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PEC – CACHAÇA
Planejamento Estratégico para a Cadeia Produtiva
da Cachaça
PEC – Cachaça
R ELATÓRIO F INAL
Palavras de
Margareth Cesar Rezende Pereira Lima
Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça
Conteúdo
1 Introdução 5
2 Objetivo 8
3 Cadeia Produtiva da Cachaça 8
4 Ambiente Institucional 13
5 Ambiente Tecnológico 18
6 Ambiente Organizacional 23
7 Ambiente Competitivo 29
8 Entrevistas com agentes do setor 34
9 Pesquisa com consumidores 49
10 Competitividade da Cadeia Produtiva da Cachaça 57
11 Workshop de Planejamento estratégico da cadeia produtiva da cachaça 60
12 A Cadeia Produtiva da Cachaça: Momento atual e visão de futuro 72
13 Casos Inspiradores de outras de bebidas alcoólicas no mundo 74
14 Recomendações para a cadeia produtiva da cachaça 84
15 Considerações finais e Próximos passos para Planejamento Estratégico da Cadeia
Produtiva da Cachaça 90
Anexo I – Leis, Decretos, Instruções Normativas, Portarias e Resoluções da Cadeia
Produtiva da Cachaça 92
ANEXO II 94
Referências 97
Explicação
PEC – Cachaça
A primeira fase do PEC-Cachaça contemplou a análise dos ambientes institucionais,
organizacional, tecnológico e competitivo que envolve a Cadeia Produtiva da Cachaça. Em
complemento a esse abrangente estudo em bases nacionais e internacionais, foram conduzidas
entrevistas com diversos agentes do setor a partir das quais foram levantadas uma série de
questões que podem ser compreendidas como pontos de mudança, ruptura, conflito ou criação
para competitividade do setor.
Uma secção discute a competitividade da cadeia, revelada pelos resultados passados e
6
os desafios para a competitividade futura. Na sequência são apresentados os resultados do
workshop realizado com representantes institucionais e empresariais dos diferentes atores da
Cadeia Produtiva da Cachaça, no qual foi discutido um conjunto de ações, por sua vez,
voltadas a construção de uma agenda positiva para cadeia produtiva da cachaça. Por fim a
última parte trás uma discussão sobre o momento atual da cadeia da cachaça e visão de futuro.
A metodologia na qual se baseou o presente trabalho assume que a competitividade de
uma cadeia produtiva está condicionada pelas relações entre os segmentos produtivos e
influenciada por quatro níveis distintos de ambientes: i) institucional, que corresponde ao
conjunto de relações comerciais e financeiras que se estabelecem entre todos os estágios de
transformação do produto e que está regido por regras que impõem limites e influenciam as
trocas; ii) tecnológico, que diz respeito ao estágio de desenvolvimento técnico, uma vez que o
sistema produtivo se constitui de uma sucessão de operações de transformações dissociáveis,
separadas e ligadas entre si por encadeamentos tecnológicos. O “espaço tecnológico” é
suscetível à transformação em função do estado de conhecimento técnico dominante e de
modificações organizacionais das relações de trabalho; iii) organizacional, que se refere a
possibilidade de estruturação de ações coletivas e seu papel na obtenção de bens que suprem
as falhas de mercado, tais como a provisão de informações (de preços, tecnologia, projeções
de oferta e demanda, estatísticas, prospecção de novos mercados) na criação de padrões de
qualidade e normas técnicas e/ou na modificação das regras do jogo em benefício do setor
(lobby); iv) competitivo, relacionado ao conjunto de ações econômicas que regem a
organização dos meios de produção e asseguram as articulações das operações entre seus
segmentos em função do grau de interação entre as empresas de cada segmento. Dentro das
possibilidades de escolha, as empresas podem adotar basicamente estratégias de diferenciação
PEC – Cachaça
ou de custo, para isso adotam relações - integração vertical, contratos relacionais ou formais,
com seus clientes e fornecedores que qualificam a rede de trocas.1
O Quadro1 apresenta as variáveis chaves de análise e as questões que surgem em cada
um dos ambientes de interesse competitivo para a cadeia da cachaça. A caracterização dos
ambientes se baseia nos principais segmentos da cadeia produtiva apresentada na Seção 3 do
trabalho.
7
Quadro 1: Ambientes de Interesse e Variáveis chaves de Análise
Ambiente Tecnologico
Qual o paradigma tecnológico •Trajetória tecnologicas
dominante? Qual é o estágio •Estágio da difusão (inovações radicais /
de difusão das inovações? incrementais)
Quais as implicações para o • Desenvolvimento de novas soluções tecnológicas
setor?
•Organizações
Ambiente Organizacional corporativas
Quais as ações coletivas que a cadeia da cachaça •Bureaus Públicos e
poderia adotar para modificar as regras do jogo em privados
benefício do setor? Quais os bens coletivos poderiam •Institutos de Pesquisas
ser supridos? •Políticas Setoriais
Privadas
1
Abordagem teórica baseada em Farina, Azevedo e Saes (1997).
PEC – Cachaça
2 OBJETIVO
O presente relatório tem como objetivo central apresentar uma análise dos ambientes
institucionais, organizacionais, tecnológicos e competitivos que circunscrevem a cadeia
produtiva da cachaça e dos principais pontos de melhoria e ruptura identificados nas
entrevistas conduzidas com diferentes agentes do setor. Pretende-se, com isso, subsidiar o
delineamento de ações coletivas (agenda positiva) em vista a criação de vantagens
competitivas para a Cadeia Produtiva da Cachaça.
8
Antes dessa análise é necessário caracterizar o objeto de análise, ou seja, a cadeia
produtiva da cachaça.
PEC – Cachaça
A produção agrícola de cana-de-açúcar, sobretudo a de grande escala, pode sofrer
influência do mercado de açúcar e etanol. Em grandes quantidades o setor da cachaça
concorre com grandes grupos sucroalcooleiros na obtenção de matéria-prima (cana-de-açúcar
ou até mesmo etanol produzido em propriedades agrícolas equipadas com equipamentos de
destilação de pequeno e médio portes). Em escalas menores, a cana-de-açúcar deixa de ser
interessante (em termos de custo de negociação) para grandes usinas sucroalcooleiras.
Adicionalmente é preciso lembrar que a cana apresenta especificidade locacional, ou
9
seja, ela somente será processada próxima ao local onde foi cultivada. No caso da cachaça, o
tempo de espera entre a colheita e a moagem interferem diretamente na qualidade do produto
final (PEREIRA; ROSA; FARIA, 2006; SOUZA et al., 2013). O cultivo da cana-de-açúcar
para a produção de cachaça geralmente é feito pelo próprio produtor quando em pequena
escala de produção da cachaça, podendo este engarrafá-la ou comercializá-la a granel e numa
produção em média ou grande escala são necessários outros fornecedores de cana para atender
a demanda de produção da destilaria. Ao contrário da cana, a cachaça pode ser armazenada
por tempo indeterminado e transportada em longas distâncias. Grandes engarrafadores, por
exemplo, podem adquirir cachaças em diferentes localidades do país.
Existe um número muito grande de produtores que fabricam cachaça em equipamentos
de destilação descontínuos, comumente denominados de alambiques em volumes muito
pequenos (100 a 2500 litros de cachaça mensais). Esses produtores utilizam, muitas vezes,
mão-de-obra familiar e tem grande dificuldade de inserir seus produtos no mercado (por
questões legais, técnicas, gerenciais e econômicas). O volume de cachaça negociado com
engarrafadores, distribuidores e varejistas pode ser considerado uma barreira para pequenos
produtores.
Produtores de pequena escala podem recorrer ao cooperativismo2 como forma de
ampliar suas margens de lucro na negociação da bebida com as envasilhadoras. Também é
possível que cooperativas regionais engarrafem a cachaça e a comercializem com marca própria.
Contudo, ações cooperativas na gestão de canais de distribuição e logística (distribuição própria)
ainda são pouco expressivas.
Pequenos produtores com marcas consolidadas podem recorrer à produção de cachaça
em seu entorno como forma de responder aumentos na demanda. Engarrafadores de maior
2
A formação de cooperativas e associações entre produtores representa uma alternativa para captação de
recursos, melhoria de qualidade na produção, marketing, acesso a informações de mercado e novas tecnologias,
negociação com fornecedores, prospecção de mercado e desenvolvimento de estratégias de diferenciação local
(VERDI, 2005).
PEC – Cachaça
porte normalmente recorrem a cooperativas e fornecedores pré-qualificados como forma de
abastecimento. A padronização e o envelhecimento em tonéis de madeira podem ser vistos
como práticas tecnológicas utilizadas para uniformizar e agregar valor, respectivamente, ao
produto final.
A venda fracionada comumente denominada venda em dose da cachaça em bares,
restaurantes e boates, locais conhecidos por “pontos de dose”, assumem um papel importante
na cadeia de distribuição da bebida. Sobre isso, esforços individuais e coletivos têm
10
convergido no sentido de buscar agregar valor a cachaça no ponto de consumo. Exemplos
podem ser vistos na criação e divulgação da “Carta de Cachaças” pela Associação
Pernambucana de Produtores de Aguardente de cana e Rapadura (APAR, 2013) e na recente
parceria firmada pelo IBRAC e SENAC para formação de especialistas, ou “sommeliers de
cachaça” (IBRAC, 2013).
Em alguns casos a venda direta, através de comércio eletrônico ou loja própria, serve
de alternativa para comercialização da cachaça produzida em pequenos alambiques. Alguns
produtores têm desenvolvido parcerias pontuais com bares, restaurantes e lojas especializadas
para vender e divulgar sua cachaça. Outra alternativa que vem crescendo e pode ser
interessante para pequenos e médios produtores é o turismo associado a produção de cachaça.
A participação de grandes grupos de produção e comercialização de bebidas, nacionais
e internacionais como a Diageo e a Campari, ajudam a inserção da cachaça em grandes redes
varejistas e em bares e restaurantes. Essas empresas, além de forte investimento em
publicidade, utilizam de amplo portfólio de produtos e canais de distribuição abrangentes para
colocar seus produtos, incluindo a cachaça, em diferentes pontos de venda, inclusive em
camadas sociais mais altas, onde o produto não tinha grande penetração e consumo em todo
território e, até, internacionalmente.
Na Figura 1, as setas indicadas com T1 e T2 representam, respectivamente, a aquisição
de insumos agrícolas e maquinários por parte do produtor de cana-de-açúcar. A produção de
cana pode ser integrada verticalmente à produção de cachaça, mas também podem ocorrer
diferentes formas de relacionamento entre o produtor agrícola e os segmentos que sucedem.
T5 representa as transações existentes entre o produtor de cana-de-açúcar com a pequena e
média empresa de cachaça, cooperativas, grandes empresas e a indústria sucroalcooleira. T3 e
T4 representam a aquisição de máquinas e equipamentos e insumos industriais,
respectivamente, por parte dos produtores de cachaça, cooperativas e envasadores. A cachaça
produzida por pequenos produtores pode ser comercializada a granel com empresas
envasilhadoras (T6), cooperativas (T7) ou com o grande produtor de cachaça (T11). Por outro
PEC – Cachaça
lado, pode ser envasada pelo próprio pequeno produtor e distribuída diretamente ao varejo ou
venda no próprio local de produção (T7) ou então direcionada à cooperativa (T8) que fará o
papel de distribuidor. As cooperativas, por sua vez, podem envasar e comercializar a cachaça
engarrafada por diferentes canais de distribuição (T10) ou comercializar cachaça a granel com
o grande produtor (T11). A cachaça engarrafada pode ser comercializada por diferentes canais
de distribuição, passando por distribuidores (T13) e exportadores (T14), ou chegando, através
da distribuição própria a canais de comercialização, como grandes redes varejistas, pequenos
11
varejos ou estabelecimentos de venda fracionada.
PEC – Cachaça
Figura 1: Cadeia Produtiva da Cachaça
Fonte: Elaborado pelos autores
12
3.1 Panorama geral do setor de Cachaça
Segundo o IBRAC (2013) a capacidade instalada de produção de cachaça gira em
torno de 1,2 bilhões de litros e estima-se que a capacidade instalada esteja distribuida entre 15
mil estabelecimentos. De acordo com os dados do último censo do IBGE em 2006, foram
levantados quase 12 mil estabelecimentos produtores no país em área rural, e pelo menos 3
mil estabelecimentos localizados em áreas urbanas. Porem são apenas 1.483 os
estabelecimentos e 4.182 marcas devidamente registrados no Ministério de Agricultura e
13
Receita Federal. Essa disparidade entre as estimativas do IBRAC e estabelecimentos
registrados nas estatísticas oficiais se deve à existência de muitos produtores informais. A
informalidade é reflexo, segundo agentes do setor (CORS, 2013)3, da alta carga tributária que
incide sobre os pequenos produtores, aspectos culturais dos produtores e dos consumidores,
dificuldade técnica de legalização em função da legislação tributária e sanitária e falta de
fiscalização eficiente.
A disponibilidade de informações sobre produção, venda e exporatção de cachaça, é
crítica no setor. A informação levantada pelo IBGE sobre a produção de cachaça considera
também a produção de rum, de forma que os dados não representam a realidade do setor
produtivo. Optou-se por não apresentar neste estudo informações que não fossem endossadas
pelos agentes do setor.
4 AMBIENTE INSTITUCIONAL
4.1 Padrões de Identidade e Qualidade da Cachaça
Um ponto importante que permite reforçar (ou inibir) a competitividade em
determinado setor produtivo reside na definição das regras do jogo que irão balizar e
influenciar as transações entre fornecedores e clientes. A criação de padrões públicos ou
privados, por exemplo, são aspectos fundamentais na construção da identidade de um produto
e na sua credibilidade junto ao consumidor. No caso específico da produção da cachaça, tendo
em vista a proteção da denominação típica, os padrões permitem atenuar assimetrias de
3
CORS - Centro para Estudos em Organizações. Planejamento Estratégico do Instituto Brasileiro da Cachaça:
Entrevista Com Agentes do Setor. Entrevistas realizadas com agentes do setor durante o período de julho a
novembro de 2014. 2013.
PEC – Cachaça
informação do tipo “o que é cachaça” e “o que esperar de uma cachaça em termos de
segurança alimentar”. Neste sentido, a legislação Brasileira vigente define:
“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no
Brasil, com graduação alcoólica de 38 a 48% em volume, a 20ºC, obtida pela
destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar, com características sensoriais
peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos
em sacarose” (BRASIL, 2009, Art. 53).
Por fim, a cachaça é um produto da cultura brasileira e sua produção é muito comum
em todas as regiões do Brasil. Algumas vezes, ela acontece em pequenas escalas voltada para
o “consumo próprio”, sem intenção comercial. Ocorre que a legislação não contempla tal
particularidade e produtores enquadrados desta maneira são informais ou mesmo “ilegais”.
4
Cabe lembrar que uma IN, por definição, é uma norma complementar administrativa que visa detalhar aspectos
estabelecidos em leis, portarias e decretos, não podendo assim sobrepor-se a esses. Dentro de um contexto
dinâmico competitivo, as INs podem ser revisadas e reestruturas mais facilmente que Decretos Federais.
PEC – Cachaça
Toda a legislação existente que regulamenta a produção, envase, rotulagem e
comercialização da cachaça está apresentado no ANEXO I - Leis, Decretos, Instruções
Normativas, Portarias e Resoluções.
4.2 Caipirinha
Uma tradicional forma de consumo da cachaça, difundida internacionalmente, é a
caipirinha. Sobre isso, chama à atenção a existência de uma definição para caipirinha que
aplica-se somente à caipirinha pronta para consumo (ready to drink) e não há uma definição 15
institucionalizada para aquela bebida produzida em bares e restaurantes imediatamente antes
do consumo. O Decreto n° 6.871, de 4 de junho de 2009 define:
“A bebida prevista no caput, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por
cento em volume, a vinte graus Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar,
poderá ser denominada de caipirinha (bebida típica do Brasil), facultada a adição de
água para a padronização da graduação alcoólica e de aditivos.”. (BRASIL, 2009,
art. 68).
