Você está na página 1de 22

31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

ELABORAÇÃO DE CÓDIGO DE ÉTICA


EMPRESARIAL. ESTUDO DE CASO NA
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Marília de Oliveira Assis Ramos (UFF)


mariliaaramos@ig.com.br

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas (UFF)


quelhas@latec.uff.br

Resumo
A ampla discussão que atualmente se presencia sobre a ética nos
negócios nos remete a pesquisar o que esta prática pode trazer de
valor para as empresas. O presente trabalho traz à discussão, a
elaboração de códigos de ética como ferramentaa para o sucesso de
mudança de valores na indústria da construção civil. Esta indústria ao
longo dos anos ficou estigmatizada como um setor em que a corrupção
e a falta de ética imperam em larga escala. Hoje esta indústria é
responsável por empregar 1.663.221 milhões de trabalhadores e tem
grande impacto tanto na economia quanto na questão social do país.
Já se pode perceber algum movimento das empresas do setor no que
tange a elaboração de códigos de ética nos negócios. Esta pesquisa
vem analisar estes documentos e sugerir recomendações para a
elaboração destes códigos de ética envolvendo as peculiaridades
relacionadas a este ramo de atividade.

Abstract
The ample discussion that is currently present about ethics on the
businesses sends to research what this practical can bring of value for
the companies. The present work brings to the discussion, the
elaboration of ethics codes as tool forr the success of change of values
in the industry of the civil construction. This industry to the long one of
the years was stigmatized as a sector where the corruption and the lack
of ethics reigns in wide scale. Today this industry is responsible for the
employment of 1.663.221 million workers and has great impact in such
a way in the economy how much in the social matter of the country.
Already if it can perceive some movement of the companies of the
sector in that it refers to the elaboration of codes of ethics in the
businesses. This research comes to analyze these documents and and to
suggest recommendations for the elaboration of these codes of ethics
involving the peculiarities related to this branch of activity.
Palavras-chaves: Modelo de Gestão. Código de ética. Construção civil.
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

1 - INTRODUÇÃO

Atualmente observa-se uma ampla discussão, onde são produzidas considerações


diversas a respeito de sustentabilidade, responsabilidade social, governança corporativa,
gestão responsável, normas certificadoras e orientadoras, etc. Gilney & Sá (2006), consideram
que dada à série de transformações que vêm ocorrendo no ambiente de negócios nos últimos
tempos, as empresas têm a cada dia um número maior de obrigações, e que dentre elas está a
adoção de posturas éticas dentro das organizações.

As notícias de escândalos, corrupção, nepotismo, fraudes, subornos estão sempre


presentes nos noticiários transmitidos pelos meios de comunicação. Jornais, telejornais e
revistas dão claros exemplos da falta de ética existente na sociedade. Arruda, Whitaker e
Ramos (2003 p. 17), destacam que “as empresas precisam de ética, a economia precisa da
ética, a sociedade precisa de ética, espera-se que o século XXI seja o século da ética”.

À luz das discussões propostas nesta pesquisa, o estudo traz à tona a questão da “ética
empresarial” na indústria da construção civil, especificamente a implantação de código de
ética neste setor. Para uma indústria que tem grande impacto social e econômico na
sociedade, as questões éticas devem ser consideradas fator relevante nas empresas que atuam
neste ramo de atividade.

1.1 – Considerações Iniciais

De acordo com Ashley (2005), o que está ocorrendo é mais do que mera resposta dos
negócios às novas pressões sociais e econômicas criadas pela globalização. Essas pressões,
que o mercado globalizado exerce sobre as empresas, fazem com que elas necessitem se auto-
analisar. Cria-se um novo ethos que rege o modo como os negócios são feitos em todo
mundo.

Ferrell; Fraedrich & Ferrell (2001), afirmam que a “ética empresarial compreende
princípios e padrões que orientam o comportamento no mundo dos negócios”. São esses
comportamentos que irão definir como a empresa espera ser vista perante os seus
“stakeholders”.

IV CNEG 2
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

Segundo Alledi Filho (2002) no modelo proposto em sua dissertação, considera-se a


ética como o núcleo da gestão transparente, da responsabilidade social, da organização e da
sociedade. Nesse sentido considera-se que todos os programas de melhorias e certificação nas
empresas necessitam da ética como núcleo de suas ações, para que o objetivo desejado seja
atingido.

1.2 – Situação Problema

Segundo Colombo e Bazzo (2001) a engenharia civil é um ramo de atividade de


grande amplitude dentro da engenharia, desenvolvendo diversas atividades em benefício da
sociedade. A relação entre a construção civil e a sociedade é bem relevante, sobretudo pela
complexidade envolvida no setor de edificações atingindo diretamente o bem de consumo o
qual todos anseiam. Esta relação ainda é maior no que se refere às obras públicas, em que a
sociedade, sua real proprietária, é a usuária final dessas construções. A construção civil tem
também o poder de modificar a organização de uma cidade no decorrer do tempo, devido aos
diferentes estilos arquitetônicos que vão aleatoriamente se processando.

De acordo com a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV Projetos) e do Sindicato


das Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP), realizada com base nos
dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no bimestre julho-agosto/2007, o índice
de empregos no setor da construção cresceu quase 8% na comparação com os mesmos meses
de 2006. Em agosto de 2007 a construção civil empregou 1.663.211 trabalhadores
contribuindo para o nível de emprego no Brasil.

