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DEMONSTRAS A O Ü
DA
NECESIDADE DA ABOLISAO
DO
CELIBATO CLERICAL
PELA
ASEMBEEA G E I A L DO BRAZIE
E DA SUA
VERDADEIRA E LEGITIMA C O M P E T Ê N C I A
NESTA MATÉRIA.
PELO
DEPUTADO, DWGO JNT0N10 FETJO.
f
v
RIO D E JANEIRO.
NA TYPOGRAF1A IMPERIAL E NACIONAL
18 2 8.
4
/
i
Augustos , e Dignisimos Senhores Represen-
tantes da Nasão, a prudência é o único farol
que, dévb marxar dianfe do Legislador ; quando
poréin a condescendência não a tem por baze ,
é uma fraqueza , é um crime. O Ura il inteiro
conhece a necesidade d'abolisão d'uma lei, que
não foi, não é, nem será jamais observada.
O Brazil inteiro é testemunha dos mates , que
a imoralidade dos seus transgresores ^ acarreta á
sociedade. Sem probidade não á eizecusão de
lei: sc?n eizecusão de lei não ájustisa: semjns-
tisa não á liberdade legal ; e sem esta não se
dá felicidade publica.
Legisladores , aceitai benignos os esforsos de
um de vosos Membros: meditai sobre as importan-
tes verdades, que ele oferece á vosa contemplasão ;
e não queiraes carregar o coloso de responsabi-
lidade, que pezará sobre vosos ombros, se retar-
daes a abolisão d'uma lei, que faz o fundo da
imoralidade publica.
- ^ ( J M A d i s c u t o na C â m a r a dos D e p u t a d o s
o f e r e c e u u m i n c i d e n t e ; q u e eicitoui o zelo de
um de seus M e m b r o s b e m c o n h e c i d o p o r suas
l u z e s , e sua p r o b i d a d e , a i n d i c a r - - Que Cie,
ro do Bra d José desonerado da Lei do Lelibato.--
A m u i t o tempo, q u e m e d i t a n d o e u sobre os meios
da r e f o r m a do C l e r o j e f o l h e a n d o os A n a c s do
C r i s t i a n i s m o ; estava c o n v e n c i d o , q u e a o r i g e m
mais f e c u n d a de todos os m a l e s , q u e p e z u o so-
b r e esta clase i n t e r e s a n t e de Cidadãos, e r a o
c e i i b a t o t o c a d o . C o n s u l t e i a u t o r e s católicos, e
não católicos, F i l o z o i o s , e C a n o u i s t a s ; e a
solides das razoes dos q u e c e n s u r a v a o a l e i , e
a insuficiência dos a r g u m e n t o s dos q u e a p e r t c n -
d i a o sustentar , acabarão de firmar a m i n h a o p i -
nião. J u l g u e i então do meu dever como Ornem,
corno: Cristão , e como D e p u t a d o o f e r e c e r a Ca-
m a ra o meu Parecer • este respeito ; no q u a l
procurei p r o v a r , quanto p e r m i t i a a brevidade
do m e $mo ^ Qe
; U não sendo o Ceiibato prescri-
to aos Padres por lei Divina, nem mesmo por
insliluisão Apostólica ; e sendo alias origem da
imoralidade dos mesmos; era da competência da
Asembléa Geral revogar sitnilttante lei. — Que
se fizese saber ao Fapa esta iíezuivsao ua nsem-
blea , para (pie ele pondo as leis da igreja em
armonia com as do Império , revogase as que
impõe penas ao Clérigo , que caza; e que não o
fa endo em ténpo r rcfcso , se suspendes* o Be-
neplacito á semelhantes leis , que jomudando a
discórdia entre membros d' uma só Familia> po-
dido perturbar a tranqüilidade publica.
E u p r e v i o x o q u e n e c e s a r i o , q u e estas p r o -
pozisões d e v i a f a z e r n o e s p i r i t o cTaqueles, q u e
a d o r m e c i d o s nas opiniões erdadas de seus m a i o -
res recuzão u l t e r i o r indagasão ; e todos sabem
a cega o b s t i n a s a o dos q u e em c e r t a i d a d e n ã o
c o n s e n t e m mais ser a d v e r t i d o s de seus e r r o s :
mas aparecerão a i n d a asim defensores do c e l i b a -
t o e m m u i t o m e n o r n u m e r o do q u e eu calculava.
E as piedosas detraesões, de q u e se servirão
na falta d e r a z o e s ; a confuzão, e d e z o r d e m
de seus l o n g o s a r r a z o a d o s ; a t a c t i c a p o u c o ca-
r i d o z a , q u e empregarão na ostentasão do s e u
zelo na defeza de Religião, q u e julgavão o f e n -
d i d a , ' q u a n d o antes e r a v i n g a d a das faisas a c u -
zasões dos incrédulos , fazendose v e r d a d e i r a se-
parasão do q u e l h e é a c e s o r i o ; e na da o n r a
do Estado E c l e z i a s t i c o , q u e apregoavão d e p r i -
mida p o r q u e m procurava , pelo c o n t r a r i o , l e -
v a n t a l a do a b a t i m e n t o , em q u e j a s ; t u d o t e m
c o o p e r a d o para o t r i u m f o da v e r d a d e . Poucos
r e s t a o , que i g n o r a n t e s , seduzidos, o u p r e j u d i -
cados, lutão a i n d n com a própria c o n c i e n c i a . Os
s e n t i m e n t o s i n a t o s de justiça estão, e e t e r n a m e n -
te estarão em contradisão com sua razão. N ã o é*
a rebelião d a c a r n e c o n t r a o e s p i r i t o : é a vos
da n a t u r e z a , q u e se d e i x a o u v i r c o n t r a os p r e -
j u i z o s da euucasão : é o g r i t o da c o n c i e n c i a
c o n t r a a razão d e p r a v a d a : é a g u e r r a da v e r -
dade c o n t r a o e r r o .
A satisfasao , e o i n t e r e s e , q u e , á simples
l e i t u r a d a q u e l e P a r e c e r , t o m o u a C â m a r a dos
Deputados ; o a c o l h i m e n t o , que o publico i m -
p a r c i a l l h e t e m dado : a conviesão , em q u e es-
t o u , da necesidade d'abolisão d o C e l i b a t o C l e r i -
c a l , me obrigão a d a r u m m a i o r d e z e n v o l v i m e n -
to a q u e l e m e u p r i m e i r o Voto separado.
E u s e g u i r e i o mesmo método, p o r me pa-
recer o mais c o n v e n i e n t e , p o r q u a n t o , a poderse
m o s t r a r , q u e semelhante o b j e c t o não é da com-
petência do P o d e r t e m p o r a l , cesa n o m o m e n t o
a pertensao ; e então n a d a mais r e s t a , que so-
f r e r em s i l e n c i o o g r a v a m e d a l e i , té q u e J . C
se l e m b r e da sua I g r e j a , p o r q u e o X e f e v i z i -
vel dela u m só paso não r e c u a ; e a Cúria
R o m a n a , não e z i t a n d o u m só instante em con-
ceder dispensas nas leis Ecleziasticas, não tolera
c o m t u d o , q u e estas sejão d'uma ves revogadas.
N ã o l h e convém.
E u não d u v i d a r e i r e p e t i r os mesmos a r g u -
m e n t o s ; e c i t a r as mesmas a u t o r i d a d e s : aqueles
são sólidos, estas são convincentes. Àjuntarei
. novos documentos. N ã o me q u e r o a r r o g a r a
filoria de O r i g i n a l . T a n t o se t e m escrito sobre
esta matéria, e tão p r o f u n d a m e n t e , q u e bastan-
te é aver c u r i o s i d a d e na escolha, e clareza n o
método. O que porém não cedo á ninguém é a
g l o r i a de d e z e j a r m u i sinceramente a felicidade
da m i n h a pátria , o restabelecimento da o n r a ,
e d i g n i d a d e C l e r i c a l , e a salvasão de tantas a l -
mas , q u e i n e v i t a v e l m e n t e se perdem pela e i z i s -
t e n c i a d' uma l e i , da q u a l n e n h u m bem rezulta,
como p r o v a r e i .
