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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
ARQUITETURA E URBANISMO

KÁTRYSON MUNIZ SANTOS COSTA

ALGORITMIZAÇÃO NO PROCESSO DE PROJETO DE ARQUITETURA

ARAPIRACA
2018
KÁTRYSON MUNIZ SANTOS COSTA

ALGORITMIZAÇÃO NO PROCESSO DE PROJETO DE ARQUITETURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Arquitetura e Urbanismo como
parte das exigências para Exame de
Qualificação para obtenção do Grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador (a): Prof. Me Edler Olveira Santos

Arapiraca
2018
Kátryson Muniz Santos Costa

Algoritmização no processo de projeto em Arquitetura

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal de Alagoas/Campus
Arapiraca, como parte dos requisitos para
obtenção do Grau de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo.

Data de Aprovação: 22/10/2018.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Edler Oliveira Santos


Universidade Federal de Alagoas
Campus Arapiraca
Orientador

Profa. Dra. Elisabeth de Albuquerque Cavalcanti Duarte Gonçalves


Universidade Federal de Alagoas — UFAL
Campus Arapiraca
Examinador

Prof. Dr. Odair Barbo a de Moraes


Universidade Federal de Alagoas — UFAL
Campus Arapiraca
Examinador

Arqta. Urb. Nívea Pereira Cavalcante Silva


Arquiteta e Urbanista
Examinador
Dedico à realização deste trabalho ao meu criador,
pois sem suas bênçãos nada conseguiria, e à
minha família.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por todas as suas bênçãos em minha vida e


por ter me dado forças a superar todos os desafios.
À minha família agradeço de forma muito especial: à minha mãe Roseneide
Muniz por ter me gerado e me criado com tanto amor, dedicação e lutado por minha
felicidade e crescimento pessoal; ao meu pai José Costa por, em conjunto com minha
mãe, ter me proporcionado uma boa formação escolar e me ajudado a realizar meus
feitos, além de todo o amor; à minha irmã Katryce Muniz por ter me servido como
espelho de profissão, pois ela foi a primeira a adentrar no campo da arquitetura e
urbanismo, sua ajuda a mim concedida durante o curso e seu tamanho amor a mim;
e ao meu irmão Keytson Muniz por me amar e me apoiar nos meus feitos.
Agradeço também aos amigos que conquistei e me proporcionaram bons e
memoráveis momentos nesse período de graduação: Igor, Mateus, Júnior, Jadson,
Clívia e Flávia ainda do período que passei pelo de Ciências da Computação, e Elias,
João Marcos, Andrey, Jader, Tadeu, Olga e Iasmyn, eternos amigos para além das
arquiteturas.
Agradeço também ao professor Rafael Rust por ter sido além de um exemplar
professor, um amigo que pretendo levar para o resto da vida, e ao professor e
orientador Edler por todo o auxílio, direcionamento e paciência a mim dedicada.
Por fim e não menos importante, agradeço à minha então namorada Elis
Monteiro, por todo seu apoio e incentivo a mim oferecidos, assim como amor,
paciência, tranquilidade e paz, elementos esses indispensáveis para que então eu
pudesse ter concluído esta etapa da minha vida.
RESUMO

Esta pesquisa busca avaliar o raciocínio lógico e o uso de algoritmos no processo de


projeto em arquitetura. Enquadra-se, em sua grande área, no campo da teoria de
projeto em arquitetura, possuindo enfoque principal na subárea denominada
Computational Design, proporcionando, portanto, um importante debate sobre este
tema, não só para o corpo acadêmico de arquitetura e urbanismo, mas também para
arquitetos já formados e profissionais que trabalham com processo de projeto. Para
atingir os objetivos da pesquisa, foram utilizadas duas metodologias: análise temática
de conteúdo e análise de protocolo do processo de projeto. A primeira metodologia
foi utilizada para a apuração direcionada dos conceitos e bases teóricas necessárias
para pesquisa. Já a segunda metodologia foi utilizada para o desenvolvimento e
análise do experimento realizado nesta pesquisa. O experimento se tratou da
realização de prática de projeto com dois voluntários graduados em Arquitetura e
Urbanismo ambos formados na mesma faculdade e com experiência de 2 anos como
projetista. No experimento, um dos voluntários desenvolveu a tarefa de projeto sem
o auxílio de algorítmo e o outro com o auxílio de algorítmo. Os resultados obtidos a
partir experimentos realizados possibilitaram avaliar o raciocínio lógico desenvolvido
pelos voluntários nas práticas de projeto, assim como o potencial e as limitações do
uso de algorítmos no processo de projeto em arquitetura.
Palavras-chave: Processo de projeto. Computational design. Lógica. Algorítmos
ABSTRACT

This research tries to evaluate the logical reasoning and the use of algorithms in the
design process in architecture. It is, in its large area, in the field of design theory in
architecture, having a main focus in the sub-area called Computational Design, thus
providing an important debate on this subject, not only for the academic body of
architecture and urbanism, but also for trained architects and professionals working
with the design process. To achieve the research objectives, two methodologies were
used: content thematic analysis and protocol analysis of the project process. The first
methodology was used to determine the theoretical concepts and bases required for
research. The second methodology was used for the development and analysis of the
experiment carried out in this research. The experiment involved the accomplishment
of project practice with two volunteers graduated in Architecture and Urbanism both
trained in the same faculty and with 2 years of experience as a designer. In the
experiment, one of the volunteers developed the design task without the aid of an
algorithm and the other with the aid of an algorithm. The results obtained from realized
experiments allowed to evaluate the logical reasoning developed by the volunteers in
the design practices, as well as the potential and the limitations of the use of
algorithms in the design process in architecture..
Keywords: Design process. Computational design. Logic. Algorithm.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapeamento do processo de projeto de acordo com o plano de


trabalho do RIBA ..................................................................................................... 23
Figura 2 - O mapeamento de projeto de Markus (1969b) e Maver (1970) ........... 24
Figura 3 - O processo de projeto visto como negociação entre problema e
solução por meio das três atividades de análise, síntese e avaliação ............... 25
Figura 4 - Algorítmo do cálculo da média de um aluno representado em
descrição narrativa e fluxograma convencional. ................................................. 28
Figura 5 - Algorítmo do cálculo da média de um aluno representado em
Português estruturado ou Portugol. ...................................................................... 28
Figura 6 - Exemplificação de um universo de discurso do projeto de uma
cadeira. ..................................................................................................................... 30
Figura 7 - Exemplificação do universo de discurso, conceitualização e descrição
do discurso de uma cadeira ................................................................................... 31
Figura 8 - Fluxograma dos conceitos discutidos: Universo de discurso;
Conceitualização; e Descrição ............................................................................... 32
Figura 9 - Exemplificação da criação de um mundo projetual ............................ 34
Figura 10 - Tijolo representado em um mundo projetual de duas dimensões... 35
Figura 11 - Representação da conjuntura geral dos conceitos apresentados:
Discurso, Universo de Discurso, Conceitualização, Descrição, Mundo Projetual
e Linguagem Crítica. ............................................................................................... 36
Figura 12 - Representação da árvore estado-ação. .............................................. 37
Figura 13 - Exemplificação de satisfação de predicados .................................... 38
Figura 14 - Fluxograma convencional representante da relação entre as teorias
de processo de projeto de Mitchell (1990) e o mapeamento de processo de
projeto de Lawson (2011). ...................................................................................... 40
Figura 15 - a) Listagem das regras compositivas do projeto; b) Quadro com as
variáveis e constantes do projeto; c) Layout esquemático do sanitário............ 44
Figura 16 - Composição das coordenadas e fórmulas do projeto ...................... 45
Figura 17 - a) Primeira interface de interação gerada do programa; b) Interface
gerada após percebida a necessidade do fornecimento variável do valor da
profundidade da cabine. ......................................................................................... 45
Figura 18 - Linha do tempo com o registro das atividades comportamentais do
voluntário 01 ............................................................................................................ 51
Figura 19 - Predominância em porcentagem das atividades do voluntário 01 .. 52
Figura 20 - Relação de dependência entre os segmentos do voluntário 01 ...... 53
Figura 21 - Linha do tempo com o registro das atividades comportamentais do
voluntário 02 ............................................................................................................ 57
Figura 22 - Predominância em porcentagem das atividades do voluntário 02 .. 58
Figura 23 - Relação de dependência entre os segmentos do voluntário 02 ...... 59
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Quadro de suporte para registro das variáveis de projeto ............... 49


Quadro 2 - Quadro de extensão às variáveis, dedicada à mobiliários ............... 49
Quadro 3 - Quadro de suporte ao registro de condicionantes com
preenchimento para exemplo................................................................................. 50
Quadro 4 - Registro em segundos do tempo de duração de cada atividade do
voluntário 02 ............................................................................................................ 52
Quadro 5 - Quadro reduzida de segmentação e codificação do relatório
retrospectivo do experimento do voluntário 01 ................................................... 54
Quadro 6 - Registro em segundos do tempo de duração de cada atividade do
voluntário 02 ............................................................................................................ 58
Quadro 7 - Quadro reduzida de segmentação e codificação do relatório
retrospectivo do experimento do voluntário 02 ................................................... 60
Quadro 8 - Quadro de suporte para registro das variáveis de projeto preenchida
com os dados levantados pelo voluntário 02 ....................................................... 62
Quadro 9 – Quadro de suporte ao registro de condicionantes projeto preenchida
com os dados levantados pelo voluntário 02 ....................................................... 62
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 11
1.1 Justificativa ............................................................................................. 15
1.2 Objetivos ................................................................................................. 15
1.2.1 Objetivo geral.......................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 15
1.3 Metodologia ............................................................................................ 16
1.3.1 Análise de Conteúdo .............................................................................. 17
1.3.2 O Experimento ........................................................................................ 17
1.3.3 Análise de Protocolo de Projeto ........................................................... 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................... 21
2.1 O Projeto e seu Processo ...................................................................... 21
2.2 A Lógica e os Algorítmos ...................................................................... 26
2.3 Computational Design e a Teoria de Projeto de Mitchell .................... 29
2.4 CAD Criativo ........................................................................................... 41
3 REFERENCIAL EMPÍRICO ..................................................................... 46
3.1 Relato dos experimentos ....................................................................... 46
3.2 Análise de Protocolo de Projeto do Voluntário 01 .............................. 50
3.3 Análise de Protocolo de Projeto do Voluntário 02 .............................. 56
3.4 Conclusão ............................................................................................... 63
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 64
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 65
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 11

1 INTRODUÇÃO

Com o objetivo prático de organizar de forma criativa e funcional o homem no


espaço, a Arquitetura envolve em seus processos projetuais tantas variáveis quanto
a complexidade desta área pode oferecer. O projeto em arquitetura pode ser pensado,
então, como uma tradução de necessidades laborais, ergonômicas, climáticas,
luminosas e n outras, em espaços construídos. Trata-se de um artifício que tem por
finalidade prever, de forma pormenorizada, como determinado produto será realizado.
Além de condicionantes de caráter técnico, matemático, tecnológico,
legislativo, entre outras, um projeto de arquitetura também abrange variáveis de cunho
social, antropológico, filosófico e outras demais, além de valores subjetivos, que
configuram um projeto.
Projetar, então, requer abstração por parte de quem o faz, uma representação
de como determinadas variáveis e condicionantes podem ser equacionadas de
maneira satisfatória. Por esse motivo, conhecer de forma cada vez mais profunda os
parâmetros e requisitos de um determinado tema arquitetônico é de suma importância
para a execução de um bom projeto.
Contudo, identificar todas as possíveis variáveis e condicionantes que precisam
ser previstas e atendidas em um projeto é uma atividade bastante complexa, uma vez
que, como será discutido adiante, não são satisfatoriamente determinadas antes do
início da atividade de projeto, passando a ser melhor conhecidas durante o processo
(LAWSON, 2011).
Por essa razão – da complexidade que se é projetar – foi que, em meados da
década de 1960, despertou-se o interesse por parte, inicialmente, de engenheiros e
pesquisadores em metodologia científica, pelo raciocínio desenvolvido na concepção
de projeto. A pretensão era de conhecer e organizar o processo cognitivo que um
projetista desenvolve para gerar produto de projeto (de arquitetura, engenharia ou
design de produto); assim como os métodos científicos aceitáveis para realização de
pesquisas científicas. O trabalho considerado pioneiro foi o estudo acerca dos projetos
em engenharia, desenvolvido por Marples 1 em 1960; uma década mais tarde, foi
possível ver um crescimento significativo nesta área com o estudo dos protocolos de

1 Marples, D. The decisions of engineering design. Institute of Engineering Designers, London (1960).
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 12

projeto de arquitetos realizado por Eastman2 (CROSS, 1998).


