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Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 4, p.

847-861, 2013

Strategy as Truth: respostas estratégicas na gestão


de crises após um crime corporativo

Strategy as Truth: strategic responses in crisis management after a


corporate crime

Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros1


Rafael Alcadipani2

Resumo: Neste artigo, analisamos as respostas estratégicas da Chevron durante a gestão de uma crise corporativa
provocada por um crime ambiental. O processo de estratégia compreende a busca por uma posição competitiva, e
a gestão de crise consiste no gerenciamento de uma situação que ameaça a sobrevivência da empresa. Para abordar
a integração da gestão estratégica à de crise, utilizamos a pesquisa documental para a coleta de dados e a análise
retórica como técnica de análise. Como resultados, apontamos que as verdades produzidas pela empresa na gestão
de crise é resultado da relação entre o discurso e a estratégia.
Palavras-chave: Crises corporativas. Crimes corporativos. Discurso e estratégia.

Abstract: In this paper, the strategic responses of Chevron during the management of a corporate crisis caused by
an environmental crime in Rio de Janeiro were analyzed. The strategy process includes the search for a competitive
position, and crisis management means dealing with a situation that threatens the survival of the company. In order
to analyze the integration of the strategic management with crisis management, a documentary research was carried
out for data collection, and a rhetorical analysis was conducted. The results show that the truths revealed by the
company in the crisis management result from the relationship between discourse and strategy.
Keywords: Corporate crisis. Corporate crimes. Discourse and strategy.

1 Introdução
Os estudos de estratégia desenvolveram-se em quando ocorre um derramamento de óleo, quando
diversas abordagens, tornando-se foco de interesse um avião cai, quando uma criança sofre um acidente
de pesquisadores (MINTZBERG; AHLSTRAND; em brinquedos de um parque de diversões.
LAMPEL, 2000; HENDRY, 2000; WHITTINGTON, Considerando a variedade de conceitos de crises
2002; entre outros) que dirigiram esforços para corporativas e a falta de consenso quanto ao significado
sistematizar o conhecimento produzido no campo, do termo, adotamos, neste estudo, o conceito de Shaluf,
elaborando análises e propondo categorias conforme Ahmadun e Said (2003, p. 24), para os quais uma
sua natureza, influências, processo decisório e crise consiste em “[...] uma situação na qual decisões
outras características. Embora esses autores tenham importantes envolvendo ameaças ou oportunidades
caminhado por direções diferentes, é comum entre devem ser tomadas em um curto espaço de tempo
suas propostas a ideia de uma perspectiva da estratégia [...]”, podendo ser de origem natural ou provocada
com orientação normativa e prescritiva quanto ao pelo homem.
que fazer para que a empresa obtenha vantagens As crises corporativas exercem impactos profundos
competitivas e um desempenho superior. Todavia, nas organizações envolvidas, bem como sobre seus
a despeito da elaboração de um plano estratégico públicos mais relevantes. A nossa sociedade tem
pautado em análises e ferramentas sofisticadas, sentido os efeitos de muitas crises corporativas, das
grandes companhias, frequentemente, se veem quais poucas são resolvidas, de acordo com analistas,
envolvidas em uma crise corporativa decorrente de forma efetiva, satisfatória ou moralmente aceitável.
de um acontecimento provocado na dinâmica do O crime corporativo ambiental, foco deste estudo,
seu sistema técnico-organizacional-social, como desencadeia uma crise corporativa de proporções

