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RESUMO
O objetivo deste trabalho foi entender o comportamento de multidões em situações de emergência ou de
pânico e propor procedimentos para avaliar os espaços e garantir a saída segura das pessoas reunidas nos
locais de grande público, especialmente dos estádios de futebol. Considera-se que as situações de
emergência possam surgir ou serem provocadas por fenômenos naturais ou em consequência de atos
humanos, tais como terrorismo, vandalismo ou colapso estrutural. Foi dada ênfase aos modelos de
acessibilidade espacial, principalmente aqueles ligados a problemas de alerta, orientação espacial e
deslocamento rápido e seguro dos usuários. Os principais espaços analisados foram os acessos, as
circulações e as rotas de fugas. O planejamento para resposta a situações de emergência deve levar em
consideração o menor tempo de resposta possível e a ajuda humanitária para os eventuais indivíduos
afetados diretamente pelo desastre. Foi adotada uma abordagem multicritério que consiste na aplicação de
modelos baseados nas Teorias dos Fluxos, Comportamento Coletivo, Pânico em Multidões, Princípios da
Acessibilidade Espacial, Logística Humanitária, e Normas Técnicas relacionadas com o tema. Espera-se
contribuir com a formulação de diretrizes para resposta a situações emergenciais tanto em estádios de
futebol já construídos como para os novos projetos.
ABSTRACT
The aim of this study was to understand the behavior of crowds in emergency or panic and propose
procedures to evaluate spaces and ensure safe exit of people gathered in the local general public,
especially football stadiums. It is considered that emergency situations may arise or be caused by natural
phenomena or as a result of human actions, such as terrorism, vandalism or structural collapse. Emphasis
was given to the models of spatial accessibility, especially those related to problems of alertness, spatial
orientation and movement of the users fast and secure. The main areas examined were the hits, the
circulations of trails and routes. Planning for response to emergency situations should take into
consideration the shortest possible time response and humanitarian aid to any individuals directly affected
by the disaster. Was adopted multi criteria approach that consists in the application of models based on
Theories of Flow, Collective Behavior, Crowds Panic, Principles of Accessible Spatial, Humanitarian
Logistics, and Technical Standards related to the topic. Expected to contribute to the formulation of
guidelines for emergency situations both in football stadiums ever built and for new projects.
1) INTRODUÇÃO
Nos próximos anos o Brasil irá sediar diversos eventos de grande porte como a
apresentação de artistas de renome mundial, a Copa do Mundo de 2014, a Copa
América de 2019, as Olimpíadas e as Paralimpíadas de 2016. Existe a necessidade de
preparar os espaços para o atendimento de um público diversificado de expectadores e
atletas. Esta pesquisa tem como finalidade estudar a situação de locais de reunião de
grande público, em especial dos estádios de futebol brasileiros, verificando as condições
de acessibilidade, movimentação e segurança dos espectadores em situações de
emergência.
2) LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
A importância da logística humanitária justifica-se a partir dos grandes desastres
ocorridos em estádios de futebol com causas diversas como brigas, incêndios, quedas de
estrutura, atentados terroristas e catástrofes naturais. De acordo com reportagem da
revista Mundo Estranho (Editora Abril, 2012), sobre as dez maiores tragédias em
estádios de futebol, percebe-se que o maior número de mortes acontece por
esmagamento de pessoas (pisoteadas ou prensadas verticalmente) em momentos de
tumultos. Por isso a importância de trazer os estudos de logística humanitária
juntamente com a arquitetura para um melhor planejamento tanto dos espaços internos
como externos e com isso, auxiliar uma melhor resposta a situações de emergência
nesses locais.
Para Apte, (2009), na logística humanitária, o ciclo desastre baseia-se em três fases:
preparação, resposta ao desastre e ajuda humanitária. O TRB (2010) divide o ciclo de
desastres em quatro fases: preparar, responder, recuperar e mitigar. Já Fernandes (2010),
informa que a Política Nacional de Defesa Civil do Brasil, também divide o ciclo de
desastres em quatro fases: prevenção de desastres, preparação e alertas de desastres,
atendimento à emergência e reconstrução. Neste trabalho iremos nos ater nas fases de
preparação e resposta de desastres.
2.1. Preparação
Elaboração de um bom plano de emergência é fundamental para a preparação de
possíveis desastres, abordando os diferentes cenários, os riscos específicos (conforme a
gestão de risco) e a complexidade. Outros fatores importantes para auxiliarem um plano
de emergência seriam o treinamento de equipes especializadas para atuarem nos
desastres, realizar um bom plano de contingência, pois é impossível treinar os
espectadores para atuarem em situações de evacuação. Por isso, que devemos projetar
espaços de fácil deslocamento, livre de obstáculos e fácil orientação. Na Copa América
de 2011 realizada na Argentina, o estádio de Único de La Plata utilizou o recurso de um
vídeo mostrado nos telões do estádio, que mostrava o que os espectadores deveriam
fazer em caso de evacuação, o portão mais próximo do setor e todos os procedimentos
que deveriam ser adotados em situação de emergência.
