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MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA

8 MOTIVOS
PARA O ADVOGADO
MERGULHAR NO
COMPLIANCE
Prefácio
Marcelo Zenkner

Posfácio
Susana Aires de Sousa
8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO
MERGULHAR NO COMPLIANCE
Marco Aurélio Borges de Paula

Prefácio
Marcelo Zenkner

Posfácio
Susana Aires de Sousa

8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO


MERGULHAR NO COMPLIANCE

Belo Horizonte

2019
© 2019 Editora Fórum Ltda.

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P324o Paula, Marco Aurélio Borges de
8 motivos para o advogado mergulhar no compliance / Marco Aurélio Borges
de Paula. – Belo Horizonte : Fórum, 2019.
1100 KB; E-book

ISBN: 978-85-450-0695-4

1. Direito. 2. Direito Administrativo. 3. Direito Empresarial. 4. Direito Econômico.


I. Título.

CDD: 340
CDU: 340.1
Elaborado por Daniela Lopes Duarte – CRB-6/3500
Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2018 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT):

PAULA, Marco Aurélio Borges de. 8 motivos para o advogado mergulhar no compliance. Belo
Horizonte: Fórum, 2019. 1100 KB. E-book. ISBN 978-85-450-0695-4.
SUMÁRIO

PREFÁCIO
Marcelo Zenkner................................................................................................ 7

INTRODUÇÃO...................................................................................... 9

MOTIVO 1: INVISTA NO SEU SONHO............................................ 11

MOTIVO 2: VIAJANDO COM O COMPLIANCE............................. 19

MOTIVO 3: OS PRÓXIMOS ANOS SERÃO DO COMPLIANCE!.. 27

MOTIVO 4: CARREIRA SEMPRE QUENTE!.................................... 33

MOTIVO 5: ÁREA COM MUITAS OPÇÕES!.................................... 35

MOTIVO 6: P
 ARA SOBREVIVER NA MULTIDÃO DE
ADVOGADOS.................................................................. 43

MOTIVO 7: PARA NÃO PERDER O SEU EMPREGO PARA UM


ROBÔ................................................................................. 51

MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ........................... 59

INTIMAÇÃO, DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTO................... 85

POSFÁCIO
Susana Aires de Sousa...................................................................................... 89

REFERÊNCIAS....................................................................................... 91

SOBRE O AUTOR.................................................................................. 101


PREFÁCIO

O amigo Marco Aurélio Borges de Paula honrosamente convi-


dou-me para prefaciar o e-book 8 motivos para o advogado mergulhar
no compliance, resultado do interesse, do estudo, da percepção e da
sensibilidade do autor em torno de um dos mais instigantes temas da
atualidade.
Conheci Marco Aurélio há alguns anos, quando ele se dispôs a
realizar uma visita técnica para conhecer o trabalho desenvolvido pela
Secretaria de Controle e Transparência do Espírito Santo (SECONT) na
implementação da Lei nº 12.846/2013, a denominada “Lei Anticorrupção
Empresarial”, onde, com muita honra, exerci o cargo de Secretário de
Estado nos anos de 2015 e 2016. Por ocasião desse encontro descobri
que ele, assim como eu, havia vivido em Portugal para estudar o tema
de nosso comum interesse: a prevenção à corrupção e os sistemas
de compliance e de integridade. Essa feliz coincidência de desígnios
intelectuais me aproximou do autor para, na sequência, estabelecer com
ele um forte elo de respeito, amizade e admiração, dada sua inteligência
e perspicácia.
Após examinar o e-book muito bem desenvolvido pelo autor,
fiquei com a sensação de que a obra deveria representar uma leitura
prévia e obrigatória para todo e qualquer profissional que tenha sua
atenção despertada para o compliance e resolva se aprofundar no assunto.
Reportando-se sempre a dados estatísticos bastante atualizados, o autor
dividiu o trabalho em oito tópicos muito bem delineados e concatenados
para oferecer aos interessados um overview da carreira como um todo.
Marco Aurélio foi capaz, neste e-book, de sistematizar muito bem
aquilo que venho dizendo há alguns anos aos meus alunos que estão
se formando na graduação da Faculdade de Direito de Vitória (FDV):
o compliance é apaixonante não apenas porque valoriza o profissional
que trabalha com ética e integridade, mas também porque oferece um
mercado absolutamente aberto e em franca expansão para os jovens da
Geração Y, os quais trazem consigo, sobretudo, uma imensa preocupação
com o futuro do nosso planeta.
Combater e, sobretudo, prevenir a corrupção representa um
enorme desafio profissional para qualquer um, mas, a partir do momento
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que se estabelece a perfeita indicação de que os índices de percepção


da corrupção de um país estão diretamente relacionados com melhores
(ou piores) índices de desenvolvimento humano, fica fácil concluir que
não se está diante de um simples e corriqueiro trabalho, mas de uma
missão de vida capaz de gerar transformação social.
Mário Sérgio Cortella costuma dizer que “emprego é fonte de
renda, mas trabalho é fonte de vida”. Passamos a maior parte do tempo
de nossas vidas trabalhando e, por isso, temos de sempre buscar uma
profissão que faça sentido para nossas vidas. Se estivermos presos a um
emprego que seja fonte diária de dissabor ou intrigas, nos tornaremos
pessoas profundamente amarguradas e infelizes.
Os melhores profissionais de compliance são pessoas que valorizam
a felicidade, tanto a própria como a do próximo, e, ao mesmo tempo,
mostram-se verdadeiramente inconformadas com o status quo – não,
nosso país não está eternamente condenado a viver sob o manto da
corrupção! Vem aí uma geração de profissionais muito bem preparada
que se indigna, que se incomoda, que põe em xeque os padrões, que
sente a dor daquilo que fere e que, diante de tudo isso, é capaz de criar
novas possibilidades. Como disse George Bernard Shaw, “o mundo
é dividido entre os sensatos e os insensatos. Os sensatos adaptam-se
ao mundo, os insensatos insistem em adaptar o mundo a si mesmos”.
Por tudo isso, talvez a insensatez seja a maior virtude do profis-
sional de compliance, que, assim como qualquer outro, enfrentará enorme
obstáculos e dificuldades ao longo da sua trajetória. Terá ao seu lado,
entretanto, um poder monumental que o protegerá durante sua jornada
e o conduzirá pelo melhor caminho sempre que se deparar com uma
encruzilhada: o poder da integridade!
Parabéns, Marco Aurélio! Boa leitura a todos!

Julho, 2019.

Marcelo Zenkner
Doutor em Direito Público pela Universidade Nova de
Lisboa. Advogado. Ex-Promotor de Justiça e ex-Secretário
de Estado de Controle e Transparência do Espírito Santo.
Consultor da Presidência e Membro do Comitê de Medidas
Disciplinares da Petrobras.
INTRODUÇÃO

Parabéns pela decisão de fazer o download deste livro, que foi


feito com muita dedicação e cuidado.
O que você está prestes a conhecer é o grande oceano azul do
compliance, um sistema que objetiva a integração da ética e o cumpri-
mento do direito nas organizações privadas, nos poderes públicos e
nas organizações da sociedade civil, agregando valor não somente às
instituições, como também – ou sobretudo – às pessoas que o executam,
ou seja, a você, futuro advogado de compliance.
Muito diferente do oceano vermelho manchado pelo sangue das
frequentes disputas entre milhares de concorrentes, o oceano azul do
compliance pode ser anunciado como um rico cenário de oportunidades
para um advogado protagonista realizar os seus objetivos profissionais
e os seus propósitos maiores. Não é à toa que o número de pessoas
interessadas por essa área tem aumentado enormemente nos últimos
anos.
De agora em diante, para você conseguir mergulhar e nadar
livremente nesse imenso mar azul, muitas outras decisões terão de
ser tomadas.
O primeiro passo já foi dado, e você só tem a ganhar com os
próximos.
Boa leitura!
MOTIVO 1: INVISTA NO SEU SONHO

Talvez, neste momento, você esteja cheio de sonhos, projetando


um futuro profissional de sucesso, uma carreira com um propósito
maior, que lhe traga felicidade e prosperidade financeira.
Imagine, então, você ter a possibilidade de trabalhar em uma
organização cujo faturamento supere a riqueza de um país inteiro, em
uma empresa com condições de causar impacto positivo não somente
nos seus sócios e acionistas (shareholders), como também nos seus
funcionários e na comunidade local onde opera (stakeholders), em uma
empresa sensível aos vetores econômico, legal, ético, social e ambiental.
Pois bem. Se você está iniciando a sua vida profissional ou deseja
melhorá-la, saiba que essa pegada de negócios conscientes veio mesmo para
ficar. Mais do que nunca, as maiores e melhores empresas multinacionais
estão investindo em governança corporativa, em responsabilidade
social, assim como em ética empresarial e compliance – afinal, essa nova
mentalidade (mindset) dá lucro.1
Eis, aqui, uma das razões pelas quais as projeções de crescimento
das carreiras de compliance são tão positivas. Para se ter uma ideia,
nos EUA, a perspectiva é que sejam adicionadas 23.700 novas vagas de
compliance até 2026.2

1

É importante ter presente que “[u]ma empresa consciente procura satisfazer as necessidades
de seus stakeholders como um fim em si mesmo, e não como um meio para se fazer o máximo
de dinheiro” (DI MICELI, 2018, p. 224).
2
Bureau of Labor Statistics. Disponível em: https://money.usnews.com/careers/best-
jobs/compliance-officer?utm_source=CS290212&utm_medium=newsletter&utm_
campaign=compliance&utm_source=Corporate+Secretary&utm_campaign=66e38c4be9-
CS290212&utm_medium=email.
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A ÉTICA CONTA!
» Em março de 2019, o Instituto Ethisphere elegeu as empresas mais
éticas do mundo com base em cinco critérios – (1) ética e programa
de compliance, (2) cidadania e responsabilidade corporativa,
(3) cultura ética, (4) governança e (5) liderança e reputação – e
demonstrou que essa consciência é a base para a lucratividade
das mesmas.3 4
» Um estudo da consultora americana McKinsey & Company (2018)
mostrou que as empresas que se preocupam com a equidade
de gênero são 21% mais lucrativas do que as demais. Quando a
questão envolve a diversidade étnica, esse número sobe para 33%.5
» Há pesquisas – como a do World Resources Institute e do Goldman
Sachs, entre outras – que confirmam que a violação dos direitos
humanos por empresas e a consequente escalada de conflitos com
comunidades locais trazem prejuízos financeiros àquelas. Por
exemplo: como resultado do conflito, um grande projeto mundial
de mineração, com despesas de capital inicial entre US$3 e US$5
bilhões, sofreu perdas de cerca de US$20 milhões por semana por
atrasos na produção, em termos de valor líquido.6
» Caso Levi’s: o maior fabricante mundial de jeans passava por
um momento muito difícil antes de Robert Haas assumir o seu
comando, em 1984. Além de fechar o capital da empresa e de
tomar outras importantes decisões estratégicas, Haas reorganizou
a empresa através de uma cultura corporativa baseada na ética.
Resultado: desde que ele assumiu a direção da empresa, o fatura-
mento da mesma triplicou. Em poucos anos, o lucro passou a ser
18 vezes maior do que o de 1984. O valor de mercado da empresa
foi multiplicado por 14.7

Muito provavelmente, você também faça parte dessa nova geração


questionadora, que demonstra viver uma crescente consciência ética,
pondo em prática o seu altruísmo, o seu interesse pela qualidade de
vida de outros seres humanos, até mesmo das próximas gerações. Se

3
2019 World’s Most Ethical Companies. Disponível em: https://www.worldsmostethicalcompanies.
com/honorees/.
4
Para uma análise dessa premiação do Ethisphere, ver KELLY, 2019 (1).
5
Disponível em: https://www.mckinsey.com/business-functions/organization/our-insights/
delivering-through-diversity/pt-br
6
RUGGIE, 2014, p. 196-198; FRANKS; DAVIS et al., 2014.
7
NETZ, 1997.
MOTIVO 1: INVISTA NO SEU SONHO 13

o que você mais deseja é protagonizar a construção de uma sociedade


mais justa e decente – com menos humilhações dos seus membros,
como propõe Avishai Margalit –, saiba que “a nossa geração talvez
seja a última capaz de provocar as mudanças que desejamos”.8 Saiba,
também, que as empresas têm um papel importantíssimo nesse processo
de transformação, pois muitas delas têm mais poder que muitos Estados
para a realização de direitos.

Das 100 maiores entidades econômicas mundiais, 69 são empresas


e apenas 31 são países.9

Saiba, finalmente, que o seu perfil questionador e as suas habili-


dades humanizadas, sociais e comportamentais (soft & social skills)
serão cada vez mais valorizados. Veja o que disse Ricardo Voltolini,
reconhecido consultor da área da ética e da sustentabilidade empresarial:
hoje, os valores pessoais das jovens lideranças “são muito bem-vindos
nas organizações. Mais do que isso, são fundamentais nesses tempos
de compliance comendo solto”.10 Não é por outro motivo que novas
carreiras surgiram – como a de Chief Inclusion Officer ou do Chief Diversity
Officer – e que as melhores escolas de negócios – Harvard, Wharton,
Sloan, Yale, Evian/IMD, entre outras – estão promovendo grandes
transformações no conteúdo dos seus cursos, privilegiando o ser e o agir
ao lado do saber.11 É sintomático que o atual reitor da Harvard Business
School, Nitin Nohria, seja um especialista em liderança e ética.
É possível, portanto, que você esteja buscando uma profissão que
lhe traga satisfação pessoal no fim do dia de trabalho, de tal modo que
esse fator intangível do salário seja tão valorizado quanto o seu aspecto
pecuniário. Não é para menos. Afinal, todos nós gostamos de trabalhar
em uma empresa com valores com os quais nos identificamos, onde haja
convergência de propósitos, onde haja respeito à diversidade, trabalho
colaborativo, reconhecimento e feedback entre líderes e liderados.12 As

8
Frase dita por Jean P. Bernardini em sua palestra no Fórum Pacto Global. Setor Privado Rumo
aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, MASP, 9 de novembro de 2016.
9
Dados divulgados, em 2016, pela ONG Global Justice Now. Disponível em: https://www.
globaljustice.org.uk//sites/default/files/files/resources/corporations_vs_governments_final.
pdf.
10
VOLTOLINI, 2018 (1).
11
Sobre a necessidade de um novo projeto pedagógico para a formação de novos líderes, vale
conferir VOLTOLINI, 2018 (2).
12
A melhor maneira de ajudar os humanos a aprimorar seu desempenho é fornecendo
feedback (THALER; SUNSTEIN, 2009, p. 97). Sobre esse tema aplicado à gestão das pessoas
do departamento de compliance, ver GIOVANINI, 2014, p. 418-424.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
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organizações que colocam isso em prática – através de programas de


reconhecimento de atitudes associadas aos seus valores – produzem
resultados relevantíssimos, pelo grau de motivação e engajamento
que despertam em seus colaboradores, pela atração de novos talentos,
como você que me lê.13 14

“Empresas bem-sucedidas precisam de sociedades saudáveis. (...)


Qualquer empresa que procure realizar seus objetivos a expensas
da sociedade em que opera desfrutará de sucesso ilusório e
temporário” (Michael E. Porter).

Imagine, então, você ter a possibilidade de trabalhar em uma


empresa multinacional comprometida não somente com a não violação
(negative compliance), como também com a promoção dos direitos
humanos (positive compliance), em uma empresa cujo planejamento
estratégico incorpore, de modo indivisível, os mais diversos temas
econômicos, sociais e ambientais, como, entre outros, (1) o bem-estar
das pessoas com as quais a organização se relaciona diretamente (seus
funcionários e clientes, por exemplo), (2) o desenvolvimento econômico
e social da comunidade onde ela atua, (3) a redução de emissões dos
gases de efeito estufa e (4) a proibição de práticas de corrupção nacional
e internacional.
Fazer parte de uma organização com uma identidade ética
reconhecida pelos seus clientes, parceiros, fornecedores, cidadãos em
geral, bem como pelas autoridades públicas, será, sem dúvida, motivo
de enorme orgulho pessoal! Com certeza, você desejará responder uma
pergunta como esta: “Para qual empresa você trabalha?”.15

13
Como bem ressalta Filipe Barreiros (2015, p. 142-143), “há que ter em consideração que o
sucesso da empresa depende das pessoas que a compõe... quanto maior for o reconhecimento
do profissionalismo e mérito dos seus trabalhadores, maior será a ética profissional que
terão, maior será o orgulho e identificação com a organização e maior será a ética empresarial
reconhecida por todos”.
14
Assim como os clientes são atraídos por um serviço acima da média, pessoas fantásticas
são atraídas por uma grande cultura (Bobby Herrera citado por GALLO, 2017, p. 44). “Um
propósito forte e verdadeiro atrai talentos” (BENVENUTTI, 27).
15
O conhecimento da identidade ética da empresa impede, inclusive, a atuação de agentes
públicos corruptos, ou seja, no relacionamento dessa empresa com o poder público, a
resposta àquela pergunta será um fator inibidor da atuação corrupta de agentes públicos
acostumados a exigir propina de empresas sem essa identidade. Além disso, a identidade
ética de uma empresa facilita o processo de obtenção e manutenção da “licença social para
operar”, isto é, estimula a aceitação das operações da empresa por parte da comunidade
local.
MOTIVO 1: INVISTA NO SEU SONHO 15

Acredite nisto: dizer que você integra o departamento de compliance


de uma empresa urdida de valores éticos levará a sua autoestima à
estratosfera! Não serão poucas as pessoas que lhe pedirão explicações
sobre o que você faz nessa área. Você poderá comentar que a sua
função consiste na integração desses valores na vida da organização;
poderá explicar que, apesar de a sua empresa ter os vetores da ética
e da sustentabilidade presentes desde o nascimento da mesma, a sua
função é extremamente importante, na medida em que oferece as
respostas relativas à metodologia, às técnicas e aos mecanismos para a
ocorrência de tal integração.16 17 Porém, em termos de satisfação pessoal,
nada poderá ser comparado ao seguinte comentário: “Eu ajudo a proteger
pessoas, eu evito o seu desespero, o sofrimento dos seus familiares ou de toda
uma comunidade!”.
Como dizem Joseph Murphy e Joshua Leet, “os profissionais de
compliance e ética ajudam outras pessoas a evitarem erros que podem
arruinar suas carreiras”.18 Pense, por exemplo, em um trabalhador
que acabou de ser contratado e que, no seu último emprego, foi
perversamente pressionado a alcançar metas de venda fora do comum, a
fechar negócios a qualquer custo. É provável que, em razão do ambiente
organizacional da empresa em que trabalhava, esse profissional tenha
desenvolvido uma “visão de túnel”, uma visão limitada aos objetivos
monetários, não enxergando o aspecto ético em suas decisões (ethical
blindness), apesar de possuir bons valores pessoais. Nunca duvide
disto: “Um sistema ruim vai derrotar uma pessoa boa o tempo todo”
(William Deming).19 20

Uma pesquisa realizada pela Ernst & Young Terco com 1.700 execu-
tivos de 43 países identificou que, pressionados por resultados,