Em seu artigo intitulado Natural inteligence in design, Cross (1998) faz um
apanhado dos tipos de abordagens e métodos de pesquisa referente ao pensamento
e métodos projetuais. Nessa coletânea são listados os seguintes tipos de métodos de
pesquisa: entrevista com os projetistas; observações e estudo de casos; estudo de
protocolos; reflexão e teorização; e experiências simulacionais.
No primeiro método apresentado por Cross (1998), as entrevistas eram
realizadas normalmente com projetistas de renome e considerados como tendo um
bom desenvolvimento na habilidade de projetar. As entrevistas eram normalmente
não-estruturadas e buscavam resgatar do projetista reflexões sobre seu processo e
seus procedimentos no ato de projeto.
Nas observações e estudos de caso, o progresso e desenvolvimento do projeto
seria monitorado através de observadores, onde este registro poderia acontecer
simultaneamente ao processo do projeto, ou a posteriori.
Quanto ao estudo de protocolos, os designers eram solicitados a realizar um
conjunto de tarefas projetuais, das quais eram registradas o “pensar em voz alta” e as
ações associadas a esse processo. Esse é um método mais formal, devido às regras
relacionadas à gravação dos protocolos utilizados pelos projetistas, e normalmente
utilizava-se de projetos virtuais executados tanto por estudantes quanto por projetistas
experientes que se propusessem ao experimento.
Da mesma forma que eram realizadas pesquisas mais empíricas na busca da
interpretação de um padrão no pensamento projetual, pesquisadores realizaram
reflexões e teorizações a respeito da natureza da habilidade de projetar; por exemplo
Simon (1981)3 e Shön (1993)4.
A última metodologia de pesquisa em processo projetual citada por Cross
(1998), trata-se de um campo de estudo já bem estabelecido em diversos países do
mundo, em especial na Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Austrália, o
Computational Design ou Design Computing. Como esclarece Celani (2008 apud
MITCHELL, 1990) apesar do termo design computing remeter à utilização do

2 Eastman, C ‘On the analysis of intuitive design processes’ in G T Moore Emerging methods in
environmental design and planning. MIT Press, Cambridge, MA, USA (1970).
3 Simon, H The sciences of the artificial. MIT Press, Cambridge. MA, USA (1981)
4 Schön, D The reflective practitioner. Basic Books, New York, USA (1983)
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 13

computador como ferramenta básica de trabalho, esta área de pesquisa não se limita
apenas à implementação de aplicativos em computador, mas sim, ao fato de pensar
sobre o projeto de maneira lógica e matemática.
Ainda de acordo com Celani:

O computational design é uma área de pesquisa que procura desenvolver,


por um lado, uma teoria computacional do processo de projeto apoiada nas
ciências cognitivas, e, por outro, métodos e aplicações que permitam o
desenvolvimento de projeto com uso de meios computacionais. (CELANI,
2008 apud MITCHELL, 1990, p. 5)

Apoiado então, na convicção de que o processo projetual deveria sustentar-se


no pensamento lógico-matemático, William Mitchell publica em 1990, por meio da MIT
Press, sua obra intitulada The Logic of Architecture. Neste livro, Mitchell tem a
pretensão de desenvolver uma melhor fundamentação para teoria computacional do
projeto, com a preocupação de fornecer melhores bases para o desenvolvimento das
aplicações de computador voltadas para o auxílio de projeto.
Em segundo plano, Mitchell desenvolve uma teoria da arquitetura e projeto
completamente baseada no raciocínio lógico e computacional. Utilizando-se de
técnicas da lógica de primeira ordem, conceitos de inteligência artificial e ciências
cognitivas, o autor descreve o projeto como um processo de operações lógicas que
se desenvolve em um universo virtual e regidas por regras gramaticais. (MITCHELL,
1990).
Como processamentos lógicos, na grande maioria das vezes, são trabalhos
exaustivos e repetitivos, o uso do computador como ferramenta auxiliar neste campo
de pesquisa se tornou quase que indispensável (CELANI, 2008 apud MITCHELL,
1990). Sendo assim, por este motivo, que aplicativos de computador foram e são
desenvolvidos para auxiliar o trabalho dos profissionais em projeto.
As primeiras aplicações de computador utilizadas para o auxílio de atividades
projetuais – à princípio em engenharia – tiveram início nos anos 1950, criando consigo
um novo conceito e direcionamento para produção de projetos em geral: o CAD, que
numa tradução direta significa Projeto Auxiliado por computador – Computer Aided
Design.
As aplicações CAD são largamente utilizadas no mundo como ferramenta de
representação, bidimensional ou tridimensional, precisa do projeto; como é o caso do
AutoCAD e Sketchup, por exemplo. Porém esse tipo de utilização não explora todo
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 14

potencial do computador para realizar atividades repetitivas, o qual poderia ser melhor
aproveitado no processamento de variáveis e informações; contribuindo, então, de
fato no processo de projeto.
Assim como sugere Mitchell (1990), é possível se seguir regras lógicas e um
provável percurso para que haja a concepção de um bom projeto, tratando-se então,
da utilização de algorítmos no processo de projeto. Segundo Terzidis (2009, apud
Martino, 2014), a ideia de algorítmo se resume a um conjunto finito de regras ou
operações precisas, inequívocas e simples, que ao serem seguidas conseguem
conduzir à execução de uma ação.
Algoritmizar algum tipo de processo requer um aprofundamento considerável a
respeito do tema, o que proporciona ao projetista um conhecimento detalhado sobre
o que se quer projetar. Stiny (1978) observa que a simples tentativa de se desenvolver
um algoritmo para um determinado processo, constitui-se num ótimo trabalho de
aprofundamento e pormenorização a respeito do tema, uma vez que para sua
construção, o algoritmo deve ser definido em tamanho grau de detalhe.
Em contrapartida, é válido destacar que é uma tarefa muito difícil – até o
presente momento, inalcançável – mapear e sequenciar os processos mentais
realizados para que seja desenvolvido um projeto. Segundo Lawson (2011), o
processo de projeto é algo muito mais caótico que metódico, nem sempre se começa
por onde quer começar ou termina onde se quer terminar; e os processos de análise
e síntese acontecem repetidamente durante o processo, sendo então, as variáveis de
projeto descobertas muito mais nessa etapa do que no início do projeto.
Portanto, observando-se a importância do conhecimento das teorias e
aplicações do computational design é que este trabalho de conclusão de curso é
desenvolvido com o intuito de levantar, a princípio, ao curso de arquitetura e
urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, à discursão um
tema pouco conhecido e debatido; assim como avaliar, por meio de experimentos, o
processo lógico desenvolvido por arquitetos em uma atividade de projeto e, o potencial
do uso do conceito de algorítmo no processo de projeto.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 15

1.1 Justificativa

A inquietação que impulsionou a realização desta pesquisa oriunda da


curiosidade acerca dos métodos de processo de projeto em arquitetura e urbanismo
e o grande interesse por parte do autor por processos lógicos computacionais e afins.
O interesse em aprimorar os conhecimentos aprendidos durante o período de
graduação a respeito de técnicas que auxiliassem de forma eficaz esse processo
também foi um fator importante para o desenvolvimento deste trabalho.
As discussões e bases teóricas a respeito das Teorias de Projeto são
geralmente pouco apresentadas e discutidas nos cursos de arquitetura e urbanismo,
assim como, por consequência, o conhecimento a respeito do tema Computational
Design e a verdadeira amplitude de uso e conceito do CAD.
De uma forma mais especifica, o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFAL,
Campus Arapiraca, também apresenta essa deficiência. Debater, portanto, sobre este
tema é bastante valioso não só para o corpo acadêmico de arquitetura e urbanismo,
mas também para arquitetos já formados e profissionais que trabalham com projeto.
A demonstração da aplicabilidade de algorítmos e procedimentos lógicos, segundo as
bases teóricas de Mitchell, no processo de projeto arquitetônico, é também outro
pronto de relevância para este trabalho, visto que amplia a visão de alunos, docentes
e profissionais da área a uma nova forma de pensar e desenvolver projeto em
arquitetura.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

• Avaliar o processo lógico e o uso de algoritmos no processo de projeto em


arquitetura.

1.2.2 Objetivos específicos

• Teorizar sobre processo projeto em arquitetura;


• Conceituar lógica e algorítmo;
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 16

• Relacionar as teorias sobre mapeamento de processo de projeto e


Computational Design;
• Conceituar CAD e o uso de algorítmos na plataforma do AutoCAD;
• Desenvolver um experimento de processo de projeto com profissionais
em arquitetura;
• Identificar e analisar o raciocínio lógico desenvolvido por arquitetos
durante seu processo de projeto;
• Avaliar o potencial e as limitações do uso de algorítmos no processo de
projeto em arquitetura.

1.3 Metodologia

A fim de alcançar todos os objetivos listados, este trabalho dividiu-se em duas


grandes etapas: o referencial teórico que se deu através da absorção e estruturação
dos conhecimentos, conceitos, informações e teorias a respeito do grande tema deste
trabalho – processo de projeto em arquitetura – e dos temas subjacentes –
computational design, o uso do CAD e lógica e algorítmos – ; e o referencial empírico
alcançado através da realização de experimento.
Para se desenvolver essas duas grandes etapas deste trabalho foram utilizados
métodos e técnicas de pesquisa já firmadas no meio acadêmico, todas elas se
enquadrando na metodologia de pesquisa qualitativa: a análise temática de conteúdo
e métodos de análise de protocolo de projeto; o modelo baseado em atividade – the
activity-based model – (AKIN; LIN, 1995) e relato retrospectivo do pensamento
projetual do indivíduo – retrospective reports of subjects' design thoughts – (SUWA;
TVERSKY, 1997). A análise temática de conteúdo foi o método utilizado para construir
a primeira etapa deste trabalho, o referencial teórico; enquanto os métodos de análise
de protocolo de projeto foram utilizados para desenvolver o referencial empírico.
Visto que metodologia de pesquisa qualitativa estuda as percepções e opiniões
emergentes da subjetividade humana, propiciando então, por meio do entendimento
profundo e sistemático do objeto a ser estudado, a revisão e criação de conceitos e
categorias (CAVALCANTE; CALIXTO; PINHEIRO, 2014), é que foram escolhidos
esses métodos para que fosse possível levantar todas conceitualizações importantes
para este trabalho, assim como a captura e tratamento dos dados obtidos no
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 17

experimento deste. O procedimento do experimento, assim como a abordagem teórica


dos métodos utilizados nesta pesquisa, será abordado com detalhes nos subtópicos
seguintes.

1.3.1 Análise de Conteúdo

Análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que tem por objetivo organizar


e analisar dados. De forma sistemática, esse conjunto de técnicas permite o
levantamento de indicadores (formulação e reformulação de hipóteses) que
proporcionam a descrição do conteúdo acerca da enunciação, assim como as
inferências sobre os dados coletados (CAVALCANTE; CALIXTO; PINHEIRO, 2014).
De acordo com Minayo (2007), as etapas que constituem a análise temática de
conteúdo são: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados
obtidos. De forma resumida, cada uma dessas etapas representa, respectivamente:
imersão no material de campo, a fim de elaborar os indicadores que fundamentarão a
pesquisa; reduzir o texto à palavras e expressões chaves que sirvam como registro
de conceito e significado; e por último, a interpretação ou inferência realizada a partir
dos dados obtidos (CAVALCANTE; CALIXTO; PINHEIRO, 2014).
Este método de pesquisa serviu de ferramenta para captura de conceitos e
teorias inerentes e importantes para o embasamento teórico contido na primeira etapa
deste trabalho, contribuindo, portanto, para que este conteúdo ficasse bem
estruturado e servisse de base para o experimento que foi realizado.