4.4 Certificação
Por meio de Organismos de Certificação de Produto – OCB, o INMETRO concede o
selo que atesta que a cachaça está em conformidade com os critérios definidos no Programa
de Avaliação da Conformidade para Cachaça. A certificação do INMETRO é voluntária e
segue à IN 13/2005, uma vez que não vai além das suas exigências. Assim, o selo do
INMETRO não indica que uma cachaça certificada possua qualidade superior à outra não
certificada, mas atesta que a cachaça foi produzida e engarrafada conforme os padrões
estabelecidos pela Instrução Normativa. Essa certificação deverá ser renovada a cada três
anos. O INMETRO passou a conceder a certificação voluntária da cachaça em
24 de junho de 2005, data da publicação da Portaria nº 126 no Diário Oficial da União
(DOU).
Outras certificações voluntárias existem como uma tentativa de diferenciação de
produto. A AMPAQ (Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de
PEC – Cachaça
Qualidade) completa, em 2013, vinte anos do “selo de qualidade AMPAQ”. A associação
reúne produtores de cachaça que utilizam alambiques descontínuo do estado de Minas Gerais.
Alguns críticos ao selo da AMPAQ alegam que a certificação mineira representa uma ruptura
à construção de uma identidade para cachaça brasileira. Neste caso, o selo posiciona a
cachaça mineira como sendo a única passível de ser acreditada como um produto de qualidade
e desconsidera a existências de cachaças de qualidade advindas de outros estados. Contudo, a
iniciativa é importante para o estado de Minas Gerais, que com um número muito grande de
16
pequenos produtores de cachaça, pode assegurar ao consumidor aquelas que certamente estão
dentro de padrões de qualidade.
Com relação à certificação de produto orgânico, a partir de 2007 o Decreto
Presidencial nº 6.323 regulamentou a lei nº 10.831 que estabelece a criação do Sistema
Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica. O sistema é composto pelo MAPA,
órgãos fiscalizadores de estado e pelo INMETRO. Este último é responsável pela acreditação
dos Organismos de Avaliação de Conformidade (OAC). Os OAC são as entidades
interessadas em certificar os produtores de orgânicos. O selo do MAPA se torna obrigatório
para todos os produtores de produtos orgânicos certificados por um OAC.
PEC – Cachaça
exportada está sendo produzida dentro das regras de um “caderno de especificações5”.
Existe uma visão no setor de que o pequeno e médio produtor são penalizados por uma
tributação superior à da grande empresa produtora. Contudo, argumenta-se também que os
impostos diretos são proporcionais ao valor final do produto e que a lógica de tributação
desigual não faz sentido e que o que acontece é que produtores pequenos e médios têm em
5
Termo usado pela União Europeia para definir as especificações que devem ser cumpridas para uma Indicação
Geográfica. Em resumo, o Caderno de especificações é o documento que contém os elementos e as
características técnicas do produto para o qual se solicita o registro como indicação geográfica.
6
O SIMPLES é aplicável às microempresas (ME) e as empresas de pequeno porte (EPP), nos termos da Lei
Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (conhecida por Lei Geral das ME e EPP). Contudo, segundo a
referida lei, não pode optar pelo SIMPLES Nacional a empresa que exerça atividade de produção ou venda no
atacado de bebidas alcoólicas, bebidas tributadas pelo IPI com alíquota específica, cigarros, cigarrilhas,
charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes. Dessa forma, a
cachaça ou aguardente não podem ser tributadas de acordo com o Simples.
7
Conforme artigo 14 da Medida Provisória nº 1.990-29 de 10 de março de 2000, a partir de 1 de janeiro de 2001,
os produtores de bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres (incluindo aguardente de cana e cachaça) ficaram
impedidos de optar pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das microempresas e
empresas de pequeno porte - SIMPLES.
PEC – Cachaça
geral produtos finais mais caros e consequentemente recolhem mais impostos. No entanto, o
fato é que, até então, não foram realizados estudos tributários capazes de informar qual a
tributação real que incide sobre uma grande, média ou pequena empresa produtora de
cachaça.
5 AMBIENTE TECNOLÓGICO
A produção da cachaça é uma prática secular que remete ao início da colonização
18
brasileira. Sua tradição se confunde, muitas vezes, com a própria história do Brasil. Da
mesma forma que o consumo de cachaça conquistou as mais diferentes classes da sociedade
brasileira, sua produção também se difundiu por quase todo território. É possível dizer que,
onde existe o consumo, também há a produção de cachaça. A história, a cultura, o clima e a
tecnologia de cada região e de cada produtor, fazem de cada cachaça um produto singular.
Pensando nisso, não se pode ignorar a contribuição das diferentes etapas do processo
de produção da cachaça, alinhadas as boas práticas de fabricação, nas características finais do
produto acabado. Inúmeros fatores parecem influenciar o resultado do trabalho que se inicia
no preparo da terra e escolha da variedade da cana-de-açúcar, passa pela colheita e
processamento da cana, fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento, envase, até
chegar à maneira de servir e apresentar a cachaça ao consumidor.
Embora o processo de fabricação da cachaça seja tradicionalmente conhecido, existe
uma grande infinidade de variáveis que podem ser combinadas originando produtos com
características específicas. É justamente essa pluralidade de características físicas, químicas e
sensoriais que tem despertado o interesse do consumidor da bebida, sinalizando um grande
potencial de sofisticação para o produto. Ao final de tudo, é o consumidor quem irá decidir
qual a cachaça de sua preferência (marca, preço, região, envelhecida ou não, adoçada ou
não, madeira, cor, história, reputação, apresentação, segurança etc.).
A tecnologia e sua difusão exercem um papel fundamental no desenvolvimento de
vantagens competitivas para o setor. A aplicação de tecnologia permite agregar valor ao
produto por meio da exploração de atributos únicos ou redução de custos de produção.
Avanços tecnológicos na área das comunicações têm permitido, cada vez mais, que mercados
se comuniquem, disseminando tendências de consumo e informações (boas ou ruins) sobre os
produtos e empresas. A internet oferece um canal de distribuição alternativo para muitos
produtores que não conseguem espaço nas gôndolas de grandes redes varejistas. A seção que
segue procura discutir alguns desses aspectos envolvendo o ambiente tecnológico no qual a
PEC – Cachaça
Cadeia Produtiva da Cachaça está inserida.
PEC – Cachaça
limitação na capacidade de investimento em novas tecnologias por parte de uma significativa
fração dos produtores pode representar um ponto de fraqueza para todo o setor no ambiente
competitivo dinâmico em que se insere. O desenvolvimento de ações coletivas visando à
capacitação de pessoal e desenvolvimento tecnológico pode suprir essa aparente lacuna. Neste
contexto, alguns centros de pesquisa e formação universitária podem ser destacados como
potenciais de desenvolvimento técnico do setor: Centro de Tecnologia SENAI Alimentos e
Bebidas (Vassouras - RJ), Universidade Federal de Lavras (MG), Universidade Federal de
20
Viçosa (MG), Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" – USP (Piracicaba - SP),
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP (Jaboticabal – SP), Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da UNESP (Araraquara- SP), dentre outras.
PEC – Cachaça
os vasilhames chamados de comuns (geralmente utilizados para as cachaças) acabam
segregados a um segundo plano na escala de produção das grandes empresas de produção de
vasilhames de vidro.
Chama a atenção o grande número de marcas comercializadas em garrafa do tipo
âmbar, semelhantes às garrafas de cervejas. Embora esse tipo de embalagem remeta a uma
produção tradicional, a embalagem pode ser considerada de baixo apelo mercadológico
quando comparado a bebidas como uísque e vodca. Adicionalmente pode-se encontrar alguma
21
restrição à exportação de cachaças envasadas em garrafa não transparente. A dificuldade no
fechamento da tampa metálica, após a abertura, também pode afastar consumidores que
buscam maior praticidade. Algumas alternativas podem ser encontradas no mercado desde os
dosadores plásticos tradicionalmente utilizados em bebidas destiladas, sistema de tampa
metálica com rosca e rolhas sintéticas, tipo abre-fecha. A Figura 2 apresenta algumas das
embalagens mais comuns em que a cachaça é envasada.
Figura 2: Exemplo de garrafas de cachaça transparente (965 ml, 700 ml e 50 ml) e âmbar (600 ml)
PEC – Cachaça
Em âmbito nacional, capitaneada pela Câmara Setorial da Cachaça, com apoio do
IBRAC, está em elaboração um manual de boas práticas para a cana e cachaça. O trabalho
está sendo desenvolvido pelo SEBRAE e a expectativa é que seja concluído no ano de 2014
(PINHEIRO, 2012).
22
PEC – Cachaça
6 AMBIENTE ORGANIZACIONAL
6.1 Por que pensar em ações coletivas?
O anseio organizacional por competitividade sustentável (sobreviver e de preferência
crescer em mercados correntes ou mesmo em novos mercados) tem pressionado empresas de
diversos setores a buscarem maior flexibilidade, aprimoramento da capacidade tecnológica e
gerencial, alinhamento às tendências de consumo mundial e inserção em novos mercados.
Essa perspectiva leva a ideia de que os esforços individuais podem não ser suficientes para
23
garantir o desempenho positivo de uma empresa. Em outras palavras, o desempenho de
uma empresa individual está condicionado à provisão de um conjunto de bens públicos
ou privados sobre os quais a empresa não tem individualmente controle (FARINA,
1999).
Mais do que isso, neste contexto dinâmico global, empresas tem-se especializado cada
vez mais em suas atividades de negócio central ao mesmo tempo em que buscam desenvolver
alianças estratégicas para obter insumos, distribuir seus produtos, desenvolver pesquisa,
combinar competências, utilizar know-how de outras empresas, partilhar riscos, explorar
novas oportunidades e conseguir maior penetração em novos mercados. Adicionalmente, a
atuação dessas redes e associações pode modificar as regras do jogo em benefício do setor
(lobby) e também na criação de padrões de qualidade e normas técnicas, protegendo a
identidade de seu produto e garantindo credibilidade junto a novos mercados.
Essas alianças estratégicas podem ocorrer localmente pela associação de produtores de
uma determinada região (clusters), mas também ocorrem em um contexto mais amplo,
formando grandes redes de cooperação nacionais ou internacionais. Os esforços coletivos
despendidos ao nível regional ou nacional são complementares e podem ser vistos como
fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento de vantagens competitivas individuais e
para o setor como um todo.
O presente capítulo aborda, em complemento às análises de ambiente institucional e
tecnológico apresentadas anteriormente, um panorama de como a Cadeia Produtiva da
Cachaça tem-se organizado ao nível nacional (Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da
Cachaça e Instituto Brasileiro da Cachaça) e ao nível regional (Associações Regionais), bem
como procura descrever a rede de cooperação em que participam essas instituições regionais e
nacionais.
PEC – Cachaça
Em relação a ações coletivas, verificam-se esforços para o reconhecimento de regiões
produtoras8 e para a consolidação de organizações de representação de interesses do setor, nas
esferas local e nacional. Parte dessas iniciativas convergem para a construção de padrões
privados de qualidade e identidade da cachaça, defesa dos interesses do setor, divulgação da
cachaça no Brasil e no mundo, transmissão de informações sobre mercado e estatísticas do
setor, desenvolvimento de parcerias estratégicas para capacitação e suporte técnico e
gerencial, articulação com governo na revisão de leis e desenvolvimento de acordos para o
24
reconhecimento da cachaça internacionalmente.
De forma geral, as associações de produtores de cachaça têm como objetivo defender
os interesses de seus associados, possibilitando toda a atualização necessária quanto às
normas vigentes no país, dando suporte jurídico e mercadológico para que consigam o
desempenho esperado em mercados nacional e internacional. As associações buscam também
representar os interesses dos produtores nos demais elos que compõem o sistema produtivo da
cachaça.
Ao nível nacional, duas iniciativas devem ser destacadas: a Câmara Setorial da Cadeia
Produtiva da Cachaça do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fundada em
2004; e o Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC, que iniciou suas atividades em 2006.
Esforços empenhados por essas duas instituições têm resultado no fortalecimento do setor e
projeção no mercado internacional.
De forma localizada, as associações regionais têm um importante papel na
inserção de pequenos e médios produtores. Além de gerenciar e proteger a identidade e
qualidade da cachaça regional, essas organizações servem, muitas vezes, de ponte entre
produtores e a Câmara Setorial e o IBRAC, garantindo não somente que as necessidades
locais sejam levadas à pauta de discussão nacional, mas também possibilitando que as
ações estratégicas definidas em esferas mais abrangentes atinjam níveis de
desenvolvimento local (capilaridade para as ações coletivas).
8
Em 2007 foi concedida pelo INPI a Indicação Geográfica de Procedência, “Paraty” para cachaças produzidas
na região de Paraty no Estado do Rio de Janeiro.
PEC – Cachaça
Figura 3 – Representação da relação entre as instituições participantes da cadeia produtiva da cachaça.
Governo Brasileiro
25
Associações Produtores e Distribuidores e
Regionais Envasilhadores Grupos Internacionais
Representações Intersetoriais
(ex. ABRABE, ABBA etc.)
PEC – Cachaça
Plantadores de Cana do Brasil (FEPLANA), Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC),
Instituto Brasileiro de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO),
Instituto Nacional da Propriedade Industria (INPI), Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e pequenas Empresas (SEBRAE), Sindicato das Indústrias de Cervejas e bebidas em
Geral do Estado de Minas Gerais (SINDEBEBIDAS – MG), Sindicato da Indústria de
Bebidas em Geral do Ceará (SINDEBEBEIDAS – CE) e Sindicato da Indústria de Bebidas
26
em Geral do Estado de São Paulo (SINDEBEBEIDAS – SP).
Ao agrupar representantes de diferentes setores, inclusive governo, a Câmara Setorial
constitui certamente o mais abrangente fórum de discussão de assuntos relacionados ao setor
da cachaça atualmente.
Dentre os assuntos tratados na Câmara Setorial encontra-se a revisão de normas
técnicas, proposição de regimes específicos de tributação e acordos internacionais.
Dentre os frutos do trabalho da Câmara Setorial em conjunto com outras instituições
do setor privado, a “Agenda estratégica 2010-2015” procuraram pontuar, de forma
sistematizada, um conjunto de ações a serem realizadas em médio e longo prazo, divididas em
nove eixos temáticos considerados críticos para o setor: 1) Estatística; 2) Pesquisa,
desenvolvimento e Inovação; 3) Assistência Técnica; 4) Defesa agropecuária; 5) Marketing e
promoção; 6) Gestão da Qualidade; 7) Governança na cadeia; 8) Legislação; 9) Negociações
internacionais.
Grande parte dessas ações vem sendo desenvolvida conjuntamente com outras
instituições privadas, como o IBRAC e associações regionais. O trabalho representa uma
referência para o setor em termos de ações coletivas e serve de base para que as entidades
regionais e nacionais desenvolvam seus respectivos planejamentos estratégicos.
É importante destacar o papel político da Câmara Setorial na articulação dos interesses
coletivos do setor com o governo e outras instituições como IBGE, INMETRO, INPI e
Ministérios.
6.4 IBRAC
O Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC constitui uma organização coletiva
privada, de associação voluntária, de abrangência nacional, que reúne as principais empresas
do segmento produtivo da cachaça (produtores, estandardizadores e envasilhadoras) bem
como as principais entidades de classe do setor. Seus associados estão agrupados em quatro
categorias (IBRAC, 2013):
PEC – Cachaça
Produtores, estandardizadores (padronizadores) e envasilhadores;
Associados coletivos (entidades de classe);
Associados institucionais (órgãos do governo, entidades privadas com
atividades voltadas a pesquisa, dentre outros);
Associados honorários (pessoas físicas).
