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DEMONSTRAS A O Ü
DA

NECESIDADE DA ABOLISAO
DO

CELIBATO CLERICAL
PELA

ASEMBEEA G E I A L DO BRAZIE
E DA SUA

VERDADEIRA E LEGITIMA C O M P E T Ê N C I A
NESTA MATÉRIA.
PELO
DEPUTADO, DWGO JNT0N10 FETJO.

Debet unusquisque, no/ pro eo , quod


t

semel ebiheiot , et ienebat , pertinatiter con-


gredi; S( d siquid ntelius, et utiltus extiterit
libenter ampttcti. No?i enim vtvcimur , quando
offevuntur nabis meliora , sed instruimur*
C y p r . i n Ep. ad ( j u i n t .
N i n g u é m deve ser emperrado no que u m a
vez concebeu. O omeni de bem abrasando de t oa
vontade coizas melhores, e mais úteis , que se
l h e oferecem , não se j u l g a poriso v e n c i d o ,
porém melhor instruído.
S. Cipriano.

f
v

RIO D E JANEIRO.
NA TYPOGRAF1A IMPERIAL E NACIONAL
18 2 8.
4
/

Augustos, e Dignisimos Senhores Representantes


da Nasão.

QUEM mais, senã& a Vós, Amigos da


Pátria, Protectores das Liberdades publicas, e
Zelozos Defensores dos direitos dos Cidadãos
Brasileiros, deveria eu dedicar esta limitada
oferta filha do meu respeito d Justisa, de mi-
3

nha venerasão d Religião, e de meu amor d


umanidade ? Encarregados de defendemos da
opresão, cumpre libertamos das cadeas que
y

séculos pouco esclarecidos nos lansarão. Eleva-


dos asima dos prejuízos encanecidos d sombra de
uma Religião , que tem por baze a dosura , e a
caridade, Vós tendes a coragem necesaria para
arrostar eses poucos, e mizeraveis gênios apou-
cados , e prezumidos, que folgão, e se compi a-
%

zem de ouvir os gemidos de victimas impruden-


tes , ou seduzidas, que correndo apos d' uma
perfeisão efêmera, se precipitarão no abismo do
crime , e da desgrasa. Armados do poder, que
a Conshtuisão vos outorga, tendes a forsa ne-
cesaria para debelar eses espíritos turbulentos,
inimigos de toda a reforma; e que incapazes de
propor uma só medida de melhoramento , são
com tudo eternos censores dos que nem sabem
mendigar seos conselhos impotentes, nem se ater-
rao com os devotos sarcasmos de sua Religião
aparente.

i
Augustos , e Dignisimos Senhores Represen-
tantes da Nasão, a prudência é o único farol
que, dévb marxar dianfe do Legislador ; quando
poréin a condescendência não a tem por baze ,
é uma fraqueza , é um crime. O Ura il inteiro
conhece a necesidade d'abolisão d'uma lei, que
não foi, não é, nem será jamais observada.
O Brazil inteiro é testemunha dos mates , que
a imoralidade dos seus transgresores ^ acarreta á
sociedade. Sem probidade não á eizecusão de
lei: sc?n eizecusão de lei não ájustisa: semjns-
tisa não á liberdade legal ; e sem esta não se
dá felicidade publica.
Legisladores , aceitai benignos os esforsos de
um de vosos Membros: meditai sobre as importan-
tes verdades, que ele oferece á vosa contemplasão ;
e não queiraes carregar o coloso de responsabi-
lidade, que pezará sobre vosos ombros, se retar-
daes a abolisão d'uma lei, que faz o fundo da
imoralidade publica.

Rio de Janeiro 9 de Julho de 182S.

O D e p u t a d o , Diogo Antônio Fdjo.


INTRGDÜSÃO

- ^ ( J M A d i s c u t o na C â m a r a dos D e p u t a d o s
o f e r e c e u u m i n c i d e n t e ; q u e eicitoui o zelo de
um de seus M e m b r o s b e m c o n h e c i d o p o r suas
l u z e s , e sua p r o b i d a d e , a i n d i c a r - - Que Cie,
ro do Bra d José desonerado da Lei do Lelibato.--
A m u i t o tempo, q u e m e d i t a n d o e u sobre os meios
da r e f o r m a do C l e r o j e f o l h e a n d o os A n a c s do
C r i s t i a n i s m o ; estava c o n v e n c i d o , q u e a o r i g e m
mais f e c u n d a de todos os m a l e s , q u e p e z u o so-
b r e esta clase i n t e r e s a n t e de Cidadãos, e r a o
c e i i b a t o t o c a d o . C o n s u l t e i a u t o r e s católicos, e
não católicos, F i l o z o i o s , e C a n o u i s t a s ; e a
solides das razoes dos q u e c e n s u r a v a o a l e i , e
a insuficiência dos a r g u m e n t o s dos q u e a p e r t c n -
d i a o sustentar , acabarão de firmar a m i n h a o p i -
nião. J u l g u e i então do meu dever como Ornem,
corno: Cristão , e como D e p u t a d o o f e r e c e r a Ca-
m a ra o meu Parecer • este respeito ; no q u a l
procurei p r o v a r , quanto p e r m i t i a a brevidade
do m e $mo ^ Qe
; U não sendo o Ceiibato prescri-
to aos Padres por lei Divina, nem mesmo por
insliluisão Apostólica ; e sendo alias origem da
imoralidade dos mesmos; era da competência da
Asembléa Geral revogar sitnilttante lei. — Que
se fizese saber ao Fapa esta iíezuivsao ua nsem-
blea , para (pie ele pondo as leis da igreja em
armonia com as do Império , revogase as que
impõe penas ao Clérigo , que caza; e que não o
fa endo em ténpo r rcfcso , se suspendes* o Be-
neplacito á semelhantes leis , que jomudando a
discórdia entre membros d' uma só Familia> po-
dido perturbar a tranqüilidade publica.
E u p r e v i o x o q u e n e c e s a r i o , q u e estas p r o -
pozisões d e v i a f a z e r n o e s p i r i t o cTaqueles, q u e
a d o r m e c i d o s nas opiniões erdadas de seus m a i o -
res recuzão u l t e r i o r indagasão ; e todos sabem
a cega o b s t i n a s a o dos q u e em c e r t a i d a d e n ã o
c o n s e n t e m mais ser a d v e r t i d o s de seus e r r o s :
mas aparecerão a i n d a asim defensores do c e l i b a -
t o e m m u i t o m e n o r n u m e r o do q u e eu calculava.
E as piedosas detraesões, de q u e se servirão
na falta d e r a z o e s ; a confuzão, e d e z o r d e m
de seus l o n g o s a r r a z o a d o s ; a t a c t i c a p o u c o ca-
r i d o z a , q u e empregarão na ostentasão do s e u
zelo na defeza de Religião, q u e julgavão o f e n -
d i d a , ' q u a n d o antes e r a v i n g a d a das faisas a c u -
zasões dos incrédulos , fazendose v e r d a d e i r a se-
parasão do q u e l h e é a c e s o r i o ; e na da o n r a
do Estado E c l e z i a s t i c o , q u e apregoavão d e p r i -
mida p o r q u e m procurava , pelo c o n t r a r i o , l e -
v a n t a l a do a b a t i m e n t o , em q u e j a s ; t u d o t e m
c o o p e r a d o para o t r i u m f o da v e r d a d e . Poucos
r e s t a o , que i g n o r a n t e s , seduzidos, o u p r e j u d i -
cados, lutão a i n d n com a própria c o n c i e n c i a . Os
s e n t i m e n t o s i n a t o s de justiça estão, e e t e r n a m e n -
te estarão em contradisão com sua razão. N ã o é*
a rebelião d a c a r n e c o n t r a o e s p i r i t o : é a vos
da n a t u r e z a , q u e se d e i x a o u v i r c o n t r a os p r e -
j u i z o s da euucasão : é o g r i t o da c o n c i e n c i a
c o n t r a a razão d e p r a v a d a : é a g u e r r a da v e r -
dade c o n t r a o e r r o .
A satisfasao , e o i n t e r e s e , q u e , á simples
l e i t u r a d a q u e l e P a r e c e r , t o m o u a C â m a r a dos
Deputados ; o a c o l h i m e n t o , que o publico i m -
p a r c i a l l h e t e m dado : a conviesão , em q u e es-
t o u , da necesidade d'abolisão d o C e l i b a t o C l e r i -
c a l , me obrigão a d a r u m m a i o r d e z e n v o l v i m e n -
to a q u e l e m e u p r i m e i r o Voto separado.
E u s e g u i r e i o mesmo método, p o r me pa-
recer o mais c o n v e n i e n t e , p o r q u a n t o , a poderse
m o s t r a r , q u e semelhante o b j e c t o não é da com-
petência do P o d e r t e m p o r a l , cesa n o m o m e n t o
a pertensao ; e então n a d a mais r e s t a , que so-
f r e r em s i l e n c i o o g r a v a m e d a l e i , té q u e J . C
se l e m b r e da sua I g r e j a , p o r q u e o X e f e v i z i -
vel dela u m só paso não r e c u a ; e a Cúria
R o m a n a , não e z i t a n d o u m só instante em con-
ceder dispensas nas leis Ecleziasticas, não tolera
c o m t u d o , q u e estas sejão d'uma ves revogadas.
N ã o l h e convém.
E u não d u v i d a r e i r e p e t i r os mesmos a r g u -
m e n t o s ; e c i t a r as mesmas a u t o r i d a d e s : aqueles
são sólidos, estas são convincentes. Àjuntarei
. novos documentos. N ã o me q u e r o a r r o g a r a
filoria de O r i g i n a l . T a n t o se t e m escrito sobre
esta matéria, e tão p r o f u n d a m e n t e , q u e bastan-
te é aver c u r i o s i d a d e na escolha, e clareza n o
método. O que porém não cedo á ninguém é a
g l o r i a de d e z e j a r m u i sinceramente a felicidade
da m i n h a pátria , o restabelecimento da o n r a ,
e d i g n i d a d e C l e r i c a l , e a salvasão de tantas a l -
mas , q u e i n e v i t a v e l m e n t e se perdem pela e i z i s -
t e n c i a d' uma l e i , da q u a l n e n h u m bem rezulta,
como p r o v a r e i .
E u me vejo o b r i g a d o a condecender com
os q u e profesão este íalso p r i n c i p i o : — Que os
Filozofos são libertinos , e que os Ercges não
falão verdade.— E u me r e s t r i n g i r e i p o r t a n t o á
citasões de A u t o r e s c o n h e c i d o s , e approvados
pelos adversários, o u ao menos respeitados pe-
los Ortodoxo*. E u me f i r m a r e i em factos p r o -
vados , e nos eizemplos, q u e estão debaixo dos
olhos de todos.
E u não escrevo p a r a os verdadeiros sábios,
nem para os omens bem i n t e n c i o n a d o s , q u e
posuidos de caridade suspirão pela felicidade do

\
p r o c i m o , e se c o n d o e m de sua desgrasa : estas
duas clases engrosão o m e u p a r t i d o . E u escre-
vo para o c o m u m dos omens , q u e de ordinário
se deixão c e g a m e n t e c o n d u z i r p o r a q u e l e s , c m
q u e m supõem c e r t o d i r e i t o de os g u i a r . E u me
f a r e i inteligível, para q u e não sejâo seduzidos
com aparatozos a r g u m e n t o s , c u j a f u t i l i d a d e se
axa a c u b e r t a d a c o m o sagrado m a n t o da R e l i -
gião. E u q u e r o ser e n t e n d i d o , e p o u c o me i m -
p o r t a ser combatido.
1

PROPOZISAO l .

E' da privativa competência do Poder temporal es


tabelecer impedimentos dirimentes do Matrimô-
nio , dispensar mies , e revogalos.

N A T U R E Z A d o Matrimônio : o eizemplo d e
Soberanos Católicos ; a d o u t r i n a d a I g r e j a nos Secu*
los mais esclarecidos d o C r i s t i a n i s m o ; e a a u t o r i d a d e
de Escritores respeitáveis- nos oferecerão argumentos ,
c u j a forsa irrezistivel produzirá a necesaria convicsão
d a verdade d a nosa Propozisão.

PROVA-SE l.o

Pela natureza do Matrimônio.

O Matrimônio é na sua origem: na opinião de


todos os G o v e r n o s ; e na d o u t r i n a d a I g r e j a , ensina*
da em seus R i t u a e s , e C a t e c i s m o s — Um Contrato le~
gitimo entre o Ornem e a Mulher 5 que JDeos tem
estabelecido para a multíplicasão do gênero umano.
(1) D e s t a tão simples , c o m o n a t u r a l difinisão se
c o n c l u e 1.° q u e o Matrimônio traz a sua o r i g e m d o
mesmo A u t o r d a natureza q u e no P a r a i z o d e t e r m i n o u
v

aos p r i m e i r o s pais d o gênero u m a n o , que crecesem 9

multiplicarem^ e enxesem a terra: q u e n o estado


s o c i a l , o q u a l tem p o r fim g a r a n t i r os direitos de ca-
da u m e s u b o r d i n a r os d o indivíduo á t o t a l i d a d e ,
5

pertence ao Soberano regular este C o n t r a t o de ma-


neira , q u e p o r ele se preenxão os fins de sua i n s -
tituisão : q u e sendo este C o n t r a t o d e t a l importância

(1) — Catecismo de Montplier — de M ó por Bosuet — de Soasons


era 1756 — Bloá em 1628 — de Colônia, &c. &c. &c. D i t o do Conci^
lio Trid.
I a s t . l i b . 1. t i t . 2 ,
q n e d e l e d e p e n d e a perpe t u i d a d e d a espécie, a e d u -
casão d a p r o l e , a pas das famílias, e p o r i s s o m e s m o
a tranqüilidade, segurança , e p r o s p e r i d a d e d o s E s t u d o s ,
n ã o pôde o S o b e r a n o p r e s c i n d i r d o d i r e i t o d e o re-
g u l a r sem p e r d e r a s u a c s e n c i a , a q u a l consiste n a
reunião de t o d a s as f a c u l d a d e s necesarias p a r a l e v a r
a S o c i e d a d e á seu íim. D e v e p o r t a n t o considerar-se
o d i r e i t o d e estabelecer i m p e d i m e n t o s dirimentes d o
Matrimônio n a clase d o s inalienável-, e imprescritíveis
á Soberania d uma Nasao.
São- e v i d e n t e s os a b s u r d o s , q u e se s e g u i r i a o d e
negarsê ao S o b e r a n o u m t a l d i r e i t o , o u ( o q u e a i n -
d a é p e i o r ) se fose este c o n c e d i d o a u m a A u t o r i d a d e
estranha , e independente d o P o d e r c i v i l . A sociedade
m u i t a s vezes se a ária e m c o n t r a d i g o c o m sig< mes-
m a ; e u m a a n a r q u i a d e princípios a l e v a r i a a o p r e -
cipício. E p o d e m o s a l i r m a r , q u e , se o m a l não t e m
Xégado ão seu c u m u l o , devese este fenômeno á u m i -
1 iasão d o s G o v e r n o s , q u e lolerão , q u e seus s u b d i t o s
vão m e n d i g a r dispensas á um Poder estranho; e á
indulgência , c o m q u e d e ordinário taes grasas t e m s i -
d o p o r este c o n c e d i d a s .
A n a t u r e z a p o i s d o Matrimônio c o n v e n c e , q u e
ele é u m c o n t r a c t o , c o m o o u t r o q u a l q u e r : q u e t e m
sua baze n o d i r e i t o n a t u r a l : q u e está s u b o r d i n a d o aos
intereses d a s o c i e d a d e , e p o r isso m e s m o s u j e i t o a
direesão d o P o d e r t e m p o r a l . Alguns porém p r e t e i s t a n d o
q u e o Matrimônio e n t r e os Cristãos s e n d o u m S a c r a -
mento , é como t a l privativamente subordinado á Igre-
j a , aíirmão q u e t o d a a dispozisão d a A u t o r i d a d e se-
c u l a r n a e pôde j a m a i s iníiuir n o v a l o r d o m e s m o M a -
trimônio. A f a l s i d a d e desta asereão se patenteará , p r o -
v a n d o s e : 1.° Q'.ie n o Matrimônio o C o n t r a t o , e o
S a c r a m e n t o são coizas d i s t i n e t a s c m s u a e s e n c i a , e se-
paradas p o r sua natureza : Q u e a i n d a sendo u m a
FÓ c o i z a o C o n t r a t o , o o S a c r a m e n t o , n a d a p e r d e u
p o r isso o P o d e r t e m p o r a l d o seu d i r e i t o s o b r e ele.
S e r i a necessário a d m i t i r s e o a b s u r d o d e q u e J . C.
instituindo a s u a I g r e j a , e o seu r e i n o t o d o e s p i r i t u a l ,
( 2 ) íizese c o m t u d o d e p e n d e n t e d e l a a v a l i d a d e d*um

(2) — Parece supérfluo c i t a r authoridades p a r a provar u m a verdade


oje tão c o n h e c i d a ; porém para e v k a r a consura dos nosos d e v o t o s ,
eu n f e r i r ^ o que dis F l e u r i no Discurso 7. á I s t . ficlez. — ^ evi-
dente pelo novo testamento e pela tradisuo dos 10 primeiros séculos ,
3

C o n t r a t o t e m p o r a l , c u j o fim p r i n c i p a l é o mutuo so-


c o r r o , a propagasão d a ispeçie, e a educasão d a p r o -
le , e q u e desta sorte i n t r o d u z i n d o t i confuzão , e a
dezordem ria sociedade pela privasão d'ura d i r e i t o esen-
c i a l ao Soberano , transtornase os fins d a mesma socie-
dade , q u e Deos c r i o u , d i r i g e , e p r o t e g e , como a
mesma I g r e j a : t r a n s t o r n o s , q u e mais <T uma ves t e m
a r r u i n a d o " Estados , e d e z a c r e d i t a d o as A u t o r i d a d e s
Ecleziasticas , q u e as t e m p r o m o v i d o com suas c r i m i -
nozas invazões no d o m i n i o d o P o d e r t e m p o r a l . ( 3 )
F e l i s m e n t e a I g r e j a reconheceu n o s p r i m e i r o s sé-
c u l o s , , q u e offerecem a verdadeira n o r m a de s u a d i -
c i p l i n a , q u e e l a não t i n h a o u t r o d i r e i t o alem d o d e
i n s p e c i o n a r sobre os C o n t r a t o s , bem como sobro todas
as acsôes u m a n a s , para declaralos iníquos n o foro d a
conciencia , q u a n d o contrários ás leis D i v i n a s . E l a r e -
conheceu , como u m dever s e u , o fiscalizar a eizecu-
são das leis dos Soberanos sobre os Matrimônios-;, e.
-muitas vezes teve recurso á estes para os declararem
inválidos , q u a n d o os j u l g o u opostos á M o r a l d o E v a n -
gelho. ( 4 )
O i n f i e l cazado , q u e pròfèsou o C r i s t i a n i s m o ,
j a m a i s f o i o b r i g a d o a revalidar seu Matrimônio peran-
te a I g r e j a . Os C a t e c u m e n o s , q u e p o r m u i t o s annos
se prepuravão para o B a t i s m o , n u n c a forão p r o i b i d o s
de os c o n t r a i r ; p o r q u e era então d o u t r i n a c o r r e n t e ,
que o Matrimônio rezultava do mutuo consenso das
partes emitido segundo as formas legaes ; o que a i n -
d a N i c o l a u I . repete ao C l e r o de Bulgária, Eugênio I V .
no C o n c i l i o de F l o r e n s a , e se vê' depois consagrado

que o Rdno de J. C. è puramente espiritual: que elle não veio es~


tabelcrtr sobre a terra , senão o culto do verdadeiro Deos e os bons
costumes, sem nada mudar no governo político dos diferentes povos,
nem nas leis, e costumes, que só dizem respeito aos intereses da
vida prezente. — .• .
(3) B e m conhecidas sSo as sanguinárias contestasoes entre os Pa-
pas , e Soberanos sobre objectos da competência, destes ; e sem sair
da matéria que irie ocupa , poderia c i t a r inumeráveis eizemplos de
perturbasõeí p o r cauza dos Ecleziasticos se i n t r o m e t e r e m a a n u l a r
matrimônios. O I m p e r a d o r Leão f o i perturbado pelo P a t r i a r c a de
Consíantinopla p o r cauza do seu cazameuto com Z o e , e a l e g i t i m i d a -
de de seus filhos. Sabem todos a persegubão, que fes A d r i a n o 2.
a Lotero R e i de Lorcna ; e a que eiscesos xegou Gregorio 5. c o n t r a
Roberto o piedoso p o r se aver cazado coin Bei:a sua parenta. N a -
da disto a c o n t e c e r i a , se a I g r e j a não eizorbitase de áuas atribuisões.
(4) 112 Can. do Código A f r i c a n o . T o m . 2. C o n c i l . — S . Ambros.
íirdica a Teodosio. Greg.' 1. s L u i s t n r a u d o & c ,
Z 11
4

no Catecismo do Concilio de Trento ; o qual na Se-


são 2 4 e n s i n a — q u e os Matrimônios na lei Evangéli-
ca eicedem aos antigos na gr asa, que apcrfhisoa o
amor natural, confirma ãindiso/uvel unidade, e san-
tifica os cônjuges.
Tal é com efeito a d o u t r i n a , e pratica da Igreja
a i n d a p a r a c o m os mesmos Cristãos , e n t r e os quaes
consente m u i t o s Matrimônios s o m e n t e na q u a l i d a d e d e
Contratos.
O s P e n i t e n t e s públicos, afastados d a I g r e j a , não
erao a d m i t i d o s á recepsão d o s S a c r a m e n t o s d u r a n t e os
p r i m e i r o s grãos d a sua p e n i t e n c i a ; c o m t u d o era per-
m i t i d o aos mosos c a z a r e m , o u toleravãose os seus
Matrimônios p o r indulgência , c o m o d i s S. L e ã o . ( 5 )
E taes Matrimônios não podião d e i x a r d e ser somen-
te C o n t r a t o s ; p o r q u e sendo o Matrimônio u m Sacra-
m e n t o de v i v o s c o m o se e i s p r i m e m os Teólogos , n ã o
5

p o d i a , se» a d m i n i s t r a d o aos p e n i t e n t e s antes d a s u a


reconciliasão.
A s V i r g e n s , e os M o n g e s q u e cazavão j a pezar
dos seus v o t o s ; e m q u a n t o estes não f o r a o j u l g a -
f

dos i n p e d i m e n t o d i r i m e n t e forão r e p u t a d o s v e r d a d e i -
?

r a m e n t e cazados ; e é cérto , q u e taes Matrimônios


não erao f e i t o s em face d a I g r e j a , n e m p o r seus M i -
n i s t r o s , q u e os detestavão ; e p o r isso erao s o m e n t e
C o n t r a t o s . (6)
O* Matrimônios contraídos p o r Cristão c o m i n f i e l ,
e m q u a n t o não forão d e c l a r a d o s n u l o s , o u q u a n d o tem
s i d o f e i t o p o r d i s p e n s a s , não são, senão C o n t r a t o s :
p o i s t o d o s sabem , q u e Q infiel é i n c a p a z d e receber
S a c r a m e n t o ; e q u e p o r isso neste cazo a n e n h u m d o s
C o n t r a e n t e s se a d m i n i s t r a . (7)
Os 3V|atrimohios e n t r e os K r e g e s , que l a n s a d o s f o r a
dá.Igreja n e m c r e l u n o Safcramento d o Matrimônio, n e m
seus M i n i s t r o s gosão de j u r i s d i s a o a l g u m a , c o m o p o -
derão ser c o n s i d e r a d o s Sacramentos? E n t r e t a n t o , B e -
n e d i t o X I V . os d e c l a r o u v a l i d o s , i n d e p e n d e n t e s de se-
r e m r a t i f i c a d o s em prezensa d o P á r o c o , a i n d a q u a n d o
c o n v e r t i d o s . (8) . ' ,

(5) E;>ist. ad Rustic. Narb.


(íi) S. Àgost Tom. i\. pql. 375 — Vejase Pocief no seu tratado
do matrimônio c D u p e i m Bíbliot. dos Aut. Eclez 5. scc. 1. parte.
(7) T e r t u l i a n o l i b . 2 ad uxor. S. Agost. de conjug. adult. Lib. 1.
cap. 2é —r.Ôhiod/ E l i b . can. 15 —
\tS) Tom. i . B o i . pa^. «7.—Breve de 13 de M a i o dc 174 Jh
5
O s Católicos c o n t r a i n d o c o m i m p e d i m e n t o oculto
d i r i m e n t e , e dispensados o c u l t a m e n t e , estão v e r d a d e i r a -
m e n t e c a z a d o s , não o b s t a n t e a f a l t a d a prezensa d o
Pároco , c o m o r e z o l v e u o m e s m o B e n e d i t o X I V . á
instância d a P e n i t e n c i a r i a , f u n d a n d o s e n a declarasão
de P i o V. ( 9 )
O s Cristãos, q u e c a z a o p o r Procurasão forão
s e m p r e r e p u t a d o s v e r d a d e i r a m e n t e cazados , não obs-
t a n t e n u n c a r e v a l i d a r e m os seus Matrimônios em p r e -
zensa d o Pároco ; e n t r e t a n t o é insustentável , q u e a u -
mentes posão receber S a c r a m e n t o p o r procurasão; não
p o d e n d o realizarse a união d a matéria , e f o r m a a p l i -
c a d a p e l o M i n i s t r o aos s u g e i t o s , q u e o r e c e b e m :
c i r c u n s t a n c i a esencial, n o parecer de todos os T e ó l o g o s ,
ao v a l o r d o S a c r a m e n t o . E p a r a p o u p a r m e ao t r a b a l h o
de r e f u t a r as razões f r i v o l a s , c o m q u e a l g u n s q u e r e m
s u s t e n t a r a e i z i s t e n c i a d o S a c r a m e n t o em taes C a z a r p e n -
tos eu me servirei d a a u t o r i d a d e d o g r a n d e Carto
q u e não só a f i r m a , q u e a I g r e j a n u n c a e n s i n o u , q u e
t o d o s oá Matrimônios d o s F i e i s fosem Sacramento,
mas tãobem j u l g a não merecer resposta a e s t u l t i c i a , e
l o u c u r a dos q u e sustentão o c o n t r a r i o . ( 1 0 )
Os B i g a i n o s , são p r i v a d o s d a B e n s ã o N u p c i a l y

em q u e t o d a a antigüidade, e a i n d a o j e a I g r e j a G r e -
ga fas c o n s i s t i r o S a c r a m e n t o : e as S. as
e 4*as n u p c i a s
forão tão c o n d e n a d a s , q u e severas p e n i t e n c i a s se i m -
p u n h ã o aos q u e ^s celebravão ; e n t r e t a n t o taes C a s a -
m e n t o s forão r e p u t a d o s v a l i d o s , n ã o o b s t a n t e a aver-*
são , q u e a I g r e j a lhes t i n h a ; e a i n d a o são e n t r e nós
a pezar d a f a l t a d a Bensão N u p c i a l ( 1 1 )
O s Matrimônios C l a n d e s t i n o s antes d o C o n c i l i o d e
T r e n t o forão r e p u t a d o s v a l i d o s , não o b s t a n t e a f a l t a
d e ' M i n i s t r o s , q u e os celébrasem. ( 1 2 )

(9) Consulte-se a L u b i Sistem. de Teolog. t r . de M a t r i m .


(10) Cano. L i b . 8. caj>. 5. Lease a Palavicino i n H i s t . l i b . 23.
cap. 9. .- % -/jjfcwfy
(11) As Const. Apost. L i b . 3. cap. 2. x a m a ilícitas as segundas
N u p c i a s , intemperansa as terceiras', e as seguintes f o n i i c a s a p , e ate
petulância.
S. Greg. Nàüzi. Orat. 31. S. Basil. e 4. & c . O Cone. de S a i a -
m a u c a eip 133$ até sépersuadio no c. 11 que níío sedevia dar a Ben-
são nas segundas Nupcias para não r e i t e r a r o Sacramento.
(12) Cone. T r i d Ses. 2 4 — J á cm 400 u m Cone. de toda Espanha
congregado em T o l e d o , no can. 19 a v i a d e t e r m i n a d o , que r.fio fosem
£is comunga dos os q-ie tiveserçl uma só Concabiua c m l u g a r de mu*
lher. T a n t o se não jülgava necesario o Sacramento para a.yalidade da
C o b f r a t o > u m a vc&> que as leis o nao ai)uías-m.
6
O Celebre C a r r a n z a n o seu Catecismo a p r o v a d o
p o r u m a Congregasão d o C o n c i l i o de T r e i n o , r e f e r e ,
q u e em algumas Províncias era costume cazar perante
o M a g i s t r a d o antes de i r á I g r e j a receber o Sacramen-
to ; e q u e neste cazo se p o d i a uzar d o Matrimônio sem
pecado. P r a t i c a sem d u v i d a f u n d a d a na d o u t r i n a d e
S. A m b r o s i o , e outros P a d r e s b e m como no D i r e i t o
C a n o n i c o . (io)
T o d o s estes factos , e p r o c e d i m e n t o s d a I g r e j a
provão c o n c l u d e n t e m e n t e a separasão d o C o n t r a t o , e
d o Sacramento no Matrimônio, e que entre os mesmos
Católicos t e m eizistido , e ainda eizistem m u i t o s caza-
dos somente p o r C o n t r a t o sem inconveniente a l g u m ,
n e m sombra de pecado.
P a r a responder a estes argumentos se tem r e c o r r i -
d o ao eispediente de afirmar , q u e os Matrimônios en-
tre .ps Cristãos de C o n t r a t o se elevão á Sacramento ,
sendo» deTes M i n i s t r o s os mesmos Contraentes ; e q u e
p o r isso o Sacerdote não é mais q u e u m a testemunha
q u a l i f i c a d a e i z i g i d a pelos^ Cânones ; e q u e ã Bensão
não pasa de u m a C e r e m o n i a d a I g r e j a sem efeito a l -
g u m Sacramentai. O absurdo desta opinião se eviden-
cia pelo q u e pasamos a observar.
C o m o poderseá c o m p r e e n d e r , q u e no B a t i s m o , e
P e n i t e n c i a , Sacramentos necesarios «á salvasão , não
posa o mesmo S u g e i t o , a i n d a q u e Sacerdote seja ,
administralos á si mesmo n o cazo o mais u r g e n t e ; e
que no Matrimônio , S a c r a m e n t o de n e n h u m a sorte
necesario á salvasão , o posão fazer os mesmos C o n -
traentes , arvorandose em M i n i s t r o s , e n t r a n d o n a J e -
r a r q u i a E c l e z i a s t i c a ; e i s c l u i n d o asim este S a c r a m e n t o
d o Ministério Sacerdotal , c u j a esencia consiste no po-
der de r e p a r t i r aos Fieis as grasas d o S a l v a d o r , co-
m u n i c a d a s ' p o r meio dos Sacramentos? E s t a eicesão
é r e p r o v a d a pela p r a t i c a d a I g r e j a : é c o n t r a r i a á na-
tureza d o S a c r a m e n t o , e contentada p o r g r a v i s i m o s
Autores.
Os E r e g e s , q u e não crem n o S a c r a m e n t o d o M a -
trimônio, nao p o d e m ser M i n i s t r o s deles. E n t r e t a n t o

Yirç. cap. J$» q


ranjujium pactio conjugalis
7
v a l i d a m e n t e c o n t r a e m Matrimônios; e , c o m o j a notá-
m o s , B e n e d i t o X I V . não p e r m i t e r e v a l i d a t o s , q u a n d o
se convertem.
O Católico pode cazavse v a l i d a m e n t e c o m o E r e -
o*e ; e a i n d a mesmo c o m o i n f i e l , sendo para isso d i s -
pensado , e eu não s e i , c o m o d e v e n d o ambos ser M i -
nistros deste S a c r a m e n t o , pasa neste cazo somente o
Católico a a d m i n i s t r a i o ; p o r q u e o E r e g e , e o i n f i e l
não c r e , n e m quer f a z e r , nem receber t a l Sacramen-
t o ; e n e m q u e o E r e g e quizesse , p o d i a fafcer, o u
r e c e b e r , p o r estar e i s c o m u n g a d o , e p o r iso p r i v a d o
dos d i r e i t o s , q u e l h e c o m p e t e m , c o m o Cristão.
D e m a i s : sem intensão de a d m i n i s t r a r S a c r a m e n t o
( 1 4 ) o M i n i s t r o não fas S a c r a m e n t o . E não t e n d o e n t r e
nós n e n h u m C o n t r a e n t e intensão de o fazer ; p o r q u e
ignorão t a l Ministério, o u jurisdisão d a sua p a r t e ,
antes estando persuadidos , q u e o vão receber d o Sa-
cerdote ; c o m o pode darse S a c r a m e n t o d o M ^ i m c f t r t o ^ -
nos actuaes Cazamentos dos Católicos ?
S u p o n h a m o s p o r é m , q u e o C o n t r a t o c i v i l se trans-
f o r m a em S a c r a m e n t o ; e q u e entre os Cristãos o p r i -
m e i r o é inseparável d o segundo. C o m o a baze , e m
q u e repouza o S a c r a m e n t o , não d i g o b e m : c o m o a
C o n t r a t o l e g i t i m o é o único o b j e c t o elevado a Sacra-
m e n t o ; sendo a eizistencia daquele a n t e r i o r á d e s t e ,
e i n d u b i t a v e l , ( p i e o P o d e r t e m p o r a l nada perde d e
sua a u t o r i d a d e sobre o C o n t r a t o c i v i l , q u e em t u d o
c o n t i n u a a serlhe s u b o r d i n a d o , a i n d a mesmo depois
de elevado a Sacramento. E asim c o m o o Cidadão p o r
se fazer Cristão não d e i x a em t u d o q u a n t o respeita
á o r d e m c i v i l , de estar s u b o r d i n a d o ao P o d e r tem-
p o r a l ; posto q u e seu caráter i n d i v i d u a l , o u sua d i g -
n i d a d e pesoal se a x e elevada pela forsa d o B a t i s m o á
n m a mais a l t a C a t e g o r i a , e d e b a i x o desta n o v a reia-
são s u b o r d i n a d o ao P o d e r E s p i r i t u a l : asim o C o n -
t r a t o d o Matrimônio ó em t u d o sugeito ás leis d a so-
ciedade, posto q u e elevado á| S a c r a m e n t o , d e b a i x o de
c u j a relasão está i g u a l m e n t e s u b o r d i n a d o ás leis d a /
I g r e j a . D o n d e se c o n c l u e , q u e se dois indivíduos con-
traírem Matrimônio segundo as leis c i v i s , e não sejjun-
d o as leis E c l e z i a s t i c a s , estarão v a l i d a m e n t e cazados 3

posto q u e talvez não tenhão r e c e b i d o S a c r a m e n t o .


