DP 52º30º
DPDP 65º DP
200metrosdoatentado.Atéago- zonas sul, 93º DP 14º DP
23º DP
4º DP
1º DP
3º DP
8º DP 81º DP
57º DP 31º DP 21º DP 44º DP
30º DP 65º DP 103º DP
66º DP
ra, os casos não foram esclareci- norte, leste 93º DP 14º DP 78º DP
5º DP 1º DP 8º DP
4º DP
18º57º
DPDP
31º
58º DPDP 44º DP
29º DP
dos.Nasemanapassada,20mor- e central. 66º DP 53º DP
Antes em queda, índice volta a crescer após tesocorreramnaBaixada Santis-
51º DP

51º DP 34º DP
15º DP 5º DP 6º DP
78º DP36º DP
6º DP 17º DP
18º DP
56º DP29º DP
58º DP
42º DP
41º DP
53º DP
54º DP
75º DP 15º DP 54º DP
36º DP 41º DP
atentados a policiais e mortes de suspeitos ta e na região de Taboão da Serra 75º DP 34º DP 96º DP 16º DP 17º DP
95º DP
56º DP 42º DP 70º DP
69º DP 49º DP
depois de atentados a PMs. ● Zona 96º DP 16º DP 70º DP 49º DP
89º DP 69º DP
Ainda é cedo para afirmar so- de perigo 27º DP 26º DP95º DP
55º DP
89º DP
Carvalho fazia cooper unifor- bre o futuro, se a tendência é pa- Sozinhos, 27º DP 26º DP
ENTENDER A mizado pelas ruas do bairro para ra valer ou apenas um espasmo, quatro DPs
37º DP

37º DP
11º DP 35º DP 83º DP
55º DP

11º DP 43º DP 35º DP


NATUREZA DOS interagir com a população. Na como explica o economista João da zona sul 92º DP
99º DP
43º DP
97º DP 83º DP

Os 10 mais violentos de 2000


Páscoa, ele e outros policiais dis- Manoel Pinho de Mello (PUC- (92º, 47º, 37º 47º DP 92º DP 97º DP

CONFLITOS É tribuíam ovos para as crianças, RJ), que estuda a curva de homi- e 100º) regis- 47º DP
102º DP
99º DP 80º DP

80º DP
92º DP Parque Santo Antonio 235
concorrendo com o crime que cídios em São Paulo. “Isso pode traram 789
IMPORTANTE usava a mesma estratégia. PMs ser conjuntural – uma onda de homicídios, 100º DP
102º DP
48º DP
98º DP 47º DP
100º DP
Capão Redondo
Jardim Herculano
212
209
98º DP
PARA DEFINIR SE tambémabriramabaseparainte- conflitos fora do nível de equilí- ou 14,9% 100º DP 101º DP
48º DP
98º DP Jardim Miriam 197
grantes do hip-hop organizarem brio – ou estrutural – quando, do total da 101º DP 101º DP Jardim das Imbuias 195
ESSA EXPANSÃO cursos e oficinas. por alguma razão, aumenta o nú- cidade. 54º DP Cidade Tiradentes 157
85º DP
É CONJUNTURAL Em 21 de junho, aos 40 anos de mero e a letalidade dos confli- 85º DP Jardim Mirna 156
85º DP
idade, Carvalho foi assassinado tos”, afirma. “Será importante 25º DP Parelheiros 139
OU ESTRUTURAL enquanto fazia compras. O poli- estudara natureza desses confli- 25º DP 37º DP Campo Limpo 133
cial estava de folga. Antes de ma- tosparaevitarquealgoconjuntu- 25º DP 74º DP Parada de Taipas 124
ASSASSINATO COMO CONTROLE tá-lo,umjovemmexeunospaco- ral se torne estrutural.”
INTENSIFICA A VIOLÊNCIA tes do supermercado para des-
viarsuaatenção.Outrostrêsche- Conclusões. É importante, con- 2007
garam atirando. tudo,prestar atençãoaos ensina-
Bruno Paes Manso Nos dias seguintes, oito pes- mentosqueos52anosdeassassi-
soas foram mortas nos arredo- natos oferecem. Para os especia-
● Alívio
primeiro trabalho do res, em crimes com característi- listas, o principal deles é que os