Desde sua criação, o IBRAC tem reunido esforços no delineamento e execução de
ações coletivas para a proteção e promoção da cachaça no mercado nacional e internacional.
27
Diferente da Câmara Setorial, que constitui um grupo representativo do setor junto ao MAPA,
o IBRAC defende e executa ações coletivas alinhadas aos interesses de seus associados,
pertencentes ao setor privado. Pela sua abrangência e número de associados, o IBRAC é a
principal entidade de classe do setor e tem participado ativamente das discussões
conduzidas na Câmara Setorial e, ao final de tudo, acaba desenvolvendo ações alinhadas
às decisões da Câmara. Na verdade, o IBRAC tem-se tornado uma peça fundamental na
articulação de ações conjuntas com outras instituições como SEBRAE, SENAC, SENAI e
APEX. As atuações da Câmara Setorial e do IBRAC podem ser vistas como complementares
na organização do setor.
Assim, o IBRAC tem como objetivo promover, ordenar institucionalmente e colaborar
com as autoridades competentes no controle e regulamentação da cachaça, da aguardente de
cana e de outras bebidas derivadas da cachaça ou da aguardente de cana, assegurando o
cumprimento da legislação nacional.
Dentre as ações priorizadas pelo IBRAC visando à consolidação e reconhecimento da
cachaça como um destilado genuinamente brasileiro, pode-se citar:
Articulação junto ao Governo Federal para redução da carga tributária,
principalmente para os micros, pequenos e médios produtores;
Articulação junto ao Governo Federal para regularização das Cooperativas
produtoras de Cachaça;
Gestão de convênios junto a Apex - Brasil do Projeto Setorial de Promoção de
Exportação de Cachaça;
Acompanhamento do processo de reconhecimento da cachaça nos Estados
Unidos;
Desenvolvimento de ações para o reconhecimento da cachaça como um
produto genuíno e exclusivo do Brasil;
PEC – Cachaça
Desenvolvimento de ações de combate à clandestinidade e à informalidade
(Campanha Cachaça Legal).
9
A Associação Pernambucana dos Produtores de Aguardente de Cana e Rapadura - APAR, por exemplo, é um
caso interessante de associação regional que reúne pequenos e grandes produtores na promoção da cachaça
regional. O desenvolvimento de ações sinérgicas na APAR permite ganhos multilaterais entre seus associados.
PEC – Cachaça
objeto de ações coletivas descritas anteriormente, apresentam um número bem superior de
artigos quando comparadas às pesquisas sobre a cachaça. Essa informação é interessante, pois
nos informa que as outras bebidas receberam uma atenção bastante superior que a cachaça na
academia e estas pesquisas geralmente relacionadas aos benefícios da bebida, qualidade,
segurança, mercado, consumo etc., permitem o desenvolvimento de ações no setor com o
suporte de estudos com alta validade e confiabilidade, características esperadas em estudos
acadêmicos.
29
Quadro 3 - Estatística das publicações acadêmicas sobre algumas bebidas selecionadas (mundo)
Bebida # publicações
Vinho (geral) 82.766
Champanhe 3.142
Uísque 2.229
Tequila 458
Cachaça 213
Fonte: Web of Knowledge10
7 AMBIENTE COMPETITIVO
É complexo quantificar precisamente o volume total de cachaça produzida no Brasil.
A grande diversidade de produtores e empresas, em suas diferentes escalas de produção e
operação, elevados índices de informalidade, a baixa barreira tecnológica à entrada de novas
empresas e a falta de um controle mais rígido sobre o que é produzido são alguns dos fatores
que dificultam elaborar uma fotografia quantitativa da produção de cachaça no País. Algumas
estimativas sugerem uma capacidade de produção instalada na ordem de 1,2 bilhões de litros
por ano dividida entre cerca de 15 mil produtores e um pouco mais de quatro mil marcas de
cachaça (IBRAC, 2013).
As microempresas correspondem a 99% do total de produtores de cachaça. Suas
atividades agropecuárias incluem a produção de milho, feijão, café, e leite, entre outras, e a
produção de Cachaça. O setor da Cachaça é responsável pela geração de mais de 600 mil
empregos, diretos e indiretos (SEBRAE, 2013).
10
Trabalhos científicos no Web of Science. Site. Disponível em:
<http://apps.webofknowledge.com/UA_GeneralSearch_input.do?product=UA&search_mode=GeneralSearch&S
ID=2Cv1UsVV4ha12oLIBjd&preferencesSaved=>. Acesso em: 27 jan. 2014.
PEC – Cachaça
comportamento deste mercado no que se refere à evolução da produção, seu tamanho e
principais agentes. Assim, as projeções de futuro devem ser olhadas também com cautela.
Estimativas para o ano de 2017 preveem que o volume do consumo de cachaça decairá
em 3% em relação ao ano de 2012 enquanto o valor consumido crescerá 5%, resultando em
uma valorização média do produto consumido de cerca de 9% (EUROMONITOR, 2013).
O mercado de cachaça pode ser segmentado, grosso modo, em dois grandes grupos
estratégicos: o da cachaça voltada para o consumo em massa e o da cachaça diferenciada. No
30
primeiro grupo verifica-se a forte presença de grandes grupos industriais, que adotam
estratégias de baixo custo e distribuição com alta capilaridade no mercado para atender seu
público-alvo. No segmento de cachaças para consumo em massa a concorrência se dá, quase
sempre, por marcas e preços. Um importante canal de comercialização das marcas populares é
a venda em doses em bares populares (botecos e vendas), também chamados ‘pontos de dose’.
No segundo grupo (cachaças diferenciadas) atuam grande quantidade de produtores e
envasilhadores de diferentes escalas. Além das características intrínsecas do produto (atrativo
sensorial), a informação disponível é um elemento importante na escolha do consumidor. A
informação é dada por marcas famosas e pela reputação de regiões produtoras. Inclui-se nesse
segmento diversos tipos de cachaça, desde as cachaças premium e extra premium (cachaças
envelhecidas com elevado valor agregado), passando por produtos com denominação de
origem (Indicação Geográfica como o caso da cacha de Paraty e Salinas ou reputação de
regiões tradicionalmente produtoras), certificação de produto orgânico, até cachaças que
utilizam algum tipo de alternativa tecnológica como bi-destilação, envelhecimento parcial ou
“blendagem” com objetivo de atender a um público específico.
Acredita-se que no segmento de cachaças diferenciadas a elasticidade da renda da
demanda seja positiva, ou seja, o aumento na renda incentivaria o consumo de cachaças
diferenciadas. Seguindo esse raciocínio, a atual conjuntura socioeconômica brasileira,
sobretudo o aumento do poder de compra da população contribui para o aquecimento do
mercado de cachaças diferenciadas, com elevada qualidade e ingredientes e atributos de alto
valor agregado (EUROMONITOR, 2013).
A cachaça de consumo em massa comportar-se de forma contrária, o incremento na
renda do consumidor induziria a substituição por cachaças mais sofisticadas ou até outras
bebidas como a cerveja (EUROMONITOR, 2013).
PEC – Cachaça
7.1.1 Papel de grandes grupos envasilhadores
A aquisição de marcas tradicionais de cachaça como Nega Fulô, Ypióca e Sagatiba por
grandes grupos internacionais como a Diageo e a Campari pode ser encarada como indicativo
de que o mercado de cachaças tende ao crescimento e a sofisticação. As estratégias adotadas
por esses grupos empresariais normalmente reúnem canais de distribuição eficientes, portfólio
de produtos variado (diferentes bebidas) e campanhas de publicidade.
Cabe destacar que a cadeia produtiva da cachaça, sobretudo as empresas de pequeno
31
porte, dificilmente conseguem atender as exigências de grandes redes varejistas, ter grande
amplitude na distribuição ou mesmo fazer grandes investimentos em publicidade. A ação de
grupos internacionais e de grandes engarrafadores pode ser vista de forma positiva na
divulgação e disponibilização da cachaça no mercado interno e externo. Em alguns casos, as
grandes empresas adquirem a cachaça de pequenos produtores, engarrafando-a sob marcas
próprias para distribuição nacional e internacional.
7.2 Exportação
A cachaça tem ganhado representatividade no cenário internacional e atualmente é
considerado o terceiro destilado mais consumido no mundo, ficando atrás apenas da vodca e
do sochu, destilado asiático feito de arroz e batata-doce, bebido em toda Ásia (IBRAC, 2013).
A quantidade de cachaça exportada é pouco expressiva se comparada ao volume
dedicado ao mercado interno. Apenas 8,1 milhões de litros, cerca de 15 milhões de dólares,
foram exportados em 2012 segundo dados do Ministério do Comércio Exterior (BRASIL,
2013). Na realidade, pelo quinto ano consecutivo, verifica-se uma tendência de queda na
exportação de cachaça, fato que deve servir de alerta. Espera-se que o acordo com os EUA
reconhecendo a cachaça como bebida típica brasileira ajude a reverter esse cenário de
retração. O valor médio do litro de cachaça exportada fica em torno de U$ 1,80.
PEC – Cachaça
32
O estado com a maior participação em volume nas exportações é São Paulo, sendo
responsável por 47% da cachaça que sai do país. Em segundo lugar vem o estado de
Pernambuco, seguido por Rio de Janeiro e Paraná.
SP
RJ 47,162%
7,992%
PE
23,130%
PEC – Cachaça
mercado norte-americano ser quase três vezes superior ao da cachaça adquirida pela
Alemanha, respectivamente U$ 3,05 contra U$ 1,16. Isso faz com que os EUA ultrapassem a
Alemanha no ranking de valor exportado.
33
Uruguai
Itália
2,794%
3,022%
Espanha
3,999% Paraguai
Argentina 11,217%
4,428%
França
5,338% Estados
Bolivia Portugal Unidos
7,531% 7,966% 9,155%
Fonte: Brasil (2013)
PEC – Cachaça
8 ENTREVISTAS COM AGENTES DO SETOR
PEC – Cachaça
“Ganhos de escala da grande empresa permite produto muito mais barato que por sua
vez recolhe menos impostos. Pequeno produtor fica sem competitividade”.
“Substituição tributária irá prejudicar os pequenos produtores que se verão obrigados a
recolher o ICMS de seu cliente e será ainda mais penalizado pela redução de margens”.
“Reduzir tributação para bebidas é impensável, não há ambiente político para isso”.
“A clandestinidade que existe pode ser atacada com a conscientização do consumidor
final e dos donos do ponto de dose (restaurantes, bares, hotéis) e não com regime de
35
tributação diferenciado”.
“Tributação não é a razão para a informalidade. O regime diferenciado não trará os
informais para a formalidade”.
“A associação por meio de cooperativas é a saída para os pequenos e não a redução de
tributação”.
“A regulamentação da cachaça é recente e precisa de regras passíveis de serem
aplicadas para trazer os informais”.
“Nunca houve o simples da cachaça e a associação em cooperativas produtoras não é
possível por lei”.
"No setor a questão da carga tributária está bem harmonizada e deve ser resolvida em
função de faturamento”.
PEC – Cachaça
8.2.2 Principais Depoimentos
“Controle de padrões de identidade e qualidade deveria estar dentro de um
regulamento de uso da IG da cachaça e seu controle deve ser atribuição de entidade do setor,
como um conselho regulador”.
“Regulamento de uso da IG da cachaça deveria ser controlado pelo IBRAC”.
“Não seria interessante usar o modelo da tequila pois o Brasil todo produz cachaça é
seria muito difícil controlar”.
36
“Padrões de identidade e qualidade contaram com participação do setor, estão
adequados e são atribuição do MAPA”.
“Existe uma dificuldade na formulação de regras para o setor, fruto da
heterogeneidade deste. Deve-se pensar muito antes de reformular padrões, pois podemos
facilitar práticas oportunistas. Existe uma corrente dentro do setor que defende que os padrões
são imposições da grande empresa sobre as pequenas. Isso não é verdade. As regras são
estabelecidas e vem sendo retrabalhadas visando a competitividade do setor”.
“O INMETRO introduziu um selo, mas é desnecessário, pois insere ruído no setor. O
selo é optativo e não garante que um produto que o tem é de maior qualidade que um produto
que não o tem”.
“Certificação de qualidade é importante para o setor, e deveria ser realizada por um
agente privado, com controle pelo INMETRO”.
“Certificação que atesta qualidade é importante para o processo de exportação. O
IBRAC deveria negociar com certificadoras para baratear o custo unitário da certificação”.
“A legislação atual é adequada, porém o controle não ocorre da maneira adequada.
Falta fiscalização”.
“Além das divergências entre “coluna” e “alambique”, no que se refere à legislação
alguns pontos devem ser mudados e revisados, como exemplo, o carbamato de etila em que a
legislação determina um limite muito inferior ao praticado na Europa.
“Pesquisadores da área técnica, poderiam oferecer uma base para as decisões sobre
identidade e qualidade, mas divergem em opinião”.
“Só existe um laboratório autorizado para fazer análises no País, isso é um grande
gargalo. Precisa mandar suas amostras do Paraná para Pernambuco, e o processo leva de 15 a
20 dias, e se torna uma dificuldade importante. Não é possível que só exista um laboratório
acreditado no país”.
PEC – Cachaça
8.3 - Opinião dos Agentes do Setor Sobre a Rivalidade “Alambique” versus “Coluna”
8.3.1 Resumo
Um dos pontos de grande divergência no setor é a distinção entre a cachaça produzida
através do processo de destilação contínua popularmente denominada de “cachaça de coluna”
e a produzida pelo processo de destilação em batelada (destilação descontínua) popularmente
denominade de “cachaça de alambique”.. Alguns entendem ser importante esta separação e
tratam a cachaça “de alambique” como um produto de maior qualidade e prestígio. Acreditam
37
ainda que é importante informar tal diferença ao consumidor a fim de valorizar a cachaça “de
alambique”. Outros veem a distinção como algo desnecessário e que tolhe as forças do setor
em torno de ações conjuntas
8.3.2 Principais Depoimentos
“É importante que o MAPA reconheça diferenças entre “alambique” e “coluna”, pois
o consumidor não conhece. Os estados de MG e RS acreditam que “alambique” tem
características sensoriais mais aceitas pelo consumidor e uma diferenciação pelo órgão
regulador seria interessante”.
“Desafios da comunicação da cachaça, sobretudo na diferenciação entre cachaças de
coluna (mais comoditizadas - menores preços) e cachaças de “alambique” (diferenciadas -
mais caras). O consumidor precisa identificar esta diferença inclusive no rótulo do produto”.
“A separação correta é ‘cachaça de coluna’ e ‘cachaça de alambique’. A ‘cachaça de
coluna branca’ é apropriada para o consumo como drinques, a envelhecida pode ser tomada
pura. No entanto este não é o entendimento do setor, pois as destiladoras de coluna defendem
que sua cachaça é para ser tomada pura também. Contudo, é fato que a cachaça envelhecida é
mais suave e tem características mais agradáveis ao paladar para ser consumida pura”.
“A qualidade do produto não pode ser vinculada ao processo de produção, esse tipo de
classificação não deve ser utilizado”.
“Importante consumidor diferenciar estes os dois tipos de processos de produção de
cachaça. Identificação no rótulo deveria colocar “alambique” no rótulo. Mas controle deveria
ser feito no manual de boas práticas e deveria ter certificação, não como selo do INMETRO,
mas sim de como é feito o processo de alambique – como um ISSO”.