O* dois Poderes são independentes. C a d a l i u m

(14) C o n c i l . T r i d . Scsão /, Can 11.

« i
pôde Legislar nos o b j e c t o s de sua competência, mas
o Poder Espiritual p o r i s o mesmo q u e t e m p o r fim
i m e d i a t o a salvasão das almas , e não a tranqüilidade
p u b l i c a , c o m o a t e m a A u t o r i d a d e c i v i l , não pôde
d e t e r m i n a r c o i z a a l g u m a não necesaria àquele f i m ,
q u e esteja em opozisão ás leis d o P o d e r t e m p o r a l , o u
q u e p o r q u a l q u e r m a n e i r a l h e pertensão, a não a d -
mitirse a máxima absurda , e antisocial da influencia
d ' u m P o d e r sobre o u t r o , c o m r e c i p r o c a i n v a z f i o d e
a t r i b u i s o e s ; dV c u i o c o n f l i c t o t e m sempre a p a r e c i d o f u -
nestisimos r e z u l t a d o s .
Está pois demonstrado pela n a t u r e z a d o mesmo
Matrimônio q u e ele é i n t e i r a , e p r i v a t i v a m e n t e s u g e i t o
ao P o d e r t e m p o r a l , o u se considere o C o n t r a t o d i s -
tincto do Sacramento, ou reunidos pela nova categoria,
q u e a grasa l h e confere n o mesmo m o m e n t o , em q u e
•e realifeg a convensão. C o n t i n u a r e m o s a p r o v a r a nossa
Pi^oWzisãb p e l o u z o , q u e deste d i r e i t o üzerão os S o -
beranos Católicos não só sem r e l u c t a n c i a d a I g r e j a ,
mas a i n d a c o m sua d e c i d i d a aprovasão.

P R O V A - S E 2.o

Pelo utOy que deste direito tem feito o Poder tem-


poral*

Convertemse os Imperadores Romanos. As só-


lidas v i r t u d e s dos Pastores d a I g r e j a , suas l u z e s ,
sua c a r i d a d e , e os prodígios, q u e então o b r a v a o ,
lhes a t r a e m t o d a a sorte de venerasao. lzensoes,
privilégios , e d o n a t i v o s os eizaltão , e engrandecera ;
e os mesmos o b j e c t o s temporaes são levados ao seu
T r i b u n a l , c o m o mais j u s t o , i m p a r c i a l , e x e i o d e
e n u i d a d e . T u d o isto a c o n t e c e ; mas n e m os I m p e r a -
dores cedem á I g r e j a o d i r e i t o de r e g u l a r o M a t r i -
mônio , n e m e l a r e c l a m a p o r u m t a l d i r e i t o . A s leis
anteriores são i n t e i r a m e n t e o b s e r v a d a s ; e a I g r e j a so-
m e n t e v i g i a , e zela n a sua eizecusão.
J u s u n i a n o , este I m p e r a d o r q u e t a n t o l e g i s l o u so-
b r e negócios E c l e z i a s t i c o * em n e n h u m a de suas leis
tas mensão d o U i t o sagrado , q u a n d o t r a t a d o M a -
trimônio. E l e a n u l a os C a z a m e n t o s das pesoas cons-
tituídas em d i g n i d a d e , q u a n d o não f o r e m precedidos
d'uma éstipuiasão de dote. Q u a n t o aos matrimônios
9
das pesoas d'um estado menos elevado o Imperador
lhes concede a a l t e r n a t i v a d u estipulasão d o d o t e ,
o u irem á u m a I g r e j a , q u e qnizeseru , e nela decla-
r a r em prezensa d o D e f e n s o r , e de tres , o u q u a t r o
Clérigos d a mesma, q u e se tomavão m u t u a m e n t e p o r
espozos , &c. Q u a n t o ás pesoas de b a i x a condisão,
lhes permite cazarem sem as referidas formalidades. ( 1 5 )
U m século antes t i n h a T e o d o s i o , o V a l e n t e de-
clarado validos os Matrimônios entre pesoas de i g u a l
condirão, sendo firmados pelo consentimento dos mes-
jfnoe, e provados pelo testemuho de s 6 U S
N o O r i e n t e c L e ã o o F i l o z o f o , que em prínci-
pe do 10 século ias d a Bervsao N u p c i a l u m a con-
disão necesaria ao valor do Matrimônio ; ( 1 6 ) dispen-
sados dela os escravos, a que os sugeitou A l e i x o Co-
meno.
N o Ocidente é de Carlos M a g n o ç m ;
que em muitos cazos se fas u m a necesidadt;
são N u p c i a l . ( 1 7 )
Tabaró d i s — S e consuUaes os diferentes títulos
d a l e i S a l i c a d a dos G o d o s , dos Vezigodos &c. , p o r
t o d a a parte o Soberano estatue sobre o C o n t r a t o ,
r e g u l a as f o r m a s , e as çondisões : concede, ou nega
dispensas ; aparecendo sempre o C o n t r a t o separado
-jjo Sacramento. ( 1 8 )
üaguesó dis que nos nove p r i m e i r o s séculos a I g r e -
j a se c o n f o r m a v a ás L e i s d o E s t a d o ; e j a mais se
atreveu a onrar com o Sacramento u m a união conde-
nada pelas leis dos Príncipes. ( 1 9 )
X a t i z e l depois de sustentar este mesmo p a r e c e r ,
acrecenta, q u e até o 14.° século a istoria oferece
trasos deste uzo. ( 2 0 )

L i b . 4. Decret. tit 19. e 8—7 se dis c l a r a m e n t e que o S a c r a m e n t a


( e m senti.lo l a t o ) do matrimônio c i z i s t e t a n t o e n t r e os f i e i s , c o m o
e n t r e os infiéis..— Sacramentam co??jvgii ajmd fiãefcè^ et injl deles
existi t. ... / « ' .; -v •\ >• k
(In) L e i 23. par. 7 Cod. de nnpt.
(16) Cohst: Emp. Leon. 39.
(17) —
Cap. 408 l i b . (] 179. l i b . 7.
(18) T a b a r ó — D o C o n t r a t o , c xlo S a c r a m e n t o do Matrimônio.;
(19) T o m . è. edit.. em 4. p a g . GO.
(20) Teodozio estabelecendo o i m p e d i m e n t o de consangüinidade
e m 2\ gráo , se. rezgrva eiápre'$àm&ntè o d i r e i t o de o dispensar. Êra-
xflio dispelison n svm^sirvo para ca/ar c o m sua sobrinha M n r u n h á :
i c c ; ; ; : r i c ' u a Itália d i ^ e n s a v a nos iinpedirríèntòs a n t e s , c depois dè
c o n t r a i dos os Matrimônios. VciiStè em Flodoard. I s t . Éc\Ç%» o facto
do Bodueim, cujo cazameuto < foi Aclarado nulo p o r u m a Astáabléá
3
10

E m 1635 ainda na Fransa erao nulos os caza-


mentos dos Príncipes de sangue R e a l , sem o con-
sentimento do R e i ; e L u i s I J . não d u v i d o u p o r esta
cauza declarar i n v a l i d o o Matrimônio de seu irmão
Gastão : e sendo levado este negocio á u m C o n c i l i o
N a c i o n a l , e cònsultadoã os Teólogos ; f o i por t o d o s
reputado n u l o . ( 2 1 )
A i n d a qje são nulos os Matrimônios dos filhos
famílias na F r a n s a , e na Áustria; e neste Império c
u m a condisão necesaria ao valor do C o n t r a t o os P r o -
clamas; e por l e i novisiina o simples adultério pro-
s a d o em juízo ( 2 i ) é u m i m p e d i m e n t o d i r i m i nte.~Res-
v

ta somente observar a # d o u t r i n a da I g r e j a a este res-


peito. . ^ i
".

PROVA-SE 3/

Pela doutrina dos primeiros séculos da Igreja.

Atcnagoras, na sua Apologia dirigida a Marco


Aurélio, e C ô m o d o asevera ; que os Cristãos não reco*
nhecião por mulher senão a que tinhao recebido con»
forme as suas leis. — ( 2 3 ) í
Celestino L° c o n s u l t a d o sobre o secundo M a t r i m o -
n i o de u m que a b a n d o n o u o I.Q p o r não ter *ido cele-
b r a d o em face da I g r e j a ; resolve a favor do p r i m e i -
ro , a fim de que se não vilipendiase a fé do jura*
vunto ; c se guarda se a promesa reciproca. ( 2 4 )
S. B a z i l i o faz consistir a v a l i d a d e dos Matrimô-
nios dos escravos , e filhos fa m i lhas n o c o n s e n t i m e n t o
dos p a i s , e Senhores. ( 2 5 )
S. Ambrozio reconhecia a esencia d o Matrimô-
n i o na convenção, bem como 8. João C m o s t o m o ; o
q u a l apezar de confesar , q u e os Soberanos p o d e m

Sor.^ons, por falta do co&senlimento de Carlos q Calvo. E no-


;avel a ra^as io do Cazaniento de João filtra do Rei da Boêmia pelo
r

Imperador L u i i 4. e a dispensa dada pelo mesmo a Margarida p a r a


t o r n a r a taxar com sen parente
(21) Memórias do Clero da Fr.
(22) L u b i Sisten. de Teoiog. no \v. do Matr..
•(23) Segundo a correesao de D. Prud. M a r a n t &d calcem oper. Sv
Jusiin. *
(21 Decret. G r a U Causa 35 Quest, 6. c a i u 2.
(26/ -Epist, 2, ad Amphileca.
11
errar nas suas l e i s ; com t u d o declara que se lhes
deve obedecer, quer seja quando se cazao, ou
quando fazem testamento; por que alias e o acto
invalido , e inútil ( 2 6 )
S A g o s t i n h o e n s i n a , que os cazamentos dos
consobrinhos erao lícitos ; por que a lei Divina os
não proibio , e nem as leis umanüs os avião ainda
nroibido. ( 2 7 ) ., . .
O C o n c i l i o de Orleans em 5 4 1 declara nulos
cs matrimônios dos escravos, e filhos famílias, em
quanto os senhores, e pais lhes não derem o seu
consentimento. ( 2 8 ) j
Teodoro de C a n t u a n a d i s na sua Coiesao de
Cânones, que entre os Latinos os cazamentos erao
só permitidos fora do â.o grão, segundo constava
das questões Romanas. ( 2 9 )
S. T e o d o r o E s t u d i t a consultado sobre o, valq.r
w

das segundas n u p c i a s , visto que erão privadas da


Bensão , em que os Gregos faziao consistir o Sacra-
mento, responde a f o i t o , que erão verdadeiros Matri-
mônios uma vez que fosem contraídos segundo as
leis. (30) _ .
Nicoláo l.° responde aos Bispos de B n i g a n a ,
que as leis Romanas proibião o cazamento entre os
plhos naturaes , e adoptivos ; e que segundo as leis era
bastante o consenso das partes, e que se podia
deixar de receber a Bensão nupciat~sem pecado.
A d r i a n o 2.« consultado sobre u m Matrimônio r e -
vestido de todas as formalidades prescritas pela l e i
c i v i l , mas sem intervensão do Ministério Sacerdotal ,
rezolve., que tal 3fatrimonio não oferecendo nada de
contrario ás leis Canonicas, não devia ser impe»
dido.(32)
Y v o de X a r t r e s o mais a b i l Canonista do 12;
século, estabelece em todas as suas Cartas , que o

(26) S. Ambrosio na Ep. 13 a Syirec d i z i a , que Deos não po-


dia aprovar os Cazamentos dos fieis com os infiéis , pyr que a l e i
os proibia. Vejase a sua Epist. a Paterno — Jo. Cr. Houiil. 15 ad
pop. Autioch.
(27) De Civit. Dei l i b . 15 cap. 1.6.
(2á; Tom. 5 col. 835.
t ^ V (29) Tom. I . Spicileg.
(3U) Epist. 50 ad Naucra.
(31) Concil Tom. tf. artl 2. col. 517 art. 3. Col. 518.
' 13*) Beluz. Miscell. tom. 1.
3 u
12

Matrimônio não ê valido, ou invalido senão em vir-


tudo das leis civis. (33)
A l e x a n d r e J.o c o n s u l t a d o sobre a v a l i d a d e d'uip
Matrimônio contraído s o m e n t e com as s o l e n i d a d e s da
l e i ; resolveu, que era tão valioso, que se tomase
a cazar o sujeito com outra, ainda depois da copu-
la carnal, devia ser obrigado a voltar ao primeiro
Matrimônio. («Li í)
B e n e d i t o 10 c o n s u l t a d o p e l o P a t r i a r c a G a u d e n c i o ,
se a v i a impedimento e n t r e u m a mosa , e u m m o s o ,
q u e t i n h a c o n t r a i d o esponsaea c o m a d e f u n t a irmít
d e s t a , r e s o l v e — q u e ele não podia condenar U)n Jía-
J

trimonio que nem a Escritura, nem as leis civis


eo7idoiavão. (35)
P i o 6.o nos B r e v e s d i r i g i d o s ao B i s p o de L u s o n y

e ao A r c e b i s p o de T a r e u t e z a d e c l a r a v a l i d o s , e l e -
j/;t':mp< os Matrimônios contraídos durante a tíçvolu*
**3ao) com tanto que se tenlião conformado às leis

Benedito 11 ja tinha resolvido no mesmo sentido


a respeito d o s ülandezes. ( N o t . 8.) Mgr. Bispo de
Langres na s u a Instrucsão P a s t o r a l de 15 do M a i s a
de 1791 d e c l a r a , que a Bensão nupcial continuará
a ser administrada aos que a pedirem; sem que se
julgue necesaria para a validade do Contrato
civiL(36)
Inumeráveis são os d o c u m e n t o s , q u e n o s o f e r e c e
a l s t o r i a da I g r e j a , pelos quaes se c o n h e c e , ( p i e o
fundamento d a proibisào, o u d o s impedimentos d i r i -
mentes d o Matrimônio e r a a l e i D i v i n a , o u a d o P o d e r
t e m p o r a l . V e r d a d e c, q u e se eivcontrfio em alguns
P a d r e s , e C o n s i l i o s , p r i n c i p a l m e n t e d o 9.° século, e m
d i a n t e , determinasões r e l a t i v a s ao v a l o r d o M a t r i m ô -
n i o ; unas deve isto atribliirse p a r t e á p o s e , e m q u e
estava a I g r e j a de e i z a m i n a r o v a l o r d o C o n t r a t o pa-

(33) Epist. 167. — Nfotese , que o Cone. 1. general de LafitHO f u n -


da a p rui bisão dos Cazamentos dus parentes nas leis D i v i n a s c Se-
culares.
(3fcj Tom. 10 C o n c i l . c o l . 1571.
(35J Tona. 10 - c o l . Í581. —< . '
(3ty C o n i u l t c s e a celebre conferência de M. Ab, de Cambis c o m o
C a r d i a l A u t o n c l i , que se a*a na Colecsfio dos Breves, onde óCar-
deal sustenta, que o èseucial nos Matrimônios é o uutuO toraenso^
e que por iso apezar da f a l t a d:i; formalidades èizigidas p<l° C o n e
T r i d . nas. £jazaiiientos dos Francezes, devião e=>tes ser cou> ideradus
a

rajiúosi a i V . o coastar de sua invalidade p o r o u t r o p r i n c i p i o & c .


1 v *
13

ra santiricalo com o S a c r a m e n t o ; o q u e insertsivel-


m e n t e condüzio os seus M i n i s t r o s a j u l g a remse a u t o -
r i z a d o s para legislar sobre o mesmo C o n t r a t o : p a r t e
ao c o n s e n t i m e n t o e aprovasão dos Soberanos , q u e
t e n d o r e c o r r i d o á Bensão n u p c i a l , c o m o um meio
mais eíieas de segurar a sorte dos C a z a d o s , e a ones-
t i d a d e dos Matrimônios, m u i t a s vezes remetião aos
M i n i s t r o s d a I g r e j a a decizão sobre o v a l o r dos mes-
mos C o n t r a t o s ; bem c o m o desde C o n s t a n t i n o j a o
tinhão feito a respeito de o u t r a s questões m e r a m e n t e
temporaes ; e parte em f i m á ignorância doa mesmos
Soberanos , q u e nos séculos de trevas se entregarão
todos á direcsão dos Eclesiásticos, ^ q u e então, se a r -
robarão o d i r e i t o de l e g i s l a r não só sobre Matrimô-
nios c o m o tãobem sobre testamentos, sobre as pesoas,
e bens dos E c l e z i a s t i c o s , sobre as I g r e j a s , e até
sobre os d i r e i t o s dos Cidadãos , e sobre a sp^\ç d,os
Impérios. ( 3 7 ) '
C o m o p o r e m n a d a mais fácil d o q u e a r g u m e n -
t a r c o m citasoes vagas , vemos pertenderse r e f u t a r a
todas estas razões c o m o C a n . 4.° d a Ses.. 2 4 dó*
C o n c i l . T r i d . N ó s vamos pois desfazer essa objesão,
que parece i n v e n s i v e l aos q u e não q u e r e m , o u não
podem raciocinar.

O Can. 4 / i da Ses. 2 4 do Concil. Trid. não


prejudica a questão prezente.

Sendo certo este principio de Ermeneutica Sa*


çrada. — Q os Concilio* devem ser
1

interpretados, segundo o fim, que tiverão na for-


ma sã o deste, ou daquele Canon. — E sendo i n d u b i *
tavel , q u e os Padres C o n g r e g a d o s em T r e n t o não
se p r o p u z e r a o o u t r o f i m , q u e c o m b a t e r , e anatema-
t i z a r os erros de L i b e r o , e seus sectários, seguese
e v i d e n t e m e n t e q u e o C a n o n 4.^, de q u e se fes men-
são, não condena o u t r a a l g u m a opinião m a i s , do
que a q u e l a , q u e negava á I g r e j a o poder de esta-

( 3 7 ) F l c u r i 1. e 7. D i s o u r . sobre a I s t . E c l e z . A l e m deste c o n -
sultese aos d i f e r e n t e s C o n c i l ios a i n d a ^eraes : y. g* o 4. de Latrão 5

o n d e se encontrará u m a p e r f e i t a legislasão p e n a l , e c i v i l e m m a t e *
r i a s p u r a m e n t e temporaes.
14
tuir i m p e d i m e n t o s alem dos declarados no L e v i t i c o ;
sem q u e pertendeae d e c i d i r , se o C o n t r a t o d o M a -
trimônio a i n d a mesmo entre os Cristãos é separado d o
S a c r a m e n t o ; e se o d i r e i t o de e s t a t u i r i m p e d i m e n t o s
d i r i m e n t e s , de q u e a I g r e j a estava de pose, lhe e r a
delegado pelo P o d e r t e m p o r a l . O C o n c i l i o d e c i d i o u m a
v e r d a d e , e é , q u e a I g r e j a t i n h a o d i r e i t o de p o r
i m p e d i m e n t o s ; os quaes são verdadeiros e v a l i o z o s ,
ou d i m a n e m d V w a A u t o r i d a d e precária,, e delegada.
ou cPuina A u t o r i d a d e própria, e Ordinária. ( 3 8 )
N e m era p o s i v e l , q u e o C o n c i l i o decidise em
o u t r a s vistas ; eate C o n c i l i o , q u e se t i n h a p r o p o s t o
n a d a d e c i d i r d o g m a t i c a m e n t e sem q u e bazease as suas
decizões na E s c r i t u r a , , e Tradisão; [ c o m o e r a dever
s e u ] e sem o b t e r pela discusão a u n i v e r s a l i d a d e d e
votos. E nesta matéria não só não e n c o n t r a v a na
Escriüya pasagera a l g u m a , ( p i e o favorecese, como
j w l o ^ x o n t r a r i o a Tradisão f o r m a l m e n t e o c o n d e n a v a .
D e m a i s . G r a v i s i m o s Teólogos erão , e continuarão a
ser d a nosa opinião, a i n d a de[)ois d o C o n c i l i o ; o
íjue p r o v a a todas as l u z e s , q u e n a q u e l e C a n o n se
nao teve p o r fim mais d o q u e f i r m a r os Católicos
c o n t r a os Ereges n a d o u t r i n a , de (pie se d e v i a o s u -
g e i t a r aos i m p e d i m e n t o s estabelecidos pela I g r e j a ;
b e m e n t e n d i d o ; e m q u a n t o esta os não r e v o g a s e , o u
q u e m l h e avia c o n c e d i d o , o u p e r m i t i d o o e i z e r c i c i o
d'um t a l d i r e i t o . »
M e l x i o r C a n o , este B i s p o tão celebre n o C o n -
c i l i o de T r e n t o , e q u e p o r seus escritos até o j e me-
reça o r e s p e i t o , e a venerasão dos O r t o d o x o s 9 sus-
t e n t a , que entre os mesmos Católicos á muitos Ma-
trimônios sem caracter de Sacramento; e é evidente
q u e sendo então somente C o n t r a t o s c i v i s , não p o d e m
e:star sugeitos ã jurisdisão d a I g r e j a ; eiceto p o r p e r -
misão d o P o d e r t e m p o r a l . ( 3 9 )
CJiles Foscarari
5 B i s p o de M o d e n a , s u s t e n t a ,
que o Poder temporal nada perdeu do seu direito
sohre o Matrimônio por se aver este elevado a So-
cramenlo. (40)
Catarjno, Bispo d e C o n c a , que tanto b r i l h o u no
mesmo C o n c i l i o asevera, que J. C. fazendo do Matri-

yM) Palavicini I s t . do Cone. T r i d .


(39) Viçj. Not. (10)
M\ T d a v i c i a , l * t , do Cone. L i b , 22,
15

monio um Sacramento nada mudara de seu estado na*


tural e político ; e por isso este Acto ficara Sem*
pre o mesmo, e sugeito da mesma maneira á Au m

toridade que prezide á Ordem Civil. ( 4 1 )


O Celebre P e d r o S o t o , Teólogo de P i o 4.° n o
mesmo C o n c i l i o , d e c l a r a , que por vontade e pieda-
de dos Príncipes a Igreja alcansara o direito de
impor impedimento. ( 4 2 )
J a c o b N a c l a n t o ( 4 3 ) e D o m i n g o s S o t o ( 4 4 ) são
d o mesmo parecer, apezar de asistirem ao Cone. : e
do Can. 4.o d a Ses. 2 4 d o mesmo.
A l e m destes, inumeráveis são os que continuarão
a defender a nosa opinião ; e oje é d o u t r i n a , c o r r e n -
te na maior parte das Universidades da E u r o p a .
D e t u d o isto se c o n c l u e ; q u e o C o n c i l i o d e c i -
d i o somente, q u e os Cristãos deviao sugeitarse aos
i m p e d i m e n t o s estabelecidos pela I g r e j a ; o u que , se
q u i s o u t r a coiza , não f o i nem s e g u i d o , nem adepta-
>tio nesa p a r t e não só p o r muitos E s c r i t o r e s O r t o d o -
x o s , como p o r Estados inteiros q u e não consentirão
na sua pubhcasãó ; e q u e continuarão a estatuir i m *
pedimentos e dispensar n e l e s , apezar do C o n c i l i o aver
d e t e r m i n a d o o c o n t r a r i o . E sendo m á x i m a de S . B e r -
n a r d o , fundada n a d o u t r i n a da I g r e j a — que onde
jluvidao es Ortodoxos ?ião á Dogma — seguese pelo
m e n o s , q u e a nosa opinião nada tem de eretica. ( 4 5 )
C o n s u l t r s e sobre esta matéria á L o n o á na sua f a -
m o z a O b r a — R e g i a iri M a t r i m o n i u m potestas : á An*»
t o u i o Genuense nos seus E l e m e n t o s D o g m . I s t . C r i t .
da T e o l . Crist. Lease a 14 C a r t a de M . L e p l a t
em 1782 ao P a p a P i o 6°: á P e r e i r a , R i e g e r , E i b e l :
o A r t . Mariage, e Empechement da J u r i s p . E c l . i n -
sertos no Dicionário de T e o l o g . de B e r g i e r ; e so-
b r e t o d o s , e mais q u e t u d o lease a O b r a de Tabaró
— p r i n c i p i o u sobre a distinsão d o C o n t r a t o , e d o Sa-
c r a m e n t o d o M a t r i m ô n i o — Edisão de P a r i s 1 8 2 5 ,
onde esta matéria se axa desenvolvida com sabedoria
p r o f u n d a , e vastisima e r u d i s u o ; e se apontão ceie-

(41) Trat. do* Matrimônios Cland. em 1552. . 1

(4«?)
4
L i b . 3. Inst. Christ. — de Saer. Matr. — P c Instr. sacer.-
Í43). Trat. 16 de i r r i t . cland. conj.
(.44) I n 4. cent. Dist. 40.
(45) Fitíes ambig mm non habet, quvd si habet > j/idrs non 4St k
16

bres E s c r i t o r e s , q u e p o d e m ser c o n s u l t a d o s com pro»


veito. ( 4 0 )

RESULTADO GERAL.

Das reflexões feitas nascem necesariamente as se-


g u i n t e s PropozNòes :
J.a Q u e o Matrimônio c o m o c o n t r a t o é i n t e i r a c
p r i v a t i v a m e n t e s u b o r d i n a d o ao P o d e r T e m p o r a l .
2. a Q u e o P o d e r E s p i r i t u a l p o d e ei/dgir c o n d i soes*
som as quaes não t e n h a l u g a r o S a c r a m e n t o .
3. a
Q u e asim c o m o seria u m a t e n t a d o p e r t e n d e r o
Soberano regular o Sacramento , e prescreverlhe for-
m a s c o m o p r e t e i s t o , de q u e t a l . S a c r a m e n t o t e m de re-
c a i r sobre u m C o n t r a t o s u g e i t o á sua jurisdisão ; i g u a l
a t e n t a d o seria a i g r e j a p e r t e n d e r r e g u l a r o C o n t r a t o
-do tyltrtrftnonio, e p r e s c r e v e r l b e iórmas c o m o p r e t e i s t o
d e q u e sobre ele t e m de r e c a h i r o S a c r a m e n t o .
4.a P r e s c r e v e r as r e g r a s , pelas q u a e s se deve c o n -
t r a i r Matrimônio v a l i d a m e n t e c o m o t i m d e p r e e n x e r
os d e s t i n o s d a N a t u r e z a ; eis a q u e se r e d u s a alsada
do Soberano.
5. i
;
E i z a m i n a r , se o C o n t r a t o é l e g i t i m a m e n t e c o n -
traído, s e g u n d o as leis D i v i n a s , e u m a n a s , p a r a
t o r n a r s e d i g n o de ser s a n t i l i c a d o pelo S a c r a m e n t o ;^e
p r e s c r e v e r a f o r m a d a ndministrasão d e s t e ; eis a q u e
*e redus a a u t o r i d a d e d a I g r e j a .
(>. i Q u e a pezar d a pose , em q u e t e m estado a
I g r e j a d e p o r i m p e d i m e n t o s d i s p e n s a r neles , e r e v o -
g u l o s p o r c o n s e n t i m e n t o , ignorância o u pèrmisSo d o
3

P o d e i * t e m p o r a l , c o m o esta j u r i s d i t a o o precária, p o d e
ser casada a t o d a a o r a ; e v o l t a r a q u e m a possue
p o r u m d i r e i t o próprio , e s e n c i a l , e p o r i s o m e s m o
i n a u (crivei»»

(46) Apesar de Ant. Gen. t a l a r . sempre coro tanta rczcrva lias


m á x i m a s (mfamontauas, qü<3 sem duvida detestaVa; com tudo nSd
pôde deixar de e i s p l i c a r s e d e s t a s o r t e Sobre a prezcnfce questão. — Nao
t pequena a controvérsia sobre a competência rio direito de estatuir
impedimentos dirimentes r>o Matrimônio. Pornn como o Matrimônio
é primeira üm contrato civil, sem duvida ao Imperante compete o
regular por suas- leis, Com o Sacramento porem , mm os Sumos Im-
pcrwtes i nem a Igreja ( S.ll.J pode coisa alguma na sua sub-
stancia. Ê C t>nckte : q u e os impedimentos q u e parecem determinados
pela Igreja não suo outros, que os de direito natural ou J)tVÍ1iO^ *
èue pwr i$ ela nào eslatue , ?)i«s decluraos,
Q


17

7 * Q u e o Cone. T r i d . não p e r t e n d e o , nem p o d i a


pertender c o n d e m n a r esta opinião, p o r ser a única ver-
d a d e i r a conforme á n a t u r e z a d o Matrimônio , a p r a t i -
ca da Igreja nos séculos mais felizes d a Religião , e
ao eizemplo de M o n a r c a s Católicos, q u e estabelecerão
impedimentos, dispensarão n e l e s , e revogarão q u a n d o ,
c como julgarão conveniente.

