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ENSAIO DE PUNCIONAMENTO CONSIDERANDO CONDIÇÕES DE CAMPO

Elemar J. Taffe Jr(PG); Delma Vidal (PQ) e Régis M. Rodrigues (PQ)


Divisão de Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica
elemar@infra.ita.br

Resumo
O trabalho apresenta uma análise da capacidade de carga em sistemas solo/reforço, a partir de
ensaios de puncionamento estático com punção tipo CBR adotado para a caracterização de
geossintéticos, e compara o comportamento com e sem reforço e o ganho de capacidade de carga em
função da resistência no ensaio com o geotêxtil isolado. O ganho de capacidade de carga é estudado
em função da massa especifica aparente seca e do teor de umidade do solo, considerando o uso de
geotêxteis tecidos e não tecidos.

Abstract
The work makes an analysis of the bearing capacity of the soil/reinforcement system, from static
puncture tests (CBR tests) for geotextiles characterisation, comparing the behavior with and without
reinforcement and the bearing capacity earnings in function of the resistance of the test with the
isolated geotextile. The earnings of bearing capacity is studied in function of the dry unit mass and the
water content of the soil, considering the use of woven and nonwoven geotextiles.

1. INTRODUÇÃO

Na construção de estradas e ferrovias, os geossintéticos desempenham um papel importante,


melhorando a capacidade de suporte do subleito e/ou aumentando a vida útil do sistema. Aterros
reforçados com geossintéticos propiciam economias substanciais em relação a soluções tradicionais,
tais como a substituição de solo, a utilização de solo-cimento e outras. Em áreas de solo muito moles
eles podem, inclusive, permitir a entrada de equipamentos pesados que, em outras circunstâncias,
teriam dificuldades em ser utilizados.
Os ganhos introduzidos por esta técnica, já habitual em obras rodoviárias, podem ser também
utilizados no reforço de fundações rasas, com a facilidade do processo de análise estar associado à
uma condição de solicitação estática, bem mais simples que o caso de cargas repetidas. Fabrin (1999)
discute diversos ensaios apresentados na literatura e os métodos de dimensionamento usualmente
empregados para estimar a capacidade de carga do sistema solo/reforço. Klein et al (2002) apresentam
de modo resumido os fatores que influenciam esta aplicação.
O conhecimento das características de comportamento mecânico dos geossintéticos e a sua
manutenção no tempo são muito importantes para o projetista. A determinação da resistência à
penetração por puncionamento estático está incluída dentro dos chamados ensaios de caracterização ou
ensaios índice, ou seja, que tem por objetivo determinar as características básicas do geossintético,
sem levar em consideração sua interação com os meios adjacentes e o meio ambiente, nem com as
solicitações da obra. Esta propriedade não é fundamental nos projetos de reforço de fundações rasas,
que, geralmente, levam em consideração as características do comportamento do geossintético em
tração. Segundo Vidal (1994) a resistência à penetração estática está relacionada ao comportamento
em tração dos geossintéticos e é determinada através de um ensaio simples. Como o procedimento do
ensaio de puncionamento permite também realizar ensaios no sistema solo/reforço e gera curvas carga
x penetração, optou-se por utilizá-lo numa avaliação do comportamento destes sistemas. De acordo
com Vidal (1993), o ensaio de puncionamento CBR já vem sendo utilizado para avaliar efeitos da
superposição de camadas de geossintéticos
O objetivo deste trabalho é avaliar efeitos como o da variação da rigidez do suporte em função
de seu teor de umidade e discutir a possibilidade de estudar de forma simples alguns dos fatores de
influência no caso do reforço de fundações rasas. Para tanto, foram realizados ensaios com o sistema
solo/reforço e somente solo, além dos ensaios de caracterização dos geotêxteis, no mesmo
equipamento utilizado para determinar a resistência à penetração em puncionamento estático, que até
então vem sendo somente aplicado para ensaio para caracterização de geossintéticos.