16
LAMBOY; RISEGATO; COIMBRA, 2017, p. 19.
17
Esse é o caso da empresa Natura, um símbolo de responsabilidade socioambiental no Brasil
e que, há anos, figura no ranking das empresas mais éticas do mundo (ver nota nº 3). Como
já disse a criadora do programa de compliance da empresa, Roberta Salvador dos Santos,
“os valores do compliance já faziam parte do dia a dia da companhia. O que precisávamos
era unificar os processos, fazer os treinamentos necessários e adotar um código de conduta
único para todos” (em entrevista para a Revista da ESPM, maio/junho de 2016).
18
MURPHY; LEET, 2007, p. 19. Tradução livre.
19
Disponível em: http://quotes.deming.org/authors/W._Edwards_Deming/quote/10091
20
Neste caso, “a estrutura de poder dentro da empresa” ou o “espírito criminal de grupo”
podem fazer com que um diretor deixe de lado seus escrúpulos morais para praticar um
delito. Sobre este assunto, cfr. NIETO MARTÍN, 2018, p. 63-68; e DI MICELI, 2018. Vale
conferir a nota nº 171.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
16 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

15% deles estão dispostos a pagar propinas para ganhar ou manter


negócios.21
Em 2018, 18% de diretores-presidentes das 2.500 maiores empresas
globais de capital aberto foram demitidos por falta de ética. Um
recorde.22

Como advogado de compliance, você demonstrará a esse diretor


que, em sua nova “casa”, não se fazem negócios conforme a “prática
(antiética e/ou ilegal) tradicional” (business as usual). Efetivamente, você o
ajudará através de (1) atividades de educação e treinamentos interativos
e personalizados que evidenciem a relevância do respeito à ética e à
legalidade dentro da hierarquia de valores da empresa, o que pode ser
feito através de exemplos de erros cometidos por outras pessoas; e (2)
de uma política de comunicação diversificada e ininterrupta, de modo
que ele fique embebido dos valores centrais da empresa e do seu código
de conduta, evitando, assim, que caia em armadilhas destruidoras da
sua carreira.
Enquanto advogado de compliance, você impedirá que inúmeros
indivíduos sejam prejudicados pela falta de conduta ética das empresas
onde trabalham ou trabalhavam. Basta lembrar do impacto negativo
que milhares de pessoas sofreram com a falência da Enron, em 2001,
em razão da falta de governança e compliance. Quatro mil pessoas foram
demitidas e, se não bastasse a angústia pela perda do emprego, ainda
passaram pelo sofrimento da destruição do fundo de pensão.23 O que
dizer, então, do desespero dos aposentados que perderam as suas
economias com a ruína da empresa? O motivo para tanto sofrimento
foi o episódio de uma corrupção corporativa traduzida em um enorme
esquema de fraude contábil que, hoje, poderia ser evitado “facilmente”
por controles internos e pelo devido tratamento de uma informação
relevante reportada por um executivo ou colaborador através do canal
de denúncias (whistleblowing), entre outros elementos de um sistema de
compliance efetivo.24

21
Disponível em: https://www.valor.com.br/politica/2680514/no-mundo-15-dos-executivos-
estao-dispostos-pagar-propina-diz-estudo.
22
Disponível em: https://www.strategyand.pwc.com/ceosuccess.
23
60% da carteira do fundo de pensão dos funcionários da Enron – incluindo os aposentados –
era constituída por ações da empresa, cuja cotação despencou dos cerca de 80 dólares para
míseros centavos de dólar ao longo de 2001, até o momento da decretação da sua falência,
em dezembro daquele ano.
24
Ressaltando “os reflexos deste caso extremamente traumático sobre a área de compliance
como a conhecemos hoje”, Alessandra Gonsales adverte que “o primeiro impulso para
MOTIVO 1: INVISTA NO SEU SONHO 17

Pense, ainda, na dor que uma comunidade local poderá sofrer


se uma empresa extrativista não avaliar – quando da realização do seu
planejamento estratégico – o impacto que a instalação de uma usina
causará aos direitos humanos dessa população, como, por exemplo,
a migração de moradores provocada pela falta de oportunidade de
trabalho em razão da exigência de habilidades que os mesmos não
possuem, dado o seu abandono pelo Estado.25 Daí a necessidade da
participação do advogado de compliance no momento da discussão da
estratégia da empresa para que sejam adotadas medidas antecipadoras
e preventivas da violação de tais direitos.26

“Eu, Roberta, fui para a Amazônia ver de perto as comunidades.


As crianças estão estudando. Se não há escolas por perto, nós
providenciamos professor, serviços de saúde” (Roberta Salvador
dos Santos, ex-diretora jurídica e de compliance da Natura).27

A verdade é que o advogado de compliance pode, mesmo, prevenir


a ocorrência de tragédias humanas, sociais e ambientais de diferentes
proporções; pode evitar o rompimento da barragem de uma represa e,
consequentemente, a liberação de milhões de metros cúbicos de rejeitos
de mineração no meio ambiente, a inundação de várias comunidades
locais e a morte de dezenas de pessoas; pode impedir que um clube de
futebol aloje adolescentes em lugares sem dispositivos contra incêndio,
prevenindo que eles morram queimados; pode impossibilitar que uma
indústria produtora de tabaco adultere, com diversas substâncias,
algumas delas cancerígenas, o conteúdo dos cigarros para agravar o
vício dos fumantes; pode tornar possível que uma criança veja o seu

o boom de compliance que o mundo vem vivendo nos últimos anos decorr[e] não de um
grande esquema de suborno para servidores públicos ao redor do mundo, mas sim de uma
gigantesca fraude contábil, reflexo de inúmeros problemas de governança e gestão. Alguns
facilmente evitáveis nos dias de hoje” (GONSALES, 2016, p. 2).
25
Como diz MAZZUOLI (2018, p. 535), “[o] impacto das atividades dessas empresas –
decorrente especialmente do mal planejamento, da má gestão e da ineficiência da supervisão
e fiscalização do Estado – se faz sentir com maior ênfase em populações locais ou próximas,
especialmente nos ribeirinhos, povos indígenas e comunidades tradicionais”.
26
Vale destacar, nesse passo, o impacto positivo que as empresas proativas podem gerar
para os membros dessas comunidades, por meio de projetos que promovam e facilitem a
implementação de direitos humanos (positive compliance), como, por exemplo, os investimentos
em educação e capacitação para que as famílias dessas comunidades não sejam forçadas
a migrarem para as cidades em busca de emprego. Não posso deixar de fazer referência,
aqui, às iniciativas da Natura para a “valorização da sociobiodiversidade”, através do
“Programa Amazônia” (cfr. o seu Relatório Anual Natura 2017, p. 43 e segs.).
27
SANTOS, 2016, p. 82.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
18 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

pai à noite em vez de saber que ele se suicidou em razão das precárias
condições e das práticas abusivas no local de trabalho; pode impedir
que um prédio desmorone, matando dezenas de pessoas, em virtude
do pagamento de propina para o funcionário público permitir o uso de
concreto de baixa qualidade na sua construção; pode inviabilizar um
projeto terrorista que seria financiado através da lavagem de dinheiro
descoberta e comunicada às autoridades regulatórias; pode evitar que
uma empresa contrate fornecedores que usem trabalho infantil; pode
fazer com que uma família inteira não perca a sua vida em um acidente
de carro causado por peças defeituosas; pode impedir que a maior
empresa estatal de um país caia em ruínas por corrupção.28
Se o seu sonho é fazer a diferença na vida das pessoas, fazer algo
socialmente maravilhoso, se o que você mais deseja é uma profissão
capaz de transformar o planeta em um lugar melhor e sustentável, saiba
que vários empregos ligados ao compliance são capazes de satisfazer
esse sonho.
Como diz Joseph Murphy, “homens e mulheres que trabalham
na profissão de compliance e ética são heróis”.29 Não é à toa que muitos
especialistas defendem que essa pegada de negócios responsáveis “é
uma esperança fenomenal para o gênero humano do século XXI”.30

“Todos sabemos (...) que as mudanças necessárias não acontecem


só porque nós acreditamos que é possível um mundo melhor.
Essas mudanças hão-de verificar-se como resultado das leis de
movimento das sociedades humanas, e todos sabemos também
que o voluntarismo e as boas intenções nunca foram o motor da
história. Mas a consciência disto mesmo não tem que matar o nosso
direito à utopia e o nosso direito ao sonho. Porque a utopia ajuda a
fazer o caminho. Porque sonhar é preciso, porque o sonho comanda
a vida” (António José Avelãs Nunes).
“Aqueles loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo
são os que verdadeiramente o fazem” (Steve Jobs).

28
Sobre os estragos sociais e econômicos causados pela corrupção, ver PAULA, 2018 e GOTO,
2018.
29
Tradução livre de MURPHY, 2016.
30
KLIKSBERG, 2010.
MOTIVO 2: VIAJANDO COM O COMPLIANCE

E se eu lhe disser que, além de lhe proporcionar uma profissão


com um propósito maior, o compliance ainda pode lhe abrir as portas
para o mundo?
Caso você almeje ter vivência profissional em vários países, saiba
que isso é bem possível de se tornar realidade ao assumir uma carreira
de advogado de compliance. Aliás, isso é muito comum em um ambiente
de globalização corporativa, financeira e jurídica (global law). Por isso,
dou-lhe aqui uma dica: logo após a sua incorporação ao departamento
de compliance de uma empresa multinacional ou de um banco global,
comece a preparar a sua bagagem para viagens internacionais, seja para
dar treinamentos, seja para realizar investigações internas ou outra
função relevante de um sistema de compliance, principalmente para
realizar benchmark em diversas jurisdições diferentes. Isso ocorreu, por
exemplo, com André Castro Carvalho, que, como advogado de compliance
de um banco global, realizou inúmeros trabalhos nos seguintes locais:
Brasil, México, ilhas Bermudas, Indonésia, Malásia, Egito, Cingapura,
Bangladesh, Índia, Argentina e Hong Kong.31 Isso sem contar as viagens
nacionais para várias cidades do Brasil que o trabalho de compliance
também propicia.
Nesse cenário globalizado, também é possível que apareçam várias
oportunidades de emprego em outros países; afinal, o surgimento de
novas legislações – anticorrupção e não só – tem repercutido na vida de
algumas empresas estrangeiras no sentido de induzi-las à estruturação
de um departamento de compliance, e o mercado está atento aos melhores
profissionais dessa área.

31
Fonte: o próprio André, em conversa que tivemos pelo WhatsApp, em 18 de outubro de
2018.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
20 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Por já ter vivido em Portugal ao longo de três felizes anos e por


acompanhar, hoje, com especial interesse, a sua cena do compliance,
sinto-me bastante confortável para citar esse país como exemplo
de ecossistema promissor no que toca ao empreendedorismo nesse
campo. Importa mencionar, a princípio, que há duas legislações que
estão causando muito burburinho em suas empresas – nomeadamente
nas do setor não financeiro –, pela revolução de mindset que ambas
provocam. Em razão das exigências do Regulamento Geral de Proteção
de Dados (EU 679/2016) e da Lei nº 83/2017 – que estabelece medidas
de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do
terrorismo –, essas organizações terão de reinventar-se, no imediato,
“em termos de procedimentos e forma de trabalhar”,32 o que constitui
um fator verdadeiramente benéfico à valorização da função compliance.
A partir do dia 25 de junho de 2019, as entidades que exercem atividades
imobiliárias sujeitas à fiscalização do Instituto dos Mercados Públicos,
do Imobiliário e da Construção passaram a ter de se estruturar para
cumprir as exigências do Regulamento nº 276/2019, como, por exemplo,
a nomeação de um “responsável pelo cumprimento normativo”
(compliance officer) e a definição e adoção de políticas e procedimentos
adequados à “gestão eficaz dos riscos” de branqueamento de capitais
e de financiamento do terrorismo.33
Ademais, duas legislações estrangeiras provocarão mudanças
institucionais (formais e informais) muito positivas para o incremento
do processo de valorização da função compliance em Portugal, com
reflexos no seu mercado de trabalho. Refiro-me ao Bribery Act 2010, do
Reino Unido, e à Ley Orgánica 1/2015, da Espanha. Veja a seguir o que
alguns especialistas portugueses afirmam sobre este assunto.
Em primeiro lugar, vale citar o que os advogados da equipe do
PLMJ Sociedade de Advogados disseram sobre as consequências da UK
Bribery Act 2010 – lei contra a corrupção local e internacional – para o
setor empresarial português:

Estamos, neste momento, convictos que, a breve trecho, esta legislação


terá implicações directas na vida de todos nós, quer enquanto elemento
catalisador da introdução de legislação semelhante nos restantes
países europeus, em particular nos países do Sul da Europa, quer

32
BARREIROS, 2018, p. 153.
33
Sobre as principais inovações introduzidas por esse regulamento, ver LOPES; TADEU;
ANDRADE, 2019.
MOTIVO 2: VIAJANDO COM O COMPLIANCE 21

pela importância prática e já directa sobre a actividade de empresas


portuguesas com negócios no Reino Unido.34

Já agora, cabe destacar o que foi dito pelo advogado Pedro Duro
no site do Campos Ferreira Sá Carneiro & Associados, no tocante ao
que pode acontecer em Portugal em razão das decorrências da Ley
Orgánica 1/2015 – que alterou o Código Penal Espanhol, reforçando a
responsabilidade criminal das pessoas jurídicas e a importância de um
sistema de compliance para as mesmas:

Com efeito, a densificação dos deberes de supervisión, vigilancia y


control, em Espanha, advinha-se como fonte adicional de inspiração
para a doutrina e para a jurisprudência portuguesa densificarem “os
deveres de vigilância e controlo” a que se refere o artigo 11.º do Código
Penal Português. (...) Esta alteração do Código Penal Espanhol constitui
um importante passo do movimento internacional de aprofundamento
do compliance nas mais diversas áreas. (...) Parece, assim, inevitável um
“efeito espanhol” no esforço que as empresas portuguesas não poderão
deixar de fazer para adoptar ou aprofundar políticas de compliance.35

Esses, porém, não são os únicos motivos que incrementarão a


mudança na cena portuguesa do compliance. Diretivas da União Europeia
maximizarão essa transformação, seja através da obrigatoriedade da
implantação de canais de denúncia em empresas privadas com mais de
50 trabalhadores ou com um volume de negócio anual acima de 10
milhões de euros,36 seja por meio da obrigatoriedade de as grandes
empresas prestarem contas não apenas da parte financeira, mas, também,
das informações ambientais, sociais e de boa governança, como sejam
os aspectos sobre contaminação atmosférica, diversidade, proteção e
desenvolvimento das comunidades locais, prevenção da corrupção,
atuação em matéria de direitos humanos, entre outros.37
É por isso que se vê, nesse país, um aumento do número de
escritórios de advocacia com serviços de compliance, bem como de
iniciativas de promoção do conhecimento desse tema, como é o caso
do Legal Club – plataforma criada pelo escritório Vieira de Almeida e

34
PLMJ, 2012, p. 18.
35
DURO, 2015.
36
Disponível em: https://cincodias.elpais.com/cincodias/2018/07/30/legal/1532934044_974803.
html.
37
Disponível em: https://www.foretica.org/Avanzando_hacia_un_nuevo_marco_regulatorio_
de_transparencia_FORETICA_BANKIA.pdf.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
22 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Associados e que já conta com cerca de quatrocentos advogados de


empresas38 – e do Observatório Português de Compliance e Regulatório
(OPCR). Segundo o presidente executivo dessa associação, Miguel
Trindade Rocha:

O atual contexto social, que promove a transparência, a integridade e a


ética nas organizações, tem propiciado um debate em torno dos temas
de compliance, para o qual têm contribuído consultorias, escritórios
de advogados, bem como organizações de diferentes setores de indús-
tria, sendo este debate essencial para a identificação e promoção das
melhores práticas, para uma resposta adequada aos requisitos legais e
regulamentares, e para a promoção de uma cultura de compliance nas
organizações.39

Eu não tenho dúvida de que as oportunidades de trabalho no


vasto campo do compliance aumentarão bastante em Portugal, tanto
para os seus cidadãos, evidentemente, quanto para os cidadãos do mundo,
como você; afinal de contas, o que as melhores e mais empreendedoras
organizações desejam são profissionais protagonistas, ou seja, com
propósito, com diferentes visões e com habilidades e competências
(hard & soft skills) adequadas à função.
Que tal ser advogado de compliance em Lisboa ou na cidade do
Porto? Há chances de emprego de compliance em muitos lugares incríveis
como esses.
E como seria trabalhar nessa área em Madri, Barcelona, Valência,
Gijón ou qualquer outra das belíssimas cidades espanholas? Já imaginou?
Pois bem. O compliance está “bombando” na Espanha! É isso
mesmo! Se em Portugal o cenário é animador, na Espanha é ainda
mais, por estar um passo à frente do seu vizinho nesse assunto. Além
da nítida evolução ocorrida após as reformas do seu Código Penal (Ley
Orgánica 5/2010 e Ley Orgánica 1/2015) e do “alto grau de avanço em
matéria de transparência empresarial”,40 a Espanha progride, a passos
largos, para um novo estágio de responsabilidade das empresas em
matéria tributária, o que será impulsionado pela norma UNE 19602,

38
Paulo Pinheiro, em entrevista para o Jornal de Negócios, em 4 jul. 2019. Disponível em: https://
www.vda.pt/xms/files/06_Media/2019/Noticias_e_artigos/Entrevista_a_Paulo_Pinheiro_
JN.pdf.
39
Declaração que me foi dada, gentilmente, pelo próprio Miguel, em 27 de Janeiro de 2019.
Obrigadíssimo, Miguel!
40
FORÉTICA; BANKIA. Avanzando hacia un nuevo marco regulatorio de transparencia. Disponível
em: https://www.foretica.org/Avanzando_hacia_un_nuevo_marco_regulatorio_de_
transparencia_FORETICA_BANKIA.pdf.
MOTIVO 2: VIAJANDO COM O COMPLIANCE 23

que entrou em vigor no final do mês de fevereiro de 2019. O compliance


tributário surge, nesse contexto, como o carro-chefe de uma “revolução
silenciosa” caracterizada pela relação de cooperação entre empresas e
administrações tributárias (co-operative compliance).41 42 A expectativa
pelos efeitos dessa norma é tão positiva que César Garcia Novoa não
hesita em dizer que “2019 será, sin duda, el año del compliance”.43
Para falar especialmente para você sobre esse momento bastante
positivo do compliance na Espanha, convidei o presidente da Associação
Mundial de Compliance, Iván Martínez López.44 Veja o que ele afirma:

Na Espanha está ocorrendo uma autêntica revolução em torno do


compliance, após a modificação do código penal e a irrupção, no mundo
corporativo, das normas ISO 37001 e da norma espanhola UNE 19601.
As organizações começam a levar a sério a aplicação de programas de
compliance e, inclusive, já os tratam, em muitos casos, como uma clara
vantagem competitiva. Centenas de eventos, congressos e publicações
comprovam essa revolução. Não é menos importante mencionar que, em
2018, o compliance foi declarado ‘o tema jurídico do ano’ na Espanha. A
Espanha quer posicionar-se na vanguarda do compliance, já que o que se
viu foi uma clara vantagem na aplicação de medidas preventivas. E neste
primeiro semestre de 2019 foi aprovada a primeira regra específica no
mundo para a aplicação de um sistema de compliance tributário, a norma
UNE 19602, uma norma que sem dúvida já está dando muito o que falar
e é outro claro avanço no desenvolvimento da ética nas organizações.45

Como eu dizia, as oportunidades estão em vários lugares. Para


a sua sorte, há legislações análogas a essas em diversos países,46 e a
tendência é que elas sejam reproduzidas em muitos outros, o que fará
com que o compliance se espalhe, cada vez mais, por todo o mundo
globalizado, chegando até mesmo a países que ainda não possuem
leis semelhantes.