1
Área de Organizações e Estratégia, Faculdade de Gestão e Negócios, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, CEP 38400‑902,
Uberlândia, MG, Brasil, e-mail: cintia@fagen.ufu.br
2
Escola de Administração de Empresas de São Paulo – EAESP, Fundação Getúlio Vargas – FGV, CEP 01313-902, São Paulo, SP,
Brasil, e-mail: rafael.alcadipani@fgv.br
Recebido em 6/6/2012 — Aceito em 28/8/2013
Suporte financeiro: Nenhum.
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inestimáveis, pois provoca reações de governos três abordagens que a relacionem com o discurso,
e da sociedade de modo geral, desempenhando a o que consideramos uma contribuição deste artigo.
mídia um papel relevante no processo de gestão de Para identificar os elementos que compõem o
crise, o qual se inicia após o acontecimento. Diante discurso da empresa nas respostas à crise, e selecionar
de acusações e denúncias, as corporações agem de fragmentos retóricos (REBOUL, 2004), realizamos
diversas formas, com respostas estratégicas, amparadas uma pesquisa documental no website da empresa.
em uma estrutura retórica, servindo-se de discursos Na operacionalização da análise, identificamos, nas
que fabricam verdades sobre a sua atuação. respostas estratégicas da empresa, os elementos da
A corporação como forma de negócios surgiu estrutura retórica (REBOUL, 2004), quais sejam, o
no século XIX, mais propriamente, sob o sistema gênero do discurso, o orador, a audiência e os meios
institucional-legal norte-americano, quando o sistema de prova, e cruzamos com o tipo de argumentação
de produção artesanal foi suplantado pelo sistema que esses trazem para o discurso: logos (lógica),
fabril e tornou o modo preferido pelos capitalistas pathos (emoção) e ethos (ética).
para organizar suas empresas (CLINARD et al., 1979). Apresentamos o artigo estruturado da seguinte
Nesse contexto, as corporações são acusadas de fixação forma: inicialmente, discutimos os processos de
de preços, exploração, crimes ambientais e outras gestão de crises e gestão estratégica, e os estudos que
práticas abusivas, resultando em uma reação política, propõem considerar o discurso na análise e pesquisa
e o governo, agências reguladoras, especialistas, bem em estratégia. Em seguida, descrevemos o modo pelo
como outros organismos da sociedade civil organizada qual conduzimos a pesquisa, discutimos os resultados
exercem pressões, de diferentes maneiras, sobre elas. e, por fim, encerramos com as considerações finais.
Com a ocorrência de crises corporativas cada
vez mais frequentes e devido ao modo pelo qual as 2 Decisões estratégicas na gestão
companhias lidam com elas, uma questão permanece de crises quando ocorre um crime
sem resposta: de que forma o processo de gestão
de crises está integrado com a gestão estratégica?
corporativo
Abordagens alternativas ao mainstream da estratégia A gestão de crises e a gestão estratégica, como
apontam para a perspectiva sociológica como capaz campos de estudos, desenvolveram-se sem muitas
de oferecer um corpo teórico metodológico para a conversações entre si, durante várias décadas, embora
compreensão da estratégia a partir das interações estejam intrinsecamente relacionados (MITROFF;
sociais. Nessa abordagem, a análise do discurso, PEARSON; PAUCHANT, 1992). O fato de esses
como prática social que é, pode contribuir para a dois campos terem se desenvolvido de forma
compreensão dessa questão. paralela pode ser explicado pela ênfase dada, por
Neste artigo, analisamos as estratégias de respostas parte de consultores, executivos e pesquisadores, às
utilizadas pela multinacional Chevron, depois do questões relacionadas ao desempenho financeiro e
vazamento no poço de petróleo na plataforma utilizada ao crescimento, recebendo as crises pouca atenção
pela empresa petrolífera norte-americana, na Bacia (MITROFF; SHRIVASTAVA; UDWADIA, 1987).
de Campos/RJ, em novembro de 2011. Esse evento, Porém, desde o início dos anos 1990, quando os
caracterizado como um crime corporativo ambiental, escândalos corporativos tomaram maior vulto, e as
desencadeou uma crise corporativa diante da qual práticas administrativas questionáveis e ilegais por
a companhia utilizou respostas estratégicas para parte das grandes corporações passaram a fazer parte
lidar com seus diversos stakeholders, entre os quais dos noticiários, com frequência cada vez maior, surgiu,
o governo, as agências reguladoras e especialistas, no mesmo compasso, uma crise de desconfiança nas
focalizados nesta pesquisa. corporações (CHILD, 2002).
Ancorados na proposta de Phillips, Sewell e Nesse cenário, as companhias provocam reações
Jaynes (2008) quanto à complementaridade de da sociedade que questiona a sua atuação e sua
três abordagens que relacionam o discurso e a responsabilidade social, gerando crises corporativas,
estratégia – estratégia como verdade, estratégia como as quais, por sua vez, acarretam efeitos negativos,
significados compartilhados e estratégia como texto principalmente, em relação a sua imagem (SIOMKOS,
e discurso –, realizamos uma pesquisa documental 1999; KUHN; ASHCRAFT, 2003) e, de modo geral,
em reportagens publicadas no jornal Folha de S. mudanças nas suas estratégias e operações são por
elas experenciadas (BARNETT; PRATT, 2000).
Paulo, buscando identificar as reações do governo,
Crises Corporativas são provocadas, conforme
agências reguladoras, sociedade civil organizada,
Mitroff, Shrivastava e Udwadia (1987, p. 283), por
especialistas e outros interessados, em relação ao
caso. Essa perspectiva no campo da estratégia é [...] desastres ocasionados por pessoas, estruturas
recente nos estudos de organizações e estratégia, organizacionais, econômicas e/ou tecnológicas
não havendo, nos estudos nacionais, pesquisas que que causam sérios danos à vida humana e o
analisem a estratégia sob a complementaridade dessas ambiente natural e social [...].
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sendo os desastres definidos por Vaughan (1999) como (PORTER, 1979), vislumbrar a empresa no seu futuro
acidentes em larga escala, de um custo inestimável e (HAMEL; PRAHALAD, 1993). Contudo, apesar de
de proporções inesperadas. Crise e desastre são, de fazer planos estratégicos bem delineados, as empresas
modo geral, tratados como sinônimos, porém Shaluf, têm dirigido pouca atenção aos problemas potenciais
Ahmadun e Said (2003) observam que ambos são que podem acontecer e fazer minar os benefícios do
dois eventos diferentes e relacionados, não havendo processo estratégico (PREBLE, 1997).
consenso acerca da sua definição ou de critérios Os dois campos, gestão estratégica e gestão de
para defini-los. Para os autores, uma crise consiste crises, apresentam similaridades e diferenças entre
em “[...] uma situação na qual decisões importantes si (PREBLE, 1997). As diferenças são muitas,
envolvendo ameaças ou oportunidades devem ser como a orientação dos processos. Enquanto que os
tomadas em um curto espaço de tempo [...]”; já o pesquisadores e praticantes da gestão estratégica
desastre envolve se orientam, principalmente, pelo desempenho
corporativo e pela busca de oportunidades e ameaças
[...] procedimentos de gestão que devem ser
para criar e manter uma vantagem competitiva
mantidos, e problemas de gestão enfrentados sob
(PORTER, 1979), os estudos de gestão de crise se
condições de emergência técnica, envolvendo
orientam por questões sobre como as organizações
ameaças de lesões e perda de vida. (SHALUF;
podem ameaçar o ambiente externo e sobre como
AHMADUN; SAID, 2003, p. 24).
“corporações sustentáveis” podem ser criadas e
Os desastres desencadeiam uma crise corporativa, mantidas (SHRIVASTAVA, 1993). Ainda, o campo da
a qual, segundo Weick (1988), caracteriza-se pela gestão estratégica considera acionistas, empregados,
baixa probabilidade e alta consequência de ocorrer fornecedores, investidores, governos e clientes como
determinados eventos que ameaçam os objetivos seus principais stakeholders, enquando que, para a
fundamentais de uma organização, ou ainda, como gestão de crises, a esses devem ser adicionadas as
Nystrom e Starbuck (1984, p. 324) consideram, a futuras gerações, grupos específicos de interesse,
crise é “[...] uma situação que ameaça seriamente a terroristas, psicopatas, políticas locais e competidores
sobrevivência de uma organização.” Sendo a crise (PREBLE, 1997).
uma incongruência entre as expectativas de uma Quanto às similaridades, Preble (1997) sintetiza
empresa e o que realmente ocorre (HAYS, 1985), seis características comuns aos dois processos: foco
essa desenvolve respostas estratégicas a um ambiente nas relações ambientais; um conjunto complexo de
de mudança (BARTLETT; GHOSHAL, 1987), pois stakeholders; o envolvimento da alta administração;
a sua capacidade de ser bem sucedida depende da uma preocupação com toda a organização; a expressão
sua estratégia. de um padrão consistente; e uma representação de um
Nesse sentido, Preble (1997) argumenta a favor da processo emergente. Tanto o fazer estratégia como o
integração da gestão de crise no processo de gestão gerir uma crise consiste em uma mistura complexa
estratégica, pois, segundo o autor, esse processo que reflete consistência e processos emergentes, visto
proverá a empresa de uma estratégia para prevenir-se que, nesse último, exige-se uma resposta estratégica.
contra o desenvolvimento de eventos que acarretam Os estudos sobre respostas estratégicas à crise
crises ou mesmo para diminuir seus efeitos no caso corporativa têm recaído no campo dos estudos de
de uma crise em curso. Essa aproximação dos estudos comunicação corporativa, pouco se relacionando
de gestão de crises e de gestão estratégica ocorreu nos com a gestão estratégica. Por exemplo, Kim, Averyb
anos 1980, por estudos conduzidos por Shrivastava e Lariscyc (2009), por meio da análise de conteúdo
e Mitroff (1987) e Smart e Vertinsky (1984), entre em periódicos da área de comunicação e negócios,
outros, e no início dos anos 1990, com os estudos pesquisaram as estratégias de respostas mais efetivas
de Mitroff, Pearson e Pauchant (1992) e Pauchant e na gestão de crises, focalizando, principalmente, nas
Mitroff (1992), entre outros. práticas de comunicação. Kernisky (1997) pesquisou os
A gestão de crise é definida por Preble (1997, p. 777) boletins publicados durante dez anos depois do crime
como o de Bhopal, em 1984, pela Dow Chemical (A empresa
é proprietária da Union Carbide, responsável por um
[...] processo sistemático pelo qual uma
vazamento de gás em Bophal que matou milhares de
organização tenta predizer ou identificar crises
pessoas em 1984.), analisando a retórica da companhia
potenciais que a mesma pode encontrar, tomando
na gestão de crises, na reparação de sua imagem e na
precauções para prevenir contra as crises ou
busca de legitimidade. Ainda, entre outros, King III
minimizar os efeitos das mesmas.
(2006) analisou as respostas estratégicas utilizadas
A gestão estratégica compreende a formulação, por uma empresa depois de ser acusada de sérias
implementação e avaliação de estratégias para alcançar irregularidades e conduta inapropriada.
os objetivos organizacionais (CERTO; PETER, Todavia, a crise decorrente de uma ação provocada
