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Introdução
Rodapé:
1 Alberto Scerbo, Tecnica e Politica del Diritto nella Teoria del Processo,
Rubbettino, Catanzaro,
2000, p. 106.
2 Giuseppe Chiovenda, Principii di Diritto Processuale Civile, 3ª ed., Jovene,
Napoli, 1923, p. 91.
3 Enrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di
Diritto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962.
Rodapé:
4 Juan Montero Aroca, Los Principios Políticos de la Nueva Ley de Enjuiciamiento
Civil, Tirant lo
Blanch, Valencia, 2001.
<9>
Rodapé:
5 Gabriel José Rodrigues de Rezende Filho, Curso de Direito Processual Civil,
vol. I, 3ª ed.,
Saraiva, São Paulo, 1952.
6 Luigi Montesano e Giovanni Arieta, Diritto Processuale Civile, vol. I, 2ª ed., G.
Giappichelli,
Torino, 1996, p. 137.
<10>
reito nada mais é do que o direito de petição aplicado aos órgãos jurisdicionais7.
Como observava Liebman8, a ação, nesse primeiro sentido, tem relevância
apenas no direito
constitucional, mas sua extrema abstração e indeterminação a torna inútil do ponto
de vista
estritamente processual, porque ela não obriga o juiz, como seu destinatário, a
exercer o poder
jurisdicional sobre uma determinada relação de direito material. Esse direito não
tem particulares
elementos individualizadores, nem requisitos que condicionem a sua existência ou
o seu exercício,
apresentando-se sempre com o mesmo conteúdo em todos os casos.
O dever do Estado como destinatário de uma pretensão de qualquer pessoa é
apenas o de
respondê-la de acordo com a lei e com absoluta neutralidade, revelando as razões
da sua resposta,
como conseqüência dos princípios da legalidade, da impessoalidade e da
fundamentação das
decisões, inscritos nos artigos 37 e 93-IX da Constituição.
7 José Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, 3ª ed.,
Forense,
Rio de Janeiro, 1966, p. 27; Luigi Paolo Comoglio, La Garanzia Costituzionale
dell'Azione ed il
Processo Civile, Cedam, Padova, 1970, p. 53.
8 Enrico Tulho Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di
Diritto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 41.
9 V. sobre a ação de direito material José Maria Rosa Tesheiner, Eficácia da
Sentença e Coisa
Julgada no Processo Civil, RT, São Paulo, 2001, p. 131.
<11>
10 Enrico Tullio Liebman, ob. cit., p. 38; Italo Andolina e Giuseppe Vignera, Il
Modello
Costituzionale del Processo Civile Italiano, G. Giappichelli, Torino, 1988, p. 86.
11 Enrico Tullio Liebman, ob. e loc. cits.
<12>
1.4. Ação como Demanda
Rodapé:
12 Girolamo Monteleone (Diritto Processuale Civile, 2ª ed., Cedam, Padova,
2000, p. 187) ressalta
que quando o princípio da demanda é suprimido e o processo civil é governado
por um sistema
publicístico-inquisitório similar ao processo penal, ou reduzido à categoria de um
procedimento de
jurisdição voluntária, cessa de existir o Estado livre de direito, substituído por um
ordenamento
despótico de polícia. Suprimir ou rebaixar o princípio da demanda no processo civil
corresponde a
suprimir o indivíduo como sujeito de direitos.
13 Luigi Montesano e Giovanni Arieta, Diritto Processuale Civile, vol. I, 2ª ed., G.
Giappichelli,
Torino, 1996, p. 145.
14 Montesano e Arieta, ob. cit., p. 137; Alexandre Freitas Câmara, "Teorias sobre
a Ação: uma
Proposta de Superação", Escritos de Direito Processual, Lumen Juris, Rio de
Janeiro, 2001, p. 57.
<13>
é todo aquele que postula em juízo, que propõe uma demanda, que pratica o ato
inicial de impulso
processual, que exerce os direitos, deveres e ônus de um processo justo, que se
apresenta como
titular desse direito de ação e que, portanto, poderá exigir do Estado o exercício
da jurisdição sobre
o seu direito ao bem da vida pleiteado. As condições da ação vão determinar a
possibilidade de
alcançar esse resultado.
A ação como direito à jurisdição não se confunde com o direito de petição,
porque este é o
direito a qualquer resposta, enquanto aquela é o direito a uma prestação incidente
sobre o mérito,
sobre a relação jurídica de direito material. Tampouco se confunde com a ação de
direito material,
porque a esta tem direito apenas quem seja titular do direito material ao bem da
vida pleiteado,
enquanto aquela cabe a quem simplesmente alegue ser titular do direito material,
mesmo que afinal
não o seja, porque é o direito à jurisdição sobre o direito material, tanto em
benefício como em
prejuízo do autor, que nasce da afirmação de uma situação fático-jurídica
hipoteticamente
agasalhada pelo ordenamento jurídico 15. É direito que o autor compartilha com o
réu, embora
cada um objetive alcançar um resultado prático diverso.
A ação, como direito à jurisdição, também encontra fundamento constitucional,
na garantia da
tutela jurisdicional efetiva (artigo 5°, inciso XXXV da Constituição brasileira),
porque é através
dela que o titular do direito tem acesso à proteção do seu direito material, embora
nem sempre em
conseqüência da sua própria iniciativa.
Como o resultado do exercício da jurisdição pode ser tanto favorável quanto
desfavorável ao
postulante originário, pode-se dizer que mais do que um meio de tutela de um
direito subjetivo, a
ação como direito à jurisdição serve ao interesse público de dar a cada um o que é
seu, e assim
assegurar a convivência pacífica e harmoniosa dos cidadãos no pleno gozo dos
direitos que lhes são
conferidos pela ordem jurídica16.
<14>
17 Enrico Tullio Liebman, ob. cit., p. 36; Luigi Paolo Comoglio, "Note Riepilogative
su Azione e
Forme di Tutela, nell'Ottica della Domanda Giudiziale", Rivista di Diritto
Processuale, Cedam,
Padova, 1993, p. 472.
<15>
ção não se torne para quem tem razão um meio de suprimir ou limitar o pleno
gozo dos seus
direitos18.
Parece-me que aí está delineada a importância do conceito de ação no quinto
sentido acima
exposto (item 1.5), como direito à jurisdição sobre uma pretensão de direito
material, e, ao mesmo
tempo, como freio às demandas inviáveis, estabelecendo o necessário equilíbrio
entre o direito de
amplo acesso à justiça e a garantia da eficácia concreta dos direitos dos cidadãos.
Com base neste
conceito, que adotarei doravante, parece possível compreender, do ponto de vista
das garantias
fundamentais do processo, as diversas questões submetidas à apreciação do juiz,
as diferenças entre
pressupostos processuais, condições de ação e mérito, ao mesmo tempo em que
permite observar
que essas categorias não são tão radicalmente diferentes como pode parecer,
havendo entre elas
zonas limítrofes em que a mesma questão pode ser observada como geradora da
falta de um
pressuposto processual e também de uma condição da ação, ou relativa a uma
destas e também ao
mérito.