“Regionalmente há muita rixa entre “alambiqueiros” e “colunistas” e as associações
regionais têm papel fundamental como agente catalisador das ações para alinhar estes dois
grupos em torno dos interesses comuns. Ações que podem ter interesse comum: resolução das
questões tributárias, legalização dos agentes que operam na ilegalidade, preparação do setor
PEC – Cachaça
de serviços para oferta da cachaça (pontos de dose), obrigatoriedade dos padrões mínimos de
qualidade definidos pelo INMETRO e controle para fazer valer a legislação em vigor”.
“A cachaça “de alambique”, a “artesanal”, é boa, “a de coluna” é ruim. A indústria
(grande empresa) quer se aproveitar do valor da cachaça”.
“A distinção “alambique” e “coluna” não é relevante, não traz benefícios ao setor”.
“Não é interessante dividir o setor entre cachaça de “alambique” e “coluna”, pois isto
reduz a força de atuação do setor. A distinção entre cachaça de “alambique” e “coluna” não
38
importa uma vez que o produto final é exatamente o mesmo”.
“São apenas processos diferentes. O produtor pode optar por um ou outro, de acordo
com sua necessidade. Como ele vai usar isso é importante e influencia na qualidade do
produto. Essa separação é alimentada por alguns, não faz sentido, mesmo para o consumidor.
Deve-se deixar de classificar os processos por “alambique” e por “coluna”. Indústria
(grande empresa) produz destilado simples que tem adição de açúcar, mas não é cachaça.
Seria um single malte e o blend (como em outras indústrias).
A “cachaça de coluna” não separa coração, cauda, cabeça e tem características muito
mais pobres que a cachaça de alambique.
“Fazer chegar ao consumidor que a cachaça é um produto diferenciado para ser bebido
pura (alambique) e a de coluna (por ser adoçada) poderia ser para drinks. Comunicar que
‘cachaça de alambique’ pode ser bebida pura”
“A distinção não tem sentido, é uma briga desnecessária”.
PEC – Cachaça
“Melhor incentivo para formalização, depois da flexibilização de impostos, são os
exemplos de sucesso como caso da tequila e outros”.
“Deve-se fortalecer o setor regionalmente com adequação técnica e ações coletivas
que possam construir uma marca “cachaça”, hoje bastante desgastada”.
“Câmara setorial tem o papel de promover ações coletivas, mas ainda faz timidamente,
e representa dois produtos diferentes. Um precisa do outro, talvez com indicações geográficas
de regiões diferentes isso reduza os conflitos. Os dois grupos querem vender cachaça e é
39
importante que cada um consiga encontrar sua posição no mercado”.
“Juntos os produtores são mais fortes que sozinhos, e financiados por eles mesmo”.
“Ações coletivas para mercado externo favorece as grandes empresas, mas tudo que é
realizado no exterior para promoção da cachaça acaba de uma forma ou de outra favorecendo
a todo o setor”.
8.5.1 Resumo
Se por um lado há um entendimento de que a informalidade possa se um resultado de
elevada carga tributária e que um regime de tributação diferenciado possa trazer mais
produtores para a formalidade, por outro entende-se que é importante distinguir o que é uma
produção para “consumo próprio” de uma produção informal. A legislação não aborda este
aspecto que deve ser discutido pelo setor. Atribui-se também a informalidade a algo da cultura
nacional, de técnicas produtivas transmitidas pela família e que se torna “pitoresco” ao
consumidor final.
8.5.2 Principais Depoimentos
“A informalidade ocorre em função da carga tributária, baixo valor agregado, o
“pitoresco” de produzir uma cachaça no interior”.
“A informalidade tem uma dimensão cultural em muitas localidades”.
“A informalidade é motivada pela elevada tributação assim o médio produtor não tem
incentivo à legalização. Em geral os associados pequenos e médios acreditam que são mais
tributados que as grandes, pois não tem economia de escala e seus produtos são mais caros e
por isso pagam mais imposto. A redução da carga tributaria a partir da adequação do setor ao
simples é o caminho mais adequado”.
“Os produtos informais trazem insegurança quanto a qualidade da bebida e segurança
da cachaça. No entanto é importante entender a cachaça como um produto da
PEC – Cachaça
cultura brasileira e a forma de produzir é passada por laços familiares. Assim, é importante
separar o “consumo próprio” da comercialização de cachaça não registrada. Não se pode
fechar uma unidade de produção em um sítio se não houver a constatação de que o produto é
vendido. Não há no entanto especificação na legislação sobre o que vem a ser “consumo
próprio” ou consumo para não comercialização e isto deve partir de discussões do setor”.
PEC – Cachaça
em drinques e outros acreditam em um mercado de nicho de produtos de alto valor.
Com relação à concorrência, a visão apresentada é de que a cachaça deve explorar seu
apelo cultural em argumento de venda, principalmente contra a vodca. Há a percepção de que
o Brasil possa explorar eventos como a Copa para coordenar ações em prol da cachaça, mas o
momento para isso parece ter passado.
8.7.2 Principais Depoimentos
“As questões burocráticas para exportação são absurdas, tanto os documentos quanto
41
os custos portuários. ‘É tudo muito complicado’”.
“Dificuldade de conseguir um parceiro para exportar. É possível se adequar nos
termos da lei para exportação, mas a abertura de mercado é muito difícil”.
“Os custos portuários são muitos. Isso faz com que o pequeno seja desfavorecido.
Poderia existir diferenciação para volume de produção”.
“Os principais gargalos à exportação estão relacionados à falta de preparo dos agentes,
sobretudo dos produtores de “alambique” e também a falta de lastro financeiro para suportar a
operação. Falta preparo com relação aos processos para exportar, barreira da língua e mesmo
a falta de cuidado para preparação das ações para promoção de marca própria”.
“Exportação irá reposicionar o produto no mercado interno. Apex apenas financia
participação em feiras. O mesmo produto que é vendido aqui a preço baixo, é vendido lá fora
a preços altos”.
“Mercado externo demanda grandes volumes, marcas únicas e regularidade de
fornecimento – produtores pequenos isolados não conseguem fazer isso. Cooperativas,
associações entre produtores podem possibilitar o acesso ao mercado externo para os
pequenos. Isoladamente é difícil de atingir mercado externo”.
“Não adianta pensar que vamos replicar o consumo interno lá fora. Cachaça deve ser
vista como uma bebida (no mercado externo) de nicho. Ou seja, é uma bebida típica brasileira
e exótica. Mais do que isso, a dificuldade de qualquer bebida em mercados internacionais está
na “orientação de uso”. Para que exista consumo de cachaça lá fora precisamos orientar e
divulgar como se bebe cachaça. No caso da Europa e EUA, o veículo é a caipirinha. Ásia tem
potencial de consumo em shot”.
“Para fora tem que ser “artesanal” (com preço alto). O conhecimento que eles tinham
era da cachaça de coluna usada apenas para drinks. Há mercados para ambos os tipos.
Foco na exportação deve ser os EUA, mas é preciso ter folego, pois para manter ponto
de dose fora custa, só para ter o produto lá U$107”.
PEC – Cachaça
“Cachaça fora do Brasil é para consumo na caipirinha, ou seja, uma cachaça de baixo
valor agregado. Assim, não faz sentido enviar ao exterior cachaça de alto valor. Somente
grandes empresas têm condições de fazer propaganda para exportar seu produto”.
“Não acredito no consumo de cachaça ou qualquer destilado puro. Os consumidores
misturam a cachaça com outras bebidas. A cachaça deve ser consumida com sucos e frutas
tropicais, de preferência. Não precisa ser um produto envelhecido”.
“Quanto à atuação no mercado internacional, é muito difícil, pois um ponto de dose
42
fora do Brasil é muito complicado e caro, na Europa especificamente”.
“O Brasil perdeu a oportunidade de organizar ações coordenadas na Copa do Mundo
para estimular o consumo da cachaça”.
“Cachaça é uma bebida com apelo cultural e dessa forma se diferencia do uísque e
vodca (isso pode ser explorado no argumento de venda)”.
“A cachaça não compete com a cerveja, mas sim com a vodca”.
PEC – Cachaça
“Falta divulgar melhor o que o IBRAC faz”.
“É correto o IBRAC protagonizar isso (Regulamento de Uso da Indicação
Geográfica), sustentado pelos produtores, mas o IBRAC também precisa ir atrás de
financiamento para auxiliar o setor”.
“IBRAC deve focar em conscientização do consumidor”.
“O IBRAC representa muito bem o setor, porém está vivenciando um momento difícil
(baixa arrecadação)”.
43
“Deve ter uma entidade coletiva promovendo e gerenciando a “marca” cachaça.
Precisamos promover a cachaça como todo, mas não adianta promover aqui ou lá fora a
“marca” x como a melhor cachaça do Brasil se não se entende nem mesmo o que é cachaça”.
“Acho que as iniciativas coletivas sempre são mais eficientes, ações independentes
leva à dispersão, é preciso fazer algo consensual. No entanto o controle pelo modelo “CRC”
(Conselho Regulador da Cachaça) é bastante difícil considerando a dimensão do mercado
brasileiro. No caso da tequila havia uma concentração regional que favoreceu a união e
controle da produção”.
“O IBRAC deve ser a referência para a cachaça no Brasil e isto envolve ações de
proteção da Indicação Geográfica e promoção. Mas o modelo atual do IBRAC não é eficiente,
isto é, a relação do IBRAC não deveria ser com as empresas produtoras, mas sim com as
associações. Assim, as associações “filtram” as demandas regionais e de seus grupos de
interesse e o IBRAC lida com menos conflitos. Os associados ao IBRAC devem ser as
diversas associações do setor”.
“Diferenças do setor como um todo devem ser deixadas de lado, e o IBRAC devem se
mais geral para todos”.
“Cachaça Legal – IBRAC são ações pontuais para tentar coibir cachaça clandestina”.
“Relação do IBRAC com Associações regionais é boa, ocorre um bom diálogo”.
“Ações que o IBRAC deve tomar parte: 1) Resolver questão da tributação; 2)
Fiscalização mais eficiente; 3) Flexibilização em função das estruturas de produção; 4)
Campanha mais forte, papel do IBRAC, ideia que foi Cachaça Legal”.
“Antes de construir a imagem cachaça é preciso restaurar a imagem do próprio
IBRAC junto aos produtores”.
“No delineamento da agenda do setor é muito importante considerar o papel de outros
participantes, não só de produtores. Outras instituições devem estar envolvidas nisso
(universidades, secretarias de turismos, associações a bares e restaurantes, etc.). No entanto é
PEC – Cachaça
difícil traçar objetivos comuns em função das divergências no setor”.
“IBRAC será o regulador da cachaça no futuro. Formular ações coletivas, executar e
regular deve ser feito por uma instituição privada, como o IBRAC”.
“IBRAC, Câmara Setorial, Sebrae e programas estaduais (associações). No caso das
associações estaduais deve haver maior esforço no sentido de alinhar os diferentes agentes.
Existe caso de associações que se colocaram como inimigas dos grandes produtores e este
tipo de rixa deve ser quebrada
44
Além das entrevistas, foi aplicado um questionário on-line que foi divulgado pelo
IBRAC com o objetivo de coletar, de maneira sistemática, a opinião dos agentes com relação
aos seguintes tópicos: i) papel do IBRAC; ii) papel da APEX; iii) legislação; iv) tributação; v)
qualidade; vi) concorrência com outras bebidas; vii) conflito: alambique x coluna; viii) ações
coletiva; iv) informalidade. A resposta dos agentes foi dada em escala likert11 de 4 pontos. Na
sequência, são apresentados os resultados do questionário on-line no Quadro 4. Para cada
grupo de questões, foi aplicado um teste estatístico (chi-quadrado) para identificar se existe
diferença estatisticamente significante entre a opinião de associados e não associados e entre
produtores de cachaça de “alambique” e “coluna”. Além disso, foi realizada uma média das
respostas para cada questão, sendo que em uma escala de 1 a 4, a nota 2 é o corte entre
concordância e discordância de cada assertiva.
Foram respondidos 47 questionários de uma amostra não probabilística. Os
respondentes eram basicamente os agentes que fazem parte da rede de contatos e colaboração
do IBRAC. É importante destacar que das 47 respostas obtidas houve certo equilíbrio quando
a associados e não associados ao IBRAC, sendo estes 26 e 21, respectivamente. No entanto,
11 respondentes não eram produtores, mas agentes que de alguma forma estão envolvidos
com o setor (ex.: MAPA, INMETRO, APEX, IBRAC etc.). A relação entre produtores de
cachaça de “coluna” e “alambique” ficou desequilibrada uma vez que somente 3 produtores
de coluna responderam ao questionário. No entanto os três respondentes representam as
principais empresas produtoras de cachaça em volume.
A escala Likert (escala de 4 pontos) é a escala de medida utilizada em formulários de pesquisa. Os pontos são
11
PEC – Cachaça
Com relação a distribuição geográfica dos respondentes, os estados de Minas Gerais,
São Paulo e Goiás responderam por mais de 50% da amostra com 20, 6 e 3 respondentes,
respectivamente. Na sequência, Goiás e Rio de Janeiro tiveram 3 respondentes cada, Paraná
foi representado por duas respostas e com somente um respondente foram representados os
estados do Rio Grande do Sul e do Norte, Pernambuco e Paraíba.
45
PEC – Cachaça
Quadro 4 – Resultado do questionário on-line com agentes do setor
Diferença entre
Média
Diferença entre opinião dos
das
Assertivas Opinião Geral opinião dos Associados produtores de
resposta
e não associados “Alambique” e
s12
“Coluna”
1) Considero que as
ações do IBRAC são Em geral, os associados
importantes para o 3,6 conhecem mais as ações
desenvolvimento da do IBRAC. Os não
cadeia da cachaça associados em parte
2) Considero que as declaram que não
ações do IBRAC conhecem e outros não
favorecem as 3,2 sabem se conhecem as
Os produtores de
exportações de ações.
“alambique” tendem
cachaça Os associados acreditam
Na média, os respondentes a considerar mais
3) O IBRAC está que o IBRAC é
entendem que ser associado importantes as ações
envolvido em importante para o
ao IBRAC é positivo e que do IBRAC, mas ao
práticas que desenvolvimento do
o IBRAC promove ações e mesmo tempo eles
asseguram o setor produtivo da
práticas em prol do setor. têm um maior
cumprimento da cachaça, enquanto uma
3,3 desconhecimento
legislação nacional pequena parte dos não
sobre estas ações.
da padronização, da associados não têm este
produção, mesmo entendimento e
comercialização e uma parcela
qualidade da cachaça. considerável
4) A Associação ao desconhecem as ações e
IBRAC traz se estas são importantes
3,1
benefícios aos para o setor.
associados
5) Conheço as ações
da Agencia Brasileira
de Promoção de
Os associados acreditam
Exportação e
mais na importância da
Investimentos 2,9
As ações da APEX são de APEX para a promoção
(APEX) voltadas à Sem diferença
conhecimento dos agentes da cachaça, enquanto a
promoção da cachaça estatística
do setor e favorecem a maior parte dos não
brasileira ao mercado significativa.
exportação. associados não
externo
conhecem as ações da
6) Acredito que as
APEX.
ações da APEX são
3,1
de interesse para todo
o setor da cachaça
7) A legislação atual Em geral os agentes do
para classificação da 2,2 setor não acreditam que
cachaça é adequada exista incentivos para
8) Os atributos de produzir cachaça de
qualidade da cachaça qualidade, mas em média Há uma percepção pelos Os produtores de
2,2
são bem definidos acreditam que a legislação é associados de que a “alambique”
pela legislação atual adequada e a fiscalização fiscalização seja acreditam que atual
9) Existe fiscalização garante ao consumidor inadequada à garantia da legislação não seja
adequada que garante acesso a uma cachaça de qualidade da cachaça. adequada.
ao consumidor final qualidade. No entanto a
2,2
que a cachaça média esta no limite e
comercializada é um indica que a satisfação
destilado de quanto aos itens 7,8 e 9 não
12
Resposta de 1 a 4, sendo que valores inferiores a 2 representam algum nível de discordância com a assertiva
em questão.
