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Henri Bergson - Sobre o Pragamatismo de Willian James Verdade e Realidade PDF
Henri Bergson - Sobre o Pragamatismo de Willian James Verdade e Realidade PDF
Verdade e Realidade
Sobre o Pragmatismo
de Wiliam James
Verdade e Realidade 1
Henri Bergson
1
Este ensaio foi composto para servir de prefácio à obra de William JAMES sobre o
Pragmatismo, tradução de E. LE BRUN (Paris, Flammarion, 1911). A foto é de Willian
James.
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A Pluralilistic Universe, Londres, 1900. Traduzido para o francês na “Biblioteca de
Filosofia Científica” sob o título de Filosofia da Experiência.
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Assim uma verdade, para ser viável, deve ter sua raiz nas realidades;
mas essas realidades não são senão o terreno sobre o qual esta
verdade brota, e outras flores bem poderiam brotar, se o vento para
aí trouxesse outras sementes.
A verdade, de acordo com o pragmatismo, é, pois, feita
pouco a pouco, graças aos aportes individuais de um grande número
de inventores. Se esses inventores não houvessem existido, se outros
houvessem existido em seu lugar, nós teríamos tido um corpo de
verdades inteiramente diferente. A realidade foi e evidentemente
permanece aquilo que ela é, ou quase; mas outros teriam sido os
caminhos que haveríamos de traçar para a comodidade de nossa
circulação. E não se tratam aqui somente de verdades científicas.
Nós não podemos construir uma frase, nós não podemos mesmo
hoje pronunciar uma palavra, sem aceitar certas hipóteses que foram
criadas por nossos ancestrais e que poderiam ter sido diferentes
daquilo que elas são. Quando eu digo: “meu lápis acaba de cair
debaixo da mesa”, eu não enuncio, certamente, um fato da
experiência, porque aquilo que a visão e o tato me mostram é
simplesmente que minha mão se abriu e deixou escapar o que
segurava. O bebê fixado em sua cadeira que vê cair o objeto com o
qual brinca, não imagina, provavelmente, que este objeto continua a
existir; ou, de preferência, ele não tem a idéia nítida de um “objeto”,
quer dizer, de qualquer coisa que subsista, invariável e
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realidade; mas, entre esses caminhos, existem aqueles aos quais nós
poderíamos dar uma direção muito diferente, se nossa atenção fosse
orientada num sentido diferente ou se houvéssemos visado a um
outro gênero de utilidade; isso é o contrário de a direção ser
marcada pela própria realidade: isso é o que corresponde, se se pode
dizer, a correntes de realidade. Sem dúvida, estas dependem ainda
de nós numa certa medida, porque nós somos livres para resistir à
corrente ou para segui-la; e, mesmo que nós a sigamos, podemos
inflecti-la diversamente, estando associados ao mesmo tempo em
que submetidos à força que aí se manifesta. Não é menos verdade
que essas correntes não são criadas por nós; elas fazem parte
integrante da realidade. O pragmatismo chega assim a inverter a
ordem na qual temos o costume de colocar as diversas espécies de
verdade. Fora verdades que traduzem sensações brutas, seriam as
verdades de sentimento que teriam na realidade as raízes mais
profundas. Se nós convimos em dizer que toda verdade é uma
invenção, será preciso, eu creio, para permanecer fiel ao pensamento
de William James, estabelecer entre as verdades de sentimento e as
verdades científicas o mesmo gênero de diferença que entre o barco
à vela, por exemplo, e o barco a vapor. Um e outro são invenções
humanas, mas o primeiro não dá ao artifício senão uma fraca parte,
ele toma a direção do vento e torna sensível aos olhos a força
natural que utiliza; no segundo, ao contrário, é o mecanismo
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artificial que tem maior lugar; ele encobre a força que põe em jogo e
assina-lhe uma direção que escolhemos por nós mesmos.
A definição que James dá da verdade integra sua definição
da realidade. Se a realidade não é esse universo econômico e
sistemático que nossa lógica gosta de se representar, se ela não é
sustentada por uma armadura de intelectualidade, a verdade de
ordem intelectual é uma invenção humana que tem por efeito
utilizar a realidade de preferência a nos introduzir nela. E se a
realidade não forma um conjunto, se ela é múltipla e móvel, feita de
correntes que se entrecruzam, a verdade que nasce de uma tomada
de contato com qualquer uma dessas correntes, — verdade sentida
antes de ser concebida, — é mais capaz que a verdade simplesmente
pensada de perceber e de armazenar a própria realidade.
É, pois, enfim, a esta teoria da realidade que deveria fixar-se
primeiramente uma crítica do pragmatismo. Poder-se-á erguer
objeções contra ela, e o faríamos nós mesmos, no que lhe concerne,
certas reservas, mas ninguém contestará sua profundidade e
originalidade. Ninguém, não mais, após haver examinado de perto a
concepção da verdade que aí se correlaciona, desconhecerá sua
elevação moral. Diz-se que o pragmatismo de James não é senão
uma forma de ceticismo, que ele rebaixaria a verdade, que ele a
subordinaria à utilidade material, que ele desaconselharia, que ele
desencorajaria a pesquisa científica desinteressada. Uma tal
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