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RESUMO: O objetivo geral dessa pesquisa é demonstrar como a norma jurídica pode confrontar o Princípio da
vedação ao retrocesso e descaracterizar todo um viés protetivo da redação anterior do dispositivo celetista a esta
categoria de trabalhadoras que merecem tutela da ordem jus trabalhista. Desta forma, o trabalho de grávidas e
lactantes em ambientes insalubres poderá afetar não apenas a trabalhadora, mas os recém-nascidos e mesmo os
futuros seres humanos, já antes mesmo do nascimento, quando começarão a ser atingidos por agentes insalubres
causando, assim, contaminação e adoecimentos. É comprovado cientificamente que o labor em ambiente
insalubre praticado por gestantes e lactantes é prejudicial não só a trabalhadora (gestante e lactante), também é
bastante prejudicial ao feto e à criança em fase de amamentação, sendo correta a proibição do trabalho da
gestante e da lactante em atividades ou locais insalubres, o que foi ignorado pelo Congresso Nacional e pelo
presidente da República, que sancionou a lei sem qualquer restrição.
ABSTRACT: The general objective of this research is to demonstrate how the legal norm posta confronts the
principle of the prohibition against retrocession and discharges a protective bias from the previous wording of
the bargaining device to this category of workers who deserve tutelage of the work order. In this way, the work
of pregnant women and infants in unhealthy environments may affect not only the worker, but newborns and
even future human beings, even before birth, when they will begin to be affected by unhealthy agents causing
contamination and illness. It is scientifically proven that work in an unhealthy environment practiced by
pregnant women and infants is harmful not only to the worker (pregnant and lactating), it is also very harmful to
the fetus and to the child in the phase of breastfeeding, being correct the prohibition of the work of the pregnant
woman and the infant in unhealthy activities or places, which was ignored by the National Congress and the
President of the Republic, which sanctioned the law without any restriction.
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Evolução Histórica do Trabalho da Mulher. 3 Principio do Não Retrocesso Social e
Mínimo Existencial. 4 Caracterização da Insalubridade. 5 Proteção à Gestante e Direito à Vida. 6 Repercussão da
Possibilidade da Gestante e lactante Laborar em Ambientes Insalubres. 7 A Inconstitucionalidade das Mudanças
Trazidas Pela Reforma Trabalhista Quanto a Proteção à Mulher Gestante e Lactante. 8. Decisão Recente do STF
sobre o Trabalho da Gestante e Lactante em Local Insalubre. Considerações Finais. Referências
1 INTRODUÇÃO
2 Professor orientador
A Lei 13.467/17, conhecida como Reforma Trabalhista, trouxe muito impacto no que
diz respeito ao trabalho insalubre das gestantes e das lactantes. A possibilidade da gestante e
lactante trabalhar em um local insalubre era vedado pela lei n° 13.287 de 2016, por meio do
artigo 394-A da Consolidação das leis trabalhistas (CLT), nos seguintes termos: “Art. 394-A.
A empregada gestante ou lactante será afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, de
quaisquer atividades, operações ou locais insalubres, devendo exercer suas atividades em
local salubre”.
A CLT não permitia que a gestante e a lactante trabalhassem em local insalubre.
Independente do grau de insalubridade, a trabalhadora somente poderia trabalhar no período
de gestação ou lactação se fossem em locais salubres dentro da empresa, se não fosse possível
deveria ser obrigatoriamente afastada durante toda gestação ou lactação. O legislador tinha
criado este dispositivo com o fim de conceder uma proteção legal, com o propósito de garantir
que as gestantes e lactantes conseguissem executar as suas tarefas em ambientes saudáveis,
com o objetivo de garantir a saúde das futuras gerações.
Com a alteração legislativa, a Lei n° 13.467, de 13 de julho de 2017, entres os vários
dispositivos alterados pela reforma trabalhista, o artigo 394-A que proibia o trabalho da
gestante e lactante em ambientes insalubres, passa a permitir o exercício de suas atividades
em ambiente insalubre em grau médio ou mínimo, sendo vedado o exercício de suas
atividades enquanto durar a gestação e lactação em grau máximo.