1.3.2 O Experimento

O experimento se tratou de exercícios de projeto de layout de um cômodo de


uma residência familiar: uma cozinha; realizado individualmente por dois voluntários,
sendo estes arquitetos e urbanistas graduados do curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca – de mesmo período de
formação e, consecutivamente, semelhante experiência profissional.
Qualitativamente, a utilização de voluntários graduados na mesma faculdade e
com mesmo nível de experiência teve fundamento para, teoricamente,
equipotencializar o nível projetual dos voluntários. A utilização de apenas dois
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 18

voluntários foi devido ao interesse fim do experimento em avaliar o processo de projeto


em arquitetura com e sem a utilização de algorítmo; justificando, portanto, o
dimensionamento quantitativo dos voluntários.
Foram utilizados apenas dois voluntários para a realização do experimento,
pois o objetivo principal do experimento foi o de identificar
O experimentador forneceu a ambos os voluntários um programa de
necessidades que continha as informações prévias necessárias para o
desenvolvimento do projeto. O experimento foi realizado de forma individual com os
voluntários e em local, data e horário de sua preferência, de forma que se pudesse
propiciar uma fluidez natural de seu raciocínio durante o processo de projeto; visto
que ambos realizam corriqueiramente esse tipo de atividade, profissionalmente
falando.
Com a finalidade de se alcançar o objetivo de investigar a contribuição do uso
conceitual de algorítmos no processo de projeto em arquitetura e Identificar e analisar
o raciocínio lógico desenvolvido por arquitetos neste mesmo de tipo de processo
projetual, foi apresentado, então, para apenas um dos voluntários os conceitos
relacionados à lógica, algorítmos e sua inter-relação com o projeto de arquitetura e
urbanismo; avaliando-se portanto, uma possível influência desse conhecimento prévio
nos resultados do experimento.
Foram utilizados os métodos de análise protocolo de projeto já citados; os quais
tem por fundamento analisar os dados verbais e visuais presentes no processo de
projeto. Para melhor viabilizar a análise dos dados verbais dos experimentos, foi
orientado aos voluntários que fizessem uso da técnica think aloud – que se trata nada
mais do que pensar em voz alta – e que registrassem suas possíveis anotações,
rascunhos e decisões de projeto, graficamente, até que chegassem ao resultado final
do exercício projetual.
Os experimentos foram filmados a fim de possibilitar, a posteriori, a análise dos
processos de projeto dos voluntários e demarcações temporais para facilitar a
localização das atividades desenvolvidas pelos voluntários. Essas demarcações
temporais são denominadas carimbos de tempo ou time-stamps e foram utilizados
como técnica de registro por exemplo por Akin e Lin (1995) em sua pesquisa sobre
dados de protocolo de projeto e tomadas de decisão.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 19

1.3.3 Análise de Protocolo de Projeto

Como o próprio nome deduz, esse tipo de método de análise se preocupa com
o protocolo desenvolvido no projeto, em outras palavras, o passo-a-passo, processo,
padrão, ações desempenhadas por projetistas que possuam algum tipo de relação,
lógica e etc. O primeiro estudo de protocolo em projeto de arquitetura foi desenvolvido
por Eastman (1968), o qual avaliou o processo de redesenho de banheiros
residenciais feito por projetistas experientes e baseados em desenhos ortogonais e
avaliação de usuários (apud AKIN; LIN, 1995).
O conjunto mínimo aparentemente necessário para o desenvolvimento da
análise de protocolo de projeto é o registro de verbalizações, normalmente por meio
da gravação de áudio ou vídeo, e o registro dos desenhos desenvolvidos no processo
(AKIN; LIN, 1995). A necessidade e relação atribuída a esses dois tipos de dados
adentram nos ramos da ciência cognitiva e está atrelada à maneira que a mente
humana manipula as informações visuais.
Para este trabalho, foi identificada a necessidade de trabalhar-se mais de um
método e técnica para a captura desses dados, sendo estes: o modelo baseado em
atividades, utilizado por Akin e Lin (1995); e o relato retrospectivo do pensamento
projetual do indivíduo, utilizado por Suwa e Tversky (1997).
O primeiro modelo – o modelo baseado em atividades – trata-se de uma
expansão categórica do modelo dual mode5. Nesse os dados verbais e visuais são
divididos em categorias de atividades comportamentais do projetista/voluntário, e
divisão realizada por Akin e Lin (1995) possui 06 (seis) categorias: Desenhar,
Escrever, Falar, Pensar, Examinar e Ouvir. As três primeiras atividades desta
sequência (desenhar, escrever e falar) estão diretamente ligadas aos dados verbais e
visuais, já as três últimas agregam informações empíricas capturadas a partir da
observação do comportamento do voluntário.
A finalidade da análise dessas atividades comportamentais neste trabalho se
justifica devido à necessidade de se examinar qual a atividade predominante, sua

5O modelo dual mode consiste em um método de análise de protocolos de projeto que analisa, assim
como os demais, dados verbais e visuais. Neste os dados visuais são capturados a partir dos desenhos
desenvolvidos pelo experimentado, e os dados verbais a partir do thinking aloud. Neste método os
dados verbais e visuais são considerados ecos e busca-se comumente perceber a relevância desses
dados no processo de projeto (AKIN E LIN, 1995)
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 20

ocorrência, frequência e sua relevância no processo e raciocínio projetual de


arquitetura. A técnica utilizada para se obter essas verbalizações foi a Thinking aloud,
a qual traduzida ao pé da letra significa “pensamento em voz alta”, ou seja, durante o
processo de projeto o experimentado foi solicitado a externar seus pensamentos e
descrição de sua atual atividade em voz alta. Todo o processo foi, portanto, gravado
e demarcado em time stamps; ou carimbos de tempo.
O segundo método utilizado, já supracitado, foi o relato retrospectivo do
pensamento projetual do indivíduo. Este método foi utilizado como suplemento ao
anterior, visto que, como observado pelos autores Suwa e Tversky (1997), a técnica
de falar em voz alta pode atrapalhar os projetistas durante o processo de projeto.
Neste método, o voluntário realiza ao final, um relato das ações realizadas na tarefa
de projeto proposta pelo experimentador. Este relato, assim como todo o experimento,
é gravado por vídeo, a fim de permitir ao analisador do experimento observar e
interpretar o relato de forma mais clara; detectando ações, por acaso, negligenciadas
e/ou não bem explícitas.
Neste método de análise, o relato é desmembrado em segmentos, que são
declarações coerentes formadas por uma ou mais sentenças sobre um item, espaço
ou tópico, que por sua vez desmembrados em palavras/orações-chave codificados
em categorias: propriedades emergentes, relações espaciais, relações funcionais e
experiência. Essa codificação do relato permite a construção de uma estrutura do
raciocínio desenvolvido pelo voluntário em seu processo de projeto e viabiliza de
maneira mais eficaz o alcance dos objetivos deste trabalho.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O Projeto e seu Processo

Definir com exatidão e de forma geral o que é projeto, seria, sobretudo, ingênuo
e precipitado; de forma que, à medida em que se é tomado conhecimento à respeito
dos diversos tipos de projeto – design de interiores, moda, arquitetura, engenharias,
entre outros – e os conhecimentos inerentes necessários aos seus respectivos
profissionais, é que se é possível perceber o quão não-generalizável é a definição de
projeto.
Uma boa definição de projeto a ser considerada, poderia, por exemplo, ser a
proposta por Matchett (1968, apud Lawson, 2011), a qual dizia que: projeto é uma
“solução ótima para a soma de necessidades verdadeiras de um conjunto específico
de circunstâncias”. Porém, como bem explicado por Lawson (2011), as expressões
“solução ótima” e “necessidades verdadeiras”, poderiam fazer bem mais sentido para
áreas de projeto como as das engenharias – onde se requer muita exatidão
matemática – do que, por exemplo, à moda ou design de interiores – nas quais seus
produtos agregam como fator importante e diferencial, a subjetividade – , levando a
concluir que uma definição geral como essa pode excluir determinadas áreas de sua
abrangência.
Além da percepção do quão complexa é a criação de uma definição única para
o conceito de projeto, é possível averiguar com mais clareza as diferenças e
semelhanças na concepção projetual das diferentes áreas. Utilizando-se ainda da
comparação entre as engenharias e moda, por exemplo, a noção de projeto para cada
um dos profissionais dessas áreas se manifestam de maneira particular. Quando a
uma análise mais superficial, um projeto de engenharia aparenta mais sistemático,
matemático e mesmo mecânico; quanto à moda, demonstra-se mais criativo e
imprevisível.
No entanto, quando observados mais a fundo, todos os tipos de projetos
possuem também suas características em comum: é necessário também criatividade
nas engenharias, assim como procedimentos sistemáticos em moda. Portanto, como
bem explana Lawson (2011), “os vários tipos de projeto lidam com ideias precisas e
vagas, exigem pensamento sistemático e caótico, precisam de ideias criativas e
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 22

cálculos mecânicos”. Ainda segundo sua análise, as áreas de Arquitetura e Urbanismo


consegue permear de forma centralizada por entre esses extremos acima listados: é
necessário um bom olhar tridimensional e criatividade, assim como conhecimentos
técnicos e habilidades matemáticas.
Entretanto, é mais fácil perceber e agrupar algumas características em comum
relativas ao ato de projetar, como é o caso das habilidades necessárias pra se
desenvolver um projeto, das quais – apropriando-se do exemplo de Lawson (2011) –
é possível citar o pensamento criativo. Ainda sobre Lawson (2011), o autor apresenta
uma breve e prudente definição do ato de projetar, o qual, para ele, esta é uma
atividade que “(...) envolve um processo mental sofisticado, capaz de manipular
muitos tipos de informações, misturando-os num conjunto coerente de ideias e,
finalmente, gerando alguma concretização dessas ideias”.
Visto que, é de fato complexo e imprudente arriscar uma definição generalista
acerca do conceito de projeto, e que seria mais interessante e coerente entender
sobre o processo e as metodologias relacionadas ao seu desenvolvimento, os
próximos parágrafos deste capítulo tratarão de discorrer acerca dos mapeamentos do
processo de projeto, suas características e peculiaridades.
Muitos foram os autores e estudiosos em processo de projeto que propuseram
um método, ou como é designado por Lawson (2011), um mapeamento que
proporcione ao projetista uma orientação lógica projetual, e ao projeto, uma melhor
coesão e coerência nos resultados. A fim de investigar as características e
peculiaridades dos métodos de projeto, utilizar-se-á, neste capítulo, duas referências
de mapeamento também utilizada por Lawson (2011): as propostas pelo RIBA (Royal
Institute of British Architects), em seu Manual de Administração e Prática Arquitetônica
[Architectural Practice and Management Handbook] (1965); e a de Markus (1969b) e
Maver (1970).
A orientação elaborada no manual do RIBA a respeito do processo de projeto,
divide-se em 4 etapas: assimilação, a etapa responsável pelo acúmulo e organização
das informações do problema de projeto; estudo geral, que seria examinar a natureza
do problema e pensar em soluções; desenvolvimento, etapa do debruçamento em
torno de uma ou mais soluções encontradas; e a quarta e última etapa, seria a
comunicação das soluções à equipe. A Figura 1 ilustra, em um fluxograma, como
funcionaria o processo de projeto segundo o manual do RIBA.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 23

Figura 1 - Mapeamento do processo de projeto de acordo com o plano de trabalho do RIBA

Fonte: LAWSON, 2011, p.46

Numa análise rápida e descompromissada, seria esta, aparentemente, uma


ótima orientação projetual, porém ao compará-la à prática, é possível perceber
algumas divergências à realidade. De antemão, é deixado claro no manual que podem
acontecer saltos imprevisíveis entre as etapas, pois caso contrário, este seria o
primeiro questionamento ao mapeamento em questão. É prudente observar que é
muito difícil estipular um ponto de partida para a prática de projeto, por vezes é
possível que a melhor solução venha ao projetista numa noite de insônia, por exemplo.
Outra observação acerca deste mapeamento, encontra-se na primeira etapa, a de
assimilação. É muito difícil saber que informações recolher no início do projeto, sem
uma devida análise do problema, não garantindo que todas as informações retidas no
início do projeto tenham relevância no seu desenvolvimento, proporcionando então,
um tentador salto desta etapa.
Outro proposto pelo RIBA de interessante avaliação é o “Plano de Trabalho”,
bem mais detalhado, dividido em 12 etapas, organizadas também em uma versão
simplificada de 4 setores: programa de necessidade; esboços; desenhos executivos;
e. A relevante peculiaridade em relação a este plano se encontra na nomenclatura
baseada nos produtos de cada etapa, visto que desta forma, muito mais se fala sobre
onde se quer chegar em cada etapa do que como se deve chegar.
Ainda a cunho investigativo e crítico acerca dos mapeamentos do processo de
projeto, um outro exemplo seria o de Markus (1969b) e Maver (1970) citado também
por Lawson (2011). Esta proposta de mapeamento se apresenta muito mais sensata
ao sugerir também quatro etapas, mas com as seguintes designações: análise,
síntese, avaliação e decisão. A análise é o processamento das informações
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 24

responsável pelo tratamento do problema. A síntese é a proposta de possível solução


atribuída ao problema, sendo sequenciada pela avaliação, que é a etapa de
verificação da coesão entre a proposta de solução e o problema de projeto, tendo por
fim a etapa da decisão, que é o momento em que o projetista define a proposta que
solucionaria o problema de projeto. A Figura 2 ilustra o fluxograma desse mapeamento
de processo de projeto.

