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O PEQUENO PRÍNCIPE

20 de maio de 2013

Esses dias, via Twitter, dei algumas opções de posts e entre eles estava o pequeno príncipe
que recebeu a maioria dos votos. Muitas pessoas querendo entender o porquê de eu amar tanto
este livro (escrito em 1943) a ponto de eu tatuar uma referência a ele e muitas pessoas que não
tinham sequer lido. Pois bem, eu explico e tenho certeza que vocês vão se apaixonar.

(Minha coleção)
Exupéry, antes de começar o livro, se desculpa com as crianças, este não é um livro para elas.
O Pequeno Príncipe é quase uma bíblia, um guia para pessoas de bem. É delicado e o
principezinho, em suas voltas pelos mundos, encontra muita gente adulta e gente adulta é
complicada demais. Encontra adulto que bebe pra esquecer que bebe, conclui que os adultos
só pensam em números, se conhece alguém quer logo saber quantos anos tem, quantos filhos,
quanto pesa, quanto ganha. Pouco importa sobre quantas árvores há no terreno de uma casa,
quantos pássaros a rodeiam, se o telhado é bonito, querem saber quanto custa. Adultos são
autoritários, precisam de explicações demais, adultos vivem com regras e eles sempre
esquecem que já foram crianças um dia.

“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças – mas poucas se lembram disso.”

A serpente que o encontra fala que é possível se sentir sozinho entre os homens.

Com o Príncipe, aprendi que é preciso ter e dar valor aos rituais, ritual para acordar, tomar
banho, comer, acender uma vela… Rituais tornam as coisas simples mais especiais. No
deserto, ele entende que o essencial é invísivel aos olhos, o que faz o deserto belo é que ele
esconde um poço em algum lugar.

O Pequeno Príncipe ensina que é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, nem
mais nem menos, é preciso respeitar as limitações de cada um. A raposa ensina sobre o que é
cativar – é criar laços. E diz também que a gente corre o risco de chorar um pouco quando se
deixa cativar… é normal. Só se conhece bem aquilo que foi cativado e você será eternamente
responsável pelas pessoas que cativou… Após cativar alguém, aquela pessoa que antes seria
somente uma pessoa entre tantas pessoas, passará a ser única no mundo. É preciso respeitar os
horários para que dê tempo de ser feliz, se espera alguém que vem às quatro da tarde, desde às
três começará a ser feliz.

Ao encontrar um vendedor de pílulas que matam a sede, ele vê que muitas vezes compramos
coisas que são totalmente desnecessárias, durante a viagem se dá conta que as pessoas não
aproveitam as pequenas coisas, preferem dormir a apreciar a paisagem pelas vidraças.

Com a rosa dele, que tem espinhos, aprendeu a amar, apesar da possbilidade de machucar. Foi
o tempo que dedicou à sua rosa que a fez tão importante, a importância é proporcional à
dedicação. Aprendeu que no amor, quanto mais se dá, mais se tem, que o amor é a única coisa
que cresce quando se divide.
Ao dizer que é preciso suportar duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas, ele nos
mostra que as dificuldades são importantes e que não se pode desistir, a recompensa sempre
vale a pena.

Em suas viagens, ele aprende que a linguagem é uma fonte de mal entendidos, portanto, calar
pode ser muito inteligente. Quanto está triste, ele assiste ao pôr-do-Sol e pode fazer isso
muitas vezes ao dia dando voltas em seu pequeno planeta, as pequenas coisas são de graça.
Em suas andanças percebe que as pessoas que passam por sua vida, passam levando um
pouco dele e deixando um pouco de si.

O Príncipe acredita que trodas as estrelas são iluminadas para que cada um possa encontrar a
sua. Ainda sobre as estrelas, ele diz que elas podem ter significados diferentes para as
pessoas. Se para algumas são apenas luzinhas brilhantes no céu, para os viajantes, são guias.
Para o negociante, são ouro e para os sábios, são problemas. Onde ele mora é muito pequeno
e se perde entre as estrelas, ele não consegue explicar ao piloto como reconhecer seu asteróide
e isso faz com que a serpente soria ao olhar pro céu após a despedida:

“Quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será
como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás
contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e
estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto… e teus
amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me
fazem rir!”
O livro é cheio de pequenas pequenezas, são frases, palavras, pensamentos que se revelam a
cada vez que se lê o livro, é livro pra ser lido e relido muitas vezes na vida. Cada lida é uma
interpretação nova, o livro mostra o quanto os valores se perdem a medida que crescemos e
nos ajuda a resgatar a criança dentro de nós e que fomos, nos ajuda a enxergar que não
podemos endurecer tanto assim com a maturidade, o cotidiano, os problemas. Para mim, o
livro é sobre isso, sobre não deixarmos a criança morrer apesar da idade adulta.
O pequeno príncipe se despede do livro nos ensinando sobre morrer. É preciso que se morra
aqui para que se possa viver em outro lugar. E que a morte nada mais é que deixar a concha, a
carcaça para trás e que isso não pode e nem deve ser triste. Após morrer, o Pequeno Príncipe
volta ao seu asteróide para cuidar de sua rosa e isso mostra que morrer fisicamente não
impede com que seus valores continuem a viver na Terra, mas o último capítulo do livro
sempre foi polêmico e até hoje existem muitas interpretações sobre ele, há dúvidas se o
príncipe morreu ou não. Eu acho que ele desencarnou, abandonou o corpo, mas continua vivo
como sempre. Até hoje.

“Tu compreendes. É muito longe. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.”
“Mas será como uma velha concha abandonada. Não tem nada de triste numa velha
concha…”
“Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho, como uma árvore
tomba. Nem fez sequer barulho, por causa da areia”
Imagens: Folha de São Paulo e Instagram

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