E u me vejo o b r i g a d o a condecender com
os q u e profesão este íalso p r i n c i p i o : — Que os
Filozofos são libertinos , e que os Ercges não
falão verdade.— E u me r e s t r i n g i r e i p o r t a n t o á
citasões de A u t o r e s c o n h e c i d o s , e approvados
pelos adversários, o u ao menos respeitados pe-
los Ortodoxo*. E u me f i r m a r e i em factos p r o -
vados , e nos eizemplos, q u e estão debaixo dos
olhos de todos.
E u não escrevo p a r a os verdadeiros sábios,
nem para os omens bem i n t e n c i o n a d o s , q u e
posuidos de caridade suspirão pela felicidade do
\
p r o c i m o , e se c o n d o e m de sua desgrasa : estas
duas clases engrosão o m e u p a r t i d o . E u escre-
vo para o c o m u m dos omens , q u e de ordinário
se deixão c e g a m e n t e c o n d u z i r p o r a q u e l e s , c m
q u e m supõem c e r t o d i r e i t o de os g u i a r . E u me
f a r e i inteligível, para q u e não sejâo seduzidos
com aparatozos a r g u m e n t o s , c u j a f u t i l i d a d e se
axa a c u b e r t a d a c o m o sagrado m a n t o da R e l i -
gião. E u q u e r o ser e n t e n d i d o , e p o u c o me i m -
p o r t a ser combatido.
1
PROPOZISAO l .
N A T U R E Z A d o Matrimônio : o eizemplo d e
Soberanos Católicos ; a d o u t r i n a d a I g r e j a nos Secu*
los mais esclarecidos d o C r i s t i a n i s m o ; e a a u t o r i d a d e
de Escritores respeitáveis- nos oferecerão argumentos ,
c u j a forsa irrezistivel produzirá a necesaria convicsão
d a verdade d a nosa Propozisão.
PROVA-SE l.o
dos i n p e d i m e n t o d i r i m e n t e forão r e p u t a d o s v e r d a d e i -
?
em q u e t o d a a antigüidade, e a i n d a o j e a I g r e j a G r e -
ga fas c o n s i s t i r o S a c r a m e n t o : e as S. as
e 4*as n u p c i a s
forão tão c o n d e n a d a s , q u e severas p e n i t e n c i a s se i m -
p u n h ã o aos q u e ^s celebravão ; e n t r e t a n t o taes C a s a -
m e n t o s forão r e p u t a d o s v a l i d o s , n ã o o b s t a n t e a aver-*
são , q u e a I g r e j a lhes t i n h a ; e a i n d a o são e n t r e nós
a pezar d a f a l t a d a Bensão N u p c i a l ( 1 1 )
O s Matrimônios C l a n d e s t i n o s antes d o C o n c i l i o d e
T r e n t o forão r e p u t a d o s v a l i d o s , não o b s t a n t e a f a l t a
d e ' M i n i s t r o s , q u e os celébrasem. ( 1 2 )
« i
pôde Legislar nos o b j e c t o s de sua competência, mas
o Poder Espiritual p o r i s o mesmo q u e t e m p o r fim
i m e d i a t o a salvasão das almas , e não a tranqüilidade
p u b l i c a , c o m o a t e m a A u t o r i d a d e c i v i l , não pôde
d e t e r m i n a r c o i z a a l g u m a não necesaria àquele f i m ,
q u e esteja em opozisão ás leis d o P o d e r t e m p o r a l , o u
q u e p o r q u a l q u e r m a n e i r a l h e pertensão, a não a d -
mitirse a máxima absurda , e antisocial da influencia
d ' u m P o d e r sobre o u t r o , c o m r e c i p r o c a i n v a z f i o d e
a t r i b u i s o e s ; dV c u i o c o n f l i c t o t e m sempre a p a r e c i d o f u -
nestisimos r e z u l t a d o s .
Está pois demonstrado pela n a t u r e z a d o mesmo
Matrimônio q u e ele é i n t e i r a , e p r i v a t i v a m e n t e s u g e i t o
ao P o d e r t e m p o r a l , o u se considere o C o n t r a t o d i s -
tincto do Sacramento, ou reunidos pela nova categoria,
q u e a grasa l h e confere n o mesmo m o m e n t o , em q u e
•e realifeg a convensão. C o n t i n u a r e m o s a p r o v a r a nossa
Pi^oWzisãb p e l o u z o , q u e deste d i r e i t o üzerão os S o -
beranos Católicos não só sem r e l u c t a n c i a d a I g r e j a ,
mas a i n d a c o m sua d e c i d i d a aprovasão.
P R O V A - S E 2.o
PROVA-SE 3/
e ao A r c e b i s p o de T a r e u t e z a d e c l a r a v a l i d o s , e l e -
j/;t':mp< os Matrimônios contraídos durante a tíçvolu*
**3ao) com tanto que se tenlião conformado às leis
( 3 7 ) F l c u r i 1. e 7. D i s o u r . sobre a I s t . E c l e z . A l e m deste c o n -
sultese aos d i f e r e n t e s C o n c i l ios a i n d a ^eraes : y. g* o 4. de Latrão 5
o n d e se encontrará u m a p e r f e i t a legislasão p e n a l , e c i v i l e m m a t e *
r i a s p u r a m e n t e temporaes.
14
tuir i m p e d i m e n t o s alem dos declarados no L e v i t i c o ;
sem q u e pertendeae d e c i d i r , se o C o n t r a t o d o M a -
trimônio a i n d a mesmo entre os Cristãos é separado d o
S a c r a m e n t o ; e se o d i r e i t o de e s t a t u i r i m p e d i m e n t o s
d i r i m e n t e s , de q u e a I g r e j a estava de pose, lhe e r a
delegado pelo P o d e r t e m p o r a l . O C o n c i l i o d e c i d i o u m a
v e r d a d e , e é , q u e a I g r e j a t i n h a o d i r e i t o de p o r
i m p e d i m e n t o s ; os quaes são verdadeiros e v a l i o z o s ,
ou d i m a n e m d V w a A u t o r i d a d e precária,, e delegada.
ou cPuina A u t o r i d a d e própria, e Ordinária. ( 3 8 )
N e m era p o s i v e l , q u e o C o n c i l i o decidise em
o u t r a s vistas ; eate C o n c i l i o , q u e se t i n h a p r o p o s t o
n a d a d e c i d i r d o g m a t i c a m e n t e sem q u e bazease as suas
decizões na E s c r i t u r a , , e Tradisão; [ c o m o e r a dever
s e u ] e sem o b t e r pela discusão a u n i v e r s a l i d a d e d e
votos. E nesta matéria não só não e n c o n t r a v a na
Escriüya pasagera a l g u m a , ( p i e o favorecese, como
j w l o ^ x o n t r a r i o a Tradisão f o r m a l m e n t e o c o n d e n a v a .
D e m a i s . G r a v i s i m o s Teólogos erão , e continuarão a
ser d a nosa opinião, a i n d a de[)ois d o C o n c i l i o ; o
íjue p r o v a a todas as l u z e s , q u e n a q u e l e C a n o n se
nao teve p o r fim mais d o q u e f i r m a r os Católicos
c o n t r a os Ereges n a d o u t r i n a , de (pie se d e v i a o s u -
g e i t a r aos i m p e d i m e n t o s estabelecidos pela I g r e j a ;
b e m e n t e n d i d o ; e m q u a n t o esta os não r e v o g a s e , o u
q u e m l h e avia c o n c e d i d o , o u p e r m i t i d o o e i z e r c i c i o
d'um t a l d i r e i t o . »
M e l x i o r C a n o , este B i s p o tão celebre n o C o n -
c i l i o de T r e n t o , e q u e p o r seus escritos até o j e me-
reça o r e s p e i t o , e a venerasão dos O r t o d o x o s 9 sus-
t e n t a , que entre os mesmos Católicos á muitos Ma-
trimônios sem caracter de Sacramento; e é evidente
q u e sendo então somente C o n t r a t o s c i v i s , não p o d e m
e:star sugeitos ã jurisdisão d a I g r e j a ; eiceto p o r p e r -
misão d o P o d e r t e m p o r a l . ( 3 9 )
CJiles Foscarari
5 B i s p o de M o d e n a , s u s t e n t a ,
que o Poder temporal nada perdeu do seu direito
sohre o Matrimônio por se aver este elevado a So-
cramenlo. (40)
Catarjno, Bispo d e C o n c a , que tanto b r i l h o u no
mesmo C o n c i l i o asevera, que J. C. fazendo do Matri-
(4«?)