Dado ao enorme impacto social e econômico que a construção civil tem no país, e a
sua importância para o crescimento do Brasil, pode-se perceber que ao longo dos anos está
indústria vem sendo foco de debate sobre questões éticas. Questões estas que envolvem desde
a falta de segurança e saúde da sua força de trabalho, até escândalos de nepotismo, corrupção
e suborno nas esferas públicas e particulares.

Restringindo-se o foco à indústria da construção civil brasileira – segmento alvo deste


estudo – pode-se perceber, a partir de pesquisas realizadas em sites da internet, que dentre as
empresas de construção civil, poucas têm elaborado códigos de ética nos negócios em sua
organização. Este documento tem sido utilizado por grandes empresas brasileiras no intuito de
demonstrar a todos os públicos envolvidos no exercício de sua atividade, como ela trata suas

IV CNEG 3
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

relações de negócios baseada em valores éticos.

1.3 - Objetivo

Este trabalho tem o objetivo de se apropriar da literatura e das práticas em ética


empresarial e pretende contribuir na sugestão de recomendações para a elaboração de código
de ética para as práticas de negócio na indústria da construção civil.

A relevância da construção civil na dimensão econômica e social do país implica na


necessidade do desenvolvimento de práticas de gestão que busquem minimizar os riscos
relacionados à ausência de ética empresarial.

Tem-se a expectativa de que, a partir da elaboração de um documento como o código


de ética, as empresas que fazem parte da indústria da construção civil possam usufruir de
resultados positivos, tanto em sua dimensão financeira como nas relações de respeito,
reconhecimento e confiança. Presume-se que o Código de Ética seja, proximamente, utilizado
como núcleo de Modelo de Gestão pelas organizações preocupadas em buscar metodologias
que contribuam para disseminar a ética em suas operações.

1.4 – Questões ou hipóteses

Fazendo-se uma análise das diretrizes que norteiam a elaboração de código de ética
empresarial e códigos de éticas de empresas da indústria da construção civil, objetivando
aprofundar o tema, pode-se enumerar algumas questões de contornos úteis à investigação
desse problema:

Quais as recomendações para a elaboração de um código de ética para os negócios na


indústria da construção civil?

2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1 – Uma Abordagem Teórica sobra a ética

Existem várias correntes éticas ao longo da história da humanidade, mas o maior


destaque, dado por vários autores, é o da ética Aristotélica que na Grécia Clássica, através dos
ensinamentos de Sócrates e Platão, foi disseminada por Aristóteles. De acordo com o filósofo,
a ética tinha como finalidade promover o bem. Este bem que tem a felicidade como propósito

IV CNEG 4
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

de todas as ações e ganha consistência na vida em sociedade onde ocorrem essas


manifestações.

Para Aristóteles (2007), como a condição fundamental para realização da felicidade é a


virtude e esta, só pode ser adquirida mediante exercício e esforço, o homem tem que
desenvolver mecanismos de ação que garantam a sua aquisição. Tais mecanismos são a
educação e as leis. A educação deverá desenvolver no homem os hábitos virtuosos; as leis
organizarão e protegerão o exercício da virtude pelos membros da sociedade.

2.2 – A ética nas organizações empresariais


Baseado no livro da professora Maria Cecília Coutinho de Arruda, uma das grandes
pesquisadoras no campo da ética empresarial no Brasil, Fundamentos da Ética Empresarial e
Econômica, o conceito de ética nas empresas e nos negócios se evoluiu com os primeiros
debates ocorridos especialmente nos países de origem alemã, na década de 60. Entre as
décadas de 60 e 70 o ensino da Ética em faculdades de Administração e Negócios tomou
impulso principalmente nos Estados Unidos, quando alguns filósofos vieram trazer sua
contribuição, surgindo uma nova dimensão: a Ética Empresarial.

Durante a década de 80 foram notados ainda, tanto nos Estados Unidos quanto na
Europa, esforços isolados principalmente de professores universitários, que se dedicaram ao
ensino da Ética nos Negócios em faculdades de Administração e em programas de MBA -
Master of Business Administration. No início da década de 90 redes acadêmicas foram
formadas e reuniões anuais destas associações permitiram avançar no estudo da Ética, tanto
conceitualmente quanto em sua aplicação às empresas.

De acordo com Nash (1993), existem razões para a promoção da ética no pensamento
empresarial. Os administradores percebem os altos custos impostos pelos escândalos nas
empresas: multas pesadas, baixo moral dos empregados, alta rotatividade, dificuldades de
recrutamento, fraude interna, perda da confiança pública da empresa, entre outros.

2.3 – O código de ética


Segundo Ferrell; Fradedrich & Ferrell (2001), uma vez que as empresas são
culturalmente diversificadas e os valores pessoais precisam ser respeitadas, as concordâncias
gerais sobre o que seja ética empresarial é tão vital quanto outras decisões da empresa. O

IV CNEG 5
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

código de ética de uma empresa estabelece como a empresa espera que seus compromissos
éticos sejam vistos e seguidos por seus stakeholders.

De acordo com Sanches (2003) é fundamental que a empresa defina regras claras para
a condução dos seus negócios e para o relacionamento entre as pessoas que compõem sua
equipe de trabalho, buscando promover a participação de todos na discussão dos limites éticos
da organização.

Arruda, Whitaker e Ramos (2003), apontam que os códigos de ética devem


contemplar, normalmente, as relações dos empregados entre si e com os demais públicos da
empresa, os stakeholders. E os principais tópicos abordados na maioria dos códigos são:
conflitos de interesse, conduta ilegal, segurança dos ativos da empresa, honestidade nas
comunicações dos negócios da empresa, denúncias, suborno, entretenimento e viagem,
propriedade de informação, contratos governamentais, responsabilidade de cada stakeholder,
assédio profissional, assédio sexual, uso de drogas e álcool.