O processo é o meio, o instrumento de exercício da jurisdição. Como qualquer
funcionário
público no exercício das suas funções, o juiz deve velar pela validade e
regularidade do processo
desde a sua formação até o final, porque delas vai resultar a legalidade ou
validade da própria
atividade-fim, que é o exercício da jurisdição.
Há, portanto, uma prioridade lógica e, também normalmente, uma anterioridade
cronológica no
exame dos pressupostos processuais, antes das condições da ação e do
mérito19. Como pressupos-
Rodapé:
18 Em sentido contrário, Luigi Paolo Comoglio (ob. cit., p. 471), para quem, se o
direito de ação
tem suporte na Constituição, no plano processual não se revela nenhuma
necessidade residual de
recorrer à figura dogmática da ação como algo autônomo e tecnicamente distinto
do poder de
propor em juízo a demanda. E mais adiante, o mesmo autor (p. 489) diz que, onde
existam, como
existem na Itália, garantias individuais que assegurem aos particulares o acesso
às cortes, ou o
direito incondicionado de provocar os órgãos jurisdicionais, não há mais sentido
algum em postular
e defender a autonomia da ação (ou, ainda mais, das ações tipificadas pela
tradição civilística). Os
únicos problemas que no processo mantêm uma relevância fundamental são os
relativos à
efetividade e à dutilidade variável das formas de tutela (ou, se se prefere, dos tipos
de remédios
jurisdicionais), que podem ser concedidos, a pedido, pelo juiz provocado. No
mesmo sentido, o
mesmo Comoglio (in Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo,
Lezioni sul Processo
Civile, 2ª ed., II Mulino, Bologna, 1998, p. 235).
19 V. José Carlos Barbosa Moreira, "Aspectos da 'Extinção do Processo'
conforme o art. 329 do
CPC", Revista de Processo, n° 57, ano 15, RT, São Paulo, janeiro-março de 1990,
p. 203.
<16>
<17>
Rodapé:
20 Stefan Leible, Proceso Civil Alemán, Biblioteca Jurídica Dike, Medellín,
Colômbia, 1999, p.
160.
21 Girolamo Monteleone, ob. cit., p. 174.
22 Giuseppe Chiovenda, Principii di Diritto Processuale Civile, 3ª ed., Jovene,
Napoli, 1923, pp.
149 e ss. No mesmo sentido, Marco Tullio Zanzucchi, Diritto Processuale Civile,
vol. I, 6ª ed.,
1964, Giuffrè, Milano, p. 67; Saivatore Satta e Carmine Punzi, Diritto Processuale
Civile, 12ª ed.,
Cedam, Padova, 1996, p. 161.
23 José Frederico Marques, ob. cit., p. 38; Enrico Tullio Liebman, Manuale di
Diritto Processuale
Civile, vol. I, 4ª ed., Giuffrè, Milano, 1980, p. 135; J. E. Carreira Alvim, Elementos
de Teoria Geral
do Processo, T ed., Forense, Rio de Janeiro, 1997, p. 120; Crisanto Mandrioli,
Diritto Processuale
Civile, vol. I, 13ª ed., G. Giappichelli, Torino, 2000, p. 49.
24 Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, Teoria
Geral do Processo, 12ª ed., Malheiros, São Paulo, 1996, p. 259.
25 Kazuo Watanabe, Da Cognição no Processo Civil, 2ª ed., Bookseller,
Campinas, 2000, p. 77.
No mesmo sentido, José Carlos Barbosa Moreira as denomina requisitos do
regular exercício da
ação. (O Novo Processo Civil Brasileiro, 19ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1998, p.
24)
<18>
Rodapé:
26 Enrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di
Diritto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 46; Donaldo Armelin, ob. cit., p. 46;
Alfredo Buzaid,
A Ação Declaratória no Direito Brasileiro, 2ª ed., Saraiva, São Paulo, 1986, p. 269;
Arruda Alvim,
Manual de Direito Processual Civil, vol. I, 5ª ed., RT, São Paulo, 1996, pp.
363/365; Crisanto
Mandrioli, ob. cit., p. 58.
27 Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, Lezioni sul Processo
Civile, 2ª ed., II
Mulino, Bologna, 1998, p. 244.
28 Ob. cit., p. 245.
29 José Maria Rosa Tesheiner, ob. cit., p. 32.
30 Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual do Processo de
Conhecimento, RT,
São Paulo, 2001, p. 49.
<19>
Rodapé:
31 Ob. cit., pp. 41/42.
<20>
Rodapé:
32 José Ignácio Botelho de Mesquita, Da Ação Civil, RT, São Paulo, 1975, p. 44.
33 Ob. e loc. cits.
34 Kazuo Watanabe, ob. cit., p. 80.
35 Ob. cit., pp. 46/47.
<21>
Rodapé:
36 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II,
Malheiros, São
Paulo, 2001, p. 295.
37 Juan Montero Aroca, Los Principios Políticos de la Nueva Ley de
Enjuiciamiento Civil, Tirant
lo Blanch, Valencia, 2001, p. 99.
<22>
Rodapé:
38 Infondatezza é a palavra empregada por Andolina e Vignera, in II Modello
Costituzionale dei
Processo Civile Italiano, G. Giappichelli, Torino, 1988, p. 87.
39 Juan Montero Aroca, ob. cit., pp. 98/99, apesar de categórico, admite esse
juízo de
admissibilidade em casos excepcionais, como os de pedido de cumprimento da
promessa de
matrimônio ou da cobrança de dívida de jogo, vedados pela lei, bem assim nos de
demandas
absurdas, como no exemplo das promessas eleitorais.
40 Ob. e loc. cits.
<23>
<24>
Discordam da teoria da asserção os concretistas, porque o direito à sentença
favorável não resulta
apenas da afirmação do autor, mas do acolhimento final do pedido. O processo,
não a ação, é que
pode levar a uma sentença de qualquer conteúdo, de acolhimento ou de rejeição,
ou até de extinção
sem julgamento do mérito46.
Mas mesmo entre os abstratistas há os que rejeitam a teoria da asserção, como
Cândido
Dinamarco41 e José Maria Tesheiner48, ressalvando este último apenas a
hipótese de legitimação
ordinária, que decorreria apenas da afirmação do autor.
Se as condições da ação fossem totalmente estranhas ao direito material,
poderia admitir-se a
opinião destes últimos. Mas a sua aferição em face de determinados fatos
originadores do próprio
direito material postulado, como ocorre indiscutivelmente com a possibilidade
jurídica e com a
legitimação ordinária ou extraordinária, levaria ao absurdo de, após exaustiva
instrução e cognição
a respeito desses fatos, resultar o processo numa frustrante sentença de carência
de ação, sem coisa
julgada.