41
Denominação nascida na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Disponível em: http://www.oecd.org/publications/co-operative-compliance-a-
framework-9789264200852-en.htm.
42
Sobre a importância da qualidade dessa relação para o cumprimento voluntário das normas
tributárias, ver PAULA, 2013, p. 202-219.
43
GARCÍA NOVOA, 2018.
44
World Compliance Association: http://www.worldcomplianceassociation.com.
45
Tive o privilégio de continuar a debater esse assunto com o Iván após essa conversa que
tivemos em 17 de fevereiro de 2019. ¡Muchas gracias, Iván!
46
Veja, por exemplo, outras normas anticorrupção pelo mundo em https://globalcompliancenews.
com/anti-corruption/anti-corruption-laws-around-the-world/ ou em https://interactiveguides.
lexmundi.com/lexmundi/lex-mundi-anticorruption-compliance-guide.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
24 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

De fato, a tendência é que haja compliance mesmo onde o Estado


legislador seja omisso nesse assunto. Neste caso, o próprio mercado
cria os seus mecanismos para que os processos de troca sejam seguros e
confiáveis (“sistema de enforcement autônomo”).47 Para você compreender
melhor essa situação, basta pensar no efeito pró-íntegros que as práticas
empresariais da due diligence e da elaboração de normas internas podem
gerar quando feitas pelas multinacionais, tendo em conta as empresas
dos países onde atuam. Explico: a due diligence (diligência devida) é
um dos componentes do sistema de compliance através do qual uma
empresa identifica o nível de cumprimento das leis e a reputação dos
fornecedores e parceiros comerciais com os quais ela se relaciona ou
deseja se relacionar (terceiros ou third parties).48 A empresa, então,
lança mão dessa prática para não correr o risco de fazer negócios com
organizações que não estejam alinhadas à cultura da ética e da legalidade.
Posso dizer que, nessa situação, um executivo age como um bom pai de
família, que jamais deixará de ser diligente ao contratar uma babá para
cuidar de sua pequena filha. Ele sabe que a sua negligência pode gerar
consequências gravíssimas. Nesse mesmo tom, várias multinacionais
criam normas internas ou códigos de conduta para esses terceiros – como
é o caso do Código de Conduta do Fornecedor, da Odebrecht49 –, prevendo,
por exemplo, a proibição de qualquer ato relacionado à corrupção. Ou
seja, as empresas do país onde a multinacional opera, se quiserem ter
relação comercial com a mesma, precisarão andar na linha, cumprindo
as leis do seu país e agindo em conformidade com as normas a elas
dirigidas pela contratante multinacional. E qual é a consequência
disso? No melhor dos casos, as empresas locais passarão a criar os
seus respectivos mecanismos de compliance, estabelecendo, com isso,
um clima de confiança e de integridade negocial.
Efetivamente, a chegada de uma empresa em determinado país,
exigindo, por exemplo, mecanismos de compliance anticorrupção de todas as

47
NIETO MARTÍN, 2013, p. 23.
48
Qualquer indivíduo ou pessoa jurídica contratada e que não seja seu empregado é um
terceiro para você. Os terceiros típicos são colaboradores contratados, agentes, intermediários,
distribuidores, revendedores, consultores, empresas que prestam serviços seus, expedidores,
fornecedores e parceiros de joint venture, entre outros. O importante é que você está pagando
a eles para que façam algo em seu nome. A nova expectativa global é que você sabe quem
eles são, você os verificou e está em controle das atividades para as quais os contratou
(DOYLE, 2011, p. 4).
49
Disponível em: https://www.odebrecht.com/sites/default/files/codigocondutafornecedorptbr.
pdf.
MOTIVO 2: VIAJANDO COM O COMPLIANCE 25

empresas que querem trabalhar com ela, é provavelmente mais efetiva


do que vários convênios internacionais na luta contra a corrupção.50
Nesse sentido, a título de ilustração, vale perguntar se, hoje, a
presença da Odebrecht em Angola não estará provocando mudanças
positivas nas empresas angolanas com as quais essa construtora
brasileira mantém relações contratuais. Segundo o entendimento de
alguns palestrantes do 1º Congresso de Profissionais de Compliance em
Angola – evento realizado pela World Compliance Association, em Luanda,
em maio de 2018 –, “as multinacionais têm tido um papel importante
na introdução de compliance em pequenas e médias empresas” desse
belo país africano.51 52
Como se isso não bastasse, a expansão dos sistemas de compliance
também tem ocorrido graças às organizações internacionais – o Banco
Mundial e o Banco Europeu de Investimentos são exemplos –, que
exigem a demonstração de medidas internas de prevenção à corrupção
como condição para as empresas captarem financiamento.53
O que se percebe é que o compliance está se transformando em um
“instrumento de governança global ou de global law”, como bem destaca
um dos mais respeitados especialistas do assunto, Adán Nieto Martín.54
Consequentemente, será cada vez maior a chance de você viajar pelo
mundo (ou de viver no exterior) para executar trabalhos de compliance.
Bora investir no seu sonho?

50
NIETO MARTÍN, 2013[2], 15.
51
Jornal Expansão, edição 472, Luanda, 11 de maio de 2018.
52
O combate à corrupção deve ser multifocal, isto é, deve enfocar diferentes agentes das
esferas pública e privada, e também deve ter em perspectiva algumas metas de curto, médio
e longo prazos. Em novembro de 2018, o governo angolano deu, digamos, o primeiro passo
para combater esse mal, aprovando uma estratégia voltada para os agentes públicos. Ver
em: https://www.portaldeangola.com/2018/11/15/governo-aprova-pacote-anti-corrupcao-
incluindo-cartilha-de-etica-e-conduta-na-contratacao-publica/.
53
NIETO MARTÍN, 2013, p. 23.
54
NIETO MARTÍN, 2013, p. 23.
MOTIVO 3: OS PRÓXIMOS ANOS
SERÃO DO COMPLIANCE!

Essa demanda crescente por compliance não se restringe às


empresas multinacionais. Inúmeras pesquisas feitas no Brasil desde
2015 – ano em que o tema ganhou tração no país – revelam que essa
área está em franco crescimento nas empresas nacionais, principalmente
em virtude do surgimento da Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846, de julho
de 2013) e da Operação Lava Jato.
“As multinacionais puxaram esse processo e hoje vemos equipes
de compliance em um número maior de empresas, inclusive em negócios
de médio porte”, diz Leonardo Berto, gerente da multinacional de
recrutamento Robert Half.55
Já no 3º trimestre de 2015, a consultoria KPMG fez um estudo com
200 empresas de 19 segmentos, descobrindo que 1/3 das mesmas possuía
um orçamento de até 500 mil reais para ser investido em compliance e
que pretendia incrementá-lo.56 Poucos meses depois, no final daquele
ano, a Fundação Dom Cabral realizou uma pesquisa com 476 executivos
do alto e médio escalão de 181 companhias, demonstrando que, no
âmbito social, o tema da corrupção foi considerado o mais relevante
para os negócios. Segundo Heiko Spitzeck, pesquisador da Fundação,
“a prisão de altos executivos teve um impacto enorme em como as
empresas passaram a avaliar suas práticas de negócios”.57
De lá para cá, não surgiu uma só pesquisa que não ressaltou a
expansão do setor e, claro, o aquecimento da carreira de compliance no

55
Em Profissões em alta: analista de compliance. Disponível em: https://www.roberthalf.com.br/
blog/tendencias/profissoes-em-alta-analista-de-compliance.
56
RICCIARDI, 2016, p. 64-69.
57
VIANA, 2016, p. 41-42.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
28 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Brasil. “Esse crescimento já se tornou irreversível”, enfatizou Natasha


Patel, gerente da multinacional de recrutamento Hays, em uma matéria
publicada em 2016, na Revista Exame, cujo título é muito elucidativo:
Esta é uma profissão com futuro no Brasil pós-Lava Jato.58
É, de fato, um excelente momento para quem ambiciona atuar
nessa área. Não é por acaso que alguns membros do Ministério Público
escolheram a função compliance como a primeira opção de atuação após
deixarem essa instituição.59 Como dizem Rogério Sanches Cunha e
Renee Souza – ambos promotores de justiça –, o “prognóstico para o
sucesso desse instrumento de política pública de combate à corrupção
é alvissareiro”.60
Além da Lei Anticorrupção e da Lava Jato, outros fatores têm
surgido e alavancado a empregabilidade da carreira de compliance no
Brasil. Vejamos.
O aparecimento de diferentes escândalos – principalmente no
âmbito dos direitos ambiental e trabalhista – motivou a criação de sistema
de compliance em empresas dos mais diversos setores da economia,
como, por exemplo, no setor extrativista (onde há uma tendência maior
de impacto no meio ambiente e nas comunidades locais) e no setor de
vestuário e calçados (onde ocorrem mais problemas relacionados ao
local de trabalho).
As constantes mudanças no ambiente regulatório têm gerado uma
procura maior por advogados de compliance. Retrato disso é o crescimento
do número de vagas surgidas após a publicação da Lei Geral de Proteção
de Dados (Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018).
Ademais, outras normas foram – e muitas outras serão – aprovadas
nas esferas federal, estadual e municipal, obrigando os agentes econô-
micos a criarem tal sistema. É o caso da chamada Lei das Estatais
(Lei nº 13.303/2016); das leis que exigem a adoção de mecanismos de
compliance por parte das empresas que celebrarem contrato, consórcio,

58
Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/esta-e-uma-profissao-com-futuro-no-
brasil-pos-lava-jato/.
59
Em fevereiro de 2019, um dos mais combativos promotores de justiça do Ministério Público
do Estado do Espírito Santo, Marcelo Zenkner, decidiu fazer essa opção, deixando o MPE
para trabalhar na Petrobras. O ex-membro da força-tarefa da Operação Lava Jato Carlos
Fernando dos Santos Lima aposentou-se do Ministério Público Federal e declarou que
atuará nessa área (vide: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/decano-da-
lava-jato-se-aposenta-do-mpf-e-vai-dar-consultoria-anticorrupcao-para-empresas/). Mais
recentemente, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot decidiu abrir um escritório
de advocacia especializado em compliance (vide: https://www.jota.info/jotinhas/rodrigo-
janot-inaugura-escritorio-de-advocacia-em-que-atuara-com-compliance-14062019).
60
CUNHA; SOUZA, 2018, 122.
MOTIVO 3: OS PRÓXIMOS ANOS SERÃO DO COMPLIANCE! 29

convênio, concessão ou parceria público-privada com a administração


pública direta, indireta e fundacional do Estado;61 bem como da Portaria
nº 877/2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), que obriga a criação desses mecanismos pelas empresas que
celebrarem contratos com esse órgão em valores iguais ou superiores
a R$5 milhões.62
Se tivermos em conta, ainda, as demais iniciativas empreendidas
em todas as esferas de governo – como, por exemplo, o Selo Pró-Ética,
da Controladoria-Geral da União; o Selo Agro + Integridade, do MAPA;
o Selo Empresa e Direitos Humanos e o Código de Conduta e de Respeito aos
Direitos Humanos, ambos do Ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos; e o Selo de Integridade, do município de Contagem/MG –, a
cidadania digital cada vez mais ativa, bem como as exigências do próprio
mercado (como ressaltamos acima), no sentido de se estabelecer um
código básico de ética e conformidade nas relações entre as empresas
da cadeia de suprimentos, é certo que veremos uma progressiva
multiplicação dos sistemas de compliance e do número de vagas nesse
campo.63
No que diz respeito a esse último fator impulsionador da expansão
de mecanismos de compliance e, consequentemente, das carreiras dessa
área, vale reforçar o que já disse acima: uma empresa decente (fully
compliant & ethical) não fará negócios com organizações indecentes (por
exemplo, com fornecedores que empregam trabalho infantil ou análogo
à escravidão), isto é, com organizações que não estejam alinhadas aos
seus valores. “Com isso, os programas de compliance vão se tornando
elemento obrigatório nas transações corporativas, exigidos como
condição para que empresas possam transacionar com terceiros.”64
Logo, as entidades que não possuem esses “programas” perderão
negócios (isso vale para os escritórios de advocacia!). Como dizem

61
A título de exemplo, veja as leis do Distrito Federal (Lei nº 6.112/2018), dos estados do Rio
de Janeiro (Lei nº 7.753/2017), do Rio Grande do Sul (Lei nº 15.228/2018), do Amazonas
(Lei nº 4.730/2018), de Goiás (Lei nº 20.489/2019) e do município de Vila Velha/ES (Lei nº
6.050/2018). Outros estados e municípios têm projetos de lei neste mesmo sentido, como
Tocantins (PL nº 8/2018), São Paulo (PL nº 498/2018), Bahia (PL nº 22.614/2017), Joinville/
SC (PL nº 431/2017 e PL nº 15/2018), Rio de Janeiro/RJ (PL nº 471/2017) e São Paulo/SP (PL
nº 723/2017).
62
Sobre a origem dessa política pública de mudança de comportamento empresarial, vide
NIETO MARTÍN, 2015, p. 29.
63
Uma cadeia de suprimentos engloba uma rede de empresas ligadas a partir do fornecimento
da matéria-prima até o fornecimento do produto acabado ao consumidor final, podendo
incluir fornecedores, transportadoras, fábricas, centros de distribuição e varejistas.
64
GUIMARÃES; REQUI, 2018, p. 204.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
30 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci, “[a] seriedade e a autonomia


de um compliance se tornam necessárias para a sobrevivência de uma
empresa em tempos de desconfianças com o mercado”.65
Nesse momento, é provável que você já esteja antevendo o “efeito
dominó” que essa mudança ocasionará no futuro próximo: mais e mais
companhias criarão sistemas de compliance e exigirão a mesma prática
das empresas contratadas, e estas, por sua vez, das subcontratadas;66
muitos escritórios de advocacia que prestam serviços a essas empresas
elaborarão o seu próprio sistema ou contratarão uma consultoria
especializada para fazê-lo; outros escritórios venderão esse serviço de
consultoria, e por aí vai...
Realmente, o cenário que se avizinha é animador. Tem razão
Carlos Sáiz Peña quando afirma que a previsão sobre o futuro do compliance
é alentadora, com uma grande possibilidade de crescimento e de seguir se
desenvolvendo como uma função estabelecida dentro das companhias.67
Ana Paula Carracedo, chefe da área de risco e compliance da
Votorantin, não destoa desse ponto de vista ao referir que “ainda há
muito a ser explorado e difundido nesse campo”.68
Trata-se, pois, de uma área que está amadurecendo. Eis, aqui, o
“pulo do gato”: por se tratar de uma profissão ainda jovem, você pode crescer
com ela! Quem diz isso é nada mais, nada menos que Joseph Murphy e
Joshua Leet, que ressaltam: mesmo alguém novo nessa área pode assumir
um projeto e se destacar, vendo coisas que outros ignoram, trazendo uma
nova perspectiva, contribuindo para o desenvolvimento de técnicas e
abordagens de compliance.69
O certo é que a tendência para os próximos anos é que se
aumentem ainda mais as oportunidades de emprego nessa área. A
última pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half, com enfoque
no cenário nacional e divulgada no mês de setembro/2018 pela Revista

65
Por que as empresas resistem ao compliance? (Revista da ESPM, maio/junho de 2016).
66
Es facil encontrarse en los procedimentos de contratación y homologación de provedores de las grandes
compañias con la exigencia de requisitos que debe cumplir el proveedor asociados a cumplimiento
normativo, por ejemplo, que el personal asociado a un servicio o proyecto concreto en sus instalaciones
siga las pautas de comportamiento, seguridad y calidad establecidas por el contratante, o la firma
de un documento por la Dirección de reconocimiento de que la empresa proveedora cuenta con un
programa de Compliance, una política anticorrupción o el compromiso de no trabajar con menores
en países asiáticos en sus procesos de producción (SÁIZ PEÑA, 2015, p. 45).
67
SÁIZ PEÑA, 2015, p. 49.
68
Em matéria da Revista Exame com o título Esta é uma profissão com futuro no Brasil pós-Lava
Jato. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/esta-e-uma-profissao-com-futuro-
no-brasil-pos-lava-jato/.
69
MURPHY; LEET, 2007, p. 16.
MOTIVO 3: OS PRÓXIMOS ANOS SERÃO DO COMPLIANCE! 31

VOCÊ S/A, aponta neste sentido: os empregos de compliance estarão


em alta em 2019!70 Outra gigante do setor de recrutamento, a Michael
Page, reforçou recentemente essa informação.71
Você ainda tem alguma dúvida de que o oceano azul do compliance
brilhará nos próximos anos?
Prepare-se para mergulhar de cabeça nesse mar.

70
Revista VOCÊ S/A, setembro de 2018, edição 244.
71
Outras empresas de recrutamento (como a Catho, por exemplo) também dizem a mesma coisa.
Ver: https://g1.globo.com/google/amp/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/01/14/
veja-profissoes-que-estarao-em-alta-em-2019-segundo-empresas-de-recrutamento.ghtml?__
twitter_impression=true. Ver ainda: https://exame.abril.com.br/carreira/por-que-estes-serao-
os-advogados-mais-disputados-pelo-mercado-de-trabalho/.
MOTIVO 4: CARREIRA SEMPRE QUENTE!

O que fica evidenciado em todas as pesquisas é que as carreiras


de compliance permaneceram aquecidas nos últimos anos, apesar do
período de recessão econômica atravessado – quando vimos acontecer
uma queda do consumo e, consequentemente, da expectativa de lucro e
do investimento, com mercadorias não vendidas, falência de empresas
e desemprego galopante. Não é para menos que os cargos dessa área
tenham sido valorizados nesse momento; afinal, em época de “vacas
magras”, tudo o que não pode ocorrer com uma empresa é, por exemplo,
a “apropriação indevida” de uma fatia do seu patrimônio por um ou
mais funcionários.