O
Com diminui-
soldado Paulo Cesar cas parecidas. Na morte do co- homicídios não podem ser mais 46º DP
ção geral do
LopesCarvalhonaPo- peiro Eleandro Cavalcante de aceitoscomo resposta deautori- 72º DP
índice de homi- 74º DP
lícia Militar foi na ba- Abreu, testemunhas disseram dades de segurança pública. 20º DP 73º DP
cídios, alguns 38º DP
se comunitária do Jar- que homens com toucas ninjas A grande quantidade de resis- 45º DP
bairros quase 87º DP
dim Ângela, na zona em carro e moto mataram com tências seguidas de morte reve- 39º DP
62º DP
conseguiram
sul, em 1998. Carva- pistolas silenciosas e de calibre lam – segundo eles – despreparo 28º DP 40º DP
22º DP 59º DP
se livrar total-
lhotinha26anos enos 12 de cano serrado. da Polícia Militar e incapacidade 33º DP 13º DP 9º DP 19º DP 24º DP 63º DP 50º DP
mente dos cri- 67º DP
anos seguintes faria parte de um de prender criminosos com es- 90º DP 10º DP
mes, mas ain- 2º DP 64º DP
dos projetos mais premiados da Retomada. Assim como ocor- tratégias e métodos inteligen- 91º DP 7º DP 77º DP
12º DP 52º DP 32º DP 68º DP
da há bolsões. 81º DP 21º DP
corporação paulista. reu em 2009, neste ano as dispu- tes. Dão brecha também para 23º DP 3º DP
30º DP 65º DP 103º DP
4º DP 8º DP 31º DP
Antes de começar a funcionar, tas sangrentas envolvendo mor- que agentes de segurança aca- 93º DP 14º DP 1º DP 57º DP
66º DP
44º DP
5º DP
a base comunitária organizou tesdepoliciaisedesuspeitosvol- bem se tornando assassinos e in- 78º DP 18º DP 58º DP
● Zona 51º DP 6º DP
29º DP
53º DP
discussões na Paróquia Santos taram a mudar a tendência da tegrantes de grupos de extermí- 15º DP
36º DP 41º DP 54º DP
de perigo 56º DP 42º DP
Mártires, do padre Jaime Crowe, curva de homicídios, que vinha nio e outras quadrilhas. 75º DP 34º DP 17º DP
No bolsão
onde os PMs conheceram mais caindo aceleradamente. Em Como esta série de reporta- 96º DP 16º DP
95º DP
70º DP 69º DP 49º DP
da zona sul,
de 200 lideranças da zona sul no 2009, na Baixada Santista, o em- gens mostrou de domingo a ho- 89º DP
o total de 27º DP 26º DP
FórumemDefesa daVida.O gru- bate envolvendo matadores nin- je, homicídios provocam novos 55º DP
mortes cai 37º DP
po se juntou para reverter o qua- jas já havia causado leve aumen- homicídios.Emvez defunciona- 11º DP 35º DP 83º DP
para 180, mas
dro do bairro que, em 1995, havia to de homicídios no Estado. remcomoferramentade contro- 43º DP
Os 10 mais violentos de 2007
isso ainda re- 92º DP 97º DP
sido considerado o mais violen- Neste ano, a situação come- le, eles aumentam a desordem e 99º DP
101º DP Jardim das Imbuias 57
presenta 12% 47º DP
to do mundo, com 108 homicí- çou a degringolar em março. fazem o vírus da epidemia se es- 80º DP 92º DP Par Santo Antonio 49
dos homicídios 102º DP
dios por 100 mil habitantes. Nosoitoprimeirosmeses, osho- palhar rapidamente. 37º DP Campo Limpo 47
da capital 98º DP
Uma das ideias surgidas foi a micídios cresceram 15,4% na ca- 48º DP 98º DP Jd Miriam 47
paulista. 100º DP
criação da Caminhada em Defe- pital e 6,3% no Estado. Até on- 47º DP Capão Redondo 46
101º DP
sa da Vida, feita no Dia de Fina- tem, 81 policiais haviam sido as- estadão.com.br 25º DP Parelheiros 46
dos,atéo CemitérioSãoLuís,co- sassinados.Desses,segundoapu- 73º DP Jaçanã 40
nhecido como o “cemitério dos ração da Polícia Civil, 39 homens TV Estadão. Assista ao 85º DP 46º DP Perus 40
jovens” pelo número de vítimas da ativa e 4 da reserva foram exe- documentário ‘12 Tiros’ 74º DP Parada de Taipas 39
de homicídios. Os PMs da base cutados. Outros 27 foram mor- www.estadao.com.br 25º DP 100º DP Jd Herculano 38
estavam sempre presentes. tos em ocorrências esclarecidas
INFOGRÁFICO/AE

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JOÃO MANOEL SÉRGIO ADORNO LEANDRO PIQUET TULIO KAHN ADÍLSON PAES DE
PINHO DE MELLO SOCIÓLOGO DA USP CIENTISTA POLÍTICO DA USP CIENTISTA POLÍTICO SOUZA
ECONOMISTA DA PUC-RIO “A questão da segurança pública “As instituições do sistema de “É possível apontar a CORONEL DA RESERVA DA PM
“Para atingir níveis mais baixos não mais se restringe ao Justiça criminal de São Paulo continuidade da queda nacional “(Muitos policiais) desconhecem
de homicídios, seria preciso aparelho repressivo. Outras conseguiram deter as das taxas de homicídio nos a realidade social em que vão
melhorar a distribuição de políticas, com apoio da engrenagens que tornaram o próximos anos em razão de trabalhar, confundem autoridade
renda e aumentar um pouco as sociedade civil, devem alcançar Estado um dos mais violentos do fatores como a diminuição de com truculência, exercício do
penas nas idades entre os cidadãos comuns nos bairros, País. O ciclo virtuoso da política jovens na população, o poder com superpoderes, com
15 e 18 anos. A segunda solidificar laços de cooperação e se inicia quando o crime, que aumento do investimento em os quais podem agir segundo
opção não me parece estar contribuir para um redesenho antes recompensava, deixou de segurança e a queda da suas próprias regras, cujo
disponível.” urbano com maior equidade.” ser uma alternativa viável.” desigualdade no País.” resultado é mais arbitrariedade.”

2000
A CURVA
59,4
Antes do esquadrão da morte, o
assassino era o pária e louco que
assustava e provocava repulsa.
A epidemia começou quando poli-
ciais do esquadrão passaram a 1990
matar alegando defender a socie-
dade. Com a ação da PM nos 44,1
anos 1970, a morte de suspeitos
se concentrou na periferia, mes-
mo lugar onde os justiceiros ma-
tavam nos anos 1980. A engrena-
gem da violência passou a funcio-
nar, com círculos de vingança e
assassinatos. Todos perdiam. A
partir do ano 2000, com a socie-
dade saturada de tragédias, 1980
abriu-se espaço para que as polí-
18,5 2010
ticas públicas tivessem mais efei-
to. Os homicídios, então, caíram.
14,5
1970
1950 1960 9,9 13,3
2012

4,6 5,7

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