Entretanto, a simples asserção não pode ser considerada suficiente para
conferir ao autor o
direito de ação, sob pena de autolegitimação. A afirmação de situação fático
jurídica apta
hipoteticamente ao acolhimento do pedido formulado deve estar acompanhada de
um mínimo de
verossimilhança e de provas capazes de evidenciar a possibilidade concreta
desse acolhimento e de
que a iniciativa do autor não submete o réu a um ônus de plano manifestamente
abusivo de
defender-se de uma demanda inviável.
As condições da ação se aferem a partir da asserção; pois são um juízo de
mera possibilidade de
acolhimento do pedido, concretamente fundamentada na logicidade da verdade
relatada e das suas
conseqüências jurídicas e na sua sustentação em provas, ainda que mínimas. Ou
seja, não basta a
simples asserção. Se esta for absurda ou vier desacompanhada de qualquer
indício da sua
verossimilhança, deverá o autor ser julgado carecedor da ação, para não
submeter o réu ao ilegal
constrangimento de ter de defender-se e de perder o pleno gozo do seu direito
decorrente da
litigiosidade, sem uma causalidade adequada. E não haverá coisa julgada. Volte o
autor, se quiser,
com outra postulação satisfatoriamente fundamentada.
Rodapé:
46 Girolamo Monteleone, ob. cit., p. 174.
47 Ob. cit., p. 313.
48 Ob. cit., pp. 19 e 29.
<25>
Rodapé:
49 José Rogério Cruz e Tucci, A Causa Petendi no Processo Civil, 2ª ed., RT,
São Paulo, 2001, pp.
179.
50 Piero Calamandrei, "Relatività del Concerto d'Azione", Opere Giuridiche, vol.
1º, Morano,
Napoli, 1965, pp. 426 e ss.
50 Luigi Montesano e Giovanni Arieta (ob. cit., p. 136) entendem que no
ordenamento jurídico
italiano atual coexistem normas que pressupõem a ação em sentido abstrato e em
sentido concreto.
<26>
Rodapé:
52 Ob. cit., p. 440.
53 Luigi Paolo Comoglio, "Note Riepilogative su Azione e Forme di Tutela,
nell'Ottica delia
Domanda Giudiziale", Rivista di Diritto Processuale, Cedam, Padova, 1993, pp.
465 e ss.; Luigi
Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, Lezionï sul Processo Civile, 2ª
ed., I1 Mulino,
Bologna, 1998, pp. 227/235.
54 Liebman ("L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di Diritto
Processuale
Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 51) já havia acentuado que, ao argumento dos
concretistas de que
é absurda a figura de um direito de não ter razão, que decorreria da teoria
abstrata, corresponde a
não menos absurda de um direito a ter razão. Na verdade, para Chiovenda, se o
autor não tinha
razão, o fato de ter agido teria feito nascer o direito de ação do réu, tendente a um
resultado
favorável a este, como conseqüência do acertamento negativo do direito
pretendido pelo autor.
(Giuseppe Chiovenda, "Rapporto Giuridico Processuale e Litispendenza", Rivista
di Dirino
Processuale Civile, Cedam, Padova, 1931, recordado por Alberto Scerbo, ob. cit.,
p. 132)
55 Ob. cit., p. 432.
<27>
Rodapé:
56 V. Girolamo Monteleone, ob. cit., pp. 174 e ss.
57 Crisanto Mandrioli, ob. cit., pp. 54 e ss.
58 Liebman, "L'Azione...", p. 46.
<28>
vontade unilateral e arbitrária do autor que se autolegitima e toma a iniciativa de
instaurar o
processo. O próprio Liebman ressalta que a ação é um direito preexistente ao
processo59.
A asserção é necessária, porque o Estado-juiz somente tem o dever de prestar
a jurisdição a
quem se afirme titular do direito a obtê-la. Mas não é a asserção que cria o direito
à jurisdição. Não
basta a asserção. É preciso que objetivamente da situação fática exposta resulte a
concorrência das
condições da ação que, conforme aponta a maioria da doutrina, são a
possibilidade jurídica, o
interesse e a legitimidade.
Na definição dessas condições, é preciso ter sempre em conta que a qualquer
cidadão a
Constituição assegura o acesso à jurisdição, ou seja, que as condições da ação
não podem opor
obstáculos indevidos a esse acesso. Por outro lado, também cumpre observar que
a Constituição
assegura a todos a eficácia concreta dos seus direitos subjetivos (art. 5°, § 1°) e
que, assim, o acesso
à jurisdição não pode impedir ou limitar o pleno gozo do direito por quem
evidentemente é o seu
titular, a não serem razão de algum motivo justo devidamente comprovado. A
eficácia concreta dos
direitos do cidadão exige a sua proteção contra lides temerárias e contra o abuso
do direito de
demandar.
As condições da ação são o filtro mínimo por que deve passar o postulante da
tutela jurisdicional
para assegurar-lhe o mais amplo acesso a essa tutela, com todas as suas
conseqüências, inclusive a
coisa julgada se for o caso, e, ao mesmo tempo, evitar que o adversário seja
submetido a um
processo manifestamente temerário ou injusto, que lhe retira ou limita o pleno
gozo dos seus
direitos e ainda pode causar-lhe prejuízos irreparáveis.
Rodapé:
59 Liebman, "L'Azione...", p. 42.
60 Giuseppe Chiovenda, Principii..., p. 149; Girolamo Monteleone, Compendio di
Diritto
Processuale Civile, Cedam, Padova, 2001, p. 73.
<29>
Rodapé:
61 Liebman, "L'Azione...", p. 46.
62 Ob. cit., p. 39.
63 Ob. cit., p. 101.
64 Ob. cit., p. 123.
65 Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, Teoria
Geral do Processo, 12ª ed., Malheiros, São Paulo, 1996, p. 259.
66 V. José Frederico Marques, ob. e loc. cits; Antonio Carlos de Araújo Cintra,
Ada Pellegrini
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, ob. e loc. cits.
67 Donaldo Atmelin, ob. cit., p. 51; Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferra e Michele
Taruffo,
Lezioni sul Processo Civile, 2ª ed., I1 Mulino, Bologna, 1998, p. 245; Crisanto
Mandrioli, ob. cit.,
p. 47.
68 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II,
Malheiros, São
Paulo, 2001, p. 298.
<30>
Rodapé:
60 V. Kazuo Watanabe, ob. cit., p. 76.
70 Ob. cit., p. 40.
71 José Joaquim Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil,
vol. III, Forense,
Rio de Janeiro, 1974, p. 204.
<31>
Rodapé:
72 Ob. e loc. cits.
73 Ainda no Brasil não se admite recurso do réu contra a sentença que extingue o
processo sem
julgamento do mérito, por suposta falta de sucumbência, apesar de a lei
reconhecer o seu interesse
no julgamento do mérito (CPC, art. 267, § 4°).
<32>
Rodapé:
74 Leonardo Greco, O Processo de Execução, vol. I, Renovar, Rio de Janeiro,
1999, pp. 321/322.
75 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II,
Malheiros, São
Paulo, 2001, p. 184.
<33>
do, mas nenhuma vantagem prática recebe o autor ou o réu, em sua vida externa
ao processo, só
pelo acolhimento ou rejeição da causa de pedir.