Em 2015, uma das maiores fraudes ocorreu na Cnova, uma


empresa varejista líder do mercado de comércio eletrônico no
Brasil. Em uma vistoria de rotina nos estoques, foi descoberto
que algumas mercadorias em perfeito estado foram classificadas
como quebradas. “O chefe de segurança fez uma blitz surpresa em
um dos caminhões que saíam de um dos centros de distribuição
da empresa e flagrou centenas de produtos novos, falsamente
classificados como defeituosos, sendo retirados do local sem nota
fiscal. O grupo Pão de Açúcar, controlador da empresa, concluiu
que a Cnova havia perdido, entre mercadorias, ajustes de estoque
e mudanças contábeis, 400 milhões de reais em patrimônio.”72

De fato, uma crise econômica de grandes proporções impacta a


vida financeira e social de funcionários, o que pode levá-los a cometer

72
FILGUEIRAS, 2017, p. 23.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
34 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

todo tipo de fraude, principalmente se forem propensos a isso.73 Imagine,


então, um funcionário criativo, inclinado à ilicitude e passando por uma
dificuldade financeira na família. São enormes as chances de ele levar
o dinheiro da empresa “na mão grande”. Para tanto, ele pode falsificar
o número do código de barras de boletos e as contas de destinação de
depósito, entre outras peripécias desviantes.
A verdade é que, como bem observam Murphy e Leet, há desvios
de conduta tanto nos bons quanto nos maus momentos econômicos.
Nos bons, dizem eles, as pessoas ficam gananciosas; nas crises, elas
ficam desesperadas.74 Com efeito, em ambas as situações, um sistema
de compliance efetivo é importante para a prevenção e dissuasão da
ocorrência de fraudes.
Daí que se diga que o campo do compliance não seja cíclico, isto
é, não esteja ligado a ciclos econômicos, como ocorre com a área de
recuperação judicial, entre outras que se tornam valorizadas em uma
recessão ou, mais ainda, em uma depressão econômica, mas que “saem
de moda” em tempos de estabilidade ou de crescimento.
Portanto, com crise ou sem crise, as carreiras de compliance estarão
sempre quentes!
A título de exemplo, veja quanto um diretor-geral de compliance
(chief compliance officer) está ganhando, atualmente, em um período já
menos nebuloso da economia:75

2017 2018
Mínimo: R$27.000,00 Mínimo: R$29.000,00
Máximo: R$45.000,00 Máximo: R$48.000,00

Por sua vez, a Michael Page ergueu um pouco mais essa régua,
indicando que o valor pago ao advogado de compliance, no Brasil, pode
chegar a R$70 mil (cerca de €16 mil) mensais.76

73
Segundo uma pesquisa da Associação Internacional de Investigadores de Fraudes feita em
114 países, as fraudes corporativas mais comuns são: corrupção, desvio de mercadorias,
reembolso de despesas, adulteração de cheques, alteração de demonstrações financeiras e
inclusão indevida em folha de pagamentos (FILGUEIRAS, 2017, p. 27).
74
MURPHY; LEET, 2007, p. 13.
75
Conforme Revista VOCÊ S/A, setembro de 2018, edição 244.
76
Disponível em: https://g1.globo.com/google/amp/economia/concursos-e-emprego/
noticia/2019/01/14/veja-profissoes-que-estarao-em-alta-em-2019-segundo-empresas-de-
recrutamento.ghtml?__twitter_impression=true.
MOTIVO 5: ÁREA COM MUITAS OPÇÕES!

Outro relevante diferencial dessa área é que há uma pluralidade


de posições que variam conforme os modelos de estrutura interna dos
departamentos de compliance, o que, por sua vez, depende do tamanho e
da atividade da organização. Até mesmo a denominação dessas posições
e do próprio departamento não é uniforme em todas as empresas.
Dentro desse quadro, considerando que uma empresa tenha
um departamento colegiado e independente, e deixando claro que isso
nada tem a ver com o chamado compartimento de compliance,77 importa
esclarecer que pode existir mais de uma oportunidade por empresa
para que a função compliance seja levada a efeito como atividade primária.
Na organização do compliance da empresa alemã Siemens, por
exemplo, centenas de compliance officers espalhados pelo mundo devem
se reportar ao chief compliance officer (CCO).78 Há, também, no mesmo
patamar hierárquico do CCO o chief counsel compliance (CCC), que, por
sua vez, é o profissional encarregado da direção de três departamentos:
compliance legal, compliance investigations e compliance remediation. O CCO
e o CCC são responsáveis, ​​em conjunto, pelas atividades de análise de
risco de compliance do grupo e informam, também conjuntamente, ao
conselho de gestão e ao conselho de supervisão. Toda essa estrutura

77
Onde, segundo Kristy Grant-Hart, “o compliance é mantido dentro de uma pequena caixa,
ao contrário de um Compliance Department que tem assento em um local de importância
no negócio. Em algumas empresas, o Compliance é tratado como uma entidade separada
e compartimentada que não faz parte da atividade principal da empresa. As pessoas que
trabalham nesses Compliance Compartments muitas vezes se sentem marginalizadas e
zangadas com a falta de respeito que recebem dos gestores e colegas” (tradução livre de
GRANT-HART, 2016).
78
A presença desse profissional no ambiente corporativo “tem sido imprescindível” (GRECO
FILHO; RASSI, 2015, 70), pois a sua função é de “guardião da empresa” (SAAVEDRA, 2011,
13-14).
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
36 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

é encabeçada pelo general counsel, quem tem assento no conselho de


gestão da empresa.79

Organização do departamento de compliance da Siemens80

General
counsel

Chief Chief
compliance counsel
officer compliance

Corporate Collecve Remediaon


Sector Cluster Compliance
and cross- Business acon & Invesgaon & risk
compliance compliance legal
sector units, excellence external prevenon
officer officer
supply chain affairs

Trata-se de uma organização que só atingiu essa dimensão de


governança e de expertise – inclusive, através de um programa gestão
de competências concebido em cooperação com o departamento de
recursos humanos – graças a uma ampla e penosa transformação do
compartimento de compliance existente até 2007.81
É claro que nem todas as empresas possuem uma estrutura
igual à da Siemens. Há empresas com um departamento de compliance
eficaz, porém mais enxuto. De todo modo, é normal que haja uma
variedade de posições em um só setor, como, por exemplo: um chief
compliance officer, alguns compliance officers e outros compliance analysts.
Ademais, algumas empresas subdividem essas posições conforme a
senioridade do profissional. Assim, é comum vermos vagas de senior
compliance officer e de senior compliance analyst. Contudo, isso ainda
é um panorama muito reduzido da variedade de títulos e posições
hoje existentes,82 especialmente se tivermos em conta as novas figuras

79
SIEMENS, 2013, p. 8-9.
80
SIEMENS, 2013, p. 9.
81
Como refere Nadine Fonseca, “o Corporate Compliance Office parecia subdimensionado,
com um CCO apenas trabalhando meio período e 6 advogados até o ano de 2007. (...)
Desde a implantação do novo programa de compliance em toda a empresa, houve um
compromisso com a melhoria do próprio sistema, que é baseado no processo de melhoria
contínua. O programa de Compliance foi a partir de 2007 considerado pela empresa como
parte integrante e permanente dos processos de negócios” (FONSECA, 2015, p. 57-58).
82
Vale conferir a relação (meramente exemplificativa) dos cargos existentes no site inglês
Careers in Compliance: https://www.careersincompliance.co.uk/.
MOTIVO 5: ÁREA COM MUITAS OPÇÕES! 37

criadas para os quadros das empresas, como o data protection officer e


o chief diversity officer.
E não há mecanismos de compliance apenas nas empresas tradicionais,
isto é, em organizações focadas na manutenção e preservação do estado
atual das coisas, com ambientes formais, hierárquicos e padronizados.
Ultimamente, a função compliance também é vivenciada em empresas
novatas, ágeis, “incrementais” ou “disruptivas”,83 baseadas em tecno-
logia, que quebram padrões e hierarquias, e que possuem funcionários
jovens e cheios de ideias, além de ambientes casuais, com tapetes
descolados, pufes coloridos e mesa de sinuca (snooker) ou de pebolim
(totó, matraquilhos). Se você está pensando nas startups, acertou em
cheio! Essas organizações estão crescendo em vários países (como no
Brasil84 e em Portugal85), e o seu investimento na profissionalização da
gestão e em mecanismos de compliance aumenta a cada dia, visando,
claro, a um crescimento seguro. Veja o exemplo da CargoX, uma novata
ligada ao transporte de cargas que, atualmente, ocupa a sétima colocação
no ranking das startups mais desejadas do Brasil:86 além de possuir
uma equipe de compliance, um código de conduta e um canal de ética,
ela ainda criou um comitê de diversidade. Sensacional! São, de fato,
muitos os atrativos das novatas (flexibilidade, agilidade, autonomia,
informalidade e propósito), o que tem gerado certa preocupação nas
grandes corporações, no sentido de evitar a fuga do seu pessoal para
aquelas.87 Afinal, quem não deseja trabalhar em uma empresa consciente
e com uma vibe positiva e produtiva?88
A função compliance, porém, não é desempenhada apenas nas
empresas privadas. Hoje, no Brasil, por força do que dispõe a Lei nº
13.303/2016 (artigos 6º, 8º, IV, V e VII, 9º e 12, II), as empresas estatais são

83
Nos termos da Lei Complementar nº 167, de 24 de abril de 2019. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp167.htm.
84
Para se ter uma ideia, segundo a Association for Private Capital Investment in Latin America
(Lavca), em 2017, 133 startups brasileiras receberam 859 milhões de dólares em investimento
de fundos de capital de risco estrangeiros. Disponível em: https://lavca.org/.
85
Um relatório do Startup Europe Partnership demonstra que o ecossistema de startups
português cresceu o dobro da média europeia entre 2010 e 2016. Disponível em: http://
startupeuropepartnership.eu/portuguese-scaleup-ecosystem-2017/.
86
De acordo com o LinkedIn Top Startups 2018: https://www.linkedin.com/pulse/linkedin-top-
startups-2018-25-mais-desejadas-brasil-claudia-gasparini/.
87
“Quem não está atento ao movimento de saída dos executivos deveria estar”, alerta Jorge
Kraljevic, sócio da Signium, consultoria de recrutamento executivo (CENTOFANTI, 2018,
p. 44-47).
88
Quer dar uma “espiadinha” no ambiente de uma startup jurídica de sucesso? Vale visitar a
Jusbrasil, em: https://danielmurta.jusbrasil.com.br/artigos/383937197/o-o-uma-espiadinha-
dentro-do-jusbrasil.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
38 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

obrigadas a adotar mecanismos de compliance, o que ampliou as opções


para quem almeja atuar nessa área.89
E como se isso não bastasse, o compliance começa a migrar
para os órgãos e entidades da administração pública direta, autárquica e
fundacional. Consequentemente, veremos cada vez mais espaço para
quem deseja se tornar um public compliance officer. No plano federal,
cumprindo o que determinam o Decreto nº 9.203/2017 e a Portaria nº
57/2019 da Controladoria-Geral da União – elaborados na esteira da
Instrução Normativa MP/CGU nº 1/2016, que, pela primeira vez no
país, fez referência expressa ao compliance para o setor público (art.
6º) –, esses órgãos e entidades começam a instituir os seus respectivos
“programas de integridade”. Até o momento em que publicamos este
livro, vinte e dois dos vinte e quatro órgãos da administração direta
tiveram os seus respectivos programas aprovados.90
No plano estadual, existem mecanismos de compliance implan-
tados na Secretaria de Fazenda do Estado de Alagoas, cuja gestão é feita
pela Assessoria Especial de Ética e Compliance. Cabe destacar, ainda,
outras iniciativas, como o Plano Mineiro de Promoção da Integridade
(Decreto nº 47.185/2017), o Programa de Integridade de Mato Grosso
(Lei nº 10.691/2018), o Programa de Integridade e Compliance de Santa
Catarina (Lei nº 17.715/2019), o Programa de Compliance Público do
Estado de Goiás (Decreto nº 9.406/2019), a Política de Governança
Pública e Compliance do Distrito Federal (Decreto nº 39.736/2019), o
Programa de Integridade do Estado de Mato Grosso do Sul (Decreto
nº 15.222/2019), o Programa de Integridade do Espírito Santo (Lei nº
10.993/2019) e o Programa de Integridade e Compliance do Paraná (Lei
nº 19.857/2019).
A tendência é que, em breve, esse mesmo cenário seja criado,
também, na esfera municipal.91
Além disso, as organizações da sociedade civil (terceiro setor)
também têm implementado mecanismos de integridade em suas

89
Vale ler o texto sobre compliance nas empresas estatais de KIM; MUZZI; FALCETTA; LONGO,
2018.Ver também CASTRO; GONÇALVES, 2019.
90
Sobre os programas de integridade na administração pública federal, vale ver o Painel de
Integridade Pública, mantido pela Controladoria-Geral da União com o objetivo de dar
transparência e informações sobre a estruturação, execução e monitoramento dos programas
de integridade dos órgãos e entidades do governo federal. Disponível em: http://paineis.
cgu.gov.br/integridadepublica/index.htm.
91
Há um projeto de lei (PL nº 005.00115.2019) na Câmara Municipal de Curitiba que dispõe
sobre a criação do Programa de Integridade e Compliance na administração pública municipal.
Disponível em: https://www.cmc.pr.gov.br/wspl/sistema/ProposicaoDetalhesForm.
do?select_action=&popup=s&chamado_por_link&pro_id=387385&pesquisa=.
MOTIVO 5: ÁREA COM MUITAS OPÇÕES! 39

estruturas, de modo a concretizar o seu importante papel de efetivação


dos direitos sociais, seja através das relações mantidas com empresas
privadas, seja por meio da relação de colaboração com o Estado. Vale
citar, por exemplo, o trabalho que a Vivian Sueiro vem desenvolvendo
desde 2013 na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Vivian é a advogada de compliance dessa organização, que, em 2013,
arrecadou R$346 milhões de parceiros privados.92 A APAE de São Paulo
começou, recentemente, a estruturar o seu sistema de compliance com
dois relevantes pilares: (i) um profissional dedicado exclusivamente à
sua implementação e gestão e (ii) um canal de denúncia.
Ou seja: o compliance é uma área com muitas oportunidades,
até mesmo em organizações “distintas dos dois agentes económicos
dominantes – os poderes públicos e as empresas privadas com fins
lucrativos –, designados frequentemente e de forma simplificada, por
Estado e Mercado”.93
E há, claro, vagas internas de Compliance nas instituições financeiras.
Eu digo “claro” porque foi nesse setor onde apareceram as primeiras
posições no mundo. No Brasil, isso ocorreu logo após a publicação da
Resolução nº 2.554/98, do Banco Central (BACEN).94
Porém, afortunadamente, as opções de trabalho na área de
compliance não se restringem às posições existentes dentro das empresas
ou de outras organizações (within organizations). Há diferentes alterna-
tivas fora das mesmas (outside of organizations). Você terá chances, por
exemplo, de trabalhar em uma das quatro maiores empresas mundiais de
auditoria e consultoria (as chamadas big four),95 isto é, em uma empresa
contratada, especificamente, para realizar serviços de compliance.96 E
isso poderá ocorrer, igualmente, em um grande e generalista escritório
de advocacia (full service) ou, mesmo, em um escritório menor, porém
altamente especializado (boutique), o qual tem despontado no cenário
brasileiro de prestação de serviços de compliance.

92
LEC, 2015, p. 40.
93
QUINTÃO, 2004, p. 2.
94
Essa resolução está baseada nos vinte e cinco princípios do Comitê da Basileia (sobretudo no
princípio 14, referente ao compliance) e na Lei nº 9.613/98, conhecida como Lei de Combate
aos Crimes de Lavagem de Dinheiro. Em 2017, o Conselho Monetário Nacional editou a
Resolução nº 4.595, regulamentando a “política de conformidade” (compliance) aplicável
às instituições financeiras.
95
Ernest & Young, PricewaterhouseCoopers, Deloitte e KPMG.
96
Compliance officers may work for the organizations they’re reviewing or for external agencies or
companies contracted to do compliance work. Disponível em: https://money.usnews.com/careers/
best-jobs/compliance-officer.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
40 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Outra oportunidade de trabalho fora das empresas é a docência.


Hoje, no Brasil, é cada vez maior o número de cursos sobre compliance,
tanto no plano da graduação e extensão quanto no nível da pós-gra-
duação (lato sensu e stricto sensu),97 o que ocorre, claro, em razão do
crescente interesse pelo tema por parte de profissionais e estudantes.
Não é sem razão que a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS) inovou ao oferecer uma disciplina (eletiva) de compliance
para os seus alunos de graduação em Direito. De fato, como afirmam
Murphy e Leet, “esta é uma área em que ainda é necessário que uma
pessoa interessada pela mesma cumpra o papel de pioneiro, convencendo
as faculdades de que a disciplina de compliance deve ser ensinada”.98
Você pode ser a pessoa a cumprir esse papel, assim como o fez Giovanni
Saavedra na PUCRS, em 2017.
Caso você trabalhe em um escritório de advocacia que não ofereça
serviços de compliance, você pode tentar vender a ideia da criação dessa
nova área aos sócios ou gestores. Ora, dependendo dos setores em que
atuam ou, ainda, dos projetos de futuro que têm para o escritório, esses
caras criarão essa área mais cedo ou mais tarde. Ocorre que, às vezes,
eles precisam de certo empurrão para tomarem algumas decisões,
de alguém que arquitete um cenário que os inspire a inovar, que os
questione estrategicamente para criarem um novo espaço de mercado ou,
melhor, para expandirem as fronteiras setoriais em que atuam.99 Antecipe-se
e seja você essa pessoa.
Muitos outros escritórios, apesar de anunciarem serviços de
compliance em seus portfólios, não se atentaram para a importância
de desenvolverem mecanismos internos de integridade. Essa é outra
situação na qual alguns empurrõezinhos vêm bem a calhar. Tenha
iniciativa, arrisque-se! Não seria nada mau se tornar o chief compliance
officer do escritório, não é mesmo? Ao contrário, há quem se sinta muito
feliz e orgulhoso por desempenhar essa função hoje em dia, como é
o caso de Gustavo Biagioli, no Demarest Advogados, em São Paulo.
Agora, se o escritório em que você trabalha não tem nem uma
coisa, nem outra, levante as mãos para o céu e sorria! Você está em
um cenário com mais oportunidades para começar a trabalhar nessa

97
Vale conferir “o caso da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (2013-2016)”
em JUSTINO, 2018.
98
Tradução livre de MURPHY; LEET, 2007, p. 48.
99
Embora alguns oceanos azuis sejam desbravados bem além das atuais fronteiras setoriais, a
maioria se desenvolve dentro dos oceanos vermelhos, mediante a expansão das fronteiras
setoriais vigentes (KIM; MAUBORGNE, 2015, p. 4).
MOTIVO 5: ÁREA COM MUITAS OPÇÕES! 41

apaixonante área. Com uma atitude positiva, com inventividade, estratégia


e disciplina, você pode dar reiteradas cutucadas (nudges) nos seus chefes,
visando persuadi-los a criar mecanismos internos de compliance para o
escritório e, adicionalmente, uma nova área de atuação do mesmo.100
Faça o seguinte: mostre para eles este e-book e ressalte o imenso valor
do tema e a quantidade de oportunidades existentes.
Devo insistir nisto: busque o seu sonho incansavelmente, acredite
na sua ideia e vá à luta para implementá-la, “ainda que o mundo lhe
dê um soco no nariz”, ou seja, se não der certo nas primeiras tentativas,
aprenda com os erros cometidos e comece tudo novamente até atingir o
seu objetivo. Para uns, isso se chama audácia;101 para outros, autoeficácia.102
E há, também, quem exalte a garra (grit).103
O que eu sei é que o compliance é uma área nova e, por isso, ela
está aberta aos principiantes e cheia de oportunidades. Se você é um
novo advogado com criatividade e iniciativa, o cenário que surgirá à sua
frente será, com certeza, de água cristalina. Como dizem W. Chan Kim e
Renée Mauborgne, “[a]s oportunidades oceano azul estão aí para quem
as desbravar primeiro”.104 É isso mesmo! Os primeiros mergulharão em
um imenso mar azul.
A hora de mergulhar é agora!