Figura 2 - O mapeamento de projeto de Markus (1969b) e Maver (1970)

Fonte: LAWSON, 2011, p. 55

Neste mapeamento, Markus/Maver “permitem” a retroatividade entre as etapas


de síntese e avaliação, ou seja, em caso de incoerência entre a síntese e os dados e
informações levantadas na etapa de análise, retorna-se à etapa de síntese para uma
nova proposta de solução. No entanto, seu mapeamento se trata de um
sequenciamento de decisões, sendo necessário que o projetista passe por todas
etapas, iniciando da primeira à última. Desta forma, dois pontos falhos são
encontrados nesta proposta de mapeamento: a “permissividade” de retroatividade que
deveria ocorrer em todas as etapas; e o início do processo do projeto que não deveria
acontecer necessariamente na etapa de análise.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 25

Ao analisar os métodos acima apresentados é possível constatar uma


repetibilidade da necessidade do conhecimento do problema de projeto direcionado à
síntese de uma solução. É possível observar também, com a prática, que o
conhecimento real a respeito do problema de projeto é quase que impossível de ser
tomado nas linhas inicias deste, por vezes – talvez a maioria – o problema é
destrinchado e vindo à luz, de fato, após uma longa sequência de sínteses, que mais
servem como fonte de retroalimentação da etapa de análise sobre o problema; assim
desencadeando uma nova síntese.
Lawson (2011) propõe, então, não um método ou um mapeamento do processo
de projeto, mas um entendimento mais abrangente quanto à forma que o processo
projetual se comporta. Para o autor, problema e solução de projeto são um o reflexo
do outro, uma negociação, de maneira que as atividades de análise, síntese e
avaliação estão envolvidas nessa transação; porém de forma não-sequencial e sem
pontos obrigatórios de partida e de chegada
A Figura 3 ilustra o mapeamento proposto por Lawson (2011). Nela o problema
e a solução de projeto são representados um a frente do outro, simbolizando o reflexo
entre essas duas grandezas do processo de projeto. Entre as duas pirâmides que
representam o problema e a solução, encontram-se as três atividades envolvidas
nessa negociação: análise, síntese e avaliação.

Figura 3 - O processo de projeto visto como negociação entre problema e solução por meio das
três atividades de análise, síntese e avaliação

Fonte: LAWSON, 2011, p. 55


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 26

2.2 A Lógica e os Algorítmos

Para melhor contextualizar a questão da lógica no processo de projeto


arquitetônico, os próximos parágrafos tratarão brevemente sobre o que é a lógica, sua
evolução e aplicações. A lógica é uma área de estudo milenar que tem por finalidade
estruturar e validar o raciocínio. Suas formulações teóricas datam da Antiguidade,
desenvolvidas e registradas por Aristóteles; porém antes mesmo dele, os sofistas e
Platão já se dedicavam a tais questões. Tratava-se, então, da construção do raciocínio
por meio de técnicas que levassem a inferências logicamente válidas, excluindo a
possibilidade de diferentes interpretações (JOLIVET, 1969).
Na lógica clássica formal, o meio para o alcance de um raciocínio válido e da
verdade está relacionado à estrutura do argumento, e não necessariamente ao
conteúdo deste. Para que um argumento seja considerado válido é necessária uma
relação adequada e coerente entre as premissas e sua conclusão. Esta também pode
ser classificada como uma lógica dedutiva, pois as conclusões do argumento são
percebidas através de um procedimento de inferências mediado por sentenças
declarativas; as premissas (JOLIVET, 1969).
O estudo da lógica formal não se limitou apenas à orientação do raciocínio e
verificação de sua validade, expandiu-se também à matemática, na Idade média, por
meio dos filósofos Descartes, Leibniz, Frege e outros. As sentenças escritas com
palavras e por extenso começaram a ser substituídas por símbolos, juntamente com
conectivos lógicos e quantificadores, emergindo, assim, a lógica proposicional e de
predicados, por exemplo (JOLIVET, 1969).
Resultante do avanço da tecnologia, essa lógica fomal, simbólica 6 e
matemática começa a ser utilizada no desenvolvimento de máquinas e aparelhos que
obedeçam a rotinas pré-programadas seguindo parâmetros lógicos, como por
exemplo o computador. A utilização da lógica para programar aplicações e sistemas
computacionais, abre espaço para uma nova vertente, a lógica computacional
(JOLIVET, 1969).
Sempre associada ao uso de computadores, a computação, na verdade, pode
ser entendida como o ato de computar dados e informações, a fim de se alcançar um

6 Simbólica, neste trabalho, apresenta conotação relacionada à utilização de símbolos


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 27

resultado, utilizando-se de algorítmos. Estes, por sua vez, são passos descritos, em
alguma linguagem, de forma lógica, clara e não ambígua que deve garantir eficácia,
eficiência e repetibilidade ao processo. Devida sua relevância para este trabalho, os
parágrafos seguintes abordarão um pouco mais sobre algorítmos e como escrevê-los.
(JOLIVET, 1969)
O ato de criar um algorítmo, ao contrário do que se pode imaginar, não é um
procedimento que foi desenvolvido exclusivamente para a computação. Por mais que
despercebido, são realizados diversos algorítmos em nosso cotidiano, como por
exemplo um treino de musculação, cozinhar, escovar os dentes e etc. Um algorítmo
para escovar os dentes, por exemplo, poderia ser: pegue a escova de dentes; pegue
o creme dental; coloque o creme dental nas cerdas da escova de dentes; escove-os;
cuspa a espuma na pia; limpe a boca com água; lave a escova de dentes; guarde-a;
fim do algorítmo.
Existem diversas maneiras de escrever e representar os algorítmos, e apesar
de ser mais comum de se imaginar e ver algorítmos escritos em linguagens
rebuscadas de programação – como Python, C, Java e etc –, os algorítmos podem
ser escritos no idioma de preferência do seu criador, ou mesmo com um fluxograma
repleto de símbolos. A escolha da linguagem a ser escrita varia de acordo com o nível
de detalhe que se queira oferecer em determinado algorítmo. A Figura 4 ilustra duas
das formas de se representar os algorítmos: descrição narrativa e fluxograma
convencional.
Para que se possa escrever um algorítmo em um nível de detalhe mais avançado,
fornecendo assim, um maior grau de clareza e indubitabilidade, é necessário que
todas as variáveis, constantes e parâmetros sejam declarados, quanto ao nome e tipo
– se é número ou palavra, e se número, se pertencente ao conjunto de números
inteiros, reais, complexos e etc, por exemplo – em sua fase inicial de elaboração. A
Figura 5 demonstra a representação de um algorítmo em Português estruturado ou
Portugol7.

7 Português estruturado ou portugol é uma linguagem rica em detalhes, porém com sintaxe mais
simplificada e não-rigirosa, que se utiliza de forma simplificada palavras em português. É uma
linguagem para representar algorítmos, porém não executável em computador. (CARVALHO, 2007).
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 28

Figura 4 - Algorítmo do cálculo da média de um aluno representado em descrição narrativa e


fluxograma convencional.

Fonte: Autoria própria, 2017

Figura 5 - Algorítmo do cálculo da média de um aluno representado em Português estruturado


ou Portugol.

Fonte: Autoria própria, 2017

Portanto, os algorítmos se mostram eficazes quanto à capacidade de organizar


de forma lógica, clara e não ambígua, dados, parâmetros e funções de algum
procedimento; orientá-lo de forma correta e funcional em um passo-a-passo; e
garantir, por fim, sua devida repetibilidade e automatização.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 29

2.3 Computational Design e a Teoria de Projeto de Mitchell

A aplicabilidade de procedimentos lógicos, algorítmos e aplicativos de


computador é imensamente vasta e, com o avanço da tecnologia diversos são os
processos em que esses procedimentos são utilizados. Com isso, não poderia ser
diferente também com a Arquitetura e Urbanismo. Apesar de pouco conhecido, o
campo de pesquisa denominado Computational Design – ou Design Computing – tem
avançado expressamente quanto ao desenvolvimento de programas de computador
que auxiliem o projetista no processo de projeto.
0No entanto, o estudo atrelado ao Computational Design não tem como objetivo
único criar ferramentas computacionais que auxiliem no processo de projeto, mas
também desenvolver uma teoria computacional do processo de projeto (MITCHELL,
1990). Isso quer dizer que esta área de pesquisa tem o objetivo de lastrear, de forma
coerente, o processo de projeto com o uso de técnicas de computação.
Em seu livro, Mitchell (1990) propõe uma maneira completamente distinta de
se pensar o projeto de arquitetura, assim como um vocabulário nada convencional
para a mesma; proveniente, muitas vezes, da Computação. O projeto de arquitetura
passa a ser entendido então, “como um processo de operações lógicas inserido
nesses mundos (projetuais), tendo como objetivo satisfazer os predicados de forma e
função declarados em uma linguagem crítica.” (MITCHELL, 1990, p. 14).
À primeira vista, é possível levantar alguns questionamentos a respeito da
afirmativa do autor, citada no parágrafo acima: o que são mundos projetuais,
satisfação de predicados, o que é uma linguagem crítica e como são realizadas essas
operações lógicas. Para que seja possível a compreensão de sua teoria, alguns
conceitos precisam ser bem esclarecidos, logo, os próximos parágrafos deste capítulo
tratará de abordar essas definições, bem como discorrer a respeito do método
proposto por Mitchell.
Os primeiros conceitos apresentados por Mitchell (1990) possuem cunho
formal, ou seja, ele trata inicialmente das formas e suas relações. À princípio, o autor
propõe que “os edifícios podem ser descritos com palavras e (...) como essas
descrições podem ser formalizadas utilizando-se a notação de cálculo de predicados
de primeira ordem” (MITCHELL, 1990, p. 13), em que para conduzir a este raciocínio,
são apresentados os termos: Discurso; Universo de Discurso; Conceitualização;
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 30

Descrição; Mundos Projetuais; e Linguagem Crítica.


Iniciando pelo primeiro conceito, Discurso é o processo de projeto. Seria, então,
o ato de projetar, mas com palavras e sentenças, como proposto pelo autor. Já um
Universo de Discurso pode ser entendido como a decomposição formal de um edifício
– de um tema arquitetônico qualquer – em diferentes coletâneas de partes e conjuntos
de propriedades: comprimentos, cores, texturas e etc. Ou seja, é a reunião das partes
consideradas atômicas e suas nomenclaturas, assim como as propriedades que
possam ser direcionadas a elas. A Figura 6 exemplifica de forma resumida como seria
o universo de discurso de um discurso.

Figura 6 - Exemplificação de um universo de discurso do projeto de uma cadeira.

Fonte: Autoria própria, 2017

A seguir, ele se utiliza do termo Conceitualização como um sobreconjunto do


universo de discurso. Seria então o universo de discurso acrescentado de um conjunto
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 31

de funções e relações permissíveis e/ou desejadas para o universo em questão,


originando um conjunto maior, a conceitualização. Mitchell (1990) relata que
estabelecer uma boa conceitualização cria as bases para as descrições dos edifícios.
Descrição, então, seria uma “coletânea de asserções sobre um edifício” (MITCHELL,
1990), que pode ser realizada em qualquer linguagem – português, notação de
cálculos de primeira ordem, linguagens de programação e etc – e utiliza como base
de dados as informações contidas na conceitualização do edifício em questão. A
Figura 7 ilustra os conceitos apresentados neste parágrafo e suas relações.

Figura 7 - Exemplificação do universo de discurso, conceitualização e descrição do discurso de


uma cadeira

Fonte: Autoria própria, 2017


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 32

Esse conjunto de asserções – descrição – seria então a conclusão do discurso,


ou em termos arquitetônicos, o projeto em seu estado final. Para o autor (MITCHELL,
1990), uma descrição é completa quando ela permite a avaliação da validade de
qualquer função do conjunto de funções ou relação do conjunto de relações. Isso quer
dizer que o projeto estará de fato pronto, quando não houver ambiguidade ou
incompatibilidade com as asserções produzidas e as regras preestabelecidas pela
conceitualização do discurso.
Diante das definições apresentadas nos parágrafos anteriores, é possível,
portanto, criar um primeiro sequenciamento lógico para o desenvolvimento de um
discurso arquitetônico – ou melhor dizendo, um processo de projeto arquitetônico.
Logo, a sequência seria: estabelece-se o tema arquitetônico do discurso em questão;
com base numa pesquisa aprofundada e interesses específicos, define-se o universo
de discurso e sua conceitualização; para assim então ser realizada as asserções ou
descrição do discurso. A Figura 8 apresenta de forma ilustrativa esse fluxograma dos
conceitos, até então, apresentados.