4
L i b . 3. Inst. Christ. — de Saer. Matr. — P c Instr. sacer.-
Í43). Trat. 16 de i r r i t . cland. conj.
(.44) I n 4. cent. Dist. 40.
(45) Fitíes ambig mm non habet, quvd si habet > j/idrs non 4St k
16
RESULTADO GERAL.
P o d e i * t e m p o r a l , c o m o esta j u r i s d i t a o o precária, p o d e
ser casada a t o d a a o r a ; e v o l t a r a q u e m a possue
p o r u m d i r e i t o próprio , e s e n c i a l , e p o r i s o m e s m o
i n a u (crivei»»
•
17
PROPOZISÃO 2.*
n' o u t r o . N o d a O r d e m não a t e m p o , l u g a r , o u c i r -
c u n s t a n c i a , em q u e se l h e p e r m i t a o u z o d a q u e l e d i -
r e i t o . E s t a única razão p r o v a c o m e v i d e n c i a a i n j u s -
t i s a de t a l i m p e d i m e n t o .
A isto se o b j e c t a , q u e não sendo em g e r a l e s t e ,
ou aquele O r n e m o b r i g a d o a c a z a r , pôde m u i b e m
ceder deste d i r e i t o : razão p l a u z i v e l , c o m q u e se
p e r t e n d e e n c u b r i r a i n j u s t i s a d a lei : mas c u j a i n s u b -
sistencia eu paso a mostrar.
N e n h u m O r n e m pode ceder dos d i r e i t o s c o n c e d i -
dos p e l o A u t o r d a N a t u r e z a a seu b e l prazer. S e r i a
o b r a r i r r e f l e c t i d a m e n t e ; e p o r isso mesmo i r d e en-
c o n t r o á O r d e m geral estabelecida pela P r o v i d e n c i a ,
que tem tudo coordenado á certos, e determinados
íins, aos quaes t o d o o O r n e m é o b r i g a d o a conformarse.
D e m a i s . S e n d o a propensão ao C a z a m e n t o i n a t a , esen-
c i a l íi espécie , p o r isso mesmo sugeita a elevarse á
paixão; e em t a l cazo d i f i c u l t o z i s i m a , e t a l v e z i m -
p o s i v e l . d e vencerse : c o m o pôde o O r n e m sem i m p r u -
dência , sem u m a espécie d e c u l p a v e l o r g u l h o ceder
para sempre d' u m d i r e i t o , q u e m u i t a s vezes i m p o r t a
o mesmo q u e u m d e v e r ; e c u j o sacrifício pode t r a z e r
de e n v o l t a a violasão d e o u t r o s m u i t o s deveres ? I s t o
é t a n t o mais notável , q u a n t o se observa q u e deste 9
Sacrifício tão r a r o , c o m o p e n i v e l , p o u c o , o u n e n h u m
bem rezulta.
P o r t a n t o ceder t e m p o r a r i a m e n t e deste d i r e i t o p o n
e s p i r i t o d e p e n i t e n c i a , o u e i z e r c i c i o , c o m o se e i z p l i -
cão p s a n t i g o s P a d r e s , o u e m v i s t a * d e m e l h o r servir
o seu E m p r e g o : a i n d a m e s m o cede-lo p a r a sempre c o m
id
(153) Ep. ad. Cor. 1. cap. 7. poreni cada um tem de Deos seu
rroprto ,dom v. 9. mas senão tem dom de continência , cazemse ; por
que ê melhor cazar se, do que abrazarse. — P e r e i r a .
(51) M a th. cap. l y v. l i — Assim o e n t e n d e m , T e r t u l i a u o , S,Ato-
brósiò , e outro». VéjSòse os Comentários.
(55) Q u a n d o falo de V o t o de castidade, nao faso distinsíío de Vo-
t o s i m p l e s , e solene : sabem todos , que esencialmente são o mes-
mo; e que tanto uns como outros p r o d u z e m i g u a l obrigasão d i a n -
te de l)eos; e que semelhante distinsão foi inventada p o r G r a c i a n o para
c o n c i l i a r a d o u t r i n a de S. A^ost. e outros Padres da antigüidade
c o m o C o n c i l i o Lateranense 2. que fes do voto solene , o u anexo á
profisSo R e l i g i o s a u m i m p # d i m e n t o d i r i m e n t e do Matrimônio; c u j a i
d o u t r i n a c o m t u d o somente se p e r p e t u o u n a I g r e j a não só pelo que
respeita á profisão R e l i g i o z a , como ás Ordens sacras , depois da de-
cizao de Bonifácio 3. cap. u n i . de v o l . et vot. redempt. i n f>.
{p(i) Aíelius e s t , ut n u b a u t , q u a m i n i g u e m deliçtis suis cadaut.
Cvpr. Ep. ad P(Vínp.
21
D e c r e t o s de D e o s se d e s c o b r e m íins s a n t o s , e l o u v a *
v e i s , pelos quaes se mostrão d i g n o s d ' E l e , n e n h u m ?
d u v i d a se oferece em a d o t a r esta v e r d a d e — Que nin-
guém pôde privar o Ornem absolutamente, e a seu
arbítrio, de contrair Matrimônio.—Se dis porém,
q u e t e n d o a I g r e j a d i r e i t o de e i z i g i r certas q u a l i d a -
des nos seus M i n i s t r o s , p o d e e i z i g i r o celibato,
c o m o u m a condisão necesaria. S e m m e t e r m e a i n d a a
d e c i d i r , se ela p r u d e n t e m e n t e eizige deles a c o n t i -
nência p e r f e i t a , d i r e i ; q u e não p o d e n d o p r i v a l o s d o
d i r e i t o q u e o C e o lhes c o n c e d e , c o m o O m e n s , só
l h e c o m p e t e , q u a n d o não queirão sugeitarse á c o n -
tinência, despedilos d o Ministério, de q u e os encar-
regou , c o m o p r a t i c a a I g r e j a d o O r i e n t e , e o fes a
mssma L a t i n a té o 12.<> século*
V o l t e m o s á questão. J a não d i s p u t a r e i com a
I g r e j a sobre o i m p e d i m e n t o da O r d e m ; porque ela
nada pode sobre o C o n t r a t o , d e d i r e i t o próprio. O
P o d e r t e m p o r a l não p o d e p r i v a r , n e m c o n s e n t i r , q u e
o Cidadão seja p r i v a d o d o d i r e i t o de c a z a r ; p o d e so-
mente r e g u l a r este d i r e i t o . D e c r e t a r p o r t a n t o , q u e o
Vs jamais posa c o n t r a i r matrimônio, é u m a b s u r d o ,
u m despotismo, u m a imustisa. Porque é uma injus-
t i s a ; p o r q u e t a l díV^to está em opozisão ás necesida-
des d a n a t u r e z a u m a n a ; p o r q u e t e n d e a o b r i g a r u m a
cia se i n t e i r a á sacrifícios e i s t r a o r d i n a i ios , sacrifícios,
q u e Deos não e i z i g e , mas somente aconselha aos q u e
são capazes d o r m i a t a l rezolusão ; p o r iso semelhan-
te D e c r e t o t e m sido c o n s t a n t e m e n t e i n f r i n g i d o ; e de
sua infrasão t e m r e s u l t a d o maiores m a l e s , d o q u e bens
da sua eizecusão. E i s o q u e pasamos a mostrar.
d e r e g u l a r s u a s a c s õ e s , s e g u n d o seus c a p r i x o s , e p a i -
xões. V e r d a d e é q u e os s t i b d i t o s n a o violão, n e m
y
desprezão c o n s t a n t e m e n t e u m a l e i , senão q u a n d o e l a
está em contradisão c o m a n a t u r e z a d a s coizas : o u
c o m a opinião p u b l i c a filha d e seus abiios,'. e e d u -
carão ; q u a n d o e l a é i n e i z e q u i v e l , p o r ser s o m e n t e
a p r o p r i a d a a a l g u n s indivíduos, se não ã t o t a l i d a d e
á q u e se i m p õ e m : o u q u a n d o e m fim é i n s i g n i f i c a n t e
p o r n a d a i n f l u i r n a f e l i c i d a d e p u b l i c a . A p l i c a n d o es-
tas v e r d a d e s á l e i d o i m p e d i m e n t o d a O r d e m , fácil
é d e s c u b r i r a c a u z a p o r q u e , desde q u e f o i imposta ,
d e i x b u d e ser o b s e r v a d a .