PROPOZISÃO 2.*

Da Nece* idade d"abolisão do Impedimento da


Ordem.

Certos d a jurisdisão eminente d o P o d e r .temporal


nesta matéria, nada mais r e s t a , d o q u e mostrar a
necesidade o u conveniência d a abolisão d o i m p e d i m e n -
to da O r d e m , para q u e o P a d r e posa l e g i t i m a m e n t e
cazar. A necesidade desta abolisão se patentea p o r tres
razões m u i c l a r a s : i . * p o r q u e é i n j u s t o : 2.» p o r q u e
em l u g a r de p r o d u z i r b e n s , ocaziona grandes m a l e s :
3* porque a i n d a q u a n d o não produzise males , é
inútil.

O impedimento da Ordem é injusto.

N e n h u m a l e i umana t e m a caracter de j u s t a , sem


^ s t a r hazeada no d i r e i t o n a t u r a l . A sociedade , seja
q u a l f o r a sua natureza , hão tem , nem pode ter |
o u t r o fim , q u e d i r i g i r os asociados á u m b e m co-
mum. T o d a s as vezes p o i s , q u e u m a l e i q u a l q u e r
p r i v a o Ornem de u m d i r e i t o c o n c e d i d o pelo A u t h o r
da N a t u r e z a , sem ser nos cazos , em q u e a privasao
dese d i r e i t o seja necesaria e indispensável ao b e m ge-
ral , se reveste d' uma injustisa manifesta.
O d i r e i t o , q u e t e m o Ornem de c o n t r a i r m a t r i -
mônio, é u m d i r e i t o esencial á sua espécie : é u m d i -
reito t a o sagrado , q u e em m u i t o s cazos se t o r n a u m
dever i m p o r t a n t i s i m o a sociedade , e ao mesmo indiví-
duo. C o m o pode pois u m a A u t o r i d a d e u m a n a decre-
tar q u e o P a d r e não posa c o n t r a i r matrimônio ?
Determinar^ q u e não posa c o n t r a i r , senão em t a l
idade , q u a n d o a natureza i n d i c a o p e r i o d o , em q u e
4
18

deve ter lugar este Contrato : determinar, que só o


posa fazer além d e certos gráos d e parentesco : de-
t e r m i n a r , q u e não o f a s a , sem preceder o c o n s e n t i -
mento dos q u e dirigem as suas acsoes ; sem certas
f o r m a l i d a d e s q u e posão segurar a e i z i s t e n c i a d o C o n -
t r a t o ; sem certas dispozisoes, q u e fasão l i c i t a , ones*
t a , e p r o v e i t o s a a recepsao d o S a c r a m e n t o ; i s t o é
que se conhece p r u d e n t e , p r a t i c o , e d e n t r o d' a l s a d a
do P o d e r u m ano.
T o d o s os i m p e d i m e n t o s emanados d o P o d e r uma-
n o não se encaminhão a p r i v a r o O r n e m d o d i r e i t o d e
c o n t r a i r matrimônio, mas somente a embarasalo de con-
t r a i r m a l ; só o i m p e d i m e n t o d a O r d e m t e n d e a a n u l a r
este d i r e i t o . N o s o u t r o s i m p e d i m e n t o s se senão pôde
c o n t r a i r deste m o d o , se l h e c o n c e d e fazelo d' a q u e l e
o u t r o : se se não pôde n ' u m t e m p o se l h e c o n c e d e
y

n' o u t r o . N o d a O r d e m não a t e m p o , l u g a r , o u c i r -
c u n s t a n c i a , em q u e se l h e p e r m i t a o u z o d a q u e l e d i -
r e i t o . E s t a única razão p r o v a c o m e v i d e n c i a a i n j u s -
t i s a de t a l i m p e d i m e n t o .
A isto se o b j e c t a , q u e não sendo em g e r a l e s t e ,
ou aquele O r n e m o b r i g a d o a c a z a r , pôde m u i b e m
ceder deste d i r e i t o : razão p l a u z i v e l , c o m q u e se
p e r t e n d e e n c u b r i r a i n j u s t i s a d a lei : mas c u j a i n s u b -
sistencia eu paso a mostrar.
N e n h u m O r n e m pode ceder dos d i r e i t o s c o n c e d i -
dos p e l o A u t o r d a N a t u r e z a a seu b e l prazer. S e r i a
o b r a r i r r e f l e c t i d a m e n t e ; e p o r isso mesmo i r d e en-
c o n t r o á O r d e m geral estabelecida pela P r o v i d e n c i a ,
que tem tudo coordenado á certos, e determinados
íins, aos quaes t o d o o O r n e m é o b r i g a d o a conformarse.
D e m a i s . S e n d o a propensão ao C a z a m e n t o i n a t a , esen-
c i a l íi espécie , p o r isso mesmo sugeita a elevarse á
paixão; e em t a l cazo d i f i c u l t o z i s i m a , e t a l v e z i m -
p o s i v e l . d e vencerse : c o m o pôde o O r n e m sem i m p r u -
dência , sem u m a espécie d e c u l p a v e l o r g u l h o ceder
para sempre d' u m d i r e i t o , q u e m u i t a s vezes i m p o r t a
o mesmo q u e u m d e v e r ; e c u j o sacrifício pode t r a z e r
de e n v o l t a a violasão d e o u t r o s m u i t o s deveres ? I s t o
é t a n t o mais notável , q u a n t o se observa q u e deste 9

Sacrifício tão r a r o , c o m o p e n i v e l , p o u c o , o u n e n h u m
bem rezulta.
P o r t a n t o ceder t e m p o r a r i a m e n t e deste d i r e i t o p o n
e s p i r i t o d e p e n i t e n c i a , o u e i z e r c i c i o , c o m o se e i z p l i -
cão p s a n t i g o s P a d r e s , o u e m v i s t a * d e m e l h o r servir
o seu E m p r e g o : a i n d a m e s m o cede-lo p a r a sempre c o m
id

a clauzula — emquanto esta cesao for compatível com


sua felicidade, com o dezempenho de outros deveres —
eis o que é p r u d e n t e , e aprovado pela Rehgiaó.
Mas a isto se pertende responder; que como a Cpn-
tinencia é posivel á todos , todos os que se sugeita-
rão a ela são eternamente obrigados a permanecer no
celibato. E u não quero apelar para a constituisao da
natureza umana , nem para a istona de seus inúteis
esforsos pela maior parte neste gênero de sacri-
ficios ; quero somente consultar o voto da antigüi-
dade Cristã. f J

S. l g n a c i o no 1.° século dizia — Se algum pode


permanecer na Caslidade fasao com umildade(47)
S. Clemente d' A l e x a n d r i a no 2.° século xarnava
felizes aqueles, a quem Deos concedia o dom daCas*
tidade. ( 4 8 )
S. C i p r i a n o no S.o século q u e r i a , que as mesmas
.Virgens consagradas a Deos que não querião, ou
não podião perseverar na caslidade, se cazasem. ( 4 9 )
S. E o i f a n i o no mesmo século convém, que mui'
tos não podem dispensarse de cazar ( 5 0 ) mais de
uma ves.
S. A g o s t i n h o , e S. J e r o n i m o no 4.° século afirma
que a virgindade ê um dom de Deos , e que não ê
concedido a todos. ( 5 1 )
S. Gregorio M. no 6.° século convém , que os
Clérigos , que não podem guardar continência se
cazem. ( 5 2 )
Inumeráveis são os documentos, que provão que a
continência não é um dom c o m u m ; e que por isso
não convém indistiuctamente a todos. S. P a u l o j a avia
ensinado aos Corintios ; que os que senão continhão,

(47) Siquis potest i n castitate m a n e r e . . . . i n h u m i l i t a t e maneat.


Ep. ad Polyc. n. 5.
(48) Nos quidem èastítatein, eos, quibus hoc a Deo d a t u m est,
beatos dicimus , &c. Str. 3.
(41)) Q u i capere conlmentiám possunt , &c. C y p r . de bab. virg\ Si
autem perseverare nolunt , vel non possuut, melius e s t , u t nubant
&c. Cypr. Ep. ad Pomp.
(50) S. Epif. Hseres. 59 mostrando o seu dezejo pela monogamia,
conclue com t u d o , dizendo — eum v e r o , q u i minus potest, n u l l a
vi coçimus, nec a saiute prorsus excludimus.
( 5 i ) Jeron. adv. J c \ i n .
(52) Resposta á 2. perg. de S. Agost. Ap. siqui vero sunt eleriei
extra sacros Ordines c o n s t i t u t i , q u i se continere non possunt, sorti-
r i uxores debent. Pouco i m p o r t a , que ele só p e r m i t a o cazamento
aos Clérigos inferiores ; o que me serve, é , que ele concorda , em
que alguns Clérigos senão podem conter.
4 i i
20
se cazasem (53), e J. C. bem avia declarado que
« continência era uma dádiva gratuita do Ceo • e
que nem todos erão capazes de tomar a rezolusaa
de a praticar, ( 5 4 )
E' sem d u v i d a p o r estas razoes , a I g r e j a até
q u e

oje nao considera os votos de castidade a i n d a perpé-


tuos , como u m i m p e d i m e n t o q u e obste ao valor d o
Matrimônio. E n t r e t a n t o , se a l g u m facto p o d i a t o r n a r
a O r n e m m a b i l para este c o n t r a c t o , é sem d u v i d a o
V o t o de c a s t i d a d e ; porque e uma prometa delibera-
da por quem é senhor do que promete, feita a Deos
que aceita , por ser um melhor bem , como se^ eis-
p n m e m os Teólogos. N o V o t a n t e não á c o n s t r a n g i -
m e n t o , á somente dezejo de perfeisao. E l e tem cedi-
d o de u m d i r e i t o , de q u e p o d i a g o z a r , o u d e i x a r de
gozar em vistas de se t o r n a r melhor. Parece pois,
que este e m p e n h o sagrado Lhe d e v i a t i r a r t o d a a l i -
berdade^ de v o l t a r j a m a i s ao d i r e i t o cedido. M a s por-
que razão te oje reconhece a I g r e j a validos os m a t r i -
mônios contraídos por taes pesoas ? ( 55 ) E u não des-
c u b r o o u t r a alem da que d a v a S. C i p r i a n o — para
que se não condenem — (56?) p o r q u e Deos não se q u e r
aproveitar da imprudência d o Ornem ; p o r q u e seme-
lhantes votos devem ser considerados uma promesa con-
d i c i o n a l com o f i m da perfeisão; na q u a l se supõem
sempre salva a c i r c u n s t a n c i a de ser ela tão difícil,
que c o m p r o m e t a a sua f e l i c i d a d e : p o r q u e em fim a
i g r e j a está certa de q u e esta é a vontade d o S o b e r a n o
Bem feitor.
O r a «e u l é a d o u t r i n a da I g r e j a a respeito d o s
< ue v o l u n t a r i a m e n t e vota o c a s t i d a d e , c o m o podere-
t

(153) Ep. ad. Cor. 1. cap. 7. poreni cada um tem de Deos seu
rroprto ,dom v. 9. mas senão tem dom de continência , cazemse ; por
que ê melhor cazar se, do que abrazarse. — P e r e i r a .
(51) M a th. cap. l y v. l i — Assim o e n t e n d e m , T e r t u l i a u o , S,Ato-
brósiò , e outro». VéjSòse os Comentários.
(55) Q u a n d o falo de V o t o de castidade, nao faso distinsíío de Vo-
t o s i m p l e s , e solene : sabem todos , que esencialmente são o mes-
mo; e que tanto uns como outros p r o d u z e m i g u a l obrigasão d i a n -
te de l)eos; e que semelhante distinsão foi inventada p o r G r a c i a n o para
c o n c i l i a r a d o u t r i n a de S. A^ost. e outros Padres da antigüidade
c o m o C o n c i l i o Lateranense 2. que fes do voto solene , o u anexo á
profisSo R e l i g i o s a u m i m p # d i m e n t o d i r i m e n t e do Matrimônio; c u j a i
d o u t r i n a c o m t u d o somente se p e r p e t u o u n a I g r e j a não só pelo que
respeita á profisão R e l i g i o z a , como ás Ordens sacras , depois da de-
cizao de Bonifácio 3. cap. u n i . de v o l . et vot. redempt. i n f>.
{p(i) Aíelius e s t , ut n u b a u t , q u a m i n i g u e m deliçtis suis cadaut.
Cvpr. Ep. ad P(Vínp.
21

mos crer , que a promesa feita aos Omens de con-


servar-se n o c e l i b a t o seja tão v a H o z a q u e em n e n h u m
c a z o posa ser q u e b r a d a pelo Matrimônio? D i g a m o s
a verdade. Quando o Ornem f a l t a sua p r o m e s a á
1> eos p o d e n d o , a i n d a q u e c o m d i f i c u l d a d e , c u m p n l - a ,
obra iniquamente; mas seu matrimônio é v a l i d o ;
p o r q u e l h e n a o e l i v r e ceder t o t a l m e n t e , e de u m a ma-
n e i r a a b s o l u t a , deste d i r e i t o : s u a p r o m e s a é em t a l
cazo u m v e r d a d e i r o p r o p o z i t o somente. Q u a n d o f a l t a
á promesa f e i t a aos O m e n s , o b r a táobem c o m iniqüi-
d a d e , q u a n d o sem i n c o n v e n i e n t e e l l e p o d e o b s e r v a l a ,
mas seu matrimônio a i n d a é mais valido ; porque
a violasíío d a s u a p r o m e s a 6 m u i t o menos i n i q u a . (57)
A I g r e j a está tão p e r s u a d i d a desta v e r d a d e q u e
q u a n d o o Cristão l i g a d o p o r u m v o t o se l h e aprezen-
t a , m o s t r a n d o os i n c o n v e n i e n t e s d e s u a p r o m e s a , i n -
terprete da vontade de D e o s f a c i l m e n t e lhe- dispjensa
cio i m p e d i m e n t o q u e c o n t r a i e r n ; e e n t r e m i l rezervas ,
q u e os P a p a s t e m f e i t o , j a m a i s compreenderão es té
i m p e d i m e n t o : ao m e n o s é c e r t o , q u e os B i s p o s o d i s -
p t n s a o sem t e r r e c u r s o a eles.
(£omo se poderá p o i s c o m b i n a r este p r o c e d i m e n t o
com a p r a t i c a i n t r o d u z i d a d e p o i s d o ] 2 . o século d e
j u l g a v n u l o s os matrimônios d o s P a d r e s s o m e n t e p o r -
'que se sujeitarão as leis d a I g r e j a , q u e l k p s proíbe:
Poderá alguém p e r s u a d i r s e , q u e a obrigasão contraída
c o m a I g r e j a seja m a i s f o r t e , d o q u e a contraída c o m
Deos? P a r a os q u e não profesão as m á x i m a s d o
d e s p o t i s m o ; q u e estão c o n v e n c i d o s , q u e não á b e l
p r a z e r justiíicado s o b r e a t e r r a ; e q u e nos mesmos

(57) O C o n c i l . T r i d . Sessão 24 Can. í). a u a t e m a t i / * n d o os q u e c l i -


c e r e m , q u e p o d e m c o n t r a i r matrimônio os q u e não s e n t e m t e r o d o m
ria C a s t i d a d e a i n d a q u e a tenbão v o t a d o , & c . e os què êstãò p r o i b i d o s
e m razão da O r d e m s a c r a ; não embarasa de niníii m a s o r t e , que
pensemos desta m a n e i r a ; p o r q u a n t o este C a n o n j a m a i s pode t e r
p o r t i n i p r o i b i r a decente c e n s u r a , q u e a todo súdito c o m p e t e , r e l a -
t i v a m e n t e á u m a l e i , o u disposição, q u a n d o esta parèsa g r a v o z a , t
i n j u s t a . O C o n c i l i o não p o d i a p o r t a n t o te? o u t r o f i m . do que conde-
n a r a d o u t r i n a a n t i s o c i a ! dos q u e aíirmão , que o súdito [iode i m p u -
n e m e n t e v i o l a r a l e i , só p o r q u e l h e parece i n j u s t a , o u impraticável.
O b e m d a o r d e m pede c e r t a m e n t e q u e a l e i seja r e s p e i t a d a , em q u a n -
to l e g i t i m a m e n t e , não é revogada, o u ao m e n o s e m q u a n t o não se t o r -
n a g e r a l a opinião de s u a i n j u s t i s a , i n u t i l i d a d e o u i m p r a t i c a b i l i d a -
de. E' a s i m , q u e m u i t a s leis t e m caído e m d e z u z o ., c deixarão de
o b r i g a r ; taes são e n t r e o u t r a s m u i t a s , os Cânones p e r i i t e n c i a e s , u u i -
• < a c o i b i d a no j e j u m , a abstinência do s a n g u e , e carnes sufocada?
não o b s t a n t e ser d e c r e t a d a n ' u m C o n c i l i o Apostólico. M a i s a d i a n t e t e r e -
mos ocazião de j u s t i f i c a r a n o s a c o n d u t a em c e n s u r a r a d i c i j l i n a d a
I g r e a l o c a n t e a© c e l i b a t o .
22
i

D e c r e t o s de D e o s se d e s c o b r e m íins s a n t o s , e l o u v a *
v e i s , pelos quaes se mostrão d i g n o s d ' E l e , n e n h u m ?
d u v i d a se oferece em a d o t a r esta v e r d a d e — Que nin-
guém pôde privar o Ornem absolutamente, e a seu
arbítrio, de contrair Matrimônio.—Se dis porém,
q u e t e n d o a I g r e j a d i r e i t o de e i z i g i r certas q u a l i d a -
des nos seus M i n i s t r o s , p o d e e i z i g i r o celibato,
c o m o u m a condisão necesaria. S e m m e t e r m e a i n d a a
d e c i d i r , se ela p r u d e n t e m e n t e eizige deles a c o n t i -
nência p e r f e i t a , d i r e i ; q u e não p o d e n d o p r i v a l o s d o
d i r e i t o q u e o C e o lhes c o n c e d e , c o m o O m e n s , só
l h e c o m p e t e , q u a n d o não queirão sugeitarse á c o n -
tinência, despedilos d o Ministério, de q u e os encar-
regou , c o m o p r a t i c a a I g r e j a d o O r i e n t e , e o fes a
mssma L a t i n a té o 12.<> século*
V o l t e m o s á questão. J a não d i s p u t a r e i com a
I g r e j a sobre o i m p e d i m e n t o da O r d e m ; porque ela
nada pode sobre o C o n t r a t o , d e d i r e i t o próprio. O
P o d e r t e m p o r a l não p o d e p r i v a r , n e m c o n s e n t i r , q u e
o Cidadão seja p r i v a d o d o d i r e i t o de c a z a r ; p o d e so-
mente r e g u l a r este d i r e i t o . D e c r e t a r p o r t a n t o , q u e o
Vs jamais posa c o n t r a i r matrimônio, é u m a b s u r d o ,
u m despotismo, u m a imustisa. Porque é uma injus-
t i s a ; p o r q u e t a l díV^to está em opozisão ás necesida-
des d a n a t u r e z a u m a n a ; p o r q u e t e n d e a o b r i g a r u m a
cia se i n t e i r a á sacrifícios e i s t r a o r d i n a i ios , sacrifícios,
q u e Deos não e i z i g e , mas somente aconselha aos q u e
são capazes d o r m i a t a l rezolusão ; p o r iso semelhan-
te D e c r e t o t e m sido c o n s t a n t e m e n t e i n f r i n g i d o ; e de
sua infrasão t e m r e s u l t a d o maiores m a l e s , d o q u e bens
da sua eizecusão. E i s o q u e pasamos a mostrar.

O Impedimento da Ordem é origem da imoralidade


no Clero.

E' máxima constante entre os que tratão da ciên-


cia d a legislasão — Que jamais se deve estabelecer
uma lei, quando é provável a sua constante transgre-
saò,—Os L e g i s l a d o r e s i m p r u d e n t e s , q u e t e m despre-
z a d o esta m á x i m a , t e m i g u a l m e n t e pasado p e l o des-
gosto de verem i n u t i l i s a d o s t o d o s os seus esforsos , e
a c a b a r e m os seus s u b d i t o s p o r menoscabar as leis a i n -
da as mais j u s t a s . E desde q u e s e m e l h a n t e a b i t o se
c o n t r a e , a i m o r a l i d a d e sobe ao seu a u g e : não a m a i s
o r d e m , nem j u s t i s a ; considerandose cada u m senhor
23

d e r e g u l a r s u a s a c s õ e s , s e g u n d o seus c a p r i x o s , e p a i -
xões. V e r d a d e é q u e os s t i b d i t o s n a o violão, n e m
y

desprezão c o n s t a n t e m e n t e u m a l e i , senão q u a n d o e l a
está em contradisão c o m a n a t u r e z a d a s coizas : o u
c o m a opinião p u b l i c a filha d e seus abiios,'. e e d u -
carão ; q u a n d o e l a é i n e i z e q u i v e l , p o r ser s o m e n t e
a p r o p r i a d a a a l g u n s indivíduos, se não ã t o t a l i d a d e
á q u e se i m p õ e m : o u q u a n d o e m fim é i n s i g n i f i c a n t e
p o r n a d a i n f l u i r n a f e l i c i d a d e p u b l i c a . A p l i c a n d o es-
tas v e r d a d e s á l e i d o i m p e d i m e n t o d a O r d e m , fácil
é d e s c u b r i r a c a u z a p o r q u e , desde q u e f o i imposta ,
d e i x b u d e ser o b s e r v a d a .
N o principio do Cristianismo, quando o fervor,
e o e n t u z i a s m o , q u e i n s p i r a a n o v i d a d e , se a p o d e r o u
dos Cristãos; q u a n d o o e i z e r n p l o d o s O m e n s Apostó-
l i c o s ; e os prodígios, q u e acompanharão o e s t a b e l e c i -
m e n t o d a fteligião, conduzião u a g r a n d e p a r t e á per-
feisão, não é d e a d m i r a r , q n e a continência fose c u l -
t i v a d a , e axase a m a d o r e s e m t o d o s os s e x o s , i d a -
d e s , e condisoes. M a s p o u c o a p o u c o a f r o u x a n d o o
f e r v o r , principiarão os E c l e z i a s t i c o s a resentir-se d a
c o m u m relaxasão. D o p r i n c i p i o d o 4.° século em d i a n -
te a l g u n s C o n c i l i o s p a r t i c u l a r e s p e r t e n d e m ( i r m a r p o r
l e i , o q u e t e então e r a s e g u i d o p o r c o s t u m e , e ã a r -
bitiio de c a d a u m , i s t o é : e i z i g e m a continência
p e r f e i t a c o m o u m a condisão necessária p a r a as O r d e n s
s a c r a s : d i m i t i n d o s e d o E s t a d o Eclesiástico Q P a d r e ,
q n e c o n t r a i a matrimônio. O b s e r v a r e m o s o resultado
desta proibisão.
N a t a l A l e x a n d r e o b s e r v a , q u e a p e z a r das repe-
tidas determinasoes dos P a p a s , e C o n c i l i o s , rarisimos
se sugeitavão ao c e l i b a t o , e ( p i e q u a n t o m a i s se iusis-
t ia n a observância d a L e i , m a i o r e s males a p a r e c i ão.
( 5 8 ) N a v e r d a d e p o r p o u c a atensão , q u e se dê á t u -
toria da I g r e j a , não se p o d e d e i x a r de n o t a r esta
verdade.
O P a p a S i r i c i o nos fins d o 4.o século ja se q u e i -
x a v a a m a r g a m e n t e d o a b u z o d a lei ; e q u e a t e q u -
vessem P a d r e s q u e i g n o r a s e m a proibisão. T a n t o e s -
t a v a e l a em dezuzo. ( 5 9 )
S. J e r o n i m o d e c l a r a averem B i s p o s , q u e j a não
querião o r d e n a r O m e n s s o l t e i r o s p e l o t e m o r q u a z i cer-
t o d e sua i n c o n t i n e n c i a . ( 6 0 ) v

(58) Hist. Eccl. Di§. 4 .sec.


e

{59) E p . ad H i m . *
[<:0) Advers. Vigil.
24
S. Epifanió n o mesmo século c e r t i f i c a , q u e em
m u i t o s lugares se tolerava a i n c o n t i n e n c i a d o C l e r o em
atensão á f r a q u e z a u m a n a , e á f a l t a de pesoas con»
tinentes. ( 6 1 )
S. A m b r c z i o confesa, q u e em m u i t o s l u g a r e s os
P a d r e s não deixavão o u z o d o matrimônio; e q u e
pertendião j u s t i f i c a r s e c o m o c o s t u m e a n t i g o . ( 6 2 )
I n o c e n c i o 1.° no p r i n c i p i o d o 5.° século tolera ,
que os Presbitero? , e D i a c o n o s i u c o n t i n e n t e s , q u e
iíí n o r a vão a D e c r e t a i de S i r i c i o , fosem conservados
em suas Ordens. Q u a n t o estava e l a esquecida , a pe-
zar de não ter mais d e 2 0 anos d e d a t a ! (63)
Inumeráveis são os C o n c i l i o s , q u e procurão r e -
n o v a r a l e i sempre c a i d a e m esquecimento. E l e s não
poupão penas E c l e z i a s t i c a s ; e m u i t a s vezes eizorbitão ,
d e c r e t a n d o penas t e m p o r a e s , e a l g u m a s revestidas d e
taes i n j u s t i s a s , q u e se não p o d e m d e s c u l p a r .
C<!>m efeito vemse C o n c i l i o s d e c r e t a n d o pena <U %

depozisão ao P a d r e q u e c a z a , prizão p e r p e t u a , j e j u m
a pão e agoa p o r t o d a a v i d a : e asoites até c o r r e r
sangue. ( 6 4 )
" O u t r o s p r o i b i n d o d a r m u l h e r e s em cazamento aos
P a d r e s , c o n d e n a n d o a asoites as m u l h e r e s s u s p e i t a s ;
m a n d a n d o l h e s c o r t a r os cabelos p o r i g n o i n j h i a ; de-
c r e t a n d o a eisj>atriasão delas , e a t e p e r m i i t i n d o ven-
didas , e d a r o seo v a l o r aos pobres. ( 6 5 )
O u t r o s e i s c l u i n d o os filhos d o s P a d r e s d a O r d e -
nãsão, e Benefícios E c l e z i a s t i c o s ; d e c l a r a n d o o s ilegí-
t i m o s ; i n c a p a i e s de p o s s u i r : c o n f i s c a n d o os seus ben-
para as I g r e j a s , o n d e seus pais servião : c o n d e n a n d o -
os a c a t i v e i r o , e até e i s c o r n u n g a n d o os J u i z e s , q u e
os quizesem l i b e r t a r . ( 6 6 ) A q u e maiores eiscesos se
pode xeo-ar em legislasão c r i m i n a l ?

(C)\) Hoeres ML. . j p r o p t e r h o m i n u m ignaviam ob n i m i a m po-


p u l i multidíneinj c u m seilicet q u i ad eas se functiones a p p l i c e n t ,
non íacíle reperiuntur. m

(62) quod eo non prseterii , quta i n plcnsque abditionbus


locis, c u m M i n i s t e r i u i n gererent, vel etiam Sacerdotium , filios susce-
perunt.; et i d tanquam usu vetéro defendunt , &.
(63) Epist. ad lítitüp.
<64) Cone. de Toledo can. 1. em 5 9 7 . — D i t o em 653 can. 4 ,
5 , o 6. -Germânico em 742 c. 6. — V o r m e s em 868 c. 9. & c .
(65) Concil. de T o l e d o em 633 can. 43. — Ausbur^. em 952 can.
4 > _4
Londres H 2 7 c. 7. & c .
(66) C o n c i l . de Toledo em «53 c. 10. — P a v i a em 101* can. d ,
e 4 . — B u r g o — e m 1031 c. 8. P i c t a r i e n s e em 1078 can. 8. — Cler-
*ont. em 1095 can. 11 — & c .
25

O que acontece porém ? o m a l c o n t i n u a : o


escândalo se a u m e n t a : e t o d o s os remédios são i n e i
ficazes.
Der/de q u e são a d m i t i d o s os c e l i b a t a r i o s ao E s ^
t a d o E c l e z i a s t i c o p o r devosão, a i n d a antes d a l e i ,
são freqüentes os a b u z o s , q u e em vão os C o n c i l i o s
procurarão r e m e d i a r , O C o n c i l i o g e r a l de N i c c a e m
3 2 5 é o p r i m e i r o em p r o i b i r aos P a d r e s a c o m p a n h i a
de m u l h e r e s s u s p e i t a s ; e a t a n t o x e g o u o m a l , q u e
as mesmas irmãs forão p r o i b i d a s de a b i t a r c o m e l e s ;
e até as m a i s , p o r cauza das m u l h e r e s q u e as acorn-
panhavão ( 6 7 ) .
C a n s a d o s em fim os C o n c i l i o s de p r e v e n i r a i n -
continencia dos P a d r e s i n u t i l m e n t e : v e n d o f r u s t r a d a s
as penas d e c r e t a d a s j a c o n t r a os mesmos P a d r e s j a
c o n t r a as c o n c u b i n a s , j a - e m fim c o n t r a os seus i n o -
centes filhos ; pasarão a p r o i b i r - os fieis de lhes o u v i r
|as misas c o m o se já não t i v e s e i n forsa p a r a os SUS*
pender, ou dimitir. Os Escritores nos f a z e m ••uma
t r i s t e p i n t u r a da. v i d a l i c e n c i o z a d o s P a d r e s , e t a n t a s ,
e tão d i f e r e n t e s leis p a r a p u n i l a , provão c o n c l u d e n -
t<emente não só a c o n s t a n t e transgresão d a l e i , c o m o
a insuficiência de t o d o s os meios a p l i c a d o s a pre-
venila. ( 6 8 ) .
, O nUiraó C o n c i l i o g e r a l não d e s c u b r i n d o m a i s
remédio ao m a l , c o n t e n t o u s e em p r i v a r o Clérigo B e -
n e f i c i a d o d a S'. p a r t e d o s r e n d i m e n t o s d o B?neíício-
a

p e l a p r i m e i r a v e s , q u e fose j u l g a d o concubinado ;
p d a s e g u n d a , de t o d o s ; e só pela t e r c e i r a o m a n d a
s u s p e n d e r , mas não d i m i t i r . C o m e f e i t o , se penas
rigorozas, e até b a r b a r a s , e i n j u s t a s não puderão
v e d a r o c o n c u b i n a t o , c o m o seria p o s i v e l f a z e l o sesar
p o r taes meios ? E m fim o q u e d a n t e s se p r a t i c o u ó
m e s m o q u e o j e se p r a t i c a ; e o E c l e z i a s t i c o não é
m a i s c a s t i g a d o , se não q u a n d o u m i n i m i g o v a i r e - *
s u s c i t a r c o n t r a ele n o f o r o , u m a l e i , que tanto3
séculos t e m de d e z u z o , q u a n t o s são os d a s u a i n s -
tituisao.
O s castigos p r o n t o s , e severos p o d e m t o r n a r o
P a d r e mais a c a u t e l a d o ; e a opinião p u b l i c a p o d e
J 1
., • • • « - •• -
(67) Concil. de T u rs. em 566 , Can. 10 e I I . — Maiensa em 883
e 10. Coüsultesé a I l i x a r d sobre este Concil. na sua Analise do* Con-
c i l , — Lease a S. João Criz no seu t r a t . contra a abit. com. *$5 '' :