1993), estabelecer um posicionamento na indústria pelos sistemas organizacional, tecnológico e social de
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uma companhia não deve ser respondida tão somente de exceção que permitem a acumulação [de capital]
por meio de práticas de comunicação. Ainda a esse por espoliação.”
respeito, Sapriel (2003, p. 348) afirma que a gestão O conceito de crimes corporativos mais aceito,
da crise não deve ser reduzida a “[...] uma função comumente, é estreitamente legalista, ou seja, aqueles
do departamento de comunicação corporativa [...]”, cujos processos obtiveram condenação da empresa
e, sim, deve ser pensada de forma estratégica, sendo (MOKHIBER, 1995). Todavia, as concepções acerca
conduzida e implementada por toda a companhia, ou do que sejam os crimes corporativos, a despeito de
seja, a gestão de crises precisa garantir os planos, tantas lacunas na literatura (SIMPSON, 2003), têm
habilidades, processos e ferramentas necessários em comum o fato de que se caracterizam por serem
para facilitar e acelerar as respostas à crise. cometidos por representantes (gerentes, executivos
Vale ressaltar a análise de Gopinath e Prasad (2012) ou outra denominação) da empresa, em nome dos
sobre a compreensão por parte de acadêmicos e objetivos corporativos.
praticantes, nos livros textos do ensino de gestão, quanto Quando se trata de crimes corporativos ambientais,
às operações das multinacionais (MNE). Desafiando a a crise desencadeada leva a empresa a um grau maior
compreensão e a interpretação convencionais acerca da de crítica e julgamento público do que outros tipos
estratégia de internacionalização dos negócios, a qual de crise (KERNISKY, 1997), visto que existe uma
recai sobre os desafios enfrentados pelas MNEs em expectativa quanto à atuação e responsabilidade social
ambientes políticos bastante complexos e reguladores, das corporações. Ainda nesses casos, a denominação
as autoras propõem uma compreensão mais ampla conferida aos crimes corporativos ambientais difere,
dessas operações, a qual se afasta do gerencialismo como Shrivastava (1992) exemplifica, utilizando o
ingênuo e considera o contexto sócio-cultural-histórico caso de Bhopal: o relatório técnico da Union Carbide
do local em que a MNE irá atuar. refere-se ao caso como um “incidente”; o governo
Crises corporativas podem ser resultantes, indiano, como um “acidente”; as vítimas, como um
também, de um crime corporativo, o qual consiste, “desastre”; e os ativistas sociais consideram-no uma
para Friedrichs (1996, p. 9), em “[...] atos ilegais e “tragédia”, um “massacre” e até mesmo um “genocídio
prejudiciais cometidos por dirigentes e funcionários industrial”. Sobre Bhopal, Walters (2009) concorda
de uma corporação para promover os interesses com os criminologistas de que se trata de um crime
corporativos [...]”, e, para Vaughan (1999, p. 288), em corporativo, um crime de poder, envolvendo estados
e corporações que cometem atos ilegais em nome
[...] atos de omissão ou a comissão de pessoas
do lucro.
ou grupos de indivíduos desempenhando seus
Os crimes ambientais corporativos abalam a
papéis organizacionais que violam regras internas,
confiança de investidores, consumidores, acionistas
leis, ou regulamentos administrativos em nome
e da sociedade em geral, pois as corporações
dos objetivos organizacionais.
desempenham papel relevante na sociedade moderna,
Para Grabosky e Braithwaite (1987), o crime oferecendo produtos e serviços para suprir suas
corporativo envolve crimes cometidos por empresas necessidades, demandas e desejos, assumindo a
ou seus agentes contra a sociedade, o meio ambiente, função de provedora de bens e serviços. Todavia,
credores, investidores ou concorrentes ou governos, os governos têm responsabilidades fundamentais
resultantes de imprudência, negligência ou desatenção, sobre o bem-estar da população, portanto, quando
podendo ser deliberado ou não. Kramer (1984, p. as corporações, ao produzir bens e serviços, impõem
18), por exemplo, define crime corporativo como perigos e riscos aos consumidores, aos empregados,
à sociedade e ao meio ambiente, os governos atuam
Atos criminosos (de omissão ou comissão), que
no sentido de cumprir o seu papel.
são o resultado de decisão deliberada de fazer
O fato é que, após um crime corporativo ambiental,
(ou negligência culposa) por pessoas que ocupam
uma crise corporativa é desencadeada, e a empresa,
posições chave na estrutura organizacional da
diante das acusações, toma decisões estratégicas de
empresa, como os executivos ou gerentes.
modo a reparar sua imagem perante o público ou
Assim, esse autor considera que crimes corporativos manter os seus relacionamentos com os diversos
são decisões corporativas, pois essas são tomadas de atores sociais (KERNISKY, 1997; HUANG, 2006),
acordo com os objetivos estratégicos, procedimentos pois, conforme afirmam Stephens, Malone e Bailey
operacionais e as normas culturais da organização, (2005), ao responder à crise, as organizações precisam
além de que se destinam a beneficiar a própria reconhecer um conjunto amplo de stakeholders,
organização. Nessa perspectiva, crimes corporativos incluindo consumidores, a comunidade e outros
são, também, e não somente as práticas definidas membros do seu ambiente. Nesses casos, as
na teoria do necrocapitalismo de Banerjee (2008, p. organizações têm se utilizado da linguagem retórica
1559), aquelas que “[...] resultam na subjugação da para reparar um erro de ordem, eminentemente,
vida ao poder da morte [...]” e “[...] criam estados estratégica. O propósito da comunicação durante uma
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crise é influenciar a percepção do público a fim de como discurso, pois os elementos da estratégia são
manter sua imagem positiva ou restaurar uma imagem mobilizados, assim como um discurso, para construir
danificada perante seus stakeholders (RAY, 1999). práticas e atores estratégicos. Para defenderem essa
Desse modo, a estratégia comum no decorrer ideia, Knights e Morgan (1991, p. 268) baseiam-se na
da crise é centrada no discurso dos representantes metodologia de Foucault para sugerir que a estratégia,
da companhia e de outros atores, como a mídia, como um discurso, “[...] está intimamente envolvida
o governo, entre outros. Esse discurso, com o na constituição de intenções e ações a partir das
propósito de proteger a imagem da organização, quais se pensa ser essa [estratégia] derivada.” Sendo
busca modificar a percepção do público quanto à assim, a análise de estratégia não pode se resumir aos
responsabilidade pela crise (COOMBS, 1999) com aspectos racionalistas de mercados e ambientes, ou a
mensagens estratégicas para controlar os danos e, interpretações dos diversos atores que neles atuam, pois
assim, prevenir mudanças drásticas negativas nos a estratégia não é independente das ações e práticas que
seus relacionamentos (STURGES, 1994) com os a constituem, mas, sim, é parte integrante dessas ações
diversos stakeholders. Ainda, nos seus discursos ou práticas que, frequentemente, constituem-se na base
estratégicos durante a crise, conforme Lerbinger para explicações ou justificativas. Nessa perspectiva,
(1997), a organização aproveita a oportunidade para a estratégia é um elemento essencial no discurso
reforçar, perante o público, sua missão, valores e gerencial e, como tal, precisa ser contextualizada
operações. tanto nas mudanças específicas que ocorrem nas
organizações, bem como na subjetividade de gestão,
3 O discurso e a prática: abordagens visto constituir-se em um mecanismo de poder capaz de
para a pesquisa em estratégia [...] transformar os indivíduos em determinados
Nas pesquisas no campo da estratégia, as abordagens tipos de sujeitos que garantem uma sensação de
normativas e prescritivas são predominantes, ainda bem-estar através da participação em práticas
que outras abordagens tenham ganhado espaço. A estratégicas [...] (KNIGHTS; MORGAN, 1991,
perspectiva econômica, que forneceu os fundamentos p. 251).
para que o desenvolvimento do campo se tornasse Argumentando a favor da aplicação da análise
centrado nas concepções de ator individual e crítica de discurso de Fairclough (1992) nos estudos
racional (KIRSCHBAUM; GUARIDO FILHO, de estratégia, Phillips, Sewell e Jaynes (2008)
2011), compartilha espaço agora com a perspectiva identificam, na literatura específica do campo, três
sociológica, a qual orienta estudos a partir da natureza abordagens que relacionam a linguagem e a formulação
social da estratégia organizacional e, no âmbito e implementação da estratégia: estratégia como um
desses estudos, o discurso tornou-se relevante para sistema de significados compartilhados; estratégia
a compreensão do modo como as práticas sociais e como texto e discurso; e estratégia como verdade
discursivas influenciam as esferas política e econômica (Quadro 1).
(KIRSCHBAUM; GARIDO FILHO, 2011) e social. A estratégia como um sistema de significados
Assim, as abordagens alternativas à econômica, compartilhados implica no entendimento de que
introduzidas na análise da estratégia organizacional, a lógica organizacional pode ser estudada como a
têm como centro a dinâmica do cotidiano no qual criação de significados a partir de recursos discursivos
as interações sociais ocorrem. Nessa perspectiva, o externos à organização para se chegar a um consenso
discurso enquanto prática social ganha importância quanto aos seus objetivos estratégicos e os meios para
para a pesquisa em estratégia, visto que é um recurso alcançá-los (PHILLIPS; SEWELL; JAYNES, 2008).
estratégico (HARDY; PALMER; PHILLIPS, 2000), Nessa direção, Fenton e Langley (2011) exploram
e é por meio dele que a estrutura social se manifesta as aplicações da narrativa como abordagem para
(PHILLIPS; SEWELL; JAYNES, 2008). Ainda, é por analisar a estratégia como prática, considerando que
meio do discurso que as relações de poder, as quais a narrativa é uma maneira pela qual os significados
são caracterizadas por contradição, ambiguidade, são criados nas práticas cotidianas, constituindo um
inconsistência, incerteza e desigualdade, constituem sentido de direção ou propósito entre os membros.
o processo da estratégia. A estratégia como texto e discurso tem como
Nessa direção, estão os argumentos de Hendry foco a construção retórica de textos, sendo o interesse
(2000) quanto ao fato de que as decisões estratégicas dirigido para o modo como a estratégia é escrita, por
fazem parte do discurso organizacional ou do corpo de quem é escrita (estrategista) e como é disseminada
comunicações baseadas na linguagem que opera nos (textos e discursos em torno da estratégia) (PHILLIPS;
níveis da estrutura e da comunicação, constituindo-se SEWELL; JAYNES, 2008). A retórica como o ato
em uma característica central do processo da estratégia. de persuadir (LEACH, 2002) implica na organização
Ainda, os estudos de Knights e Morgan (1991, 1995) do discurso para ser persuasivo, sendo a persuasão
defendem a concepção de estratégia corporativa o objeto tradicional da análise retórica. Contudo, o
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Quadro 1. Características das abordagens que relacionam o discurso e a estratégia.