N o principio do Cristianismo, quando o fervor,
e o e n t u z i a s m o , q u e i n s p i r a a n o v i d a d e , se a p o d e r o u
dos Cristãos; q u a n d o o e i z e r n p l o d o s O m e n s Apostó-
l i c o s ; e os prodígios, q u e acompanharão o e s t a b e l e c i -
m e n t o d a fteligião, conduzião u a g r a n d e p a r t e á per-
feisão, não é d e a d m i r a r , q n e a continência fose c u l -
t i v a d a , e axase a m a d o r e s e m t o d o s os s e x o s , i d a -
d e s , e condisoes. M a s p o u c o a p o u c o a f r o u x a n d o o
f e r v o r , principiarão os E c l e z i a s t i c o s a resentir-se d a
c o m u m relaxasão. D o p r i n c i p i o d o 4.° século em d i a n -
te a l g u n s C o n c i l i o s p a r t i c u l a r e s p e r t e n d e m ( i r m a r p o r
l e i , o q u e t e então e r a s e g u i d o p o r c o s t u m e , e ã a r -
bitiio de c a d a u m , i s t o é : e i z i g e m a continência
p e r f e i t a c o m o u m a condisão necessária p a r a as O r d e n s
s a c r a s : d i m i t i n d o s e d o E s t a d o Eclesiástico Q P a d r e ,
q n e c o n t r a i a matrimônio. O b s e r v a r e m o s o resultado
desta proibisão.
N a t a l A l e x a n d r e o b s e r v a , q u e a p e z a r das repe-
tidas determinasoes dos P a p a s , e C o n c i l i o s , rarisimos
se sugeitavão ao c e l i b a t o , e ( p i e q u a n t o m a i s se iusis-
t ia n a observância d a L e i , m a i o r e s males a p a r e c i ão.
( 5 8 ) N a v e r d a d e p o r p o u c a atensão , q u e se dê á t u -
toria da I g r e j a , não se p o d e d e i x a r de n o t a r esta
verdade.
O P a p a S i r i c i o nos fins d o 4.o século ja se q u e i -
x a v a a m a r g a m e n t e d o a b u z o d a lei ; e q u e a t e q u -
vessem P a d r e s q u e i g n o r a s e m a proibisão. T a n t o e s -
t a v a e l a em dezuzo. ( 5 9 )
S. J e r o n i m o d e c l a r a averem B i s p o s , q u e j a não
querião o r d e n a r O m e n s s o l t e i r o s p e l o t e m o r q u a z i cer-
t o d e sua i n c o n t i n e n c i a . ( 6 0 ) v
{59) E p . ad H i m . *
[<:0) Advers. Vigil.
24
S. Epifanió n o mesmo século c e r t i f i c a , q u e em
m u i t o s lugares se tolerava a i n c o n t i n e n c i a d o C l e r o em
atensão á f r a q u e z a u m a n a , e á f a l t a de pesoas con»
tinentes. ( 6 1 )
S. A m b r c z i o confesa, q u e em m u i t o s l u g a r e s os
P a d r e s não deixavão o u z o d o matrimônio; e q u e
pertendião j u s t i f i c a r s e c o m o c o s t u m e a n t i g o . ( 6 2 )
I n o c e n c i o 1.° no p r i n c i p i o d o 5.° século tolera ,
que os Presbitero? , e D i a c o n o s i u c o n t i n e n t e s , q u e
iíí n o r a vão a D e c r e t a i de S i r i c i o , fosem conservados
em suas Ordens. Q u a n t o estava e l a esquecida , a pe-
zar de não ter mais d e 2 0 anos d e d a t a ! (63)
Inumeráveis são os C o n c i l i o s , q u e procurão r e -
n o v a r a l e i sempre c a i d a e m esquecimento. E l e s não
poupão penas E c l e z i a s t i c a s ; e m u i t a s vezes eizorbitão ,
d e c r e t a n d o penas t e m p o r a e s , e a l g u m a s revestidas d e
taes i n j u s t i s a s , q u e se não p o d e m d e s c u l p a r .
C<!>m efeito vemse C o n c i l i o s d e c r e t a n d o pena <U %
depozisão ao P a d r e q u e c a z a , prizão p e r p e t u a , j e j u m
a pão e agoa p o r t o d a a v i d a : e asoites até c o r r e r
sangue. ( 6 4 )
" O u t r o s p r o i b i n d o d a r m u l h e r e s em cazamento aos
P a d r e s , c o n d e n a n d o a asoites as m u l h e r e s s u s p e i t a s ;
m a n d a n d o l h e s c o r t a r os cabelos p o r i g n o i n j h i a ; de-
c r e t a n d o a eisj>atriasão delas , e a t e p e r m i i t i n d o ven-
didas , e d a r o seo v a l o r aos pobres. ( 6 5 )
O u t r o s e i s c l u i n d o os filhos d o s P a d r e s d a O r d e -
nãsão, e Benefícios E c l e z i a s t i c o s ; d e c l a r a n d o o s ilegí-
t i m o s ; i n c a p a i e s de p o s s u i r : c o n f i s c a n d o os seus ben-
para as I g r e j a s , o n d e seus pais servião : c o n d e n a n d o -
os a c a t i v e i r o , e até e i s c o r n u n g a n d o os J u i z e s , q u e
os quizesem l i b e r t a r . ( 6 6 ) A q u e maiores eiscesos se
pode xeo-ar em legislasão c r i m i n a l ?
p e l a p r i m e i r a v e s , q u e fose j u l g a d o concubinado ;
p d a s e g u n d a , de t o d o s ; e só pela t e r c e i r a o m a n d a
s u s p e n d e r , mas não d i m i t i r . C o m e f e i t o , se penas
rigorozas, e até b a r b a r a s , e i n j u s t a s não puderão
v e d a r o c o n c u b i n a t o , c o m o seria p o s i v e l f a z e l o sesar
p o r taes meios ? E m fim o q u e d a n t e s se p r a t i c o u ó
m e s m o q u e o j e se p r a t i c a ; e o E c l e z i a s t i c o não é
m a i s c a s t i g a d o , se não q u a n d o u m i n i m i g o v a i r e - *
s u s c i t a r c o n t r a ele n o f o r o , u m a l e i , que tanto3
séculos t e m de d e z u z o , q u a n t o s são os d a s u a i n s -
tituisao.
O s castigos p r o n t o s , e severos p o d e m t o r n a r o
P a d r e mais a c a u t e l a d o ; e a opinião p u b l i c a p o d e
J 1
., • • • « - •• -
(67) Concil. de T u rs. em 566 , Can. 10 e I I . — Maiensa em 883
e 10. Coüsultesé a I l i x a r d sobre este Concil. na sua Analise do* Con-
c i l , — Lease a S. João Criz no seu t r a t . contra a abit. com. *$5 '' :
Cler.
(68) Consultese a N i col Ao de Clemangis no seu* O p u s c . — Do es-
tado da corrusão da I g r . &c. — O Pranto da i g r e j a por Álvaro Pel ^ i o .
jpr a S, Pedro Damião no seu Escrito còutra os Clérigos impudicos, & & •
5
26
oferecer uma barreira ao escândalo , mas qual o re-
s u l t a d o ? O s escândalos são menos freqüentes, m a s
a continência não é p o r i s o m u i t o mais g u a r d a d a ; e
á s o m b r a d o ministério, maiores são os c r i m e s , q u e
a i n d u s t r i a oferece á necesidade ( 6 9 ) ,
D e v e n o t a r s e , q u e a i n continência não è u m
v i c i o p r i v a t i v o dos E c l e z i a s t i c o s ; mas i n e r e n t e a t o d a a
sorte de c e l i b a t a r i o s ( d a d a s c o m t u d o a l g u m a s eicesoes ) .