Cler.
(68) Consultese a N i col Ao de Clemangis no seu* O p u s c . — Do es-
tado da corrusão da I g r . &c. — O Pranto da i g r e j a por Álvaro Pel ^ i o .
jpr a S, Pedro Damião no seu Escrito còutra os Clérigos impudicos, & & •
5
26
oferecer uma barreira ao escândalo , mas qual o re-
s u l t a d o ? O s escândalos são menos freqüentes, m a s
a continência não é p o r i s o m u i t o mais g u a r d a d a ; e
á s o m b r a d o ministério, maiores são os c r i m e s , q u e
a i n d u s t r i a oferece á necesidade ( 6 9 ) ,
D e v e n o t a r s e , q u e a i n continência não è u m
v i c i o p r i v a t i v o dos E c l e z i a s t i c o s ; mas i n e r e n t e a t o d a a
sorte de c e l i b a t a r i o s ( d a d a s c o m t u d o a l g u m a s eicesoes ) .
iNo o*.o e 4.° século, este século de f u r o r p a r a
a continência, vemos a t r i s t e p i n t u r a , q u e nos f a z e m
das mesmas V i r g e n s S. J e r o n i m o , e S. C i p r i a n q , ; e
este P a d r e respeitável, v e r d a d e i r a t o x a d a I g r e j a ,
avansou-se até p r a t i c a r o q u e o j e a q u a l q u e r i d i o t a 7

e ainda mesmo i m o r a l , pareceria i n d e c e n t i s i m o ; é porém


d e s c u l p a v e l , p o r q u e c e d e u ao e s p i r i t o d o seu século:
sim, ele c o n f i a n d o p o u c o nas eisíerioridades das'
V i r g e n s , n o c a z o de- s u s p e i t a , as s u g e i t a v a a um
eizàme v e r g o n h o z o ( 7 0 ) , j j
S a n t o s creados n o r i g o r * d a v i d a m o n a s t i c a , o t i
q u e tinhão a d o t a d o os princípios a n t i g o s , pertendião
p o v o a r o m u n d o i n t e i r o de c e l i b a t a r i o s . Sabese , c o m o
em Milão os p a i s proibião as suas f i l h a s de o u v i r a
S. A m b r o s i o ; e q u a n t o este se r e g o z i j a v a de fazer ]
crecer o n u m e r o das V i r g e n s . C e g o s d o e s p l e n d o r d a s j
v i r t u d e s de a l g u n s M o n g e s e V i r g e n s , parecerão p o u c o * .
a t e n t o s ãs freqüentes desgrasas, q u e a f r a q u e z a u m a -
na aprezentava no combate entre a l e i , Q a natureza.
Q u ã o diferente a conduta d e S. P a u l o , q u e então
se d e s d e n h a v a i m i t a r ! E s t e Apóstolo, c u j o corasão e r a
d i r i g i d o p e l o d e d o de D e o s , d e s c r e v e n d o a T i m ó t e o
o p r o c e d i m e n t o ordinário das V i u v a s mosas ( 7 1 ) c o n -

(69) T r a t a s e da abolisão do C e l i b a t o Clerícãl ; m u i t o s Padres se


opõem , talves p o r suposta decência , ou desconfiados de a c o n s e g u i r ;
mas q u a n d o se v e m a r e a l i z a r , são imensos os que se a p r o v e i t a o
d a l i c e n s a ; eis o que aconteceu n a F r a n 9 a , e na m e s m a I n g l a t e r -
ra q u a n d o em 1548 o P a r l a m e n t o revogou as l e i s , q u e proibião o
Câzamehto dos Padres. D e 16 m i l { 2 se cazarão, d e n t r o e m G anos ,
que t a n t o d u r o u o R e i n a d o de E d u a r d o V. Fleurí. e I s t . da Rev. F r a n -
cesa.
(70) E p i s t . ad Pomp. Inspiciântur Ínterim V i r g i n e s , ab o b s t e t r i -
cibus d i l i g c n t c r — de h a b i t . V i r g . O q n e a i n d a é m a i s notável , e
que já no 2° século eizistião taes a b u z o s , como se pode ver em T e r -
t u l . de vel. V i r g . a d fin. , onde e n t r e o u t r a s c o i z a s se l e m estas —
F a c i l i i m c c o n c i p i u n t , et f e l i c i s s i m e p a r i u n t b u j u s m o d i Virgines r
Bíi^admiUit coacta , e t i n v i t a V i r g i n i t a s . — Vide S. J c r o n E p i s t . a d
E u s t o c h . Cap. 5 v. lí. 12. e 13.
(71) Alem disto vivendo tãobem na ociosidade , elas se acostumao a
andar de casa em casa; não somente feitas ociozas ; mas tàobcm pai-
rciras , e curiozas, falando-o que nao çonvem. — Pereira,
clue dizendo. — Quero pois, que as que sao mosas^
se catem , criem filhos, governem a caza, que nao
dem ocasião ao adversário de dizer mal ; porque ja
fílmmàs se perverterão por irem após de Satarias.—
P r u d e n t e em seu z e l o , não i n s i s t i o em q u e as V i u v a s
trabalhasem p o r ser c o n t i n e n t e s ; a p l i c o u ao m a l o
seu v e r d a d e i r o remédio. .
A ' v i s t a d o eisposto comparem-se os bens n a c i d o s
d a eizecusão d a l e i c o m os males d a sua t r a n s g r e -
são • e fácil é d e c i d i r s e o q u e m a i s convém ; se i m i -
t a r a S. P a u l o , o u aos P a d r e s , e C o n c i l i o s , q u e
íão i m p r u d e n t e m e n t e insistirão em aconselhar , p r o m o -
v e r , e decretar a continência p e r f e i t a . (72) _
P r o v a d o está, q u e desde o m o m e n t o d a instituição
do Celibato , f o i a lei violada ; e f o i violada , porque
os L e g i s l a d o r e s quizerão mais d o q u e o D i v i n o tf u n -
d a d o r °da Religião e i z i g i o . E l e se c o n t e n t o u em acon-
selhar a continência 5 e o seu Apóstolo a d v c r t i o m u i
c l a r a m e n t e q u e e i z a l t a n d o o mérito d e l a não queria
com iso armar laço á ninguém. (73)
P a f n u c i o , este B i s p o octogenário, q u e a v i a j a
p e r d i d o u m o l h o p e l a fé de J . C., e c u j a v i d a e r a
s e m m a n x a , se o p õ e m n o p r i m e i r o C o n c i l i o g e r a l
á p r o j e c t a d a l e i d a continência, m o s t r a n d o , que es-
te eiceso dc rigor faria grande mal á Igreja, e
que nem todos podião com uma continência tao pei -
feita. (74) B e r g i e r l o u v a a sabedoria deste P r e l a d o ,
e a c o n d u e t a d o C o n c i l i o em o u v i l o , p o r q u e decre

mente mais j u d i c i o z o é F l e u r i , que admira a pru


ãencia, e sabedoria do Concilio em não estabelecer
uma lei , que facilmente avia ser violada. (76) E
N a t a l A l e x a n d r e s u s t e n t a , que o conselho do Bis-
po da Tebaida, bem longe de favorecer ã relaxa-
são, pelo contrario , dando remédio ã incontinen-
cia, promovia a onra , e o bem da Igreja. (/7)
E s c u z a d o é c i t a r mais a u t h o r i d a d e s p a r a provar o que

(72) S. Clemente na Strom. 3. r e c o m e n d a ,


a
que nem se d e p r i m a
o Matrimônio, nem se eizalte i m p r u d e n t e m e n t e a castidade.
(73) Ep. 1. aos C o r i n t . Cap. 7. vers. 35.
.(74) Sócrates , a Sozomeno nas suas Estórias da Eclcz. I g r .
X75) A r t . Cellb. de seu D i c i o n . Teol.
(7fi) I s t o r i a E c l c z . ao 4r° século.
(77) Disertas. ao 4«° Século da I s t o r i a .
5ii
28

a experiência d e 15 séculos tem s u f i c i e n t e m e n t e de-


mostrado.
E i s a q i i i c o m o u m a l e i i m p r u d e n t e a c o s t u m a os
s u o d i t o s á desobediência, e ao d e s p r e z o ; e i n t r o d u s
a i m o r a l i d a d e . M a s se a l e i d o C e l i b a t o t e m este i n -
c o n v e n i e n t e c o m u m c o m as o u t r a s leis i m p r u d e n t e s ,
ela t e m além d i s t o u m caráter p r i v a t i v o de desmora-
lizasão d a mais a l t a transcendência , c o m o pàso a
mostrar.
. r v
A o
» " e , p r i n c i p a l m e n t e C u r a d'almas , desde o
P a d

m l e l i s m o m e n t o , em q u e cede á incünasão ao s e x o ,
a n a o ser p o r u m acazo , onde cesada a paixão t e m
l u g a r o a r r e p e n d i m e n t o , necesariamente se antolbão
d o i s abismos , , dos quaes u m é inevitável : e vem a
ser , a apostasia , o u o c u m u l o da perversidade. P o r -
q u a n t o , ou o Padre continua á dar credito á R e l i -
gião, e então os princípios da M o r a l Cristã o fazem
req, e reo de nefandos sacrilégios todas as vezes
q u e e i z e r c i t a o seu Ministério m a n x a d o d e u m t a l
c r i m e . A v e r g o n h a , o u o interese , n o p r i n c i p i o ,
vence os r e m o r s o s ; p o u c o a p o u c o o a b i t o se c o n -
t r a e ; e em breve a transgresão d e t a n t a s , sagradas
Jeis o abiüta p a r a t r a g a r t o d a a sorte de c r i m e s ; e
é g u a n d o t e m l u g a r o a d a g i o — A um perdido tudo
fas conta. — - O u o P a d r e não p o d e r e z i s t i r aos remor-
sos; e então lansa m ã o d o D e i s m o , o o d e a seu
arbítrio o r g a n i z a u m a Religião a seu g o s t o : o u p a r a ,
m a i o r desgraça s u a , e d a sociedade', a d o t a o t e n e -
broso 9 m i r r a d o sistema d o M a t e r i a l i s m o , o u A t e i s -
e

mo; e com a mascara d a i p o e r i z i a c o n t i n u a a p e r -


ceber os cômodos , e v a n t a g e n s , q u e l h e oferece o
S a g r a d o Ministério. A p e l o para a experiência. D e -
p o n h ã o os Observadores i m p a r c i a e s .
O Clérigo cazador , n e g o c i a n t e , o u j o g a d o r : o Clé-
r i g o n e g l i g e n t e , a m b i c i o s o , o u a v a r e n t o : o Clérigo m u r -
murado!', soberbo, o u u z u r a r i o , e n c o n t r a m i l p r e t e i z t o s ,
q u e d i m i n u a o a c u l p a aos olhos d a sua c o n c i e n c i a ; ele se
p o d e i l u d i r ; e na suposta b o a fé eizercer a i n d a c o m
p r o v e i t o dos fieis o seu Ministério. O u t r o t a n t o não
acontece

ao Clérigo i n c o n t i n e n t e . A M— o r a l Cristã l h e
~ " - —' •» — -— ^

i s i n a , q u e neste gênero de pecado não á p a r v i d a d e :


jdò ó g r a n d e , t u d o é m o r t a l . A f r a q u e z a , e a paí-
xjK), podèth- d o b r a r sua v o n t a d e ; mas não p o d e m
s e d u z i r sua razão , e m q u a n t o não r e n u n c i a r os p r i n -
cípios R e l i g i o z o s , q u e profesa. P o r i s o a i n c o n t i n e n -
cia e s t e n d e , e p r o p a g a o vicio a todas as asões d o
29
Padre; as quaes fica o necesariamente envenenadas y

c o m o n a c i d a s d'um a g e n t e c r i m i n o z o ; p o i s t a l é a
d o u t r i n a C r i s t a . E i s a c a u z a p o r q u e seta r a r i s i m o
e n c o n t r a r u m P a d r e i n c o n t i n e n t e , q u e não seja per-
verso. E i s a c a u z a , p o r q u e o C l e r o G r e g o , e Pro-
t e s t a n t e é tão g a b a d o p e l a m a i o r p a r t e d o s I s t o r i a -
dores i m p a r c i a e s ; q u a n d o cornparão a s u a m o r a -
lidade c o m a dos P a d r e s Católicos ern g e r a l . ( 7 8 )

A imoralidade do Padre influe d'uma maneira parti*


cular na imoralidade publica.
Cp

C e r t o s de q u e o C e l i b a t o é a o r i g e m , e c a u z a
principal d a i m o r a l i d a d e d o C l e r o , convém ainda
o b s e r v a r , c o m o esta i m o r a l i d a d e i n f l u e d i u r n a ma-
n e i r a p a r t i c u l a r na i m o r a l i d a d e p u b l i c a .
A Religião c o n s t a d e d u a s p a r t e s , e s p e c u l a t i v a ,
p r a t i c a : a p r i m e i r a é r e l a t i v a ao D o g m a , o b j e c t o
de crensa : a s e g u n d a d i s respeito á d o u t r i n a , o b j e c t o
d a M o r a l . O r a , sendo a M o r a l p u b l i c a l i g a d a com
a Religião , o u p a r t e esencial d e l a : s e n d o os P a -
dres os seus M e s t r e s ; e n c a r r e g a d o s p e l o s a g r a d o d o
seu Ministério d a r e f o r m a d o s c o s t u m e s , e p a r a i s o
recebendo quazi todos o r d e n a d o , o u emolumentos pú-
b l i c o s ; p o r q u e razão não a p a r e c e m os r e z u l t a t l o s ,
q u e erão de esperar ? E p o r q u e s u a c o n d u c t a esta
e m çontradisão c o m suas opiniões ; seus e i z e m p l o s n ã o
se coiuormão c o m seus c o n s e l h o s ; e suas p a l a v r a s são
destituídas de u n s ã o , e de v i d a : é p o r q u e o seu
Ministério é p r e e n x i d o d ' u m a m a n e i r a f u t i l , e apa-
r e n t e : p o r q u e suas v i s t a s , e suas intensoes não estão
de a c o r d o c o m os fins d a Instituisão. O Pároco b a -
t i z a , p r e g a , e confesa ; mas c o m o d e z e m p e n h a e l e
tão i m p o r t a n t e s ofícios ? u m a e i s t e r i o r i d a d e v a n , m u i -
tas vezes a t e d e s p i d a de decência , é o q u e se ofere-
ce p e l a m a i o r p a r t e aos o l h o s d o serio O b s e r v a d o r . E
p o r q u e isto a c o n t e c e ? P o r q u e sua c o n c i e n c i a c o n d e n a
t o d o s os seus actos $ e os c o n d e n a ; p o r q u e u m vicio
r a d i c a l os e n v e n e n a , a i n c o n t i n e n c i a . E i s c o m o o M i -

(78) S. Pedro D a m i ã o descrevendo a vida licenciosa dos Padres ;


pasando pelo Bispado de T o r i m , r e f e r e , que axou os Eclez, da que-
]e l u g a r m u i t o onestos , e bem instruídos — satis hovesti , e elecen-
tur instrücti — mas sabendo , que erão casados por permisão de Co-
3

n i b e r t o seu B i s p o , dis o mesmo Santo , que imediatamente a l u s


se l h e t o r n o u em trevas , e a a l e g r i a em tristeza. T a n t a forsa t e m o
prejuízo ; mas a verdade aparece a unem a quer ver. P i s e r t . 2. 3

Opus. 18. *
30
nisterio sagrado não só se t o r n a inútil, como demais
a mais r r P a d r e dezacreditando , com a sua c o n d u c t a ,
ou pelo menos fazendo suspeitoza a M o r a l , q u e em.
s i n a , m u l t i p l i c a o n u m e r o dos perversos.
U m a objecsao, f r a c a s i m , mas m i l vezes r e p e t i d a ,
se costuma opor a todos estes argumentos ; e vem a
s e r — - l . a q u e não é a i n c o n t i n e n c i a , que t o r n a o
Clérigo v i c i o z o : ü?.a que se bastante razão fose a t r a n s -
gresão d'uma l e i para ser ela r e v o g a d a , n e n h u m a l e i
a i n d a a mais j u s t a devi» ser conservada, p o r q u e não
d e i x a de ser transgredida. Objecsões m i z e r a v e i s , 1.°
p o r q u e ^ não obstante que m u i t o s sejão os vicios a
q u e estão sugeitos os E c l e z i a s t i c o s , temos com t u d o
m o n s t r a d o , q u e a i n c o n t i n e n c i a é dentre eles o mais
próprio, e d' uma tendência necesana á desmoralizar
o C l e r o , e o povo. 2.° P o r q u e é u m a verdade i n -
contestável , q u e toda a l e i u m a n a , q u e l o n ^ e de
c o n d u z i r o Ornem ao fim p e r t e n d i d o , pelo contrario^
mais o afasta dele , é p o r iso mesmo i n j u s t a , e i n d i a n a
de c o n t i n u a r em v i g o r ; o q u e dando-se na l e i °do
C e l i b a t o , e outras semelhantes , não acontece c o m
aquelas leis necesarias, que não tem o u t r o fim, q u e a
eizecusão d a l e i n a t u r a l . I n d e p e n d e n t e de legislasão
a l g u m a , será sempre p r o i b i d o o r o u b o , o asas?nio , a
c a l u n i a , a traisão, &c. e p o r iso o L e g i s l a d o r jamais
deve césar de i m p o r pena á taes delictos. S ã o sem-
p r e u m m a l ; não á cazo , em q u e posão ser conce-
didos. N ã o sucede o u t r o t a n t o c o m a i n c o n t i n e n c i a ;
ela é somente m á , p o r q u e a l e i a p r o i b e ; e desde
que^ esta lei , bem longe de c o n d u z i r os P a d r e s á per-
feisão , pelo c o n t r a r i o os leva pela m a i o r p a r t e á per-
disão , é de prudência; é de j u s t i s a , q u e o L e g i s l a -
d o r a revogue.
C o n c o r d a m o s em que o P a d r e pode ser u m per-
verso : pode p i z a r as leis as mais sagradas ; pois é
o r n e m : q u e a i n d a çazado pode ser u m adúltero, u m
d e b o x a d o ; mas nese çazo seja c o r r i g i d o com t o d a a
severidade das leis ; o u i n c o r r i g i v e i seja d e m i t i d o de
tão elevado Ministério. M a s se o seu m a l , a o r i g e m
da sua desgrasa é a i n c o n t i n e n c i a , então o unico°re-
m e d i o é o cazamento : não he infalível , mas é o
nnieo. ( 7 9 )

(79) Na Ep. 1 aos Cor. cap. 7. v. 2. dis — Mas para evitai


a Jormcacuo cada um (fíiha a sua mulher , e cada uma tfnha sçu
mando. P e r e i r a , '
31

S u p o n h a m o s p o r e m , q u e a l e i d o C e l i b a t o é jus-
t a , e incapas de o c a z i o n a r a i m o r a l i d a d e ; a i n d a assim
é inútil ; e eis o q u e nos p r o p o m o s d e m o s t r a r .

A lei do Celibato é inútil.


Não sendo em geral pesoa alguma obrigada a
cazar-se ; s e n d o alias o C e l i b a t o u m e s t a d o m e n o s pen-
s i o n a d o a t o d o s os respeitos , vemos e m t o d a a p a r t e
e em t o d o s os t e m p o s g r a n d e n u m e r o de C e l i b a t a r i o s ;
e nos d i v e r s o s sexos , p r i n c i p a l m e n t e e n t r e o s Católicos,
m u i t o s v i v e n d o c a s t a m e n t e i n d e p e n d e n t e de l e i , q u e a
iso os o b r i g u e . O c a l c u l o das v a n t a g e n s n a o r d e m
t e m p o r a l para u n s , e na o r d e m e s p i r i t u a l para o u t r o s ,
é a b u s o l a , q u e a t o d o s g u i a n o ãb rasar este e s t a d o ;
e p o r i s o mesmo q u e não são p r o i b i d o s de c o n t r a i r
matrimônio, nele se conservão, a t e q u e n o v o s cálcu-
los de f e l i c i d a d e t e m p o r a l o u e s p i r i t u a l lhes a c o n s e l h e m
p c o n t r a r i o : e t o d o s sabem a d i f i c u l d a d e de c o n t e n -
tarse o ornem c o m u m e s t a d o , q u e l h e parece c o n t r a -
r i o á sua n a t u r e z a , desde q u e pasa a ser f o r s a d o .
O r a , se i s t o é assim , q u a l a v a n t a g e m d a l e i d o
C e l i b a t o ? N e n h uma. S ã o c o n t i n e n t e s p e l a l e i os q u e
o serião sem e l a ; o u p a r a d i z e r m e l h o r , o n u m e r o d o s
c o n t i n e n t e s seria m a i o r ria a u z e n c i a d a l e i , E se a c a z o
é c r i v e i , q u e ã a l g u m c o n t i n e n t e em v i r t u d e d a l e i ,
q u e o não seria s e m e i a ; p o d e taôbem a f i r m a r s e , q u e
ese ornem , q u e t e m de l u t a r freqüentemente c o m s u a
n a t u r e z a , q u e t e m d e l a n s a r m ã o de t o d o s os r e c u r -
sos necesarios p a r a d o m a r suas i n c l i n a s o e s ; ( p o r q u e
n a i p o t e z e ele sc i n c l i n a ao c a z a m c n t o ) p e r d e sem
d u v i d a os m e l h o r e s m o m e n t o s d a sua v i d a em u m c o m -
b a t e , c u j a v i c t o r t a é n e n h u m a ; m o m e n t o s , q u e de-
vião alias ser e m p r e g a d o s no d e z e m p e n h o de deveres
i m p o r t a n t e s , q u e a n a t u r e z a , e a Religião l h e pres-
c r e v e ; p o i s q u e o mérito d a continência não está só
n a privasão dos p r a z e r e s , mas n a dispozisão a p r o p r i a d a ,
q u e p o r e l a se a d q u i r e p a r a fins de mais a l t a i m p o r -
tância , c o m o nos ensina S. P a u l o . ( 8 0 )
N ã o devendo o L e g i s l a d o r prender , nem coar-
t a r i n u t i l m e n t e a l i b e r d a d e dos s u b u i t o s , é e v i d e n t e
q u e a l e i d o C e l i b a t o deve ser a b o l i d a , p o r iso mes-
mo que dela n e n h u m bem rezulta.

(80) 1 aos Cor. Cap. 7. v. 32. Quero pois que vivaes sem inquieta-
ção. O que está sem. mulher está cuidadozo das coizas que suo do }

Senhor; de agradar a jÜeo$ — Pereira.


9
32
A abolisão do Celibato é o voto dos
Omens prudentes.

A necesidade da abolição da lei do Celibato for-


sado tem sido prevista p o r m u i t o s espíritos ilustrados ,
ardentemente dezejada pelos Omens de b e m , q u e não
olhão c o m indiferensa para as desgrasas dos seus se-
melhantes : e p e d i d a c o m instância p o r M o n a r c a s „
que ignorantes dos seus direitos , o u escravos da s u -
perstisão de seu século , tiverão recurso a A u c t o r i -
d a d e , que estava então na pose de pôr e t i r a r impe- r

d i m e n t o s do Matrimônio a seu arbítrio.


O I m p e r a d o r S e g i s m u n d o s u p l i c a n o C o n c i l i o ge-
r a l de Constansa a abolisão d o C e l i b a t o . N o s C o n c i -
lios de P i z a > e de B a z i l e a fizerão-se iguaes instân-
cias ; mas razões políticas as inutilizarão. ( 8 1 )
N o C o n c i l i o de T r e n t o f o i quasi u n a n i m e o acor-
d o dos Príncipes Católicos em requerer a abolisão d o
C e l i b a t o . O D u q u e de B a v i e r a desprende nesa oca-
zião u m a i n e r g i a admirável na demostrasão. d a sua
necesidade , eispondo as razoes políticas , e moraes ,
em q u e esta se f u n d a v a . A l e m de o u t r a s , ele d i s —-
que entre 50 Padres apenas averia um , que nao
fose notoriamente concubinado ; que não erão so-
mente es Padres que requerião a abolisão do Ce*
libato, mas taobem os leigos , e Padroeiros das
Igrejas , que não querião mais dar Benefícios y

senão a Omens Cazados: que era melhor abrogar


a lei do Celibato , que abrir a porta á um Ce-
libato impuro ; e que era um absurdç recusar a en-
trada de Omens cazados na Clericatura, e tolerar
Clérigos concubinados : que em fim , se se queria
absolutamente obrigar os Padres á castidade; se
ordenasem só os Velhos. — ( 8 2 ) T a l f o i mais o u me-
nos a l i n g o a g e m d ' o u t r o s Príncipes Católicos.
O Cardeal Z a b u r e l a no C o n c i l i o de Constansa. O
B i s p o de S a l s b u r g o , e o u t r o s em seus S i n o d o s ; o
C a r d e a l de L o r e n a no de T r e n t o , bem c o m o o A r -
cebispo de G r a n a d a , c u j o discurso, se d i s estar a i n d a
conservado na L i v r a r i a , da C o m p a n h i a de J e z u s daquela,
C i d a d e , fizerão grandes esforsos pela abolição d o C e l i -
b a t o ; e o A r c e b i s p o de B r a g a , e o B i s p o das 5.

( 8 1 ) Lanfani. I s t . do Cone. de Base.


(82) Fleuri I s t , Eclez, — neste Século.
Igrejas ate sequizerão< o p o r á votasao ; mas forão
dezatendidos. ( 8 3 )
P i o 2, o q u a n d o era Eneas S i l v i o o l h a v a a p r o i -
bisão do C a z a m e n t o dos Padres como o r i g e m f e c u n d a
da condenasão de m a i o r n u m e r o , q u e alias se salva-
r i a pelo uzo de u m l e g i t i m o Matrimônio. ( 8 4 )
P o l i d o r o Virgílio asegurava — q u e não a v i a I n s -
tituirão, q u e mais tivese dezacreditado a O r d e m E c l e *
z i a s t i c a ; que tivese cauzado mais males á Religião,
e mais d o r aos O m e n s de bem &c. ( 8 5 )
D e m o n s t r a d a a necesidade d a abolisão d o C e l i -
b a t o i o u d o i m p e d i m e n t o da O r d e m , para q u e o
P a d r e posa l e g i t i m a m e n t e c a z a r , resta a i n d a satisfa-
zer as conciencias timoratas das pesoas, q u e sem
reilecionar., e somente apoiadas no p r e j u i z o , o u falsa
d o u t r i n a dos que se aproveitão d a sua c r e d u l i d a d e
p a r a lhes i n c u t i r t e r r o r , e prevenilas asim c o n t r a a
v e r d a d e , julgão q u e o C e l i b a t o dos P a d r e s é u m a
ordem do Ceo , q u e n e n h u m P o d e r u m a n o tem d i -
reito de revogar.
E u demonstrarei pois pela I s t o r i a d a I g r e j a , e
pela a u t o r i d a d e de razoes respeitáveis : que o C e l i b a -
t o dos Padres não é de Instituisão D i v i n a , e nem
mesmo Apostólica : q u e tem o r i g e m nos p r i n c i p i o s

(83) F l e u r i — H e r n a n d o de Ávila — C u r a y e r — V a r g a s , e outros.


— Apezar d e que o s Padres do C o n c i l i o b e m c o n h e c i a o , que o C e l i -
b a t o e r a objeto de d i c i p l i n a , e q u e a podião d i s p e n s a r , como d i z i a
P i o 4.° na conferência c o m A m u l i o E m b a i x a d o r de V e n e z a ; c o m t u d o
julgarão m a i s p r u d e n t e não t r a t a r desta matéria no t e m p o , em qne
-os Ereges r e n u n c i a v a o á continência p o r j u l g a l a i n d i g n a de Deos , e
o p o s t a á n a t u r e z a • o que nós nao avansamos f q u a n d o a considera-
mos voluntária. A eisperiencia porem t e m m o s t r a d o q u a n t o m a i s p r u -
d e n t e seria f e i x a r a boca aos E r e g e s , e L i b e r t i n o s , concedendo desde
l o g o aos Padres o único remédio á i n c o n t i n e n c i a , e p r o v i d e n c i a r a
•felicidade dos mesmos por òa m a n e i r a n a t u r a l , s o l i d a , e deciziva.
E/ provável , que u m C o n c i l i o g e r a l em o Século 19 pensase bem
d i f e r e n t e m e n t e , longe da r i v a l i d a d e que i n s p i r n o as contestasoes , e
t e n d o d i a n t e dos olhos o q u a d r o p e r m a n e n t e das fraquezas dos Padres*
(81) A n u a l . 10. L. li.
(85) D e t r e r . i n i e n t . L. 5." c. 4.° Sei que m u i t o s sao os defensores
do Celibato. V e m o s entre ontros u m G o t i , e n c a r r e g a d o de e i z a l t a r a
antigüidade, e eicelencia do C e l i b a t o , b e m como o domínio U n i v e r s a l
dos P a p a s ; mas cm u l t i m a analize , eles n a d a m a i s provao , do q u e
a e i c e l e n c i a da C o n t i n e r j i a , e a antigüidade da lei do C e l i b a t o ; o
que n i n g n e m lhes disputa ; ma? eles se acavitclíío em iiSÒ d i z e r p a l a -
v r a s>«>re os b e n s , e males , q u e t e m c o n s t a n t e m e n t e r e z u l t a c o d' u m a
l e i , q u e t e m estado sempre e m d c z n z o p o r impraticável. E i s o nosso
t r a b a l h o . M o s t r a r e m o s a verdadeira o r i g e m do ( V l i b a t o , e suas c o n -
seqüências: e n u n c a negaremos q u e a q u e l e , a q u e m 6 dado o doiu d a
^ o n t i a e n c i a , seja mais felis , do q u e o Ornem cazado. S. P a u l o o
«nsin*, e a eisperiencia o ^ o m p r e v a j e t a n t o basta,
do 4.° século: q u e esta D i c i p l i n a não se fes g e r a l
na I g r e j a d o O c i d e n t e senão depois d o 12.o século :
e q u e a I g r e j a do O r i e n t e de o j e conserva os seus
P a d r e s cazados , sem q u e j a m a i s a I g r e j a L a t i n a se
àtrevese a censurarlhe esta p r a t i c a ; antes pelo con-
t r a r i o a t e m a u t o r i z a d o , e até p e r m i t i d o aos q u e se
tem e n c o r p o r a d o á e l a modernamente.

O Celibato dos Padres não é de Instituisão


Dixina.