Carência de ação não é apenas falta do direito à prestação jurisdicional. É
também falta de poder
jurisdicional. E esse poder o juiz exerce exclusivamente em relação ao pedido.
A extensão além do pedido dos casos de impossibilidade jurídica, entre outros
inconvenientes,
tem o de permitir que o juiz discricionariamente denegue o exercício da jurisdição
toda vez em que
tiver opinião jurídica contrária à pretensão do autor, mesmo que essa convicção
tenha resultado de
amplo debate e exaustiva cognição. Ora, a jurisdição é indeclinável.
À luz dessas conclusões, examino as quatro hipóteses de impossibilidade
jurídica do pedido
formuladas por José Maria Tesheiner76, a saber:
1) vedação constitucional de exame do mérito (atos institucionais);
2) pedido verdadeiramente impossível do ponto de vista jurídico: pedido de
prisão por dívida
cambial;
3) afirmação da impossibilidade jurídica, para deixar claro que se admitirá a
renovação da ação:
rejeição de pedido de despejo por falta de notificação premonitória;
4) rejeição liminar do pedido, por motivo de mérito, sem que se chegue a citar o
réu.
Segundo o autor, nas três últimas hipóteses destaca-se do mérito uma parcela,
a que se atribui
denominação diferente (carência de ação) e tratamento jurídico diferenciado
(ausência de coisa
julgada).
Parece-me que a primeira hipótese está corretamente qualificada como de
impossibilidade
jurídica do pedido, pois o Judiciário, à época dos governos militares, teve
suprimido o poder
jurisdicional de exercer o controle dos atos administrativos do Poder Executivo
praticados com
base nos atos institucionais.
Também a segunda hipótese caracteriza a impossibilidade jurídica do pedido. A
prisão por
dívidas é vedada em nosso ordenamento jurídico, salvo nas hipóteses
excepcionais previstas na
própria Constituição.
Rodapé:
76 José Maria Rosa Tesheiner, ob. cit., p. 22.
<34>
Rodapé:
77 Embora não me entusiasme a interpretação literal, observe-se que no
parágrafo único do artigo
295, que trata da inépcia e conseqüente indeferimento da petição inicial, o CPC
não menciona,
como no inciso VI do artigo 267, genericamente a possibilidade jurídica, mas
especificamente a
possibilidade jurídica do pedido.
78 Girolamo Monteleone, ob. cit, p. 185.
79 Enrico Tullio Liebman, "O Despacho Saneador e o Julgamento do Mérito",
Estudos sobre o
Processo Civil Brasileiro, Saraiva, São Paulo, 1947, p. 140.
<35>
o interesse de agir decorreria normalmente da própria lei que subordina a
validade ou a eficácia de
um ato da vida privada ao conhecimento, à homologação, autorização ou
aprovação judicial,
impedindo que o requerente alcance o objetivo jurídico almejado sem a
concorrência da cognição
ou da vontade estatal manifestadas através do órgão jurisdicional.
Em outro texto, o mesmo Liebman80 leciona que o interesse de agir,
freqüentemente
subestimado, libera a ação da necessidade de vir referida a um direito subjetivo ou
a uma sanção
típica, bastando, ao contrário, para torná-la admissível, a existência de um
interesse do autor a obter
o provimento demandado, assim como indicado no ato introdutivo, e em relação
às pessoas
chamadas ajuízo.
Entre nós, Machado Guimarães81 pontuava que o interesse de agir é o
interesse instrumental de
conseguir pelos órgãos da Justiça e através de sua atividade a satisfação do
interesse material.
Nessa concepção puramente abstrata do interesse de agir, que o fazia decorrer
simplesmente da
causa de pedir remota82, não caberia cogitar de nele incluir a aptidão do
provimento ou do
procedimento, matérias circunscritas aos pressupostos de validade do processo,
porque havendo a
necessidade da atuação do juiz haveria interesse como condição da ação, ainda
que impróprios o
provimento ou o procedimento83.
De longa data se observam na doutrina opiniões no sentido de ampliar a
compreensão do
interesse processual.
Já Frederico Marques84 sustentava que somente há interesse quando se pede
uma providência
jurisdicional adequada "a situação concreta a ser decidida".
E Liebman85, em trabalho mais recente, explica que o interesse de agir é a
relação de utilidade
corrente entre a lesão de um direito, que foi afirmada, e o provimento de tutela
jurisdicional que é
demandado.
Rodapé:
80 Enrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di
Diritto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 37.
81 Luiz Machado Guimarães, ob. cit., p. 101.
82 José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit., p. 173.
83 V. o meu O Processo de Execução, cit., p. 324.
84 José Frederico Marques, ob. cit., p. 41.
85 Enrico Tullio Liebman, Manuale di Diritto Processuale Civile, vol. I, 4ª ed.,
Giuffrè, Milano,
1980, p. 138.
<36>
<37>
<38>
Rodapé:
92 Antonio Nasi, "Interesse ad agire", Enciclopedia del Díritto, vol. XXII, Giuffrè,
Milano, 1972,
p. 35.
93 Ob. cit., p. 59.
94 Ob. cit., p. 102.
<39>
Para respeitar esse limite na aferição do interesse de agir, o juiz não pode
contentar-se com as
simples afirmações do autor, sejam elas quais forem. Essas afirmações devem ser
verossímeis e
virem acompanhadas das provas pré-constituídas de que o autor desde logo
disponha (CPC, arts.
283 e 396)95, cuja dispensa deve ser justificada. A juntada inicial dos documentos
não visa
simplesmente a resguardar o princípio da eventualidade, mas a possibilitar o
exame das condições
da ação, particularmente do interesse de agir96.
Nunca foi tão atual a lição de José Olimpio de Castro Filho97 que, após a
exortação da teoria do
abuso de direito como instrumento de proteção da vítima do abuso, ressalta que,
se há um direito ou
faculdade incontestável de demandar e contestar, coexiste também uma
obrigação, frente à parte
contrária, de não molestar outrem com o processo. Afinal, é o próprio Liebman que
reconhece que
o exercício do direito de postular e defender-se pode considerar-se um ato ilícito,
se alcançar os
extremos da lide temerária98.
Fala-se, algumas vezes, em interesse-utilidade (não necessidade) para justificar
a propositura de
ações em que o autor não depende da jurisdição para exercer o seu direito
material ou pode
alcançar o mesmo objetivo por outro meio não jurisdicional. Assim, por exemplo,
nas ações
meramente declaratórias, na notificação judicial que pode muitas vezes ser
suprida por notificação
extrajudicial e nas ações possessórias propostas pela Administração Pública em
casos de invasão de
terras públicas99.
A meu ver as situações são diferentes. Nas ações meramente declaratórias há
um interesse na
certeza jurídica, abalada por dúvida fundada ou justo receio de que o direito seja
negado. A dúvida
ou o receio devem resultar de fatos concretos e significativos dessas situações. A
reação do réu
muitas vezes servirá para confirmar a existência do interesse.