Os equipamentos à disposição garantem, por exemplo, que uma partida de futebol não
comece se, pelo menos, uma ambulância não estiver no local. Esta decisão foi tomada
em virtude de mortes ocorridas de atletas e torcedores por fatores cardíacos. Mas,
pensando-se na hipótese de um grande desastre, o número de ambulâncias poderia ser
muito maior. Isto ressalta a importância de se fazer um inventário de todas as
ambulâncias existentes na cidade e também na região, tanto públicas como privadas,
verificando os acessos das mesmas ao estádio de forma rápida e estipulando as ruas que
deveriam ser interditadas para garantir um deslocamento fácil até os hospitais.
Segundo Vargas et all (2012), as três escalas têm vantagens e desvantagens e precisam
ser escolhidas dependendo do problema a ser resolvido. Assim, quanto à escala
Microscópica embora permita uma descrição muito mais precisa do movimento de cada
pedestre, requer um grande esforço computacional quando o número considerado de
pedestres é muito grande, por exemplo, no caso de multidões (um alto número de
indivíduos com características distintas num mesmo ambiente). Já na escala
macroscópica,ao contrário da microscópica, a principal vantagem é que se podem usar
modelos hidrodinâmicos de primeira ordem, que são de grande simplicidade
computacional e rapidez de processamento, entretanto é necessário introduzir uma
relação empírica (fenomenológica) entre a velocidade e a densidade.
O Fluxo ou volume é o número de pedestres que passam por uma seção da pista por
unidade de tempo. A unidade de comprimento deve ser considerada como a largura do
passeio ou porção da pista. Em geral, usa-se ped/m/s no (SI). O fluxo de pedestre,
também chamado de volume de pedestres, é representado pela variável q. Segundo a
analogia hidrodinâmica, o fluxo corresponde à vazão de um fluido dentro de um duto.
Durante um intervalo de tempo t são contados os n(x) pedestres que cruzem a seção.
= (1)
= (2)
A Velocidade, no estudo de pedestres, é adotada como uma média das velocidades dos
pedestres que passam em um determinado intervalo de tempo. Normalmente é expressa
no sistema internacional (SI) em m/s e denotada por u.
= (3)
Essas três variáveis, densidade relativa, velocidade e fluxo, são relacionadas através de
uma equação conhecida como a equação fundamental do tráfego e também válida para o
fluxo de pedestres.
, = ,
, (4)
Conforme Vargas et all (2012), a teoria para o fluxo de pedestres é assumida para
valores de
≤ 6 / , devido a impossibilidade física de se alocar um numero
maior do que esse por metro quadrado. Desta forma, as ilustrações dos resultados nas
Figs. 2(a) e 2(b) seguem esse padrão. Analisando a curva que representa o fluxo,
quando a densidade ρ fica maior do que a densidade crítica o fluxo diminui,
aproximando-se de zero quando
=
:
= 2 /
≤
≤
com
= 4 /
4) DEFINIÇÃO DE MULTIDÃO
Uma multidão pode ser definida como a presença de muitas pessoas no mesmo local
com objetivos semelhantes e com densidades nas quais o espaço pessoal, o conforto, a
disposição e a liberdade dos indivíduos são influenciados pelos que os rodeiam. As
multidões não são a mesma coisa que pedestres em uma rua, praça ou centro comercial.
Os pedestres têm interesses e objetivos individuais, sem relação com aos das outras
pessoas que os rodeiam. Por isto, os estudos sobre as dinâmicas das multidões são bem
diferente que os modelos para planejamento do fluxo de pedestres.
Blumer (1969) e a maioria dos estudiosos do assunto identificam quatro tipos de
multidões: O primeiro tipo é o da multidão casual como, por exemplo, uma multidão de
pessoas numa praça assistindo a apresentação de um artista de rua. Esse tipo de
multidão é momentâneo, com uma organização e unidades fracas. Seus membros
entram e saem, prestando uma atenção temporária para o objeto que provocou o
interesse dos indivíduos. A interação entre esses membros não é intensa.
Blumer (1969) ainda propôs um quarto tipo de multidão que nomeou como expressiva
ou dançante, encontrada, por exemplo, nas seitas religiosas ou num desfile de escola de
samba. A excitação dos seus membros é expressa por meio de movimentos físicos como
uma forma de liberação, em vez de um objeto direcionando as ações. Quando as tensões
emocionais se descarregam em atos inofensivos, quando o comportamento coletivo é
representado por movimentos físicos e se opera mediante o ritmo, temos a multidão
expressiva ou dançante.