O artigo 394-A da CLT viola pressupostos constitucionais que garantem proteção
integral à vida. Logo, percebe-se que a Lei. 13.467/2017 prejudica diversos princípios
defendidos pela Constituição Federal, tais como a dignidade da pessoa humana, proteção do
mercado de trabalho da mulher, redução dos riscos inerentes ao trabalho e o mínimo
existencial, bem como traz à tona o retrocesso social.
“As mulheres sempre foram tratadas com desigualdade, isto já era verificado nos
primeiros séculos, quando eram vistas apenas como mero objeto e inferiores aos
homens. Não podiam ter vontade própria, e muito menos participar da política.
Também, não possuíam direitos perante a lei, viviam apenas para agradar seus pais
quando jovens e seus maridos quando já casadas.”
A partir desse fato a luta das mulheres e a violência contra elas virou questão de
estudo e conscientização da sociedade para uma vida mais justa a ser dada a classe feminina.
Após muitos desafios enfrentados pelas mulheres estas, enfim, conquistaram seus
direitos e espaço no setor de trabalho, sendo cada vez mais numerosas as mulheres que
exercem cargos de chefia, que antes eram destinados a classe masculina por terem a ideia de
que mulher é sexo mais frágil.
No Brasil, de acordo com Mauricio Godinho Delgado (2017), o direito do
trabalho teve seu surgimento com a promulgação da Lei Áurea, a qual, muito
embora não tenha sequer cunho trabalhista, estimulou a fórmula revolucionária de utilização
da força de trabalho: a relação de emprego.
O primeiro período na evolução do Direito do Trabalho no Brasil se dá no período de
1888 a 1930, onde a relação empregatícia era caracterizada no segmento agrícola cafeeiro,
principalmente no estado de São Paulo. Em seguida, o segundo período teve seu início em
1930 e foi até 1945, marcado pela intensa atividade administrativa e legislativa do Estado, no
segmento agroexportador de café. Neste sentido, vale destacar que em 1930 foi criado o
Ministério do Trabalho, sendo esse um dos marcos mais relevantes do Direito do Trabalho no
Brasil (DELGADO, 2017).
Apesar disso, o diploma mais importante surgiu em 1943 ano que entrou em vigor a
legislação trabalhista no Brasil. A CLT trouxe um grande avanço na proteção à mulher
trabalhadora, uma vez que um capítulo inteiro foi dedicado as mulheres, tendo regras que
visavam proteger a trabalhadora mulher do preconceito e discriminação, além de garantir
condições melhores de trabalho as trabalhadoras.
Em 1988, se deu a promulgação da Constituição Federal, inaugurando assim, uma
nova fase para o direito do trabalho no país, a qual conferiu uma nova posição às mulheres,
garantindo a elas condições de igualdade com os homens, principalmente na família e
trabalho, sem deixar de considerar as diferenças fisiológicas entre eles.
A discriminação deve ser ponderada sob o prisma do Princípio da Igualdade, pois a
partir dele se busca a isonomia entre homens e mulheres, principalmente no que tange ao
ambiente de trabalho, eliminando a posição de submissão da mulher imposta por pela
sociedade.
3 Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos seguintes termos:
I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; [...]
conceito de Justiça. Sabendo que o Direito se transforma no tempo e no espaço, se adequando
a estes, as leis designadas ao Direito Trabalhista devem ser ampliadas e reformadas
constantemente, no sentido de estabelecer a melhora e a harmonia no mercado de trabalho
para a mulher.
Art. 7°- São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: [...]
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil.
Princípio da vedação ao retrocesso social é uma garantia institucional e um direito subjetivo,
não devendo ser alterado, haja vista que violaria o princípio da confiança e da segurança
jurídica entre os cidadãos.