Na notificação judicial, assim como em outros procedimentos cautelares, a
função do juiz é
meramente receptícia ou de documen-
Rodapé:
95 V. nesse sentido, Lima Freire, ob. cit., p. 102.
96 V. Kazuo Watanabe, ob. cit., p. 86.
97 José Olimpio de Castro Filho, Abuso do Direito no Processo Civil, 2ª ed.,
Forense, Rio de
Janeiro, 1960, p. 40.
98 Enrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria dei Processo Civile", Problemi di
Diritto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 38.
99 Este último exemplo é de Tesheiner. (Ob. cit., p. 25)
<40>
tação. Conforme esclarece Galeno Lacerda100, a lei atribui ao juiz esses
procedimentos para
segurança das relações jurídicas. Este é o interesse que autoriza a sua
propositura.
Quanto às ações possessórias propostas pela Administração Pública em casos
de invasão de
terras públicas, penso que, ao propô-las, o Estado está abrindo mão da sua
potestade de executar ex
officio os seus atos administrativos por reconhecer que os seus interesses entram
em choque com os
de particulares e que ao Judiciário, como poder independente e eqüidistante, cabe
dirimir com mais
equilíbrio tais conflitos. A necessidade resulta da recusa do Estado em exercer o
seu poder, que me
parece plenamente válida porque reconhece que o interesse público merece ser
examinado em
igualdade de condições com os interesses individuais que a ele se opõem, e
também do litígio
concreto que o antagoniza aos invasores. O que não se pode supor é que o
Estado se exima por essa
via de qualquer responsabilidade, caso a retirada dos invasores cause a estes um
prejuízo
juridicamente apreciável.
Em síntese, o interesse-utilidade nada mais é do que o próprio interesse-
necessidade e o interesse
de agir é a necessidade de recorrer à jurisdição para alcançar o bem jurídico com
base numa
pretensão jurídica suficientemente fundamentada em fatos verossímeis, cuja prova
pré-constituída
disponível seja desde logo apresentada.
2.7. Legitimidade
A ação somente pode ser proposta pelo sujeito que tenha o direito subjetivo de
exigir do Estado a
prestação jurisdicional sobre a demanda. A garantia constitucional do amplo
acesso à tutela
jurisdicional efetiva (artigo 5°, inciso XXXV, da Constituição) confere esse direito a
todo aquele
que alegue ser titular do direito material em que a demanda se fundamenta e
apresente ao juiz o
mínimo de provas necessárias para demonstrar a possibilidade de efetivamente
deter essa
titularidade101. Esta é a legitimidade ou legitimação ativa chamada ordinária.
Rodapé:
100 Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VIII, tomo I,
Forense, Rio de
Janeiro, 1980, p. 16.
101 Segundo Tesheiner (ob. cit., p. 30), que defende a autolegitimação, apenas
pela asserção, nos
casos de legitimação ordinária, na legitimação extraordinária o autor tem de provar
o fato
legitimante.
<41>
Essa garantia impõe que o primeiro dirija a sua ação em face daquele outro
sujeito que,
figurando como parte na relação jurídica material, deverá sofrer a eficácia do
exercício da
jurisdição na sua esfera de interesses. É a legitimidade ou legitimação passiva
ordinária.
Muitas vezes a lei reconhece que o próprio titular da relação jurídica de direito
material pode não
estar em condições de concretamente exercer a sua postulação ou defesa em
juízo. Nesses casos,
confere a algum outro sujeito a legitimação extraordinária para figurar como sujeito
do processo em
que a demanda vai ser objeto de exame. São os casos de substituição processual.
Se a garantia do contraditório efetivo significa que ninguém pode ser atingido
por uma decisão
desfavorável na sua esfera de interesses sem ter tido a mais ampla e concreta
possibilidade de
influir eficazmente na decisão, não podem mais ser toleradas hipóteses de
legitimação
extraordinária exclusiva, ou seja, que confiram unicamente ao substituto a defesa
do interesse do
substituído, como ocorria, por exemplo no regime dotal (Código Civil, art. 289,
inciso III), em que
apenas o marido podia propor as ações judiciais em defesa do dote da mulher.
Também é incompatível com aquela garantia a subordinação do substituído à
imutabilidade da
coisa julgada decorrente da ação proposta pelo substituto sem a sua participação.
A legitimação
extraordinária visa a assegurar o direito de acesso à Justiça a quem, sem ela,
estaria privado daquele
direito, não conferindo a ninguém, sem mandato, o poder de pôr a perder um
direito alheio pela
propositura de ação cujo resultado seja desfavorável ao interesse do substituído.
Nesse caso, apesar
de toda a resistência da doutrina102, a coisa julgada se formará secundum
eventum litis, isto é,
apenas in utilibus. É o que acontece, por exemplo, com os embargos à execução
propostos pelo
curador especial em benefício do executado citado por edital ou com hora certa.
Se os embargos
forem julgados procedentes, o substituído se beneficiará da decisão. Se forem
julgados
improcedentes, a decisão o atingirá apenas a título de eficácia natural da
sentença, facultando-lhe
no futuro propor ação contendo a mesma demanda rejeitada nos embargos.
Rodapé:
102 Enrico Tullio Liebman, Eficácia e Autoridade da Sentença, Forense, Rio de
Janeiro, 1981, pp.
82 e 99.
<42>
Rodapé:
103 Andrea Giussani, Studi sulle "Class Actions", Cedam, Padova, 1996.
104 Luiz Machado Guimarães, ob. cit., p. 102.
105 Ob. cit, p. 40.
<43>
Rodapé:
106 José Maria Rosa Tesheiner, ob. cit., p. 31.
107 José Carlos Barbosa Moreira, o Novo Processo Civil Brasileiro, 19ª ed.,
Forense, Rio de
Janeiro, 1998, p. 24.
<44>
Rodapé:
108 V. o meu O Processo de Execução, vol. I, Renovar, Rio de Janeiro, 1999, p.
336.
109 V. Leonardo Greco, "Natureza Jurídica do Mandado de Segurança", Revista
Arquivos do
Ministério da Justiça nº 129, janeiro-março de 1974, p. 79.
110 V. o meu O Processo de Execução, vol. II, Renovar, Rio de Janeiro, 2001, p.
117.
<45>
<47>
Rodapé:
111 Giuseppe Chiovenda, Principia..., p. 279; Luigi Montesano e Giovanni Arieta,
ob. cit., p. 145;
Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, Lezioni sul Processo
Cavile, 2ª ed., I1
Mulino, Bologna, 1998, p. 252.
112 Stefan Leible, Proceso Civil Alemán, Biblioteca Jurídica Dike, Medellín,
Colômbia, 1999, pp.
178/182.
<48>
Rodapé:
113 Jaime Guasp, La Pretensión Procesal, Civitas, Madrid, 1981, p. 66.
114 Andrea Proto Pisani, "Appunti sul Giudicato Civile e sui Suoi Limiti Oggettivi",
Rivista di
Diritto Processuale, vol. XLV, Cedam, Padova, 1990, p. 387.