100
Empurrão ou cutucada (nudge, em inglês), aqui, é qualquer orientação “tentando guiar as
pessoas em direções que irão melhorar a vida delas [ou do escritório, neste caso]” (THALER;
SUNSTEIN, 2009, p. 6).
101
Baseio-me, aqui, no “princípio da audácia”, de Solomon Snyder, um neurocientista dos
EUA que esclarece que a audácia não tem a ver apenas com uma ideia original, mas com a
percepção de que ela é importante. “Este insight, por sua vez, lhe dá a convicção de seguir
sua ideia, ainda que o mundo lhe dê um soco no nariz” (negritei). Tradução livre disponível
em: https://www.psychologytoday.com/us/articles/200505/the-x-factors-success.
102
Trata-se da “self-efficacy”, batizada pelo psicólogo canadense Albert Bandura, segundo a
qual “pessoas muito seguras de suas capacidades abordam tarefas difíceis como desafios
a serem vencidos e não como ameaças a serem evitadas”. Tradução livre disponível em:
https://pdfs.semanticscholar.org/63c0/16b24e575bc19f58710a3ed49838878560f8.pdf.
103
É o caso da psicóloga americana Angela Lee Duckworth, autora do livro Garra: o poder da
paixão e da perseverança. Vale assistir ao TED dela sobre esse assunto: https://www.ted.com/
talks/angela_lee_duckworth_grit_the_power_of_passion_and_perseverance?language=
pt-br.
104
KIM; MAUBORGNE, 2015, p. xxix.
MOTIVO 6: PARA SOBREVIVER NA
MULTIDÃO DE ADVOGADOS

Nunca foi tão importante ser questionador, criativo e empreen-


dedor para sobreviver no saturadíssimo mercado jurídico.
A atitude empreendedora é uma competência bastante procurada,
nos últimos tempos, entre os advogados. “Cada vez mais as empresas
buscam profissionais de direito envolvidos na questão comercial e não
só com domínio em legislação.”105 Neste caso, o advogado precisa reunir
um conjunto de competências e habilidades estranhas à sua formação
tradicional, a começar pelo conhecimento da organização e pela atuação
preventiva, que será sempre necessária no momento da definição das
estratégias comerciais.
O mercado está, mesmo, buscando profissionais com uma postura
orientada para negócios e que saibam, entre outras coisas, identificar e
gerir os riscos de passivos judiciais causados por determinadas práticas
empresariais. Isso demonstra “que os departamentos jurídicos deixarão
de ser centros de custos reativos e passarão, cada vez mais, a atuar de
forma preventiva”.106
Veja o que diz Camila Dable Malheiros, sócia da Salomon Azzi,
uma das principais empresas brasileiras de recrutamento de advogados:
“As bancas e as empresas também estão em busca de um perfil de
profissional mais colaborativo, que saia do ‘juridiquês’ e consiga traçar
estratégias que levem em conta o impacto nos negócios”.107

105
Quem diz isso é Maria Eduarda Silveira, gerente da divisão jurídica da multinacional de
recrutamento Robert Half. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/saiba-quais-
sao-as-carreiras-quentes-para-2018/.
106
MARANHÃO, 2018, p. 82.
107
MALHEIROS, 2019.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
44 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Em Portugal, a ideia é a mesma. Como refere Paulo Pinheiro,


sócio do escritório Vieira de Almeida e Associados, “[n]um mundo cada
vez mais regulado, ganha cada vez maior importância a ponderação
do elemento jurídico em decisões com risco. Atualmente, é normal,
sobretudo nas grandes empresas, ver os departamentos jurídicos
integrados no processo de decisão ao mais alto nível”.108
É provável que, neste momento, você esteja dizendo o seguinte:
“Mas eu não aprendi nada nisso, eu não tive lições de empreendedorismo
na escola e, na faculdade, não fui estimulado a pensar o direito a partir
de uma ótica preventiva, tampouco interdisciplinar, relacionando, por
exemplo, direito e administração ou direito e economia”.
Você tem razão. Na grande maioria dos cursos de Direito,
desde o primeiro dia de aula, os estudantes são ensinados a agir após a
ocorrência de um problema de natureza civil ou de um fato criminoso,
são doutrinados a reprimir fatos delituosos, não a evitá-los. Eis a razão
pela qual alguns advogados não se adaptam ao modelo preventivo,
ultimamente elucidado pelos sistemas de compliance. É o que dizem
Renato de Mello Jorge Silveira109 e Leandro Sarcedo. Vejam:

O direito penal econômico, introjetado pelos valores do criminal


compliance, não se restringe mais ao mero papel de reprimir fatos
delituosos. Constitui-se, isto sim, num novo paradigma de ordena-
mento jurídico, com proposta eminentemente preventiva. Evidencia-se,
dessa forma, a dificuldade dos operadores do direito em compreender
seus fundamentos, na medida em que têm sua formação baseada no
tratamento post factum das ocorrências, devendo haver um esforço
para compreensão desse novo padrão da ação reguladora do estado,
que impinge ao particular deveres de evitação e detecção de riscos.110

O problema é que tanto os seus futuros clientes quanto os


empregadores não querem saber das deficiências do ensino brasileiro
(fundamental, médio e superior). Esses caras querem que você tenha
as habilidades e competências necessárias para entregar resultados no
fim do dia – leia-se: redução de problemas éticos, de riscos jurídicos

108
PINHEIRO, 2019. Disponível em: https://www.vda.pt/xms/files/06_Media/2019/Noticias_e_
artigos/Entrevista_a_Paulo_Pinheiro_JN.pdf.
109
SILVEIRA, 2014.
110
SARCEDO, 2014, p. 77.
MOTIVO 6: PARA SOBREVIVER NA MULTIDÃO DE ADVOGADOS 45

e reputacionais, de visitas aos tribunais e de custos daí decorrentes.111


“Estas são matérias crescentemente importantes nas empresas.”112
Portanto, apesar de todos sabermos que, no Brasil, a educação
existente é, em regra, antiquada – porque as suas bases foram criadas no
início do século XIX (logo após a Revolução Industrial) para atender o
modelo burocrático das fábricas e, por isso, os alunos não são encorajados
a questionar o padrão das coisas, a criar ou a encontrar soluções diferentes
para problemas diversos – e que, com raríssimas exceções, os cursos de
graduação de Direito não formam profissionais com as competências
técnicas (hard skills) e com as habilidades comportamentais e sociais
(soft and social skills) exigidas atualmente, a verdade é que não há mais
tempo para lamentações.113 Se você quiser sobreviver na multidão de
advogados – hoje, existem mais de um milhão e cem mil advogados no
Brasil114 –, não há outro caminho a não ser buscar, de modo incessante, uma
versão melhorada de si mesmo, encarando as tarefas difíceis como desafios a
serem vencidos, como oportunidades a serem aproveitadas, e não como barreiras
ou ameaças a serem evitadas.115 Em outras palavras, você precisa tornar-se
autoeficaz, protagonista ou audaz.116
Essa “mentalidade de crescimento” (growth mindset, como ensina
Carol Dweck) é, sem dúvida, o pressuposto básico fundamental de uma
atitude empreendedora.
Analise se isto faz sentido para você:

O pai de Sara havia ensinado a filha sobre o poder do fracasso. Na


mesa de jantar, ele perguntava: “Em que você fracassou hoje?”. Ele
ficava desapontado se ela não tivesse nada para falar, pois o fracasso
significava que ela havia tentado novas coisas.117
Ser um empreendedor é executar os sonhos, mesmo que haja riscos. É
enfrentar os problemas, mesmo não tendo forças. É caminhar por lugares

111
MATA, 2018.
112
PINHEIRO, 2019. Disponível em: https://www.vda.pt/xms/files/06_Media/2019/Noticias_e_
artigos/Entrevista_a_Paulo_Pinheiro_JN.pdf.
113
Vale aplaudir a Universidade Católica de Santa Catarina por ter inserido as soft skills em seu
programa de graduação de Direito. Disponível em: http://www.catolicasc.org.br/jaragua-
do-sul/wp-content/uploads/sites/3/2015/03/DIREITO-PRESENCIAL.pdf.
114
Dados do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em: https://
www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados. Acesso em: 05 fev. 2019.
115
Lição de Albert Bandura sobre a “autoeficácia”, com um temperinho a mais que decidi
inserir.
116
Escrevo essas linhas influenciado pelo guia proposto por Mauricio Benvenutti em seu livro
Audaz (Editora Gente, 2018). Outro cara bastante inspirador se chama Kim Archetti. Vale
demais conhecer o seu trabalho protagonista: http://canaldokim.com/.
117
GALLO, 2017, p. 103.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
46 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

desconhecidos, mesmo sem bússola. É tomar atitudes que ninguém


tomou. É ter consciência de que quem vence sem obstáculos triunfa sem
glória. É não esperar uma herança, mas construir uma história... Quantas
vezes seus temores bloquearam seus sonhos? Ser um empreendedor não
é esperar a felicidade acontecer, mas conquistá-la.118

Em outubro de 2002, cheguei em Portugal para estudar em uma


das universidades mais conceituadas da Europa: a Universidade
de Coimbra. Fui fazer mestrado em Ciências Jurídico-Econômicas.
Recordo-me do dia em que, sentado ao lado do meu pai – um
promotor de justiça aposentado –, escolhi esse programa como
primeira opção. “Filho, por que você não escolhe Ciências Jurídico-
Criminais, já que você estudou e estagiou nessa área?” “Por isso,
meu velho – eu o chamo assim, com todo amor e respeito –, eu
quero estudar algo novo.” Eu tinha, mesmo, muita vontade de ter
contato com uma nova realidade, com matérias desconhecidas e
que representassem um passaporte para voos mais altos. Porém,
o que mais me motivou a escolher aquela área foi o que ouvi do
professor de Economia Política no terceiro semestre do curso de
graduação em Direito: “Você não tem a menor condição de se sair
bem na minha disciplina. Desista”. De fato, eu tive dificuldade
com a matéria, mas, além dessa limitação, não havia nada que
justificasse ele ter dito aquilo diante de toda a sala. Cinco anos
depois, esses motivos me levaram à sala de aula de dois dos mais
conhecidos professores portugueses de economia política: António
José Avelãs Nunes e Manuel Carlos Lopes Porto.
Com vinte e quatro anos, decidi encarar o desafio de viver em um
novo país, de fazer mestrado em uma universidade de ponta, em
um curso complexo e que continha uma disciplina que me remetia
a um evento difícil e até então não superado. Desistir? Eu queria
reescrever a minha história com aquela disciplina, provar a mim
mesmo que possuía todas as condições de me sair bem na mesma.
No primeiro dia do mestrado, almocei e fui imediatamente para o
Colégio de São Pedro, local das aulas. Fui o primeiro a chegar. Lá
estava eu, sozinho diante da sala ainda fechada, em um corredor
longo e congelante – era outono, mas o frio, para um brasileiro, era
de inverno. Naquele momento, dei-me conta da grandeza do que
estava vivendo. Nasci e realizei grande parte dos meus estudos
no interior de Mato Grosso do Sul. Depois, fui fazer faculdade na

118
CURY, 2003.
MOTIVO 6: PARA SOBREVIVER NA MULTIDÃO DE ADVOGADOS 47

capital desse estado. Não foi uma educação de primeira linha – e


eu sabia que isso me faria falta no mestrado –, mas eu estava ali
com o propósito de me tornar um profissional mais qualificado
e, além disso, precisava honrar todo o esforço que os meus pais
fizeram para que eu tivesse a melhor educação possível, honrar,
entre outras pessoas, o meu avô Porfírio, que sempre dizia ao meu
pai: “Não quero que você seja o que sou, um trabalhador rural”.
Tudo isso me encheu de força para enfrentar o que viria pela frente.
Já estávamos confortavelmente sentados em torno de uma bela
mesa de madeira quando, então, o prof. Avelãs Nunes pediu que
nos apresentássemos. Logo percebi que fazia parte de um excelente
grupo de mestrandos brasileiros e portugueses que podiam debater
assuntos de economia política durante horas. Entretanto, coube
a mim a decisão sobre o rumo dos estudos que faríamos nessa
matéria do mestrado. Ao entrar na sala, decidi sentar-me bem em
frente ao professor, e esse foi o critério que ele usou para me eleger.
“O Marco Aurélio poderia dizer-nos se estudaremos os sistemas
econômicos e a evolução do capitalismo ou a história da ciência e
do pensamento econômico?” Sem hesitar, respondi: “Claro, senhor
professor, com certeza o segundo tema”. O silêncio de todos após
a minha fala congelou a minha espinha. Jesus! Assim como eu
descobriria e desenvolveria outras competências no decorrer do
curso – resiliência, principalmente –, naquele instante eu percebi
que era capaz de rezar o Pai Nosso rápida e resumidamente. Deu
certo.
Chegado o momento da escolha dos temas dos trabalhos (papers), a
falta de conhecimento sobre o assunto me fez começar as atividades
atrás de todos. Por mais que eu me esforçasse, a coisa não andava
bem. Foi difícil ver os colegas da turma avançando enquanto eu
permanecia patinando. As velhas crenças limitantes – “eu não
consigo”, “eu não nasci pra isso”, “eu não tenho mesmo a menor
condição de me sair bem nesta disciplina” – reapareceram e me
derrubaram naquele dia.
“Marco Aurélio, podemos conversar no meu gabinete?” “Claro,
senhor professor!” Assim foi concluída a aula seguinte (de apresen-
tação dos temas). Acompanhado da sempre prestativa colega Teresa
Almeida (hoje, professora doutora da Universidade de Coimbra),
fui ao gabinete do prof. Avelãs Nunes. “Marco Aurélio, está claro
que faltam-lhe as noções básicas desta disciplina. Leve estes livros,
vá ao sítio de impressão da faculdade e compre o meu material
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
48 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

que lá está. Leia tudo isto e depois retorne ao meu gabinete com
o índice do seu paper.”
Apesar do volume imenso de material – um só livro, o Historia
del análisis económico, de Joseph Schumpeter, tinha mil e trezentas
páginas! –, dediquei-me como nunca antes o fiz em qualquer
processo de aprendizagem. Não havia ninguém que me conven-
cesse a parar de estudar, nem mesmo os amigos da República
dos Combatentes, onde eu morava, os quais, naquela semana,
tentavam me fazer acompanhá-los em uma viagem para Andorra.
Eu estava realmente determinado a superar todo e qualquer
obstáculo, a aproveitar as oportunidades, a virar, de vez por todas,
a página de insucesso em economia política. Daí em diante, eu não
parei mais, lendo todos os livros, formulando distintos índices,
diferentes conteúdos, numa constante atitude de tentativa e erro,
até finalmente concluir um paper com qualidade.
“O Marco Aurélio foi um dos melhores alunos da disciplina de
Economia que eu então regia, tendo-se destacado não apenas
pelas suas qualidades de trabalho e pela sua enorme vontade de
aprender, pela seriedade, rigor e honestidade intelectual com que
desenvolvia as suas atividades de aprendizagem, mas também
pelas qualidades pessoais e humanas que tive oportunidade de
apreciar de perto, em virtude das relações afetuosas que com ele
fui alimentando.” Ouvir isso em uma apresentação que coube ao
professor Avelãs fazer a meu respeito foi transformador. A amizade
que cultivamos até hoje traduz, verdadeiramente, o sucesso dos
anos que vivi em Coimbra.
De volta ao Brasil, com uma bagagem acadêmica e multicultural
riquíssima, tive a felicidade de ver o meu paper de economia política
publicado em uma das principais revistas especializadas do Brasil,
a Revista Tributária e de Finanças Públicas.119 Todavia, o que eu trouxe
de mais valioso desse período – além da esposa e das amizades
de raiz – foi, sem sombra de dúvida, a mudança comportamental
ocorrida a partir de um processo de reprogramação interna.
Valeu demais todo o esforço e os riscos que assumi.

Não adianta querer mudar o mundo se a mudança não começar


em você. Não será uma tarefa fácil. Mudanças geram todo tipo de
desconforto e fracassos, e os resultados não aparecem do dia para a

119
PAULA, 2006.
MOTIVO 6: PARA SOBREVIVER NA MULTIDÃO DE ADVOGADOS 49

noite. Porém, em uma era de competição mortal na advocacia, o que mais


lhe resta senão encará-las com sangue nos olhos, com perseverança?
O fato é que não há mais tempo para postergações; afinal, milhares dos
seus concorrentes já decidiram agir, questionando a mesmice das coisas
e as velhas crenças.

“Sucesso é algo que você atrai pela pessoa que você se transforma”
(Jim Ronh).
“Quem questiona nunca teve tanta oportunidade de atropelar
quem mantém” (Mauricio Benvenutti).

Neste instante, as perguntas que você precisa fazer a si mesmo são as


seguintes: por que não desenvolver novas habilidades se é isso que me
transformará em um profissional mais completo, mais alinhado às novas
tendências e, portanto, mais competitivo? Por que não aprender outras
áreas não jurídicas se é esse diálogo interdisciplinar que o mercado está
exigindo? Por que não começar a fazer tudo isso, agora mesmo, se eu
tenho plenas condições para tanto e se é isso que me permitirá impactar
a vida das pessoas, que me deixará feliz e que elevará o meu padrão
de vida? Bingo! Eureka!
De fato, como refere Carol S. Dweck, não há nada que não possa
ser desenvolvido e aprendido, pois tudo não passa de uma questão
de motivação, foco e esforço.120 Como todas as pessoas que te cercam,
você também tem uma ampla capacidade de aprender novas áreas do
conhecimento e novas habilidades, de começar a construir uma história
profissional de sucesso ou de reescrever a sua carreira.
Não faz o menor sentido lutar contra as evidências. A competição
e a velocidade das atuais mudanças são tão grandes que se torna
impossível sobreviver no mercado valendo-se das mesmíssimas
soluções e dos conhecimentos e habilidades valorizados pelas gerações
anteriores.121 Sugiro-lhe que memorize isto: “O faturamento que lhe
manterá vivo nos próximos anos não virá das soluções vendidas hoje.
Virá das novas”.122
Portanto, não há outra alternativa a não ser abrir-se ao novo e dele
não desgrudar, o que significa aprender, desaprender e aprender novamente.

120
Dwek é professora da Universidade de Stanford e autora do Mindset: a nova psicologia do
sucesso (Editora Objetiva, 2017), livro aclamado entre os maiores empreendedores do mundo,
como Bill Gates, e que já vendeu mais de 1,7 milhão de cópias.
121
BENVENUTTI, 2018, p. 16-18.
122
BENVENUTTI, 2018, p. 93.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
50 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

“Os analfabetos deste século não são aqueles que não sabem ler ou
escrever, mas os incapazes de aprender, desaprender e aprender
de novo” (Alvin Toffler).