1
2. MATERIAIS EMPREGADOS

2.1 Geotêxteis
Foram utilizados nesta etapa da pesquisa um geotêxtil não tecido agulhado de filamentos de
poliéster e um geotêxtil tecido de laminetes de polipropileno, com resistência média à penetração em
ensaio de puncionamento estático tipo CBR de 4,0 kN (C.V.=11,1%) e 2,2 kN (C.V.=10,0 %)
respectivamente.

2.2 Solo
O solo utilizado nos ensaios é proveniente da cidade de São José dos Campos, estado de São
Paulo. A amostra foi retirada de um corte em um talude próximo a Rodovia Presidente Dutra.
Foram realizados ensaios de análise granulométrica segundo a norma NBR 7181 (1984).
Segundo a classificação ASTM, o solo foi denominado com uma argila muito plástica e segundo a
classificação AASHTO - HRB, como argila A-7-6. Também foram realizados ensaios para
determinação de limite de liquidez (LL) e limite de plasticidade (LP) seguindo os procedimentos
descritos nas normas NBR 6459 (1984) e NBR 7180 (1984). Os valores encontrados foram de
LL=52% e LP=20%.

3. PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA

3.1 Solo
Foram compactados 8 corpos de prova para 4 diferentes valores de teor de umidade. Todos os
corpos de prova foram compactados em cilindro CBR na energia de Proctor Normal, ou seja, com 12
golpes e 5 camadas. Na Tabela 1 são apresentados os ensaios realizados com os valores de teor de
umidade e massa específica aparente seca obtidos.

Tabela 1. Resumo dos ensaios realizados.


CP h (%) γ (g/cm3) Veloc. Tipo de Ensaio
(mm/min)
CP 1 16,0 1,41 50 Solo / Geotêxtil Não Tecido
CP 2 16,2 1,43 50 Solo
Ensaios CP 3 18,3 1,58 50 Solo
com solo CP 4 18,4 1,57 50 Solo / Geotêxtil Não Tecido
CP 5 21,5 1,38 50 Solo / Geotêxtil Não Tecido
CP 6 22,1 1,39 50 Solo
CP 7* 23,9 1,54 50 Solo* / Geotêxtil Tecido
CP 8* 23,6 1,60 50 Solo*
Ensaio de Caracterização dos Geotêxteis
50 Geotêxtil tecido e não tecido
(5 corpos de prova cada)
* solo reutilizado sem secagem prévia

3.2 Geotêxtil
Para os ensaios com geotêxteis foram retirados corpos-de-prova da amostra escolhida,
obedecendo-se os critérios recomendados na norma NBR 12593 (1992).

4. ENSAIOS REALIZADOS

4.1 Procedimento Geral


A Figura 1 apresenta esquemas dos ensaios realizados e as dimensões adotadas. O método de
ensaio adotado, normalizado pela ABNT através da NBR13359 (1995) Geotêxtil – Determinação da
resistência ao puncionamento estático – Ensaio com punção CBR, consiste em submeter um corpo de
prova de geotêxtil ou produto correlato, fixado entre dois anéis metálicos apoiados sobre um cilindro
CBR, à pressão aplicada por um punção cilíndrico que se desloca à velocidade constante,
perpendicularmente a esse corpo de prova e sobre seu eixo central. A velocidade de penetração do

2
punção indicada pela norma é de 50 mm/min. As dimensões do punção e sua forma, a área livre do
corpo de prova e a velocidade de ensaio são fatores que afetam profundamente os resultados obtidos
(Vidal, 2001).
Os ensaios realizados com solo (Fig. 1b e 1c) seguiram o mesmo procedimento com a
diferença que o cilindro estava preenchido pelo solo previamente compactado.

Solo Solo

(a) (b) (c)


Figura 1. Esquemas dos ensaios realizados.

As leituras foram realizadas de cinco em cinco segundos. Os resultados devem ser apresentados
em uma curva de força em kN por penetração em mm.