Lancemos os olhos para o Evangelho : rtão vemos


u m a só p a l a v r a , da q u a l se c o l i j a , já não d i g o cla-
r a m e n t e , porem a i n d a com o r n a i s forsado torcimento,.
que J . Ç . eizigise , e n e m mesmo recomendase aos^
Padres o c e l i b a t o . O único teisto , d o n d e se q u e r a
m a r t e l o eistrair esta d o u t r i n a , é este. — Se alguém vem
a mim , e não aborrece a seu pai, e mãi, e mulher,
e Jilhos e irmãos , e irmãs, e ainda a sua mesma
vida não pode ser meu Dicipulo* — ( 8 6 ) M a s é tão
a b s u r d a a pertensão . de d e s c u b r i r nesta máxima e
o u t r a s semelhantes o preceito d o C e l i b a t o ; q u a n t o
seria p e r t e n d e r , q u e o D i v i n o M e s t r e eizige abando-
nar , o u aborrecer pai , mãi filhos & c . para poder
y

ser seu D i c i p u l o . N ã o devo cansar o L e i t o r em. re-


f u t a r semelhante despropozito. T o d o o Cristão sabe q u a n *
t o é o b r i g a d o a respeitar, e amar a seu p a i , e m ã i ;
é q u e e n t r e t a n t o o mesmo Deos d e t e r m i n a q u e p e l a
m u l h e r sejão eles d e i x a d o s ; e q u e J . C. c o m aquelas
palavras n a d a mais q u i s ensinar , d o q u e a necesi-
dade de estarmos resolvidos a d e i x a r as coisas a i n d a
as mais c a r a s , q u a n d o elas forem obstáculo á salva-
são. N e m é só o Cristão , q u e deve profesar estes
princípios ; o b o m Cidadão não deve p o r em d u v i -
da o abandono destas pesoas r e até da própria v i d a ,
q u a n d o a pátria e i z i j a u m t a l sacrifício. Isto é c l a -
r i s i m o : o c o n t r a r i o é u m a b s u r d o , e até uma i m p i e -
dade , e é a m a i o r prova d a sem razão o ter recurso
a semelhantes teistos.
M i l vezes fala o E v a n g e l h o em V i r g e n s ; mas u m a
só não aconselha a v i r g i n d a d e e q u a n d o d i , s — que
7nuitos se castrão por amor do Reino dos Ceos, —
é e v i d e n t e , q u e J . C., respondendo aos D i c i p u l o s ^

(£6) £>, JLucas cetp, 14. v, £6. ~. Pirtira,


35
que julgavão d u r a a condisão d o Ornem c a z a d o , que
se separa da m u l h e r a d u l t e r a , mas sem poder c o n t r a i r
n o v o Matrimônio; não teve p o r fim m a i s , d o q u e
m o s t r a r , q u e m u i t a s são as c i r c u n s t a n c i a s ; em q u e
o Ornem se ve na necessidade de se castrar v o l u n t a -
riamente para poder alcansar o Ceo. M a s d e i x e m o s
este objecto. A I g r e j a tem d e c i d i d o , fundandose
«ia d o u t r i n a de S. P a u l o , e n a p r a t i c a dos p r i m e i *
ros Cristãos , q u e o C e l i b a t o é u m estado mais per-
f e i t o , e p o r iso "preferível ao Matrimônio, p o r ser
mais próprio, para nele o O r n e m se a p l i c a r aos ne-
gócios d o Ceo.
M a s porque o C e l i b a t o é um estado mais perfei-
t o , deve p o r iso ser necessário e indispensável ao
P a d r e ? N ã o é a pobreza u m a perfeisão m u i claramen-
te dezignada no Evangelho., e acazo j a se fe£ dela u m
preceito ao P a d r e ? Q u a l será pois a razão p o r q u e
se d e i x a esta á seu arbítrio, e se fas d o u t r a u m pre-
c e i t o ? O certo é, que nem u m a , nem o u t r a f o i p o r
J„ C. d e t e r m i n a d a aos Padres.

O Celibato dos Padres não é de Intituisõo


Apostólica.

S. Paulo, único dos Apóstolos, que trata ex


professo das q u a l i d a d e s q u e devem ter os D i a c o n o s , e
P r e s b i t e r o s , o u B i s p o s , dis — Importa, que o Bis-
po seja irrepreinsivel; espozo cT uma só mulher,
sóbrio , prudente, concertado, modesto , amador da
ospitafidade capas de ensinar. — ( 8 7 ) E q u a n d o r e -
c o m e n d a a T i m ó t e o , que a ninguém ponha ligei-
ramente as mãos , para não se fazer participante dos
pecados de outrem ; c o n c l u e d i z e n d o — Conservate
ati mesmo puro. — T a l é a fácil tradusão d o noso
P e r e i r a , q u e não pode ser s u s p e i t o , por iso mesmo
que ele é u m dos defensores d o Celibato. N e m outra
p o d i a ser a inteligência d o Casto , e continente , que
traz o t ei st o l a t i n o ; p o r q u a n t o querendo S. P a u l o
q u e os B i s p o s e D i a c o n o s fosem m a r i d o s d i u r n a só
•mulher ( 8 8 ) , c l a r o está, que a continência, e casti-

(87) K; . 1. a Timot. cap. 3. v. 2. — Pereira.


(3 í) Sabese, q u e e n t r e os J u d e o s era ptrir.itida a p o l i g a m i a , e que
e n t r e os R o m a n o s se toleravão as C o n c u b i n c s , c o m o m u l h e r e s de
2. a o r d e m ; e q u e ^ n t r e u n s , e o u t r o s e r a p e i m i t i d o o r e p u d i o ,
èazandose c o m outras . a i n d a e m vida das r e p u d i a d a s ; e é r,este ien-
36
dade eizigida é a q u e l a , q u e se dá entre os Cazados :
pois é i n d u b i t a v e l , que entre estes dãose m i l i m p u -
rezas reprovadas pela razão, e m u i t o s eicesos j u s t a -
mente condenados.
S. P a u l o na Ep. 1. aos Cor. nos ensina aver
i n c o n t i n e n c i a no mesmo Matrimônio , S. Clemente de
A l e x a n d r i a declara o que nos Cazados se x a m a con-
tinência. ( 8 9 )
P a f n u c i o dis m u i claramente, q u e o acto c o n j u g a i
é castidade. ( 9 0 )
S. A g o s t i n h o , S. A m b r o z i o , S. João Crizosto-
m o , e putros provão , como dase castidade entre os
mesmos Cazados ; e tal he é a lingoagem da Igreja. ( 9 1 )
E tanto assim entendeu a antigüidade Cristã, que em
inumeráveis Cânones, em que se proibe o matrimô-
nio aos Padres , fazendose mensão de outras razões,'
nunca se fes do preceito de S. P a u l o ; o q u e cer-
tamente não escaparia aos legisladores, que tanto i n -
terese mostravão em i n c u l c a r o C e l i b a t o aos Padres,
até como de tradisão Apostólica. ( 9 2 )
D e m o n s t r a d o , que nem J * C . , nem os Apóstolos
determinarão o C e l i b a t o aos P a d r e s , e que nem se
quer lhes aconcelharão p r i v a t i v a m e n t e ; (93) resta mos^
trar a origem , e progreso do mesmo C e l i b a t o .

tido que S. Paulo eizige que o Padre seja marido d* unia só mu!her>
A s s i m o entendeu Teodoret- i n . E p . 1. ad T i m . — Franc. Roee. I n s t .
L. 3. T i t . 16 &c. — Os Gregos persuademse p o r e m , que S. Paulo e i s -
cíue os bigamos em razão da i n c o n t i n e n c i a , que manifestão p o r c a u z a
da repetisão do cazamento ; e o& Latinos por que j i não podem r e -
prczentar o Símbolo; de J . C. c o m a I g r e j a sua única espoza.
(89) E u m , q u i uxorem d u e i t , p r o l i b e r o r u m procreatione , ex
ercere oportet c o n t i n c n t i a m , u t ne suam q u i d e m concupiscat uxorem ,
quam dcbet d i l i g e r e , honestate y et óiodeiata v o l u n t a t e o p e r a m
fians l i b e r i s & c . Str, 3 a

( 0 0 ) Congressmn v i r i c u m u x o r e l e g i t i m a castüatem esse adserens


&c. S e l v a ^ i o L i b . i.° T i t . de Pafir.
(91) H o m i l . 26 i n M a t h . s i c u t c r u d e l i s , e t i n i q u u s e s t , qui cas-
tam d i m i t t i t u x o r e m & c . L i v . de bon. c o n j . & c .
(92) E m 1074 n u m C o n c i l i o de Roma p o r G r e g o r i o 7.° no Can. 15 t

d. 16 é a p r i m e i r a ves , segundo a m i n h a lembrans i , que se per*


tendeu entender a S. P a u l o no sentido , em que oje os Defensores
co Côlibato o q u e r e m entender ; e se eicetuarmos a J e r . nSo s e i
que mais S. Padre se servise da quela Ep. para p r o v a r o p r e e i - 1

to do C e l i b a t o . M a s o rig-or deste P a d r e que atê quis a p l i c a á


questão o d i t o de S. P e d r o — N ó s deixamos tudo por vós & c . o que
.te refere claramente aos b e n s , e não âs m u l h e r e s ; pois é do q u e
t r a t a v a J . C. : e o Século undecimo , em que teve l u g a r este Con-
c i l i o , e prezidido p o r Greg. 7.° nos dispensão de uLterior rcftesãoo
(93) E i s como se eisplicão os mesmos A u t o r e s , Defen3ores dn Ce-
l i b a t o , quando entendem da matéria, P e r p e t u a l e x continentiíc nec
a ChrÍ9to , nec ab A p o s t o ^ , sacris M i n i s t r i s i i n p o a i u f u i t . Natal»
A l e s . Prop.,3.* JJbs. atf 4 s e c .

37
Istoria do Celibato.

Escasos são os documentos a este respeito té o«


fins d o 3.° século, mas o q u e devemos c o m t u d o a f i r -
m a r é , q u e não nos p o u p a n d o á t r a b a l h o a l g u m p a r a
os d e s c u b r i r , somente os e n c o n t r a m o s a f a v o r d a l i -
b e r d a d e , q u e então a v i a , dos P a d r e s c a z a r e m s e , o u
v i v e r e m m a r i t a l m e n t e c o m suas m u l h e r e s ; e não des-
c u b r i r n o s u m só em c o n t r a r i o .
S. Inácio, d i c i p u l o dos Apóstolos repreende e
ate ameasa de condenasào aquele , que por profesar
castidade se julgar maior, que o Bispo : ( 9 4 ) desta
pasagem se infere n a t u r a l m e n t e , q u e u m a t a l p r e z u n *
são d a p a r l e d o C e l i b a t a r i o não p o d i a ser f u n d a d a ,
senão em q u e profesando ü m estado p e r f e i t o , o
j u l g a v a p o r iso s u p e r i o r a i n d a ao B i s p o , q u e t i n h a
u m a v i d a ordinária ; isto é , a de cazado.
S. C l e m e n t e de A l e x a n d r i a , este P a d r e q u e a i n -
da a l c a n s o u os d i c i p u l o s dos Apóstolos, este O m e m
celebre p o r sua erudisão s a g r a d a , e p r o f a n a , es-
c o l h i d o para p r e z i d i r á mais respeitável escola d a Re-
A ligião, q u e então e i z i s t i a , é t e r m i n a n t e nesta matéria;
e t a n t o mais d i g n o d e ser a c r e d i t a d o , q u a n d o ex
professo dele t r a t a , E l e teve de c o m b a t e r a d o i s a d -
versários; u n s , q u e detestavão o Matrimônio, o u t r o s ,
q u e adotavão, c o m o l i c i t o , t o d o o gênero de deboxes.
Q u a n d o c o m b a t o a estes últimos, q u e pertendião
autorizarse d' u m a eispresão m a l e n t e n d i d a de S. N i -
coláo, u m dos 7 D i a c o n o s d o t e m p o dos Apóstolos; ele

Q u a m q a a m p r i m i s seculis C I c r i c i s continentiae l e x i n d i c t a n o n
fuerit , consuctudine tamen moribusque j a i n obtinebat &c. Silv.
A n t i g . Chr.
.... NlílJÒ auíem j u r e D i v i n o , n e c n a t u r a l i , n e c p o s i t i v o eani
C l e r i c i s p n e c c p t a m esse saús ceríuin est. R i g e r . T o m 3.° T i t . 3.*
P o u c o i m p o r t a , q u e a l g u m S. P a d r e , ou p a r t i c u l a r C o n c i l i o : v. g.
o 2.° de C a r t a g o , dê a e n t e n d e r , q u e o C e l i b a t o v e m de tradisão
Aposto! bem os que tc:n l i s a o d a I s t o r i a da I g r e j a ser este o cos-
t u m e ordinário d o s A n t i g o s , e m u i t o m a i s dos m o d e r n o s E s c r i t o r e s ,
q u e j u l g a o Sagrado., e D i v i n o t u d o q u a n t o a^So e s t a b e l e c i d o a n t e s
deles. A s s i m x a m a v S o p r e c e i t o D i v i n o os i m p e d i m e n t o s do matrimônio
c o n s t a n t e s do L e v i t i c o ; asim o 12 Cone. g e r a l de L a t r a m xamou o
d i z i m o de p r e c e i t o D i v i n o & c . & e . E m fim asim se A a m ã o os Cânones
S a g r a d o s — a p e s a r de coisas n a o só p r o f a n a s , como b a r b a r a s , e
i n j u s t a s , q u e neles se c o n t e m : b a s t a v e r o q u e neles se d e t e r m i -
na c o n t r a os m i z e r a v e i s J u d e o s , e E r e g e s p a r a o r r e n i z a r . D e v e m o s
p o r t a n t o d a r atensão ás coisas, e nSo aos n o m e s , que se lhes q u e r d a r .
(9-ij S i q u i s p o t e s t i n c a s t i t a t e m a n e r e ad h o n o r e m c a r n i s D t m i n i *
ca?, i n h u m i l i t a t e m a n e a t . . . . Si g l o r i a t u r , jteriit. E t s i se maioreui
JEpiscopo c e n s e t . , inUriet, A d P o i y . N.° 5#
38
asegura, que Nicoláo nunca uzara de outra mulher,
exceto da própria , com quem cazara. — E i s a p r o v a
d o uzo d o Matrimônio , e p o r q u e m ? P o r S. Nicoláo.
Q u a n d o combate os i n i m i g o s d o Matrimônio, q u e
alegavão em seo favor o eizemplo d e J . C. , q u e se-
não c a z a r a ; ele responde , — que o Salvador não ti-
nha necesidade de adjutorio ; e que nem o seu desti-
no era ter filhos pois que Ele era Espozo da Igre-
ja. A t a c a seus adversários com o eizemplo de S. Pe-
dro, e S. F e l i p e , q u e tiverão filhos. O r a , não pode
a t r i b ilrse a S. C l e m e n t e a inépcia, e a b s u r d o de querer
convencer os Ereges com o facto destes Omens q u a n -
d o pagãos; o u simples J u d e o s ; l o g o é necesario su-
p o r , q u e S. C l e m e n t e s a b i a , q u e estes Apóstolos a i n d a
depois de xamados ao A p o s t o l a d o tiverão filhos ; o
que nem é i m p o s i v e l , q u a n d o pelo mesmo E v a n g e l h o
se sabe, q u e m u i t a s vezes deixarão os d i c i p u l o s de
estar na c o m p a n h i a d o D i v i n o M e s t r e , e q u e nese
t e m p o é n a t u r a l estivesem na de suas famílias. ( 9 5 )
O mesmo S a n t o pertende c o n f u n d i r os Gregos
c o m a d o u t r i n a de S. P a u l o , q u e a d m i t e até para o
E p i s c o p a d o o cazado , com tanto que uze do matri-
mônio de um modo irrepreensível ; a j u n t a n d o a i n d a
m a i s — que ele se salvaria pela procreasão dos filhos —
E u rogo ao L e i t o r se d i g n e l e r t o d a E s t r o m a 5\ deste a

S a n t o , q u e necesariamente ficara c o n v e n c i d o ; q u e
até então não só não avia proibisão dos P a d r e s ca-
zaremse ; como avia pelo c o n t r a r i o plena l i b e r d a d e de
o fazer, como m u i claramente asevera o mesmo Santo.(96)
N o t e s e m a i s , q u e este S a n t o n o seu Pedagogo e
Verdadeiro Gnostico propõem as máximas d a v i r t u d e

(95) S t r . 3 E g o a u t e m áudio N i c o l a u m q u i d e m n u n q u a m aliâ ,


q u a n i eíl, qnae ei n u p s e r a t , u x o r e u s u m esse,
I b i d . A n e t i a m r e p r o b a n t Apóstolos ? P e t r u s enira , e t P h i l i -
pus filieis p r e c r e a r u n t . E q u a n d o f a l a de 3. P a u l o , dis — E t P a u l u s
q u i d o m certo n o n v e r e t u r i n q u a d a m Epístola s u a m a p e l l a r e c o u j u -
g e m , q u a m ( N. B. ) n o n e i r c u m f e r e b a t , q u o d n o n m a g n o ei esset
o p u s ministério . &c. Sei , q u e algun» Padres do 4.° Século duvidão
do c a z i m c n t o de S. P a u l o ; mas não sei a q u e m se deve a c r e d i t a r ,
-

se a S. C l e m e n t e d i c i p u l o dos d i c i p u l o s dos Apóstolos c o m b a t e n d o ad-


versários , q u e l h e podião^negar este f a c t o ; s€ aos q u e daí a 200 anos
quizarão p o r em d u v i d a u m f a c t o , só porque e l e nao f a v o r e c i a as suas
opiniões.
(96) íbidem. Q u i n et uníus u x o r i s v i r u m u t i q u e a d m i t i t ( A p o s t o l u s )
seu s i t Presbyter , seu Diacônus , seu l a i c u s , utens raatnmonio c i -
t r a repreheasioném; S e r y a b i t u r a u t e m p e r filiorum p r o c r e a t i o n e m .
Íbidem. Sed u n u s q u i s q u e n o s t r u m h a b e t , s i v e l i t , p o t e s t a t e m
ducoadi l e g i t i m a m u x o r e i u i n p r i m i s , i n q u a m , n u p t i i s .
}


39
à mais a p u r a d a ; e q u e té o j e é a f o n t e d a m c r a l a
m a i s p e r f e i t a , q u e se conhece r e d u z i d a a compêndio;
e p o r iso não p o d e ser s u s p e i t o d e relaxasão.
T e r t u l i a n o este o m e m e i c e s i v o , q u e até x e g o u
a c o n d e n a r as p r i m e i r a s n u p s i a s , d e s c u b r i n d o nelas a
m a t e r i a l d a fornicasão ; e q u e se a t r e v e u a c e n s u r a r
S. P a u l o por p e r m i t i r as s e g u n d a s ; a i n d a asim já
m a i s se servio d o g r a n d e a r g u m e n t o d a proibisão d o s
P a d r e s cazaremse; o q u e e r a i m p o s i v e l l h e não l e m -
brase para p r o v a d o seu p a r a d o x o , 9e t a l p r a t i c a p e l o
menos e i z i s t i s e ; e n t r e t a n t o q u e q u a n d o ele e i z o r t a á
continência lembra que muitos eizemplos avião de*
la entre os Eclesiásticos. ( 9 7 )
O r i g e n e s , este P a d r e q u e l e v o u a t a l eiceso o
a m o r d a continência, q u e tizicamente se c a s t r o u , ape-
nas fazendo o p a r a l e l o e n t r e os sacrifícios d a a n t i g a 5

e n o v a l e i , o p i n a , — que se naquela os Sacerdotes


devião absterse do uzo do matrimônio, quando tinhão
de sacrificar, que nesta igualmente só podia ofeiecer
seguidamente sacrifícios, o que se dedicase perpetua-
mente á castidade d i g o , q u e era isto u m a opinião
sua — videtur mihi — p o r q u a n t o ele confesa , — que
não sabia eisplicar a razão , porque admitindo a
Igreja para Bispo o cazade com uma só mulher
apezar de talves em toda a sua vida nunca se ter
eizercitado na castidade e continência, recuzava fa-
zelo ao bigamo; quando alias este podia ser casto,
e continente. E i s o uso de seu tempo. ( 9 8 )
D e s d e o p r i n c i p i o d o C r i s t i a n i s m o se teve em
g r a n d e estima a continência ; e g r a n d e f o i o n u m e r o
dos C e l i b a t a r i o s . A t e n a g o r a s , S. J u s t i n o , M i n u c l o F e -
l i s , e o u t r o s o d i z e m claramente. Os P a d r e s e s c o l h i -
dos d' e n t r e os pais de f a m i l i a como 5 recomendava
S. P a u l o ; anciãos, c o m o i n d i c a o n o m e de Presbi-
teros , davão o edificante e i z e m p l o de t o d a a sorte d e
v i r t u d e s . Q u a n d o porém u m C e l i b a t a r i o p o r m o t i v o
de perfeisão e n t r a v a para o Ministério E d e z i a s t i c o ,
nada mais n a t u r a l d o q u e olharse c o m u m a espécie
de surpreza o seu c a z a m e n t o , t a l c o m o ainda oje
acontece e n t r e nós a respeito d a d o n z e l a , q u e se
r e t i r a d ' u m r e c o l h i m e n t o para cazarse ; o u d" u m r e l i -

( 9 7 ) L i b . de E x o r t . Cast. c a p . 5 — e 13 Q u a n t i e t quanta? iü
K c c l e s i a s t i c i s O r d i u i b u s de c o n t i n e n t i a c e n s e n t u r , q u i JJco n u b e r e ma«*
l u c r u n t . &c.
(lJb) RÜÍU. 23 i u Nua. C e r t u m est q u i a i m p e d i t u r &c.
;
40
giozo serio, que se seculariza; entre tanto nenhum
destes comete um crime: mas como decem de perfeisão para
o estado ordinário, não pode d e i x a r deproduzir novidade,
e até para muitos estranheza. E i s o que é dado conje-
c t u r a r , que principiava acontecer nos fins do 3.° século.
O p r i m e i r o f a c t o , que refere a I s t o r i a relativo á
l e i d o C e l i b a t o é o de P i n i t o B i s p o de Gnosa , q u e
em 171 se lembrou de a i m p o r ; porém S. D i o n i z i o
B i s p o de C o r i n t o , este P r e l a d o tão sábio, como ze-
l o z o , q u e vigiava sobre as Diocezes v i z i n h a s , l h e
escreve e i z o r t a n d o , que não impuzese o jugo peza-
do da continência a seus irmãos; e que tivese
atensão á fraqueza do comum dos Omens. ( 9 9 )
É em 300 pela p r i m e i r a v e z , que aparece u m
C o n c i l i o p r o i b i n d o o uzo do matrimônio aos Padres
cazados. ( 1 0 0 ) • _ • -
E m 315 o Cone. de Neocezarea no Can. l.o de-
t e r m i n a a depozisão do P a d r e que caza, e no Can.
8.o manda suspender o que coabitar com a própria
m u l h e r , se esta f o r adultera.
E m 319 o C o n c i l i o de A n c i r a no Can. 9.o conce-
de ainda aos Diaconos o cazaremse depois de Or-
denados, se no acto da Ordenasão o protestarem
assim querer.
E m 325 celebrase o l.o C o n c i l i o geral em N i c e a :
Ú nele q u e m se lembre de i m p o r aos Clérigos a lei d a
continência; mas a t reflexões de P a i n u c i o são aten-
didas. Este Santo P r e l a d o entre outras coisas d i s
que bastava, que o Concilio se contentase com o
antigo costume de não cazaremse os Padres que se
avião ordenado solteiros. ( 1 ) O resultado f o i o C o n c i l i o
d e i x a r as coizas como estavão; isto é, ao a r b i t r i o de
cada um. *
Os Escritores deste século apezar de serem arras-
tados pelo espirito d e l e , confesão com t u d o , ou q u e
ainda não havia l e i da continência , o u que pelo
menos ela não era geral na Igreja.
S. A t a n a z i o na sua Carta o D r a c o n c i o , refere
que avião muitos Bispos solteiros e muitos Monges
que tinhão filhos; donde concluía: que em qualquer
estado se podião fazer us abstinencias, que se qui-
zesse : I s t o prova l i b e i d a d e e não l e i .

(9 .>) Euseb. I s t , E>;Iez.. L i b . 4 cap. 23.


(

(100) Cone. de E l v i r a C. 33 Piacuit i n t o i u u i &C


(1; Choasi — Eclez, n ü \* século.
*

41

S. B a z i l i o n o f i m d o mesmo século C a n . 19 f a -
l a n d o d e continência profesa , d i s , que ainda não
estava em uzo, eicelo entre os Monges , que pare-
dão tacitamente avela abrasado.
Euzebio d i z , que o Evangelho não proíbe o
matrimônio ; e que S. Paulo o que dezejava so-
mente era, que o Bispo não tivese sido cazado
mais d'* uma vez a eizemplo de Nvé Sfd , e acrescen-
ta^ que todavia convém,; que os que são elevados
ao Sacerdócio, se abstenhão do comercio com suas
mulheres ; mas isto é u m a opinião sua — decet —
ele não se refere á l e i a l g u m a . ( 2 )
Sócrates contemporâneo d e m u i t o s Padres que
asistirão ao C o n c i l i o de N i c e a , r e f e r e , q u e n o seu
t e m p o a i n d a não a v i a l e i g e r a l d o C e l i b a t o , posto
q u e o uzo mais freqüente era o d a continência , poréru
por mero a r b i t r i o ; apontando muitos lugares, em
q u e os B i s p o s a i n d a tinhão f i l h o s . (3)
O mesmo S. J e r o n i m o , q u e l e v a d o d a a u s t e r i d a -
de m o n a s t i c a de seus c o s t u m e s , e d o r i g o r de suas
itleas a este respeito ao p o n t o , q u e se v i o n a nece-
sidade d e defenderse d a imputasão de aver c o n d e n a d o
o Matrimônio, c o m t u d o , c o m b a t e n d o a Vigüancio,
q u e negava o mérito d a continência, apenas a p o n t a
o e i z e m p l o , o u o costume das I g r e j a s d e A n t i o q u i a - ,
d o E g i t o , e de R o m a ; as quaes escolhião para Clé-
rigos o u solteiros., o u c a z a d o s , q u e deixtivão de ser
m a r i d o s : o q u e p r o v a , q u e as mais I g r e j a s tinhão
uma d i c i p l i n a diferente, ( i )
O C o n c i l i o de C a r t a g o em 3 4 8 b e m l o n g e d e
impor o p r e c e i t o d o C e l i b a t o , somente manda aos
que não querem cazar, e que escolhem a perfeisão da
continência que deixem de abitar com mullieres es-
tranhas ; c o m o j a o a v i a d e t e r m i n a d o o Concilio
g e r a l de N i c e a . (5)

(2) D e m o n s t r . L i b . 1. Cap* 9.
(3) C u t n i n O r i e n t e e u n e t i , s u a sponte, e t i a i u E p i s e o p i , a b u x o r i b u s
a b s t i n e a t i t , n u l h i t a m e n U ^e a u t n e e e s s i t a t e a i l s t r i c t i i d f a c i u n t . M u i -
t i eniir. H l o r u m E p i s c o p a t u s et i a m s u i t e m p e r e l i b e r o s e x l e g i t i m o
conjugio suscepertmt e a d e m c o n s u e t u d o Thessalonica? , e t i n M a -
c e d o n i a aí que A c h a i a o b s e r v a t u r . L i b . 5 Cap. 22. I s t . E c l e z .
( ) i ] u i d f a c i e n t O r i e n t i s Ecclestae ? ( i s t o é o P a t r i a r c a d o de A a -
4

t i o q u i a , secundo E l e u r i ) q u i d E g i p t i * e t Sedis Apostólica? , quae


aut V i r g i n e s Clericos a c c i p i u u t , a u t continentes , a u t s i uxores b a -
b u e r i n t , m a r i t i esse d e s i s t u n t ? A d v . V i g .
(5) C a n . 3.° Q u i n o k i n t h u b e r e , e t p u d i e i t i a e m e i i o r e m e l i g u n t p a r -
tem ; Use evitarç d e b ç n t . & e 9

í <• - * • -7
42
S. A m b r o z i o apenas dis , que quando os caza-
dos erão admitidos ao Sagrado Ministério , se tinha
esperansa, de que eles se absterião de suas mulhe-
res ; e tratando-se dos solteiros, ele çonfesa, que estes
não erão obrigados a se ordenarem taes. ( 6 )
S. Ciríio j a avia d i t o antes , que os que querião
cumprir dignamente , isto é de um modo mais per-
feito , o seu Ministério , vivião no Celibato. ( 7 )
N o que ainda oje concordamos, sendo porém o C e l i -
b a t o casto verdadeiro.
Parece que em alguns lugares se t i n h a c o m t u d o
levado o eiceso da continência ao ponto de abandonar as
próprias mulheres, entendendo-se o E v a n g e l h o ao pé
da l e t r a , ou materialmente, como ao depois se fes, o q u e
deu m o t i v o ao Can. 6 dos Apóstolos, pelo q u a l se
proíbe com eiscomunhão, e ate depozisão abandonar-
a mulher por preteisto de Religião ; e ao Can. 5 1 ,
e na q u a l se manda depor o Clérigo , que se abstiver
do matrimônio, não por espirito de mortijicasão, mas
por julgalo mão. ( 8 )
C o n c o r d a n d o os Críticos que t a n t o , os Cânones
Apostólicos, como as Constituisoes Apostólicas, são
o resumo da d i c i p l i n a mais geral do 4. , e 5. século,
deve notarse a maneira, por que se a x a concebido o C a m
2 7 , e Cap. 17 do L i b . G, pelos quaes se conhece,
que a proibisão do Cazamento dos Padres era u m a no-
va L e i , e nao reiterasão de anterior. ( 9 )

(6) N o n quó exsortem e x c l u d a t çonjugis , non hoc supra legem prae-


cepti est , sed u t c o n j u g a l i c a s t i m o n i a ferret a b l u t i o n i s suae g r a t i a m .
(7) Catech. 12.
(8) M i l torcimentos se p r o c u r a dar a estes Cânones para t i r a r - l h e s
a forsa ; mas comparese com a& Constituisoes Apostólicas, e o Con-
c i l i o i n T r u i l o ; e se conhecerá , que nós l h e damos o verdadeiro sen»
t i d o . Can. 6. E p i s c o p u s , a u t P r e s b i t e r u x o r e m p r o p r i a m n e q u a q u a m
sub o b t e n t u religionis a b j i c i a t . &c.
Can. 5 1 . Siquis Episc. Presb. a u t D. a u t o m n i n o ex nunaero C l e -
r i c o r u m á n u p t i i s , et carne &c. non p r o p t e r exercitationes , sed p r o -
pter detestationem a b s t t n u e r i t ; oblitus , quod o m n i a valde s u n t b o n a ,
et quod m a s c u l u m , et f e m i n a m Deus fecit h o m i n e m , sed blasfemans
aceusaverit e r e a t i o n e m , v e l c o r r i g a t se , v e l deponatur.
(9) Can. 27 I n n u p t i s a u t e m , q u i ad C l e r u m provecti sunt , prasci-
p i m u s , u t , s i v o l u e r i e t , uxores a c c i p i a n t , sed Lectores , Cantoresque
tantumodo.
Const. À p . L i b . G. cap. 17. I n E p i s c . Presb. A D i a c . c o n s t i t u i
praecipiinus v i r o s unius m a t r i m o n i i , sive v i v a n t e o r u m uxores sive y

o b i e r i n t : n o n licere a u t e m i l l i s post o r d i n a t i o n e m , s i uxores non


h a b e n t , m a t r i m o n i u m contrahere ; a u t si uxores habeant , c u m a l i i s
c o p u l a r i , sed contentos «çpsç ea, «quai» b a t e n t e s , ad ordànatiojiejia
*en*runt 9
43
N e s t a variedade de d i c i p l i n a , tfuma parte t a z a n -
do-se os Padres , n'outra só permitindo-se o matrimô-
n i o aos D i a c o n o s ; n'outra só aos L e i t o r e s , e Cantores ;
n'umas proibindo-se aos j a cazados o uzo d o m a t r i ^
tnonio : n'outras pelo c o n t r a r i o punindose os que aban-
donavão as m u l h e r e s : p o r o u t r a parte crecendo o
n o das V i r g e n s , e M o n g e s , sendo nmior parte dos B i s -
pos t i r a d a d a clase destes, o u pelo menos dos que
&

profesavão ávida A c e t i c a , era conseguinte , que os po-


vos se fosem acostumando a olhar com indiferensa pa-
ra os Padres cazados, por terem u m a v i d a ordinária
á vista dos leigos q u e profesavão a perfeisão da con-
tinência. E o contraste, que oferesião os I adres sol-
teiros com a eisterioridade d a perfeisão comparados com
os q u e erão cazados, ou se cazavão necesariamente ,
lhes devia acarretar uma espécie de desprezo. ( 1 0 ) E i s
c o m efeito o que aconteceu em alguns lugares , onde
m u i t o s não querião asistir á M i s a dos Padres que
se cazavão: e até sustentavão, que as mulheres dos Pa-
dres não podião salvar-se. ( 1 1 ) Os que profesavão
continência insultavão os que se cazavão, &c. o que
deu ocasião ao Celebre C o n c i l i o de Gangres em 38(5
anatematizalos ; e declarar que com iso não repro-
vava a continência, mas a arrogância dos que por
esa cauza se elcvavão contra aqueles que adotavão
um <*enero de vida simples e ordinária. ( 1 2 )