Hoje, o melhor investimento que você pode fazer é em si mesmo. Esteja


preparado para aprender e reaprender, constantemente, as mais diversas
áreas do conhecimento e você terá condições de acompanhar o ritmo
do mundo, de adaptar-se a múltiplos contextos e de buscar soluções
distintas para as mais variadas situações; relacione-se com pessoas de
diferentes backgrounds, culturas e opiniões e você será capaz de conectar
as diferenças para desenvolver a sua criatividade, entregando resultados
incríveis para o seu público. Como expõe Mauricio Benvenutti, “quanto
mais diversificado for o seu entendimento, maior será a sua capacidade
de produzir estratégias originais que se afastam dos amontoados de
soluções corriqueiras que existem por aí”.123 Em resumo, pense fora da
caixa (think outside the box) e obtenha vantagem competitiva no meio da
multidão de advogados que aceitam o mundo como ele é.
O importante é ser diferente, já disse Jack Trout em seu livro
Diferenciar ou morrer: sobrevivendo em uma era de competição mortal.124 “Ser
diferente é o novo normal.”125
Na boa, se a tendência é que a novata área do compliance continue
crescendo no Brasil e no mundo, aumentando, portanto, as oportu-
nidades profissionais nesse campo, e se, por outro lado, as opções
tradicionais do mercado jurídico brasileiro se escasseiam com o avanço
progressivo do número de novos advogados, qual outra motivação
você precisa para mergulhar de cabeça nessa nova área, para vivenciar
atitudes empreendedoras todos os dias nesse domínio?
Há um ditado popular deveras inspirador que você precisa
estampar na capa do seu travesseiro: “Jacaré que dorme vira bolsa”.

123
BENVENUTTI, 2018, p. 153.
124
TROUT, p. 2000.
125
BENVENUTTI, 2018, p. 208.
MOTIVO 7: PARA NÃO PERDER O
SEU EMPREGO PARA UM ROBÔ

Se você pensa que essa situação de competição no âmbito jurídico


está ruim, acredite, ela vai piorar. E isso não acontecerá daqui a dez
anos, tampouco terá como causa única os milhares de novos advogados
que continuarão a ser (mal) formados. Em verdade, essa intensificação
do processo de deterioração dos postos de trabalho jurídico já começou
com a entrada em campo de novos jogadores. Refiro-me, especialmente,
à inteligência artificial (IA) e à robótica.
Surreal, não? De forma alguma. Na realidade, a IA já entrou em
jogo há algum tempo, e os robôs começam a dar as caras. O problema
é que, no universo tecnológico, a velocidade das transformações é
exponencial, ou seja, aumenta cada vez mais rápido a cada mês, a
cada ano.
E aí, topa propor um duelo contra algum algoritmo? Caso a
resposta seja positiva, recomendo-lhe que pense bem no teor da sua
proposta para não ter de passar por uma situação constrangedora.
Talvez você se lembre da derrota que o lendário jogador de xadrez Garry
Kasparov sofreu, em 1997, para o computador Deep Blue da IBM. Pois
bem, a diferença entre essa máquina e a tecnologia atual é tão grande
que não é possível fazer qualquer comparação entre ambas.
O que ocorre é que, dependendo das características de certas
atividades, não há como superar a IA. No início de 2018, um grupo
de 20 advogados experientes foi desafiado a testar suas habilidades
e conhecimentos contra o algoritmo da LawGeek, uma startup de
tecnologia jurídica. Havia, por exemplo, advogados de empresas
globais, renomados consultores e profissionais independentes. A tarefa
era revisar os riscos contidos em cinco contratos de confidencialidade
(non-disclosure agreements). A IA ridicularizou todos eles, levando
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
52 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

apenas 26 segundos para revisar todos os cinco documentos enquanto


os mesmos demoraram, em média, 92 minutos. Para ficar bem clara a
diferença, o advogado mais rápido completou a revisão em 51 minutos,
ou seja, foi 100 vezes mais lento que a IA.126
Como diria um bom amigo da cidade mineira de Belo Horizonte:
“Nó, que trem doido, sô!”. É bem doido mesmo! E enlouquecerá quem
já não estiver decidido a ultrapassar todo e qualquer obstáculo para
executar os seus sonhos profissionais mais desafiadores. Nesse contexto
de competição acirrada, “uma única dúvida mata mais sonhos que
inúmeros fracassos jamais matarão”.127
Atualmente, há inúmeras evidências de que mudanças tecno-
lógicas “radicais” no mundo do trabalho já estão em andamento em
vários países.128 Muitas atividades – especialmente as repetitivas e
previsíveis – são substituídas pela automação num estalar de dedos.129
Há, também, previsões catastróficas, como a que Carl Frey e
Michael Osborne fizeram em 2013, dizendo que cerca de 47% do total
de empregos nos EUA serão extintos até 2030.130 Em 2018, Ljubica
Nedelkoska e Glenda Quintini sugeriram um cenário menos desastroso
ao estimar que 14% dos empregos estão em risco nos países da OCDE.
De todo modo, esses números são alarmantes, pois estamos falando
de algo em torno de 66 milhões de trabalhadores em 32 países cobertos
pelo estudo.131 O Fórum Econômico Mundial, por sua vez, estima que
perderemos mais de cinco milhões de empregos no mundo entre 2015
e 2020.132
Essa é uma realidade cada vez mais presente no Brasil. Veja isto:
segundo a Federação Internacional de Robótica, cerca de 11.900 robôs
industriais serão comercializados entre 2015 e 2020133 e, de acordo com
projeções da consultoria McKinsey, aproximadamente 16 milhões de

126
WOOD, 2018.
127
BENVENUTTI, 2018, p. 163.
128
SUSSKIND; SUSSKIND, 2016.
129
A consultoria McKinsey ressalta que, na lista das atividades que podem ser automatizadas,
estão, inclusive, as mais bem pagas, como algumas associadas aos gerentes de finanças e
aos CEOs (CHUI et al., 2015). Como refere Erik Nybo (2019, p. 98), “a automação atingiu o
sistema fabril, mas agora sobe as escadas das fábricas rumo aos escritórios”.
130
FREY; OSBORNE, 2013, p. 41.
131
NEDELKOSKA; QUINTINI, 2018, p. 7.
132
WORLD ECONOMIC FORUM, 2016.
133
PERRIN, 2018.
MOTIVO 7: PARA NÃO PERDER O SEU EMPREGO PARA UM ROBÔ 53

trabalhadores brasileiros serão afetados pela automação até 2030.134 135


A EDP, por exemplo, pretende concluir a robotização de mais de 190
processos até 2020, o que resultará em muitas demissões, ainda que
alguns funcionários sejam realocados ou assumam funções estratégicas,
como promete Miguel Setas, presidente, no Brasil, dessa companhia
energética portuguesa.136
Agora, eu lhe pergunto: se essa onda tecnológica está avançando
sobre os mais variados setores da economia, por que ela não chegaria
ao Direito? Ainda bem que ela chegou, afinal, isso agrega valor às
atividades dos profissionais jurídicos.137
A IA e os robôs vieram, mesmo, para ficar. Você conhece a Dra.
Luzia? E a Dra. Carol? Não conhece nenhuma delas? Ao menos ouviu
algo a respeito dos trabalhos do Dr. Ross, do Dr. Victor ou do Dr. Kira?
Também não? Então, tome nota, por favor.
Dra. Carol é uma robô que chegou há pouco mais de um ano no
escritório Urbano Vitalino, localizado na cidade de Recife. Todos por
lá estão satisfeitos com o seu desempenho, pois o seu índice de acerto
no preenchimento de informações de trâmites internos alcançou 95%,
contra 75% dos humanos.138
Já a Dra. Luzia é uma robô especialista em execuções fiscais.
Dizem que ela é “top”. Até novembro de 2018, ela havia lido mais de
mil decisões judiciais, com base nas quais fazia as suas petições em dois
minutos. Pedir a penhora de um bem do devedor é com ela mesma!139

134
Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/jobs-lost-
jobs-gained-what-the-future-of-work-will-mean-for-jobs-skills-and-wages/pt-br.
135
Em Portugal, estima-se que a robotização poderá levar à eliminação de 1,1 milhão de
empregos até 2030. Porém, segundo o estudo feito pela Confederação Empresarial de
Portugal (CIP) em parceria com o McKinsey Global Institute e a Nova SBE, serão criados
entre 600 mil e os mesmos 1,1 milhão de novos empregos. Disponível em: https://observador.
pt/2019/01/17/automatizacao-obrigara-18-milhoes-de-portugueses-a-ter-formacao-ou-a-
trocar-de-emprego/. Muitos desses novos empregos ainda não foram inventados. Há um
estudo da Dell que diz exatamente isto: 85% das posições que os estudantes ocuparão até
2030 serão novas. Disponível em: https://www.dell.com/learn/br/pt/en/press-releases/2017-
07-24-dell-technologies-impact-of-new-technologies-on-society. Nesse cenário, a palavra
de ordem terá de ser adaptabilidade.
136
SÔNEGO; CALDAS, 2017, p. 57.
137
Marcelo Molina (2018) afirma que a “tecnologia vem para salvar a profissão de advogado
e lhe dar ainda mais valor”.
138
Para mais informações sobre a Dra. Carol, veja: https://link.estadao.com.br/noticias/
inovacao,com-inteligencia-artificial-e-big-data-inovacao-chega-ao-direito,70002550316.
139
Se quiser saber mais sobre a Dra. Luzia, acesse: https://www1.folha.uol.com.br/
mercado/2018/11/robos-advogados-analisam-processos-fazem-peticoes-e-aceleram-contratos.
shtml.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
54 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

O Dr. Ross tem um perfil diferentão. Considerado “o primeiro


advogado robô” e nascido no Canadá, esse cara ouve a linguagem
humana, rastreia mais de 10 mil páginas por segundo e, claro, formula
uma resposta muito mais rápida do que qualquer advogado de carne e
osso. Ele, porém, vai além disso. Ross faz citações legais, sugere artigos
para estudar e leva em conta tanto as partes envolvidas no julgamento
quanto os tribunais inferiores de onde vêm os casos. Há quem diga
que ele é capaz de identificar até mesmo a ideologia do juiz, além de
rastrear, em tempo real, os resultados de julgamentos, bem como aqueles
que criaram jurisprudência. Por tudo isso, ele tem sido contratado por
prestigiados escritórios, como, por exemplo, o estadunidense Baker &
Hostetler.140
O Dr. Victor está no pico da justiça brasileira. Desde agosto de
2018, ele tem dado um toque de modernidade ao Supremo Tribunal
Federal, sendo utilizado para separar e classificar as peças processuais e,
também, para identificar e categorizar os principais temas de repercussão
geral.141 142
Por sua parte, o Dr. Kira é um gajo bastante porreiro no que diz
respeito à revisão de contratos e due diligence. Tanto isso é verdade que
ele está a auxiliar dois escritórios portugueses: o PLMJ e o CMS Rui
Pena & Arnaut.143
É assim, com alguma naturalidade, que veremos mais e mais
notícias sobre a atuação da IA e dos robôs no meio jurídico, seja fazendo
pesquisas de jurisprudência ou gerindo processos em andamento, seja,
ainda, elaborando peças generalistas e muito mais.
Outros escritórios já estão a trilhar esse mesmo caminho. Não
faz muito tempo, o escritório Peixoto & Cury, de São Paulo, criou
uma incubadora com programadores, engenheiros e advogados para
desenvolver projetos que atendam os seus públicos interno e externo. A
primeira criação foi um software que avalia até 16 mil documentos por

140
Você pode ler mais sobre o Dr. Ross em: https://legis.pe/ross-primer-abogado-robot-litiga-
usando-inteligencia-artificial/ e https://juristas.com.br/2018/09/17/universidade-canadense-
cria-o-primeiro-advogado-robo-que-litiga-usando-inteligencia-artificial/#.XGvyZ6JKj4b.
141
Se quiser saber mais sobre o Dr. Victor, basta acessar este link: http://www.stf.jus.br/portal/
cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=390818.
142
Há, inclusive, quem já esteja desenvolvendo um “robô juiz” para analisar disputas judiciais
que não ultrapassem o montante de sete mil euros. Não surpreende que isso esteja ocorrendo
na Estônia. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/
estonia-quer-substituir-os-juizes-por-robos.html.
143
Outros escritórios portugueses já estão a implantar sistemas de automatização, como o
Morais Leitão, o VdA, o Garrigues e o Abreu. Ver texto disponível em: https://insigte.com/
article_email.asp?ID=6384333&ic=1122&iu=13794.
MOTIVO 7: PARA NÃO PERDER O SEU EMPREGO PARA UM ROBÔ 55

mês, trabalho que demandaria cinco ou seis advogados com jornada


de trabalho de oito horas, em dedicação exclusiva.144
Nessa mesma pegada, outro grande e conceituado escritório de
advocacia do Brasil, o TozziniFreire, abriu-se ao novo através da atitude
de um advogado com mentalidade questionadora, criativa e empreendedora.
Rodrigo Vieira decidiu usar as férias de 2017 para dedicar-se aos estudos
das startups e para conhecer os ecossistemas de inovação pelo mundo.
Apesar de não saber por onde começar, ele mergulhou nesse ambiente.
Em seguida, tomou a iniciativa de propor ao escritório a criação dessa
nova área de atuação, o que foi aceito. Rodrigo, então, percebeu que
várias das startups poderiam melhorar os processos internos do escritório.
Resultado: essa empresa advocatícia reduziu em 50% o tempo gasto na
elaboração de determinados documentos.145
Inspirado pela cultura das startups, o TozziniFreire criou os
projetos Tozzini Tech & Future e Smart Lawyers, bem como a campanha
interna We Love WeWork. “Tudo regado à pizza e descontração.”146 No
início de 2019, o escritório deu mais um passo importante com o lança-
mento do programa Think Future e com a criação da área de tecnologia
e inovação, “composta por uma equipe multidisciplinar liderada por
10 sócios de diferentes práticas, como Societário, Fusões e Aquisições,
Contencioso, Mercado de Capitais, Cybersecurity & Data Privacy,
Compliance, Propriedade Intelectual, Trabalhista e Tributário”. 147
Com certeza, todo esse processo de mudança só avançou graças ao
trabalho colaborativo e à troca de informações entre os profissionais das
mais variadas áreas. É claro que isso renderá cada vez mais soluções
tecnológicas e clientes satisfeitos.
Desse modo, logo veremos um punhado de máquinas devida-
mente nomeadas e fazendo as vezes dos humanos em tarefas rotineiras,
o que permitirá que os advogados dediquem seu tempo aos assuntos
mais complexos e que demandem competências e habilidades que as máquinas
não possuem. Não tem o menor cabimento torcer contra essa mudança
a fim de preservar empregos sem sentido e repetitivos.148
Percebeu por que não é possível fazer qualquer proposta de compe-
tição para um algoritmo ou robô? Você passará vergonha, por exemplo,

144
BRANDÃO, 2018.
145
BENVENUTTI, 2018, p. 176-179.
146
BENVENUTTI, 2018, p. 179.
147
Disponível em: http://tozzinifreire.com.br/noticias/tozzinifreire-lanca-thinkfuture-a-primeira-
iniciativa-estruturada-de-inovacao-de-um-escritorio-de-advocacia-full-service-no-brasil.
148
Outros projetos são citados em LIMA, 2019.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
56 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

em uma disputa para descobrir casos antigos semelhantes a algum atual,


pois esses caras são imbatíveis na busca de dados passados, como as
jurisprudências. É por isso que os primeiros profissionais afetados pelo avanço
tecnológico são os advogados em início de carreira e os que, pela deficiência
da formação jurídica, se dedicam a atividades simples e repetitivas.149
Porém, se você propuser um duelo à Luzia para saber quem melhor
improvisa uma solução para um problema inédito, provavelmente você
levará vantagem, já que as máquinas “têm dificuldades para enfrentar
novas situações”.150 Se o Dr. Ross for desafiado a agir com iniciativa e
criatividade, certamente ele será superado, afinal, “essas máquinas não
têm nenhuma criatividade ou iniciativa”.151
Portanto, se você não quer ser um profissional descartável
nesse mundo progressivamente tecnológico, foque nas coisas em
que a IA e os robôs não são bons, a começar pela criatividade. Não é
por outra razão que esse atributo humano aparece em vários estudos
sobre as competências e as habilidades do futuro, como o Workforce
of The Future,152 o The Future of Skills153 e o Future of Jobs.154 Segundo
Grady Booch, um dos grandes entusiastas mundiais da IA, “nada que
aparecerá em inteligência artificial nas próximas décadas vai rivalizar
com a criatividade humana”,155 uma habilidade que “verdadeiramente
acrescenta valor aos serviços jurídicos” (Eduardo Paulino).156
Dessa maneira, você será um advogado protagonista se conseguir
conectar assuntos ou áreas distintas com o objetivo de criar soluções para
problemas complexos, o que exigirá flexibilidade cognitiva e, muitas vezes,
improviso – duas outras competências citadas naqueles estudos. Não há
como passar despercebido pela multidão sendo inventivo. Como bem
assinala Mauricio Benvenutti, “pessoas brilhantes são aquelas que criam

149
Quem diz isso é o professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (São Paulo)
Alexandre Pacheco (OLIVEIRA, 2018) e o cientista-chefe da IBM responsável pelo projeto
que investiga formas de incorporar a tecnologia do Watson em robôs e outros sistemas,
Grady Booch (BOOCH, 2018, p. 42).
150
BENVENUTTI, 2018, p. 60.
151
BOOCH, 2018, p. 44.
152
PricewaterhouseCoopers, 2018. Disponível em: https://www.pwc.com/gx/en/services/people-
organisation/workforce-of-the-future/workforce-of-the-future-the-competing-forces-shaping-
2030-pwc.pdf.
153
Universidade de Oxford e Pearson, 2017. Disponível em: https://media.nesta.org.uk/
documents/the_future_of_skills_employment_in_2030_0.pdf.
154
Fórum Econômico Mundial, 2016. Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/
WEF_Future_of_Jobs.pdf.
155
BOOCH, 2018, p. 44.
156
Disponível em: https://insigte.com/article_email.asp?ID=6384333&ic=1122&iu=13794.
MOTIVO 7: PARA NÃO PERDER O SEU EMPREGO PARA UM ROBÔ 57

e improvisam. Que pegam um conhecimento aqui, outro ali e misturam


tudo para construir algo único e de valor. São esses profissionais que
captam a maior parte da nossa atenção”.157
Contudo, para ser criativo, não basta apenas desenvolver
competências no campo cognitivo. É preciso que você aprimore as
suas habilidade sociais, ou seja, que saiba trabalhar em equipe, que consiga
se adaptar a diversos contextos culturais e que aprenda a interagir com
pessoas que pensam, ajam e vivam diferentemente de você, afinal, é das
alianças mais imprevisíveis de onde nascem as respostas mais criativas.158
Faça de tudo para enriquecer e diversificar a sua bagagem e você será
sempre valorizado pelos profissionais e empresas.