iNo o*.o e 4.° século, este século de f u r o r p a r a
a continência, vemos a t r i s t e p i n t u r a , q u e nos f a z e m
das mesmas V i r g e n s S. J e r o n i m o , e S. C i p r i a n q , ; e
este P a d r e respeitável, v e r d a d e i r a t o x a d a I g r e j a ,
avansou-se até p r a t i c a r o q u e o j e a q u a l q u e r i d i o t a 7
m l e l i s m o m e n t o , em q u e cede á incünasão ao s e x o ,
a n a o ser p o r u m acazo , onde cesada a paixão t e m
l u g a r o a r r e p e n d i m e n t o , necesariamente se antolbão
d o i s abismos , , dos quaes u m é inevitável : e vem a
ser , a apostasia , o u o c u m u l o da perversidade. P o r -
q u a n t o , ou o Padre continua á dar credito á R e l i -
gião, e então os princípios da M o r a l Cristã o fazem
req, e reo de nefandos sacrilégios todas as vezes
q u e e i z e r c i t a o seu Ministério m a n x a d o d e u m t a l
c r i m e . A v e r g o n h a , o u o interese , n o p r i n c i p i o ,
vence os r e m o r s o s ; p o u c o a p o u c o o a b i t o se c o n -
t r a e ; e em breve a transgresão d e t a n t a s , sagradas
Jeis o abiüta p a r a t r a g a r t o d a a sorte de c r i m e s ; e
é g u a n d o t e m l u g a r o a d a g i o — A um perdido tudo
fas conta. — - O u o P a d r e não p o d e r e z i s t i r aos remor-
sos; e então lansa m ã o d o D e i s m o , o o d e a seu
arbítrio o r g a n i z a u m a Religião a seu g o s t o : o u p a r a ,
m a i o r desgraça s u a , e d a sociedade', a d o t a o t e n e -
broso 9 m i r r a d o sistema d o M a t e r i a l i s m o , o u A t e i s -
e
c o m o n a c i d a s d'um a g e n t e c r i m i n o z o ; p o i s t a l é a
d o u t r i n a C r i s t a . E i s a c a u z a p o r q u e seta r a r i s i m o
e n c o n t r a r u m P a d r e i n c o n t i n e n t e , q u e não seja per-
verso. E i s a c a u z a , p o r q u e o C l e r o G r e g o , e Pro-
t e s t a n t e é tão g a b a d o p e l a m a i o r p a r t e d o s I s t o r i a -
dores i m p a r c i a e s ; q u a n d o cornparão a s u a m o r a -
lidade c o m a dos P a d r e s Católicos ern g e r a l . ( 7 8 )
C e r t o s de q u e o C e l i b a t o é a o r i g e m , e c a u z a
principal d a i m o r a l i d a d e d o C l e r o , convém ainda
o b s e r v a r , c o m o esta i m o r a l i d a d e i n f l u e d i u r n a ma-
n e i r a p a r t i c u l a r na i m o r a l i d a d e p u b l i c a .
A Religião c o n s t a d e d u a s p a r t e s , e s p e c u l a t i v a ,
p r a t i c a : a p r i m e i r a é r e l a t i v a ao D o g m a , o b j e c t o
de crensa : a s e g u n d a d i s respeito á d o u t r i n a , o b j e c t o
d a M o r a l . O r a , sendo a M o r a l p u b l i c a l i g a d a com
a Religião , o u p a r t e esencial d e l a : s e n d o os P a -
dres os seus M e s t r e s ; e n c a r r e g a d o s p e l o s a g r a d o d o
seu Ministério d a r e f o r m a d o s c o s t u m e s , e p a r a i s o
recebendo quazi todos o r d e n a d o , o u emolumentos pú-
b l i c o s ; p o r q u e razão não a p a r e c e m os r e z u l t a t l o s ,
q u e erão de esperar ? E p o r q u e s u a c o n d u c t a esta
e m çontradisão c o m suas opiniões ; seus e i z e m p l o s n ã o
se coiuormão c o m seus c o n s e l h o s ; e suas p a l a v r a s são
destituídas de u n s ã o , e de v i d a : é p o r q u e o seu
Ministério é p r e e n x i d o d ' u m a m a n e i r a f u t i l , e apa-
r e n t e : p o r q u e suas v i s t a s , e suas intensoes não estão
de a c o r d o c o m os fins d a Instituisão. O Pároco b a -
t i z a , p r e g a , e confesa ; mas c o m o d e z e m p e n h a e l e
tão i m p o r t a n t e s ofícios ? u m a e i s t e r i o r i d a d e v a n , m u i -
tas vezes a t e d e s p i d a de decência , é o q u e se ofere-
ce p e l a m a i o r p a r t e aos o l h o s d o serio O b s e r v a d o r . E
p o r q u e isto a c o n t e c e ? P o r q u e sua c o n c i e n c i a c o n d e n a
t o d o s os seus actos $ e os c o n d e n a ; p o r q u e u m vicio
r a d i c a l os e n v e n e n a , a i n c o n t i n e n c i a . E i s c o m o o M i -
Opus. 18. *
30
nisterio sagrado não só se t o r n a inútil, como demais
a mais r r P a d r e dezacreditando , com a sua c o n d u c t a ,
ou pelo menos fazendo suspeitoza a M o r a l , q u e em.
s i n a , m u l t i p l i c a o n u m e r o dos perversos.
U m a objecsao, f r a c a s i m , mas m i l vezes r e p e t i d a ,
se costuma opor a todos estes argumentos ; e vem a
s e r — - l . a q u e não é a i n c o n t i n e n c i a , que t o r n a o
Clérigo v i c i o z o : ü?.a que se bastante razão fose a t r a n s -
gresão d'uma l e i para ser ela r e v o g a d a , n e n h u m a l e i
a i n d a a mais j u s t a devi» ser conservada, p o r q u e não
d e i x a de ser transgredida. Objecsões m i z e r a v e i s , 1.°
p o r q u e ^ não obstante que m u i t o s sejão os vicios a
q u e estão sugeitos os E c l e z i a s t i c o s , temos com t u d o
m o n s t r a d o , q u e a i n c o n t i n e n c i a é dentre eles o mais
próprio, e d' uma tendência necesana á desmoralizar
o C l e r o , e o povo. 2.° P o r q u e é u m a verdade i n -
contestável , q u e toda a l e i u m a n a , q u e l o n ^ e de
c o n d u z i r o Ornem ao fim p e r t e n d i d o , pelo contrario^
mais o afasta dele , é p o r iso mesmo i n j u s t a , e i n d i a n a
de c o n t i n u a r em v i g o r ; o q u e dando-se na l e i °do
C e l i b a t o , e outras semelhantes , não acontece c o m
aquelas leis necesarias, que não tem o u t r o fim, q u e a
eizecusão d a l e i n a t u r a l . I n d e p e n d e n t e de legislasão
a l g u m a , será sempre p r o i b i d o o r o u b o , o asas?nio , a
c a l u n i a , a traisão, &c. e p o r iso o L e g i s l a d o r jamais
deve césar de i m p o r pena á taes delictos. S ã o sem-
p r e u m m a l ; não á cazo , em q u e posão ser conce-
didos. N ã o sucede o u t r o t a n t o c o m a i n c o n t i n e n c i a ;
ela é somente m á , p o r q u e a l e i a p r o i b e ; e desde
que^ esta lei , bem longe de c o n d u z i r os P a d r e s á per-
feisão , pelo c o n t r a r i o os leva pela m a i o r p a r t e á per-
disão , é de prudência; é de j u s t i s a , q u e o L e g i s l a -
d o r a revogue.
C o n c o r d a m o s em que o P a d r e pode ser u m per-
verso : pode p i z a r as leis as mais sagradas ; pois é
o r n e m : q u e a i n d a çazado pode ser u m adúltero, u m
d e b o x a d o ; mas nese çazo seja c o r r i g i d o com t o d a a
severidade das leis ; o u i n c o r r i g i v e i seja d e m i t i d o de
tão elevado Ministério. M a s se o seu m a l , a o r i g e m
da sua desgrasa é a i n c o n t i n e n c i a , então o unico°re-
m e d i o é o cazamento : não he infalível , mas é o
nnieo. ( 7 9 )
S u p o n h a m o s p o r e m , q u e a l e i d o C e l i b a t o é jus-
t a , e incapas de o c a z i o n a r a i m o r a l i d a d e ; a i n d a assim
é inútil ; e eis o q u e nos p r o p o m o s d e m o s t r a r .
(80) 1 aos Cor. Cap. 7. v. 32. Quero pois que vivaes sem inquieta-
ção. O que está sem. mulher está cuidadozo das coizas que suo do }
tido que S. Paulo eizige que o Padre seja marido d* unia só mu!her>
A s s i m o entendeu Teodoret- i n . E p . 1. ad T i m . — Franc. Roee. I n s t .