( 1 0 ) T a l é a forsa cio prejuízo, que ainda entre nós grande p a r t e


,1o novo ignorante menos estranha v e r u m P a d r e notoriamente con-
x:iibinado celebrando a M i s a & c . do que estranharia velo f a z e r um
Padre cazado reconhecidamente v i r t u o z o . T a n t o a eisterioridade da
perfeisão i m p õ e m aos olhos do necio v u l g o . M a s nós devemos querer
a verdade , e não a impostura.
(11) Cone. de Gangres. Can. 4. S i q u i s , de P r e s b i t e r o , q u i uxo-
r e n i d u x i t , contendant , non o p o r t e r e eo sacra c e l e b r a n t e , o b l a U o n i
c o m m u n i c a r c , s i t anathema.
Can. l.o seg. G r a t . D i s t . 30. Can. 12. '• „ ;
N o Can. Siquis eorum , q u i sunt v i r g i n e s p r o p t e r Dominum,
i n s u l t e t i n eos q u i uxores d u x e r u n t ; anathema sit.
S G r c . Nane. censura igualmente a d e l i c a d e z a ^ dos que n a t
querião ser batizados pelo P a d r e c a z a d o , ou que nao profesava a
continência. B a p t i z e f me presbiter & c . O r a t . 40. ......
S João Crizost. na E n . a d T i t . dis que o matrimônio e tao onrozo
que se pode ligar ás funsões as mais Augustas, e não tmpede mes-
mo subir ao trono do Altar fyc. .
(12) Can. 2 1 . Ha;c a u t e m scribimus n o n eos abscmdentes, q u i in.
D e i E c l e s i a v o l u n t secundum s c r i p t u r a s i n c o n t i n e n t i a , et pietate
e x e r c e r i ; sed eos , q u i p r e t e x t u m exercitattonis ad arrog&utiam a s .
a u m u n t adversus e o s , q u i simplicius v i v u n t se e f f e r e n t e s , e t príEtcr
ícripturas, CclciUiticoi» que ÇaRQnes n o v i t a t e s m d u c u n t .
é 11
A I g r e j a L a t i n a é a q u e mais t e m insistido n o
celibato dos Clérigos , mas nós j a tivemos ocazião d e
observar q u a n t o f o i desprezada esta L e i , e ate esque-
cida na sua mesma o r i g e m ( 1 3 ) , nos lugares em q u e
ela f o i decretada.
E m 3 9 0 a i n d a u m C o n c i l i o de C a r t a g o estabelece
como de novo a lei da continência. ( 1 4 )
O C o n c i l i o de T o l e d o em 4 0 0 congregado de t o -
d a a E s p a n h a a i n d a se ha*o atreve a castigar os Clé-
rigos, q u e uzarern d o matrimônio antes da proibisão d o
anterior C o n c i l i o ; e contèntase em d e t e r m i n a r q u e não
se ào p r o m o v i d o s ás Ordens Superiores.
J

A mesma determinarão se encontra no Cone. de


T u r i m composto dos B i s p o s das Gáulias e da Itália.
E m 4 0 2 u m C o n c i l i o em R o m a no Can. 3.° o b r i -
ga os Sacerdotes e D i a c o n o s ao C e l i b a t o , n a o d a n d o
o u t r a razão mais d o q u e serem estes o b r i g a d o s a ofe-
recer e b a t i z a r , ftindàridosé não em leis a n t e r i o r e s ,
mas no eizemplo dos Padreg da a n t i g a l e i .
N o de Télipta è m 41S Can. 4.<> se o r d e n a c o m o p e l a
p r i m e i r a vez o C e l i b a t o aos B i s p o s Sacerdotes , e D i a -
conos, e até sem pena alguma.
N o de üiange em 4 4 1 C a n . 2 2 revoírase o
Cone. de A n c i r a , obrigandose os D i a c o n o s a v o t a r e m
castidade na sua Ordenasão , e n o Can. 4.o se de-
clara q u e os Ordenados te áhi serião p r o m o v i d o s ás
O r d e n s superiores , não obstante o c o m e r c i o ávido
com suas mulheres.
N o de T u r s em. 4 6 1 C a n . L são eizortados os
Padres á continência., para q u e m e l h o r se a p l i q u e m
á orasão & c , e moderase o r i g o r dos Cânones, consen-
t i n d o n o u z o de suas O r d e n s os P a d r e s , q u e c o a b i -
tarem com suas m u l h e r e s , e somente proibindolhes
a promosão ás O r d e n s superiores.
N o de A g d a em 5 0 6 Can. 1. e seg. se manda so-
mente s u s p e n d e r , sem depor os P a d r e s q u e fosem
b i g a m o s , o u cazados c o m viuvas.
No de G e r o n a em 5 1 7 Can. 6 , e 7 mandase,
qu§ o Bispo, Sacerd. Diac. e Subd. cazados vivão

(13) V. Desd. N o t . 58.


( H ) Can.-2.> A b universis E p i s c o p i s d i c t w m e s t : O m n i b n s p l a c e t >
ttt E p i s c o p i , P r e s b i t e r i , et D i a c o n i v e l q u i Sacramenta c o n t r a c t a g t >
p u d i c i t i e e custodçs, e t i a u a a b u x o r i b u * l e abatineaat»
15

separadas de suas mulheres, ou tenhão em sua com-


pania um confrade para testemunha de sua continên-
cia. C o n t r a o d e t e r m i n a d o n o C a n , o*, dos Apóstolos.
J u s t i n i a n o n o p r i n c i p i o d o 6 século na L e i de
E p i s . e t C l e r . p r o i b e o c a z a m e n t o dos P a d r e s ; mas
em 5 8 0 , c o m p o u c a diferensa, a i n d a S. G r e g . M a g . p o r
ocazião de P e l a g i o o b r i g a r osSubüitos a separaremse de
suas m u l h e r e s d i s , q u e j u l g a d u r o sujeitaloâ á u m a
l e i , q u e eles não prometerão g u a r d a r ; e q u e só p a r a
o f u t u r o sejão o b r i g a d o s a p r o m e t e r c a s t i d a d e q u a n d o
se o r d e n a r e m .
S. A g o s t i n h o , Apóstolo de I n g l a t e r r a , t a n t o i g n o -
r a v a esta l e i , o u a x a v a impraticável, q u e c o n s u l t a a
S. G r e g o ri o se os P a d r e s , que não podião ser conti-
nentes , tinhão liberdade de cazar; e continuar no
Ministério Sagrado. (15)
T a l era a confuzão, e v a r i e d a d e d a d i c i p l i n a á
este respeito té o 7.° século. C a d a D i o c e z e t e m o seu
u z o : cada C o n c i l i o d e t e r m i n a o q u e l h e p a r e c e ; mas
o q u e se não deve perder de l e m b r a n s a são as vexa-
sões, e despotismos p r a t i c a d o s p a r a p o i s e em e x e c u -
sáo u m a l e i mais filha das idéas p a r t i c u l a r e s dos q u e
a decretavão, d o q u e da u t i l i d a d e q u e d e l a p o d i a
r e s u l t a r , c o m o j a observámos ( 1 6 ) , b e m c o m o d a i n s u -
ficiência de todos os meios empregados á ese fim.
Celebrase o 6. C o n c i l i o g e r a l , mas nele não se f a -
zem Cânones d i c i p l i n a r e s ; e n t r e t a n t o a necesidade re-
c l a m a v a d a r u n i f o r m i d a d e á d i c i p l i n a , e firmar vários
p o n t o s d e l e , taes, c o m o o C e l i b a t o , o u a continência
dos Clérigos, q u e em m u i t o s l u g a r e s estava em c o n t r a -
! disão. O n z e anos depois, á instância da m a i o r p a r t e dos
B i s p o s q u e asistirão naquele C o n c i l i o , J u s t i n i a n o con-
v o c a o u t r o , q u e d e v i a servir de s u p l e m e n t o ao antece-
I dente. R e u n e m s e p o r t a n t o mais de 2 0 0 B i s p o s no Pa-
lácio d o I m p e r a d o r so com o d e z i g n i o de l e f o i m a i ,
e pôr em a r m o n i a a d i c i p l i n a em t o d a a I g r e j a . V e m o s
então p e l a p r i m e i r a vez d e c r e t a n d o u m C o n c d i o geral
a l e i d a continência; mas c o m o ? E i s o o b j e c t o das
seguintes observações ( 1 7 ) .

(15) V. em S. Creg. n s Iiesp. dadas a £. Agostinho.


a

V. N o t . G±, 65 , e 66.
( I n ) F l e u r i I s t . E c l . no 7. sec.
0 ; . .
( 1 7 ) Consultese a F l e u r i no 7 Século d a sua Isíona Eclesiástica
o

Fobre este C o n c i l i o , e nele se encontrar;! tudo q u a n t o dizemos a r e s ^


p e i t o do m e s m o , e deve a d v e r t i r s e , que F l e u r i nao e s u s p e i t o nes-
t a p a r t e , p o r ser um dos defensores da deciplína da I g r e j a L a t m a
4

t o c a n t e ao Ceübaío, -
16
D i s o C o n c i l i o — C o m o nos Cânones jlos Após-
tolos senão ara permitido o cazamento senão aos Lei-
tores , e Cantores , nós o defendemos daqui emdiante
aos Subditos Diaconos, e Presbiteros debaixo da
pena de depozisão; e todo aquelle, que quer viver
cazado, fasao antes de entrar nestas ires Ordens. #

Nós sabemos, que na Igreja de Roma se proí-


be aos Padres cazados o comercio com suas mulhe-
res ; mas nós , seguindo a peifeisão do antigo Canon
Apostólico, queremos, que os cazamentos dos Pa-
dres subzistão, sem privalos da companhia de suas
mulheres nos tempos convenientes. De sorte, que se
algum Omem cazado for julgado digno do Sagrado
Ministério, não será 'dele eiscluido por ser cazado;
nem na sua Ordenasão sc fará prometer absterse dc_
sua mulher, para não dezonrar o Matrimônio, que
Deus tem instituído, e abensoado com sua prezensa.
Todo aquelle pois, que com desprezo dos Câ-
nones Apostólicos, se atrever a privar o Sacerdote ,
Diacono , ou Subdiacono do comercio legitimo com
sua mulher, seja deposto.
Aos que cr cm dever elevar-se acima do Canon
dos Apóstolos, que defende deixar sua mulher por
preteisto de Religião, e fazer mais do que lhes ê
ordenado, separandose de suas mulheres de comum
consenso ; proibimos morar com elas , para nos mos-
trar , que sua promesa é efectiva Sçc. ( 1 8 ) .
T o d o s asentem ao C o n c i l i o ; o P a p a Sérgio po-
rem recuza aceitalo ; mas não a d m i r a ; porque Ro-
ma tendo sempre pertensSes a ser não só M ã e e Mes-
t r a , como Senhora das mais I g r e j a s , não J o l e r o u j a -
m a i s , que se censurasem os seus actos. N ã o obstante
o C o n c i l i o i n T r u l l o f o i adoptado pela I g r e j a d o
Oriente d e b a i x o d o nome de Quiniseislo — como
suplementar ao 5. e 6.«; e até oje l h e serve de Pte-
0

gra na sua d i c i p l i n a .

Reflexões sobre o facto do Pafnucio ; e sobre o


Valor, e legitimidade do Concilio Quiniseisto.

Os Defensores do Celibato encarão estes dois fa-


c t o s , como o escolho, onde naufragão todos os seus
a r g u m e n t o s ; e p o r iso procurão p o r todos os meios

(13) Çoast. 3. I w p . Leon,


47
torcer d e s f i g u r a r , e até d u v i d a r deles. M a s apezar d e
t o d a a x i c a n a , c o m q u e se tem q u e r i d o e n v o l v e i t a -
ctos tão públicos, e incontestáveis, eles são reconhe-
cidos p o r verdadeiros.
. O facto de P a f n u c i o t e m sido n a r r a d o p o r Sócra-
tes, q u e a i n d a conversou c o m m u i t o s P a d r e s q u e
asistirão ao C o n c i l i o de N i c e a ; p o r S o z o m e n o , es-
c r i t o r quazi c o e v o : p o r G e l a z i o de C i z i c o , escrevendo
no 5.° século as A c t a s deste C o n c i l i o : p o r S u i d a s ,
e o u t r o s ; e D u p i n d i s ; q u e os q u e duvidão deste
f a c t o o fazem antes p e l o temor d o g o l p e , q u e ele^ d a
á d i c i p l i n a p r e z e n t e , d o q u e pela forsa das R a z o e s ,
que pertendem alegar. N a verdade F l e u r i o não con-
testa: e o mesmo B e m i e r não se atreve a negalo.
O C o n c i l i o i n T r u l l o f o i convocado pelo i m p e r a -
d o r J u s t i n i a n o , e a rogos d a m a i o r p a r t e dos B i s -
p o s , q u e asistirão ao 6.0 C o n c i l i o geral , f o r m a l i d a d e
que precedeo a todos os C o n c i l i o s anteriores : íoi n u -
merozo , constaiado demais de 2 0 0 B i s p o s , entre os
quaes se axarão os 4 grandes P a t r i a r c a s p o r s i , e o
P a p a p o r seus L e g a d o s : ouve plena l i b e r d a d e n a
votação : nele não se t r a t o u de d i f i n i r D o g m a s , mas
somente de r e g u l a r a d i c i p l i n a g e r a l naqueles p o n t o s ,
em q u e ela não t i n h a u n i f o r m i d a d e , o u se apartava
do v e r d a d e i r o espirito da I g r e j a : o r a para s i m i l h a n t e
o b j e c t o 2 0 0 B i s p o s , e das principaes I g r e j a s , erão
m a i s , q u e suficientes para referirem os diferentes uzos ,
e praticas de suas D i o c e z e s , para delas se escolher
a d i c i p l i n a mais geralmente recebida , e a mais con-
f o r m e ás necesidades d a mesma I g r e j a . T o d o s subs-
crevem aos Cânones deste C o n c i l i o , e até os mesmos
L e g a d o s d o P a p a ( apezar de q u e ao depois se fes d i -
zer á estes ; q u e o fizemo p o r surpreza ) em fim o
I m p e r a d o r os a c e i t a , o u confirma. O L e i t o r j u l g u e
agora q u e m teve mais razão , sabedoria , e prudência,
se a I g r e j a d o O r i e n t e a d o t a n d o , e seguindo i n t e i r a -
mente a d i c i p l i n a decretada neste C o n c i l i o , t i d o co-
mo geral , sem repugnância d' u m só dos asistentes ;
ou se R o m a , recuzando sugeitarse á e l e , porque o
P a p a Sérgio o não q u i s asinar , p o r conter era a l -
g u n s dos seus Cânones u m a d i c i p l i n a c o n t r a r i a a
então uzada na sua I g r e j a . A' vista disto como sera
tolerável a opinião dos q u e p o r u m a cega devosão aos
Papas qualificão de C o n c i l i a b u l o este C o n c i l i o respei-
t a d o pela antigüidade, e até encorporado pelo 7v° Con-
c i l i o g e r a l n o •(*© como parte suplementar 4o mes-
48
trio ? Verdade é , (]ue os Romanos ainda se nao qui-
zerão s u g e i t a r á esta declarasão d o 7.° C o n c i l i o ge-
r a l ; mas q u e i m p o r t a p a r a a g e n e r a l i d a d e d u m C o n -
1

cilio o reconhecimento da Igreja de R o m a ?


S. A n t o n i n o , C a e t a n o , S a n d e r o , C i e t n a n g i s e
?

outros x a m â o C o n c i l i a b u l o o C o n c i l i o de P i z a p o r -
5

que R o m a não quer reconhecer sua l e g i t i m i d a d e :


entretanto R o m a ao p r i n c i p i o 5 e ainda oje muitas
Jgréjas o n u m e r a o e n t r e os geraes;
O C o n c i l i o de C o n s t a o s a f o i t i d o p o r g e r a l pe-
l o s P a p a s M a r t i n h o 0*°, E u g ê n i o 4 . % e P i o 2.°;
mas desde q u e R o m a n a o j u l g o u c o n v e n i e n t e ás suas
pertensões, d e i x o u d e o r e c o n h e c e r , c o m o t a l : e n t r e -
t a n t o a m a i o r p a r t e dag I g r e j a s Católicas o c o n t a o
a i n d a e n t r e os geraes.
O C o n c i l i o de B a z i l e a é geral para uns , p a r t i -
c u l a r p a r a o u t r o s ; e a l g u m a s d e suas Sesoes são r e -
g e i t a d a s p o r a l g u n s . E m f i m á 5 opiniões d i f e r e n t e s
"relativas á sua E u c u m e n i c i d a d e .
O 5*o C o n c i l i o g e r a l d e L a t r a o é t i d o c o m o t a l
s o m e n t e p e l o s U l t r a m o n t a n o s ; e o d c F l o r e n s a té o j e
a r F r a n s a não c.onta e n t r e os geraes.
A ' vista destes íactos , q u a n d o só a I g r e j a da,
França e a de R o m a p o d e sem c r i m e r e c o n h e c e r ,
9

o u d e i x a r de r e c o n h e c e r como geral um Concilio, ,


e m matérias D o g m á t i c a s , c o m o se poderá d i s p u t a r á
Ugreja d o O r i e n t e o d i r e i t o d e s u s t e n t a r a g e n e r a l i d a -
d e d o C o n c i l i o i n T r u l l o e e m matérias p u r a m e n t e
5

diciplinares ? e no tempo em q u e e l a fazia a parte


m a i s considerável d a I g r e j a Católica? R o m a conhe-
c e u t a n t o esta v e r d a d e , q u e c o n t e n t o u s e e m não m u -
d a r a s u a d i c i p l i n a ; porém j a m a i s c o n d e n o u a do
Oriente fundada neste C o n c i l i o . C o n c i l i o s geraes ao
d e p o i s se celebrarão 5 r e u n i d a s a m b a s as I g r e j a s ; e
n u n c a neles se t r a t o u d e r e v o g a r a d i c i p l i n a d e c r e t a -
da no C o n c i l i o i n T r u l l o .

Continuação da Istoria do Celibato depois


" do 7.° século tê nosos dias.

A Igreja do Oriente firmou a sua diciplina a


r e s p e i t o d o c e l i b a t o . A l i o P a d r e q u e , c a z a n d o se o r -
d e n a , c a z a d o v i v e a t e a m o r t e ; mas se p r o f e s a n d o
c a s t i d a d e , s o l t e i r o se o r d e n a n a o p o d e m a i s cazarse
sem p e r d e r o e m p r e g o : é u m c a s t i g o d a f a l t a d e
sua promesa. E como a continência é u m a perfeisão
49
n o s B i s p o s , e l a é r e q u e r i d a ; mas c o m o estes são
poucos ern n u m e r o ; d e i d a d e a v a n s a d a , t i r a d o s
dos M o s t e i r o s , o n d e a b i t o s inveterados lhes t o r -
não fácil ? e c o n s t a n t e esta v i r t u d e , eis p o r q u e n o
O r i e n t e é a l e i o b s e r v a d a , e sem i n c o n v e n i e n t e .
N ã o o b s t a n t e o d e c r e t a d o neste C o n c i l i o , p o u c o
a p o u c o se f o i i n t r o d u z i n d o o c o s t u m e d o s P a d r e s
t o m a r e m u m c o m o N o v i c i a d o de d o i s a n n o s , d e n t r o
d o q u a l a i n d a se podião cazar sem ser d i m i t i d o s . O
I m p e r a d o r L e ã o , o F i l o z o f o , a b o l i o esta p r a t i c a , co-
m o ábuziva. ( 1 9 )
A I g r e j a d o O r i e n t e descansou de l u t a r contra
a n a t u r e z a , e de p o r i n u t i l m e n t e b a r r e i r a s á jnçtjna-
são ao sexo. S e u C l e r o a d q u i r i u a conüansa p u b l i c a
p e l a cousíderasão, q u e l h e grangearão suas v i r t u d e s ;
e u n i a só l e i p r u d e n t e p r o p o r c i o n a d a á n a t u r e z a uma-
n a , e á d i g n i d a d e E c l e z i a s t i c a , pôs t e r m o aos ma-
les , q u e e m vão a I g r e j a L a t i n a em m i l C o n c i l i o s ,
B u l a s , e Decretos pertende ainda oje evitar.
Com e f e i t o apezar d a r i v a l i d a d e e n t r e as d u a s
I g r e j a s , q u e d e v i a p r o d u z i r a m e l h o r eizasão n a o b -
servância d a d i c i p l i n a de cadâ u m a , v e m o s c o m t u -
d o n o 9.° século o C o n c i l i o N a c i o n a l de V o r m e s de-
c r e t a n d o d e n o v o a continência aos P a d r e s c o m pe-
na de suspensão, tánto a L e i a n t i g a e s t a v a es-
quecida.
N o século 10 o C o n c i l i o de A u s b u r g a i n d a d e *
fende o cazamento dos B i s p o s , P r e s b i t e r o s , Diaco-
nos, e Subdiaconos ; segundo o d e t e r m i n a d o n Cone.
de C a r t a g o . ( d i s e l e ) E m t a n t o d e z u z o estavão as a n t i -
gas L e i s , q u e este C o n e . só se l e m b r a d o C.> \c de
C a r t a g o , e não das d e t e r m i n a s o e s d o s P a p a s , nem
dos C o n c i l i o s a n t e r i o r e s á estes.
I v o de X n r t r e s no 11.° século c o n s u l t a i s p o r
G á l o n B i s p o de P a r i s sobre o matrimônio de um
dos seus C o n e g o s , l h e r e s p o n d e — q u e se i g u a l c o i z a
ncontecese n a s u a D i o c e z e , ele d e i x a r i a s u b ^ t i r o
matrimônio, e se c o n t e n t a r i a de fazer decer o c a z a d o
a uma ordem inferior. Este facto prova o dezuzo ,
•em q u e se axavão as a n t i g a s L e i s , q u e os b i s p o s
p a r e c i a o i g n o r a r ; e q u e os m a i s esfrupfrlófcós em ca-
zos s e m e l h a n t e s lansavão m ã o d o arbitrário.
N o C o n c i l i o de P a v i a p r e s i d i d o p o r B e n e d i t o 8.
0?

Ftouri Hisf. Éccl. n o 11.o Se<\


8
50
repetise a pena de depozisão c o n t r a os Clérigos coiv*
c u b i n a d o s : e é o r r o r o z a a p i n t u r a , q u e faz este
P a p a d a v i d a licencioza dos mesmos, o que de cer-
t o devia r e z u l t a r da proibisão d o cazamento q u e na-
t u r a l m e n t e seria p o u c o freqüente naqueles lugares %

que estavão d e b a i x o da i m e d i a t a inspesão dos Papas.


N e s t e século parece , que já na m a i o r parte d a
I g r e j a L a t i n a estava em perfeito dezuzo a l e i d o celiba-
t o : é o que refere S. P e d r o D a m i ã o ao Papa, q u e d i -
zião os Bispos : é o q u e ele mesmo observou no B i s -
p a d o de T u r i m , onde òs P a d r e s se cazavão p o r con-
sentimento d o seo B i s p o C o n i b e r t o : e c u j o C l e r o ele
confesa ser o mais o n e s t o , e i l u s t r a d o , que encon-
t r o u : ( 2 0 ) é o que se colige d a C a r t a , q u e A l e x a n -
d r e 2.o d i r i g i o ao R e i , e B i s p o s da D a l m a c i a ; on-
de d i s o P a p a , q u e se para o f u t u r o o B i s p o Sa-
c e r d o t e , o u D i a c o n o se c a z a r , o u conservar a m u l h e r
que t i n h a , decairá d o seu gráo , n e m àsistirá no Co-
r o , nem perceberá os f r u c t o s da I g r e j a ; d a n d o por
esta forma a entender , q u e a pena nao recaia sobre
os actuaes cazados: ( 2 1 ) é o que se d e i x a ver no
D e c r e t o de Nicoláo 2." d i r i g i d o aos B i s p o s d a F r a n -
s a , ordenando , q u e em conseqüência d o r e z o l v i d o
nos Cânones d o Cone. de R o m a , a q u e ele p r e z i d i -
r a , t o d o o P a d r e q u e depois d o D e c r e t o de L e ã o 9.°
( isto é 8 anos antes ) tivese cazado publicamen-
t e , o u não abandonase a m u l h e r com q u e m cazara ,
fose p r i v a d o das funsoes de suas o r d e n s , e não asis-
tisem aos Ofícios D i v i n o s n o P r e s b i t e r i o . ( 2 2 ) E e
nesta ocazião, q u e S. U l d a r c u , o u ( c o m o q u e r e m
o u t r o s ) G o n t i e r , X a n c e l e r d o I m p e r a d o r E n r i q u e 4.°
B i s p o de B a m b e r g , escreve a Nicoláo; que o m a t r i r
m o n i o não é p r o i b i d o aos P a d r e s nem pelo a n t i g o ,
n e m pelo novo testamento &c., e c o n c l u e r o g a n d o ao
P a p a , que deroguè o seu D e c r e t o de medo de eispor
á grandes crimes os Clérigos, privando-os das mu-
lheres , q u e l e g i t i m a m e n t e esperarão. ( 2 3 )
G r e g o r i o 7.o mais a c t i v o , o u menos p r u d e n t e ,
p e r t e n d e restaurar csa d i c i p l i n a , q u e em 7 séculos
senão pôde generalizar : emprega t o d a a casta de meios,.
e p o r sua ordem , o u á sua imitação, m u i t o s C o n c i -

( 2 0 ) M a b i U o n L i b . 62. Ann.nl. ou E p . 25.


(21) H u g o F l a v i . T o m . ) . nov. B i b l i o t .
0

(22) EscritQr.es da m e i a idade T o m . 2.o


MabüloB L i b . 64, Auml, n, 1 3 3 — Ibid, in Appcnd,
51
l i o s renovâo a proibisão d o cazamento dos P a d r e s ;
mas q u a l o rezultado ?
O C l e r o de C a m b r a i escreve u m a carta ao de
R e i m , i m p l o r a n d o socorro contra os Romanos , e
contra G e r a r d seu B i s p o , q u e lhes determinava l a r -
gar suas mulheres, corno ordenara o L e g a d o Ugues ,
fazendo reviver u m Decreto a tanto tempo caido e m
dezuzo ( 2 4 ) . O C l e r o de N o i o n escreve o u t r a carta
ao de C a m b r a i , era que profesão os mesmos senti-
mentos ( 2 5 ) .
O C l e r o das G a u l i a s se eleva, contra o D e c r e t o
de G r e g o r i o 7.°, e até não d u v i d a apelidar a este
P a p a — . E r e g e — p o r determinar a separação de suas
m u l h e r e s , contra a eispresa proibisão de S. P a u l o .
Segisbert de J a m b l u r s , celebre - e s c r i t o r , g r i t a contra
o mesmo Decreto. ( 2 6 )
O A r c e b i s p o de M a i e n s a , e o B i s p o de Pasó
declaravao, q u e bem apezar seu mandavão eizecutar
o Decreto de G r e g o r i o 7.° , e unicamente p o r temor
deste Papa inflecivel em suas opiniões. C o m efeito o
P a p a , pouco satisfeito c o m o rezultado da eizecusão
de suas O r d e n s , determina ao A r c e b i s p o , que se apre-
zente em R o m a acompanhado de seus sufraganeos. ( 2 7 )
A t o n , Bispo de -Constansa, reconhecendo os ma-
les , que devia produzir a eizecusão daquele D e c r e t o
i m p r u d e n t e , não »ó o não faz eizecutar , como con-
t i n u a a p e r m i t i r o cazamento d o seo C l e r o ; mas o
P a p a o xama á R o m a ; e determina ao C l e r o , e po-
vo que o não obedesa ; em fim o eiscomunga. ( 2 8 )
N o C o n c i l i o de Vormes em prezensa de E n r i -
que 4.o é G r e g o r i o 7.o deposto p o r todos os Bispos
prezentes p o r cauza das dezordens ocazionadas p o r seus
Decretos imprudentes. N o mesmo ano o P a p a em
R o m a depõem a E n r i q u e 4.o, e dispensa seus Vasalos
do j u r a m e n t o de fidelidade. I g u a l m e n t e muitos Bispos
além de depostos são eiscomungados. E i s o rezultado
de medidas imprudentes , e talves injustas. A t r a n -
qüilidade p u b l i c a se p e r t u r b a ; em muitos lugares o
C l e r o se subleva: Estados inteiros entrão em terríveis co-
mosões: a superstisão do século favorece aos dezignios d o

(24^ Musaenm I t a l i c u m . V o m . 1.
C2.Y) Cellier. H i s t . dos A u t . E c c l . — Richard. A n a l i z e dos Concil,
l2K) Lamb"rt. Schetnab.
(27) V i t . Greg. A c t . MabiUon.
(>S8) V . Hist. E c c l . de F l e u r i , de Cboass, e de Qmeir.er.
52
P a p a . O r i g o r d o seu zelo i n d i s c r e t o não se modera, e ele
t r i u n f a , a pezar d a perda d a Religião, e d o descré-
d i t o da mesma I g r e j a . (29)
N o mesmo secuio c o m t u d o a i n d a o C o n c i l i o d e
\ inquester r e z o l v e , q u e os P a d r e s cazados c o n t i n u e m
a v i v e r c o m suas mulheres : e q u e só p a r a o f u t u r o
ninguém íbse o r d e n a d o sem p r o m e t e r observar a con-
tinência,
N a E s t r i g o n i a e m 1114 o A r c e b i s p o L o u r e n s o n o
Can. 31 d o C o n c i l i o celebrado nesa C i d a d e p e r m i t e
aos Sacerdotes cazados antes d a sua Ordenasão o coa-
b i t a r e m c o m suas m u l h e r e s , p a r a p r e v e n i r ( d i s o"Con-
c i l i o ) as conseqüências d e s u a f r a g i l i d a d e ; o r d e n a n -
d o i g u a l m e n t e ( p i e uzem desta permisão c o m grajídé
moderasão. (30) ..
T a l era o estado das coizas r e l a t i v o á continência
d o C l e r o , q u a n d o n o C o n c i l i o g e r a l de Latrão em 1 1 3 9
se r e z o l v e u d e c r e t a r q u e fosem n u l o s , os C a z a m e n t o s
dos P a d r e s , s u j e i t a n d o - o s além disso á p e n i t e n c i a e
renovando-se a proibição d e o u v i r M i s a dos P a d r e s
cazados e c o n c u b i n a d o s . D e s d e então não se poderão
mais cazar os P a d r e s ; e o C o n c u b i n a t o s u c e d e u i n -
t e i r a m e n t e ao Matrimônio.
Em 12.37 n'um C o n c i l i o d e L o n d r e s presidido
p e l o L e g a d o d o . P a p a , no C a n . 15 se m a n d a p r i v a r d o
b e n e f i c i o ao Clérigo , q u e se cazar c l a n d e s t i n a m e n t e
cb( larando-se seus t i l h o s incapazes de p o s u i r , . e de se
ordenar. O q u e p r o v a o u z o dos matrimônios c l a n -
destinos^ d e q u e então lansavão m ã o os Eclesiásticos
pelos não p o d e r celebrar p u b l i c a m e n t e .

(29) V. 5.o Tom. S i i p l . á Anual dos C o n e . de R i c h a r d .