O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios define os stakeholders como nada mais de
que “todos os públicos que tenham algum envolvimento com a condução da empresa, seja
porque trocam ou trazem contribuições, de diversos tipos, mas sempre essenciais, seja porque
sofrem, de forma relevante para o seu bem-estar, os efeitos da atividade da empresa”. Podem
ser internos (funcionários ou dirigentes) e externos (fornecedores, clientes, consumidores,
concorrentes, bancos, parceiros comerciais, governos, sindicatos, associações, investidores,
acionistas, comunidades em geral, etc.).

2.4 – A construção civil e a ética

A indústria da construção civil tem grande importância na economia brasileira tal


como: participação significativa no Produto Interno Brasileiro (PIB), sendo 3 a 5% nos países
em desenvolvimento e de 5 a 10% nos países desenvolvidos e é altamente absorvedora de
mão-de-obra. (Barreiro Jr, 2003, apud Machado 2006).

Em 2004 a construção civil se reergueu registrando um resultado de 115,1 bilhões =


6,5% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Hoje o setor está novamente em alta, com grandes investimentos do setor
público e privado.

IV CNEG 6
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

As empresas de construção têm grande influência em várias esferas como: poder


público Municipal, Estadual e Federal, clientes, fornecedores, concorrentes, sindicatos e
comunidade. Essa série de participantes intervém no ambiente das empresas e na execução
das atividades desta indústria.

A indústria da construção civil brasileira é considerada tradicional e conservadora. Um


outro problema que se pode citar é que grande parte da mão-de-obra empregada é semi-
analfabeta, que ocasiona o despreparo e a dificuldade para inovações tecnológicas.

Diante destes fatos a busca pelo desenvolvimento sustentável torna-se cada vez mais
preocupante para o setor. Algumas iniciativas de melhorias são observadas, mas algumas
peculiaridades da construção civil como: falta de inovação tecnológica, baixa qualidade nos
serviços, alta rotatividade de mão-de-obra, mão-de-obra desqualificada, alto índice de
desperdício ou perda, etc, mostram que este setor terá de enfrentar muitos desafios para o
alcance da sustentabilidade.

Pode-se presenciar ao longo dos anos casos de corrupção na construção civil nos
noticiários do Brasil e no mundo. Mas não é somente a corrupção e o nepotismo que ronda a
falta de ética na indústria da construção civil. Outros fatores como a falta de saúde e
segurança do trabalho no setor onde ocorrem altos índices de acidentes, furtos em obras, falta
de cumprimento dos prazos para entrega das obras, irresponsabilidade na entrega do produto
final para os clientes, entre outros fatores caracterizam a ausência de ética nesta indústria.

De acordo com as últimas estatísticas anuais do Ministério da Previdência e


Assistência Social (MPAS), os acidentes ocorridos na indústria da construção giram em torno
de 6% em relação ao total de acidentes computados em todo o Brasil no ano de 2003, 2004 e
2005.

A construção civil brasileira ainda se encontra baseada em processos tradicionais de


produção, com problemas de mão-de-obra desqualificada e carência de normas relativas a
manutenção, uso e operação, caracterizando falhas na entrega e manutenção do produto
entregue.

Uma pesquisa sobre as empresas mais reclamadas de 2006 feita pela Fundação de
proteção e defesa do consumidor (PROCON), constatou que 0,58% das reclamações foram da
área de habitação.

IV CNEG 7
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

3 - METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa, foram adotados à observação do real, que


consistiram no levantamento do referencial teórico, análises de práticas de desenvolvimento e
elaboração de códigos de ética, entrevistas com pesquisadores e especialistas das áreas
estudadas e na experiência profissional do pesquisador no setor estudado. Estas observações
apontaram para as questões aqui levantadas, alinhadas a exploração da realidade das empresas
da indústria da construção civil no que diz respeito à elaboração de códigos de ética.

Diante da revisão da literatura e relatos de metodologias de elaboração de código de


ética será feita análise comparativa com base em códigos de ética elaborados pela Empresa X
e a Empresa Y. Ambas com sede no Estado de São Paulo, e com foco na construção de
edificações multifamiliares.

As diretrizes estudadas são a Formulação e Implantação de Código de Ética em


Empresas – Reflexões e Sugestões do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
e a ISO 26000 – Diretrizes para Responsabilidade Social, versão “Projeto de Trabalho 3”, que
se encontra em fase de concepção para lançamento em 2009.

Analisados os códigos de ética das construtoras e as diretrizes, será proposto


recomendações para elaboração de códigos em empresas de construção civil, onde fatores
considerados relevantes e particulares desta indústria serão destacados.

4 - ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE RELACIONAMENTO DE EMPRESAS DA


INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL COM OS STAKEHOLDERS: O ESTADO
DA PRÁTICA

Mediante análise das diretrizes e dos códigos de ética das construtoras estudadas,
seguem as observações no que diz respeito aos tópicos que devem compor um código de
ética, destacados pelas diretrizes. Foi comparado como as construtoras destacam nos seus
códigos de ética, suas ações, posturas e valores no que diz respeito a cada um deles:

Participação dos Colaboradores na concepção do Código - as diretrizes são claras na


importância do envolvimento dos stakeholders no processo de concepção do código, portanto,

IV CNEG 8
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

as empresas analisadas não mencionam nos seus documentos esta participação. Infelizmente,
não foi possível o acesso aos elaboradores do código para obtenção desta informação.