L. 3. T i t . 16 &c. — Os Gregos persuademse p o r e m , que S. Paulo e i s -
cíue os bigamos em razão da i n c o n t i n e n c i a , que manifestão p o r c a u z a
da repetisão do cazamento ; e o& Latinos por que j i não podem r e -
prczentar o Símbolo; de J . C. c o m a I g r e j a sua única espoza.
(89) E u m , q u i uxorem d u e i t , p r o l i b e r o r u m procreatione , ex
ercere oportet c o n t i n c n t i a m , u t ne suam q u i d e m concupiscat uxorem ,
quam dcbet d i l i g e r e , honestate y et óiodeiata v o l u n t a t e o p e r a m
fians l i b e r i s & c . Str, 3 a
37
Istoria do Celibato.
Q u a m q a a m p r i m i s seculis C I c r i c i s continentiae l e x i n d i c t a n o n
fuerit , consuctudine tamen moribusque j a i n obtinebat &c. Silv.
A n t i g . Chr.
.... NlílJÒ auíem j u r e D i v i n o , n e c n a t u r a l i , n e c p o s i t i v o eani
C l e r i c i s p n e c c p t a m esse saús ceríuin est. R i g e r . T o m 3.° T i t . 3.*
P o u c o i m p o r t a , q u e a l g u m S. P a d r e , ou p a r t i c u l a r C o n c i l i o : v. g.
o 2.° de C a r t a g o , dê a e n t e n d e r , q u e o C e l i b a t o v e m de tradisão
Aposto! bem os que tc:n l i s a o d a I s t o r i a da I g r e j a ser este o cos-
t u m e ordinário d o s A n t i g o s , e m u i t o m a i s dos m o d e r n o s E s c r i t o r e s ,
q u e j u l g a o Sagrado., e D i v i n o t u d o q u a n t o a^So e s t a b e l e c i d o a n t e s
deles. A s s i m x a m a v S o p r e c e i t o D i v i n o os i m p e d i m e n t o s do matrimônio
c o n s t a n t e s do L e v i t i c o ; asim o 12 Cone. g e r a l de L a t r a m xamou o
d i z i m o de p r e c e i t o D i v i n o & c . & e . E m fim asim se A a m ã o os Cânones
S a g r a d o s — a p e s a r de coisas n a o só p r o f a n a s , como b a r b a r a s , e
i n j u s t a s , q u e neles se c o n t e m : b a s t a v e r o q u e neles se d e t e r m i -
na c o n t r a os m i z e r a v e i s J u d e o s , e E r e g e s p a r a o r r e n i z a r . D e v e m o s
p o r t a n t o d a r atensão ás coisas, e nSo aos n o m e s , que se lhes q u e r d a r .
(9-ij S i q u i s p o t e s t i n c a s t i t a t e m a n e r e ad h o n o r e m c a r n i s D t m i n i *
ca?, i n h u m i l i t a t e m a n e a t . . . . Si g l o r i a t u r , jteriit. E t s i se maioreui
JEpiscopo c e n s e t . , inUriet, A d P o i y . N.° 5#
38
asegura, que Nicoláo nunca uzara de outra mulher,
exceto da própria , com quem cazara. — E i s a p r o v a
d o uzo d o Matrimônio , e p o r q u e m ? P o r S. Nicoláo.
Q u a n d o combate os i n i m i g o s d o Matrimônio, q u e
alegavão em seo favor o eizemplo d e J . C. , q u e se-
não c a z a r a ; ele responde , — que o Salvador não ti-
nha necesidade de adjutorio ; e que nem o seu desti-
no era ter filhos pois que Ele era Espozo da Igre-
ja. A t a c a seus adversários com o eizemplo de S. Pe-
dro, e S. F e l i p e , q u e tiverão filhos. O r a , não pode
a t r i b ilrse a S. C l e m e n t e a inépcia, e a b s u r d o de querer
convencer os Ereges com o facto destes Omens q u a n -
d o pagãos; o u simples J u d e o s ; l o g o é necesario su-
p o r , q u e S. C l e m e n t e s a b i a , q u e estes Apóstolos a i n d a
depois de xamados ao A p o s t o l a d o tiverão filhos ; o
que nem é i m p o s i v e l , q u a n d o pelo mesmo E v a n g e l h o
se sabe, q u e m u i t a s vezes deixarão os d i c i p u l o s de
estar na c o m p a n h i a d o D i v i n o M e s t r e , e q u e nese
t e m p o é n a t u r a l estivesem na de suas famílias. ( 9 5 )
O mesmo S a n t o pertende c o n f u n d i r os Gregos
c o m a d o u t r i n a de S. P a u l o , q u e a d m i t e até para o
E p i s c o p a d o o cazado , com tanto que uze do matri-
mônio de um modo irrepreensível ; a j u n t a n d o a i n d a
m a i s — que ele se salvaria pela procreasão dos filhos —
E u rogo ao L e i t o r se d i g n e l e r t o d a E s t r o m a 5\ deste a
S a n t o , q u e necesariamente ficara c o n v e n c i d o ; q u e
até então não só não avia proibisão dos P a d r e s ca-
zaremse ; como avia pelo c o n t r a r i o plena l i b e r d a d e de
o fazer, como m u i claramente asevera o mesmo Santo.(96)
N o t e s e m a i s , q u e este S a n t o n o seu Pedagogo e
Verdadeiro Gnostico propõem as máximas d a v i r t u d e
•
39
à mais a p u r a d a ; e q u e té o j e é a f o n t e d a m c r a l a
m a i s p e r f e i t a , q u e se conhece r e d u z i d a a compêndio;
e p o r iso não p o d e ser s u s p e i t o d e relaxasão.
T e r t u l i a n o este o m e m e i c e s i v o , q u e até x e g o u
a c o n d e n a r as p r i m e i r a s n u p s i a s , d e s c u b r i n d o nelas a
m a t e r i a l d a fornicasão ; e q u e se a t r e v e u a c e n s u r a r
S. P a u l o por p e r m i t i r as s e g u n d a s ; a i n d a asim já
m a i s se servio d o g r a n d e a r g u m e n t o d a proibisão d o s
P a d r e s cazaremse; o q u e e r a i m p o s i v e l l h e não l e m -
brase para p r o v a d o seu p a r a d o x o , 9e t a l p r a t i c a p e l o
menos e i z i s t i s e ; e n t r e t a n t o q u e q u a n d o ele e i z o r t a á
continência lembra que muitos eizemplos avião de*
la entre os Eclesiásticos. ( 9 7 )
O r i g e n e s , este P a d r e q u e l e v o u a t a l eiceso o
a m o r d a continência, q u e tizicamente se c a s t r o u , ape-
nas fazendo o p a r a l e l o e n t r e os sacrifícios d a a n t i g a 5
( 9 7 ) L i b . de E x o r t . Cast. c a p . 5 — e 13 Q u a n t i e t quanta? iü
K c c l e s i a s t i c i s O r d i u i b u s de c o n t i n e n t i a c e n s e n t u r , q u i JJco n u b e r e ma«*
l u c r u n t . &c.
(lJb) RÜÍU. 23 i u Nua. C e r t u m est q u i a i m p e d i t u r &c.
;
40
giozo serio, que se seculariza; entre tanto nenhum
destes comete um crime: mas como decem de perfeisão para
o estado ordinário, não pode d e i x a r deproduzir novidade,
e até para muitos estranheza. E i s o que é dado conje-
c t u r a r , que principiava acontecer nos fins do 3.° século.
O p r i m e i r o f a c t o , que refere a I s t o r i a relativo á
l e i d o C e l i b a t o é o de P i n i t o B i s p o de Gnosa , q u e
em 171 se lembrou de a i m p o r ; porém S. D i o n i z i o
B i s p o de C o r i n t o , este P r e l a d o tão sábio, como ze-
l o z o , q u e vigiava sobre as Diocezes v i z i n h a s , l h e
escreve e i z o r t a n d o , que não impuzese o jugo peza-
do da continência a seus irmãos; e que tivese
atensão á fraqueza do comum dos Omens. ( 9 9 )
É em 300 pela p r i m e i r a v e z , que aparece u m
C o n c i l i o p r o i b i n d o o uzo do matrimônio aos Padres
cazados. ( 1 0 0 ) • _ • -
E m 315 o Cone. de Neocezarea no Can. l.o de-
t e r m i n a a depozisão do P a d r e que caza, e no Can.