• (SO) PclaJisSo dos C o n c i l i o s se c o n h e c e , q u e nem sempre as razões
e m que fundão as suas dicizÒes, são as melhores, p o r e i / e m p l o o CÓn-
ci*!0 geral L a t e r a n e n s e 4.o d e t e r m i n a , que. não valha a p r e s e m ã o sem
boa t e ; e a razão , c m q u e se f u n d a é esta , omne quod non *l ex- e

Jide, peccnhim est. O r a , nada m a i s mal a p l i c a d o . O u t r o C o n c i l i o * e

r a l p r o i b i n d o os 4 -ráos de p a r e n t e s c o , funda-se nos 4 u m o r e s a u e


se c o m p õ e m dos 4 E l e m e n t o s SÍC. V a s q n e s na questão 1 8 1 c a n Q
i a u n h a nm.,;*»,»
p r e v i s t o , estas ;n c o n s e q u e n c i•
„o*~»- i a s . P~o r t a n t o d i z e r o *C-o l
u
n c'i-l i o
lridentino q u e Deos não manda i m p o s i v e i s é u m a verdade mas a
a p h c a s a o do teisto não é a mais f e l i s ; pois onde m a n d a D e o s a
continência ? N ã o é p e l o c o n t r a r i o o mesmo .1. C. q u e deci-írou
que nem. todos erão c a p a z e s desa r«solus3o ? N ã o é S. P M l o onera
™ f p * Y ^ .° 1 " ' ° <
e en l e i n 0
" » «a » " e n c i a , se caze. O s San-
d 0 C ü ü

tos r a d i e s , de que j a hzeuaos inensao e m o u t r a p a r t e , não r e c o -


n h e c e m a i m p o s i b i l i d a d e da continência e m muitos c a z o s ; e a u e e h
e u m d o m p a r t i c u l a r , q u e Deos dá a quem q u e r ? A mesma T r a j a
••o dispensa os q u e a votarão, p a r a poder c o n t r a i r « m crime o Matr -
m o m o , q u a n d o este lhe e necessário? 4
53
Em 1279 no Concilio de Pont-Àudemer Can. 20 v

a i n d a se fala de Clérigos c a z a d o s ; o q u e p r o v a , q u e
no A r c e b i s p a d o de R i i e n a i n d a e r a p e r m i t i d o o ca-
z a m e n t o dos Padres. V e r d a d e é , q u e R i x a r d supõe
q u e esta permisão só d i z i a respeito aos S u b d i a c o n o s ;
rnas esta supozisao é g r a t u i t a , não a v e n d o f u n d a -
m e n t o a l g u m , em q u e se estribe.
M u i t o d i g n o é d e observarse , q u e apezar d a ve-
pelisão, q u e em diferentes séculos se t e m f e i t o , d a
proibisão d o c a z a m e n t o dos Padres, e das penas de-
cretadas ao C o n c u b i n a t o , não se vem as coizas e m
m e l h o r estado ; n e m mesmo se v e m p u n i d o s os E c l e -
siásticos, s e g u n d o as l e i s ; fenômeno e s t e , q u e so
acontcceo , q u a n d o as leis c o m efeito o u são injustas*
o u d e s p r o p o r c i o n a d a s aos delictos. O s e n t i m e n t o i n a t o
de j u s l i s a opoemse á eizecusão de leis c o n t r a d i c t o r i a s :
e então os E i z e c u t o r e s delas tornãose i n d i f e r e n t e s ;
s u p r i n d o p o r esta f o r m a a mesma natureza a falta ,
e os defeitos d o L e g i s l a d o r i m p r u d e n t e . .
F i n a l m e n t e o u l t i m o C o n c i l i o g e r a l n o 16.o sécu-
l o parece , q u e adosou a l g u m a c o i z a a sorte dos
Clérigos c o n c u b i n a d o s ; c o m o j a notámos, e n t r e t a n t o
A
firmou a l e i d o i m p e d i m e n t o ' d i r i m e n t e d a O r d e m ,
a n a l e m a t i z a n d o a t e os q u e somente dicesem , que os
Padres podião cazar, não obstante a lei Eclezias-
ti cá, que o proibia, d a n d o c o m o razão , q u e a con-
tinência não é i m p o s i v e l , e q u e D e o s a concede aos
que a p e d e m d i g n a m e n t e . (SI)
E s t e C o n c i l i o porém n a sua d i c i p l i n a não f o i
aceito em m u i t o s l u g a r e s , e até o j e nem a F r a n s a , .
n e m a U n g r i a consentirão n a sua publicasão ; e m u i -

Q u a n d o p o i s S. . J e r o n i m o , e S. A g o s t i n h o d i z e m ; qúe os 0 l l e

votarão castidade j a não são l i v r e s de v o l t a r ao Matrimônio , qu« e

Deos a j u d a aos que se esforsao , e p e d e m este d o m ; d i g n a m e n t e d e -


vem ser e n t e n d i d o s segundo a E s c r i t u r a Santa , e Santos P a d r e s •
i s t o é ; q u e o q u e u m a ves v o t o u castidade nao pode a seu arbiíruí
d e i x a r de c u m p r i r a sua promesa; deve t r a b a l h a r p o r o b t e r esè d o m
de D e o s ; mas quando a i n d a asim conhesa , q u e nSo pode sem n e r i ^ o
conservarse n a continência , deve r e c o r r e r á I g r e j a , que como i n t e r -
p r e t e da vontade de D e o s , não quer senão a salvasão dò3 F i e i s e
que p o r iso dispensará no seu v o t o . E i s o q u e é C o n f o r m e c o m a
religião, c o m a prudência , e com a bòaordem. N o t e - s que os P a d n e

nao vota.) c a s t i d a d e , mas são somente o b r i g a d o s á continência p o r


l e i Eclesiástica; e q u e p o r iso mesmo estão em m u i C o melhores c i r -
c u n s t a n c i a s do que a queles que a votarão.
( 3 1 ) \ a v e r d a le só h u m a ignorância c r a s a , u n i d a á mais írrosoir*
saperst4sao, e q u e p o d i a f a z e r , que os Soberanos tolerasem c e r t a s
dupoMaoes do» C o n c i l i o s ; v. g. p e r s e g u i d o dos J o s e E r e g e s
u d e
54

tos dos seus A r t i g o s t e m s i d o a n u l a d o s , a l t e r a d o s ,


e reformados j a pelos P a p a s , j a pelos G o v e r n o s ; e
j a em fim pelo c o s t u m e em c o n t r a r i o , e pelo dez uzo.
T a l c o m o se vê acontecer em todas as leis u m a n a s ,
quer c i v i s , como Ecleziasticas.
Conseguio-se c e r t a m e n t e o q u e dezejavão a l g u n s
P a p a s : isto é , os P a d r e s não p u d e r ao mais cazar*
O s Soberanos i g n o r a n t e s de seus d i r e i t o s , a t e r r a d o s
p e l a superstisao dos povos , sugeitos ao domínio dos
P a p a s , toleravão, o u para m e l h o r d i z e r , cederão á
t o r r e n t e d a opinião d o seu século. (32) E se a F r a n -
sa l i b e r t a d a d o T r i b u n a l d e f o g o , q u e tostava áti
v i c t i m a s destinadas a a p l a c a r a colora d o O m n i p o t e n t e
q u a n d o se atrevião a d u v i d a r somente das m á x i m a s ,
q u e R o m a p u b l i c a v a , não conservase p o r u m a par-
t i c u l a r p r o v i d e n c i a a l g u n s festos de l i b e r d a d e m u i t o
m a i s t a r d i o seria o progreso , e o d e z e n v o l v i m e n t o dos
v e r d a d e i r o s princípios , d o D i r e i t o E c l e z i a s t i c o . (33)
Uma verdade porém não deve escapar , e é ;
q u e a O r d e m t e m s i d o i m p e d i m e n t o d i r i m e n t e em-
quanto o Poder temporal tem apoiado com a es-
p a d a , o q u e o C o n c i l i o q u i s p l a n t a r c o m o anate-
nva. D e s d e q u e os S o b e r a n o s deixarão este n e g o c i o
a a r b i t r i o dos E c l e z i a s t i c o s , eles p r o n t a m e n t e m u d a -

escravidão d a q u e l e s , proibisão de se l h e r dar cargos p n b l i c o s , a r -


r a n c a r s e l h e s os filhos & c X e j a n d o o 4. 0 C o n c i l i o g e r a l de Lairão
ao eisceso de d e c l a r a r , que o P a p a e i s p o r i a as terras dos Prínci-
p e s , que não eispulsarem de seus domínios os E r e g e s , á c o n q u i s t a
dos Católicos. E i g u a l m e n t e c a r i o z o v e r os C o n c i l i o s de T o l e d o ; e
Sara^osa nos fins do 7.o Século p r o i b i n d o ás V i u v a s dos R e i s c a z a -
remse com p e n a j de eiscomnuhão , e o b r i g a n d o a s a t o m a r a b i t o de
R e l i g i o z a s e m a l g u m M o s t e i r o p o r t o d a a sua v i d a , & e . & c . & c .
(32) M e r e c e ser o b s e r v a d o , que as l i b e r d a d e s da I g r e j a G a l i c a u a
«levem a sua e i z i s t e n c i a mais á protesão do G o v e r n o , do que aos e s -
rorsos dos E c l e z i a s t i c o s , os quaes p o r vezes t e m s u p l i c a d o a p u b l i -
cando do C o n c i l i o T r i d e n t i n o , onde os d i r e i t o s dos B i s p o s sao m u i
pouco atendidos, e onde se pertende i n d i r e c t a m e n t e i n c u l c a r o domínio
u n i v e r s a l dos P a p a s , e sua s u p r e m a c i a aos C o n c i l i o s g e r a e s , & c .
(33) N o I E Século P e d r o P a t r . de A n t i o q u i a , escrevendo a M i -
g u e l C e r u l a r i o ^ depois de d e s c u l p a r os L a t i n o s de vários abuzos na
-'ia d i c i p l i n a , a t r i b u i n d o a b a r b a r i d a d e dos mesmos, aconselha , que
escreva ao P a n a sobre a reunião , não i n s i s t i n d o se não, e m que t i -
rasc do símbolo a p a l a v r a — F i l i o qíie—e q u e r e v o g a s e a l e i do Ce-
},
h a ( o . T a n t o os e s c a n d a l i z a v a ! C o m e f e i t o , q u a n d o se vem a l g u n s
4
o n c i l i p s d e t e r m i n a n d o , que as m i z e r a v e i s espozas dos P a d r e s ávidas
unes da O r d e n a s a o destes, não posão c o n t r a i r Matrimônio a i n d a de-
pois da m o r t e dos sejs m a r i d o s : c o n c e d e n d o aos P a d r e s p r e n d e r e
asoitar esas m u l h e r e s por eles a b a n d o n a d a s , q u a n d o a d u l t e r a r e m à r ,
e d i f i c i l e n c o n t r a r d e s c u l p a p a r a taes eicesos.
V. os C o n c i l i o s 1 de V i e n a , l» de L a t r u o , e F l o r e n s a .
v
rão o C o n c u b i n a t o em l e g i t i m o matrimônio; eis o
q n e se observou e n t r e as Seitas p r o t e s t a n t e s ; n a mes-
m a I n g l a t e r r a ; e n a França m o d e r n a m e n t e .

Rezumo da Instituição do Celibato.

Está provado, que o Celibato dos Padres nem


é d e lnstituisão D i v i n a , nem Apostólica: q u e té os
f i n s d o 3.o século f o i l i v r e aos P a d r e s o c a z a r e m s e ,
e v i v e r e m m a r i t a l m e n t e c o m as m u l h e r e s , q u e tinhão
antes d a sua ordenasão ; a i n d a q u e p o r c o s t u m e f o -
sem raros os seus cazamentos , e q u e m u i t o s se abs-
tivesem ' d o mesmo a c t o c o n j u g a i p o r m u t u o consen-
so : q u e desde o p r i n c i p i o cio 4. século , e m q u e
t e v e o r i g e m a l e i p a r t i c u l a r d o C e l i b a t o , f o i tãobem
c o n s t a n t e a inobservância dela á p o n t o , q u e e m
m u i t o s l u g a r e s c a i o em p e r f e i t o d e z u z o , e até e i n
t o t a l e s q u e c i m e n t o : q u e apezar d e em d i f e r e n t e s sé-
c u l o s renovarse esta l e i , e c o m penas a c e r b a s , e i n -
j u s t i s i m a s ; c o m t u d o j a m a i s se conseguio g e n e r a l i z a l a :
que n o 11. século ficou a l e i d o C e l i b a t o em inteiro,
e s q u e c i m e n t o , cazandose n a m a i o r p a r t e das Diocezes
os P a d r e s sem q u e fosem p u n i d o s ; e antes p e l o
c o n t r a r i o c o m tolerância , e até permisão dos B i s p o s
respectivos : q u e depois q u e o C o n c i l i o g e r a l de L a -
trão n o 12. século fes d a O r d e m i m p e d i m e n t o diri-
m e n t e d o Matrimônio, a i n d a em a l g u m a s D i o c e z e s se
c o n s e r v o u o C l e r o n o d i r e i t o de cazarse»
Está p r o v a d o , q u e n o O r i e n t e desde o p r i n c i p i o
os P a d r e s conservarào-se n o Matrimônio contraído a n -
tes d a Ordenasão; e q u e os mesmos solteiros caza-
vãose, posto q u e raras vezes, e c o m estranheza em
a l g u n s l u g a r e s : q u e sendo v a r i a a d i c i p l i n a á este res-
p e i t o , nos fins d o 7 século o C o n c i l i o Q u i n i s e i s t o
a f i r m o u p a r a s e m p r e ; d e c l a r a n d o , não só, q u e o M a -
trimônio não era obstáculo a l g u m para a Ordenasão ;
c o m o t a m b é m , q u e era u m c r i m e o b r i g a r ao P a d r e
abster-se de sua m u l h e r ; mas q u e o P a d r e solteiro y

q u e p o r e s p i r i t o de perfeisão senão ouvese cazado an-


tes d a Ordenasão , fose deposto , se o fizese depois y

sendo p o r e m v a l i d o o seu Matrimônio. E esta p r a t i -


ca da I g r e j a d o O r i e n t e f o i c o n d e n a d a p e l a d o O c i -
d e n t e ? E i s o ob;ecto d a s e g u i n t e O b s e r v a d o *
56
 Igreja do Ocidente nunca se opos á diciplina da
do Oriente, tocante ao Celibato dos Padres.

O Concilio in Trulo censura a Igreja de Roma


o p r o i b i r aos seus P a d r e s cazados o u z o das l e g i t i -
mas m u l h e r e s , c o n t r a a eispresa determinasão das Sa-
gradas L e t r a s ; e m u i t o mais estranha o o b r i g a i o s á
Separasâo. N ã o aparece u m só C o n c i l i o d a I g r e j a L a -
tina, q u e p r e c u r a s e defenderse desta imputasão. A s
I g r e j a s L a t i n a , e Gfégà conservão-s* u n i d a s p o r m u i -
tos séculos a i n d a : celebrão j u n t a s a l g u n s C o n c i l i o s
g e r a e s ; mas g u a r lase s i l e n c i o sobre esta matéria; ca-
d a I g r e j a segue a sua d i c i p l i n a . Separãosé as d u a s
I g i e j a s ; * q u a n d o se t r a t a de reunião, é a G r e g a a
q u e e i z i g e , e n t r e o u t r a s c o i z a l , d a L a t i n a a abolisão""
d o C i l i b a t o . ( 3 4 ) E q u a n d o em 1215 n o C o n c i l i o ge-
r a l de Latrão sob I n o c e n c i o 3.o p e l a p r e z e n s a d o s
P a t r i a r c a s de C o n s t a n t i n o p l a , e J e r u z a l e m , e d o I m -
p e r a d o r d o O r i e n t e se fazem C â n o n e s r e l a t i v o s aos G r e -
gos ; b e m l o n g e d o s L a t i n o s c e n s u r a r e m a p r a t i c a da-
q u e l l e s c o n s e r v a r e m os seus P a d r e s c a z a d o s , p e l o c o n -
trario formalmente reconhecem a l e g i t i m i d a d e deste
uzo (35.)
I n o c e n c i o 3.° c o n s u l t a d o , se p o d i a promoverse
ao E p i s c o p a d o o filho de u m S a c e r d o t e G r e g o , res-
p o n d e — q u e c o m o a I g r e j a O r i e n t a l não a d m i t i a o
v o t o d a c o i u i n e n c i a , sem a m e n o r d u v i d a d e v i a p r o -
cedente á Ordenasão. (36)
E m fim B e n e d i t o 14 c o n h e c e n d o , q u e não d e v i a
alterar a d i c i p l i n a d o C e l i b a t o para c o m os G r e g o s
r e u n i d o s á i g r e j a L a t i n a ^ pela B u l a 5 7 de d o g m . e t
r i t . a b Itológre. t e n e n d . lhes p e r m i t i o a conservasão
dos seus uzos a eáte respeito. ( 3 7 )

Ttezumo sreral.

Demostrada está a legitima autoridade da Ascm-


bléa g e r a l para e s t a b e l e c e r , r e v o g a r , e dispensar os
1
* •i i _ - - _ , -|, _ m _ - . ' m - ,

(31) Can. 14 manda castigar com o rigor do* Cânones os Clérigos


"Co icnbinadv s ; e a c r e c e n t a — Qui autem secundam resrionis su& MO-
/•/*/// non abdicarúnt cõpútnm fionjugalein , si ln>isi fuermt , gravi
pwiiftp.tr , cum legitime thá^fífnojpo po$svit.t ?:ti.
(35) .... Mandamos, si aliciei Üahonicutti non obaifitat , ad confir-
m a i ion em, et consecntíònem siné dnbitatione procedas.
Tn C. c*im o ' i m , de e l o r i e s couj.
(36) V. Cap. 6 de Gler. çonj.
(37) B u n r a n d nasça ColesHo cie Cânone* j e R i r ar d refletindo sobre
mesmo. A r i . E a i p e e t i . d e i O r d .
57
impedimentos do Matrimônio, como verdadeiro con-
trato c i v i l , p r i v a t i v a , e eiscluzivamente s u g e i t o ao
P o d e r temporal.
D e m o s t r a d a está a necesidade d a abolisão d o
i m p e d i m e n t o d a O r d e m , p o r ser i n j u s t o , p o r ocazio-
nar a i m o r a l i d a d e n o C l e r o , e n o p o v o ; o u q u a n d o
menos p o r ser inútil.
D e m o s t r a d o está, q u e o C e l i b a t o C l e r i c a l não só
não f o i d e t e r m i n a d o p o r J . C., e seus Apóstolos aos P a -
dres, c o m o n e m mesmo lhes f o i e i s c l u z i v a m e n t e aconse-
l h a d o : q u e apezar de ser d i f e r e n t e a d i c i p l i n a das
I g r e j a s d o O r i e n t e , e O c i d e n t e nesta parte desde os
fins do 3.o, o u p r i n c i p i o d o 4.° século, n u n c a elas
p o r semelhante c a u z a se dezunirão, o u anatematizarão ;
que a i g r e j a G r e g a c o m t u d o ' t e m sempre c e n s u r a d o
á L a t i n a o p r o i b i r o u z o d o Matrimônio aos P a d r e s
c a z a d o s ; e esta não só n u n c a e s t r a n h o u o u z o da-
q u e l a I g r e j a , c o m o pelo c o n t r a r i o solenemente o r e -
conheceu p o r l e g i t i m o ; e o t e m p e r m i t i d o aos Clé-
r i g o s G r e g o s q u e se l h e t e m r e u n i d o .

2?' licito censurar á* Diciplina.

Primeiramente devemos estar persuadidos, que a


I g r e j a somente diíine, e d e c l a r a , o q u e é D o g m a ;
e q u e seus decretos não versão senão sobre a D i -
c i p l i n a : q u e o D o g m a é de sua n a t u r e z a invariável
p o r fundar-se na revelasão constante da E s c r i t u r a ,
o u d a Tradisão u n i v e r s a l , e n u n c a i n t e r r o m p i d a d a
I g r e j a : q u e a D i c i p l i n a pelo c o n t r a r i o é de sua n a t u -
reza variável j a p o r q u e se f u n d a em cálculos u m a n o s ,
que p o d e m ser i a l i v e i s , j a p o r q u e d e m a n d ã o sabedo-
r i a e prudência , q u e nem sempre eizistem nos L e -
gisladores em grão c o n v e n i e n t e ; j a em fim p o r q u e de-
ve ser a p r o p r i a d a ás c i r c u n s t a n c i a s d o t e m p o , l u g a r ,
e pesoas , q u e nem sempre são as mesmas.
O C e l i b a t o dos Clérigos é o b j e c t o d i c i p l i n a r ; o
q u e está p r o v a d o pelo q u e d i c e m o s , m o s t r a n d o , q u e
é de Instituisão m e r a m e n t e E c l e z i a s t i c a , c u j a n a t u r e -
za não m u d a a i n d a na opinião d o s q u e o fazem de
Instituição Apostólica; mas os escrupulozos podem
c o n s u l t a r a B u r x a r d , B i s p o de V o r m e s , a ílixard ( 3 8 )
i — .ii

(38) Vide Nota precedente,


58
á P i o 4.o ( 3 9 ) , a Selvngio ( 4 0 ) , N a t a l e A l e x a n d r e ( 4 1 )
e até o mesmo B e r g i e r ( 4 2 ) e m u i t o s o u t r o s , q u e nao
lhes são suspeitos.
R e p i t i r e i as palavras de I i i x a r d , p o r isso mesmo.
q u e ele é acerrimo defensor d o C e l i b a t o ; eisai — -
A diciplina ê esencialmente variável, porque ela não
consiste em coizas necesarias ã salvasão ou ordena-
das pelo Evangelho ; mas em praticas ou indiferen-
tes em si, ou não necesarias ; e cuja utilidade e
relativa aos tempos, ás pesoas, ás Nasões ; e que
por iso podem ser úteis ríum tempo a respeito de
certos povos , inúteis , e mesmo prejudiciaes em ou-
tros tempos , e a respeito de outros povos. E r
por
iso, que as difinisoes da. Igreja não são sempre as
mesmas sobre pontos de diciplina.... Daqui vem as
dijerensas, que se encontrão entre as Igrejas Latina >
e Grega na administrasão dos Sacramentos, no Celi-
bato dos Padres , S;c Para que um ponto de di-
ciplina fose invariável, e que pertencese á Fé, se-
ria necesario que fose revelado , e crido tal por uma
tradisão universal. — T r a t . dos Cone. Cap. 17. Regr. 4.
N ã o só é l i c i t o , c o m o demais a mais 6 u m de-
ver d o O m e m social ,~e d o b o m cristão censurar t o d a
a legislasão , q u e está em contradisão com a natureza ,
e co°m os fins d a asociasão, a q u e pertence. A decência,
e a moderasão devem p r e z i d i r á analize d a i u j u s t i s a ,
imprudência, o u i n u t i l i d a d e da L e i , c u j a abolisão
se pertende. A censura l i v r e m e n t e c i z e r c i d a pelos sub-
d i t o s é o meio p a c i f i c o , e l e g a l , pelo q u a l o L e g i s -
l a d o r conhece a imperfeisão d a lei , e é suficientemen-
te esclarecido para a l t e r a l a , o u revogara , segundo
a eizigencia das circunstancias.
A q u e m , senão á c e n s u r a , se deve a eistinsão
de tantos abuzos na d i s i p l i n a E c l e z i a s t i c a de tantas
uzurpasões de poder, de tantos eiscesos de jurisdisão ;
e de tantas superstis5es surrateiramente i n t r o d u z i d a s no
c u l t o d o verdadeiro D e o s ?
Se a censura p u b l i c a nao fose p r o i b i d a : se o
t r i b u n a l de fogo não tapase a boca dos sábios, e
dos q u e i x o z o s : se os P a p a s não s e j u l g a s e m c o m d i -
reito de i m p o r silencio p o r meio de seus terriveis ana-

(S9) V. F l e u r i , ou seo Continuador , referindo a opinião deste Pa


pa á Aniulio &c.
(40) S. lv. l n s t . Can. e A n t i g . Eclez. .#

(41) Disert. ad 4.o sec. Hist. Eclez.


^42) Aít, Celib» de Dicionário Teológico,
59
temas a quem não só íalase , mas até pensase em con-
tradisão aos seus p v i n c i p i o s : se u m a espionagem ver-
gonhoza não fose um dever de todo o Católico H o -
m a n o ; o b r i g a d o a denunciar o próprio p a i , o mesmo
f i l h o , a cará espoza para serem imolados no fogo sa-
grado , q u e a superstisão impunemente encara no co-
rasão dos Estados; e que devia ser ateado pelo mes-
mo P o d e r , que os devia apagar : sim , se não forão
estes obstáculos não se teria perpetuado na I g r e j a a
lei do C e l i b a t o que tanto m a l tem cauzado á socie-
dade aos i n d i v i d u o s , e á mesma Igreja.
9

E n t r e t a n t o devese aos esforsos da n a t u r e z a , ven-


cendo os prejuizos daeducasão, o eizercicio da censu-
ra , que acabou com as celebres provas xamadns — J u í -
zos de Deos — com a E u c a r i s t i a dada acs mortos —
com a peisiguisão dos J u d e o s — com as dezaslrozas
Cruzadas — com o abuso das Indulgências—com o
domínio U n i v e r s a l dos Papas — com a venerasão ás
falsas Decretaes — com a eistinsão do Santo Ofi-
c i o — &c. &c. &c.
D e v e p o r t a n t o continuar a censura, a fim de que
a d i c i p l i n a Ecleziastica se a l t p e , se m o d i f i q u e , e se
aperfeisoe; m u i t o mais prezenfémente em que os Pa-
pas temendo a O m n i p o t e n c i a dos Concilios geraes, á
trezentos anos não os convocão m a i s , contra a eis-
presa determinasão dos mesmos C o n c i l i o s , á que eles
estão subordinados, e a quem devem filial obediência,
como nós todos os Católicos.
A Igreja não é i n f a l i v e l , se nao quando difine o
D o g m a , e a M o r a l . E m q u a n t o á d i c i p l i n a ela pôde
d e i x a r de ser prudente , pôde mesmo tolerar coizas
b e m difíceis de justificarse. E" o grande Cano , q u e
o afirma ; é o sábio , e j u d i c i o s o F l e u r i , que anali-
zando alguns uzos da d i c i p l i n a m o d e r n a , nos dis
A tudo isto não vejo outra resposta , se não convir
de boa fé, que nestas matérias , como em todas as
outras o uzo não se acorda sempre com a recia
razão ; mas não se segue que por iso devemos aban-
donar nosos princípios , os quaes vemos claramente
fundados sobre a Escritura, e sobre a tradisão da
mais sã antigüidade. ( 4 3 ) E' o grande Teólogo D i o -
go de P a i v a , tão louvado pelos Istoriadores do Con-

(43) Disc. 10 á Ist. Eclez,


9 íi
60
c i l i o cie T r e n t o , n o q u a l nos d e c l a r a — que o* Con-
eilios geraes em matéria de diciplina não só podem
errar , como nem sempre determinão o mais saúda*
rei. ( 4 4 )
T a l é a opinião d o noso P e r e i r a (45) , e o u t r o s
m u i t o s 5 f u n d a d o s na eisperiencia d o q u e t e m decreta-
do os C o n c i l i o s a i n d a geraes ( 4 6 ) : e S. A g o s t i n h o
j a t i n h a d i t o a mesma coiza no 4.o século. ( 4 7 )
N i n g u é m p o r t a n t o nos estranhe o u z o de u m d i -
r e i t o , q u e , para q u e m o sabe a p r e c i a r , é i g u a l m e n t e
u m dever m u i i m p o r t a n t e .

A diciplina da Igreja Latina acerca do Celibato


Clerical não é prudente.