PEC – Cachaça
qualidade são elevados.
10) Existem
incentivos para
1,8
produzir cachaça de
qualidade
11) Existe muita
informalidade no 3,6
setor
12) A informalidade Os produtores de
Os agentes atribuem a alta
do setor é reflexo de “alambique”
3,4 informalidade no setor à Sem diferença estatística
dificuldades acreditam que haja
tributação e legislação significativa.
tributárias muita informalidade
inadequada.
13) A informalidade no setor.
do setor é reflexo de
3,2
falta de legislação
adequada
14) A cachaça
concorre com outras
3,3
bebidas destiladas no
mercado nacional
15) A cachaça
concorre com outras
bebidas alcoólicas
2,9
(exceto destiladas) no Os associados acreditam
mercado nacional A cachaça concorre com que a cachaça concorra
Sem diferença
(ex.: cerveja, vinho,) outros destilados e também com outras bebidas
estatística
16) A cachaça com não destilados no destiladas, mas não com
significativa.
concorre com outras mercado interno e externo. não destiladas no
3,4
bebidas destiladas no exterior.
exterior
17) A cachaça
concorre com outras
bebidas alcoólicas
2,5
(exceto destiladas) no
exterior (ex.: cerveja,
vinho,)
Os associados acreditam
que a cachaça não seja
Na média os agentes
18) A cachaça em uma bebida prestigiada Sem diferença
entendem a cachaça como
geral é uma bebida 2,5 no Brasil, enquanto os estatística
uma bebida prestigiada no
prestigiada no Brasil não associados a veem significativa.
Brasil.
como uma bebida
prestigiada
19) A distinção entre
“cachaça de
alambique” e Os agentes acreditam que Há uma percepção
3,3
“cachaça de coluna” distinguir cachaça “de Há uma visão de que produtores de
é importante para alambique” e “de coluna” é deve haver distinção alambique de que
setor importante, ao mesmo entre as cachaças, que seja importante a
20) A cachaça “de tempo ainda que com ambas podem ser distinção entre
alambique” e “de menos certeza, entendem igualmente de qualidade, “alambique” e
coluna” podem ser 2,6 que ambos podem produzir mas que a cachaça de “coluna” e que
igualmente de cachaça de igual qualidade, alambique tem cachaça “de
qualidade mas mais em geral atribuem reputação de melhor alambique” tem
21) A cachaça “de a maior qualidade à cachaça qualidade. reputação por maior
alambique” tem de alambique. qualidade.
3,3
reputação por maior
qualidade
PEC – Cachaça
22) A cachaça “de
coluna” tem
1,9
reputação por maior
qualidade
23) O setor é bem
coordenado e existe
um órgão que o 2,2
A denominação de origem é
representa de maneira
vista com algo que favorece
adequada
todo o setor bem como
24) Ações para Há pelos associados uma
ações de promoção da
promoção da cachaça percepção de que o setor
cachaça no exterior. Na
brasileira no exterior 2,9 não esteja bem
média os agentes acreditam
favorecem a todo o coordenado.
ser possível a união do setor Sem diferença
setor Os associados acreditam
produtivo em torno de estatística
25) A denominação que as ações de
ações comuns a todos. significativa
de origem promoção no mercado
3,6 Também há o entendimento
("cachaça") favorece externo favoreçam a
de que existe um órgão que
a todo o setor todo o setor.
represente o setor de
26) Acredito ser
maneira adequada ainda
possível a união de
que com menor
todo o setor
3,4 concordância.
produtivo da cachaça
em torno de ações
comuns a todos
27) Conheço o O planejamento
Os agentes têm algum
planejamento estratégico da câmara Sem diferença
conhecimento sobre o
estratégico da 2,8 setorial da cachaça é de estatística
planejamento estratégico da
Câmara Setorial da conhecimento dos significativa
Câmara setorial da cachaça.
Cachaça associados.
28) O uso da
denominação de
Os agentes entendem que
origem deve ser de
uso do nome cachaça deve
uso exclusivo
ser restrito àqueles que Os associados veem
daqueles que Sem diferença
contribuem financeiramente como importante o
contribuem 2,7 estatística
para uma entidade que pagamento pelo uso da
financeiramente pelas significativa
cuida de ações de marca cachaça.
ações de fiscalização,
fiscalização, controle e
controle, certificação
promoção da marca.
e promoção da marca
"cachaça"
PEC – Cachaça
9 PESQUISA COM CONSUMIDORES
O Planejamento Estratégico da Cachaça não seria completo se não considerasse em
sua análise o agente final de sua cadeia produtiva, o consumidor. Para tanto, procurou-se
realizar uma análise das características do consumidor de cachaça, propiciando ganho de
informações úteis ao produtor e aos demais agentes da cadeia produtiva. A presente pesquisa
também permitiu contrastar a visão do consumidor com os relatos colhidos nas entrevistas
com os produtores.
A seguir serão apresentadas as características metodológicas principais da pesquisa
realizada com os consumidores, assim como algumas estatísticas descritivas encontradas
pela pesquisa. Posteriormente serão descritas quais as características determinantes para um
indivíduo ser, ou não, consumidor de cachaça. Também se busca verificar quais outras
bebidas alcoólicas são produtos “complementares” (consumidos em conjunto à cachaça) e
quais são “substitutos” (consumidos em detrimento à cachaça). Por fim, serão evidenciadas
relações entre a frequência de consumo de cachaça e de outras bebidas.
PEC – Cachaça
respondentes distribuídos em diferentes regiões da cidade de São Paulo e contou com um
pré-teste com 50 indivíduos, o qual validou a realização da pesquisa final.
Inicialmente serão expostas algumas das estatísticas descritivas mais pertinentes ao
entendimento do padrão de consumo da cachaça. A Tabela 1 a seguir apresenta as
características da amostra pesquisada. Inicialmente percebe-se que há uma distribuição
adequada com a proporção total da população, quanto às diferentes faixas etárias.
Lembrando que, como a pesquisa se relaciona ao consumo de bebidas alcoólicas,
apenas foram entrevistados indivíduos maiores de 18 anos.
PEC – Cachaça
Tabela 3 - Estratificação por Nível de Escolaridade da Amostra
ESCOLARIDADE Freq. %
Fundamental incompleto 28 5,6
Fundamental completo 68 13,6
Segundo grau incompleto 40 8,0
Segundo grau completo 143 28,6
Técnico 11 2,2
Graduação incompleta 64 12,8
Graduação completa 99 19,8
Pós-Graduação incompleta 8 1,6
Pós-Graduação completa 39 7,8
Total 500 100,0
Fonte: elaborado pelos autores.
PEC – Cachaça
forma de outros drinques. Vale ressaltar que aqui de forma análoga, um respondente utiliza
uma ou mais forma de consumo e compra do produto em análise.
Por meio dos dados apresentados é notado que o consumidor de cachaça em geral
tem preferência de consumo da bebida pura ou na forma caipirinha, sendo esta apreciada em
casa ou em eventos sociais, de acordo com suas respostas. Mais detalhadamente, os locais
onde de consome a cachaça, de acordo com dados da pesquisa 97,2% dos respondentes
apreciam a bebida em sua própria casa e/ou na casa de amigos; 98,2 % consomem em bar,
restaurante e padaria; 95,4% em festas e 40,4% em outros locais não especificados.
Com o objetivo de entender quais sentimentos os consumidores de cachaça associam
ao produto, foram desenvolvidas perguntas direcionadas a entender tal associação, dos
resultados gerais amostra, 25,2% associam a bebida sentimentos negativos, 22,8% a
momentos de descontração, 15,4% a festas; 9,8% à ‘volta às origens’; 8,4 % a empolgação
3,0 % a sentimentos positivos em geral.
Tais números auxiliam a entender o padrão de consumo da cachaça, mas ainda resta
a dúvida sobre quais são as características determinantes para a efetivação do consumo da
cachaça. A subseção abaixo irá detalhar o modelo proposto para realizar-se esta análise, bem
como seus resultados.
13
Para a avaliação dos consumidores foram aplicadas quatro técnicas estatísticas de causalidade, a saber:
regressão mínimos quadrados ordinários; regressão logística; regressão probabilística; regressão tobit. Todos
PEC – Cachaça
Objetivando responder à questão: quais as características levam ao consumo de
cachaça? Foram estabelecidos três blocos de características relativas ao consumidor e à
cachaça, com a finalidade de verificar quais características ajudam a diferenciar o
consumidor do não consumidor de cachaça. Os três blocos seguem detalhados na sequência:
os modelos se mostraram válidos pelo teste F> Pchi2; sendo as regressões MQO homocedásticas. As equações
do modelo bem como seus resultados são aqui omitidos, com finalidade de dinamizar a leitura, sendo estes
expostos em maiores detalhes no Anexo 1.
PEC – Cachaça
Figura 7 - Determinantes do Consumo de Cachaça
O bloco 1 visava observar quais características da cachaça que mais agradam aos
consumidores e que influenciam de forma estatisticamente significativa para a efetivação do
consumo. Neste bloco verificou-se que os determinantes para a realização do consumo de
cachaça são a Qualidade; Aspectos Sensoriais e Preço. Ou seja, de acordo com as análises o
consumo de cachaça ocorre em função: i) da avaliação dos consumidores sobre a cachaça ser
uma bebida de qualidade superior às demais bebidas alcoólicas (destiladas ou fermentadas);
ii) pelo gosto do consumidor com relação às características sensoriais/organolépticas da
cachaça, notadamente seu sabor, aroma e boa aparência; e iii) o fator preço como sendo
importante para as decisões de consumo do indivíduo.
Em suma, no bloco 1 percebeu-se que, no que se referem as características da
cachaça, os fatores que mais influenciam o consumo são a percepção da cachaça como uma
bebida de qualidade superior, com características sensoriais/organolépticas agradáveis e com
preço mais baixo. Não necessariamente todos os consumidores apreciam as três
características ao mesmo tempo, pode haver consumidores que avaliem de forma mais
destacada o preço, e outros as características sensoriais, por exemplo. Em linhas gerais, as
três características mencionadas se mostram como os principais determinantes para a
efetivação do consumo, sendo aspectos relacionados à saúde, status da bebida e associação
cultural não relevantes na decisão de consumo.
PEC – Cachaça
Seguindo com o bloco 2, observou-se que, das características de perfil, o principal
fator encontrado é o consumidor de cachaça ser do sexo masculino. Em todas as análises o
fato de ser homem implica em uma maior probabilidade de ser consumidor de cachaça. No
entanto, idade mais elevada e menor renda também aparecem como fatores determinantes
para o consumo de cachaça em alguns dos modelos.
Por fim, o bloco 3 expõe se a frequência de consumo de outras bebidas pode ser fator
explicativo para a ocorrência também do consumo de cachaça. Neste aspecto, os resultados
evidenciam que os consumidores de cachaça são mais frequentemente consumidores das
outras bebidas destiladas como vodca, uísque e tequila, mas não das bebidas fermentadas
(vinho ou cerveja/Chopp). Isto indica que em geral os consumidores de destilados também
consomem cachaça, e que potencialmente este seria o público que estaria disposto a trocar o
consumo pela cachaça.
A Figura 8 apresenta de forma esquemática, os principais resultados que respondem
à pergunta sobre quais as características levam ao consumo de cachaça?
Pela análise dos dados oriundos da pesquisa com os consumidores, foi possível traçar
um perfil de quem é o consumidor de cachaça, além de possibilitar a verificação de
características que levam ao consumo da referida bebida. Percebeu-se que os principais
atributos da cachaça que o consumidor valoriza são a qualidade, aspectos sensoriais e preço;
sendo este consumidor majoritariamente do sexo masculino, destacadamente de maior idade,
PEC – Cachaça
renda mais baixa e também consumidor de outras bebidas destiladas. Tais informações
podem ser úteis ao setor como forma de direcionamento estratégico de marketing e de
posicionamento de produto, tanto para consolidar sua posição em nichos de mercado já
estabelecidos, quanto para definir formas de atuação em outros mercados.
PEC – Cachaça
10 COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA
Considerando a descrição dos diferentes ambientes que suportam a cadeia produtiva da
cachaça apresentados anteriormente, e também a visão dos agentes envolvidos na cadeia com
relação a seus principais desafios, é possível avaliar de maneira ampla sua competitividade.
A seguir iremos descrever os desafios para a competitividade da cadeia produtiva da cachaça
em relação aos ambientes que foram analisados.
PEC - Cachaça
história do país se mistura com a história da produção de cachaça de tal forma que a pequena
produção está enraizada nas diferentes regiões do país. Deste modo, é complexo pensar que as
dezenas de milhares de pequenos produtores presentes em todas as regiões do país se
estruturem na forma de empresas, ainda que exista uma tratativa diferenciada para pequenos
produtores com reduzida carga tributária e menor burocracia. Assim, o desafio que se
impõem é de como trazer este tipo de produção para uma situação de formalidade
Por fim, o Regulamento de Uso da Indicação Geográfica sob gestão de uma instituição
que represente o setor é primordial para conferir agilidade ao processo reconhecimento da
Indicação Geográfica no mercado externo. Além disso, este regulamento permitiria uma
fiscalização mais adequada da produção regular e conferiria maior agilidade nas discussões
do setor em torno de modificação e melhorias da legislação em vigor.
Gargalos tecnológicos
No capítulo 4 vimos a atual situação do ambiente tecnológico. O que se observou é o baixo
nível de difusão de tecnologia e práticas de produção em âmbito nacional. Soma-se a isso a
inexistência até o momento de um manual de boas práticas produtivas amplamente aceito e
difundido, o que dificulta o acesso a pequenos produtores à informações que podem levar à
produção de produtos com maior qualidade e em última instância beneficiar o consumidor geral.
Existe atualmente a iniciativa de produção de um manual de boas práticas do setor, pelo SEBRAE
em parceria com o IBRAC e que deverá conferir maior difusão de informações. A difusão
tecnológica é, no entanto, um entrave para a competitividade da cadeia que tem uma
capilaridade intensa e que como já discutido, a existência de produtores com qualidade
inferior pode prejudicar a imagem de toda a cadeia.
Ainda com relação ao ambiente tecnológico as dificuldades relacionadas à obtenção de
garrafas para atender ao setor acaba por gerar dificuldades mercadológicas como, por exemplo, a
impossibilidade de manter um padrão/identidade de garrafa utilizada pelos agentes. Muitas vezes, a
alternativa não é a opção mais adequada para acessar o mercado consumidor, mas aquela mais
viável dificultando as estratégias individuais dos agentes.
PEC - Cachaça
grandes desafios à competitividade da cadeia se impõem. A Câmara Setorial desempenha um
importante papel na articulação de ideias e promoção de discussões relevantes do setor e consegue
reunir diversas esferas públicas que podem se mobilizar em torno de assuntos relevantes à cadeia.
Contudo, muitas ações necessárias ao setor demandam trabalhos com maior intensidade e que nem
sempre podem ser levados para as discussões na Câmara. O IBRAC ou outra organização de
representação do setor pode desempenhar o papel de conduzir as discussões relevantes ao setor e
promover as ações ainda necessárias. Contudo, para que isso seja possível, o setor deve conseguir se
financiar. Pouco provável que esta verba possa vir de outros agentes que não da própria cadeia
produtiva. Ações isoladas e pontuais podem até conseguir verbas de instituições públicas de
fomento como o caso da APEX, financiando parte das ações para desenvolvimento da cachaça no
mercado externo, no entanto um planejamento de ações em diversas áreas demanda uma
coordenação central com financiamento próprio, conferindo maior autonomia e legitimidade à
cadeia como um todo.