8.o manda suspender o que coabitar com a própria
m u l h e r , se esta f o r adultera.
E m 319 o C o n c i l i o de A n c i r a no Can. 9.o conce-
de ainda aos Diaconos o cazaremse depois de Or-
denados, se no acto da Ordenasão o protestarem
assim querer.
E m 325 celebrase o l.o C o n c i l i o geral em N i c e a :
Ú nele q u e m se lembre de i m p o r aos Clérigos a lei d a
continência; mas a t reflexões de P a i n u c i o são aten-
didas. Este Santo P r e l a d o entre outras coisas d i s
que bastava, que o Concilio se contentase com o
antigo costume de não cazaremse os Padres que se
avião ordenado solteiros. ( 1 ) O resultado f o i o C o n c i l i o
d e i x a r as coizas como estavão; isto é, ao a r b i t r i o de
cada um. *
Os Escritores deste século apezar de serem arras-
tados pelo espirito d e l e , confesão com t u d o , ou q u e
ainda não havia l e i da continência , o u que pelo
menos ela não era geral na Igreja.
S. A t a n a z i o na sua Carta o D r a c o n c i o , refere
que avião muitos Bispos solteiros e muitos Monges
que tinhão filhos; donde concluía: que em qualquer
estado se podião fazer us abstinencias, que se qui-
zesse : I s t o prova l i b e i d a d e e não l e i .
41
S. B a z i l i o n o f i m d o mesmo século C a n . 19 f a -
l a n d o d e continência profesa , d i s , que ainda não
estava em uzo, eicelo entre os Monges , que pare-
dão tacitamente avela abrasado.
Euzebio d i z , que o Evangelho não proíbe o
matrimônio ; e que S. Paulo o que dezejava so-
mente era, que o Bispo não tivese sido cazado
mais d'* uma vez a eizemplo de Nvé Sfd , e acrescen-
ta^ que todavia convém,; que os que são elevados
ao Sacerdócio, se abstenhão do comercio com suas
mulheres ; mas isto é u m a opinião sua — decet —
ele não se refere á l e i a l g u m a . ( 2 )
Sócrates contemporâneo d e m u i t o s Padres que
asistirão ao C o n c i l i o de N i c e a , r e f e r e , q u e n o seu
t e m p o a i n d a não a v i a l e i g e r a l d o C e l i b a t o , posto
q u e o uzo mais freqüente era o d a continência , poréru
por mero a r b i t r i o ; apontando muitos lugares, em
q u e os B i s p o s a i n d a tinhão f i l h o s . (3)
O mesmo S. J e r o n i m o , q u e l e v a d o d a a u s t e r i d a -
de m o n a s t i c a de seus c o s t u m e s , e d o r i g o r de suas
itleas a este respeito ao p o n t o , q u e se v i o n a nece-
sidade d e defenderse d a imputasão de aver c o n d e n a d o
o Matrimônio, c o m t u d o , c o m b a t e n d o a Vigüancio,
q u e negava o mérito d a continência, apenas a p o n t a
o e i z e m p l o , o u o costume das I g r e j a s d e A n t i o q u i a - ,
d o E g i t o , e de R o m a ; as quaes escolhião para Clé-
rigos o u solteiros., o u c a z a d o s , q u e deixtivão de ser
m a r i d o s : o q u e p r o v a , q u e as mais I g r e j a s tinhão
uma d i c i p l i n a diferente, ( i )
O C o n c i l i o de C a r t a g o em 3 4 8 b e m l o n g e d e
impor o p r e c e i t o d o C e l i b a t o , somente manda aos
que não querem cazar, e que escolhem a perfeisão da
continência que deixem de abitar com mullieres es-
tranhas ; c o m o j a o a v i a d e t e r m i n a d o o Concilio
g e r a l de N i c e a . (5)
(2) D e m o n s t r . L i b . 1. Cap* 9.
(3) C u t n i n O r i e n t e e u n e t i , s u a sponte, e t i a i u E p i s e o p i , a b u x o r i b u s
a b s t i n e a t i t , n u l h i t a m e n U ^e a u t n e e e s s i t a t e a i l s t r i c t i i d f a c i u n t . M u i -
t i eniir. H l o r u m E p i s c o p a t u s et i a m s u i t e m p e r e l i b e r o s e x l e g i t i m o
conjugio suscepertmt e a d e m c o n s u e t u d o Thessalonica? , e t i n M a -
c e d o n i a aí que A c h a i a o b s e r v a t u r . L i b . 5 Cap. 22. I s t . E c l e z .
( ) i ] u i d f a c i e n t O r i e n t i s Ecclestae ? ( i s t o é o P a t r i a r c a d o de A a -
4
í <• - * • -7
42
S. A m b r o z i o apenas dis , que quando os caza-
dos erão admitidos ao Sagrado Ministério , se tinha
esperansa, de que eles se absterião de suas mulhe-
res ; e tratando-se dos solteiros, ele çonfesa, que estes
não erão obrigados a se ordenarem taes. ( 6 )
S. Ciríio j a avia d i t o antes , que os que querião
cumprir dignamente , isto é de um modo mais per-
feito , o seu Ministério , vivião no Celibato. ( 7 )
N o que ainda oje concordamos, sendo porém o C e l i -
b a t o casto verdadeiro.
Parece que em alguns lugares se t i n h a c o m t u d o
levado o eiceso da continência ao ponto de abandonar as
próprias mulheres, entendendo-se o E v a n g e l h o ao pé
da l e t r a , ou materialmente, como ao depois se fes, o q u e
deu m o t i v o ao Can. 6 dos Apóstolos, pelo q u a l se
proíbe com eiscomunhão, e ate depozisão abandonar-
a mulher por preteisto de Religião ; e ao Can. 5 1 ,
e na q u a l se manda depor o Clérigo , que se abstiver
do matrimônio, não por espirito de mortijicasão, mas
por julgalo mão. ( 8 )
C o n c o r d a n d o os Críticos que t a n t o , os Cânones
Apostólicos, como as Constituisoes Apostólicas, são
o resumo da d i c i p l i n a mais geral do 4. , e 5. século,
deve notarse a maneira, por que se a x a concebido o C a m
2 7 , e Cap. 17 do L i b . G, pelos quaes se conhece,
que a proibisão do Cazamento dos Padres era u m a no-
va L e i , e nao reiterasão de anterior. ( 9 )
V. N o t . G±, 65 , e 66.
( I n ) F l e u r i I s t . E c l . no 7. sec.
0 ; . .
( 1 7 ) Consultese a F l e u r i no 7 Século d a sua Isíona Eclesiástica
o
t o c a n t e ao Ceübaío, -
16
D i s o C o n c i l i o — C o m o nos Cânones jlos Após-
tolos senão ara permitido o cazamento senão aos Lei-
tores , e Cantores , nós o defendemos daqui emdiante
aos Subditos Diaconos, e Presbiteros debaixo da
pena de depozisão; e todo aquelle, que quer viver
cazado, fasao antes de entrar nestas ires Ordens. #
gra na sua d i c i p l i n a .
outros x a m â o C o n c i l i a b u l o o C o n c i l i o de P i z a p o r -
5
(24^ Musaenm I t a l i c u m . V o m . 1.
C2.Y) Cellier. H i s t . dos A u t . E c c l . — Richard. A n a l i z e dos Concil,
l2K) Lamb"rt. Schetnab.
(27) V i t . Greg. A c t . MabiUon.
(>S8) V . Hist. E c c l . de F l e u r i , de Cboass, e de Qmeir.er.
52
P a p a . O r i g o r d o seu zelo i n d i s c r e t o não se modera, e ele
t r i u n f a , a pezar d a perda d a Religião, e d o descré-
d i t o da mesma I g r e j a . (29)
N o mesmo secuio c o m t u d o a i n d a o C o n c i l i o d e
\ inquester r e z o l v e , q u e os P a d r e s cazados c o n t i n u e m
a v i v e r c o m suas mulheres : e q u e só p a r a o f u t u r o
ninguém íbse o r d e n a d o sem p r o m e t e r observar a con-
tinência,
N a E s t r i g o n i a e m 1114 o A r c e b i s p o L o u r e n s o n o
Can. 31 d o C o n c i l i o celebrado nesa C i d a d e p e r m i t e
aos Sacerdotes cazados antes d a sua Ordenasão o coa-
b i t a r e m c o m suas m u l h e r e s , p a r a p r e v e n i r ( d i s o"Con-
c i l i o ) as conseqüências d e s u a f r a g i l i d a d e ; o r d e n a n -
d o i g u a l m e n t e ( p i e uzem desta permisão c o m grajídé
moderasão. (30) ..