5) MULTIDÃO EM PÂNICO
Uma das formas mais desastrosas do comportamento humano coletivo é o tipo de
debandada da multidão induzida pelo pânico, muitas vezes levando a mortes e graves
ferimentos, com pessoas sendo esmagadas ou pisoteadas. A Teoria do Pânico lida
principalmente com os fatores que podem levar a ocorrência de pânico durante
emergências. A premissa básica é que quando as pessoas percebem perigo, suas
personalidades conscientes habituais são muitas vezes substituídas por personalidades
inconscientes que os levam a agir irracionalmente.
O pânico pode ser desencadeado por diversos fatores, tais como ameaças naturais
(enchentes, terremotos, erupções vulcânicas), ameaças provocadas pelo homem (fogo,
atentados terroristas, perda do controle social por parte do estado, etc.). Às vezes, o
pânico é acionado em situações de risco de vida, tais como incêndios em edifícios
lotados, em outros momentos, tumultos podem surgir aparentemente sem motivo, como
durante a corrida para obter assentos livres. Em uma situação de pânico sempre há uma
sensação de risco iminente e de urgência em agir por parte dos indivíduos. Para se
compreender o pânico em multidões devem-se levar em consideração alguns fatores:
Os estudos de caso têm comprovado alguns comportamentos da multidão que são muito
bem descritos na literatura. Em particular, verifica-se que muitas portas não são
utilizadas porque são dificilmente visíveis ou estão mal sinalizadas. Isto significa que os
visitantes costumam usar para escapar, o mesmo caminho que foi utilizado para a
entrada, isso cria congestionamentos, pontos de estrangulamento, e baixos níveis de
serviço.
6) ACESSIBILIDADE ESPACIAL
No projeto e construção de edificios podesse prever soluções arquitetônicas que
auxiliam para a melhor movimentação de seus ocupantes em situações emergenciais. É
nesse ponto, que a acessibilidade espacial pode auxiliar na melhor interpretação dos
espaços e contribuir para a definição de rotas livres de obstáculos.
Dischinger, Bins Ely e Piardi (2012) definem que “acessibilidade espacial significa bem
mais do que poder atingir um lugar desejado. É também necessário que o local permita
ao usuário compreender sua função, sua organização e relações espaciais, assim como
participar das atividades que ali ocorrem”. Os componentes de acessibilidade espacial
são divididos pelas as autoras em quatro categorias: orientação espacial, comunicação,
deslocamento e uso.
As ações de acessibilidade espacial propiciar a qualquer ocupante da edificação a
realização de suas atividades com segurança, conforto e independência.
7) CONCLUSÃO
Entender o comportamento individual de uma pessoa agindo como um pedestre comum
já é algo muito complexo. Entender o comportamento num processo de evacuação
emergencial se torna ainda mais complexo na medida em que as relações sociais são
consideradas. Essa dificuldade pode ser a grande responsável pelo desenvolvimento
relativamente lento de pesquisas que levam em consideração o comportamento humano.
No entanto, essa dificuldade também pode representar um desafio para muitos
pesquisadores e atrair suas atenções para esse campo de pesquisa. Dentre os possíveis
comportamentos que emergem nas pesquisas destacam-se os seguintes:
É importante salientar que esses são apenas alguns fenômenos e comportamentos que
podem ser observados durante uma evacuação. Visto que o foco deste trabalho não foi
investigar a psicologia humana, a descrição desses fenômenos serve para mostrar que o
conhecimento do comportamento humano desempenha um papel importante no
processo de evacuação emergencial e, principalmente, no processo de planejamento e
projeto de locais de reunião de grande público. Pretendeu-se aprofundar conhecimentos
sobre os temas envolvidos na pesquisa, como acessibilidade, logística humanitária e
estádios de futebol, além de, a partir dos diferentes métodos pesquisados, identificar
problemas e formular diretrizes para contribuir para a elaboração de futuras construções
e reformas de locais de reunião de público no país.
São três principais conclusões obtidas até esta etapa da pesquisa: a) a existência e a
quantidade suficiente de rotas, passagens e portas suficentemente largas para a saída
rápida dos ocupantes dos estádios é essencial para uma evacuação das pessoas de modo
calmo e seguro; b) um sistema de informação e orientação bem planejado, com placas,
setas e avisos sonoros, tem um grande impacto sobre a dinâmica de evacuação e,
consequentemente, sobre a segurança; e c) Os espectadore e demais usuários dos
estádios deverão ser antecipadamente instruídos e muito bem informados sobre as rotas
e saídas que deverão ser utilizadas em caso de evacuação emergencial, isto evitará o
pânico causado pelo desconhecimento sobre como se salvar. Possíveis
desenvolvimentos futuros ainda poderão fornecer modelos para auxiliar os planejadores
e projetistas de locais de reunião de grande público para evitarem tragédias que
aconteceram com grande frequencia no passado.
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