4.2 Ensaio de Puncionamento com Solo


Após a compactação dos corpos de prova, os mesmos foram colocados em sacos plásticos para
que não houvesse nenhuma alteração com relação à umidade. Foram submetidos a este ensaio, corpos-
de-prova de solo com teores de umidades de aproximadamente 16%, 18%, 22% e 24%. Não foram
aplicadas sobrecargas sobre o solo no ensaio.
O punção foi ajustado de modo que ficasse no topo do corpo de prova, em contato com o solo
antes do início do ensaio. A Figura 1b mostra um esquema do ensaio de puncionamento com solo.

4.3 Ensaio de Puncionamento com Solo e Geotêxtil


A Figura 1c mostra esquematicamente como foram realizados os ensaios. Terminada a etapa de
compactação, os corpos de prova foram colocados dentro de sacos plásticos para não haver perda de
umidade. Em seguida, foi iniciada a realização dos ensaios no equipamento de puncionamento estático
com punção CBR.
Nos ensaios com solo e geotêxtil, os corpos-de-prova de solo tiveram que ser deslocados
aproximadamente 1 cm para fora do cilindro, isto por que existia um intervalo de 1 cm entre o
geotêxtil e a superfície do solo, pelo fato do uso de anéis metálicos para fixação do geotêxtil.
Após a fixação do corpo-de-prova de geotêxtil entre os dois anéis metálicos, o punção deve ser
posicionado de modo que fique em contato com o geotêxtil e este com o solo, desde modo o ensaio
pode ser iniciado.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A Figura 2 apresenta os resultados dos ensaios de puncionamento com solo e geotêxtil não
tecido isolados e do sistema solo/geotêxtil não tecido para solos com teor de umidade de 16%, 18% e
22% respectivamente. A curva apresentada como sendo do ensaio com geotêxtil isolado, é a curva
média de todos os ensaios com geotêxtil não tecido.

3
p ressão (kN /m 2 )
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 8500 9000 9500
0

10

15

20

25

30

35

40

45

50 Solo/G eotextilN ão Tecido(16% )

55 Solo (16% )
60 G eotextilN ãoTecido
65
(a)

p ressão (kN /m 2 )

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 8500 9000 9500
0

10

15

20

25

30

35

40

45

50 Solo/G eotextilN ão Tecido(18% )

55 Solo (18% )
60 G eotextilN ãoTecido (b)
65

p ressão (kN /m 2 )

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 8500 9000 9500
0

10

15

20

25

30

35

40

45
Solo/G eotextilN ão Tecido(22% )
50

55 Solo (22% )

60 G eotextilN ãoTecido

65
(c)

Figura 2. Resultado dos ensaios de puncionamento com solo, geotêxtil não tecido e solo/geotêxtil não
tecido.

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As curvas apresentadas na Figura 3 foram originadas a partir das curvas dos demais ensaios.
Estas curvas representam a relação entre a resistência do sistema solo/geotêxtil e a resistência do solo
sem reforço, para cada valor de penetração.
3,0
Resistência Solo/Geotêxtil e Resistência Solo

2,5

2,0

1,5

1,0

Relação Solo/Geotêxtil Não Tecido e Solo (h=16%)

Relação Solo/Geotêxtil Não Tecido e Solo (h=18%)


0,5
Relação Solo/Geotêxtil Não Tecido e Solo (h=22%)

Relação Solo/Geotêxtil Tecido e Solo (h=24%)


0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55

penetração (mm)

Figura 3. Relação entre resistência do sistema solo/geotêxtil e solo.