Figura 8 - Fluxograma dos conceitos discutidos: Universo de discurso; Conceitualização; e


Descrição

Fonte: Autoria própria, 2017


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 33

Os outros dois conceitos explorados por Mitchell (1990), e talvez os conceitos-


chave de sua teoria, são: Mundos projetuais e Linguagem crítica. Basicamente esses
dois conceitos podem ser entendidos como linguagens, de fato, – ambas com seus
vocabulários, regras gramaticais sintáticas e semânticas – a fim de se comunicar de
forma clara com outrem. No caso de um projeto arquitetônico, os receptores das
informações contidas no projeto em questão, podem ser: os demais projetistas de uma
equipe de projeto, um mestre de obras, um pedreiro ou até mesmo o cliente final.
Mundo projetual é um conjunto de símbolos gráficos; – unidades primitivas –
propriedades; funções; relações; e axiomas, que coexistem em algum tipo de universo
projetual e que tem por finalidade representar algo no mundo real. Para cunho
explicativo, em um determinado mundo projetual, um retângulo de medida x, poderia
representar um tijolo no mundo real, por exemplo.
Para criar um mundo projetual precisa-se definir, primeiramente, seus
limitantes: o espaço de trabalho e as ferramentas que serão utilizadas neste, para
assim elaborar suas unidades formais primitivas e as possíveis relações entre elas.
Por exemplo, o espaço de trabalho para determinado mundo projetual poderia ser uma
prancheta de desenho para folhas A0, com as ferramentas: escalímetro, esquadro
isósceles e compasso, com isso este mundo projetual provavelmente teria como
unidades primitivas linhas horizontais, verticais, com ângulo de 45°, círculos e
semicírculos. Após isso, é que seria possível estabelecer os axiomas desse mundo,
um vocabulário de formas desejadas e possíveis, conjunto de propriedades e relações
e etc. A Figura 9 exemplifica como seria a criação deste mundo projetual relatado
acima.
Quanto à linguagem crítica, esta se comporta de maneira semelhante aos
mundos projetuais, porém em sentenças. É necessário estabelecer a linguagem em
que serão elaborados os comentários críticos, se em português, notação de cálculo
de primeira ordem ou linguagens de programação, por exemplo – um vocabulário e
regras sintáticas e semânticas. Esta linguagem é denominada crítica pois é uma
maneira de analisar e avaliar as informações, dados e regras de determinado discurso
e inferir por meio de argumentos lógicos.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 34

Figura 9 - Exemplificação da criação de um mundo projetual

Fonte: Autoria própria, 2017

A relação existente entre o mundo projetual e a linguagem crítica é que ambos


devem trabalhar em conjunto: um deve interpretar o outro corretamente. Ambos são
universos que trabalham em dimensões distintas, porém o que se infere em um, infere-
se em outro. Por exemplo, em caso de um comentário crítico relatando: o tijolo
cerâmico de 6 furos deve ter as dimensões 9x14x24cm, em um mundo projetual
bidimensional ele poderia ser representado como na Figura 10.
A Figura 11 ilustra como todos os conceitos até então abordados – Discurso,
Universo de Discurso, Conceitualização, Descrição, Mundo Projetual e Linguagem
Crítica – se correlacionam. Nela, a hierarquia entre os conceitos é representada por
meio de retângulos inscritos em retângulos, cada um com uma cor distinta e contendo
um dos conceitos abordados.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 35

Figura 10 - Tijolo representado em um mundo projetual de duas dimensões

Fonte: Autoria própria, 2017

Quanto à maneira de se desenvolver os comentários críticos8, Mitchell (1990)


propõe que sejam, estes, realizados através de mecanismos de inferência, de maneira
que cada possibilidade gere uma outra quantidade de possibilidades, úteis e não-
úteis, que satisfaçam aos predicados do discurso em questão. “Em geral, os críticos 9
tomam como premissas observações sobre o projeto e dados e regras sobre o mundo
construtivo, para então derivar suas conclusões em um processo gradual, seguindo o
encadeamento de inferências” (MITCHELL, 1990, p. 89). Esse encadeamento de
inferências, resultante de um processo gradual de derivação de conclusões, gera uma
árvore de tomadas de decisões denominada árvore estado-ação. A Figura 10
exemplifica como se daria essa árvore de estado-ação.
Com o objetivo de auxiliar a encontrar conclusões úteis e de maneira eficiente,
o autor propõe também, dois procedimentos de inferência. São eles: forward-chaining
inference e backward-chaining inference, que respectivamente tratam-se do alcance
da conclusão por meio da construção de uma cadeia de inferências, ou seja,
gradativamente; e da desconstrução de uma conclusão, realizando o processo de
maneira inversa, por meio de testes. A Figura 12 ilustra esses procedimentos a partir
da construção de desconstrução de formas, segundo uma determinada regra. As
possibilidades crescem ou decrescem à medida que novas inferências são
produzidas.

8Comentários críticos são as inferências produzidas pelo projetista através de argumentos lógicos. 9
Críticos são os geradores de inferências, podendo ser humanos especializados no assunto, como por
exemplo, um arquiteto, ou mesmo um programa de computador.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 36

Figura 11 - Representação da conjuntura geral dos conceitos apresentados: Discurso, Universo


de Discurso, Conceitualização, Descrição, Mundo Projetual e Linguagem Crítica.

Fonte: Autoria própria, 2017


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 37

Figura 12 - Representação da árvore estado-ação.

Fonte: MITCHELL, 1990, p. 126

Ainda quanto às inferências produzidas durante todo o processo de projeto, um


outro termo bastante utilizado por Mitchell (1990) é: satisfação de predicados.
Predicados são todas as sentenças e argumentos lógicos do discurso. Satisfazê-los,
portanto, seria inferir conclusões de modo a validar tais argumentos lógicos e
matemáticos que compõem o corpus do projeto. A Figura 13 ilustra por meio de um
argumento hipotético a satisfação dos predicados, em questão.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 38

Figura 13 - Exemplificação de satisfação de predicados

Fonte: Autoria própria, 2017

Todo o processo projetual proposto por Mitchell (1990), portanto, baseia-se


em satisfazer predicados, de forma e função9, através de operações lógicas. O nível
de complexidade dessas operações depende, no entanto, da linguagem a ser
utilizada e a necessidade do projeto; e consequentemente, do projetista. Operações
básicas como conjunção, disjunção, condicional, bicondicional e negação, por
exemplo, já seriam capazes de produzir uma boa lógica para as inferências do
projeto.
Como abordado a princípio, o autor trata-se inicialmente, exclusivamente, das
formas e suas relações, como se o processo de projeto de arquitetura fosse um jogo
de formas, de maneira que estas, melhor se encaixem às necessidades do projeto.
Porém, a questão funcional também é abordada por Mitchell (1990), e é entendida, de
forma resumida, como as ações relevantes desempenhada por um objeto (ou forma)
de acordo com determinado contexto. A base de dados para a descrição funcional do
projeto é obtida por meio do já conhecido entre os arquitetos, programa de
necessidades.
Deste modo, em sua teoria, Mitchell (1990) não propõe, claramente, o algorítmo
do processo de projeto, ou mesmo uma forma única de se projetar, mas apresenta
conceitos e técnicas para se desenvolver projeto arquitetônico por meio de sentenças

9 Predicados de forma e função, em outras palavras, são os parâmetros, condicionais e requisitos de


lastream o projeto, direcionando-o à sua forma e funcionalidade.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 39

e operações lógicas, com o objetivo de automatizar10, senão por inteiro, mas certas
etapas do processo de projeto e contribuir nas tomadas de decisão. No entanto, para
que seja possível a computabilidade e repetibilidade do processo, é possível se
desenvolver alguns algorítmos, baseados em sua teoria; visto que, todos os conceitos
e técnicas estão interligados e sua utilização sugere um passo-a-passo.
Tomando como base as definições abordadas nos parágrafos anteriores é
possível perceber o seguinte passo-a-passo: estabelecer o mundo projetual e
linguagem crítica a ser utilizada; definir o tema arquitetônico a ser projetado;
desenvolver o universo de discurso, conceitualização e descrição funcional11; aplicar
os procedimentos de inferência e operações lógicas para se alcançar um estado, da
árvore estado-ação, que sirva como descrição do discurso; verificar se todas as
asserções satisfazem todos os predicados completamente; se não: verificar e atualizar
e/ou modificar a base de dados e regras do discurso, caso necessário, ou reaplicar os
procedimentos de inferência, a fim de avaliar um outro estado possível; se sim:
finalizar o discurso, ou executar os procedimentos da opção “não”.
Apesar de não propor exatamente um algorítmo a ser seguido, Mitchell (1990)
sugere alguns procedimentos que podem ser realizados para se alcançar um
resultado projetual por meio de sua teoria. Uma das propostas apresentadas pelo
autor, e que será útil para este trabalho, é denominada como processo de geração e
teste (generate-and-test). Esse procedimento consiste em três mecanismos: de
geração, de teste e uma estratégia de controle. Ele propõe a utilização de sistemas
computacionais ou no mecanismo de geração ou de teste, em que, em caso de
aplicação computacional no mecanismo de geração, para Mitchell (1990), seria
altamente provável a geração de uma solução rapidamente.
Por fim, tendo conhecimento da teoria computacional do projeto desenvolvida
por Mitchell (1990), é admissível observar a viabilidade em raciocinar logicamente o
projeto em arquitetura. Mesmo que a princípio, sua teoria aparente demonstra o
projeto arquitetônico apenas como um jogo de combinação de formas que
desempenham determinada função em um dado contexto, seu método vai além, o

10 Automatizar, segundo o Dicionário Aurélio online (2017), significa tornar ou tornar-se automático. No
caso do processo de projeto, a partir dos predicados declarados durante o processo, entende-se que
são determinadas soluções serem alcançadas automaticamente, a partir desses argumentos lógicos.
11 Termo utilizado por Mitchell (1990) para designar-se ao conjunto de predicados funcionais do projeto.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 40

qual, na verdade, ensina uma forma de trabalhar de forma organizada e lógica, os


dados, regras e informações pertinentes e necessárias de um projeto arquitetônico,
de forma a sempre tê-los como base durante o processo. A Figura 14 contém um
fluxograma de um algorítmo que representa, na concepção do autor desta pesquisa,
uma relação entre as teorias de Mitchell (1990) e o mapeamento de processo de
projeto proposto por Lawson (2011), onde o projetista reúne as variáveis e
condicionantes do problema de projeto; realiza inferências/sínteses e avalia se a
solução satisfaz ao problemas; caso não, repete o processo.

Figura 14 - Fluxograma convencional representante da relação entre as teorias de processo de


projeto de Mitchell (1990) e o mapeamento de processo de projeto de Lawson (2011).

Fonte: Autoria própria, 2017


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 41

2.4 CAD Criativo

Assim como já introduzido anteriormente neste trabalho, o CAD (Computer-


Aided Design) trata-se muito mais de um conceito do que uma ferramenta. Este
conceito começou a ser especulado juntamente ao Movimento dos Métodos de
Projeto que se iniciou nos anos 60, e estão intimamente ligados.
De acordo com Gero (1994 apud CELANI, 2002), desde o desenvolvimento do
conceito de CAD, tem-se havido duas diferentes vertentes para o mesmo: uma
direcionada apenas à representação bi ou tridimensional do projeto por meio de
softwares para computador; e a outra interessada em utilizar-se da computação para
auxiliar efetivamente no processo de projeto; nas tomadas de decisão, para ser mais
exato.
Como é de conhecimento entre os profissionais da área, o conceito CAD é
largamente difundido e vendido como um item da primeira vertente definida por Gero
(1994): ferramenta de representação bi ou tridimensional do projeto. Mitchell (1990)
identificou esse “retrocesso” na história do CAD nos anos 80, com a popularização do
computador pessoal. Para que fosse possível a massificação das vendas dos
softwares de CAD, foi necessário uma simplificação e generalização das funções
desses programas de computador (MITCHELL, 1990 apud CELANI, 2003).
Tratando-se de Computational Design e CAD, é possível entender cada um
desses conceitos da seguinte forma: o computational design abrange o
desenvolvimento das teorias computacionais de projeto, lastreando então, os
procedimentos e técnicas para a realização de projeto logicamente, com ou sem o
auxílio do computador; já o CAD são as aplicações das teorias do computational
design, materializadas em softwares e sistemas que auxiliem o processo de projeto,
seja ele de arquitetura, ou não; como o próprio nome sugere CAD é projeto auxiliado
por computador.
Diversas são as possibilidades de utilizar-se de CAD no processo projetual. É
necessário ter em mente que uma simples rotina criada para ser executada de forma
automatizada pelo computador já pode caracterizar-se com um sistema CAD.
Exemplo: o cálculo da quantidade de lâmpadas necessárias para um ambiente. Esse
tipo de cálculo poderia ser realizado facilmente, por exemplo, por meio de fórmulas
matemáticas geridas em uma planilha do Excel, e assim poderia ser um simples
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 42

programa CAD para auxiliar o projetista nessa atividade.