Resta eizaminar , se a Igreja tem razão de insis-


t i r n o C e l i b a t o dos Padres c o m o condisão necesaria
para serem conservados nos seos E m p r e g o s , pois q u e
só isto é d a sua competência; p o r q u a n t o p r o v a d o
está, q u e decretar a u t i l i d a d e dos seos Matrimônios ,
é só e p r i v a t i v a m e n t e só d a competência d o P o d e r
5

temporal.
D e z e j a r , q u e os P a d r e s scjão p e r f e i t o s , isto é %
que tenhâo não só as''virtudes ordinárias, mas a i n d a
aquelas, q u e os tornão Angélicos, e u m eicelente
dezejo : é u m conselho d a d o a t o d o s os Cristãos p o r
J . C , e c o m mais p a r t i c u l a r i d a d e á seos X e f e s , M i -
n i s t r o s , e C o n d u t o r e s ; mas d e t e r m i n a r p o r l e i , q u e
os Padres sejão p e r f e i t o s , é u m a pertensão impraticá-
v e l , f u n d a d a n a falsa- persuazão de q u e a perfeisão c
u m estado n a t u r a l , e que. p o r iso pode ser c o m u m
á u m a clace i n t e i r a : é elevar a eicesâo á r e g r a : c
u m a imprudência, fazendo o j u g o d o S e n h o r pezado ,
a salvasão d i f i c i l , e a v i d a u m a n a em m u i t o s cazoa

( 4 1 ) .... C i r c a le^ea ad E c c l e s i a m c o m p o n e n d a m tantas possunt


e f r a r e , e t non s^mpcr s a l u h r i o r a s t a t u u n t . L i v . 1. D e f . T r i d . íid.
(45) A n a l i s e da Profisao da Fé. & c .
• ( 4 6 ) N a v e r d a d e se cegamente obedecesemos aos C o n c i l i o s ; o q u e
s e r i a de nós tendo d i a n t e dos olhos o a n a t e m a do C o n c i l i o # e r a l de
C o n s t a n s a c o n t r a os que d i c e s e m , q u e erao falsas as D e c r e t a i s , e
torjos os Clérigos} que asestuda\ao? E m q u e estado se a b a r i a a civili-
zasão , se c e g a m e n t e seguisemos o d e c r e t a d o em os C o n c i l i o s do 7.*
século té o T r i d e n t i n o ? Di^ão os q u e os t e m l i d o , e sabem os ma-
les , q u e tem cáuzadò. Os séculos de t r e v a s , em que forao d e s c e »
l i b r a d o s , dçsculpão os seos erro-"; e a i n d a a d m i r a , como a D i v i n a P r o -
v i d e n c i a soube c o n s e r v a r a D o u t r i n a i n t a c t a no meio de t a n t a i g n o -
rância, ~~ pr—r
(M) Quisnescit ipsa pleniora stspe áposttrioribus emcndari, id est t

Ganciliis. Liv. 2 C 3 de bapl. cont. Don,


a
61
insunortnvel : é um rigor, que J. C. Senhor Mestre,
e F u n d a d o r d a Religião não e i z i g i o ; q u e os A p ó s -
t o l o s não determinarão , e em q u e a m e s m a I g r e j a lé
o 4.o século não c o o s e n t i o .
S e r i a c o m t u d o tolerável a d i c i p l i n a d o C e l i b a t o
se e m b o r a fose d e t e r m i n a d o p o r lei , e q u e p o r c o s t u -
m e , d e i x a d o tão s a b i a m e n t e ao a r b i t r i o d e c a d a u m ,
se p r a t i c o u n a I g r e j a té o fim d o & ° século : p o u c o s
males p o d e r i a então p r o d u z i r . N e m á I g r e j a faltarião
M i n i s t r o s p r o b o s ; n e m os f r a c o s encontrarião tão f r e -
qüentes ocaziÕes d e q u e d a . P e r m i t i n d o s e t i r a r os M i -
n i s t r o s S a g r a d o s d a c l a c e dos O m e n s cazados , sem
c o m t u d o p r o i b i r l h e s o u z o d o Matrimônio , c o n s e g u i r -
seia : J d i l a t a r s e i n f i n i t a m e n t e ^ o n u m e r o dos e l e g i ,
veis , e p o r i s o aver l u g a r p a r a m e l h o r e s c o l h a : 2.o
p o d e r o I g r e j a ser severa n o e i z a m e d o s C e l i b a t a r i o s
voluntários , a fim de q u e p u d e s e m d a r o e i z e m p l o
d e perfeisão , a q u e se propunhão : 3.o n a o l h e seria
n e c e s a r i o s u r p r e e n d e r os rapazes de v i n t e a n n o s ; es-
p e r a r i a , que tivesem a idade p e r f e i t a , c o m o d i s S.
P a u l o , isto é p e l o menos 3 0 a n o s , a q u e l a i d a d e e m
\ q u e J . C. d e u p r i n c i p i o á stva^ M i s ã o D i v i n a ; i d a d e
necesaria sem d u v i d a ; e até r e q u e r i d a , pelos a n h g o s
C â n o n e s p a r a e n t r a r - s e n o e i z e r c i c i o de funsoes tão
a u g u s t a s , e q u e deinandão o r e s p e i t o , q u e i n s p i r a a
i d a d e r e u n i d a á v i r t u d e ; o q u e e n t r e t a n t o não p o d e
o j e t e r l u g a r , p o r q u e serião raros os o m e n s , q u e es-
p e r a sem s o l t e i r o s té os 3 0 anos de sua i d a d e para
se a l i s t a r e m n o Ministério E c l e z i a s t i c o , de q u e r e z u l -
t a r i a f a l t a considerável n o serviso da I g r e j a . E i s c o m o
u m a b i s m o x a m a o u t r o abismo.. 4.° P o r q u e a I g r e j a
não se veria na necesidade de f e i x a r os o l h o s ao C o n -
c u b i n a t o dos P a d r e s ( c o m o j a o p i e d o z o G e r s o n pen-
sava c o n v e n i e n t e ) antes p r o c e d e n d o c o n t r a os mesmos
c o m t o d o o r i g o r dos C â n o n e s , s e p a r a r i a o grão d a
p a l h a , c o n s e r v a r i a ileza a o n r a , e a d i g n i d a d e E c l e -
siástica, e p r o m o v e r i a o b e m , e a salvasão d o M i -
n i s t r o i n d i g n o , a p a r t a h d o - o d ' u m E m p r e g o , de q u e
n ã o é c a p a z , sem c o m t u d o p r i v a l o dos meios únicos
de r e m e d i a r á s u a desgrasa.
A m i g o s p o r e m dos uzos d a nosa I g r e j a , e t a l v e s
p r e v e n i d o s pela s u a a n c i a n i d a d e , q u i z e s e m o u t r o s , q u e
voltasemos á d i c i p l i n a d e c r e t a d a , posto que rarisimas
vezes p r a t i c a d a , desde o 4.° té o 12.o século, isto é :
q u e se não a d m i t i s e m ao E s t a d o E c l e z i a s t i c o omens
c a z a d o s , vivendo maritaloaente c o m suas m u l h e r e s ; e
62

somente se deptízesèm os P a d r e s q u e se cazasem , sem


a n u l a r c o m t u d o os seus Matrimônios. E m verdade só
u m a cega prezunsão, o u u m respeito fanático á cos-
t u m e s , c u j a o r i g e m d e s c o n h e c e m , é q u e poderá des-
c u b r i r m o t i v o s de preferencia n' u m a d i c i p l i n a , c u j o s
r e z u l t a d o s j a observamos. C o n f e s o c o m t u d o , q u e seria
\ Hn n
J e n o r
tnal : p o r q u e em l i m a l g u n s P a d r e s p i e -
lirerião em m u i t o s cazos o c a z a m e n t o ásonras, e co-
m o d i d a d e s , q u e lhes oferece o Sacerdócio; p o r e m a
m a i o r p a r l e p r a t i c a r i a , o q u e d i z e m os I s t o r i a d o r e s ,
q u e praticarão os P a d r e s n o t e m p o , em q u e G r e g o -
r i o 7.o d e s p r e n d e n d o t o d o o r i g o r d o seu z e l o , os
o b r i g o u a a b a n d o n a r as I g r e j a s , o u as mulheres. Q u a z i
t o d o s fingirão delas d i y o r c i a r s e ; e ao p r i n c i p i o c l a n -
d e s t i n a m e n t e , e ao depois âs claras oferecerão o espe-
ctaculò f r i z a n t e d a i n f i d e l i d a d e : e d o escândalo. (48)
E s q u e s a m o n o s p o r e m d e t u d o q u a n t o temos obser-
v a d o : s u p o n h a m o s , q u e é d e necesidade o u pelo
m e n o s de s u m a u t i l i d a d e , q u e o P a d r e seja s o l t e i r o ,
p a r a conservarse ( c o m o d i s S. P a u l o f a l a n d o dos não ca*
zados ) l i v r e dos c u i d a d o s d o século, sem estar c u i d a -
d p z o de a g r a d a r á m u l h e r , & c j mas p o r acazo o P a -
dre p o r não t e r m u l h e r , não t e m P a i , M ã i , I r m ã s ,
e a i n d a mesmo filhos ã seu c a r g o ? N a d i c i p l i n a a c t u a l ,
e m q u e os P a d r e s se ordenão a t i t u l o d e patrimônio,
nao se axão q u a z i t o d o s o c u p a d o s em g r a n g e a r os
m e i o s de s u b z i s t e n c i a ? N ã o são eles A r t i s t a s , M e s -
tres o u L a v r a d o r e s , e n t r e t e n d o g r a n d e n u m e r o d e d o -
mésticos ã s e u c u i d a d o ? N ã o c o mesmo j u d i c i o z o
F l e u r i , q u e m p e r g u n t a — o que é o cuidado d' uma
família paiiicular em comparasao d* um Estado! O
que ê o tratamento diurna mullier com sinco, ou seis fi-
lhos , e outros tantos domésticos em comparasao do
governo de cem mil suhditos ? ( 4 9 ) E n t r e t a n t o , a l e m
de m u i t o s B i s p o s , q u e administrão E s t a d o s , não é
o mesmo noso S a n t i s i m o P a d r e , q u e nos oferece o
e i z e m p l o d u m B i s p o M o n a r c a , regendo milhões d e
1

( 4 S ) O B i s p o Sinòio e m Princípios do o.o século , q u a n d o repugtlOÜ


a c e i t a r o Bispado, d i z i a , q u e era p a r a não v e r f u r t i v a m e n t e sua m u l h e r ,
e d a r aparências de adultério a u m a aesão l e g i t i m a , o q u e dà a en-
t e n d e r , q u e asim p r a t i c a v a a m a i o r p a r t e dos Cazados , q u e se o r -
Jenavão , p r o m e t e n d o não coabítar c o m as m u l h e r e s ; c isto mesmo
provão as inumeráveis proibisoes de C o n c i l i o s , p a r a q u e os C a z a d o s n a o
íivesem as mulheres e m s u a c o m p a n h i a o u ao menos t i v e s e m u m Con-
f r a d e p a r a t e s t e m u n h a da sua c o n d u t a c o m elas, & c .
(49) F l e i ^ r i — 4.° D i s c u r s o á I s t , E c l e z .
63 \

omens? Pois nada disto uzurpa os cuidados, que de-


vem ser empregados p r i v a t i v a m e n t e no Ministério E c l e -
siástico ; não d i v i d e o corasao d o P a d r e ; não o i n a -
b i l i t a para a Orasão ? S ó o Matrimônio , sendo u m Sa-
c r a m e n t o x e i o de grasas^ e i z i g i d o pela n a t u r e z a d o
O m e m , é o único estado incompatível c o m o Sacer-
dócio? S a i b a o t o d o s , q u e não é ; e não é, p o r q u e n o
A p o s t o l a d o , c o m c e r t e z a , só e n t r o u u m J o ã o s o l t e i -
ro , e este não f u i o q u e mereceu a o n r a d o P r i m a -
d o , mas u m P e d r o c e r t a m e n t e cazado.
N ã o o é , p o r q u e a I g r e j a U n i v e r s a l té o 4.o sé-
c u l o a d m i t i o ao Sacerdócio O m e n s cazados v i v e n d o
c o m suas mulheres ; a d o O r i e n t e té o j e asim os con-
serva , e a d o O c i d e n t e t e m a p r o v a d o sua c o n d u c t a
a este r e s p e i t o , posto q u e desdenhe i m i t a l a .
V a m o s a o u t r a ipoteze. S u p o n h a m o s , q u e t o d a s
estas razões são f u t e i s , o u a p a r e n t e s ; averá q u e m ne-
gue, q u e a continência não é p r a t i c a d a pela m a i o r
p a r t e d o C l e r o ? C o n c e d a m o s de b a r a t o , q u e só o cen-
t e z i m o dos P a d r e s é i n c o n t i n e n t e : e este c e n t e z i m o
não merecera a compaixão d a I g r e j a ?
J . C. n a parábola d o B o m P a s t o r não m o s t r o u ,
que p a r a salvar u m a só o v e l h a p e r d i d a , m u i t a s ve-
aes se a b a n d o n a n o v e n t a , e n o v e , q u e estão f o r a d e
perigo? Deixe pois a I g r e j a 99 Padres serem, o u
não c o n t i n e n t e s a seu a r b i t r i o ; e se u m só se perde
p o r cauza d a l e i d o c e l i b a t o , revoguea.
O Povo Ebreu f o i dispensado na l e i n a t u r a l ,
para poder conservar m u i t a s m u l h e r e s ; e J . C. d i s ,
q u e M o i z e s l h e p e r m i t i o a p o l i g a m i a em razão d a
d u r e z a d o seu corasao. 15 séculos de eisperiencia p r o -
va Q a i m p o s i b i l i d a d e d o C e l i b a t o na m a i o r parte d o
C l e r o ; concedalhe pois a I g r e j a o cazamento, o q u a l
a i n d a asim não é c o n t r a a l e i n a t u r a l .
S. C l e m e n t e de A l e x a n d r i a , e o u t r o s P a d r e s
julgando um c r i m e a p o l i g a m i a succsiva , convém
c o m t u d o , q u e S. P a u l o a p e r m i t i o em considerasão-
á f r a q u e z a uman*v. ( 5 0 ) A I g r e j a p e r m i t a aos P a d r e s
o c a z a m e n t o , q u e não é u m c r i m e , em considerasão
a sua b e m r e c o n h e c i d a f r a q u e z a ; e para esta p e r m i -

to) Si c u i Apostolus p r o p t e r i n t e m p e r a n t i a m , e t u s t i o n e m , e x
v e n i a secundum c o n c e d l t m a t r i m o n i u m , h i c q u o q u e n o n peccat , &c>
S. C l e m e n t e Str. 3.
S. E p i f a n . H o r e s 59. — S. Teodore. n a E p . I . a d T i t . d i s , q u
conceda a s 2. N u p c i a s
S. P a u l o íiS
aos mesmos Padres p a r a e v i t a r a
incontineucia,
61

são não á necesidade de indulgência, basta prudên-


cia , e j u s t i s a .
O Apóstolo aconselhando aos cazados a separa-
são d o l e i t o p o r a l g u m t e m p o , para melhor se a p l i -
carem á orasáo, recomenda c o m t u d o , q u e v o l t e m
ao a n t i g o c o s t u m e , p o r cauza da i n c o n t i n e n c i a ; e
isto dis°S. P a u l o , q u e não o r d e n a , mas p e r m i t e p o r
indulgência. N a verdade os Santos P a d r e s descobrem
no uzo d o matrimônio alem d o cazo d a propagasao
da espécie , u m a imperfeisão , e até u m a desvmsão d a
l e i . A I g r e j a i m i t e o Apóstolo; e ao menus p o r i n -
dulgência , p o r cauza d a i n c o n t i n e n c i a , p e r m i t a o
cazamento aos Padres.
D e m a i s : não é o mesmo S. A g o s t i n h o q u e en-
sina , que se deve moderar u severidade da lei, a fim
de que a caridade aplique o remédio á maiores
males ?• ( 5 1 )
N ã o c o P a p a S. S i m a s o , q u e p r o c l a m a v a esta
máxima — Q seria cruel insistir na observância
u e

d'uma lei, quando ela se torna prejudicial á Igre-


ja ; porque as leis são feitas no dezignio, que apto-
veitem , e não que produzão males ? (52)
N ã o c S. B e r n a r d o , q u e nos d i s que nada
mais justo , do que a mudansa , alterasão , ou omi-
são daquelas coizas, que por princípios de carida-
de se estabelecerão , quando a mesma caridade asim
aconselha ? ( 5 3 ) .
N ã o tem sido esta a m?.rxa da i g r e j a em tantas
leis respeitáveis, c a l g u m a s , q u e forão d i t a d a s pelos
mesmos Apóstolos : ( 5 4 ) _
A i n d a em nosos dias não forão os Católicos

(51) Detrahendum a l i q u i d s e v e r i t a t i , u t m a i o r i b u s m a l i s sanandis


c h a r i t a s s i n c e r a «.ubveniat. E p . 151 a p u d G r a t .
(52) Sa<pe c r u d c l e esset ia.Ustere l e g i , c u m o b s e r v a n t i a e j u s esse
p r e j u d i e a b i l i s E e l e s u e v i d e t u r ; q u o n i a m leges ea i n l e n t i o n a : lata? st:nt ,
ut proficiant , non noceaut. E p . ad A v i t .
( 5 3 ) N o n n e j i i s t i s s i n i u m esse l i q u e t j n t quoc p r o c a r i t a t e i n v e n t a s u n t ,
p r o c a r i i a t e q u o q u e , u b i e x p e d i r e v i d e b i t u r , v e l üinittanUir, v e l ín-
f e r m i t a n t u r , v e l i n a l i u d convenienüus dcmuíeutur L i b . de P r o c . 0

(54)'Muitos sao os cizçmplos: basta lembrar que tendo S. Paulo


p r o i b i d o a Ordenasão dos Neoíitos, b e m c o m o os C o n c i l i o s de N i c e a ,
dé S a r d i c a , de L o a d i c e a , & c . c o n t u d o os B i s p o s d a C a p a d q c i a o
dispensarão p a r a c o m E u z e b i o B i s p o de Cezarea: os d a T r a U í a p a r a
comTPaíacio B i s p o d a m e s m a C i d a d e , os F r a n c o / e s p a r a c o m o B i s p o
( i e r m a n o & c . & c . O s B i g a m o s i g u a l m e n t e p r o i b i d o s do S a g r a d o M i -
nistério p o r S . P a u l o , Cânones dos Apóstolos & c . c o m t u d o s e c u n d o
r e f e r e S. J e r o n i m o , e T e o d ^ r e t o m u i t o s f o r a o os pisamos elevados ao
Episcopado, & c . & c .
d i s p e n s a d o s d a santificasão, d'abstinência d a C o r n e ;
e d a cesasão de servisos em t a n t o s d i a s , nos q u a e s ,
á séculos, e r a m o s o b r i g a d o s á santificasão, a a b s t i -
nência , e a cesasão de t r a b a l h o s ? ( 5 5 )
E u v o u p o r u l t i m o r e f e r i r o f a c t o de S. P a u l o ; o
q u a l , p a r a q u e m ama a v e r d a d e e a j u s t i s a , é m a i s
que s u f i c i e n t e p a r a p r o v a r t u d o q u a n t o temos d i t o a
r e s p e i t o d a continência. E i l o a i t a l q u a l nos refere a
E s c r i t u r a sagrada.
S e n d o c o n v e n i e n t e , q u e n a I g r e j a ouvesem a l g u m a s
m u l h e r e s destinadas á c a t a q u e z e , instrusão, e socor-
r o das o u t r a s m u l h e r e s ; mas sendo i m c o m p a t i v e l este
serviso c o m a sugeisão d e v i d a á u m m a r i d o e a r.c-

(55) A s leis Eclesiásticas sao i n f i n i t a s as que t e m sido r e v o g a d a s »


ou caídas em dezuzo: v. g. os grãos de parentesco , f o r a o sac<esiyãmenle
d e i x a n d o de ser i m p e d i m e n t o do Matrimônio desde o 7.o té o 4.o c m
que está o j e . O Cone. de T r e n t . d e t e r m i n a , que no 2. gráo se nao dis- 0

pense , e i c e t o p o r cauza p u b l i c a , e e n t r e grandes Príncipes ; e a l g u n s


P a d r e s e antigos C o n c i l i o s julgarão, que tais i m p e d i m e n t o s e i a o de
d i r e i t o D i v i n o ; e n t r e t a n t o o j e só nao c a z a nestes grãos o q u e nao pe-
de deles dispensa. M u i t a s o u t r a s leis , que não são i n d i f e r e n t e s ent
seus o b j e c t o s , mas f u n d a d a s na l e i n a t u r a l t e m i g u a l m e n t e s o f r i d o a
sorte das antecedentes: v. g. Convocação» dos C o n c i l i o s , a coabitasao
dos Padres com m u l h e r e s , c u j a proibisão está o j e r e d u z i d a ás únicas
m u l h e r e s s u s p e i t a s , o que cada u m i n t e r p r e t a a seu modo. O abiío
t a l a r r e c o m m e n d a d o pelos antigos Cânones fcom penas gfavkimás , es-
tá o j e e m t o t a l dezuzo a i n d a á face do S a n t i s i m o P a d r e , G u a r d a e
D e f e n s o r dos Cânones. A f r u g a l i d a d e nas M e z a s dos Bispos r e d u z i -
das p o r m u i t o s C o n c i l i o s a dois pratos , está c o n v e r t i d a em b a n q u e t e s
sumptuozos: sedas , o i r o , e p e d i as t a n t a s vezes p r o i b i d a s se tornão o
seu a b i t o e t r a t a m e n t o ordinário. E m f i m a s i m p l i c i d a d e nas suas càzas,
c mobília , em que t a n t o se oecuparão os Cânones , Iròcòuse em u m
fausto pouco acomodado ao e s p i r i t o da Religião, de que eles çap p r i n c i p a e s
M i n i s t r o s . Palácios m a i s , ou menos soberbos , n u m e r o s o c o r t e j o de
e s c r a v o s , e fâmulos, R i c a s b e r l i n d a s , & c . & c . eis a q u e se redus o e i -
z e m p l o de observância C a n o n i c a , que nos dá o X e f e da I g r e j a , e os
m a i s Príncipes dela; mas a isto se responde; q u e os t e m p o s mudarao-.se,
e que a d i c i p l i n a nesta p a r t e tãobem deve sofrer mudansa. E m b o r a .
P o i s só a d i c i p l i n a do C e l i b a t o será e t e r n a ? Pode o que j ej u a eice-
der a u m a única comida; pode o p e n i t e n t e ser a l i v i a d o do r i g o r dos
Cânones p e n i t e n c i a e s : pode o T i o c a z a r com a sobrinha , p o r que n e s -
tes cazos deve atender-se á f r a q u e z a u m a n a : pôde deixar-se de san-
t i f i c a r o d i a de S. F i l i p e de S,. L o u r e n s o , & c . p a r a dedicar-se ao
t r a b a l h o , p o r q u e a e i s p e r i e n c i a t e m m o s t r a d o , que tais dias ítxo c o n -
sumidos p e l a m a i o r p a r t e em j o g o s , p a s a t e m p o s , ociosidade e crimes:
n a o se m a n d a e m n e n h u m destes cazos, que os Fieis pesão socorro do eco
á sua fraqueza : que se esforsem , jjor que Deos nuo manda imposiveis,
e concede suas grasas aos que as pedem dignamente. ; e n a o pôde o
P a d r e cazar-se a p e s a r d a e i s p e r i e n c i a de 15 séculos a ver p r o v a d o , q u e o j n -
go do 0-élibafo é difícil , e que s e m e l h a n t e l e i é c a u z a do c o n c n b i n a -
to , do escândalo, da desmoralizarão e da desgrasa de tantos ? I o d a s
as Jeis podem ser revogadas : a transgre^ão freqüente delas acorda a
prudência do L e g i s l a d o r , p a r a a s a b o l i r , a fim de e v i t a r m a i c r e s niales>
e só a l e i do C e l i b a t o a p e z a r de ser tão p u b l i c a , e constantemente
v i o l a d a ççrra ç>s olhos dos JLegisladores \ M ç u Deos a c u d i a v o s a lgeja,
10
»• - -
66

çqsarlü r e z i d c n c i a na própria caza j u n t o á família, S.


P a u l o d e t e r m i n o u , q u e p a r a D i a c o n i s a s fosem esco-
l h i d a s V i u v a s de u m só m a r i d o , onestas , sóbrias & c .
as quaes serião sustentadas á c u s t a das I g r e j a s a q u e
servirem ; mas o q u e sucedeu ? E m breve t e m p o o -
Apóstolo conheceu a necesidade de r e m e d i a r o m a l .
E l e d i s na E p . á T i m o t . cap. 5. desde v. 9 t p 16 —
A viuva seja eleita , não tendo menos de sesenta
anos, a qual não aja tido mais de um marido,....
mas não admitas Viuvas mosas; poique depois de
terem vivido Vvcenciozamente contra Cristo, querem
cazarse , e tendo a sua condenasão , porque fizerão
vã a sua primeira fé.... Quero pois, que as que
são ?nosas se cazem , criem filhos , governem a caza;
que não dem ocazião • ao adversário de dizer mal;
porque ja algumas se perverterão por irem apoz de
Satanas. — ( 5 6 ) P o r t a n t o , se a I g r e j a R o m a n a não.
q u e r fazer reviver os p r i m e i r o s , e tílizes séculos d o
C r i s t i a n i s m o , o r d e n a n d o O m e n s cazados c o m as q u a -
l i d a d e s q u e o mesmo Apóstolo e i z i g e ; ao menos i m i -
te a s a b e d o r i a , a prudência , e a c a r i d a d e deste O m e m
i n s p i r a d o , não a d m i t i n d o ao E s t a d o E c l s t e z i a s t i c o se
não s o l t e i r o s , q u e t i v e r e m GO annos d e i d a d e .

Rezultado final.

Demostrado o direito do Poder temporal para


e s t a t u i r , dispensar , e r e v o g a r i m p e d i m e n t o s do Ma«
t r i m o n i o ; e a necesidade de a b o l i r s e o i m p e d i m e n t o
d a O r d e m , seria i n j u r i o z o d u v i d a r p o r u m m o m e n t o ,
q u e a Asembléã G e r a l d o B r a z i l , p o r cálculos e r r a -
dos de prudência-, o u p o r contemplasão aos p r e j u i z o s

(56) Q u ã o d i f e r e n t e é a prudência de o j e ! São a d m i t i d a s á profisão


R e l i g i o s a R a p a z e s , e R a p a r i g a s de 16 a n o s , o n d e se vão o b r i g a r n a o
só a um c e l i b a t o p e r p e t u o , mas a uma o b d i e n c i a cega, a u m a p o b r e z a
x i g o r o ^ a , e a u m a e t e r n a c l a u z u r a ! Q u a l será a m e l h o r d i c i p l i n a 3 A.
instituída por S. P a u l o , ou a pelos modernos Cânones? Respondâo os
resultados d' uma , e o u t r a . E n t r e t a n t o a S. P a u l o não f o r a o neces-
sários séculos de e i s p e r i e n c i a p a r a conhecer , qu« a continência n a o
p o d i a ser d e c r e t a d a sen) p e r i g o : poucos anos bastarão p a r a o c o n v e n -
c e r d a necesidade de m u d a r a d i c i p l i n a a ese r e s p e i t o . E l e nao i n s i s -
t i o cm que a continência era posivel, e que Deus nao a negava aos que
a ptdiho , come divião. E l e não r e c o m e n d o u o j e j u m , o c i l i c i o , a f u -
g i d a das c o m p a n h i a s de diverso seao , e as c o i z a s s e m e l h a n t e s que o j e
se nos inCQlca. E l e a t e n d e u á f r a q u e z a u m a n a , á o n r a da I g r e j a , e
c se c o n t e n t o u com a v i d a ordinária não só p e r m i t i n d o , c o m o reco-
mendando o cazamento das Viuvas mosas. Imitemos o Apóstolo*
67
de alguns indivíduos, que pouca , ou nenhuma con-
siderasão gozão n a sociedade , retardase o e i z e r c i c i o
d' u m dever tão i m p o r t a n t e , d e i x a n d o a i n d a p o r mais
t e m p o gemer u m a clase o n r a d a , e tão p r e p o n d e r a n t e
na sociedade pela privasão d' u m d i r e i t o tão s a g r a d o ,
como esencial a espécie u m a n a , o privasão, q u e t a n -
tos males acarreta cá mesma sociedade. Resta p o r e m
mostrar a i n d a , q u e á mesma Asembléa c o m p e t e p o r
u m modo indirecto proibir a diciplina do Celibato
C ler i cal.
É d o u t r i n a o j e corrente entre os .mesmos Cano*
n i s t a s : — Que todas as vezes, que uma lei Eclezias-
Uca pôde ser nociva á sociedade deixa de ser religio-
sa ; e que por 'iso mesmo ao Poder temporal
compete embarasar a sua eizecusão. (57) O r a sendo
certo , q u e a l e i d o C e l i b a t o p o r u m a eisperiencia
não i n t e r r o m p i d a de 15 séculos, tem p r o d u z i d o ^ a
i m o r a l i d a d e n'uma clase de Cidadãos, e Cidadãos
encarregados d o ensino d a M o r a l p u b l i c a ; e q u e
p o r esa cauza seu o f i c i o além de inútil se t o r n a
p r e j u d i c i a l , q u a n d o os P o v o s encontrão na sua con-
d u t a o desmentido d a sua d o u t r i n a , de que r e z u l t a
a i m o r a l i d a d e na s o c i e d a d e ; seguese, q u e é um
dever d a Asembléa geral remover destes E m p r e g a -
dos públicos t o d a a ocazião, q u e o u os. i n u t i l i z a , o u
os t o r n a nocivos á sociedade.
Suponhamos tãobem que a Asembléa Geral
revoga o i m p e d i m e n t o da O r d e m , mas que a I g r e j a ,
a i n d a reconhecendo a v a l i d a d e d o Matrimônio dos
P a d r e s , c o n t i n u a a d e p o l o s , e até e i s c o m u n g a l o s ;
é e v i d e n t e q u e este x o q u e entre a concesão d o P o -
d e r t e m p o r a l , e a pnnisão d o P o d e r E s p i r i t u a l deve
p r o d u z i r a murmuração , f o m e n t a r p a r t i d o s , e acabar
p e l a perturbasão d o socego p u b l i c o . •
L o g o a Asembléa geral além de revogar o impe-
dimento d a O r d e m , não só p ô d e , como deve sus-
pender o Beneplácito, ás leis que dizem respeito ao
C e l i b a t o , para que não posão t e r eizecusão no I m -
pério d o B r a z i l . (58)

(57) Eybel. Intr. in Jus Eccl. Cap. G. Infinitos são os eizemplo*


deste d i r e i t o eizercitados pelos Soberanos Católicos; j a casaudo B u l a s ,
j a p r o i b i n d o a sua eizecusão, j a e m fim d e t e r m i n a n d o coizas contrarias
ás leis Eclesiasiicas. Comparese somente os Decretos do Cone. de
T r e n t o p u b l i c a d o , e aceito entre n p s c o m as leis p o s t e r i o r e s , que e s -
tão em opozisão ao mesmo.
(58) A v i s t a de todas estas r a z o e s n e n h u m outro recurso resta aos
Defensores do C e l i b a t o , do q u e torcer os teistos apontados , dar-lhes
10 i i
T e n h o desempenhado a minha p a l a v r a : satisfis
a m i n h a c o n c i e n c i a , estou d e z o n e r a d o c F u m d e v e r ,
q u e a N a s ã o me i m p ô s , de p r o m o v e r a sua f e l i c i -
d a d e : c u m p r i c o m a obrigasão m a i s i m p o r t a n t e de
M i n i s t r o d a Religião, m o s t r a n d o os i n c o n v e n i e n t e s de
u m a l e i , que tanto a prejudica. Digão agora o q u e
q u i z e r e m . Poderão m o s t r a r , q u e t e n h o e r r a d o , mas
sem c a l u n i a não poderão* m a n x a r m i n h a s intenções.
T e r m i n a r e i pois a m i n h a Demonstrasão , p r o f e s a n d o a
d o u t r i n a d o C o n c i l i o de Gangres. — •
Admiramos a virgindade unida com a umildadc :
admitimos a continência , que se eizercita com pie-
dade , e gravidade: respeitamos a onroza união do
Matrimônio; e para o dizermos (V uma ves, deze-
jamos que se pratique na Igreja o que se contem
nas Sagradas Escrituras, e 'Tradisoes Apostólicas.
(59).

Corsa das i n t e r p r e t a d o J S , c n a f a l t a de p r o v a s lansar naao das a r m a s


de f a n a t i s m o , e da superstisao , t r a t a n d o de ereges , ímpios e l i b e r t i -
nos os que se d e c l a r a r e m a f a \ o r das m i n h a s opiniões ; mas roço ao
L e i t o r , q u e n e n se fie nas minhas citações , n e n nas dos adversários ;
p r o c u r e as f o n t e s a p o n t a d a s : v e j a com seus próprios olhos a c o n t e i s t o
dos A u t o r e s ; e então d i c i d a da s i n c e r i d a d e e da boa fé com q u e nós
nos combatemos.
(50) Can. 2 1 . A d v i r t a - s e , que e^fe C o n c i l i o f o i t a o r e s p e i t a d o n a
antigüidade q n e seus Cânones f a z i a o p a r t e do D i r e i t o C a n o n i c o U n i -
v e r s a l da Igreja.
69
ÍNDICE
DAS MATÉRIAS QUE SE CONTEM
NESTE VOLUME.

PROPOZISAO. l . a

E1
da privativa competência do Poder tempo*
ral estabelecer impedimentos' difimentes do Ma-
trimônio , dispensar neles e revogalos. pag'
y 1

PROVA-SE l.o
Pela natureza do Matrimônio ibid.

PROVA-SE 2• o
Pelo tno, que deste direito tem feito o Poder
temporal 8

PROVA-SE 3. 0

Pela doutrina dos primeiros séculos da Igreja.., 10


O Can. 4.o da Ses. 2\ do Concil. Trid. não
prejudica á questão prezente 19

RESULTADO GERAL 16
PROPOZISAO. 2.a
Da Necesidade d* abolisão do Impedimento da
Ordem 17
O impedimento da Ordem c injusto. - ibid.
O Impedimento da Ordem ê origem da mora-
lidade no Clero
A imoralidade do Padre influe d' uma maneira
particular na imoralidade publica 29
A lei do Celibato é inútil 31
A abolisão do Celibato é o noto dos Omens pru-
dentes
70 .
O Celibato dos Padres não ê de Instituisão
Divina. 3i
O Celibato dos Padres não é dc Intituisão
Apostólica. 35
Istoria do Celibato. 37
Rejlecsoes sobre o facto de Pafnucio ; e sobre o
Valor, e legitimidade do Concilio Quiniseisto. 46
Cotinuação da Istoria do Celibato depois do 7.°
século té nosos dias. 48
Rezumo da Instituisão do Celibato. 55
A Igreja do Ocidente nunca se opos á diciplina
da do Oriente, tocante ao Celibato dos Pa-
dres. 55
Rezumo geral. ibid.
E licito censurar a^ Diciplina.
J
^ 57
A diciplina da I. L. acerca do Celibato Llerical
não é prudente* .60
Rezultado final. " 66

4
ERRATAS.
Folhas. Linhas. Erros. Emendas.
* r *

23.... 7 se e
26.... 4 ministério.... mistério.
26....20 antigos aceticos.
28....34 cazador casador.
32 ultima Braga Praga.
33 23 razoes Varões.
34 3 ..... de té.
35,...28 fácil../ fiel.
37 12 o se.
38 20 Gregos Ereges.
43.... 9 conseguinte... conseqüente.
45.... 7 .. ..... Subditos Subdiaconos. 1

50 30 üldareo.. Uldarico.
50.... 37 ........ esperarão ...... espozarao.
59.... 6 encara creaf».

te da mesma a pagina 9.
Des de a nota 16 pagina 45 té a nota 38 folhas
57 preceda-se a leitura da nota ao numero indicado
no teisto. — A l e m destas á algumas outras {altas , que
© L e i t o r prudente advirtirá.
*

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