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A DIACONIA DE TODOS

“Quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos” (Mc 10,44).

Caros leitores e leitoras,

no dia 10 de agosto a Igreja comemora o padroeiro dos diáconos, São


Lourenço. São Lourenço, era espanhol e viveu no século III, em Roma e foi um dos
primeiros diáconos da Igreja. Diante da perseguição do Imperador Valeriano, o
prefeito local exigiu de Lourenço que apresentasse os tesouros da Igreja. Para isso, o
diácono pediu um prazo, que lhe foi concedido. Ele reuniu no átrio órfãos, cegos,
coxos, viúvas, idosos, etc, todos os que a Igreja socorria, e disse: “Eis aqui os nossos
tesouros, que nunca diminuem, e podem ser encontrados em toda parte”. Perante a
atitude do diácono, o prefeito sujeitou o santo a vários tormentos, até ser colocado em
um braseiro ardente, sendo martirizado em 258.

Diácono, cuja instituição está em Atos dos Apóstolos 6,2-6, é o título dado ao
terceiro grau do Sacramento da Ordem. Na igreja, o clero é formado por três graus de
sacramento da ordem sacerdotal: os bispos, presbíteros (ou sacerdotes) e diáconos. Os
diáconos podem ser transitórios ou permanentes. O diácono transitório é quem recebe
o grau diaconal apenas como uma etapa para depois receber o Sacramento da Ordem
no grau de presbiteral, ou seja, para tornar-se padre. Já o diácono permanente é quem
já é casado, não podendo progredir para o grau de presbítero, pois há a proibição do
matrimônio para os padres. Assim sendo, os diáconos permanentes permanecem
sempre como diáconos.

A palavra diácono surgiu a partir do grego diakonos, que significa “atendente”


ou “servente”. De acordo com a doutrina, o diácono católico é o servo de Deus que
tem como munús essencial a Palavra e o cuidado com os necessitados de acordo com
as necessidades da igreja.

Contudo, apesar do diaconado ser um dom específico na Igreja, exercer a


diaconia, como serviço, é um dever de todos os batizados. A Igreja recebe sua
identidade de Jesus Cristo. Por isso, se ele veio para servir, a missão da Igreja não pode
ser outra. Está comissionada a unir ao seu testemunho o serviço, seguindo o exemplo
de seu mestre. Para todo cristão, portanto, é válido o principio de Jesus, dizendo:
“Quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos” (Mc 10,44).

Em sua trilogia Jesus de Nazaré, o Papa Bento XVI, ali como teólogo Joseph
Ratzinger, escreve um belíssimo comentário do lava-pés, traçando um paralelo entre a
cena, o hino cristológico de Fl 2,5-11, o chamado hino da Kenósis (rebaixamento,
aniquilamento) e Apocalipse 7,14: “Estes são os que vieram da grande tribulação e
lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”. De modo que o Papa
conclui o seu pensamento dizendo que a grande diaconia de Cristo foi a realização do
seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição): “Quando no Apocalipse, aparece a
formulação paradoxal segundo a qual os redimidos ‘lavaram as suas túnicas e as
branquearam no sangue do Cordeiro’, isso quer dizer é o amor de Jesus até o fim que
nos purifica, que nos lava. O gesto do lava pés exprime isto mesmo, é o amor serviçal
de Jesus que nos tira fora da nossa soberba e nos torna capazes de Deus, nos torna
puros” (Jesus de Nazaré -Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição, p. 62).

A diaconia bíblica, desse modo, se distingue de qualquer ação pública ou


humanitária porque ela inclui a partilha da fé e o convite para uma vida nova, a vida
plena que só Cristo pode oferecer – vida que abrange a reconciliação com Deus, com o
próximo, consigo mesmo e com a criação. A diaconia é uma atitude, é o estilo de vida
exigido para os discípulos de Jesus. Ser um seguidor de Jesus é seguir o seu exemplo,
fazer o que ele fez, ir onde ele foi e cuidar daquilo que ele cuidou. Isso vai muito além
de uma atividade ou um projeto.

A diaconia, portanto, é centrada em Cristo: na sua vida, exemplo, morte e


ressurreição. Em Cristo, Deus mostra o Seu grande amor pela humanidade e por toda a
criação, tornando-se um de nós, esvaziando-se e assumindo a forma de servo (cf. Fp
2,6-8). A diaconia tem em Jesus o seu modelo e exemplo. Ele cuidou das pessoas,
curou os enfermos, cuidou dos pobres, tocou nos impuros, libertou os oprimidos,
abraçou os marginalizados e confrontou a injustiça. Após a sua ressurreição, ele
apareceu aos discípulos e disse-lhes: “Assim como o Pai me enviou, também eu os
envio” (Jo 20,21). Assim, o exemplo que devemos tomar para o nosso estilo de vida
deve ser igual ao de Jesus Cristo: vivermos uma vida de serviço. A conversão implica
não vivermos mais para nós mesmos, nem para satisfazermos as nossas próprias
necessidades, mas vivermos para aquele que por nós morreu e ressuscitou.

Deixo aqui o meu agradecimento a todos os diáconos de nossa diocese, por


tudo aquilo que realizam na Igreja com abnegação, de modo especial pelo cuidado aos
pobres. E que todos nós, clerigos ou leigos, levemos com palavras e atos os gestos
salvíficos da diaconia do próprio Cristo em favor da humanidade.

A todos abençoo.

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