Estratégia como significados Estratégia como Estratégia como verdade
compartilhados texto e discurso
Concepção de estratégia Manifestação do modo de Uma narrativa Sistema de conhecimento que
(ontologia) legitimação da compreensão autorizada determina e exclui o que a
dos objetivos estratégicos e dos organização pode e não pode
meios para alcançá-los fazer
Operacionalização Estratégia como uma cultura Estrutura retórica Tecnologia de poder que
(epistemologia/ determina o que é aceitável e o
Metodologia) que não é
Metodologia adotada Quantificação das dimensões Estudo da construção Estudo genealógico dos textos
da cultura de textos ao longo do de estratégia. Estudo etnográfico
(mas potencialmente sujeita a tempo de discurso e prática como uma
etnografia qualitativa) resposta aos textos estratégicos
Fonte: Adaptado de Phillips, Sewell e Jaynes (2008).

aspecto principal a ser considerado nesse processo do poder, a qual produz e reproduz verdades, cujos
é o contexto do discurso, o qual é “[...] produzido efeitos, entre outros, são: a) explica o sucesso ou
por um orador (retor) competente e consciente que fracasso de gestão em função da estratégia em
organiza seu discurso de acordo com conjuntos de questão; b) apresenta os gestores como peritos com
regras formalizadas [...]” (LEACH, 2002, p.296) para acesso privilegiado ao conhecimento; c) legitima
persuadir um público específico a se comportar de o exercício do poder de determinados grupos em
determinado modo ou modificar um comportamento detrimento de outros; d) cria categorias para classificar
ou opinião. as pessoas em bons gestores, funcionários que resistem
No caso da abordagem da estratégia como texto e à implementação da estratégia (PHILLIPS; SEWELL;
discurso, a concepção da estratégia é uma narrativa JAYNES, 2008). Nesse sentido, Vaara, Sorsa e Palli
autorizada, o que implica a tentativa de dramatizar (2010) utilizaram a análise crítica de discurso para
a vida organizacional e introduzir histórias de sua compreender o poder dos planos estratégicos como
performance (PUTNAM; PHILLIPS; CHAPMAN, um gênero diretivo, identificando os discursos centrais
2004), as quais são reconstruídas na medida em que neles contidos e suas implicações quanto às relações
elementos novos são adicionados. Para Putnam, de poder.
Phillips e Chapman (2004), as organizações constroem Essas abordagens são complementares na análise
sua imagem e identidade a partir das narrativas da estratégia, como propõem Phillips, Sewell e Janes
que são contadas por elas próprias, as quais criam (2008) no framework desenvolvido para esse fim
significados para que os membros da organização específico. Considerando os três níveis da análise
vejam sentido nas suas experiências na organização crítica de discurso de Fairclough (1992), os autores
(BOYCE, 1995). É nesse sentido que Boje (2005) formulam um modelo para análise da mudança
considera as narrativas como prisões, pois, uma vez estratégica em uma companhia. Para Fairclough
inscritos em uma história, nós agimos de acordo com (1992), os discursos devem ser analisados, de forma
as expectativas que os outros têm em relação aos papéis simultânea, em três níveis: texto (micro, implica na
que desempenhamos. Ainda nessa direção, Vendelo análise da estrutura linguística), práticas discursivas
(1998) sugere que as narrativas organizacionais (produção e interpretação dos textos) e a prática social
constituem-se em um mecanismo para legitimação (contexto social e institucional – como os textos e
da organização e garantia de sua reputação. discursos – são utilizados).
As narrativas, sem dúvida, são prevalecentes nas No modelo de Phillips, Sewell e Janes (2008),
organizações, desempenhando um papel central para o sistema de significados compartilhados, que
a legitimação de poder, a construção de identidades corresponde ao nível do contexto social do discurso,
individuais e organizacionais e, também, servem cria verdades, as quais correspondem ao nível do
de mecanismos implícitos de controle de forma a discurso e que, por sua vez, são também criadas pelos
administrar os significados organizacionais. Entretanto, textos e discursos produzidos como respostas aos
como ressaltam Putnam, Phillips e Chapman (2004), seus efeitos, o que corresponde ao nível do texto. As
a análise dos elementos das narrativas pode, também, companhias, ao fornecerem suas respostas estratégicas
revelar os paradoxos e as contradições. à crise decorrente de crimes corporativos, estão
A estratégia como verdade focaliza o impacto imersas na prática social com seus diversos públicos,
das interações cotidianas e das políticas da estratégia quais sejam, empregados, fornecedores, parceiros,
sobre os membros da organização, sendo o discurso governo, concorrentes, ativistas, investidores e a
produzido no cotidiano organizacional uma tecnologia sociedade.
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4 Procedimentos da pesquisa a primeira busca em 16 de novembro de 2011