Conclui-se, portanto, que houve recente perda de competitividade da cadeia produtiva da
cachaça dado encolhimento da produção e exportação, mas que a perda não foi superior em função
do incremento de valor agregado da produção. Considerando a dinâmica competitiva da cadeia
produtiva da cachaça e os ambientes institucionais, organizacionais e tecnológicos, vê-se a
necessidade de implementar ações coletivas alinhadas com os anseios de seus membros com o
suporte de uma entidade articuladora com capacidade financeira para desenvolver as ações.
PEC - Cachaça
11 WORKSHOP DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA CADEIA
PRODUTIVA DA CACHAÇA
Relatamos a seguir os trabalhos realizados pelo CORS no Workshop da Cadeia Produtiva da
Cachaça, nos dias 26 e 27 de Fevereiro, que teve como objetivo colaborar no processo de
implementação de gestão estratégica do setor.
11.1 Objetivos do trabalho
O objetivo do trabalho, realizado com o apoio da Apex-Brasil, foi contribuir com o Instituto
Brasileiro da Cachaça na criação de uma agenda de ações que devem ser desenvolvidas pelo setor a
fim de superar os desafios que se impõem para: a) valorização da cachaça no Brasil e no exterior; b)
desenvolvimento e exploração dos potenciais mercados da cachaça.
11.2 Metodologia de Trabalho
Para alcançar este desafio, o CORS apresentou o resultado de alguns trabalhos
desenvolvidos anteriormente ao workshop, com o objetivo de criar maior entendimento entre todos
os participantes sobre questões importantes que foram identificadas nas etapas preliminares do
trabalho. Na sequência, foram desenvolvidas dinâmicas em grupos com o objetivo de mapear
problemas e soluções relativas a cadeia produtiva da cachaça e priorizar uma agenda de ações para
o setor.
Os trabalhos anteriores ao Workshop estão todos contidos no corpo do documento
“Relatório Final” do projeto “Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça” produzido
pelo CORS. Os resultados do workshop são apresentados a seguir, e na sequência são apresentados
os comentários do CORS com o objetivo de suscitar alguns pontos de reflexão.
11.3 Detalhamento das atividades
O Workshop de Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça contou com a
participação de 68 pessoas, das quais, 16 representavam produtores de cachaça, 17 eram agentes
ligados a instituições privadas de interesse coletivo e 21 representavam sindicatos e associações em
esfera regional e nacional.
No primeiro dia pela manhã, foram apresentados os trabalhos de instituições (SENAI,
SENAC e Sebrae) que podem suportar a cadeia produtiva da cachaça. À tarde, iniciaram-se os
trabalhos do CORS. Os resultados das entrevistas com 30 agentes do setor, realizadas anteriormente
ao Workshop, o resultado do questionário on-line aos produtores e o resultado de uma pesquisa
probabilística realizada na cidade de São Paulo com o objetivo de identificar os determinantes do
consumo de cachaça, foram expostos.
PEC - Cachaça
Após estas apresentações, os participantes foram divididos em cinco grupos e com a
coordenação dos pesquisadores do CORS, foi realizada uma dinâmica chamada pontos de
melhoria e pontos de ruptura. Nesta dinâmica, os agentes eram convidados a levantar problemas
e/ou desafios da cadeia produtiva em torno de dez grandes temas e para cada problema ou desafio
apresentado, foi solicitado que indicassem ações de melhoria ou ruptura. Os dez temas avaliados
foram:
1. Tributação;
2. Fiscalização e Controle;
3. Mercado Interno e Concorrência;
4. Mercado Externo;
5. Padrão de identidade e qualidade (IG, DO, Rotulagem, Definições do Produto);
6. Fatores de produção;
7. Papel do IBRAC;
8. Financiamento das ações do setor;
9. Atuação de outras instituições (SEBRAE, SENAI, SENAC, APEX, INMETRO, INPI,
Câmara Setorial, MAPA, MDIC, MRE, EMBRAPA, etc.);
10. Assistência técnica.
O 1º dia terminou com a realização desta dinâmica. Os resultados de cada um dos cinco
grupos foram consolidados pela equipe CORS e no dia seguinte, em plenária, foram apresentados
todos os problemas e ações sugeridas a fim de corrigir erros de interpretação e adicionar ações não
sugeridas no dia anterior.
Os problemas e ações sugeridas estão apresentados nos quadros de 12 a 20, a seguir.
Quadro 5 - Tributação
Problemas/Desafios Ações
1. Falta de isonomia tributária para pequenos produtores 1.1 Inclusão do pequeno produtor no SIMPLES
1.2 Diferenciação tributária por porte e não por tipo de
produção
PEC - Cachaça
4) Critérios tributários não claros Nenhuma ação sugerida
Problemas/Desafios Ações
6) Morosidade do governo no registro do produto 2.1 Simplificação das exigências legais via Câmara
Setorial
Problemas/Desafios Ações
PEC - Cachaça
3.5 Ação institucional para o Consumo Responsável
17) Falta de trabalho com relação ao Consumo
3.6 Ampliar o conhecimento do consumidor sobre o risco do
Responsável
produto clandestino por meio de campanhas
Problemas/Desafios Ações
20) Inadequação dos procedimentos do MAPA para os países 4.3 Maior coordenação com os Ministérios, Câmara
importadores Setorial e Conselho Regulador
21) Desconhecimento e difícil acesso ao mercado externo 4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro
Problemas/Desafios Ações
27) Maior Regulamentação quanto à qualidade; limites 5.3 Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites
mínimos de congêneres aceitos para congêneres (mais restritos)
PEC - Cachaça
28) Falta de Laboratórios Homologados 5.4 IBRAC com projeto junto ao
29) Dificuldades dos pequenos produtores de arcar com custos SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as
das análises análises; e outras iniciativas
Problemas/Desafios Ações
Problemas/Desafios Ações
7.1 Aumento das reuniões por videoconferência/skype®
para aumentar participação de todos
7.2 Aumento das comunicações com produtores;
cartilhas e informativos
7.3 Melhorar comunicação do IBRAC sobre cursos
35) Problemas de Comunicação e Capilaridade
disponíveis (link no site). Calendário de Eventos.
7.4 Melhorar levantamento de dados e maior geração
de estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o
setor)
7.5 Fortalecer ações sobre Consumo de Responsável
7.6 Melhorar a estrutura institucional/organizacional,
para conseguir atender as demandas dos stakeholders
7.7 Adequação do setor sobre a lei dos resíduos sólidos
7.8 Articular pontos de convergência de interesses com
outros setores
7.9 Garantir representatividade na instituição
36) Problema de Governança, gestão e ações coletivas (proporcional aos produtores)
7.10 As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar
mais alinhadas ao IBRAC
7.11 Definir um regulamento para os concursos de
cachaça
7.13 Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução
com órgãos de turismo Ministérios, Secretarias)
37) Concursos isolados 7.12 IBRAC promover um concurso da Cachaça
PEC - Cachaça
Quadro 12 - Financiamento das ações do setor
Problemas/Desafios Ações
Como pode ser observado, inicialmente havia 10 temas, que foram consolidados em oito
após o workshop. O tópico sobre assistência técnica e atuação de outras instituições recebeu menos
atenção pelos agentes e acabaram sendo contemplados de alguma forma nos itens seis e oito. Ao
todo, foram listados 40 problemas/desafios e 49 ações necessárias para enfrenta-los. Em
plenária, foram discutidos todos os problemas e ações sugeridas a fim de verificar se nada foi
esquecido e se estavam de acordo com a proposição inicial dos agentes. Na própria plenária, alguns
agentes expuseram sua opinião para os demais a fim de defender que algumas ações propostas eram
mais importantes que outras ou que da maneira como ação havia sido proposta é prejudicial ao
setor. Mediante concordância geral, foram realizados os ajustes sugeridos.
PEC - Cachaça
A opinião de cada agente sobre a importância e urgência das ações foi compilada e uma
média das respostas foi calculada. Com isso obtém-se uma nota média geral para cada ação sobre
sua importância e urgência. Este resultado é uma maneira de se priorizar as ações propostas de
maneira objetiva e que considera a pluralidade de opiniões dos agentes participantes. É importante
notar, contudo, que não foram considerados na priorização os custos de implantação destas ações,
que por si só podem sem uma barreira à ação do setor. Após maior detalhamento das ações
proposta, recomenda-se que o setor na figura do IBRAC, estime os custos de condução de cada ação
para verificar a viabilidade de sua implantação ou mesmo para planejar a alocação de recursos
financeiros e humanos na condução das ações.
A Figura 9 a seguir apresenta as ações priorizadas plotadas em uma escala de importância e
urgência. Na sequência são expostas quatro figuras e quadros com as ações listadas do maior
produto da importância e urgência (nota dada a importância X nota dada à urgência) para o menor,
relativo ao maior escore dentre as ações. Com isso, tem-se uma ideia das ações prioritárias as quais
foram divididas em quatro faixas de priorização, a saber: Alta (score relativo de 100 a 75); Média-
Alta (score relativo 74,9 a 50); Média-Baixa (score relativo 49,9 a 25) e Baixa (24,9 a 0). Com esta
divisão pretende-se melhor evidenciar ao setor quais ações devem ser prontamente “atacadas” pela
cadeia produtiva da cachaça, logicamente com a ressalva da disponibilidade de recursos para
implanta-las.
Figura 9 - Priorização com Todas as Ações
10
9
8
7
Urgência
6
5
4
3
2
1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Importância
PEC - Cachaça
Figura 10 - Priorização Alta
10
9
Urgência
1.1
8
2.2 2.4
2.8 2.5
7
7 8 9 10
Importância
Alta
PEC - Cachaça
Figura 11- Priorização Média-Alta
8 2.7
3.6
8.2
2.6
1.3 4.1
8.5 8.4 8.1 7.3 2.35.5
3.2
8.3 5.4 1.2
6.1 7.47.2 3.1
Urgência
7.13 4.3
7
2.1 3.5 4.4
4.2
7.1 7.9 4.5
3.4
7.5 7.6
7.7
6
6 7 8
Importância
Média-Alta
PEC - Cachaça
8.1 Criação de Fundo Setorial 63,90
Campanha de Marketing (estratégia institucional), junto a
3.1 63,58
formadores de opinião; divulgar bebidas mistas; etc.)
Melhorar divulgação de oportunidades de financiamento
8.4 63,04
articulando IBRAC; Associações; etc.
8.5 Benchmark com IBRAVIN sobre sustentação financeira 62,82
Aumento das comunicações com produtores; cartilhas e
7.2 62,11
informativos
IBRAC com projeto junto ao
5.4 SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as análises; e 61,53
outras iniciativas
Melhorar levantamento de dados e maior geração de
7.4 61,26
estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o setor)
8.3 Financiamentos para boas práticas de fabricação 60,69
6.1 Reduzir carga tributária para importação de insumos 60,04
Maior alinhamento da APEX para formular contatos com
4.2 58,09
compradores externos
4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro 57,48
4.5 Pleitear entendimento com MDIC e MRE 57,26
2.1 Simplificação das exigências legais via câmara setorial 56,88
3.5 Ação institucional para o consumo responsável 56,87
Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução com órgãos
7.13 54,26
de turismo Ministérios, Secretarias)
As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar mais
7.10 54,15
alinhadas ao IBRAC
Garantir representatividade na instituição (proporcional aos
7.9 54,02
produtores)
Melhorar a estrutura institucional/organizacional, para
7.6 53,36
conseguir melhorar as demandas dos stakeholders
7.5 Fortalecer ações sobre Consumo Responsável 52,50
7.7 Adequação do setor sobre a lei dos resíduos sólidos 50,55
União dos produtores para aumentar o poder de barganha com
3.4 50,54
o varejo
Aumento das reuniões por videoconferência/skype® para
7.1 50,38
aumentar participação de todos
Fonte: dos autores.
PEC - Cachaça
Figura 12 - Priorização Média-Baixa
3.3 especializados
Realizar conexões com FINEP, MCT, dentre outras entidades,
44,74
6.4 devido o baixo nível de inovação
Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites aceitos para
44,38
5.3 congêneres (mais restritos)
6.3 Atenção aos Tanoeiros (treinamento) 40,71
5.2 Incentivar a Certificação 37,96
7.11 Definir um regulamento para os concursos de cachaça 36,69
5.1 Destaque do processo produtivo no rótulo do produto 35,98
Baixa 7.12 IBRAC promover concurso de cachaça 19,50
Fonte: elaborado pelos autores.
PEC - Cachaça
Considerações
A priorização das ações revela a preocupação principal dos agentes que é a alta
informalidade no setor, que leva à competição desigual. Observando-se as ações de alta prioridade,
vemos que cinco de seis ações sugeridas visam resolver de alguma maneira a questão da
informalidade, com ações tanto no setor como no mercado consumidor, que passam pela questão da
tributação, fiscalização e conscientização do consumidor. Atenção foi dada também à implantação
da Indicação Geográfica que visa favorecer o acesso ao mercado externo.
No bloco de ações que receberam grau médio-alto de prioridade, nota-se ainda ações
relacionadas à resolução da questão da informalidade e também atuação no mercado externo. Foram
apontadas também diversas ações de articulação com outras instituições tais como APEX, Inmetro,
Vigilância Sanitária, Ministério Público, Confaz, Ministérios, Câmara Setorial, SEBRAE, SENAI,
SENAC, MDIC e MRE. Isso mostra a disposição e necessidade do setor de ações nas mais diversas
esferas, no entanto as ações listadas estão bastante genéricas e pouco claras, sendo necessário um
maior detalhamento do que podem contemplar. Tanto este trabalho de detalhar, quanto a articulação
posterior com as instituições, dependem fortemente de capacidade operacional da cadeia em termos
de recursos humanos e financeiros, e este deve ser o principal gargalo para que sejam executadas.
Com relação às ações de média-baixa e baixa prioridade, houve predominância de ações
relacionadas à assistência técnica, papel do IBRAC e fatores de produção. Chama atenção que a
ação de pleitear uma alteração na IN nº 13/2005 para mudança na exigência de limites mínimos de
congêneres não recebeu alta prioridade. Contudo, alguns agentes do setor entendem que se trata de
uma ação extremamente importante para o acesso ao mercado externo. Além disso, é considerada
relativamente urgente se tem a intenção de alcançar maior participação no mercado internacional de
bebidas. O destaque do processo produtivo no rótulo do produto foi priorizado como uma ação de
média-baixa prioridade. Isso chama atenção, pois nas entrevistas com os agentes este ponto foi
bastante citado, mas parece haver entendimento de que isso não é uma ação coletiva que eleva a
competitividade do setor. Além disso, a legislação atual já prevê a possibilidade de informar no
rótulo o processo produtivo, mas isto é facultativo.
PEC - Cachaça
12 A CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA: MOMENTO ATUAL E VISÃO
DE FUTURO
A Cadeia Produtiva da Cachaça já possui um histórico de muitas ações construídas. O
Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC), criado em 1997 e extinto após a
criação do IBRAC, as diversas iniciativas regionais de valorização da Cachaça, a constituição do
IBRAC, o desenvolvimento e desenrolar do Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da
Cachaça 2010 – 2015 no âmbito da Câmara Setorial, o reconhecimento da cachaça como produto
distinto do Brasil pelo mercado americano (principal importador em termos de valor agregado do
produto – R$/litro), demonstram o avanço que o setor buscou e continua buscando em termos de
organização e exploração do potencial de mercado. Além disso, e a despeito de muita competição
no mercado e rivalidade entre produtores de diferentes processos produtivos, existe – observando-se
o que foi construído no workshop –, um considerável alinhamento entre todos em relação ao que é
importante para o setor.