Objetivo do Código - as empresas demonstram em seus códigos o objetivo da sua concepção,


explicitando com clareza e orientando os funcionários e demais públicos envolvidos que o
documento define como a empresa espera que todos conduzam as suas relações de negócios.

Periodicidade de revisão do código - como a Empresa Y descreve, a responsabilidade da


revisão do código deve ser explícita no documento. Mas nenhuma empresa menciona qual o
mecanismo de atualização e nem a periodicidade da revisão.

Comitê de ética – A Empresa X menciona que o comitê de ética deve ser a última instância,
visto que os conflitos devem ser solucionados dentro de cada setor com sua determinada
chefia. Muitas vezes o comitê de ética pode funcionar como um facilitador, como descreve a
ISO 26000.

Validação e comprometimento da alta direção - as empresas demonstram em seus


documentos que a alta administração está ciente e comprometida com a disseminação dos
seus valores, através do código de ética, para como todos os públicos envolvidos. Como já
mencionado anteriormente o estudo está se limitando à análise do documento, não fazendo
parte deste trabalho a comprovação da prática do que está redigido.

Visão e missão da empresa – a Empresa X descreve sua visão e missão conforme as


diretrizes orientam com a intenção de ser uma empresa preocupada com as três esferas
envolvem o desenvolvimento de sua atividade: a econômica, a social e a ambiental. Já a
Empresa Y menciona uma visão até preocupada com a qualidade de seus produtos, mas com
vistas apenas a sua dimensão econômica.

Aplicação do código - apesar das diretrizes não mencionarem procedimento para este item, as
empresas destacam em seus documentos, com eficiência, a importância da clareza para quem
o código de ética é aplicável. Neste sentido não deixa dúvidas de que todos os envolvidos e
impactados pelo exercício de sua atividade são responsáveis em cumpri-lo.

Relações com acionistas - a Empresa X também considera ético o respeito com os acionistas
independente da porcentagem de sua participação, como menciona o Instituto Ethos. A
Empresa Y apesar de não explicitar tal fato, demonstra uma política de privacidade e
transparência de informações coerente para com este stakeholder.

IV CNEG 9
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

Relações com funcionários (recrutamento, avaliação, promoção, incentivos e demissão) -


no que se refere ao recrutamento e promoção dos trabalhadores a Empresa X e a Empresa Y
estão em conformidade com as diretrizes. Em relação a incentivos, oportunidades e demissões
não descrevem em seus códigos quais procedimentos são adotados. Outro item importante
mencionado pela Empresa Y é a remuneração, em que a ISO 26000, menciona ter que ser
suficiente para suprir as necessidades básicas dos funcionários.

Relações com funcionários (valorização da diversidade e condenação de práticas de


assédio sexual e moral) - as empresas estão em conformidade com o que as diretrizes
orientam com relação a este item de valorização da diversidade e condenação de práticas de
assédio sexual e moral.

Relações com funcionários (relações hierárquicas) - as arbitrariedades devem ser evitadas


como mencionado pelo Instituto Ethos e descrito pela Empresa X. As empresas devem deixar
claro em seus códigos que condenam este tipo de ação.

Relações com funcionários (política de privacidade) - com relação ao item política de


privacidade as duas empresas estão em conformidade com o que orientam as diretrizes
estudadas.

Relações com funcionários (saúde e segurança) - as empresas descrevem em seus códigos a


preocupação com a segurança e saúde dos funcionários conforme orientam o Instituto Ethos e
a ISO 26000.

Relações com funcionários (liberdade de expressão e associação) - no código de ética


elaborado pela Empresa Y, é descrito a sua postura no que diz respeito a liberdade de
expressão dos funcionários como descrevem as diretrizes. Já a Empresa X não faz menção a
este item no seu documento.

Relações com funcionários (ativos da empresa) - apesar das diretrizes não mencionarem
procedimento para este item, as empresas destacaram em seus códigos o que esperam dos seus
funcionários com relação aos ativos da empresa.

Relações com os clientes (garantia de qualidade, segurança e prazo na entrega dos


serviços e produtos) - as empresas expressam as suas preocupações com a qualidade do seu
produto, mas não descrevem a sua postura com relação a prazo de entrega e segurança do
produto conforme orientação das diretrizes.

IV CNEG 10
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

Relações com os clientes (equidade) - apesar das diretrizes não mencionarem procedimento
para este item, as empresas destacaram em seus códigos a sua postura de equidade em relação
aos clientes.

Relações com os clientes (propagandas sobre produtos e serviços) - infelizmente as


empresas estudadas não se posicionaram em seus códigos sobre um assunto de extrema
importância que é a propaganda de seus produtos.

Relações com os clientes (garantia, manutenção e assistência técnica) - A Empresa X se


posiciona somente no que diz respeito a fornecimento de manual de uso e manutenção, não se
comprometendo a expor sua postura no referente as suas obrigações de garantia, manutenção
e assistência técnica. A Empresa Y não manifestou em nenhum dos subitens expostos.

Relações com Fornecedores(seleção e contratação) - os códigos de ética das empresas estão


em conformidade ao que orienta o Instituto Ethos com relação a este item de seleção e
contratação de fornecedores.

Relações com fornecedores(cumprimento das obrigações contratuais) - a Empresa Y


exige de seus fornecedores o cumprimento de toda legislação vigente e cumprimento dos
contratos firmados com ela. Mas não menciona o seu comprometimento para com os
fornecedores. A Empresa X não manifestou sua postura com relação a este item.