“Assim, seja tocado pela diversidade. Deixe ela ser uma constante
em sua vida. Converse com pessoas que fazem você enxergar o
mundo de outras formas. Valorizar e promover a união dos opostos
enriquece a experiência de todos, estimula o crescimento e gera
oportunidades não esperadas. Fazendo isso, você já dará passos
largos rumo à construção de alianças imprevisíveis capazes de
aprimorar produtos, serviços e soluções.”159

Nessa mesma toada, outra atitude bastante destacada por tais


estudos é a empatia. Um robô não é capaz de se colocar no lugar de
uma pessoa para compreender e compartilhar o seu estado emocional;
ele não ouvirá as necessidades, preocupações ou medos dessa pessoa,
demonstrando, na sequência, a sua solidariedade e interesse em
ajudá-la. Uma máquina não é capaz de vivenciar um problema alheio
e de construir um diálogo que estimule a confiança recíproca.
Dito isso, você é capaz de imaginar uma liderança que não seja
de carne e osso? Considera possível que um robô consiga conscientizar
todo o pessoal de uma organização sobre questões éticas e legais? Afinal,
é viável criar uma forte cultura ética através de uma inteligência artificial?
Veja, não há dúvida de que a IA e os robôs distribuirão muitos
benefícios ao longo dos próximos anos. Porém, é preciso ter cautela
na substituição de pessoas por essas tecnologias, porque, como bem
adverte Grady Booch, além de usarem informações imperfeitas e, por

157
BENVENUTTI, 2018, p. 108.
158
BENVENUTTI, 2018, p. 154.
159
BENVENUTTI, 2018, p. 159.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
58 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

vezes, tendenciosas, os engenheiros não sabem como fazer a IA decidir


algo com base em um valor abstrato.160 161
Indo direto ao ponto, devo dizer que, nesse cenário de robotização,
vale a pena investir em uma carreira que exija as soft skills, a criatividade
e a interação interpessoal.162 Veja o que escreve David Deming sobre
essa última habilidade: “Os empregos com altos salários exigem cada
vez mais habilidades que são difíceis de automatizar, como aquelas
que envolvem interação interpessoal significativa”. Esse professor de
Harvard cita pesquisas que demonstram a forte empregabilidade desses
trabalhos.163
Trocando em miúdos: quanto mais IA e robôs no mercado
jurídico, mais valor será dado aos empregos que exigem habilidades
comportamentais e sociais.164
Por acaso, você sabe me dizer qual é a profissão que exige todas
essas competências? A essa altura, suponho que a resposta já esteja na
ponta da sua língua. Então, bora dizermos juntos: ADVOCACIA DE
COMPLIANCE!!!
É exatamente isso!

160
BOOCH, 2018, p. 43.
161
Sobre o “perigo de utilização dos algoritmos sem supervisão humana ou como única fonte
para tomada de decisões”, ver NYBO, 2019, p. 97-98.
162
“Hoje, mais de 50% dos requisites intrínsecos para preencher uma vaga em compliance
são de competências comportamentais”, ressalta Raul Cury, sócio-fundador da Vittore
Partners, empresa de headhunter especializada em compliance (LEC, 2018, p. 18).
163
DEMING, 2018.
164
Neste sentido, ver NYBO, p. 98-101.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ

Advocacia de compliance. Esse é o emprego do presente e, especial-


mente, do futuro! Já até imagino o que o Prêmio Nobel de Economia
Christopher Pissarides dirá após ler estas páginas: “Yes, indeed! You
are right, Mr. de Paula! This is a job with the brightest future”. Esse senhor
sabe o que fala!165
Portanto, caro leitor, abrace os robôs e comemore com eles, já
que, além de poderem otimizar o seu trabalho de advogado de compliance,
esses caras o colocarão sob fortes holofotes.166
Agora, é preciso saber quais são os conhecimentos técnicos (hard
skills) que tornam a advocacia de compliance tão valiosa e de que modo
eles dialogam com as atitudes e habilidades (soft & social skills) para a
transformarem no emprego do presente e do futuro.
Em primeiro lugar, como já adiantei acima, um bom advogado de
compliance necessita ter uma formação técnica diversificada, isto é, ele precisa
conhecer as áreas jurídicas – a importância de umas relativamente às
demais vai variar conforme os riscos identificados em cada organização
(dano ambiental, acidente de trabalho, assédio moral ou sexual,
corrupção, práticas anticompetitivas, danos ao consumidor, vazamento
de dados pessoais, lavagem de dinheiro, improbidade administrativa,

165
Christopher Antoniou Pissarides é Prêmio Nobel de Economia (2010) e professor da London
School of Economics. Ele tem atuação destacada no campo da economia do trabalho e do
desenvolvimento econômico. Em recente artigo escrito com Jacques Bughin, sublinhou, entre
outras coisas, a importância da inteligência artificial e da qualificação dos trabalhadores
para o desenvolvimento dos países. “Os empregos do futuro exigirão não apenas maiores
competências no campo cognitivo como também maior criatividade e competências sociais”
(PISSARIDES; BUGHIN, 2018).
166
De acordo com Erik Nybo (2019, p. 99), “as equipes serão mistas. A relação entre os dois
tipos de trabalhadores [humanos e robôs] deve ser harmônica, confrontando, portanto, o
medo que muitos possuem de serem subitamente substituídos por máquinas”.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
60 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

entre muitos outros) – e necessita ter bons conhecimentos em alguns


temas de administração de empresas (ética empresarial, governança
corporativa, gestão de projetos, gestão de riscos), de contabilidade
(controle e auditoria interna), de psicologia (comunicação organizacional,
psicologia comportamental, andragogia para treinamentos corporativos)
e de tecnologia da informação (estruturação de canal de denúncias,
monitoramento contínuo, uso de big data, definição de red flags).167
Essa lista é meramente exemplificativa. Ademais, um conjunto
de hard skills não se aplica, do mesmo modo, a todas as carreiras do
compliance. Tratando-se de uma função tão variada e dinâmica, não há
receita prévia que resista ao primeiro confronto com as peculiaridades –
ou riscos – de cada caso. De toda maneira, há certos temas cujo estudo
é inevitável, como aqueles pertinentes à administração de empresas
ou aos tópicos de administração pública (good governance), conforme o
trabalho esteja relacionado a essa ou àquela esfera.168
Um exemplo: caso queira oferecer serviços de consultoria de
compliance para uma empresa, um advogado criminalista deve buscar, no
mínimo, conhecimentos sobre ética empresarial, governança corporativa,
gestão de riscos e técnicas de investigação e, eventualmente, deve
aprofundar os seus estudos sobre criminologia, direito penal econômico,
direito societário, direito administrativo sancionador, direito do trabalho,
direito ambiental, direito tributário, direito concorrencial, entre outras
áreas jurídicas que o caso concreto exigir.169
O advogado de compliance (AC) que atua dentro de uma corporação
(within corporation) deve dominar, também, toda a legislação e o
arcabouço regulatório do setor econômico da mesma, além, é claro, de
conhecer tudo sobre o seu negócio. Tem razão Patrick Henz ao dizer que
não faz sentido ser o maior especialista de compliance se você não tem
ideia sobre o business da sua empresa e de como ela ganha dinheiro.170
Eis, aqui, um ponto dos mais relevantes, uma vez que nenhum negócio
sobrevive sem lucro.171 Por isso, para que a empresa não seja asfixiada

167
OLIVEIRA; CARVALHO, 2018; MURPHY; LEET, 2007, 64. Cfr. ainda GIOVANINI, 2014,
p. 135.
168
Sobre o tema da good governance, ver CANOTILHO: 2008(2). No tocante à governança
corporativa, sugiro DI MICELI, 2018. Quanto ao assunto governança pública, indico
NOHARA, 2018 e NASCIMENTO: 2018.
169
Cfr. CARVALHO, 2018, p. 146-147.
170
HENZ, 2017.
171
Evidentemente, não estou me referindo às empresas que buscam o lucro a qualquer custo
como seu único objetivo, pois isso é um “fator criminógeno de primeira ordem” (ver
NIETO MARTÍN, 2018, p. 74-75). Sem dúvida, “o foco exclusivo nos resultados financeiros
é uma importante característica de uma cultura organizacional antiética” (tradução livre
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 61

por demasiados controles, é fundamental que haja uma sintonia fina


entre o departamento de compliance e o negócio central da empresa (core
business).172 Sem esse alinhamento, as organizações listadas entre as mais
éticas do mundo não alcançariam o sucesso financeiro.173
Entre outras finalidades, o AC deve conhecer muito bem o negócio
da empresa para: (i) identificar e gerir, adequadamente, os seus riscos,
(ii) elaborar as diretrizes, os processos e as ferramentas de compliance,
(iii) participar de reuniões estratégicas, (iv) compreender as necessidades
dos demais diretores e colaboradores, de modo a auxiliá-los em suas
respectivas áreas de atuação. Sem uma visão holística e interdisciplinar,
o AC mais atrapalhará do que ajudará a organização.
O objetivo, aqui, não esqueçamos, é que você se torne um advogado
de compliance protagonista. Por isso, como dizem os amigos espanhóis,
meta-se no negócio “de hoz y coz”, isto é, sem reservas, por inteiro.
De maneira adicional, o AC deve reunir todo o conhecimento
necessário para conduzir uma investigação minuciosa sobre a causa raiz de
um delito descoberto, de modo que o sistema de compliance seja revisado
e aprimorado para que desvios de conduta iguais ou semelhantes
nunca mais ocorram.174 A propósito, esse comportamento empresarial
pós-delitivo (reactive corporate fault) constitui um forte indicador da
cultura de integridade de uma instituição.175
Mas é preciso mais.
Fundamentalmente, o advogado de compliance (AC) deve ser
reconhecido, dentro da empresa, como um especialista confiável, a quem
todo o público interno possa recorrer para resolver um problema de
ética e compliance.176 Pense, por exemplo, em um ato que determinado
funcionário cogita praticar e que não esteja previsto nas políticas e
diretrizes da organização; ou, ainda, em uma conduta penalmente típica,
mas cuja ilicitude não esteja evidente aos olhos de um colaborador.

de CAMPBELL; GÖRITZ, 2014). (Ver ainda DI MICELI, 2019). Como bem diz Maria do
Céu Ribeiro (2014, p. 526), o “crime organizacional” “define-se em função dos objetivos
da organização, sendo a própria a propiciar um ambiente favorável à desviância, antes
mesmo das características individuais”. Não é dessas que falo, mas das muitas empresas
que misturam “a busca do lucro com a determinação de beneficiar a sociedade e lidar com
questões sociais por meio do que fazem” (tradução livre de BARON, 2015).
172
Nesse sentido: CAMPOS, 2017, p. 11; e SÁIZ PEÑA, 2015, p. 38.
173
Ver notas 3 e 4.
174
Cfr. MURPHY; LEET, 2007, p. 61.
175
NIETO MARTÍN, 2019.
176
HENZ, 2017.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
62 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

“Não importa quão fortes sejam seus valores, não se pode esperar
que os funcionários estejam naturalmente familiarizados com todas
as leis e regulamentos pertinentes ao seu trabalho.”177

Quaisquer áreas cinzentas devem ser dissipadas pelo AC através


de uma reunião solicitada ou, ainda, por meio de treinamentos dados a
determinados colaboradores, quando, então, o conteúdo de uma norma
complexa será esclarecido, os valores corporativos serão transmitidos e
o sistema de compliance será explicado, inclusive com comentários sobre
o funcionamento do canal de denúncia da empresa (com destaque para
a proibição de retaliação) e sobre as sanções disciplinares.178 179

“Como, mesmo nos melhores documentos, você pode encontrar


uma lacuna em potencial, é imperativo que o Compliance Officer
deixe claro ao funcionário que a empresa espera que ele cumpra
as palavras e o espírito da diretriz.”180

Ao ser visto pelos colaboradores como um especialista confiável,


o AC aumentará a probabilidade de os mesmos pedirem a sua ajuda
e orientação. O saldo de um contato direto e pessoal com o advogado de
compliance será altamente positivo em termos de motivação e aderência
dos funcionários ao sistema. Com o passar dos dias, esse público
perceberá, entre outras coisas, que o departamento de compliance não foi
criado unicamente para blindar a alta direção da empresa, mas para
o bem de todos.181
Ao mesmo tempo, para manter um nível contínuo de motivação e
engajamento do público interno ao sistema de compliance, o AC deve ser
visto por todos como um colega confiável,182 o que exigirá, em primeiro
lugar, que ele lidere pelo exemplo, praticando o que prega (walk the talk).
Será necessário, ainda, que o mesmo mantenha uma postura empática e

177
Tradução livre de TREVIÑO et al., 1999, p. 133.
178
Ver NIETO MARTÍN, 2018, p. 189-190.
179
Não é novidade que as normas tributárias brasileiras dificultam o trabalho dos profissionais
mais experimentados em temas tributários. O cenário é caótico (ver PAULA, 2009). Se
mesmo os experts têm dificuldade em compreender o direito tributário brasileiro, imagine
o risco de não conformidade que isso enseja aos demais públicos.
180
Tradução livre de HENZ, 2017. O itálico eu inseri, afinal, um robô não é capaz de compreender
e explicar o “espírito” de uma diretriz ou os valores por trás de uma lei (BOOCH, 2018, p.
42).
181
Ver NIETO MARTÍN, 2018 (3), p. 189-190.
182
HENZ, 2017.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 63

flexível, de modo que as pessoas saibam que podem contar com alguém
que as ouça, que busque compreender os seus problemas e que não
esteja predisposto a responder “não” para toda consulta. Qualquer
atitude que não seja amistosa e aberta ao diálogo repercutirá de forma
negativa para a efetividade do sistema.

“O líder do Setor de Compliance passará a ser um conselheiro


confiável dentro da organização. Isto será reflexo de sua postura
austera e concomitantemente flexível. Deverá ter atitude rigorosa,
ao perceber desvios de conduta, mas também amistosa, à medida
que procura ouvir diversos lados da questão a ele confiada.”183

Ora, no seu dia a dia, o AC lida com pessoas nos seus melhores
e piores momentos; afinal, todas elas são de carne e osso e têm preocu-
pações reais e, às vezes, assustadoras. Logo, todas as barreiras que
dificultem as interações interpessoais no trabalho do AC devem ser
reduzidas ou derrubadas, nomeadamente as de ordem cultural e
linguística. Daí que o AC deva aprender diferentes culturas e idiomas
caso ele atue em uma empresa multinacional e deva fazer reuniões,
treinamentos e workshops no idioma local.
Enquanto advogado de compliance, o que você faria se recebesse
uma ligação de um assustado colaborador júnior que temesse que seu
chefe estivesse prestes a fazer algo errado que também o envolvesse?
Imagine, ainda, que ele fosse uma das três pessoas em sua unidade
de negócios e que as outras duas estivessem envolvidas na atividade
suspeita. Seria uma situação potencialmente complexa de se resolver,
não é mesmo?
Pois bem. Essa situação realmente existiu e foi resolvida da melhor
maneira por Joe Murphy, um ser humano. É claro que o funcionário
júnior estava com um elevado nível de estresse, pois o medo o dominava
a ponto de impedi-lo de revelar o seu nome ou qualquer outra informação
que o identificasse – situação, aliás, muito frequente nesse tipo de caso.
Após ouvi-lo e buscar compreender o que o amedrontava, Murphy
imediatamente o acolheu, dando-lhe conforto e conselhos, o que reduziu
o seu nível de estresse e aumentou a confiança necessária para que as
perguntas certas fossem feitas e as respostas satisfatórias fossem dadas.
Ao final, o jovem funcionário percebeu que havia entendido mal alguns
assuntos envolvidos nesse caso e que, por isso, não tinha motivo algum

183
GIOVANINI, 2014, p. 113.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
64 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

para se preocupar. Ou seja: Murphy foi capaz de construir uma atmosfera


amistosa que terminou bem para todos.184 Esse é um exemplo de como
alguns conhecimentos de psicologia podem ajudar o AC.
Com todas essas qualidades – ou com todos os “quatro chapeús”,
como diria Wagner Giovanini, referindo-se às funções de “conselheiro”,
“facilitador”, “defensor” e “sensibilizador”185 do advogado de compliance –,
esse advogado pode, mesmo, “guiar as pessoas em direções que irão
melhorar a vida delas”186 e, consequentemente, da organização. O AC
pode integrar “estratégias de integridade” (L. Paine) às operações
cotidianas da empresa, de modo a aumentar a consciência dos agentes
internos sobre questões éticas e legais, prevenindo, com isso, ilícitos que
prejudiquem a todos.187

“As consequências de um lapso ético podem ser graves e de longo


alcance. As organizações podem rapidamente se envolver em um
emaranhado de processos judiciais que tudo consome.”188

Ao mesmo tempo, com tais competências, o AC pode empreender


ações que reconheçam e fortaleçam os valores dos colaboradores, fomentando
a “congruência de valor” necessária para que os mesmos se sintam
pertencentes e conectados à organização.189 É por isso que algumas empresas
possuem um programa de reconhecimento de comportamentos alinhados
aos seus respectivos códigos de conduta ou uma política de promoção
interna baseada no respeito aos seus valores.190 191

184
MURPHY; LEET, 2007, p. 19-20.
185
GIOVANINI, 2014, p. 355-358.
186
THALER; SUNSTEIN, 2009, p. 6.
187
A Coca-Cola trabalha contra o que chama de “viés inconsciente”, existente quando algum
colaborador pratica, por exemplo, um ato discriminatório ou racista sem se dar conta
do que está fazendo (BRAUN, 2018). Igualmente, a Dell faz treinamentos sobre “vieses
inconscientes” – como ressalta o Chief Diversity and Inclusion Officer, Brian Reaves – “para
deixar as pessoas atentas às decisões que tomam com base nas ideias preconcebidas que
têm inconscientemente. No ano passado, todos os executivos receberam o treinamento e
até 2021 todos os funcionários terão passado por ele. É uma maneira de envolver a força
de trabalho no tema da diversidade; afinal, todos têm vieses e precisam estar cientes de
suas escolhas” (REAVES, 2019, p. 51).
188
Tradução livre de PAINE, 1994.
189
Tradução livre de TREVIÑO et al., 1999, p. 135. Ver ainda HENZ, 2017.
190
Ver PAINE, 1994; TREVIÑO et al., 1999, 143; e NIETO MARTÍN, 2018, p. 166-167.
191
Referindo-se ao programa de ética da Martin Marietta Corporation (que é, hoje, a Lockheed
Martin), Lynn Paine (1994) afirma que “[t]he incentive compensation plan for executives makes
responsibility for promoting ethical conduct an explicit requirement for reward eligibility and
requires that business and personal goals be achieved in accordance with the company’s policy on
ethics. Ethical conduct and support for the ethics program are also criteria in regular performance
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 65

O importante é que, através de múltiplas e continuadas ações


gerenciais, o AC sedimente uma cultura corporativa baseada em valores
compartilhados, pois será isso que elevará o nível de comprometimento
dos funcionários com as aspirações éticas da empresa,192 além de unir
todos os elementos do sistema de compliance.193

“Os valores éticos moldam a busca de oportunidades, o desenho de


sistemas organizacionais e o processo de tomada de decisão usado
por indivíduos e grupos. Eles fornecem um quadro de referência
comum e servem como uma força unificadora em diferentes funções,
linhas de negócios e grupos de funcionários. A ética organizacional
ajuda a definir o que é uma empresa e o que ela representa.”194