115 Kazuo Watanabe, p. 108.
116 Ob. cit., p. 184.
117 V. Alexandre Freitas Câmara ("O Objeto da Cognição no Processo Civil",
Escritos de Direito
Processual, Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2001, p. 84), para quem a causa de
pedir não integra o
mérito, tendo a função de tão-somente delimitá-lo.
<49>
Rodapé:
118 V. Piero Calamandrei, ob. e loc. cits.
119 José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit., p. 86.
<50>
rito, ou seja, todas as questões de direito material; vai mais além essa cognição,
incluindo ainda as
questões processuais e relativas à existência do direito de ação e ao
impulsionamento do processo.
Temos, pois, de distinguir o objeto da jurisdição (o pedido), o objeto litigioso
(partes, pedido e
causa de pedir), o mérito, como conjunto de questões de direito material (o objeto
litigioso + a
causa excipiendi), e o objeto da cognição (pressupostos processuais, condições
da ação e mérito).
Neste momento interessa-nos analisar os elementos da demanda (partes,
pedido e causa de
pedir), fixadores do objeto litigioso, pelas conseqüências que deles decorrem.
3.2. Partes
Rodapé:
120 Crisanto Mandrioli, ob. cit., p. 141.
121 Principii..., pp. 280/281.
<51>
Rodapé:
122 Principii..., p. 582. No mesmo sentido, José Frederico Marques, ob. cit., p. 34.
<52>
Rodapé:
123 Araken de Assis (Cumulação de Ações, 3ª ed., RT, São Paulo, 1998, p. 132)
sustenta que no
litisconsórcio necessário existe uma só ação, enquanto no facultativo há
cumulação de ações.
124 V. o meu O Processo de Execução, vol. I, pp. 331/343.
<53>
3.3. Pedido
<54>
Rodapé:
128 Ob. cit., p. 154.
<55>
Os pedidos se interpretam restritivamente (artigo 293). Entretanto, como em
qualquer
manifestação de vontade, deve o juiz atender preponderantemente à intenção do
autor e não ao
sentido literal da linguagem (Código Civil, artigo 85).
Assim, divergências doutrinárias ou a utilização de vocábulos com falta da
necessária precisão
não podem impedir que o pedido seja julgado em conformidade com a essência
da manifestação de
vontade do autor. Decretar a anulação de um ato jurídico é normalmente uma
providência
constitutiva negativa; declarar a nulidade é providência meramente declaratória.
Se o autor pediu
esta com base em fatos que ensejam aquela, deve o juiz decretar aquela,
atendendo à essência da
manifestação de vontade do autor. Se a inicial não é clara quanto à real intenção
do autor e o
alcance da providência jurisdicional pode ter relevantes conseqüências jurídicas, o
juiz deve
mandar que o autor esclareça o seu pedido, mas nunca se ater exclusivamente ao
sentido literal das
palavras empregadas.
No pedido genérico, o bem da vida é relativamente indeterminado, mas
determinável. No pedido
alternativo, há apenas uma demanda, mas há dois bens ou duas prestações aptas
a satisfazer a
pretensão do autor.
<56>
Aprendemos também que duas teorias regem a causa de pedir como elemento
individualizador
da ação ou da demanda: a teoria da substanciação e a teoria da individuação.
Pela primeira,
expressamente adotada pelo nosso Código de Processo Civil, no artigo 282, inciso
III, não basta o
direito para identificar a ação. É necessário alegar o direito decorrente de
determinados fatos, ou
seja, a ação se individualiza pelo direito decorrente dos fatos alegados pelo autor.
Variando os fatos
ou variando o direito, outra é a ação ou a demanda. Pela teoria da individuação,
bastaria a alegação
do direito como fatispécie determinada, servindo qualquer fato apto a gerá-lo para
identificar a
demanda.
Para Araken de Assis, na teoria da substanciação a multiplicação dos fatos
caracterizadores da
causa de pedir passiva não gera pluralidade de ações130. E José Rogério
Tucci131 observa que na
ação declaratória o fato lesivo é substituído pelo fato contestado.
A teoria da substanciação pura (fatos + fundamentos jurídicos do pedido em
qualquer caso)
encontra duas dificuldades no Direito brasileiro. De um lado, as regras constantes
dos artigos 462 e
474 do Código de Processo Civil: o primeiro, permitindo que o juiz aprecie de
ofício fatos
constitutivos do direito do autor por este não alegados; o segundo, incluindo no
chamado efeito
preclusivo da coisa julgada todas as alegações que o autor poderia opor à rejeição
do pedido. Por
esses dispositivos estariam incluídos na causa de pedir fatos diversos dos
alegados pelo autor?
Nesse caso, teria o Código abandonado a substanciação em benefício da
individuação da causa de
pedir?
A segunda dificuldade apontada com freqüência pela doutrina é o chamado jura
novit curia. O
juiz conhece o direito. A mudança da qualificação jurídica dos fatos não
modificaria a causa de
pedir. Neste caso, a ação estaria individualizada apenas pelos fatos alegados pelo
autor, não pelo
direito, que seria extraído pelo juiz dos fatos alegados: da mihi factum, dabo tibi
jus.
Rodapé:
129 José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit., p. 179.
130 Araken de Assis, ob. cit., p. 149.
131 Ob. cit., p. 154.
<57>
Rodapé:
132 Luigi Montesano e Giovanni Arieta, ob. cit., p. 148.
133 Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, ob. cit., p. 253.
134 Stefan Leible, ob. cit., p. 182.
135 José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit, p. 108.
136 Principii..., p. 283.
<58>
Rodapé:
137 Jaime Guasp, Derecho Procesal Civil, tomo 1º, 3ª ed., Instituto de Estudos
Políticos, Madrid,
1968, pp. 226/227.
138 Girolamo Monteleone, Diritto Processuale Civile, p. 243.
139 Crisanto Mandrioli, ob. cit., pp. 150/151.
140 Francisco Málaga Diéguez, La Litispendencia, J. M. Bosch, Barcelona, 1999,
pp. 540/542.
<59>
Rodapé:
141 Estou abstraindo no argumento a cogitação de qualquer outra questão
relativa à adequação do
procedimento ou à falta de identidade do pedido imediato (reintegração de posse,
no comodato:
despejo, na locação), que certamente seriam igualmente óbices ao acolhimento de
um pedido pelo
outro.
142 Ob. cit., pp. 160/163.
143 José Roberto dos Santos Bedaque, "Os Elementos Objetivos da Demanda
Examinados à luz
do Contraditório", Causa de pedir e Pedido no Processo Civil (Questões
Polêmicas), coords. José
Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque, RT, São Paulo, 2002,
pp. 34/42.
<60>
Rodapé:
144 "Art. 12. Le juge tranche le litige conformément aux règles de droit qui lui sont
applicables.
Il doit donner ou restituer leur exacte qualification aux faits et actes litigieux sans
s'arrêter à la
dénomination que les parties en auraient proposée.