Relações com fornecedores (proibição de trabalho infantil e/ou escravo) - as empresas


expressam a sua insatisfação com relação à prática de trabalho infantil e escravo estando em
plena sintonia com o que orienta as diretrizes.

Relações com concorrentes - as práticas de concorrência desleal são expressamente


condenadas pelas empresas estudadas. Elas demonstram claramente em seus códigos de ética
suas posturas com relação a este item.

Relações com a esfera pública - a Empresa X aborda em seu código que incentiva a prática
de padrões como honestidade e integridade respeitando todas as leis vigentes. A Empresa Y
expressa o respeito às normas vigentes e destaca o seu bom relacionamento com as
autoridades locais.

Relacionamento com o meio ambiente - as empresas mencionam a sua preocupação com o


meio ambiente apontando para pesquisas e soluções que auxiliam e promovam a

IV CNEG 11
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

sustentabilidade. Estando em conformidade com o que as diretrizes orientam.

Relacionamento com a comunidade - as empresas ressaltam em seus códigos, com relação à


comunidade, o que o Instituto Ethos e a ISO 26000 orientam para uma empresa interessada
em ser uma organização cujos valores visam a preocupação com a sociedade, incluindo a
comunidade onde desenvolve suas atividades.

Práticas coercitivas à corrupção e propina - a aceitação de brindes está aquém do que gera
a corrupção neste país. As empresas estudadas deixaram a desejar na descrição da sua postura
no que diz respeito a este item, quando as diretrizes focam corrupção como favorecimentos
ilícitos e aceitação de propina.

5 - OPINIÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE AS PRÁTICAS DE


RELACIONAMENTO ENTRE A EMPRESA E OS STAKEHOLDERS NA
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

A literatura é clara quando apresenta a emergência da construção de um novo ethos


que possa servir de base para orientar as relações dos seres humanos entre si e as empresas
nas quais atuam. Pesquisadores, especialistas e profissionais da área de ética e da construção
civil foram entrevistados e questionados sobre o assunto e interessantes depoimentos foram
obtidos.

1) De acordo com sua experiência, como você analisa o panorama ético no ramo da
indústria da construção civil?

A falta de ética na política pública foi ressaltada por três entrevistados, considerando que as
leis atuais e a impunidade são fortes aliados para contribuição da corrupção no setor. Dois
entrevistados convergem nas opiniões sobre a ética na construção civil para uma questão
ambiental, onde grande parte dos materiais empregados e as atividades desenvolvidas nesta
indústria agridem o meio ambiente. Pode ser observado que a alta competitividade também é
fator relevante, pois muitas empresas participam de negociações para manter sua
sobrevivência no mercado. Nesse sentido, pode-se destacar que algumas dessas organizações
pratiquem uma ética utilitarista, em que se acredita que devam tomar decisões que resultem na
maior utilidade social, isto é, produza o maior benefício para todos os que serão afetados pela

IV CNEG 12
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

decisão.

2) O que de mais relevante você consideraria neste contexto ético?

Ao questionar sobre o que mais relevante eles consideravam neste contexto ético, 50% dos
entrevistados direcionaram para uma emergente mudança no sistema político, ou seja, os
agentes governamentais. Para um entrevistado, se não houver esta alteração, o trabalho das
empresas em desenvolver códigos de ética e conduta será em vão. A falta de saúde e
segurança no trabalho, o desrespeito ao meio ambiente e a falta de envolvimento da alta
administração das construtoras com a qualificação profissional e a responsabilidade social,
também foram itens considerados relevantes pelos entrevistados no setor da construção civil.

3) Algumas pessoas dizem que não existe ética na construção civil. Em sua opinião a
elaboração de códigos de ética contribuiria para modificação deste quadro? Por quê?

Todos os entrevistados concordam com a elaboração de um código de ética na indústria da


construção civil para mudança deste paradigma. Porém destacam algumas observações como:
o código não dever ser um livreto guardado na gaveta, e sim uma prática constante; o
documento deve estar diretamente atrelado à recompensas e punições; é uma alternativa
segura, desde que elaborado de forma participativa e madura.

4) Quais os desafios que você destacaria na implantação de códigos de ética nesta


indústria?

A vontade política foi apontada por um entrevistado como um desafio para a implantação do
código de ética no setor da construção civil. Como ele mesmo citou anteriormente é um fator
vulnerável a corrupção. Corrupção esta que está diretamente atrelada ao Governo. Ter o
código atrelado a recompensas e punições é um destaque, que não vê desafios a serem
transpostos.

5) Alguns diriam que esta reflexão teórica não se traduz na prática. Você concorda com
esta afirmação?

Os entrevistados concordam que as mudanças já estão acontecendo, e que já existem


empresas dispostas a modificar ou ratificar os seus valores. Está prática depende da vontade
de cada indivíduo integrante desta indústria. A transparência nas empresas deve ser um ato a
ser praticado. A sociedade através de suas críticas, sugestões e questionamentos pode ser uma

IV CNEG 13
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

grande aliada na mudança deste paradigma.

6 – RECOMENDAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE CÓDIGO DE


ÉTICA NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Baseado na revisão da literatura, na análise comparativa dos códigos de ética
elaborados por construtoras e nas opiniões dos especialistas e pesquisadores, sugere-se uma
recomendação para elaboração de código de ética na indústria da construção civil, conforme
os itens que devem constar no documento ressaltando as particularidades referentes ao setor.

