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CONTOS DO CABARÉ

Faltava pouco para meia noite e o vento batia forte contra seu rosto, ela corria como nunca
correu antes em sua vida. Pouco tempo atrás estava próxima a sua casa e podia sentir o calor
aquecer sua alma mesmo no pico alto do inverno, de dentro de si arrumou forças o suficiente
para rasgar seu vestido um ou dois palmos abaixo de sua cintura, amarrou seu cabelo e correu
como nunca antes.

Sentindo o vento em seu rosto suas lagrimas que desciam congeladas se misturavam com seu
suor enquanto ela lembrava do rosto de seu amado naquela situação desconfortável que ela
se encontrou. Pensava que se ela tivesse ficado calada, se ela nunca tivesse dito nada a
ninguém, pensamentos atoa.

Enquanto suas pernas respondiam ao seu instinto mais primitivo e fajuto de todos suas
lagrimas teimavam em correr, ela sentia em seu ventre as formigas ou borboletas fazerem
festa. O enjoo só poderia significar uma coisa, que ela estava no inicio de uma gravidez de uma
criança que nunca conheceria o pai.

Ela mal podia pensar no que aquilo significava. Ela sabia muito bem que havia matado ele por
causa de seu orgulho, ela sabia que carregava tanto sangue em suas mãos quanto aquele que
cortou em pedaços seu marido. O Desespero transformava-se em arma em suas mãos e
quando ela chegou na beira do rio caiu sem saber para onde ir.

De joelhos ela começou a pedir clemencia aos Deuses, aos espíritos, aqueles que pudessem
ouvir. Pedia perdão por ter colocado seu amado na linha de fogo, pedia perdão por seu
orgulho ter transformado sua vida perfeita em uma perseguição sanguinária.

Ao longe ela ouvia os gritos e sentia o calor do fogo das tochas dos homens que estavam
caçando-a, e quanto mais próximos eles chegavam mais ela orava em clemencia.

- Levante-se! – Ouviu no chiado das aguas que por ali passavam.

Sem saber o que fazer e embreagada pelo desespero obedeceu sem questionar, seu rosto
ainda em prantos escorriam lágrimas de veneno que matavam tudo ao redor.

- Se o seu orgulho te traiu, mostre que ele pode trai-los também!

Os homens e mulheres da cidade estavam a poucos passos dela, que agora a luz da lua estava
completamente a mostra na clareira que o rio fazia.

Encontram-na! Era seu fim.

- Venha até mim e eu lhe protegerei.

Olhou para trás e viu todas aquelas tochas e foices, estavam prestes a fazer dela aquilo que
fizeram com seu amado, levou as mãos ao seu ventre e num ato desesperado correu ao rio.

- Ela é Louca cuidado! – Gritavam.

- Essa mulher vai nos matar – Outra voz gritava ao fundo.

Enquanto ela apenas corria em direção ao rio e para surpresa de todos uma luz forte cobriu
seu corpo, como se ela estivesse embebedada em álcool e tivesse finalmente tacado fogo em
seu corpo ela reluziu. Andando por cima do rio como se a agua não lhe atrapalhasse ela correu
para a outra margem.

- Filha minha nunca estará desamparada, não enquanto agir por si mesma!

Nunca mais foi vista, mas para sempre Maria foi lembrada. Lembrada como aquela que
carregava o filho do próprio diabo. Na igreja todos os domingos o Padre alertava sobre os
malefícios de deitar-se com Lúcifer, alertava as mulheres de que esse poder que ele concedia
ele também tirava.

Mas aqueles que estavam presentes naquela caçada noturna sabiam muito bem de que não
foi o Diabo ou o Satanás quem protegeu Maria.

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