Il peut relever d'office les moyens de pur droit quel que soit le fondement
juridique invoqué par
les parties.
Toutefois, il ne peut changer la dénomination ou fondement juridique lorsque les
parties en vertu
d'un accord exprès et pour les droits dont elles ont la libre disposition, I'ont lié par
les qualificátions
et points de droit auxquels elles entendent limiter le débat.
Le litige né, les parties peuvent aussi, dans les mêmes matières et sous la
même condition,
conférer au juge mission de statuer comme amiable compositeur, sous réserve
d'appel si elles n'y
ont pas spécialement renoncé."
145 Serge Guinchard, Méga Nouveau Code de Procédure Civile Commenté, 2ª
ed., Dalloz, Paris,
2001, p. 28.
<61>
las partes hayan querido hacer valer, resolverá conforme a las normas aplicables
al caso, aunque no
hayan sido acertadamente citadas o alegadas por los litigantes."
Comentando esse dispositivo, Andrés de La Oliva Santos146 assinala
inicialmente que esse
dispositivo pressupõe que a sentença seja congruente com a causa de pedir,
entendida como
integração dos fundamentos fáticos e jurídicos e, quanto a estes últimos, que não
pode ser adotada
fundamentação jurídica diversa da proposta pelo autor, mas apenas, dentro desse
marco, aplicar
com a maior precisão e acerto as normas que considere aplicáveis, passando por
cima de erros de
citação, de argumentação incoerente ou contraditória, de omissões, que não
impedem o
conhecimento do direito em que o autor quis basear a sua pretensão. A
jurisprudência do Tribunal
Supremo da Espanha deixa claro que a regra iura novit curia significa: 1° que o
Direito independe
de prova; 2° que o juiz pode e deve aplicar o Direito que conhece, sempre que se
atenha ao
fundamento genuíno da pretensão.
Oliva Santos cita em seguida alguns exemplos de aplicação do princípio dentro
desses limites:
1°) citação errônea de uma ou várias normas positivas, sempre que das alegações
do autor se possa
depreender sem qualquer dúvida qual é a norma ou conjunto de normas que
pretendeu utilizar; 2°)
omissão da alegação de uma ou várias normas positivas, se está claro que o autor
nelas apóia a sua
pretensão; 3°) incorreta denominação de um princípio geral de Direito, quando as
alegações do
autor permitem identificar o princípio correto; 4°) errônea qualificação de um
negócio jurídico, se é
possível deduzir das alegações qual é o negócio correto em que o autor apóia a
sua postulação; 5°)
erro na qualificação jurídica de um fato ou circunstância em que se apóia um
fundamento, quando o
que se alega permite conhecer o fundamento correto em que o autor quer apoiar a
sua pretensão;
6°) contradições internas, confusões ou erros de argumentação, sempre que seja
possível a partir
dos fatos e das alegações do autor determinar o fundamento principal de sua
pretensão e, se
necessário, os fundamentos subsidiários. A congruência, segundo o autor, não
deve ser apurada
apenas com base na parte dispositiva da sentença, na inicial e na contestação.
Antecedentes fáticos,
funda-
Rodapé:
146 Andrés de la Oliva Santos e outros, Comentarios a la Ley de Enjuiciamiento
Civil, Civitas,
Madrid, 2001, p. 386.
<62>
<63>
Nos artigos 131 e 462, o nosso Código de Processo Civil recomenda ao juiz o
exame na sentença
de fatos não alegados pelas partes. Qual seria o âmbito de aplicação dessas
normas, tendo em vista
que os fatos constitutivos do direito do autor individualizam a demanda e devem
ser por este
alegados, em obediência ao princípio da demanda?
Para compreender o alcance do artigo 131, que determina que o juiz na
sentença examine todos
os fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas
partes, é preciso
distinguir os fatos jurídicos dos fatos simples147. Jurídicos ou jurígenos são os
fatos fundamentais
dos quais decorre o direito do autor; simples são fatos secundários que compõem
o fato jurídico ou
que auxiliam na comprovação da sua existência.
Chiovenda148 já ressaltava que a causa de pedir não sofria qualquer
modificação pela variação
dos fatos simples ou motivos, que apenas servem para provar a existência do fato
jurídico.
Arruda Alvim149 esclarece, a meu ver corretamente, que o artigo 131 do CPC
refere-se aos fatos
simples, considerados na linha do fato jurídico e que o juiz fica adstrito aos fatos
jurídicos aduzidos
pelo autor, não aos fatos simples.
Francisco Málaga150 ressalta que a causa de pedir compreende o conjunto de
fatos, trazidos pelo
autor em sua demanda, que originam e individualizam a pretensão por ele
formulada. A inclusão
dos fatos na causa petendi depende da natureza do direito afirmado pelo autor,
posto que somente
são relevantes aqueles necessários para caracterizá-lo e distingui-lo de outros.
Mandrioli151 distingue o que chama de fatos principais, que representam o
pressuposto
necessário da subsistência do direito, dos fatos secundários. E observa que às
vezes vários fatos
geram o mesmo direito. O critério orientador para estabelecer se a referência a
fatos diversos
implica diversidade de causa de pedir (e portanto de ação) está em verificar, com
uma apuração de
direito substancial, se
Rodapé:
147 Araken de Assis, ob. cit., p. 205.
148 Principii..., p. 283.
149 Arruda Alvim, ob. cit., p. 362.
150 Ob. cit., p. 532.
151 Ob. cit., pp.151/153.
<64>
Rodapé:
152 Ob. cit., pp. 99 e 117.
153 José Rogério Cruz e Tucci (ob. cit., p. 85) observa que já no Traité des
Obligations de Pothier,
de 1760, aparecia a distinção entre as ações reais e pessoais quanto à causa de
pedir.
154 Luigi Paolo Comoglio; Corrado Ferri e Michele Taruffo, Lezioni sul Processo
Civile, p. 253.
<65>
Rodapé:
155 Araken de Assis, ob. cit., p. 134.
156 Principii..., p. 284.
157 Gian Franco Ricci, "L'Allegazione dei Fatti nel Nuovo Processo Civile", Rivista
Trimestrale di
Diritto e Procedura Civile, Giuffrè, Milano, ano XLVI, 1992, pp. 848/854.
158 Andrea Proto Pisani, ob. cit., p. 391.
159 Juan Montero Aroca et alii, El Nuevo Proceso Civil (Ley 1/2000), Tirant lo
Blanch, Valencia,
2000, p. 195.
160 Ob. cit., p. 36.
161 Ob. cit., p. 149.
<66>
Rodapé:
162 Ob. cit., p. 285.
163 Ob. cit., p. 142.
164 Girolamo Monteleone, Diritto Processuale Civile, p. 195; no mesmo sentido,
Luigi Paolo
Comoglio, Lezioni sul Processo Civile, p. 253.
165 Antônio Santos Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo Civil,
vol. I, 2ª ed.,
Almedina, Coimbra, 1999, pp. 202/203.