Uma referência muito importante no estudo a respeito da utilização do CAD de
maneira criativa – de forma, de fato, a incidir no processo projetual – no Brasil, chama-
se Gabriela Celani. Esta autora publicou, além de diversos trabalhos acerca do
computational design e CAD, o livro intitulado CAD criativo, publicado em 2003 pela
editora Campus; assim como realizou a tradução do livro The Logic of Architectural:
Design, Computation and Congnation (MITCHELL, 1990), no ano de 2008.
O livro CAD Criativo, assim como diversos trabalhos orientados por Gabriela
Celani nessa vertente, trata-se de uma cartilha com exercícios sobre como utilizar-se
de uma ferramenta largamente manipulada entre os projetistas, o AutoCAD, de forma
a auxiliar no processo e não apenas na representação do projeto. Suas propostas
normalmente baseiam-se em alguns tópicos fundamentais existentes nas teorias
computacionais do projeto e na teoria das gramáticas da forma, desenvolvida por Stiny
(1975): simetria, formas paramétricas, recursão, composições regradas, composições
aleatórias, ambiguidade e emergência, algoritmização de processos de projeto,
geração automática e seleção de alternativas.
Para cada um desses tópicos, Celani (2003) expõe sua devida conceitualização
de maneira breve, porém eficaz, propondo logo em seguida exercícios sobre o tema,
utilizando-se do AutoCAD versão 2000 e a linguagem de programação em VBA, cujo
o editor acompanha o software. O exercício proposto no capítulo Algoritmização de
processos de projeto se aplica muito bem ao proposto deste trabalho; mesmo de que
forma não tão abrangente, ainda assim expõe perfeitamente uma forma de uso dos
algorítmos no processo projetual.
A algoritmização do processo de projeto trata-se de utilizar-se de, obviamente,
algoritmo nas etapas do projeto, de forma a evitar procedimentos fadonhos e otimizar
o projeto; visto que esses, em caso de bons algorítmos, permitem uma padronização,
parametrização e confiabilidade das decisões no processo de projeto. Uma outra
contribuição do desenvolvimento de algorítmos para o processo de projeto é a de
aprofundamento no tema em que se deseja trabalhar. Para Stiny (1978):

Como um algorítmo tem de ser especificado em tamanho grau de detalhe, a


simples tentativa de se construir um algorítmo para um determinado processo
constitui-se num excelente meio de se explorar o processo em todos os seus
aspectos e características. (STINY, 1978, p. 208)
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 43

Outra interessante observação que explica a importância do desenvolvimento de


algorítmos, não apenas para os processos de projeto, mas para todo e qualquer
procedimento, é ressaltada por D. Knuth (1973):

Têm-se dito frequentemente que uma pessoa não compreende realmente


uma coisa até que ela seja capaz de ensiná-la a alguém. Na verdade, uma
pessoa não compreende realmente uma coisa, até que ela seja capaz de
ensiná-la ao computador, isto é, expressá-la por meio de um algorítmo.
(KNUTH, 1973, p. 709)

O exercício proposto por Celani (2003), em seu livro, de forma a exemplificar a


algoritmização de processos de projeto em arquitetura, trata-se de desenvolver um
programa capaz de executar o projeto de layouts de sanitários, automaticamente.
Como em todos os seus exemplos, a linguagem utilizada foi a VBA que é executado
diretamente no AutoCAD (no caso deste exemplo, o 2000).
O primeiro passo proposto para a criação desse algorítmo é o levantamento
das variáveis, constantes e condicionantes do projeto, regras estas que lastreiam a
composição do mesmo. À princípio, faz-se o levantamento destes itens em tópicos,
de forma mais detalhada possível, organizando-os posteriormente em um quadro de
forma que fique mais sucinta e de fácil leitura visual. A Figura 15 mostra como, no
exemplo de Celani (2003), tais dados foram organizados.
Após ter conhecimento das variáveis, constantes e condicionantes do projeto,
fez-se a formulação das funções necessárias para automatizar o processo. As funções
relacionam de forma lógica e matemática as variáveis, constantes e condicionantes
do projeto. A Figura 16 demonstra de forma visual como seria a formulação das
funções para este algorítmo.
Feito isso, foram desenvolvidas as linhas de código (em VBA, como dito
anteriormente) e interfaces de interação visual entre o usuário e o programa. Depois
do programa pronto e gerados os primeiros resultados, foram observadas, nestes,
algumas peculiaridades de modo a despertar a necessidade de algumas melhorias,
aprimorando assim a eficácia do programa. A Figura 17 mostra as interfaces de
interação visual produzidas e um dos resultados de projeto alcançado.
Este exercício proposto por Celani (2003), é um dos exemplos de como o CAD pode
ser trabalhado, a partir de algorítmos, de forma criativa; generativa. Assim como em
um simples projeto de layout de banheiros, os algorítmos podem ser aplicados em
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 44

diversas etapas do processo de projeto, a fim de automatizá-las e tornar o projeto mais


eficiente (deixando por conta do computador, executar tarefas fadonhas), assim como,
também auxiliar nas tomadas de decisão no processo projetual. Este trabalho,
portanto, tem o interesse em apresentar a viabilidade e importância do uso de
algorítmos no processo de projeto, utilizando-se de experimentos de projeto com
alunos de graduação.

Figura 15 - a) Listagem das regras compositivas do projeto; b) Quadro com as variáveis e


constantes do projeto; c) Layout esquemático do sanitário.

Fonte: CELANI, 2003, p. 23


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 45

Figura 16 - Composição das coordenadas e fórmulas do projeto

Fonte: CELANI, 2003, p. 24

Figura 17 - a) Primeira interface de interação gerada do programa; b) Interface gerada após


percebida a necessidade do fornecimento variável do valor da profundidade da
cabine.

Fonte: CELANI, 2003, p. 27


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 46

3 REFERENCIAL EMPÍRICO

3.1 Relato dos experimentos

Os experimentos deste projeto foram realizados por dois voluntários, como já


citado na metodologia, dois arquitetos e urbanistas de mesmo período de formação –
na mesma faculdade – e experiência de 2 anos atuando como projetistas. Os
experimentos foram divididos em: experimento de projeto em arquitetura com e sem
auxílio de algorítmo. O mesmo consistiu numa tarefa de desenvolvimento de layout
de um quarto de casal e possuiu o mesmo programa de necessidade para ambos;
este de autoria do experimentador. O programa de necessidades proposto para os
voluntários foi o apresentado abaixo.

Programa de necessidades
Desenvolva o projeto de layout de um quarto para usufruto de um casal. O cômodo desfrutará
de banheiro e sua área será de 14,00 m² (área apenas do quarto). As dimensões perimetrais
serão 4,00 x3,50 m, terá uma porta de acesso para o quarto de 0,80 x 2,10 m e uma outra de
acesso para o banheiro de 0,70 x 2,10 m. O quarto terá uma janela de 1,50 x 1,00 que será
instalada na parede que faz fechamento ao afastamento lateral da casa, essa possuindo
orientação leste. O casal gosta de assistir filmes e escutar som numa boa qualidade. Ele,
possui como hobby tocar alguns instrumentos de corda e ela gosta de realizar uma boa
produção de maquiagem, sendo exigente quanto a essa necessidade.
Desenvolva o projeto de layout deste quarto, excluindo, portanto, o banheiro e levando em
consideração as informações obtidas acima

Os voluntários ficaram à vontade para escolher o local e data para a realização


do experimento, assim como os materiais utilizados para o desenvolvimento do
desenho desse layout. O voluntário 01 foi o experimentado responsável pelo
desenvolvimento dessa tarefa sem o auxílio de nenhum tipo de apresentação prévia
dos conceitos relacionados à lógica, algorítmos e os propostos por Lawson (2011) e
Mitchell (1990), assim como algorítmo de auxílio, desenvolvendo portanto o projeto
proposto com base em seus métodos e ferramentas pessoais; utilizando-se do
AutoCAD 2017 para criar seus esboços e desenhos.
Quanto ao voluntário 02, da mesma forma: local, data e materiais, foram por
ele escolhidos; optando também pelo AutoCAD 2017 como ferramenta de desenho.
No entanto, o foi apresentado antes do início da tarefa de projeto, a base teórica
contida no referencial teórico deste trabalho sobre a abordagem o processo de
arquitetura de maneira lógica. Foi proposto também, ao voluntário 02, um algorítmo
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 47

que deveria ser seguido nessa tarefa de projeto e quadros de suporte para o registro
das variáveis e condicionantes. O algorítmo foi desenvolvido pelo experimentador com
base no fluxograma da Figura 14 e quadros de suporte (Quadro 1, Quadro 2 e Quadro
3) com o intuito de servir como ferramenta CAD de armazenamento e geração
automática de dados.

Algorítmo do experimento

1. Primeiramente nomeie o tema arquitetônico


2. Universo de discurso
2.1. Quantos lados possui o ambiente? Nomeie-os (Parede01, Lado01,
Divisória01...)
2.1.1. Insira os nomes na tabela
2.2. O ambiente possui dimensões perimetrais internas?
2.2.1. Sim
2.2.1.1. Informe na tabela as dimensões dos respectivos lados
2.2.2. Não
2.2.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado.
2.3. Espessura dos lados
2.3.1. Todos os lados possuem a mesma espessura?
2.3.1.1. Sim
2.3.1.1.1. Informe na tabela as dimensões dos respectivos
lados
2.3.1.2. Não
2.3.1.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o
passo desejado
2.4. Altura dos lados
2.4.1. Todos os lados possuem a mesma altura?
2.4.1.1. Sim
2.4.1.1.1. Informe na tabela a altura dos respectivos lados
2.4.1.2. Não
2.4.1.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o
passo desejado 2.5. Área do ambiente
2.5.1. Todos os lados foram mensurados?
2.5.1.1. Sim
2.5.1.1.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado
2.5.1.2. Não
2.5.1.2.1. Informe a área do ambiente
2.6. Insolação e ventilação
2.6.1. Indique quais lados recebem insolação e ventilação e suas predominâncias.
2.7. Possui Janelas
2.7.1. Sim
2.7.1.1. Nomeie-as e indique suas dimensões e em quais lados se localizam
2.7.1.2. Deseja incluir mais variáveis e/ou condicionantes?
2.7.1.2.1. Sim
2.4.1.2.1.1. Insira-as
2.4.1.2.2. Não
2.4.1.2.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo
desejado.
2.4.2. Não
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 48

2.4.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado.


2.8. Possui portas?
2.8.1. Sim
2.8.1.1. Nomeie-as e indique suas dimensões e em quais lados se localizam
2.8.1.2. Deseja incluir mais variáveis e/ou condicionantes
2.4.2.1.1. Sim
2.4.2.1.1.1. Insira-as 2.8.1.2.2. Não
2.8.1.2.3. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado.
2.8.2. Não
2.8.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado.
2.9. Será utilizado mobiliário?
2.9.1. Sim
2.9.1.1. Nomeie-os, dimensione-os e indique suas posições espaciais e relações
com os demais
2.9.1.2. Deseja incluir mais variáveis e/ou condicionantes
2.9.1.2.1. Sim
2.9.1.2.1.1. Insira-as
2.4.2.1.2. Não
2.4.2.1.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo
desejado
2.10. Deseja incluir mais variáveis e/ou condicionantes?
2.10.1. Sim
2.10.1.1. Insira-as
2.10.2. Não
2.10.2.1. Passe para o próximo passo ou retorne para o passo desejado
3. Disponha o Layout
3.1. Atente-se às variáveis e/ou condicionantes
4. Confira o resultado com as variáveis e/ou condicionantes da etapa “2”
4.1. A disposição do Layout satisfaz as condicionantes?
4.1.1. Sim
4.1.1.1. Finalize o projeto
4.1.2. Não
4.1.2.1. Retorne para o passo desejado

O algorítmo proposto para este experimento não se trata de uma ferramenta que deve
ser utilizada sempre no processo de projeto, mas sim como passo-a-passo-base que
auxilie na captura e armazenamento dos dados (variáveis) do projeto, assim como no
tratamento dessas variáveis em condicionantes e na verificação da implicação e uso
destas no projeto; estando o mesmo passível de modificação, para uma melhor
fluidez, pelo próprio voluntário.
Foram criados 03 (três) quadros de suporte sendo uma direcionada para o
armazenamento e tratamento de variáveis (Quadro 01); outra com o mesmo objetivo,
porém direcionada para as variáveis relacionadas ao mobiliário (Quadro 02); e uma
última para listagens de condicionantes, relacionando, portanto, as variáveis dos
outros quadros (Quadro 3).
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 49

Quadro 1 - Quadro de suporte para registro das variáveis de projeto

Lado Piso Insolação Ventilação Janelas Portas


Nom Dimensão Espessura Altura Área útil Área Área útil Área Sim/N Orientaç Sim/N Direç Sim/N Altura Largura Área Sim/N Altura Largura Área
es (m) (m) (m) (m) (m²) (m) (m²) ão ão ão ão ão (m) (m) (m²) ão (m) (m) (m²)

0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0 0

0 0 0 0

Fonte: Autoria própria, 2018

Quadro 2 - Quadro de extensão às variáveis, dedicada à mobiliários

Nom Lado 01 Altura Área no piso Área no lado 01 Área no lado 02 Área no lado 03 Área no lado 04 Área
Lado 02 (m) Lado 03 (m) Lado 04 (m)
e (m) (m) (m²) (m²) (m²) (m²) (m²) útil

0 0 0 0 0

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 50

Quadro 3 - Quadro de suporte ao registro de condicionantes com preenchimento para exemplo

Se Quarto de casal Então Utilize cama de casal

Se TV contra a janela Então Use persiana

Área útil do piso < Área Reduza a área do


Se Então
do mobiliário mobiliário

Fonte: Autoria própria, 2018

Os experimentos duraram entre 20 e 50 min, sendo o voluntário 02 o detentor


do maior tempo de tarefa. Foi permitido aos voluntários a consulta ao experimentador
para sanar possíveis dúvidas no processo, sendo o voluntário 01 o que menos
consultou durante todo este. Por fim, nos subtópicos seguintes será apresentada a
análise individual das tarefas de projeto propostas aos voluntários, que será dividida
em análise de protocolo de projeto do voluntário 01 e análise de protocolo de projeto
do voluntário 02.