Se muito aconteceu, ainda há bastante por fazer. A inexistência de informações mais
acuradas sobre a indústria e mesmo sobre o mercado consumidor é desafiador para as estratégias
individuais da cadeia produtiva, mas principalmente para a construção de estratégias setoriais,
sobretudo no pleito por políticas direcionadas ao setor. E ainda, a discrepância entre o
conhecimento entre os diferentes agentes e mesmo o desconhecimento e a interpretação errônea
sobre legislação, demonstra a necessidade de criação e manutenção de canais de comunicação que
promovam a troca para nivelamento de conhecimentos básicos entre todos os produtores e
consequentemente consumidores.
Há tanto a fazer, quantos são os interessados para que seja feito. A lista de 46 ações
sugeridas deve trazer avanços inestimáveis à cadeia produtiva, na direção de maior coordenação e
exploração de um mercado nacional e internacional com potenciais ainda pouco explorados pelo
setor. Mas, frente a isto, a percepção declarada pelos agentes é de que falta identidade ao setor
principalmente no que se refere a um organismo que o represente. Essa identidade de representação
pode ser alcançada pelo fortalecimento do IBRAC, articulando ações na cadeia produtiva e de
mercado. Tudo o que foi proposto e esta por vir só encontrará meios de acontecer caso o setor
encontre formas de financiamento (ação proposta número 8.1) e de convergência de interesses entre
os produtores em um fórum legítimo construído por todos.
Depreende de tudo que foi discutido ao longo dos dois dias de workshop e pelas ações que
foram e estão sendo desenvolvidas, a seguinte visão de futuro da cadeia da cachaça:
PEC - Cachaça
Coordenada por uma instituição que encontra reconhecimento pelo setor e mercado
consumidor;
Capaz de buscar financiamento para as ações que se propõem;
Alcançar mais consumidores no mercado nacional e internacional pelo fortalecimento e
reconhecimento da Cachaça como um produto genuinamente brasileiro, de qualidade, com
características exclusivas e seguro.
Visão da Cadeia Produtiva da Cachaça:
“Tornar-se uma cadeia produtiva coordenada por uma instituição que a represente e que seja
reconhecida pelo mercado consumidor, com capacidade de alcançar o financiamento necessário
para as ações a que se propõem. Pretende alcançar mais consumidores no mercado nacional e
internacional, pelo fortalecimento e reconhecimento da cachaça como um produto genuinamente
brasileiro, de qualidade, com características exclusivas e seguro”.
PEC - Cachaça
13 CASOS INSPIRADORES DE OUTRAS DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NO
MUNDO
Nesta secção serão apresentados quatro casos de estratégias coletivas implementadas em
outras indústrias de bebidas alcoólicas e que podem servir de inspiração para o setor produtivo da
cachaça. Os casos - indústria da Tequila; indústria argentina de vinho; indústria de produtores de
uísque da Escócia; a indústria de Champanhe francesa - buscam mostrar algumas lições que cada
uma das experiências traz para a cadeia da cachaça. Os casos:
Os casos estão estruturados de forma a responder quatro questões, são elas: a) Qual era o
problema/dificuldade do setor?; b) Quem coordenou as ações?; c) O que foi feito em termos de ação
privada, coletiva e/ou pública?; e d) Qual foi o resultado destas ações? Subsequente a estas
questões, será discutido de que forma cada caso pode contribuir para as discussões da cadeia
produtiva da cachaça.
PEC - Cachaça
13.1 Caso 1: A indústria de Tequila mexicana
Qual era o A produção de tequila se defrontava com disputa entre produtores (grandes e pequenos) por áreas produtivas de agave na região atualmente
problema/dificuldade do denominada DOT (Denominación de Origen del Tequila). Ademais, devido à crise econômica interna e a baixo apelo da bebida no mercado
setor? externo fizeram com que a produção se reduzisse em 10% de 1980 a 1988.
Em 1993 surge o CRT (Consejo Regulador del Tequila), instituição interprofissional que definiu padrões de qualidade, características,
indicação geográfica e de origem à bebida mexicana. O CRT detém um mandato do governo para promover a qualidade, a cultura e o
Quem coordenou as ações?
prestígio da bebida nacionalmente e internacionalmente, tendo competência para verificar e certificar o cumprimento da Norma Oficial da
Tequila.
O que foi feito em termos de Além da governança corporativa do CRT envolver todos produtores de tequila de diferentes portes, ele inclui produtores de agave,
ação privada e/ou ação envasadores, intermediários e autoridades. O CRT ainda comporta em sua estrutura diversos departamentos responsáveis pela verificação e
coletiva e/ou ação pública? certificação de qualidade, garantia do produto terminado, e defesa da marca tequila no exterior.
A partir de 1993, a cooperação entre agentes privados e destes com o Estado por meio do CRT possibilitam um boom na produção de tequila
(de menos de 104,3 milhões de litros/ano para mais de 226.5 milhões litros/ano.
A efetivação do NAFTA (North America Free Trade Agreement), em 1994, e o reconhecimento pela UE em 1997 também favoreceram as
Qual foi o resultado destas
exportações, que saltaram de 64.6 milhões de litros/ano para 172 milhões de litros/ano.
ações?
Vale destacar que recentemente tem ocorrido uma grande concentração na indústria, no qual quatro empresas produziram cerca de 65% da
tequila em 2005, e que grandes grupos internacionais tem crescentemente investido no mercado produtor. Neste cenário, empresas pequenas
permanecem ativas, atuando preferencialmente em nichos específicos que demandam produtos diferenciados com maior valor agregado.
75
13.2 Lições do caso da Tequila para a Cachaça
Além da inevitável semelhança com a cachaça, por ser uma bebida de um país em
desenvolvimento, o caso da Tequila tem alguns elementos importantes para serem levados em
consideração no planejamento estratégico da cachaça. O mandato concedido pelo governo para o
CRT administrar a denominação “Tequila” somado a organização do CRT envolvendo os
produtores e sendo financiado por estes por meio de mensalidades condizentes com seu porte,
permitiu uma melhor gestão da cadeia produtiva da Tequila. Esta gestão do CRT propiciou um
melhor controle de qualidade e de efetivação da Norma Oficial da Tequila. Além de resultar em
uma maior representação da tequila externamente de modo a alavancar tanto sua produção quanto 76
exportação.
PEC - Cachaça
13.3 Caso 2: A indústria Argentina de Vinho
Qual era o Produção de vinho na Argentina era tradicionalmente voltada ao mercado interno com pouca diferenciação. No final da década de 80, com a
problema/dificuldade do abertura do mercado e aumento do poder aquisitivo da população argentina, que passou a importar vinho da europa, a indústria entrou em
setor? crise. A produção de vinhos argentinos era voltada, sobretudo, para ganhos em escala, ocasionando, na maioria das vezes, queda na qualidade.
Incentivo do governo (sobretudo, das províncias produtoras), somado a iniciativa de produtores rurais (vinhedos) e grandes fabricantes de
vinhos (adegas).
Movimento desencadeado pela ameaça dos produtos importados no mercado interno e colapso do sistema de subsídio à produção rural.
Quem coordenou as ações?
O setor vinícola argentino pode ser visto como rede de clusters onde associações empresariais, governo e instituições de apoio estão inseridas
regionalmente e desenvolvem ações alinhadas a um contexto de interesse nacional, cuja representação é dada pela Corporación Vitivinícola
Argentina (COVIAR) e Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV).
Característica que marca o recente processo de reestruturação do setor vinícola argentino é a mudança no foco de produtividade para
qualidade
(vinhos de maior sofisticação).
As ações coletivas/ privadas (locais e nacionais) podem ser resumidas em:
O que foi feito em termos de Capacitação e captura de Recursos Humanos;
ação privada e/ou ação Criação de uma identidade e imagem para o vinho argentino;
coletiva e/ou ação pública? Aprimoramento técnico-produtivo e inovação;
Incentivo à integração e articulação da cadeia produtiva;
Desenvolvimento de ações sinérgicas com setores de turismo, restaurantes e hotelaria;
Regulamentação e controle da produção;
Revisão das normas e leis;
O vinho argentino tem recuperado espaço no mercado doméstico, chegando apresentar ligeiro aumento no consumo per capita (8º consumidor
mundial, 32º em população, e 59º em PIB per capita).
Contudo, o resultado que mais chama a atenção vem do reconhecimento da Argentina como uma das principais produtoras de vinhos (finos)
Qual foi o resultado destas
mundial, 5ª posição do ranking.
ações?
Em um período inferior a 15 anos, as exportações aumentaram de 2% para 6% da produção nacional. A meta estabelecida pelo Planejamento
Estratégico COVIAR é que as exportações argentinas representem, em 2020, 10% das exportações mundiais de vinho (atualmente: 2%).
Estima-se que o setor tenha atraído US$ 500 milhões em investimentos entre 1992 e 2002;
PEC - Cachaça
77
13.4 Lições do caso do Vinho Argentino para a Cachaça
A maior parte dos esforços despendidos coletivamente convergem na construção e
reconhecimento de uma identidade para o vinho argentino como um todo (qualidade e reputação).
Esse direcionamento não marginalizou as características particulares de cada região produtora. A
experiência argentina mostra que é possível a construção de uma identidade para um produto ao
nível nacional respeitando diferenças regionais ou locais.
78
PEC - Cachaça
13.5 Caso 3: A indústria produtora de uísque Escocês
Até 2009, não havia regras formais para a rotulagem, envase e comunicação do uísque na Escócia. Somente para a forma de produção do
uísque e que foram estabelecidas em 1988. Os uísques “misturados” (blended) se tornaram uma alternativa frente à escassez de “single malt”
Qual era o
em função de demanda aquecida e a ausência regras causaram atritos na indústria. Isto ocorreu pois, apesar de haver um entendimento
problema/dificuldade do
informal entre os agentes sobre o que era um single malt e um blended whisky, as indústrias podiam rotular com certa liberdade. Essa ausência
setor?
de regras claras levou a um conflito importante entre o fabricante de Cardhu´s (um uísque famoso) e uma parcela substancial da indústria
escocesa de single malt whisky.
A associação escocesa de produtores de uísque (Scotch Whisky Association – SWA14), instituição criada em 1912 e que regula as regras para
Quem coordenou as ações? produção de uísque mediou as discussões sobre a questão entre os agentes da indústria. Neste caso, toda a ação foi coordenada pela associação
em torno de conversas amigáveis.
As discussões levaram a um acordo e o produtor do uísque Cardhu, retirou o produto do mercado. Os depoimentos 15 a seguir dão o tom de
como a questão foi resolvida e também da união da indústria a despeito das diferenças do produto final.
“Eu acho que inicialmente houve um pouco de constrangimento, mas depois tudo ficou certo. Algumas insatisfações surgiram... mas somos
O que foi feito em termos de
todos parte da SWA e sentamos todos juntos na mesma mesa... Ainda temos trabalho a fazer e ainda temos coisas pelas quais precisamos
ação privada e/ou ação
brigar, como um corpo único, superando o incidente do uísque Cardhu”.
coletiva e/ou ação pública?
“Do ponto de vista da produção nos temos nossa amizade onde todos ajudam uns aos outros. Eu acho que no que concerne o marketing e as
vendas é onde o negócio fica um pouco perverso. É onde a competição acontece. No entanto eu posso ir e conversar com outras destilarias a
respeito do que estão fazendo, fazer perguntas sobre a produção e caminhar pela planta industrial com eles”.
Em 2009 - possivelmente como um reflexo da ausência de regras adequadas e recorrência de conflitos como o do Whisky Cardhu -, foram
Qual foi o resultado destas
estabelecidas regras claras pela SWA sobre como deve ser a rotulagem, envase e comunicação do uísque escocês. As regras eliminam
ações?
inclusive a possibilidade de desentendimento do mesmo gênero do caso do uísque Cardhu.
14
Scotch Whisky Association – SWA. Site. Disponível em: <http://www.scotch-whisky.org.uk/>.
15
MUNSHI, M. V. A Sociocognitive Perspective of Industry Level Collective Stakeholder Action: The Case of The Scotch Whisky Industry. City University London, United
Kingdom.
13.6 Lições do caso do Uísque para a Cachaça
O uísque Escocês pode assumir diferentes formas de produção no que concerne seus
insumos (malte e cereais não malteados) e misturas (puros, misturas de uísques malteados ou de não
malteados e/ou misturas com uísques de várias destilarias). Apesar das diferenças substanciais entre
os produtos e a rivalidade entre os produtores de um tipo de uísque e outro (principalmente no
mercado), a Associação Escocesa dos Produtores de Uísque conseguiu, junto com os integrantes da
indústria, criar uma forma de rotulagem dos diferentes produtos que atendem aos interesses de todo
o setor. 80
PEC - Cachaça
13.7 Caso 4: A indústria francesa de Champanhe
Produtores de diversos países passaram a produzir espumantes com o nome de Champanhe. Ampla maioria entre os consumidores não conseguia
Qual era o distinguir as diferenças entre espumantes e Champanhe
problema/dificuldade do
setor?
A primeira ação a defender a marca Champanhe foi no ano de 1993 através do acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio (TRIPS) da Organização Mundial do Comércio (OMC) que foi efetivado em 2005. Entretanto o acordo não definiu
Quem coordenou as bem a venda do genuíno Champagne Francês no mercado americano. O uso da nomenclatura Champagne utilizada pelos EUA era vendido de
ações? forma a entender que tanto o Champanhe francês quanto o americano tinham a mesma origem, o que não era verídico.
A estratégia utilizada pelo Comité Interprofessionnel du vin de Champagne (CIVC) 16, foi na diferenciação do produto em relação aos vinhos
espumantes americanos. Outra estratégia foi à coordenação de todo o sistema agrícola, produção, distribuição e promoção dos vinhos do
O que foi feito em termos champanhe.
de ação privada e/ou ação CIVC tomou medidas enérgicas para a proteção da marca champanhe nos EUA, pressionando o governo a desenvolver uma legislação mais
coletiva e/ou ação solida a favor da bebida.
pública? O CIVC também desenvolveu Campanha de marketing com o objetivo de conscientiza o consumidor sobre o produto e a aumentar o Market
share no mercado americano. Foram desenvolvidas campanhas de marketing de caráter informativo e, banners, internet e m degustações, sempre
enfatizando a genuinidade do Champanhe francês
As ações de marketing trouxeram respostas positivas para a Cadeia Produtiva do Champanhe no mercado americano, tornou o consumidor mais
ciente das diferentes nomenclaturas, aumentando o consumo em 34%. Entre os anos de 2009 e 2011, o Champagne francês teve um aumento de
85% nas vendas no mercado americano. No ano de 2006, foi sancionado uma legislação para proibir o uso do nome “ Chamapgne”, por outros
produtores de vinho que não fossem da região original.
Qual foi o resultado
destas ações?
16
É uma associação voltada para os interesses dos agentes envolvidos no setor O seu principal objetivo é promover a Champanhe e os interesses
ligado ao desenvolvimento econômico, técnico e ambiental, melhoria contínua da qualidade, gestão da indústria, marketing e comunicações, bem
como a promoção e proteção da Champanhe em todo o mundo.
13.8 Lições do caso da Champanhe
O caso da Champanhe francês é de grande valia quando comparado ao setor da
cachaça no Brasil. Primeiramente, os franceses procuraram definir bem os seus direitos
de propriedade relacionada à marca, procurando promover identidade ao produto
produzido na França. As ações foram coordenadas pelo CIVC (Comité
Interprofessionnel du vin de Champanhe) desenvolvendo campanhas de marketing
valorizando o produto, com isso, mudaram o posicionamento do setor perante os
82
consumidores.
As ações do CIVC foram essenciais para identificação (marca) e padronização
da Champanhe (francesa) e desenvolvimento da cadeia como todo, coordenando os elos
de produção, distribuição e promoção dos vinhos de Champanhe. No que serve de lição
para a cachaça podemos destacar o papel do agente institucional o CIVC (Comité
Interprofessionnel du vin de Champagne) que tomou frente a todos os problemas
ligados ao setor, coordenando ações estratégicas relacionadas ao setor.