Nesta pesquisa, analisamos as respostas estratégicas e, nessa data, constava uma chamada na página
de uma companhia acusada de um crime corporativo inicial: “Comunicado Público ao Campo do Frade”.
ambiental, utilizando a análise retórica, conforme Prosseguindo com a coleta de dados para acompanhar
Reboul (2004), para quem a retórica consiste na arte as respostas da empresa, identificamos que essa
de persuadir pelo discurso. Nossa análise considera a chamada foi retirada e outra, de “Notícias”, passou
estrutura retórica a partir de seus quatro elementos: a conter as atualizações do caso.
(1) gênero do discurso, que compreende a essência Identificamos, no website da empresa, um conjunto
da mensagem, nesse caso, as verdades produzidas de postagens agrupadas em cinco categorias, as quais
por meio do discurso; (2) o orador ou retor, que consideramos como respostas oficiais da empresa.
é aquele que produz o discurso, nesse caso, os Em nossa análise do material coletado, tanto
representantes da empresa; (3) a audiência, nesse caso, no website na empresa quanto nas reportagens
os stakeholders da empresa; e (4) os meios de prova, jornalísticas, orientamo-nos para identificar: (1) a crise
os quais consistem nos fatos criados, nos exemplos desencadeada: acidente, incidente ou crime? (descrição
e evidências. A esses elementos, foram adicionados do caso que desencadeou a crise - a cronologia e os
os três argumentos persuasivos da retórica: logos principais eventos, visando à reconstrução do caso para
(razão), pathos (emoção) e ethos (ética). ampliar seu entendimento); (2) os atores envolvidos
O primeiro passo da pesquisa consistiu em uma para identificar as acusações e denúncias, visto que,
busca no website da empresa para identificar as suas a essas, a empresa oferece respostas estratégicas;
respostas oficiais à crise. Em seguida, buscamos, no (3) as respostas estratégicas da empresa à crise, que
Jornal A Folha de S. Paulo, a cobertura jornalística do compreendem a análise retórica.
acontecimento, no período de 7 de novembro de 2011
a 19 de abril de 2012, para identificar a cronologia 5.1 A crise desencadeada: desastre,
do caso, as reações da empresa diante da atuação incidente ou crime?
do governo e das manifestações de especialistas e
outros organismos. Além de A Folha de S. Paulo, O vazamento ocorreu no Campo de Frade, na
selecionamos uma entrevista do Presidente da Chevron Bacia de Campos, no RJ, operado pela petroleira
na África e América Latina, na qual este assume uma norte-americana Chevron. A cronologia do caso tem
posição oficial sobre o vazamento. O resultado das início no dia 7 de novembro de 2011 quando, durante
duas etapas constitui os textos considerados para uma perfuração, foi utilizado um tipo de lama sem
análise, dos quais retiramos fragmentos retóricos o peso necessário para conter o óleo, que subiu pelo
(REBOUL, 2004) para compor o corpus de pesquisa poço e pelas formações rochosas, chegando ao fundo
e, assim, realizar a análise retórica. do mar e vazando por fissuras no solo. No dia 8 de
novembro, a mancha foi avistada pela Petrobrás, a qual
5 Estratégias de respostas após um avisou à Chevron e ao IBAMA. Segundo a Chevron
Brasil (2011), a “Equipe de Resposta à Emergência
crime corporativo: o discurso como da Chevron é ativada”.
tentativa de construir verdades No dia 9 de novembro, a Chevron comunica o
Para analisar as estratégias de respostas utilizadas vazamento à Agência Nacional do Petróleo (ANP)
pela multinacional Chevron, depois do vazamento e ao IBAMA. No dia 10 de novembro, as operações
no poço de petróleo na plataforma utilizada pela no Campo de Frade são suspensas e, no dia 12 de
empresa petrolífera norte-americana, na Bacia de novembro, a Chevron solicita à ANP autorização
Campos/RJ, em novembro de 2011, acompanhamos, para selar e abandonar o poço. No dia seguinte, 13,
inicialmente, a cobertura jornalística realizada pela a empresa joga mais lama para conter o vazamento
Folha de S.Paulo no período de 7 de novembro de e, no dia 16 de novembro, o poço começa a ser
2011 a 19 de abril de 2012. Identificamos, nessa cimentado. No dia 19 de novembro, a ANP informa
busca, 46 reportagens, nas quais analisamos, para que o vazamento continua e, no dia 21, o IBAMA
identificar a atuação do governo, da Agência Nacional multa a empresa.
de Petróleo (ANP), do Ministério Público, da Polícia Desde o dia 8 de novembro de 2011 até o dia 27
Federal, entre outros, especificamente, acusações e de março e 2012, a Chevron tem comunicado as
denúncias contra a empresa face ao vazamento que ações da empresa quanto aos reparos técnicos do
provocou a crise. A escolha por esse jornal deve-se problema, dia a dia, no seu website, disponibilizando
ao fato de ser considerado um dos maiores jornais a cronologia de suas respostas estratégicas à crise
de circulação do País. instaurada pelo vazamento.
Paralelamente à identificação das acusações e As crises desencadeadas por crimes ambientais
denúncias, acompanhamos as respostas da empresa corporativos tornam a empresa mais vulnerável à
postadas no website da Chevron Brasil. Fizemos crítica e julgamento público (KERNISKY, 1997). A
854 Medeiros et al. Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 4, p. 847-861, 2013

complexidade da crise provocada por esses crimes pode A Chevron e seus executivos cometeram um
ser observada pelas diferentes denominações que lhes crime - Para o delegado Scliar, da DMAPH, da PF,
são conferidas, como ocorreu com o caso de Bhopal no Rio, houve crime ambiental, pois, conforme afirma,
(SHRIVASTAVA, 1992). No caso em análise, por “O crime de poluição já está configurado” (LUNA;
exemplo, para a Procuradoria, o vazamento foi “[...] JUNIOR; MARTINS, 2011, p. 01). O secretário de
um dos maiores desastres ecológicos de que se tem Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, apoiando
notícia no país” (GRILLO; MARTINS, 2012, p. 01), a ação criminal da Política Federal, entende que à
e o procurador Eduardo Santos Oliveira considera, empresa deve ser imposto o máximo de punições, pois
também, que é “uma série de crimes ambientais”. Para o “É um sinal vermelho para o pré-sal que vem aí, por
delegado Fábio Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente isso apoiamos a ação criminal da PF, não pode ficar
e Patrimônio Histórico (DMAPH), o vazamento está barato” (LUNA; JUNIOR; MARTINS, 2011, p. 01).
configurado como um “crime de poluição” (LUNA, A acusação de crime estendeu-se aos executivos
JUNIOR; MARTINS, 2011). A Chevron declara ser da empresa, inclusive ao presidente da empresa no
um “incidente” (CHEVRON..., 2011). Brasil, George Buck: “A Polícia Federal indiciou a
Chevron e a Transocean e mais 17 executivos das
duas empresas pelo vazamento de óleo no Campo
5.2 Os atores envolvidos e sua atuação na de Frade, bacia de Campos, em novembro”. Para o
crise delegado Scliar, da DMAPH, as empresas usaram
A Chevron falhou - A Agência Nacional do “práticas temerárias” e causaram danos ambientais,
Petróleo (ANP) afirma que o vazamento foi causado além de sonegar informações aos investigadores e
por problemas de operação da empresa e não por entregar documentos falsos à polícia, portanto, o
falhas geológicas, conforme informa o diretor da ANP: delegado está convencido de que

Temos que avaliar as causas. No princípio eles [...] a política institucional da empresa é temerária
argumentaram que o acidente foi por causas e leviana na perfuração de poços de petróleo
naturais, mas não aceitamos, vamos investigar. no Brasil. Por isso, a responsabilização dos
(LUNA; JUNIOR; MARTINS, 2011, p. 01). executivos (MARTINS, 2011, p. 01).