O retrocesso social significa o descumprimento por ato comissivo da imposição de
legislar como imposição de edição de normas que regulamentem as disposições de direitos
fundamentais sociais, bem como, a abstenção do legislador no sentido de edição de normas
que revoguem disposições jus fundamentais independentemente da topologia que essas
normas tenham no sistema normativo.
4 Nesse sentido, o citado princípio tem o escopo de tutelar pelos direitos fundamentais
implantados e garantidos, evitando condutas estatais que retirem ou impeçam que esses direitos sejam
fruídos de forma plena pelo indivíduo (MELO, 2010, p. 65).
O referido princípio apresenta-se no ordenamento jurídico brasileiro como um
mecanismo de defesa dos direitos fundamentais, ditos cláusulas pétreas, ante as constantes
mudanças legislativas. É meio hábil a blindar o núcleo essencial dos direitos fundamentais,
contudo não é absoluto, comporta alterações atendendo à demanda cada vez mais latente de
que o estado democrático de direito não retroceda, e que suas normas alcancem cada dia mais
a finalidade proposta do bem-estar, proteção e a justiça social.
4 CARACTERIZAÇÃO DA INSALUBRIDADE
O conceito de insalubridade está previsto na CLT, em seu artigo 189, que diz que
corresponde às atividades ou operações que expõem o empregado a agente nocivo à saúde,
acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente, bem
como do tempo de exposição dos seus efeitos.
Conforme preceitua a súmula 4605 do STF e o art. 1956 da CLT, para caracterizar e
classificar a insalubridade deve ser realizada pericia, por médico ou engenheiro do trabalho,
devidamente registrado no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de maneira que a prova
pericial é indispensável para constatação do ambiente laboral insalubre. Contudo, é
importante salientar que, mesmo que a prova técnica constate que o empregado labora em
ambiente insalubre para que seja caracterizado o adicional de insalubridade, se a atividade ou
operação a que o trabalhador estiver submetido estiver classificada como insalubre no quadro
de elaboração pelo MTE, ou seja, não basta a perícia identificar o agente insalubre, é
imperativo que este agente seja reconhecido como insalubre pelos normativos editados pelo
MTE.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que aprovará o quadro das atividades e
operações insalubres, os critérios de caracterização desta, os limites de tolerância aos agentes
nocivos, os meios de proteção e o tempo máximo que um trabalhador pode ficar exposto a
este agente nocivo à saúde.
Desta forma, para a caracterização da insalubridade é indispensável o preenchimento
de dois requisitos previstos na Norma regulamentadora NR n° 15 do MTE, que são
[...] os agentes químicos podem ser encontrados nas formas gasosa, líquida e sólida;
quando absorvidos pelo nosso organismo, por via respiratória, através da pele ou por
ingestão, produzem na maioria dos casos, reações que são chamadas de venenosas ou
tóxicas. Como exemplos: poeiras, fumo, neblinas, gases, névoas, vapores etc. Os
agentes biológicos são micro-organismos presentes no ambiente de trabalho como
bactérias, fungos, vírus, protozoários, bacilos, parasitas, entre outros. São invisíveis ao
olho nu, sendo visíveis apenas ao microscópio.
Por todo o exposto, mesmo em síntese apertada, é possível inferir com segurança que
o tema discutido – insalubridade – é um instituto perene na sociedade e que deve receber uma
atenção mais enfática do poder estatal, bem como da sociedade que é a maior prejudicada.
7 Art. 192. O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância
estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta
por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem
nos graus máximo, médio e mínimo
8 A partir da promulgação da CF/88 (artigo 7º, inciso XXIII), o adicional de remuneração para as
atividades insalubres teve reconhecimento também no âmbito constitucional.
A participação das mulheres no mercado vem aumentando de forma significante,
apesar das desigualdades sofridas, que são visíveis, em alguns casos a mulher chega a ser o
pilar financeiro no orçamento familiar. Entretanto, um dos motivos que contribui com essa
participação financeira, está relacionado de forma negativa com o número de filhos, o que
leva a várias mulheres a deixar ou adiar o sonho de ser mãe, visto que a gravidez afeta o
ingresso e permanência destas no mercado de trabalho.