6. COMENTÁRIOS

Este trabalho apresenta uma análise do ganho de resistência com a inclusão de reforço com
geossintéticos em solo através do ensaio de puncionamento estático convencional para geossintéticos.
De acordo com os resultados obtidos, apresentados nas Figuras 2 e 3, pode-se apontar as seguintes
questões:
• Os resultados obtidos mostraram claramente o aumento de resistência do solo com a inclusão
do reforço com geotêxteis. O maior ganho de resistência com a presença do reforço ocorreu nos
corpos de prova com maior teor de umidade, como pode ser verificado na Figura 3, ou seja, na
pior situação, com solo de maior grau de saturação, ou seja, de capacidade de suporte esperada
menor, o ganho de resistência do sistema solo/geotêxtil é maior;
• Apesar dos valores de resistência máxima de pico do sistema solo/geotêxtil apresentarem
grandes variações em função do teor de umidade, o rompimento dos geotêxteis nos sistemas
solo/geotêxtil ocorreram praticamente com a mesma deformação (cerca de 25 mm) pois o
comprimento total deformado para esta penetração é equivalente ao do ensaio sem solo. A
Figura 2 mostra o tipo de curva realizado em cada caso;
• Pode-se verificar também, que os geotêxteis, tanto o não tecido como o tecido, somente
começaram a atuar como reforço após uma determinada deformação (5 a 7 mm). O caso com
teor de umidade de 16% foi o que apresentou ganhos a menores penetrações. Entre as causas
possíveis, poderíamos considerar que a sucção induz tensões internas no solo mais elevadas,
tornando o material menos compressível, com maior reação ao efeito confinante do geotêxtil;
• Os resultados evidenciam a importância da rigidez do geossintético e do pré-estiramento no
momento da instalação no campo, a fim de diminuir os recalques.
Como sugestão para futuros trabalhos, podemos indicar o estudo dos efeitos da rigidez do
reforço e do atrito de interface, a velocidade de ensaio e o uso de outros materiais. Um estudo que
considerasse os parâmetros de resistência do solo suporte, poderia avaliar a possibilidade de, através
deste ensaio, estimar a capacidade de carga do sistema solo/reforço.

5
AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior – CAPES, pelo suporte financeiro aos trabalhos de pesquisa, bem como ao laboratorista
Reinaldo e aos colegas Fernando e Cláudio pelo apoio na realização dos ensaios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT, NBR-7181 - Solo - Análise Granulométrica, 1984, 13 p.


[2] ABNT, NBR-6459 - Solo - Determinação do Limite de Liquidez, 1984, 6 p.
[3] ABNT, NBR-7180 - Solo - Determinação do Limite de Plasticidade, 1984, 3 p.
[4] ABNT, NBR-12593 - Geotêxteis - Amostragem e preparação de corpos de prova – Procedimento,
1992, 4 p.
[5] ABNT, NBR-13359 – Geotêxteis: Determinação da Resistência ao Puncionamento Estático -
Ensaio com Punção CBR, 1995, Associação Brasileira de Normas Técnicas, , 4 p.
[6] Fabrin, T. W. ,O uso de geossintéticos no reforço de fundações: aplicação ao caso de fundações
enterradas”. Dissertação de Mestrado, Divisão de Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica,
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 1999, São José dos Campos.
[7] Klein, R. J., Vidal, D., Rodrigues, R.M., Reforço de fundações rasas com geossintético: efeitos nas
propriedades do material compactado, Pesquisa em andamento (submetido ao XII
COMBRAMSEG), Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2002, São José dos Campos.
[8] Vidal, D., Gourc, J.P., Purwanto, E., The CBR puncture test applied to geomembranes, 4th
International Conference on Geotextile, Geomembranes and Related Products, 1994 Singapore,.
[9] Vidal, D., Costa M.A.C., Resistência ao puncionamento estático de geotêxteis e geomembranas, 8º
Simpósio Brasileiro de Impermeabilização. 1993 São Paulo, , pp. 229-242.
[10] Vidal, D., Os Geossintéticos e suas funções, Apostila do Curso Aplicação de Geossintéticos à
Obras Civis – Instituto Tecnológico de Aeronáutica. 2001 São José dos Campos,.

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