T a l era o estado das coizas r e l a t i v o á continência
d o C l e r o , q u a n d o n o C o n c i l i o g e r a l de Latrão em 1 1 3 9
se r e z o l v e u d e c r e t a r q u e fosem n u l o s , os C a z a m e n t o s
dos P a d r e s , s u j e i t a n d o - o s além disso á p e n i t e n c i a e
renovando-se a proibição d e o u v i r M i s a dos P a d r e s
cazados e c o n c u b i n a d o s . D e s d e então não se poderão
mais cazar os P a d r e s ; e o C o n c u b i n a t o s u c e d e u i n -
t e i r a m e n t e ao Matrimônio.
Em 12.37 n'um C o n c i l i o d e L o n d r e s presidido
p e l o L e g a d o d o . P a p a , no C a n . 15 se m a n d a p r i v a r d o
b e n e f i c i o ao Clérigo , q u e se cazar c l a n d e s t i n a m e n t e
cb( larando-se seus t i l h o s incapazes de p o s u i r , . e de se
ordenar. O q u e p r o v a o u z o dos matrimônios c l a n -
destinos^ d e q u e então lansavão m ã o os Eclesiásticos
pelos não p o d e r celebrar p u b l i c a m e n t e .
a i n d a se fala de Clérigos c a z a d o s ; o q u e p r o v a , q u e
no A r c e b i s p a d o de R i i e n a i n d a e r a p e r m i t i d o o ca-
z a m e n t o dos Padres. V e r d a d e é , q u e R i x a r d supõe
q u e esta permisão só d i z i a respeito aos S u b d i a c o n o s ;
rnas esta supozisao é g r a t u i t a , não a v e n d o f u n d a -
m e n t o a l g u m , em q u e se estribe.
M u i t o d i g n o é d e observarse , q u e apezar d a ve-
pelisão, q u e em diferentes séculos se t e m f e i t o , d a
proibisão d o c a z a m e n t o dos Padres, e das penas de-
cretadas ao C o n c u b i n a t o , não se vem as coizas e m
m e l h o r estado ; n e m mesmo se v e m p u n i d o s os E c l e -
siásticos, s e g u n d o as l e i s ; fenômeno e s t e , q u e so
acontcceo , q u a n d o as leis c o m efeito o u são injustas*
o u d e s p r o p o r c i o n a d a s aos delictos. O s e n t i m e n t o i n a t o
de j u s l i s a opoemse á eizecusão de leis c o n t r a d i c t o r i a s :
e então os E i z e c u t o r e s delas tornãose i n d i f e r e n t e s ;
s u p r i n d o p o r esta f o r m a a mesma natureza a falta ,
e os defeitos d o L e g i s l a d o r i m p r u d e n t e . .
F i n a l m e n t e o u l t i m o C o n c i l i o g e r a l n o 16.o sécu-
l o parece , q u e adosou a l g u m a c o i z a a sorte dos
Clérigos c o n c u b i n a d o s ; c o m o j a notámos, e n t r e t a n t o
A
firmou a l e i d o i m p e d i m e n t o ' d i r i m e n t e d a O r d e m ,
a n a l e m a t i z a n d o a t e os q u e somente dicesem , que os
Padres podião cazar, não obstante a lei Eclezias-
ti cá, que o proibia, d a n d o c o m o razão , q u e a con-
tinência não é i m p o s i v e l , e q u e D e o s a concede aos
que a p e d e m d i g n a m e n t e . (SI)
E s t e C o n c i l i o porém n a sua d i c i p l i n a não f o i
aceito em m u i t o s l u g a r e s , e até o j e nem a F r a n s a , .
n e m a U n g r i a consentirão n a sua publicasão ; e m u i -
Q u a n d o p o i s S. . J e r o n i m o , e S. A g o s t i n h o d i z e m ; qúe os 0 l l e
Ttezumo sreral.
temporal.
D e z e j a r , q u e os P a d r e s scjão p e r f e i t o s , isto é %
que tenhâo não só as''virtudes ordinárias, mas a i n d a
aquelas, q u e os tornão Angélicos, e u m eicelente
dezejo : é u m conselho d a d o a t o d o s os Cristãos p o r
J . C , e c o m mais p a r t i c u l a r i d a d e á seos X e f e s , M i -
n i s t r o s , e C o n d u t o r e s ; mas d e t e r m i n a r p o r l e i , q u e
os Padres sejão p e r f e i t o s , é u m a pertensão impraticá-
v e l , f u n d a d a n a falsa- persuazão de q u e a perfeisão c
u m estado n a t u r a l , e que. p o r iso pode ser c o m u m
á u m a clace i n t e i r a : é elevar a eicesâo á r e g r a : c
u m a imprudência, fazendo o j u g o d o S e n h o r pezado ,
a salvasão d i f i c i l , e a v i d a u m a n a em m u i t o s cazoa
to) Si c u i Apostolus p r o p t e r i n t e m p e r a n t i a m , e t u s t i o n e m , e x
v e n i a secundum c o n c e d l t m a t r i m o n i u m , h i c q u o q u e n o n peccat , &c>
S. C l e m e n t e Str. 3.
S. E p i f a n . H o r e s 59. — S. Teodore. n a E p . I . a d T i t . d i s , q u
conceda a s 2. N u p c i a s
S. P a u l o íiS
aos mesmos Padres p a r a e v i t a r a
incontineucia,
61
Rezultado final.
PROPOZISAO. l . a
E1
da privativa competência do Poder tempo*
ral estabelecer impedimentos' difimentes do Ma-
trimônio , dispensar neles e revogalos. pag'
y 1
PROVA-SE l.o
Pela natureza do Matrimônio ibid.
PROVA-SE 2• o
Pelo tno, que deste direito tem feito o Poder
temporal 8
PROVA-SE 3. 0
RESULTADO GERAL 16
PROPOZISAO. 2.a
Da Necesidade d* abolisão do Impedimento da
Ordem 17
O impedimento da Ordem c injusto. - ibid.
O Impedimento da Ordem ê origem da mora-
lidade no Clero
A imoralidade do Padre influe d' uma maneira
particular na imoralidade publica 29
A lei do Celibato é inútil 31
A abolisão do Celibato é o noto dos Omens pru-
dentes
70 .
O Celibato dos Padres não ê de Instituisão
Divina. 3i
O Celibato dos Padres não é dc Intituisão
Apostólica. 35
Istoria do Celibato. 37
Rejlecsoes sobre o facto de Pafnucio ; e sobre o
Valor, e legitimidade do Concilio Quiniseisto. 46
Cotinuação da Istoria do Celibato depois do 7.°
século té nosos dias. 48
Rezumo da Instituisão do Celibato. 55
A Igreja do Ocidente nunca se opos á diciplina
da do Oriente, tocante ao Celibato dos Pa-
dres. 55
Rezumo geral. ibid.
E licito censurar a^ Diciplina.
J
^ 57
A diciplina da I. L. acerca do Celibato Llerical
não é prudente* .60
Rezultado final. " 66
4
ERRATAS.
Folhas. Linhas. Erros. Emendas.
* r *
23.... 7 se e
26.... 4 ministério.... mistério.
26....20 antigos aceticos.
28....34 cazador casador.
32 ultima Braga Praga.
33 23 razoes Varões.
34 3 ..... de té.
35,...28 fácil../ fiel.
37 12 o se.
38 20 Gregos Ereges.
43.... 9 conseguinte... conseqüente.
45.... 7 .. ..... Subditos Subdiaconos. 1
50 30 üldareo.. Uldarico.
50.... 37 ........ esperarão ...... espozarao.
59.... 6 encara creaf».
te da mesma a pagina 9.
Des de a nota 16 pagina 45 té a nota 38 folhas
57 preceda-se a leitura da nota ao numero indicado
no teisto. — A l e m destas á algumas outras {altas , que
© L e i t o r prudente advirtirá.
*