O Governo (procurador) também acusa a empresa Segundo o Ministério Público Federal, a Chevron,
a Transocean e mais 17 funcionários
da falha técnica, em função de que o revestimento
não chegava ao reservatório e o vazamento ocorreu [...] teriam, de maneiras distintas, condições
na área não protegida. Para o governo, o vazamento de evitar que o vazamento ocorresse. Quatro
não teria ocorrido se houvesse a camada extra de executivos foram acusados ainda de falsidade
concreto. Quanto à causa do acidente, o governo ideológica, pois teriam entregue às autoridades
(procurador) entende que imagens editadas do vazamento.” (GRILLO;
MARTINS, 2012, p. 01).
[...] a avaliação é que houve coincidência de
falhas: aumento inesperado de pressão, vazamento A Chevron esconde os fatos - A acusação de que
de óleo para dentro da estrutura do poço, escape a empresa mascara os fatos, encobrindo a situação
por rachadura no solo da área de Macaé. (CRUZ; real, é compartilhada por vários atores. O Greenpeace
FERNANDES, 2011, p. 01). manifestou-se de forma a duvidar das declarações da
empresa (EXPLORAÇÃO..., 2011) de que o vazamento
O delegado Fabio Scliar considera que “[...] houve foi causado por uma falha natural na superfície do
problemas na técnica utilizada na perfuração no fundo do mar. Porém, essa falha não foi apontada
Campo de Frade” (MARTINS, 2011, p.01), pois as no Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Assim, o
empresas utilizaram, na retirada do petróleo, pressão Greenpeace lança a questão: “O que aconteceu? Onde
maior do que as rochas suportavam. está o EIA de Frade?” (EXPLORAÇÃO..., 2011).
A Chevron foi negligente - A ANP proibiu a A Polícia Federal (PF) “[...] abriu inquérito para
Chevron de continuar a perfurar no Brasil. A empresa investigar crime de poluição no caso de vazamento
só poderá voltar à atividade quando as causas do [...]” (JUNIOR; MARTINS, 2011, p. 01) depois de
vazamento no Campo de Frade forem identificadas, e constatar que o combate ao vazamento não estava
as condições de segurança, restabelecidas. Segundo a sendo realizado conforme a empresa manifestou.
ANP, houve negligência da Chevron na perfuração de Agentes federais sobrevoaram o local e encontraram
poços e na elaboração e na execução de cronograma apenas uma embarcação cuidando da limpeza, e não
de abandono (JUNIOR, 2011a). O procurador as 18 como a empresa afirmou. A entrada da PF no
Eduardo Santos de Oliveira também acusa a empresa caso se deu a pedido da Presidência da República,
de “negligente”, demonstrando incapacidade para que pediu rigor na apuração dos fatos (JUNIOR;
operar no País. MARTINS, 2011).
Strategy as Truth: respostas estratégicas... 855

As informações prestadas pela empresa à PF e à um dia depois, pela Petrobrás e, ao ser contatada,
opinião pública são distintas acerca do que realmente fez uma pesquisa no local, não encontrando nenhum
acontece, conforme destacou o delegado da DMAPH: problema. No dia seguinte, em 9 de novembro,
“Inicialmente, os relatórios não correspondem à a empresa verificou que havia o vazamento. Nas
realidade dos fatos. Quero entender o que ocorre” postagens da empresa, no seu website, a empresa
(JUNIOR; MARTINS, 2011, p. 01). Além disso, o afirma ter uma “equipe de resposta à emergência”,
delegado informou sobre sua pretensão de contatar que agiu, imediatamente, nos trabalhos de controle
o consulado norte-americano, pois soube que uma da mancha e análise para detectar sua causa. Uma das
autoridade ambiental dos EUA visitou o local sem medidas da empresa foi a suspensão das atividades
que a PF fosse comunicada. Como denúncia de que de perfuração no campo e fechamento do poço
a empresa esconde os fatos, o geógrafo John Amos, que estava sendo perfurado (CHEVRON..., 2011).
diretor do site SkyTruth, especialista em interpretação Conforme as informações da Chevron Brasil (2011),
de fotos de satélites com fins ambientais, estima que somente dez dias depois, havia uma equipe para
o derrame pode chegar a 3.738 barris por dia, e não a monitoramento do poço.
330 barris/dia, como a empresa informou (JUNIOR; Todavia, a existência de um processo de gestão de
MARTINS, 2011). Ainda, a ANP declarou que a crise não foi evidenciada, já que esse envolve, na sua
empresa enviou “informações truncadas” ao governo primeira fase, a realização de uma avaliação de risco
(SOARES; JUNIOR; FOREQUE, 2011). para identificar as ameaças potenciais, probabilidades
A Chevron impõe riscos e perigos ao meio de ocorrência e, principalmente, a determinação de
ambiente - Vários especialistas foram envolvidos
impactos (PREBLE, 1997). Segundo as denúncias e
no caso. O oceanógrafo David Zee, por exemplo,
acusações, a empresa, quando não omitiu, forneceu
afirmou que “Embora remota, a possibilidade de a
informações falsas e desencontradas. A empresa
mancha de óleo atingir a costa do Rio de Janeiro
afirmou a existência de um “Plano de Emergência
ainda existe.” Ainda, o especialista afirmou que os
Individual (PEI) que foi devidamente aprovado pelo
efeitos para o ecossistema são inevitáveis (JUNIOR;
MARTINS, 2011, p. 01). O governo do Rio entrou INEA/IBAMA)” (CHEVRON..., 2011, p.01), contudo,
com ação civil pública para reparações ambientais esse não é um plano integrado à gestão estratégica.
em razão do vazamento (JUNIOR, 2011b). Os planos de contingência (PREBLE, 1997),
O delegado da DMAPH informou ainda haver comumente, assumem que a crise vai seguir um
estudo de impacto ambiental feito pela própria Chevron caminho predizível e, assim, focalizam em alternativas
em que a empresa previa que um vazamento de óleo futuras ao plano estratégico, o que orienta a sua
no campo causaria danos à flora e à fauna. elaboração para a limitação dos danos, negligenciando
a prevenção de crises. Ainda, no decorrer da crise,
No estudo, a própria Chevron relata que um houve uma ameaça de novo vazamento, o que reforça
vazamento iria interferir na cadeia alimentar de a falta de integração entre os dois processos (gestão
peixes maiores e, consequentemente, até câncer crise e estratégia):
em seres humanos.
No início de março de 2012, a Chevron identificou
Laudos do IBAMA e do oceanógrafo David Zee, um novo pequeno afloramento de óleo no
anexados ao inquérito, são usados para comprovar que Campo de Frade. A empresa irá realizar um
o vazamento causou danos (MARTINS, 2011, p. 01). amplo estudo técnico e preparar um estudo
complementar para o melhor entendimento da
5.3 Gestão da Crise e estratégia estrutura geológica da área, trabalhando com os
parceiros (CHEVRON..., 2011, p. 01).
Como advogam Pauchant e Mirtroff (1992) e Preble
(1997), a gestão da crise é de natureza estratégica, o As respostas estratégicas na gestão de crises têm
que deve ser reconhecido pelos top management. A recaído no campo da comunicação corporativa (KIM;
crise protagonizada pela Chevron ganhou dimensões AVERYB; LARISCYC, 2009; KING III, 2006;
tais que ameaça a sua atuação na exploração do pré-sal KERNISKY, 1997), que analisa essas respostas de
no Brasil (LUNA; JUNIOR; MARTINS, 2011), além acordo com as categorias de reparação de imagem.
de envolver o governo e a sociedade civil organizada, Porém, a gestão de crises tem profunda relação com
fazendo com que a empresa responda a acusações a estratégia corporativa. Uma questão mencionada na
e denúncias. As respostas da empresa evidenciam introdução deste artigo diz respeito ao modo como essa
a ausência de integração dos processos de gestão relação pode ser configurada. O processo de gestão
estratégica e de crise, o que é comum, segundo diversos estratégica elaborado a partir dos pressupostos das
autores (MITROFF; SHRIVASTAVA; UDWADIA, teorias funcionalistas (KIRSCHBAUM; GUARIDO
1987; PREBLE, 1997). FILHO, 2011) pode contemplar o processo de gestão
Embora o vazamento tenha ocorrido na sua área, de crise de forma a integrá-lo nas suas diversas fases,
no dia 7 de novembro, a empresa soube do vazamento como o modelo sugerido por Preble (1997). Todavia, as
856 Medeiros et al. Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 4, p. 847-861, 2013