A trabalhadora gestante necessita de cuidados especiais e de uma proteção maior
devido ao estado gravídico levando, assim, em consideração a dificuldade que enfrentará ao
tentar conseguir uma nova colocação no mercado de trabalho. Sendo assim, é assegurado a
gestante à garantia de emprego para que não corra o risco de ser dispensada neste período de
gravidez.
Para que as trabalhadoras gestantes e lactantes possam conciliar a maternidade com a
profissão escolhida, é fundamental que o governo, bem como, a sociedade, propicie à gestante
e a lactante um ambiente de trabalho saudável e seguro para o feto em formação e o nascituro,
adotando mecanismos que garantem essa proteção.
Observa-se que as mulheres possuem condições específicas, não se trata aqui de sua
fragilidade física mas sim a relação ao privilégio de conceber vidas, trazendo dentro de seus
corpos a maternidade. Nesse escopo, é suficientemente aceitável um tratamento diferenciado,
protetor, às mulheres principalmente quando encontram-se grávidas, assim, em vez de
diminuir o direito, amplia, para, então, alcançar um patamar de real igualdade.
9 Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro.
“Preocupamo-nos com o nascituro por reconhecermos que, mesmo antes do
nascimento, o maior valor do ser humano é a vida e, por isso, enfatizamos a
necessidade da responsabilidade, por todos os seres humanos, pela sua tutela e
proteção e, se assim não for, ficará comprometida a garantia da vida das gerações
vindouras.”
É direito principal do ser humano o direito à vida, fazendo com que o estado preserve
esse direito desde a sua concepção, sendo que nenhum interesse estatal pode superar esse
direito. A melhor maneira de garantir a proteção desde a concepção é garantindo também a
proteção da maternidade, essas garantias previstas em nosso ordenamento jurídico que são
asseguradas a empregada gestante, como estabilidade de emprego, licença maternidade e
salário durante todo esse período de licença; não têm por objetivo conceder privilégios a essas
empregadas, mas sim, de garantir o desenvolvimento de forma sadia ao nascituro.
EM AMBIENTES INSALUBRES
“Art. 394-A. Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional de
insalubridade, a empregada deverá ser afastada de:
I – atividades consideradas insalubres em grau máximo, enquanto durar a gestação;
II – atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, quando apresentar
atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o
afastamento durante a gestação;
III – atividades consideradas insalubres em qualquer grau, quando apresentar atestado
de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento
durante a lactação.
§ 1º ................................................
§ 2º Cabe à empresa pagar o adicional de insalubridade à gestante ou à lactante,
efetivando-se a compensação, observando o disposto no art. 248 da Constituição
Federal, por ocasião do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de
salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço.
§ 3º Quando não for possível que a gestante ou a lactante afastada nos termos do
caput deste artigo exerça suas atividades em local salubre na empresa, a hipótese será
considerada como gravidez de risco e ensejará a percepção de salário-maternidade,
nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, durante todo o período de
afastamento.”
Com essa disposição a mulher gestante e a lactante poderão laborar em ambiente
insalubre e ao longo do tempo, o trabalho insalubre provoca danos à saúde do empregado,
desse modo, o trabalho da empregada gestante e lactante em ambiente insalubre não prejudica
apenas a trabalhadora, prejudica também o ser humano que está em desenvolvimento e da
criança que está sendo amamentada.
“Se o propósito era proteger a saúde das trabalhadoras e do nascituro, o que se deveria
fazer era criar norma objetivando a eliminação da submissão a atividades insalubres.
No entanto, bem ao contrário, o que a reforma fez foi propor a possibilidade de
exposição da gestante e do seu filho à situação de dano efetivo à saúde”.