3.2 Análise de Protocolo de Projeto do Voluntário 01

O voluntário 01 realizou a tarefa de projeto sem o conhecimento e auxílio de


algorítmos. Todo o processo foi realizado com base na sua forma de projetar e é
justamente dessa sua forma de projetar que serão retirados os dados para a análise
contida neste subtópico.
A partir do método do modelo baseado em atividades foi possível se extrair a
predominância da atividade exercida durante seu processo de projeto, a relação entre
essas atividades e sua influência no resultado de projeto. Esses dados foram
representados em uma linha do tempo, exposta na Figura 18, que destaca qual
atividade está sendo executada, qual o momento em que se inicia e termina e
consequentemente, sua duração – os time-stamps –; tendo sido, essa linha do tempo,
viabilizada por meio da gravação do experimento em vídeo e a utilização da técnica
thinking aloud. E de forma a facilitar a leitura dessas informações também foi
elaborado um gráfico em pizza, Figura 19, com as porcentagens da predominância
das atividades e um quadro (Quadro 4) contendo seus tempos de duração – em
segundos – em todo o experimento.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 51

Figura 18 - Linha do tempo com o registro das atividades comportamentais do voluntário 01

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 52

Figura 19 - Predominância em porcentagem das atividades do voluntário 01

Predominância das Atividades

19% Desenhando
Escrevendo
4%
Examinando
59% Ouvindo
16%
Falando
2%

Fonte : Autoria própria, 2018

Quadro 4 - Registro em segundos do tempo de duração de cada atividade do voluntário 02

Desenhando 983
Escrevendo 30
Examinando 259
Ouvindo 68
Falando 315

Fonte: Autoria própria, 2018

O experimento teve a duração total de 23min e 39s e como é possível


facilmente observar através das figuras e quadros expostos anteriormente, a atividade
de maior duração foi a “desenhar”, somando 983s (16min e 23s) que corresponde a
59% de todo o experimento. Com esse dado é possível observar que o processe de
projeto arquitetônico desenvolvido por este arquiteto circunda basicamente em torno
de dados visuais, concentrando aparentemente boa parte do raciocínio em torno do
tratamento desse tipo de dado.
Outra informação importante que se é possível observar a partir destes dados
é que as demais atividades se concentraram, predominantemente, no início do
processo do projeto. O voluntário, a princípio, examinou e escreveu alternadamente
estando estas atividades em consonância também com a fala (que neste momento
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 53

funcionava com a aplicação da técnica thinking aloud), e em seguida falou com o


experimentador e o ouviu por um período, voltando em seguida a examinar, falar, para
então iniciar a atividade de desenho.
Essa sequência de atividades iniciais demonstra a maneira que o arquiteto
capturou as informações, definiu variáveis e as primeiras condicionantes. Observando
o conteúdo de suas falas durante este momento, é possível notar que o mesmo estava
absorvendo as informações por ele julgadas necessárias e estruturando seu raciocínio
para então dar início ao processamento destes dados, que é a atividade de
“desenhar”. Como bem observado por Suwa e Tversky (1997), o ato de falar
durante o processo não funciona tão bem quanto o esperado. Foi necessário por
vezes relembrar ao voluntário exprimir sua fala e por final, esta por si só, não era muito
esclarecedora. Por este motivo que foi utilizado também o método do relato
retrospectivo do pensamento projetual do indivíduo, do qual foi possível se extrair
dados importantes para os interesses deste trabalho.
A partir do relato retrospectivo em vídeo do processo de projeto realizado pelo
voluntário 01, foi possível criar um grande quadro – Quadro 5 – contendo as sentenças
pronunciadas pelo voluntario divididas em segmentos e suas palavras/orações-chave
divididas em categorias. Foi possível também criar um gráfico – Figura 18 – que
demonstra visualmente as relações entre todos os segmentos, facilitando a percepção
do raciocínio desenvolvido pelo voluntário.

Figura 20 - Relação de dependência entre os segmentos do voluntário 01

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 54

Quadro 5 - Quadro reduzida de segmentação e codificação do relatório retrospectivo do experimento do voluntário 01

Categorias

Propriedades emergentes Relações espaciais Relações funcionais Experiência


Ordem
Segmentos
numérica
Características
Formas/ Relações Funções Aspectos Aspectos
Espaços Coisas Tamanhos Relações locais abstratas/reaçõ Circulação
ângulos globais práticas visuais luminosos
es
Primeiro eu coloquei a
abertura da porta
[porta de acesso ao
Não perder Porta no canto
quarto] no canto
[encontro perpendicular "porta de espaço para não faz perder
"abertura"; Porta "NO"
01 acesso ao "canto" - - circulação - - - "circulação" espaço com
entre duas paredes], "canto" canto
quarto" com abertura circulação e
porque a gente não
de porta abertura
perde espaço na
circulação e não
atrapalha na abertura.
Depois fui colocar a
porta do banheiro. A
princípio eu coloquei
nesse canto [encontro
perpendicular entre
duas paredes] aqui de Não perder Porta no canto
cima [localização visual "canto"; espaço para não faz perder
"porta do Porta "NO"
02 dos objetos "cima"; "canto" - - circulação - - - "circulação" espaço com
banheiro" canto
desenhados], porque "abertura" com abertura circulação e
também pelo fato de de porta abertura
ser canto não atrapalha
também na abertura e
na circulação, tanto do
quarto como no
banheiro
A janela, eu coloquei
aqui desse lado Janela no lado
[localização visual dos Janelo "NO"
"lado de Proporcionar de abertura ao
lado de Ambiente
03 objetos desenhados; abertura ao "janela" - - - ventilação - - - corredor,
abertura ao ventilado
lado de abertura ao corredor" natural proporciona
corredor
corredor], porque é o ventilação
lado da ventilação
Fonte: Autoria própria, 2018
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 55

Devido à dimensão do quadro de segmentação e codificação completa, o


Quadro 5 apresenta apenas os 03 (quatro) primeiros segmentos retirados do relato
retrospectivo do voluntário 01. Porém, mesmo de forma reduzida, é possível observar
nesse quadro como o relato foi processado, gerando então valiosos dados para esta
pesquisa.
Iniciando pelos segmentos, estes se comportam como argumentos lógicos e
revelam as relações existentes entre as variáveis do processo de projeto do voluntário
01. Na codificação são extraídas dos segmentos e categorizadas, as variáveis e suas
relações, identificando a partir daí também, as condicionantes importantes e
trabalhadas nesse processo de projeto.
As categorias e subcategorias da codificação funcionam como o formato/tipo
de variável que deve ser declarado em toda lógica de programação. Por exemplo, no
segmento 01, foram identificadas as variáveis: “porta de acesso ao quarto” do tipo
“coisas”; “canto” do tipo “espaços” e “formas/ângulos”; e “abertura” do tipo
“espaços”, possuindo estas relações espaciais – “porta de acesso ao quarto” no
“canto” – e relações funcionais do tipo “funções práticas” que relaciona a localização
da porta de acesso no canto devido a não-perda de espaço para circulação; tudo isso
possuindo como base de dados a observação e a “experiência” do voluntário 01.
A Figura 18 mostra a relação lógica entre todos os segmentos do processo de
projeto, por exemplo: a figura mostra a relação lógica entre os segmentos 01 e 02.
Consultando o Quadro 5 é possível observar que a relação lógica existente entre
esses dois segmentos se encontra na “função prática” de não perder espaço para
circulação com abertura de porta e por isso deve-se colocar, preferencialmente, as
portas nos “cantos”.
De forma a melhorar a compreensão a respeito da dinâmica do esquema da
Figura 20, é necessário então, explicar qual a diferença entre os quadrados brancos
e pretos, o que seriam as porções de dependência e o por que o gráfico cresce na
direção de cima pra baixo e da esquerda pra direita. Primeiramente, os quadrados
pretos representam os segmentos que expressão uma ideia diferente da anterior,
sendo, portanto, fixado abaixo e à direita do anterior. Os quadrados brancos são
segmentos que tem relação direta com o anterior, que complementa o raciocínio do
anterior. O conjunto de segmentos continuados representa uma porção de
dependência, que é representada por um retângulo chanfrado e são posicionados à
direita do anterior.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 56

A partir de todas essas informações, nutridas pelas Figuras 18, 19 e 20 e


Quadros 04 e 05, é possível perceber que mesmo sem o conhecimento aprofundado
sobre lógica e algorítmos, o voluntário 01 cria de forma espontânea seu processo
lógico; seu algorítmo. Fazendo relação entre os dados obtidos a partir do método
baseado em atividades e o de relato retrospectivo, é possível perceber que a captura
de dados acontece, a priori, por meio do exame de textos, trocas de informações com
outro indivíduo, pesquisas e etc, e posteriormente essas variáveis são processadas,
assim como são também novas variáveis são descobertas, durante o “desenhar”;
revelado o processo do voluntário 01 muito mais visual do que verbal.

3.3 Análise de Protocolo de Projeto do Voluntário 02

O experimento realizado com o voluntário 02 possuiu uma dinâmica diferente


do experimento anterior, neste foi apresentado para o voluntário os conceitos e como
funcionaria o uso de algorítmos e lógica no processo de projeto em arquitetura. Com
o propósito de investigar a contribuição do uso conceitual do algorítmo, foi solicitado
ao mesmo seguir um desenvolvido pelo experimentador.
Os mesmos tipos de gráficos e quadros que foram construídos a partir do
experimento anterior, foram também criados com os dados captados a partir do
processo de projeto do voluntário 02. Este experimentado possuiu um tempo de tarefa
mais duradoura que o anterior, levando 45min e 49s para se concluir. A Figura 21
representa a linha do tempo baseada nas atividades comportamentais realizadas pelo
voluntário em questão, a Figura 22, o gráfico contendo as porcentagens do tempo de
cada atividade e, a Quadro 6, os tempos destas em segundos.
Neste experimento, diferentemente do anterior, é possível observar um maior
equilíbrio entre os tempos decorridos em cada atividade; sendo a atividade de maior
duração a “examinar” com 30% do tempo de todo o experimento e a de menor duração
a “escrever” com 11%. Como a atividade “examinar” engloba um conjunto de
atividades relacionadas à captura e processamento de informações (ler, observar e
pensar, por exemplo), ela, não surpreendentemente, desprendeu o maior número de
tempo da atividade, pois o voluntário precisava ler o algorítmo, refletir sobre, observar
a quadro e decidir como preenche-la; sem falar que esta seria uma nova forma de
projetar, o que levaria ao candidato a pensar ainda mais sobre.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 57

Figura 21 - Linha do tempo com o registro das atividades comportamentais do voluntário 02

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 58

Figura 22 - Predominância em porcentagem das atividades do voluntário 02

Predominância das Atividades

16% 23%
Desenhando
20%
11% Escrevendo
Examinando
30%
Ouvindo
Falando

Fonte: Autoria própria, 2018

Quadro 6 - Registro em segundos do tempo de duração de cada atividade do voluntário 02

Desenhando 648
Escrevendo 319
Examinando 854
Ouvindo 571
Falando 438

Fonte: Autoria própria, 2018

O aumento substancial do tempo de duração das atividades “escrever” e “ouvir”


em comparação com o experimento anterior se deu pelo motivo de que, naturalmente,
esse experimento requer a utilização clara da escrita, com o preenchimento das
quadros ou respostas do algorítmo, e devido à novidade que foi ao voluntário 02
utilizar-se dessa maneira de dirigir o processo de projeto arquitetônico, muito se fez
necessário perguntar ao experimentador e, consequentemente, ouvir dele, afim de se
Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 59

sanar dúvidas a respeito de maneira correta de se proceder diante o experimento.