abordagens sociológicas, nas quais se inclui a análise A empresa é acusada de ter falhado nas suas
de discurso (HARDY; PALMER; PHILLIPS, 2000; operações, ao que respondeu, transferindo a culpa
PHILLIPS; SEWELL; JAYNES, 2008; HENDRY, pelo ocorrido a problemas de natureza geológica.
2000; KNIGHTS; MORGAN, 1991, 1995), são No depoimento do representante da empresa, este
capazes de oferecer uma nova compreensão do faz uma alusão sobre os desafios da atividade de
processo de gestão de crise no processo de estratégia. exploração marítima:
Durante a crise corporativa, os executivos tendem Tanto a Chevron quanto os demais operadores
a redefinir a realidade com suas próprias fantasias e do mercado, assim como os reguladores do
crenças (MITROFF et al., 1989) ou mesmo distorcer setor, sabem e reconhecem os grandes desafios
sua interpretação dos sinais de perigos emitidos da que a exploração em águas profundas oferece
dinâmica do sistema organizacional-social-cultural (CHEVRON..., 2011, p. 01).
(PREBLE, 1997). Assim, nos seus textos/discursos
em resposta à crise, os executivos evocam significados Ainda, o representante afirma que, no dia seguinte
exteriores à organização para criar sistemas de ao acidente, a empresa detectou a mancha em um
verdade, os quais compreendem os discursos internos procedimento de rotina: “No dia 8 de novembro,
produzidos para sustentar as respostas às denúncias uma mancha foi detectada em sobrevoo de rotina”.
e acusações dirigidas à corporação no decorrer da Verdade 2: Não há perigo ou risco ao meio
crise. Apresentadas as posições dos atores externos à ambiente - No seu depoimento, o representante da
empresa envolvidos na crise, analisamos, a seguir, as Chevron afirma que
verdades produzidas pela Chevron, em resposta à crise. Contrariamente ao que foi noticiado, o contínuo
monitoramento e as análises disponíveis indicam
5.4 Análise retórica: Strategy as truth que os incidentes não causaram dano a pessoas
ou ao meio ambiente, aí incluídas fauna e flora
Ancorados no modelo de Phillips, Sewell e
marinhas. (CHEVRON..., 2011, p. 01)
Janes (2008), analisamos as respostas da empresa,
identificando os textos ou discursos produzidos pela Os oradores contradizem os especialistas que
empresa para criar significados compartilhados e afirmaram ser o dano inquestionável. Para a empresa,
para produzir as verdades quanto à crise com a qual essa acusação não tem fundamento, pois
a empresa está lidando, conforme Figura 1. O monitoramento contínuo da área do incidente
Extraímos dos textos analisados quatro verdades mostra não ter havido nenhum impacto ambiental
principais, reconhecendo não serem essas as únicas. para a vida marinha. Nenhum petróleo chegou à
Essas verdades são consideradas aqui como o primeiro costa do Brasil. Nenhuma pessoa foi prejudicada
elemento da análise retórica, qual seja, o gênero do em consequência do incidente e não há base
discurso, e apresentamos os outros elementos da técnica para supor que houve algum risco para
estrutura retórica (REBOUL, 2004): o orador (nesse a saúde humana (CHEVRON..., 2011, p. 01).
caso, identificando quem representa a empresa), a
audiência e os meios de prova. Verdade 3: Não cometemos um crime - Às
Verdade 1: “Foi a mãe natureza” - Em entrevista acusações de ter cometido um crime, a empresa
concedida à Revista Carta Capital, Alli Moshiri responde, tratando do vazamento como um incidente.
culpou a ‘mãe natureza’ e a complexidade geológica Para a empresa, o “Indiciamento criminal não tem
da região pelo vazamento de petróleo: mérito” (CHEVRON..., 2011), e a empresa é vítima de

Estamos lidando com a mãe natureza e ela [...] uma série ultrajante de ações impetradas
é complicada. Cada parte do reservatório é pelo mesmo promotor que anteriormente ajuizou
diferente, mas temos pessoal altamente ações criminais e civis igualmente absurdas.
(CHEVRON..., 2011, p. 01)
qualificado trabalhando nisso. Devemos fazer
uma avaliação mais detalhada para ter certeza de O valor da ação, para a empresa, “é arbitrário e
que não acontecerá de novo (CARTA CAPITAL, especulativo e não está baseado em fatos”. A empresa
2011, p. 23). mostra-se confiante de que sua inocência será provada:

Figura 1. Análise da relação entre discurso e estratégia. Fonte: Elaborado pelos autores.
Strategy as Truth: respostas estratégicas... 857

Como nas ações civil e criminal anteriores, Em nome de meus colegas e colaboradores na
estamos confiantes de que uma análise Chevron, agradeço a oportunidade de relatar os
transparente e imparcial dos fatos demonstrará fatos dos últimos meses e de reafirmar nosso
que a Chevron e seus empregados responderam compromisso com o Brasil, com suas leis e com
de forma responsável e apropriada ao seu meio ambiente (CHEVRON..., 2011, p. 01).
incidente. A Chevron irá defender com vigor a
Ainda, o orador aproveita a oportunidade para
reputação de seus colaboradores e da empresa.
reforçar os valores da companhia e demonstra um
(CHEVRON..., 2011, p. 01)
esforço em tentar manter uma imagem positiva, que
Verdade 4: Somos responsáveis - A empresa é um dos objetivos dos discursos durante a crise,
afirma seu compromisso em resolver a crise: conforme Sturges (1994) e Lerbinger (1997).
“Nós temos o compromisso de mobilizar todos os Quanto à audiência, a empresa dirige-se
recursos até a mancha não poder mais ser detectada” para o conjunto amplo de stakeholders da
(CHEVRON..., 2011, p. 01). empresa – investidores, acionistas, empregados,
Em seu depoimento, o representante da empresa governo e a sociedade civil organizada –, buscando
reafirma o seu esforço: reparar sua imagem ou manter a imagem positiva para
Entretanto, em 15 de março, a Chevron lançou o público (STEPHENS; MALONE; BAILEY, 2005).
mão do seu processo interno denominado “stop Os meios de prova oferecidos pela empresa são as
work authority”, baseado em sua política global fotos e vídeos postados no seu website, mostrando os
de excelência operacional, que incentiva e premia equipamentos da empresa em atividade no mar e o
seus colaboradores a terem a iniciativa de alertar esforço da empresa em assumir suas responsabilidades
para riscos e, consequentemente, solicitar a e resolver a crise. Além das fotos e vídeos, mapas
paralisação dos trabalhos, de modo a garantir geográficos, simulações e outros recursos visuais
segurança e proteção a seu pessoal e ao meio com explicações técnicas são colocados como provas
ambiente. (CHEVRON..., 2011, p. 01) de suas verdades construídas em resposta à crise, as
quais, por sua vez, estão vinculadas a três dimensões
Esse texto cria uma verdade cujo significado, da retórica: a lógica, a emocional e a ética.
do crime corporativo, pode ser interpretado pelos Em relação ao logos, que corresponde aos aspectos
funcionários como uma fatalidade. racionais e lógicos, as verdades são construídas
A Chevron Brasil (2011, p. 01) responde às utilizando-se da opinião de especialistas no assunto. Na
denúncias, afirmando que categoria “Na Mídia” (Quadro 2), foram selecionadas
[...] sempre agiu dentro dos mais altos padrões as notícias e opiniões veiculadas na imprensa favoráveis
de segurança e integridade e está empenhada à empresa. Como exemplo, entre outros, citamos a
em esclarecer todos os fatos que estão sendo opinião de Rodolfo Landin, publicada da Folha de
levantados pela mídia [...]” e “[...] continua S. Paulo, em 13 de abril de 2012, a qual se inicia
trabalhando, em parceria com os órgãos do ponderando sobre as conclusões precipitadas. Além
governo brasileiro, para conter e eliminar a da opinião de outros especialistas, a empresa postou
mancha de óleo. no seu website mapas geológicos e outras explicações
técnicas. Quanto ao pathos, que compreende os
Além disso, a empresa aspectos emocionais, as verdades carregam a emoção
[...] também assume total responsabilidade de serem injustiçados (a empresa, executivos e
pelo incidente e apresentou uma estimativa do empregados) e o sentimento de colaboração, amizade,
volume total do petróleo proveniente das linhas parceria entre os empregados, os quais são referidos
de exsudação no fundo do oceano. como colaboradores.
O ethos, que diz respeito aos aspectos éticos,
Assim, a companhia, ao responder à crise, aproveita encontra-se presente na evocação dos valores nos
a oportunidade para gerenciar a impressão do público quais acredita, nos seus deveres, e, ainda, no seu
sobre si (STURGES, 1994), reforçando sua missão, empenho em solucionar a crise:
seus valores e operações (LERBINGER, 1997).
As respostas estratégicas às acusações contra a A Chevron está absolutamente empenhada,
empresa têm como oradores o presidente da Chevron por si e em colaboração com seus parceiros e
para a África e a América Latina, representante autoridades, em solucionar esse incidente e em
da empresa no Brasil, o setor responsável pela contribuir para a melhoria dos procedimentos de
comunicação corporativa da empresa, os especialistas prevenção, ação de contenção e transparência nos
contratados pela empresa para opinar sobre o caso, e, eventos dessa natureza, como um dever que nos
ainda, os autores das notícias veiculadas na imprensa e, é imposto, desde logo, pelos valores nos quais
seletivamente, postadas no website da empresa. Em seu acreditamos e que defendemos, no Brasil e em
depoimento, o representante da empresa, Williamson, todos os lugares em que operamos no mundo
estende a autoria aos colegas e colaboradores: (CHEVRON..., 2011, p. 01).
858 Medeiros et al. Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 4, p. 847-861, 2013