Participação dos Colaboradores na concepção do código - O código de ética pode servir de


norte para determinados comportamentos, tornando claras as responsabilidades de todos. Para
que este norte seja um consenso, o envolvimento dos stakeholders na definição das políticas e
práticas específicas na empresa torna-se relevante para que o documento não se torne uma
cartilha de direitos e deveres. Devido a grande rotatividade que existe na construção civil, esta
participação pode ser difícil, mas não impossível se a elaboração de códigos de ética for uma
prática inerente à maioria das construtoras. Neste sentido todo funcionário, mesmo que
alternando de empresa, estará familiarizado com o assunto pertinente.

Objetivo do código de ética – o ideal é que o objetivo seja expresso no documento de forma
que, este represente um passo para grandes mudanças na organização. A empresa deve
preocupar-se, e até mesmo explicitar no código, a sua preocupação com o impacto das suas
atividades na dimensão econômica, social e ambiental.

Implantação e acompanhamento – a implantação de um código de ética não deve ser


simplesmente a distribuição e assinatura de ciência do devido documento. A empresa deve
buscar na ética uma força construtiva e inspiradora de boas ações, para que haja o
cumprimento consciente e maduro do código. Várias técnicas de educação para a ética podem
ser utilizadas como treinamentos, estudos de casos, discussão de situações reais e supostas.
Isso ajudará de certa forma que todos os envolvidos no programa compreendam os benefícios
da implantação de um código de ética.

Periodicidade da revisão - uma atenção especial deve ser dada à revisão do código para que
o documento não seja dado como apenas um momento de euforia da empresa. É bom que a

IV CNEG 14
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

periodicidade desta revisão seja explícita para gerar confiabilidade.

Criação de um comitê de ética – como ressaltado anteriormente o comitê pode servir de


facilitador para ajudar nas reuniões e discussões de conflitos éticos. Mas vale destacar que os
conflitos devem ser resolvidos dentro de cada setor e sua chefia imediata, para que possa
haver um comprometimento de solucionar o problema baseado nas normas descritas no
código de ética. Na construção civil os problemas devem ser solucionados em cada canteiro
de obra. Ao comitê pode ser dada a responsabilidade de liderar a implantação e o
acompanhamento do programa.

Validação e comprometimento da alta direção – sem um compromisso sério dos dirigentes,


tanto em ações quanto em palavras, a credibilidade de qualquer programa ético fica
negativamente afetada. Viver o que está escrito é que assegura a materialidade do código. É
isso que os stakeholders esperam encontrar como prioridade nas relações de negócios com a
organização.

Visão/Missão da empresa – a declaração da visão e missão deve ser redigida a partir do


momento em que a sua “alma” é revelada. A empresa tem que se conhecer para demonstrar o
que ela espera de si e dos seus colaboradores. Essas declarações também podem ter origem na
opinião dos funcionários que participam integralmente dos processos da organização.

Aplicação do código - em canteiros de obra a quantidade de prestadores de serviço é enorme,


devido a este fato o código deve demonstrar que as normas servem para todos.

Relações com Acionistas – deve basear-se na comunicação precisa, transparente e oportuna


de informações que lhes permitam acompanhar as atividades da instituição. Este
procedimento deve acontecer independente do percentual de participação dos acionistas.

Relações com Funcionários:

- No recrutamento de funcionários e nas suas relações diárias a empresa deve repudiar


quaisquer manifestações de preconceito e valorizar a diversidade e a contribuição das pessoas
sem discriminação de raça, sexo, cor, idade, religião, classe social e nacionalidade. Práticas de
assédio sexual e moral devem ser condenadas e punidas;

- Os funcionários devem ser avaliados e promovidos com base em seus méritos profissionais,
descartando qualquer outra consideração que extrapolem este fim;

IV CNEG 15
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

- Manter os funcionários devidamente informados sobre a empresa e as atividades de seu


interesse é primordial, para que se sintam mais seguros e conscientes na execução dos seus
trabalhos;

- Explicitar no código o comprometimento com a saúde ocupacional e a segurança do trabalho


de seus funcionários e terceirizados. Na indústria da construção muitos funcionários são
obrigados a trabalhar em condições de extrema insegurança e desrespeito;

- Expressar que o consumo de álcool e drogas é prejudicial à saúde física e mental e a


segurança no ambiente de trabalho. E que a procura e ajuda no caso dessas dependências não
deve colocar seu emprego em risco; porém recusá-la ou evitá-la poderá de fato, prejudicar o
seu desempenho;

- Devido ao grande índice de analfabetismo na construção civil, a empresa deve se


comprometer em seu código de ética a incentivar os seus funcionários à educação,
participando ativamente deste projeto. Deve também estimular o crescimento profissional de
todos os empregados. A empresa deve proporcionar treinamentos periódicos relativos à
qualidade dos serviços e saúde e segurança do trabalho;

- O respeito e a proteção do direito de privacidade dos empregados devem ser estabelecidos,


bem como sua liberdade de expressão e associação a entidades sindicais e outros;

- Em relação à hierarquia, o funcionário deve ser tratado com respeito e dignidade. Na


construção civil devido ao baixo nível cultural e educacional da maioria dos funcionários, é
comum presenciar arbitrariedades das chefias;

- O índice de desvios de ativos da empresa na indústria da construção civil é relevante. O


código deve deixar claro que os funcionários devem proteger os ativos da empresa. Deve
expressar a proibição da utilização de seus bens para uso pessoal.