Como é possível observar na Figura 19, a dinâmica entre as atividades nesse
experimento se dá de forma mais fluida, existindo uma alternância muito mais
constante no tratamento entre os dados visuais e os dados verbais. No entanto, por
mais que o voluntário possuísse o conhecimento e o know-how a respeito da temática
deste experimento: o uso conceitual de algorítmo no processo de projeto de
arquitetura, o experimentado não realizou como esperado o procedimento proposto.
O voluntário atribuiu muita atenção ao preenchimento dos quadros de suporte
para o registro das variáveis e condicionantes, esperando destas, resultados
automáticos que facilitassem o seu processo; quando as funções do algorítmo e
quadros seria mesmo de suporte-base conceitual e não de uma ferramenta, como
assim o esperara que fosse.
Mediante então a esta “frustração” foi que o voluntário 02 começou a concentrar
o processamento das variáveis e condicionantes de forma mental, conforme
desenhava, não mais as declarando nos quadros. Ainda assim, as atividades “falar”,
“ouvir” e “examinar” continuaram com determinada frequência, pois dúvidas
constantemente eram solicitadas a serem sanadas pelo experimentador. Quanto à
execução do thinking aloud, assim como ao outro voluntário, foi necessário ao
experimentador relembrá-lo com frequência de executá-lo, fazendo jus ainda mais ao
relato retrospectivo.

Figura 23 - Relação de dependência entre os segmentos do voluntário 02

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 60

Quadro 7 - Quadro reduzida de segmentação e codificação do relatório retrospectivo do experimento do voluntário 02

Categorias

Propriedades emergentes
Ordem
Segmentos Relações espaciais Relações funcionais
numérica
Experiência
Formas/ Relações Relações Funções Características Aspectos Aspectos
Espaços Coisas Tamanhos Circulação
ângulos locais globais práticas abstratas/reações visuais luminosos

Ele me passou um
programa onde deveria ser Informções
feito um projeto de um prévias do
"programa";
quarto de casal – uma O hobby de
projeto
"projeto"; "quarto
suíte – , 4 x 3,5 m, e tinha tocar e
obtidas por
de casal"; maquiagem
umas breves informações
"homem do um programa
falando que homem do são
casal"; de
01 casal gostava de - - 4 x 3,5 m - - condicionantes - - - -
"instrumento para a necessidades
instrumento musical, tinha
musical"; "hobby organização e que
o hobby de tocar, e a
de tocar"; direcionam o
mulher de maquiagem, funcionalidade
"maquiagem"; olhar do
então isso seria o fator que do layout
"layout" processo de
agregaria no layout, na
organização e na projeto
funcionalidade do quarto
Então eu fui seguindo os
passos do algoritmo "algorítmo"; Reunir as
proposto: primeiro ir
02 - "programa"; - - - - variáveis e - - - - -
analisando o programa, ir
pegando os dados e "planilha" condicionantes
alimentando uma planilha
Depois fui seguindo os
passos: escollhendo
janela, fui alimentando a "janela";
planilha e adicionando a "planilha";
Reunir as
mobilia na planilha, os "mobília"; "lado
03 - - - - - variáveis e "dúvida" - - - -
lados das paredes, mas as das paredes";
condicionantes
vezes eu fiquei na dúvida "condicionantes";
em adicionar "algorítmo"
condicionantes pro quarto
pra fazer esse algoritmo

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 61

O relato retrospectivo do voluntário 02 rendeu ao todo 28 segmentos, fato este


explicado pelos seguintes fatos: esse tipo de tarefa era desconhecida ao voluntário,
precisando este então refletir mais em cada passo do processo; essa tarefa consistiu
na construção do projeto nas vias visuais (desenho) e verbais (registro das variáveis
e condicionantes nos quadros); e por fim, o voluntário naturalmente utilizava-se de
mais de uma declaração para fechar um argumento, criando com isso mais porções
dependentes do que o voluntário anterior.
Devido à falta de compreensão absoluta em relação ao processo proposto e,
consequentemente, inexperiência por parte do voluntário, o processo passou a ser
muito semelhante ao do voluntário 01. A variáveis relacionadas a dimensões foram
todas declaradas no quadro, mas os dados a respeito dos móveis não foram
registrados, assim como as declarações das condicionantes; nem previamente, nem
durante o processo.
Durante seu processo de projeto, o voluntário trabalhava o tratamento das
variáveis e condicionantes de forma mental e também visual. Como declarado em seu
relato retrospectivo, o voluntário ia armazenando versões do seu processo de criação
na plataforma de desenho por ele utilizada. Seu relato: “Toda vez que vou fazer uma
pequena alteração, eu deixo a versão lá do jeito que tá: copio ela, coloco do lado e
vou fazendo alteração pra eu visualizar esse processo de tentativa que eu ‘tô’
fazendo”.
Por mais que visualmente mais confuso, como observado na Figura 21, o
processo de projeto do voluntário 02, apresentou-se também como um processo
lógico: foram conhecidas as variáveis, criadas as condicionantes que as relacionam e
o produto final deveria, portanto atender a essas condições. Este era, pois, o objetivo
do uso do algorítmo: criar uma plataforma verbal de armazenamento, tratamento e
consulta das variáveis e condicionantes, de forma que toda e qualquer solução de
projeto, fosse verificada com as informações nela contidas.
A seguir estarão expostos os quadros (Quadro 8 e 9) de suporte para o registro
das variáveis e condicionantes com o preenchimento realizado pelo voluntário deste
experimento. O quadro de variáveis dedicada ao mobiliário não foi preenchida, pois o
voluntário não achou viável para seu processo.
Algoritmização no processo de
projeto em arquitetura 62

Quadro 8 - Quadro de suporte para registro das variáveis de projeto preenchida com os dados levantados pelo voluntário 02

Tema
SUÍTE CASAL
arquitetônico
Lado Piso Insolação Ventilação Janelas Portas

Dimensão Espessura Altura Área útil Área Área Área Altura Largura Área Altura Largura Área
Nomes Sim/Não Orientação Sim/Não Direção Sim/Não Sim/Não
(m) (m) (m) (m) (m²) útil (m) (m²) (m) (m) (m²) (m) (m) (m²)

LADO 1 4 0,15 2,7 9,3 10,8 sim leste sim leste sim 1 1,5 1,5 não 0

LADO 2 3,5 0,15 2,7 9,45 9,45 não sul não sul não 0 não 0
14 14
LADO 3 4 0,15 2,7 10,8 10,8 não oeste não oeste não 0 sim 2,1 0,8 1,68

LADO 4 3,5 0,15 2,7 7,98 9,45 não norte não norte não 0 sim 2,1 0,7 1,47

Fonte: Autoria própria, 2018

Quadro 9 – Quadro de suporte ao registro de condicionantes projeto preenchida com os dados levantados pelo voluntário 02

Se Se houver JANELA Então Não existirá TV no LADO OPOSTO MAS SE existir CORTINA então OK

Se Se houver JANELA Então Não haverá PENTEADEIRA no MESMO LADO - - - -

Se CAMA Então TV à FRENTE - - - -

Fonte: Autoria própria, 2018


Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 63

3.4 Conclusão

Os dados obtidos através dos experimentos realizados nesta pesquisa foram


no todo muito esclarecedores e determinantes para o alcance dos objetivos do
mesmo. A escolha dos métodos utilizados permitiu a composição de uma gama
interessante de dados, permeando da frequência em que se mantiveram em
determinadas atividades comportamentais, a forma como essas atividades
influenciaram na composição e tratamento das variáveis e condicionantes, a utilização
e produção de dados verbais e visuais; e com os relatos retrospectivos foi possível
entender o processo lógico utilizado pelos voluntário em seus processos de projeto.
Foi possível perceber com essa análise que o processo de projeto dos
voluntários, possuem uma interessante semelhança que se traduz o mapeamento do
processo de projeto proposto por Lawson (2011) e de forma não sequencial, os
conceitos propostos elaborados por Mitchell (1990). Os voluntários absorvem as
informações do problema de projeto e as traduzem em variáveis e condicionantes
(universo de discurso e conceitualização); definem a plataforma de processamento
dos dados e as formas básicas a serem utilizadas (mundo projetual); permeiam de
forma não definida entre análise, síntese e avalição (gerando soluções e a partir
destas descobrindo novas variáveis e condicionantes), processo este que se
assemelha à realização de operações lógicas; pra então após todo esse processo
mental, ser definida a solução de projeto.
Um outro aspecto importante que foi constatado no processo de projeto dos
voluntários, é a falta de familiaridade com o uso de dados verbais (linguagem crítica).
Basicamente todo o processo de projeto gira em torno do tratamento visual dos dados
através de desenhos realizados na ferramenta o AutoCAD 2017, que funciona como
a plataforma principal do processo de projeto de ambos.
Por fim, uma importante declaração do voluntário 02 aponta que os quadros
utilizados teriam um melhor resultado se servissem como uma ferramenta que
gerasse dados automáticos e que, por consequência, otimizassem o processo de
projeto. Essa constatação possui fundamentação teórica no Computational Design,
pois como já falado anteriormente, esta é uma área de pesquisa que estuda a teoria
computacional do projeto, embasando também o desenvolvimento de ferramentas
computacionais que auxiliem nesse processo; como é o caso do CAD criativo proposto
por Celani (2003).
Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 64

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que fosse possível dar andamento a esta pesquisa foi necessário ao autor,
conhecer o trabalho de importantes autores que embasam essa área de estudo, a
metodologia em processo de projeto em arquitetura, assim como buscar
conhecimentos a respeito de lógica e algorítmos. Mitchell (1990) e Celani (2003) com
teorias e aplicações práticas do Computational Design; Lawson (2011) com seu
mapeamento do processo de projeto; e Akin e Lin (1995) e Suwa e Tvesky (1997) com
métodos de análise de protocolo de projeto, formaram um importante lastro a esta
pesquisa.
Os experimentos realizados com os arquitetos e urbanistas proporcionaram de
maneira satisfatória o alcance dos objetivos desta pesquisa. Foi possível se observar
o processo lógico desenvolvido por arquitetos durante tarefas de projeto, como
também a contribuição do uso de algorítmos no processo de projeto, seu potencial e
limitação.
Foi possível concluir que o processo de projeto em arquitetura é também uma
atividade que envolve raciocínio lógico, com declaração de variáveis e condicionantes
e a realização de operações lógicas que definem um resultado, porém foi possível
concluir também que o uso de algorítmo é algo muito complexo de existir nesse
processo, pois o mesmo ocorre de forma não sequencial e com dados muito mais
armazenados na mente e em desenhos do que em plataformas verbais. Foi possível
concluir também que esse tipo de processamento de dados funciona melhor com o
computador, ou seja, os algorítmos funcionam melhor nesse tipo de processo se
utilizados como ferramentas computacionais que auxiliem no processo de projeto.
Este trabalho contribui para a abertura de discussões para futuros trabalhos
que discutam a importância e contribuição do ensino de métodos de projeto, ou até
mesmo o desenvolvimento de ferramentas computacionais que auxiliem no processo
de projeto de arquitetura.
Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 65

REFERÊNCIAS

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Gran Bretanha, v. 16, p. 211 – 236, abr.1995. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0142694X9400010B. Acesso em:
21 set. 2018.

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considerações gerais, relações com a pergunta de pesquisa, possibilidades e
limitações do método. Inf. & Soc.: Est, João Pessoa, v.24, n.1, p. 13-18, jan./abr.
2014.

CELANI, G. CAD Criativo. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

______. Beyond analysis and representation in CAD: a new computational


approach to design education. 2002. 203 f. Tese (Pós-doutorado em Filosofia no
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CROSS, N. Natural intelligence in design. Design Studies, Gran Bretanha, v. 20, p.


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JOLIVET, R. Tratado de filosofia: lógica – cosmologia. Tradução de Geraldo


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Knuth, Donald E. Computer science and mathematics: how a new discipline


presently interacts with an old one, and what we may expect in the future. American
Scientist, v. 61, n. 6, 1973, pp. 707–713.

LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. Tradução de Maria Beatriz


Medina. 4. ed. São Paulo: Oficina de textos, 2011.

MARTINO, J. A. de; CELANI, G. In: SIGRADI, n. 8, 2014, Montevideu. Design


Proceedings. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, dez. 2014. v. 1, p. 384 – 388.

MINAYO, M.C.S. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10.


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MITCHELL, W. A lógica da arquitetura: projeto, computação e cognição. Tradução


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STINY, George, Algorithmic Aesthetics: computer models for criticism and design
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STINY, George. Pictorial and formal aspects of shapes and shape grammars: on
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SUWA, M.; Tversky, B. What do architects and students perceive in their design
Algoritmização no processo de
projeto de arquitetura 66

sketches? A protocol analysis. Design Studies, Gran Bretanha, v. 18, p. 385 – 403,
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https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0142694X97000082. Acesso em:
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