PEC - Cachaça
Por fim, o caso da Champanhe se mostra relevante como forma de articulação
entre os produtores para valorizar a denominação nacional “Champagne” frente a
concorrentes externos. A diferenciação de produto por sua origem favoreceu a todos,
apesar do pequeno porte dos produtores e das diferenças em seus processos produtivos.
Estima-se que a organização dos produtores possa ser uma forma de conjuntamente
atuarem de modo a perpassar todas estas estratégias, favorecendo a produção e
comercialização interna e externa da cachaça.
83
PEC - Cachaça
14 RECOMENDAÇÕES PARA A CADEIA PRODUTIVA DA
CACHAÇA
A partir das discussões realizadas no I Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da
Cachaça, são apresentados a seguir, os problemas e ações propostas para que a Cadeia
Produtiva da Cachaça se torne mais competitiva, na visão dos pesquisadores do CORS-
USP.
14.1 Cooperação horizontal
84
Problema: A condução e resultados alcançados com o I Workshop de
Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça mostraram que existe
alinhamento entre os diferentes agentes da cadeia em muitos aspectos. Contudo,
para que o setor se fortaleça, há necessidade de adoção de ações para a provisão
de bens coletivos, como a criação de padrões de qualidade, normas técnicas, e
principalmente a representação do setor com o objetivo de influenciar a
definição das regras que afetam a cadeia produtiva, como por exemplo a
tributação. Só uma entidade que represente todo o setor pode ser capaz de
executar essa tarefa com eficácia. Nesse sentido, a diminuição de assimetrias de
informação soma-se a outras necessidades como a maior interação entre o setor e
o poder público e o desenvolvimento de ações coletivas para maior
competitividade.
Ações propostas:
Fortalecimento do IBRAC como organização nas dimensões horizontal e
vertical, reconhecida pelos diferentes elos que compõe a Cadeia Produtiva da
Cachaça, de forma a contribuir com os seguintes objetivos: a) organizar e
tornar acessíveis as informações, conforme será disposto no tópico a seguir;
b) organizar fóruns de discussão para as questões relacionadas ao setor
envolvendo representantes de toda cadeia; c) representar os interesses do
setor junto as demais instituições; d) criar um projeto para captação de
recursos e para gerenciar sua aplicação; e) construir e operacionalizar o
planejamento estratégico do setor;
Buscar alinhamento entre IBRAC, Associações regionais, representações
coletivas como ABBA, ABRABE, ABRE e ABIA e governo;
PEC - Cachaça
Fomentar o desenvolvimento de parcerias ao nível internacional, nacional e
regional de forma a impulsionar o negócio da cachaça no Brasil e no Mundo;
Fortalecer as associações regionais e locais e seu papel articulador das
discussões em âmbito regional;
Ações propostas:
Desenvolver e capacitar as associações regionais e locais para o registro e
monitoramento de dados de seus associados e compartilhamento com a
entidade nacional;
Estabelecer parcerias com instituições públicas e/ou privadas para
desenvolvimento de pesquisas sobre mercado em níveis: regionais, nacional
e internacionais;
Desenvolver uma plataforma de dados comum e com informações
acessíveis, promovendo o compartilhamento de informações sobre o setor.
PEC - Cachaça
14.3 Tributação
Ações propostas:
Diminuir assimetrias de informação sobre o sistema de tributação da
cachaça entre agentes do setor, uma vez que existe um entendimento muito
heterogêneo sobre a composição dos impostos e taxas e peso da
contribuição relacionada a escala;
Desenvolver estudo tributário que avalie o impacto da tributação sobre a
pequena, média e grande produção de cachaça;
Articular, junto a Câmara Setorial e Governo, a aprovação do SIMPLES
como alternativa para inclusão de pequenos produtores no ambiente de
formalidade;
Em parceria com associações locais e regionais, promover campanhas com
o intuito de levar o pequeno produtor à formalidade.
PEC - Cachaça
14.4 Padrões de identidade, qualidade e rotulagem
Ações propostas:
Buscar a consolidação da gestão do Regulamento de Uso da Indicação
Geográfica sob uma entidade que represente o setor, seguindo como o
exemplo a Tequila e Uísque Escocês;
Revisar padrões de rotulagem visando tornar mais claro para o consumidor o
significado das definições adotadas. (Exemplo: palavra “Premium” adotada
como sinônimo de Cachaças envelhecidas pode gerar interpretações
equivocadas);
Desenvolver programas de capacitação, orientação e assistência técnica para
produtores e engarrafadores referente à adequação legal;
Buscar alinhamento dos Padrões de Identidade e Qualidade com mercado
nacional e internacional, em termos de segurança alimentar para garantir que
as regras que estão sendo criadas no mercado interno atendam aos diversos
potenciais países importadores;
Informar o consumidor sobre os Padrões de Identidade e Qualidade da
Cachaça e os riscos associados ao consumo de produtos fora dos padrões;
Desenvolver programas e projetos que permitam ampliar o número de
laboratórios de análise.
PEC - Cachaça
14.5 Marketing coletivo e comunicação
Ações propostas:
Buscar parcerias e promover pesquisas sobre o consumo de cachaça,
identificando tendências e oportunidades de atuação;
Criar direcionadores para o desenvolvimento de campanhas de marketing
individuais e coletivas que impulsionem a cachaça no mercado nacional e
internacional;
Promover a cachaça como produto genuinamente brasileiro;
Valorizar aspectos sensoriais que atribuem sofisticação exclusiva à cachaça
(Exemplo: utilização madeiras brasileiras para envelhecimento);
Fomentar a realização de concursos e exposições para divulgação da
cachaça;
PEC - Cachaça
Incentivar, buscar parcerias, ampliar e divulgar programas de capacitação de
mão-de-obra para atuação no ponto de venda, a exemplo da formação de
sommelier de cachaça;
Ampliar a divulgação do programa ”Cachaça Legal”, ou campanhas
similares que informem aos consumidores a importância do consumo de
cachaças registradas no MAPA;
14.6 Informalidade 89
Ações propostas:
Buscar aprovação do SIMPLES, conforme visto no item 3 ou regime
diferenciado de tributação para associações de pequenos produtores;
Combater a cultura da cachaça informal como produto pitoresco;
Promover fóruns de discussão para entender de que forma o setor irá tratar
pequenos produtores que produzem volumes para “consumo próprio” ou
mesmo como um complemento à sua atividade de turismo rural, sem que
esses sejam marginalizados;
Divulgar benefícios da formalização (exemplo: acesso a crédito financeiro,
assistência técnica e gerencial);
Estreitar o diálogo entre IBRAC, associações, com o poder público e órgãos
de fiscalização, visando maior equidade nas ações fiscalizadoras.
PEC - Cachaça
cadeias produtivas que compõe o agronegócio brasileiro. Neste contexto o IBRAC vem
assumindo um papel de grande importância na articulação de uma rede de cooperação
com objetivo de garantir de competitividade para a cachaça no Brasil e no mundo.
Diante da complexidade e dinamismo em que novos desafios são revelados no
futuro da Cadeia Produtiva da Cachaça, especialmente na implantação das ações
sugeridas no I Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça, surge a
necessidade de buscar novos mecanismos de captação de recursos financeiros. Se por
um lado, o setor privado encontra-se sobrecarregado com a elevada tributação, por outro 90
o apoio de instituições como a APEX são limitados e nem sempre estarão disponíveis.
Torna-se necessário, dessa forma, incluir na pauta de discussão questões como: Como o
setor pode se autofinanciar? Quais serão as contribuições dadas pela iniciativa privada e
pelo governo? É possível estabelecer critérios que definam a participação de cada
empresa no orçamento do IBRAC conforme sua atuação e dependência da Cadeia
Produtiva da Cachaça? Como será feita a cobrança?
PEC - Cachaça
de maior detalhamento sobre seu escopo. Além disso, há ações que, para serem
implementadas, dependem de recursos e outras que demandam forte interlocução na
esfera pública.
Outro ponto relacionado ao planejamento estratégico é como se dará o
desdobramento das ações priorizadas. Há um enorme trabalho a ser feito no sentido de
implementação. Por fim, o planejamento estratégico não é algo “estanque” e seus
resultados não podem ser tomados como definitivos sem ser avaliados com certa
frequência. O planejamento é um processo contínuo. 91
Para que o Planejamento encontre mais condições de ser executado e
acompanhado sugere-se:
Maior detalhamento de cada ação priorizada e transformação de todas as
ações em “projetos” que deverão ter seu escopo bem delineado, prazo
para execução, responsáveis, rotina de acompanhamento e custo de
implementação;
Avaliação da viabilidade de implantação de cada um dos projetos pelos
critérios de custo de implementação, barreiras à implementação e/ou
outros critérios relevantes;
Criar rotina de acompanhamento dos projetos (desdobramento das ações)
pela diretoria executiva do IBRAC;
Revisão do Planejamento Estratégico com frequência de 3 a 5 anos.
PEC - Cachaça
ANEXO I – LEIS, DECRETOS, INSTRUÇÕES NORMATIVAS,
PORTARIAS E RESOLUÇÕES DA CADEIA PRODUTIVA DA
CACHAÇA
Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994 – Dispõe sobre a padronização, a
classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de
bebidas.
Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009 – Regulamenta a Lei no 8.918,
92
de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação,
o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas.
Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 – Dispõe sobre as restrições ao uso e
a propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos,
terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do artigo 220 da
Constituição Federal.
Decreto nº 2.018, de 1º de outubro de 1996 – Regulamenta a Lei nº
9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à
propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas, medicamentos,
terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da
Constituição.
Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003 – Obriga a que os produtos
alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten.
Resolução ANVISA RDC nº 259/02 – Aprova o Regulamento Técnico
sobre Rotulagem de Alimentos Embalados.
Instrução Normativa MAPA nº 55/02 – Aprova o Regulamento Técnico
para Fixação de Critérios para Indicação da Denominação do Produto na
Rotulagem de Bebidas, Vinhos, Derivados da Uva e do Vinho e
Vinagres.
Instrução Normativa MAPA nº 13/05 – Aprova o Regulamento Técnico
para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Aguardente de
Cana e para Cachaça.
Decreto n° 6323 de 27 de dezembro de 2007 - Dispõe sobre a agricultura
orgânica, e dá outras providências.
PEC - Cachaça
Portaria 157/2002, de 19/08/2012, Aprova o Regulamento Técnico
Metrológico estabelecendo a forma de expressar o conteúdo líquido a ser
utilizado nos produtos pré medidos.
93
PEC - Cachaça
ANEXO II
PEC - Cachaça
FB = vetor de variáveis de frequência de consumo de outras bebidas alcoólicas
(Frequência de consumo de Vodka (destilado); Whisky (destilado); Tequila (destilado);
Vinho (fermentado); Cerveja ou Chopp (fermentado); e Outras bebidas alcoólicas).
95
PEC - Cachaça
Tabela 4 - Resultados dos Modelos Econométricos para Consumo de Cachaça
OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit
Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach Consome_Cach
VARIABLES aça aça aça aça aça aça aça aça aça aça aça aça
Qualidade 0.0367* 0.225* 0.141** 0.162** 0.0345* 0.211* 0.134* 0.148* 0.0307* 0.255* 0.163* 0.135**
(0.0187) (0.123) (0.0708) (0.0806) (0.0187) (0.125) (0.0725) (0.0797) (0.0168) (0.145) (0.0834) (0.0679)
Saúde 0.0214 0.150 0.0781 0.0871 0.0160 0.122 0.0609 0.0668 0.0252 0.196 0.0958 0.0790
(0.0175) (0.111) (0.0637) (0.0726) (0.0180) (0.117) (0.0673) (0.0748) (0.0159) (0.135) (0.0765) (0.0629)
Status 0.0356 0.292* 0.149 0.171 0.0321 0.248 0.127 0.138 0.0240 0.274 0.152 0.0999
(0.0236) (0.176) (0.0955) (0.109) (0.0239) (0.179) (0.0982) (0.109) (0.0212) (0.204) (0.114) (0.0921)
Sensorial 0.0822*** 0.722*** 0.373*** 0.443*** 0.0896*** 0.829*** 0.430*** 0.496*** 0.0523*** 0.704*** 0.372*** 0.326***
(0.0210) (0.179) (0.0912) (0.108) (0.0212) (0.189) (0.0967) (0.111) (0.0191) (0.211) (0.111) (0.0921)
Cultural -0.00158 -0.198 -0.0464 -0.0486 0.00892 -0.128 -0.0157 -0.0181 -0.0280 -0.404* -0.186 -0.142
(0.0260) (0.208) (0.108) (0.123) (0.0264) (0.214) (0.112) (0.123) (0.0239) (0.245) (0.134) (0.106)
Preço 0.0583*** 0.389*** 0.231*** 0.268*** 0.0646*** 0.428*** 0.246*** 0.277*** 0.0623*** 0.592*** 0.307*** 0.249***
(0.0181) (0.125) (0.0700) (0.0807) (0.0181) (0.130) (0.0714) (0.0802) (0.0161) (0.156) (0.0821) (0.0676)
Homem 0.0994*** 0.690*** 0.401*** 0.450*** 0.0787** 0.835*** 0.419** 0.339**
(0.0349) (0.248) (0.141) (0.159) (0.0318) (0.311) (0.171) (0.140)
Idade 0.000305 -0.000786 0.000507 0.000252 0.00368*** 0.0319** 0.0179** 0.0143**
(0.00151) (0.0106) (0.00616) (0.00680) (0.00138) (0.0137) (0.00755) (0.00605)
Escolaridade -0.0139 -0.0940 -0.0482 -0.0507 -0.0101 -0.0598 -0.0325 -0.0214
(0.00874) (0.0591) (0.0339) (0.0375) (0.00799) (0.0805) (0.0443) (0.0358)
Solteiro -0.0170 -0.201 -0.0991 -0.0997 -0.0485 -0.536 -0.280 -0.208
(0.0431) (0.303) (0.176) (0.195) (0.0384) (0.378) (0.209) (0.170)
Renda_Mensal -0.00118 -0.0197 -0.0106 -0.0132 -0.00466* -0.154 -0.0693 -0.0511
(0.00279) (0.0408) (0.0213) (0.0248) (0.00249) (0.172) (0.0941) (0.0771)
VodkaFq 0.0273** 0.231** 0.137** 0.112**
(0.0126) (0.110) (0.0618) (0.0510)
WhiskeyFq 0.0286** 0.271** 0.143** 0.126**
(0.0134) (0.116) (0.0662) (0.0560)
TequilaFq 0.113*** 0.766*** 0.429*** 0.351***
(0.0153) (0.130) (0.0723) (0.0609)
VinhoFq 0.00346 0.0658 0.0299 0.0270
(0.00918) (0.0884) (0.0500) (0.0416)
CervejChoppFq 0.00196 0.0252 0.0243 0.0240
(0.00887) (0.0936) (0.0536) (0.0442)
OutrasFq 0.0204 0.111 0.0569 0.0465
(0.0168) (0.139) (0.0762) (0.0604)
Constant -0.501*** -6.381*** -3.781*** 0.268*** -0.543*** -6.702*** -3.966*** -0.0132 -0.541*** -9.056*** -5.173*** -4.324***
(0.116) (0.900) (0.503) -4.398*** (0.135) (1.027) (0.586) -4.462*** (0.121) (1.334) (0.741) (0.656)
Observations 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500
R-squared 0.139 0.151 0.150 0.114 0.161 0.176 0.174 0.131 0.351 0.383 0.385 0.288
Standard errors in parentheses *** p<0.01, ** p<0.05,
* p<0.1