Relações com Clientes:

- Garantir o cumprimento do prazo de entrega dos serviços, o que freqüentemente não ocorre;
- Transmitir aos consumidores informações vitais de segurança e sobre o uso do produto ou
serviço adquirido;

- A garantia e assistência técnica das obras entregues, deve ser oferecida por certo período
dependendo do tipo de serviço ou produto, e esse compromisso ético deve ser mantido a

IV CNEG 16
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

qualquer custo.

- Novos conceitos, tecnologias e recursos devem ser agregados a cada dia na organização para
que as obras tenham um padrão de qualidade reconhecido pelo cliente. Deve haver equidade
nas relações com os clientes, independente da sua posição social ou influência dentro da
empresa.

- Cuidados devem ser tomados com relação às propagandas enganosas, como folders
ilustrativos que não especificam dimensões, tipo de materiais que serão utilizados na obra,
etc.

Relações com Fornecedores:

- A seleção e contratação de fornecedores serão realizadas somente com base em critérios


técnicos, profissionais e éticos;

- Não devem ser realizados negócios com fornecedores, com a intenção ou concessão de
favorecimentos ilícitos;

- Não serão aceitas negociações com fornecedores de reputação duvidosa; as compras devem
ser praticadas de forma ética, através de cotações que envolvem preço, qualidade, entrega e
assistência técnica do produto adquirido;

- O cumprimento integral dos contratos firmados, por ambas as partes, faz desta relação, uma
prática da gestão ética nos negócios da empresa;

- O uso de mão-de-obra infantil e escrava deve ser repudiada na organização e


conseqüentemente ser condição relevante para contratação de fornecedores.

Relações com Concorrentes – a prática de concorrências com carta marcada deve ser
totalmente repudiada. Todos os concorrentes devem ser tratados com respeito acreditando na
livre competição, evitando práticas de difamação, sabotagens, espionagens, etc.

Relacionamento com a esfera pública – A organização deve demonstrar que é indispensável


a prática dos mais elevados padrões de honestidade e integridade em todos os contatos com
administradores e funcionários do setor público, e que o cumprimento das leis e normas são
primordiais para o bom desenvolvimento dos seus serviços.

Relação com o meio ambiente – Como citado anteriormente, a construção civil tem grande

IV CNEG 17
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

impacto ao meio ambiente por utilizar elevado número de insumos, materiais e componentes
existentes na natureza. A indústria da construção civil deve buscar soluções ambientalmente
justas e que minimizem seus efeitos negativos ao meio ambiente. Cuidados com o
desmatamento, construções em áreas de reserva, construções em áreas históricas, etc., Essas
medidas devem ser tomadas a fim de promover a sustentabilidade.

Relacionamento com a comunidade – as empresas devem criar operações economicamente


viáveis e socialmente produtivas na comunidade em que atua. Muitas vezes pode ser inviável
para a construção civil, visto que, é uma indústria itinerante. Mas a comunidade pode ser bem
abrangente como os municípios em que mais atua. Desta foram contribuirá para o
desenvolvimento e bem estar das comunidades muitas vezes impactadas pela ação de sua
atividade.

Práticas coercitivas contra a corrupção - a empresa deve ter como valores a transparência,
a integridade e a responsabilidade sendo totalmente contrária a qualquer tipo de corrupção
comercial e subornos. Para que haja um “corrupto” tem que haver um “corruptor”. A
organização não deve admitir o pagamento de propinas por parte de nenhum funcionário da
empresa, mas para isso tem que demonstrar que está acima de qualquer suspeita, rejeitando
qualquer ato ilícito nas suas relações de negócios. Deve haver procedimentos específicos para
controle e punição das ações de favorecimentos ilícitos caracterizados por corrupção e
pagamento de propinas.

7 – CONCLUSÃO E PROPOSTAS DE NOVAS PESQUISAS

Como foi observado durante a revisão da literatura, para que se consiga refletir sobre o
tema ética empresarial, é preciso perceber a complexidade envolvida na questão. Muitos
autores estão preocupados com esse tema, seja na empresa, seja na sua vida pessoal, social e
política.

As recomendações para a elaboração de código de ética na indústria da construção


civil contém tópicos semelhantes aos das diretrizes propostas pelo mercado. A intenção foi
destacar algumas características que são particulares do setor, podendo assim complementar e
aprofundar ainda mais a elaboração do documento que será redigido para as empresas desta
indústria.

IV CNEG 18
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

Todos nós que fazemos parte da cadeia produtiva da construção civil e até mesmo os
que de certa forma estão envolvidos com o setor devemos estar empenhados em construir um
setor sustentável e ético. E é por conhecermos bem as dificuldades, que sabemos que elas
serão ultrapassadas e que o futuro do setor não se vai deixar comprometer por conjunturas
menos favoráveis.

A deterioração da maneira como a sociedade vê esta indústria é extremamente


desonrosa para o país em geral e para os profissionais em especial, abrangendo suas
instituições e associações. Mas, o setor já vem demonstrando mudanças, pelo menos no setor
privado, quando empresas começam a se engajar na preocupação com a responsabilidade
social, com o meio-ambiente e mesmo na elaboração e implantação de códigos de ética em
suas organizações.

Sugere-se um estudo mais aprofundado sobre o tema no que diz respeito às obras
públicas, face a tantos escândalos que presenciamos. A construção civil neste setor se mostra
problemática, quando temos conhecimentos de tantos “esquemas” que envolvem a esfera
governamental e as empreiteiras.