Ocorre que, diante do cenário jurídico-político que o Brasil vem enfrentando nos
últimos tempos, os princípios e garantias trabalhistas têm sido fragilizados por escolhas
legislativas que tendem a considerar outros fatores que não a tutela do obreiro. Desta forma,
novas normas jurídicas têm sido introduzidas no Ordenamento Jurídico e que fragilizam os
princípios e a própria Constituição, em especial a vedação ao retrocesso social, que tem sido
constantemente ignorado pelo legislador. Uma das mais flagrantes violações aos princípios e à
aos direitos fundamentais, foi a nova redação dada ao artigo 394-A, que possibilita o labor da
gestante e da lactante em ambientes insalubres, demonstrando o despreparo do legislador no
tocante às normas de saúde e segurança do trabalho da mulher.
As Normas Regulamentadoras são importantes para tentarmos garantir um ambiente
de trabalho seguro e saudável. Mesmo assim, temos um número de acidentes de trabalho
muito grande no país. As NRs são imprescindíveis para os trabalhadores em geral, os
empresários, o setor produtivo e a sociedade, principalmente para a trabalhadora mulher
gestante e lactante.
Conforme artigo 200 da CLT, o Ministério Público que tem a delegação para a edição
de disposições complementares diante das peculiaridades de cada atividade ou setor de
trabalho.
O fundamento de validade das NRs é a Constituição de 1988 (CF/88), cujo texto,
expressamente, reconhece, como direito fundamental dos trabalhadores, a redução dos riscos
inerentes ao trabalho por normas sobre saúde e segurança art. 7º, XXII, CF/1988, e em seu art.
225, a Constituição mencionou sobre o meio ambiente. Outros dispositivos constitucionais
também amparam a edição das NRs. O primeiro deles é o que assegura, como fundamento do
país, a dignidade humana (art. 1º, III). Esta previsão deve ser articulada com reciprocidade e
dialeticamente com o art. 6º da CF/88, cujo texto garante, como direito social, o direito ao
trabalho. O exercício do trabalho, para cumprir o mandamento constitucional, cabe ser digno
e, para tanto, deve ser protegido e seguro. A CF/88, ainda nesta linha, assegura, como direitos
fundamentais, à segurança (art. 5º,caput) e à saúde (art. 6º). As NRs, no meio ambiente de
trabalho, visam exatamente estes propósitos: tutelar a vida e a saúde dos trabalhadores.
Votaram pela procedência da ação invalidando o art. 394-a da CLT, que permitia o
trabalho insalubre das gestantes e lactantes, os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso,
Luiz Fux, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e o
presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.
O único a divergir, foi o ministro Marco Aurélio que votou pela improcedência da
ação ao argumento de que os preceitos que regulam o trabalho masculino são aplicáveis ao
trabalho feminino. “Toda proteção alargada ao gênero feminino acaba prejudicando o
gênero”, disse o Ministro. Para ele, é razoável a exigência de um pronunciamento técnico de
profissional da medicina sobre a conveniência do afastamento da trabalhadora.
A Ministra Rosa Weber, em seu voto, apresentou apanhado histórico legislativo dos
direitos trabalhistas das mulheres no Brasil e no mundo. Segundo a ministra, contam-se 96
anos desde a primeira norma de proteção ao trabalho da gestante no país. Isso revela, a seu
ver, quase um século de “afirmação histórica do compromisso da nação com a salvaguarda
das futuras gerações”. A Constituição de 1988, por sua vez, priorizou a higidez física e mental
do trabalhador ao exigir, no inciso XXII do artigo 7º, a redução dos riscos inerentes ao
trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança. A ministra afirmou ainda que a
maternidade representa para a trabalhadora um período de maior vulnerabilidade devido às
contingências próprias de conciliação dos projetos de vida pessoal, familiar e laboral. Dessa
forma, os direitos fundamentais do trabalhador elencados no artigo 7º “impõem limites à
liberdade de organização e administração do empregador de forma a concretizar, para a
empregada mãe, merecida segurança do exercício do direito ao equilíbrio entre trabalho e
família”. A alteração promovida pela Reforma Trabalhista, concluiu a ministra, implicou
“inegável retrocesso social”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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