Quadro 2. Postagens no website da companhia no período de 7/11/2011 a 19/4/2012.


Categoria Característica Quant. de Período
posts
Entenda o Explicações sobre o vazamento no Campo de Frade e sobre a
2 s/data
incidente participação da Chevron na audiência pública do Senado.
Comunicados oficiais da empresa sobre o andamento das operações 10/11/2011
Comentários à
da empresa e respostas às acusações e denúncias, as medidas 14 a
imprensa
tomadas. 4/4/2012
22/11/2012
Notícias veiculadas no Brasil Econômico, na Folha de S. Paulo e no
Na mídia 9 a
Globo sobre a empresa e o vazamento.
19/4/2012
Fotos produzidas por técnicos da empresa dos equipamentos de
contenção no ponto de afloramento, da mancha provocada pelo
vazamento, do contêiner com o tanque de armazenamento, dos 19/11/2011
Fotos pontos de afloramento de óleo, da instalação do equipamento de 22 a
contenção, da embarcação dedicada à atividade de limpeza, do óleo 23/12/2011
residual, da mancha reduzida, das embarcações contratadas para
dispersar e reduzir a mancha.
Vídeos produzidos pela empresa sobre o caso. De modo geral, os
vídeos mostram os equipamentos de contenção em atividade, o 28/11/2011
Vídeos local onde houve o vazamento sem a presença da mancha, os pontos 19 a
de afloramento e o monitoramento que a empresa fez depois do 13/3/2012
ocorrido.
Fonte: Dados de pesquisa.

Em nossa pesquisa, apontamos os principais uma crise. Porém, um crime corporativo pode ser
atores que se posicionam quando ocorre uma crise evitado se houver um esforço dos executivos.
decorrente de um crime ambiental corporativo. A abordagem da estratégia como verdade,
Nos processos de crise em que se cogita afetar o diferentemente das abordagens do mainstream, não
bem-estar da população, os governos e a sociedade focalizam o impacto da estratégia no desempenho
civil organizada atuam de forma a desempenhar seu empresarial, mas, sim, os impactos do dia a dia dos
papel. Nossa escolha em adotar a análise retórica efeitos sociais e políticos da estratégia sobre a conduta
como técnica de análise aponta para o fato de que dos membros da organização. No caso da Chevron,
as verdades produzidas visavam a convencer os seus
as verdades são produzidas no “fazer estratégia”,
stakeholders de que não é culpada pelo vazamento,
e, ainda, este estudo aponta para a importância dos
não é ineficiente, é uma empresa responsável e,
significados no contexto social da organização, bem
principalmente, não cometeu um crime. Os textos
como seus efeitos. (discursos) produzidos e postados no website da
empresa foram elaborados para responder à crise
6 Considerações finais após o vazamento, constituindo-se em tecnologias de
Neste artigo, nós analisamos as estratégias de poder produzidas para dar sustentação às respostas
respostas utilizadas pela multinacional Chevron, depois estratégicas à crise. Esses discursos (re)produzem
do vazamento no poço de petróleo na plataforma outros discursos, interna e externamente, criando,
utilizada pela empresa petrolífera norte-americana, assim, sistemas de significados compartilhados que,
por sua vez, tornam-se verdades.
na Bacia de Campos/RJ, em novembro de 2011. A
As respostas estratégicas da Chevron à crise
nossa abordagem é de natureza sociológica e buscou
constituem-se nas narrativas autorizadas que
relacionar o discurso e a estratégia em uma situação
determinam e exclui o que é aceitável ou não. Nessa
de crise corporativa. perspectiva, o crime ambiental cometido pela empresa
No caso em questão, a empresa cometeu um crime está autorizado. O que se exclui do sistema de
ambiental corporativo, o qual desencadeou uma crise conhecimento criado pela empresa para responder à
que exigiu dela respostas estratégicas. Evidenciamos crise e, consequentemente, seus efeitos no cotidiano
que a gestão de crise, para a Chevron, não está da empresa, é a sua culpabilidade pelo vazamento,
integrada à estratégia da empresa. Quando os dois suas falhas técnicas e sua irresponsabilidade.
processos estão integrados, as crises são tratadas de Esta pesquisa tem implicações teóricas e práticas.
forma preventiva. Nenhuma empresa está livre de Quanto às teóricas, apontamos para a introdução
Strategy as Truth: respostas estratégicas... 859

de estudos dos crimes corporativos e das crises no CRUZ, V.; FERNANDES, S. ANP quer elevar rigor
âmbito dos estudos de estratégia, principalmente, em normas de segurança. Folha de São Paulo, 24
para desnaturalizar o fenômeno da estratégia. Além nov. 2011. Poder.
de buscar explicações para estratégias planejadas EXPLORAÇÃO no pré-sal é posta em dúvida. Folha de
São Paulo, 17 nov. 2011. Mercado.
bem sucedidas, sugere-se que o campo se volte para
FAIRCLOUGH, N. Discourse and social change.
a análise desses eventos e, assim, possa iluminar Cambridge: Polity Press, 1992.
caminhos para que as companhias e os governos FENTON, A.; LANGLEY, C. Strategy as Practice and the
dirijam seus esforços para produzir bens e serviços Narrative Turn. Organization Studies, v. 32, p. 1171-
voltados para o bem-estar da população. Ainda, 1198, 2011. http://dx.doi.org/10.1177/0170840611410838
seguindo o caminho da análise de Gopinath e FRIEDRICHS, D. O. Trusted criminals. Belmont:
Prasad (2012), apontamos para a necessidade de Wadsworth, 1996.
incluir os crimes corporativos na pauta do ensino GOPINATH, C.; PRASAD, A. Toward a critical framework
de internacionalização de negócios, bem como de for understanding MNE operations: revisiting Coca-
estratégia em geral. Cola’s exit from India. Organziation, p. 1-21, 2012.
As implicações de ordem prática são diversas. GRABOSKY, P.; BRAITHWAITE, J. Corporate crime
in Australia. Trends & Issues in Crime and Criminal
Entre elas, apontamos que, ao relacionar o discurso e a
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