166 O Código Português, no seu artigo 498° pretende equacionar a matéria,
dispondo que nas
ações reais a causa de pedir é o fato jurídico de que deriva o direito real, enquanto
nas ações
constitutivas e de anulação é o fato concreto ou a nulidade específica que se
invoca para obter o
efeito pretendido.
167 Ob. cit., pp. 144 e 148.
168 José Maria Rosa Tesheiner, ob. cit., p. 46.
169 Ob. cit., p. 205.
170 Ob. cit., p. 148.
<67>
Rodapé:
171 Jorge Augusto Pais de Amaral, Direito Processual Civil, 2ª ed., Almedina,
Coimbra, 2001, p.
332.
172 Ob. cit., p. 156.
173 Diritto Processuale Civile, p. 195.
174 Apud Mandrioli, ob. e loc. cits.
175 Ob. cit., p. 400.
176 Ob. cit., p. 285.
177 Apud José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit., p. 98.
178 Ob. cit., p. 202.
179 Ob. cit., p. 149.
180 Luigi Montesano e Giovanni Arieta, ob. cit., p. 152.
<68>
de que não se pode definir o alcance fático da causa de pedir, a não ser adotando
como ponto de
partida a intenção do autor.
Comoglio181 também defende que a função identificadora da causa petendi
deva permanecer
tendencialmente a mesma. Os efeitos vinculantes do julgado sucessivo devem
limitar-se apenas
àquela única causa petendi que, por vontade da parte, identifica o particular direito
acionado, sem
que o juiz possa automaticamente estendê-los também a outras não deduzidas,
ainda que
teoricamente sejam alternativas ou concorrentes.
Aqui também deve prevalecer o princípio da demanda. É verdade que essa
perquirição nem
sempre é fácil, especialmente quando, anos depois, pretendemos verificar o
alcance da coisa
julgada.
No curso do processo, essa investigação ainda é possível, porque as partes
ainda dependem da
decisão do juiz e devem colaborar na delimitação da coisa litigiosa, podendo o juiz
tomar as
providências necessárias para elucidar a intenção da manifestação de vontade do
autor. Mas depois
de findo o processo, e até mesmo muitas vezes no curso do próprio processo,
pode tornar-se difícil
apurar qual é o alcance do ato originário de iniciativa processual, e em que medida
se estabeleceu a
litigiosidade. Quando isso ocorrer, creio que o recurso à doutrina processual
poderia levar a adotar
algumas regras de aplicação subsidiária, decorrentes dos princípios gerais do
processo, em especial
o princípio da demanda.
A primeira regra seria a de que nos direitos absolutos (direitos reais de gozo,
direitos relativos ao
estado das pessoas e direitos da personalidade), salvo evidente manifestação em
contrário do autor,
aplica-se o preceito do artigo 462, podendo o juiz conhecer do direito com base
em outros fatos
além daqueles enunciados pelo autor na petição inicial, desde que sejam fatos da
mesma fatispécie,
isto é, fatos com as mesmas características jurídicas dos fatos alegados
inicialmente. Assim, se a
mulher propõe contra o marido ação de separação alegando agressão física no
dia 1° de janeiro de
2002, mas a final esse fato não fica demonstrado, mas sim que a autora foi vítima
de agressão no
dia 20 de março, este outro fato deve servir para sustentar o acolhimento do
pedido de separação,
devendo o juiz sub-
Rodapé:
181 Comoglio, Lezioni sul Processo Civile, p. 255.
<69>
Rodapé:
182 V. Alexandre Alves Lazzarini, A Causa Petendi nas Ações de Separação
Judicial, RT, São
Paulo, 1999.
183 Ob. cit., p. 46.
<70>
tifica uma demanda e que na qualificação jurídica do fato também deve ser
respeitada a vontade do
autor. Como dizia Chiovenda184, pouco importa que rejeitada uma ação, outra
possa ser proposta
por um outro fato, ainda que da mesma natureza. Aos possíveis inconvenientes
dessa reiteração
indefinida de juízos pode remediar o réu pedindo em via reconvencional uma
sentença que declare
válido o ato em geral ou propondo uma ação declaratória com esse objetivo.
Mas também aqui há exceções. A ação declaratória negativa, segundo o
mesmo Chiovenda185,
comporta variação fática. Fernando Luso Soares186 leciona que nessas ações de
simples declaração
negativa de um direito ou de um fato invocado, a causa de pedir é a inexistência,
independentemente de qualquer fato concreto que a caracterize.
Nas ações que tenham por fundamento uma série de fatos ou fatos constantes,
como a ação de
responsabilidade do administrador por gestão fraudulenta da sociedade, em
verdade o suporte fático
já é objetivamente complexo, abrangendo não apenas os fatos concretos alegados
pelo autor, mas
quaisquer outros caracterizadores da fraude no curso do período de tempo em
que o réu
permaneceu no exercício daquela função.
A essas regras sobrepor-se-á sempre a revelação, desde que possível, da
verdadeira intenção do
autor, ao propor a demanda. Discorrendo sobre as posições conflitantes que
existem no Direito
brasileiro a respeito do alcance da coisa julgada tributária, uma mais restritiva,
agasalhadora do
enunciado da Súmula 239 do Supremo Tribunal Federal, outra menos restritiva,
Arruda Alvim
demonstra que, apesar de fundamentadas nos mesmos dispositivos de lei, "é em
decorrência do
pedido que se diversificam as posições"187. Esta é a regra de ouro.
Rodapé:
184 Ob. cit., p. 285.
185 Ob. e loc. cits.
186 Fernando Luso Soares, Processo Civil de Declaração, Almedina, Coimbra,
1985, p. 589.
187 Arruda Alvim, "Anotações sobre a Chamada Coisa Julgada Tributária",
Revista de Processo,
ano 23, outubro-dezembro de 1998, RT, São Paulo, p. 7.
<71>
to preclusivo da coisa julgada, previsto no artigo 474 do Código de Processo Civil,
que considera
repelidas todas as alegações que o autor poderia opor à rejeição do pedido.
Essa regra não pode ser interpretada como um alargamento da causa de pedir
sem a explícita
manifestação de vontade do autor. Apesar da preocupação de alguns188, na
verdade, o que fica
precluso para o autor como conseqüência do trânsito em julgado da sentença de
mérito é a
possibilidade de invocar outros fatos simples ou circunstâncias que não alterem a
causa de pedir.
Também ficam seguramente preclusas as defesas indiretas do autor às defesas
indiretas do réu que,
pelo princípio da eventualidade, deveriam obrigatoriamente ter sido objeto de
alegação na réplica
(artigo 326).
Assim, não se pode extrair do efeito preclusivo da coisa julgada a perda da
faculdade do autor de
formular o mesmo pedido com causa diversa, mas será o princípio da demanda
que irá delimitar o
alcance do objeto litigioso de cada ação.
Rodapé:
188 J. E. Carreira Alvim, Elementos de Teoria Geral do Processo, 7ª ed.,
Forense, Rio de Janeiro,
1997, p. 131.
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Conclusão
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Bibliografia
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