Outra sugestão para estudos futuros é a análise da eficácia da implantação dos códigos
de éticas das construtoras analisadas e/ou demais construtoras no que diz respeito a: aumento
da produtividade, impactos positivos e negativos, melhoria no relacionamento, mudança de
comportamento, etc. Acredita-se que tal análise seja merecedora de trabalhos futuros mais
direcionados, como uma investigação de campo, um método de pesquisa mais preciso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLEDI FILHO, Cid. Ética, Transparência e Responsabilidade Social Corporativa.


Dissertação do Mestrado em Sistemas de Gestão. Niterói: Universidade Federal Fluminense,
2002.

ALMEIDA, Fernando. O Bom Negócio da Sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2002.

ANJOS, Gilney Chistierny Barros dos & SÁ, Vinícius Claudino. O Entendimento e a
Abordagem da Ética por Parte dos Professores de Administração: Um Estudo de Caso.

IV CNEG 19
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

III Congresso de Excelência em Gestão. Niterói/RJ. Em 17,18 e 19 de agosto de 2006.

ARISTÓTLES. A Ética – Textos selecionados. Tradução Cássio M. Fonseca. 2º edição


anotada. Bauru/SP: Edipro, 2003 (Série Clássicos).

____. Ética a Nicômaco. Tradução Pietro Nasseti. São Paulo: Editora Martin Claret, 2007.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de. A Ética como Substrato da Tranparência. 1º


Simpósio Latino-Americano de Transparência nos Negócios. Rio de Janeiro/RJ. Em 17 e 18
de setembro de 2007.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de & NAVRAN, Frank. Indicadores de Clima Ético nas
Empresas. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 40, n. 3, p. 26-35, jul/set.
2000.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho, WHITAKER Maria do Carmo & RAMOS, José Maria
Rodriguez. Fundamentos da Ética Empresarial e Econômica. 2. ed. – São Paulo: Atlas,
2003.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho. Código de Ética: Um instrumento que adiciona valor.
São Paulo: Negócio Editora, 2002.

ARRUDA, Maria Cecília Coutinho. Ética bem vividada dá lucro. Entrevista ao ETCO –
Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – Por Francisco Viana, Mário Viana e Patrícia
Branco – Em 20/03/2004)

ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e


documentação – Referências – Elaboração. [Rio de Janeiro], 2000. 22p..

COLOMBO, Ciliana Regina e BAZZO, Walter Antônio. Desperdício na construção civil e a


questão habitacional: um enfoque CTS. Revista Roteiro, Laçaba, v. XXVI, n.46, p. 135-
154, 2001.

FERRELL, O. C.; FRAEDRICH, John; FERRELL, Linda. Ética Empresarial. Dilemas,


Tomadas de Decisões e Casos. 4. ed. Tradução: JUNGMANN, Ruy. Revisão Técnica: Maria
Cecília Arruda. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Ed., 2001. Tradução de: Business

IV CNEG 20
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

Ethics: Ethical Decision Making and Cases, 4th edition.

HALTER, MariaVirginia & ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de. Transparência como
Instrumento de Redução da Corrupção nas Organizações. 1º Simpósio Latino-Americano
de Transparência nos Negócios. Rio de Janeiro/RJ. Em 17 e 18 de setembro de 2007.

INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Formulação e


Implantação de Código de Ética em Empresas. Reflexões e Sugestões. São Paulo: Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, ago. 2000. 34p. Disponível em
www.ethos.org.br. Acesso em: 27 Mar. 2007.

MACHADO, Fátima Maria. Gestão sustentável: o gerenciamento dos resíduos sólidos da


indústria da construção civil. Dissertação do Mestrado em Engenharia Civil. Niterói:
Universidade Federal Fluminense, 2006.

MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL (MPAS). Estatísticas de


Acidentes do Trabalho. Disponível em: www.mpas.gov.br . Aceso em 15 de jan. 2008.

NASH, Laura L.. Ética nas Empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books,
1993.

FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR (PROCON/SP). Cadastro


de Reclamações Fundamentadas. Período de 2006. Disponível em:
www.procon.sp.gov.br/pdfcadastro_de_reclamacoes_2007_releases.pdf . Acesso em: 14 jan.
2008

QUELHAS, Osvaldo Luiz Gonçalves. Boa governança e o setor imobiliário. Artigo


publicado na Gazeta Mercantil – SP. Em 15 de Setembro de 2007. Disponível em
www.latec.com.br/tabid/131/articleType/AreticleView/articleId/100/Default.aspx. Acesso em:
23 Out. 2007.

RAMACCIOTTI, Cláudio & ITELVINO, Lucimar da Silva. O papel do líder na Ética


Empresarial: Uma discussão necessária. III Congresso de Excelência em Gestão.
Niterói/RJ. Em 17,18 e 19 de agosto de 2006.

SANCHES, Sylvio de Moraes. Código de Ética: Um Fator de Sucesso na Organização.


Monografia do MBA – Executivo em Gestão Empresarial. Brasília: Instituto de Ciências
Sociais (ICS), da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal – AEUDF, 2003.

IV CNEG 21
IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DE SÃO


PAULO. Informativo do Setor de Economia. Disponível em www.sindusconsp.com.br.
Acessado em 08 de nov. 2007.

1º SIMPÓSIO LATINO AMERICANO DE TRANSPARÊNCIA NOS NEGÓCIOS. Notas


das apresentações. Rio de Janeiro/RJ. Em 17 e 18 de setembro de 2007.

IV CNEG 22

Você também pode gostar