Observe que não será através de qualquer estratégia gerencial


que o advogado de compliance terá sucesso na mobilização dos funcionários.
Para atingir esse escopo, importa ir além de um sistema meramente
legalista ou estritamente baseado na vigilância e na ameaça de sanções.195
É evidente que o AC aproveitará as valências desse modelo (legal
compliance program) – como as censuras aos comportamentos desviados,
sem as quais “o caminho não se completa e não frutifica”196 –, mas,
enquanto profissional protagonista, ele fundará um sistema que vise,
sobretudo, (i) definir e dar vida aos valores organizacionais, (ii) criar um
ambiente que reconheça e encoraje comportamentos eticamente sadios e (iii)
desenvolver um senso de responsabilidade compartilhada entre os funcionários;197
afinal, um sistema de compliance com essa abordagem (values-based) é,
comprovadamente, o mais efetivo.198

reviews”. Algumas empresas brasileiras condicionam o pagamento de bônus dos executivos


ao cumprimento de metas de compliance (ver GODOY, 2019).
192
TREVIÑO et al., 1999.
193
[L]a cultura corporativa de la entidade [...] representa la argamasa que une a todos los elementos del
sistema (NIETO MARTÍN, 2019[2]).
194
Tradução livre de PAINE, 1994. (O itálico é meu.)
195
Existem duas formas, basicamente, de conceber o Compliance. Uma primeira, baseada na
supervisão, na vigilância e no controle e outra baseada na afirmação de determinados valores
éticos, na qual, ainda que logicamente existam controles e mecanismos de supervisão, estes
a sua vez estão limitados e devem ser coerentes com os valores que a empresa promova
(NIETO MARTÍN, 2018[2], p. 142). Ver também SOUSA, 2019, p. 123 e segs.
196
PATRÍCIO, 2018.
197
Tradução livre de PAINE, 1994 e LAUFER, 1999, p. 1393.
198
Ver a pesquisa feita por TREVIÑO et al., 1999. Ver, também, WELLNER, 2005.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
66 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Devo repetir o que eu disse acima: todos nós gostamos de


trabalhar em uma empresa com valores com os quais nos identificamos,
em uma organização onde somos respeitados, inspirados, e não apenas
vigiados. As corporações que acendem a chama dos valores e a mantêm
acesa através de “estratégias de integridade” produzem resultados
relevantíssimos, pelo grau de motivação e engajamento que despertam
em seus colaboradores. Uma vez identificados com a empresa, esses
caras passam a ser os guardiões da integridade organizacional, é dizer,
passam a ser os primeiros defensores da organização contra problemas
éticos ou legais.
Esta é a pegada do sistema de compliance baseado em valores: promover
a autogovernança pessoal do público interno da organização, de modo que, por
exemplo, um colaborador – como aquele funcionário júnior orientado
por Joe Murphy – questione os dirigentes caso algo pareça estar errado.
Em um empresa com essa estratégia, “a necessidade de obedecer à lei
é vista como um aspecto positivo da vida organizacional, ao invés de
uma indesejada restrição imposta por autoridades externas”.199
Além disso, ao se importarem com a organização, os funcionários
passam a ter mais disposição para relatar desvios comportamentais à gerência.
Daí que Adan Nieto Martín diga que a denúncia interna (whistleblowing)
tenha um significado totalmente distinto quando inserida dentro de um
sistema de compliance baseado em valores, já que ela “se converte e uma
demonstração de ato cívico corporativo”.200 201

“Um programa de ética ou conformidade não pode ser eficaz a


menos que os funcionários estejam dispostos a relatar violações
à administração.”202

Ocorre que de nada valerá o emprego das multiabilidades do


advogado de compliance para conquistar a confiança e o respeito dos funcionários
se esses stakeholders não perceberem igual comprometimento dos líderes
máximos da organização com os temas da ética e da legalidade. O que
eu quero destacar é que a efetividade do sistema de compliance dependerá,
sempre, da percepção dos funcionários acerca da veracidade, intensidade
e assiduidade do envolvimento da liderança executiva e dos gerentes

199
Tradução livre de PAINE, 1994. Neste mesmo sentido, ver TREVIÑO et al., 1999.
200
NIETO MARTÍN, 2013, p. 34.
201
Sobre o tema whistleblowing, ver GARCÍA MORENO, 2018 e CARVALHO; ALVIM, 2018.
202
Tradução livre de TREVIÑO et al., 1999, p. 134.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 67

sênior com o sistema.203 E, convenhamos, ninguém é parvo a ponto de


não detectar o desleixo ético dos “chefões”. Como diz Alain Casanovas
Ysla, o pessoal relacionado ao compliance sabe perfeitamente quando
não existe tone from the top – ou seja, quando não há tom ético desde o
topo –, e essa conclusão também é alcançada pelos stakeholders (internos
e externos), pois “o tone from the top sempre deixa rastro, em forma de
fatos e documentos”.204
Você acredita que os trabalhadores terão disposição para falar
de problemas organizacionais ou para denunciar, internamente, uma
violação ética em uma empresa que exija obediência inquestionável à
autoridade – “apenas faça o que eu digo e não faça perguntas” – ou cujo
presidente prefira censurar o denunciante de um delito corporativo ao
invés de punir o delinquente?
Vale levar essa reflexão para um plano que nos toque mais de
perto.
Qual das seguintes famílias você acha que melhor superará os
seus problemas: a família cujo pai escolhe punir a filha que lhe revelou o
desvio desejado e cometido pela irmã ou a família cujo pai incentiva que
a filha lhe entregue más notícias sobre a conduta da caçula, reprimindo
eventualmente esta, e não aquela?
Quem não se lembra da declaração de Marcelo Odebrecht à
Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras em setembro de 2015?
Naquele momento, logo após a Operação Lava Jato atingir grandes
empreiteiras, como a própria Odebrecht, Marcelo, com seu sorriso
amarelo, afirmou que, “entre esses valores [...] lá em casa, quando as
minhas meninas tinham uma discussão [...] eu talvez brigasse mais com
quem dedurou do que com aquel[a] que fez o fato”.205 Para este senhor,
portanto, o desvalor está na ação de “dedurar”. O resultado disso, no
que me interessa aqui, é que a solução de um problema individual
pode, muitas vezes, ser buscada fora de casa, e não na mesa de jantar,
entre familiares.

“Líderes que não escutam acabarão sendo cercados por pessoas


que não têm nada a dizer.”206

203
Um CEO deve agir de acordo com os valores éticos da empresa e demonstrar esse
compromisso em suas ações. A equipe executiva sênior precisa assumir um compromisso
semelhante (tradução livre de VOLKOV, 2017).
204
Tradução livre de CASANOVAS YSLA, 2013, p. 9-10.
205
Disponível em: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2015/09/marcelo-odebrecht-fica-
calado-na-cpi-da-petrobras.html.
206
Tradução livre de Andy Stanley, citado por MALHOTRA, 2019.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
68 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

O que passa é que, quanto mais facilmente uma empresa falar


sobre os seus problemas através de instâncias ou mecanismos internos
criados para esse fim, mais ela poderá resolvê-los internamente.207 Por
isso, um dos principais componentes de um sistema de compliance será,
sempre, o canal de denúncias da instituição. Entretanto, esse mecanismo
não terá qualquer valia se os funcionários não estiverem dispostos a
usá-lo, seja porque não se importam com a organização, seja porque
têm medo de retaliação por serem considerados os “dedos-duros”
por quem não dá a menor importância aos valores da ética, da legalidade,
da verdade e da transparência. Nesses casos, é muito provável que eles
façam as suas denúncias por meio de canais externos – como os órgãos
reguladores, a polícia judiciária, o Ministério Público ou a imprensa –, o
que aumentará o número de ações judiciais contra a empresa, bem como
os custos de liquidação de litígios, sem falar nos custos reputacionais.
“Vai arranjar sarilhos”, diria uma querida amiga do além-mar. Ou seja:
caso não resolva os seus problemas dentro de casa, a organização se
envolverá em uma grande confusão com impacto financeiro.
Com os sinais trocados, cabe dizer que existe correlação entre mais
denúncias internas e melhores resultados financeiros. Essa correspondência
já era especulada pelos profissionais de compliance, mas, hoje, está
empiricamente provada por pesquisa recente da Universidade George
Washington e da Universidade de Utah.208
Dito isso, devo adiantar o passo, já que a efetividade e a eficiência
de um sistema de compliance dependem de outras ações que exigem
muito conhecimento técnico, habilidades e atitudes do AC.
De qualquer forma, independentemente da direção em que se vá,
é preciso não perder de vista que o sistema de compliance e o seu ambiente
devem estar ligados por uma relação de input-output. Tudo se conjuga
da seguinte maneira: (i) o líder máximo da organização, (ii) o advogado de
compliance e (iii) o departamento de compliance devem ser reconhecidos,
respectivamente, como patrocinador do sistema, consultor confiável e
instância aberta e responsiva. Só assim o funcionário terá motivação para
expressar sua opinião acerca de algum desvio, apresentar ideias para
um treinamento, buscar aconselhamento a respeito de um dilema ético
ou denunciar algum crime corporativo; enfim, somente após confiar na
credibilidade do sistema de compliance, o funcionário interagirá com o DC,

207
KELLY, 2018.
208
More internal whistleblower activity, they found, correlates to fewer material lawsuits against the
company, lower litigation settlement costs, fewer whistleblower complaints to outside regulators,
less potential for earnings management, and even higher return on assets (KELLY, 2018).
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 69

levando-lhe informações relevantes (inputs). Com elas em mãos – em seu


provedor –, o advogado de compliance terá condições de otimizar, entre
outras coisas, o conteúdo do código de conduta, da comunicação e dos
treinamentos (output). Essa relação é fundamental para manter o sistema
de compliance “dinâmico e sensível às necessidades dos funcionários”.209

“As organizações precisam criar oportunidades para os funcionários


comuns interagirem direta e regularmente com os gerentes sênior
sobre questões de ética, de modo que o gerenciamento da ética
organizacional seja baseado em informações precisas.”210

Aqui entra em cena um relevantíssimo fator de sucesso do


sistema: a sua legitimidade. Isso implica, necessariamente, a abertura
de vias de participação dos funcionários tanto na confecção e execução
quanto no aprimoramento dos mecanismos de compliance, de modo
que as suas preocupações e valores sejam considerados em todas essas
etapas (stakeholder democracy). A falta de legitimidade revela, no mais
das vezes, um sistema de fachada (window dressing compliance system)
desenhado com base apenas nos interesses da alta gerência ou, dito da
forma que se pretende mais clara, para que a responsabilidade pelos
desvios cometidos recaia sobre os ombros dos funcionários, livrando
o pessoal do topo.211
Veja o que diz Adán Nieto Martín, com todo o seu conhecimento
e experiência no assunto:

A participação dos empregados, de todos os níveis, no sistema de Compliance


é uma das peças chave para seu êxito. A melhor forma de tornar efetiva
a autorregulação é utilizar o compromisso social e os valores que os
empregados “trazem de casa”. Um programa de compliance que não se
conecta com as preocupações de seus empregados perde a oportunidade
de aproveitar um potente motor de motivação para cumprir com a
legalidade.212

Com efeito, a conexão com os valores dos funcionários deve ocorrer


desde a etapa de criação do documento central do sistema de compliance:
o código de conduta. Você há de concordar que a participação dos

209
Tradução livre de TREVIÑO et al., 1999, p. 134.
210
Tradução livre de TREVIÑO, 2001.
211
Ver NIETO MARTÍN, 2018(2), p. 144-145.
212
NIETO MARTÍN, 2018(2), p. 146. Os destaques são do autor.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
70 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

destinatários do código na sua elaboração o tornará muito mais efetivo


do que outro feito apenas pela direção da empresa; afinal de contas,
além de uma melhor compreensão de suas normas, esse público terá
muito mais disposição para cumpri-las ao acreditar em sua legitimidade
e valor ético (internalização).213
Imagine, então, se o advogado de compliance puder criar um código
de conduta digital e interativo, onde os funcionários possam pesquisar,
explorar de todo jeito e fazer perguntas sobre temas que mais lhes
interessem. Essa ideia foi sugerida por um dos palestrantes do último
Global Ethics Summit, realizado em Nova York nos dias 13 e 14 de março
de 2019,214 e ela faz todo o sentido, porquanto novos dados serão gerados
e disponibilizados ao DC (inputs), o que contribuirá para que melhores
decisões sejam tomadas (outputs). Um exemplo: ao interagirem com
o código e gastarem mais tempo na busca de diretrizes sobre assédio
moral e sexual (inputs), os funcionários poderão demonstrar o que mais
lhes aflige no momento, produzindo informações cujo conhecimento
pelo AC deverá originar comunicações e treinamentos mais focados nesse
tema (outputs).
Em termos produtivos, não se haverá de duvidar do resultado
positivo desse intercâmbio de informações. O advogado de compliance deve,
mesmo, usar toda a sua criatividade e, claro, a sua expertise em tecnologia da
informação para viabilizar essa troca. É tolice não utilizar essa ferramenta
quando ela é capaz de impulsionar análises em massa que identificam
tendências de riscos muitas vezes não percebidas pelos olhos humanos.
Nesse sentido, basta você pensar que, do gerenciamento dos dados
gerados a partir das denúncias internas (case management data), podem
surgir queixas sobre uma situação nunca antes vista na organização,
ou seja, sobre um problema que não foi detectado anteriormente na
avaliação de riscos e que não foi inserido, por esse motivo, em seu

213
Como já terá ficado claro, sigo na trilha dos autores – como Elliot Aronson, Kenneth Arrow,
Tom Tyler, Lynn Paine, Eduardo Giannetti e muitos outros – que afirmam que não é
somente a ameaça de sanção que motiva uma pessoa a obedecer as normas de conduta. Na
prática, o que se vê é uma pluralidade de motivos, dentre os quais destaco a internalização
(E. Aronson), isto é, a adesão à norma a partir de uma reflexão ética sobre o seu conteúdo.
Aqui, a credibilidade importa para o cumprimento da norma (ARONSON, 1973, p. 32). As
pessoas cumprem uma lei porque acreditam que ela é boa. Você obedeceria o limite de
velocidade previsto em lei ao dirigir em uma estrada perigosa sem radares e sem agentes
fiscalizadores? Obedeceria, não é mesmo? Há, também, quem cumpra as normas de conduta
de uma empresa consciente porque acreditam que elas sejam boas não só para o público
interno da organização (normas de segurança e saúde do trabalho, por exemplo), como,
igualmente, para as pessoas de fora (inseridas na “esfera de influência” da instituição).
214
KELLY, 2019(2).
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 71

código e políticas internas. Isso demonstra como a análise quantitativa


de dados pode inspirar mudanças qualitativas no sistema de compliance
e, consequentemente, na cultura corporativa.215
Tamanha é a relevância dos dados para a efetividade do sistema
que o AC gasta cada vez mais tempo pensando em como coletá-los.216
No momento da definição da estratégia de comunicação, lá estará ele
a estimular a participação dos funcionários que se pretende alcançar.
Quando da medição do clima organizacional, lá estará ele a conectar-se
com determinado público para colher insights. Na fase da investigação,
lá estará ele a usar sua credibilidade social para extrair o máximo de
informações dos colaboradores. Em boa verdade, o trabalho de captação
de insumos é ininterrupto e se estende por todo o ciclo vital do sistema
de compliance, porque, à medida que ele avança e as vias de participação
são abertas, “os acontecimentos vão se desenrolando, as informações
emergem e colocam-se à disposição para serem trabalhadas”.217
Acerca da etapa de investigação, preste atenção no que diz o
advogado de compliance da Dell Inc., uma das empresas mais éticas do
mundo, segundo a Ethisphere:

Descobrimos que nosso trabalho de investigação funciona melhor


quando os nossos funcionários estão conversando conosco e sentem que
podem falar conosco, e que as coisas são feitas a partir das informações
que nos dão.218

Note que a cooperação dos funcionários com o advogado de compliance


decorre do clima de confiança existente entre os mesmos, ou seja, da
confiança certamente conquistada através de muitas ações gerenciais
do AC e, sobretudo, de contato pessoal entre ambos. A confiança promove
a participação, já disse Robert Putnam,219 e quanto mais os funcionários
participam do sistema e percebem que o seu envolvimento melhora
as decisões da empresa, mais confiança e autorresponsabilidade são
geradas.

“A falta de confiança leva ao medo e à tentação, fácil e sedutora,


de nada fazer, ou de tudo bloquear, para que nada aconteça e,

215
KELLY, 2019(2).
216
KELLY, 2019(2).
217
GIOVANINI, 2014, p. 300.
218
Tradução livre de McLAUGHLIN, 2015. O itálico é meu.
219
PUTNAM, 1996, p. 180. Nesse mesmo sentido: KLIKSBERG, 2002, p. 28.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
72 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

assim, para que – aparentemente – o nada decisional equivalha a


um nada de responsabilidade.”220

Tome-se como exemplo hipotético a Empresa XY, que, após se


envolver em um grande escândalo de corrupção, decide virar a página
de sua história através de uma profunda transformação cultural. Esse
objetivo é posto em prática com a participação de alguns funcionários no
desenvolvimento do sistema de compliance. Chegado ao momento da
contratação de uma nova empresa fornecedora, o AC realiza uma due
diligence da mesma e passa a saber que ela foi sancionada por violações
ambientais, isto é, por uma infração a um dos principais valores
previstos no novo código de conduta da XY: a sustentabilidade (em
seu pilar da proteção do meio ambiente). “Fazia sentido contratar essa
fornecedora?”, indaga o advogado de compliance diante de determinados
colaboradores em um treinamento, após a decisão da empresa de não
avançar em tal contratação. “Mas ela tinha o melhor preço”, contesta
algum funcionário ainda influenciado pela cultura anterior.
Agora, imagine que a XY participe de processos de licitação e
que o seu novo código a proíba de fazer convites ou de dar presentes a
agentes públicos. Imagine, ainda, que, na iminência da realização dos
Jogos Olímpicos em outro país, empresas do mesmo setor econômico
comecem a oferecer passagens aéreas aos membros do governo,
mantendo uma “prática tradicional” antes cultivada pela XY. E assim
tem início o diálogo entre dois dos seus funcionários:
“Olhe, os nossos concorrentes começaram a oferecer passagens
ao governo. Nós não faremos o mesmo?”, pergunta um diretor. “Não,
não faremos”, responde o gerente sênior. “Mas sempre fizemos isso!
Ademais, todos o fazem e a legislação deste país autoriza essa prática.
Se é legal, é ético!”, retruca o primeiro. Sabendo do ocorrido, o advogado
de compliance decide agendar um treinamento para o pessoal de alguns
setores (os mais expostos a riscos no trato com o poder público) visando
esclarecer o motivo pelo qual a empresa decidiu romper com essa
“prática tradicional” (business as usual).
Logo na abertura do treinamento, a presidente da empresa recorda
outra decisão por ela tomada, meses antes, quando da inauguração das
operações internacionais: a de cumprir as políticas de direitos humanos
da empresa apesar de a legislação de alguns países permitir a infração
desses direitos. Na sequência, o AC pede a palavra e complementa:

220
PATRÍCIO, 2019.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 73

“De um ponto de vista puramente legal, nós não violaríamos qualquer


lei ao dar passagens para os governantes irem às olimpíadas. Porém, o
foco aqui é outro. Apenas porque essa prática é ‘tradicional’ e legal não
significa que ela é ética. A partir de agora, dia após dia, nós andaremos
juntos pelo melhor e mais seguro caminho, pelo caminho sem fissuras,
pelo caminho da integridade. Isso é o que justifica a decisão de não
pagarmos mais passagens ao governo”. É nesse momento que entra
em cena Enrico, um dos funcionários que participaram da elaboração
do novo código, dizendo: “Faz tempo que muitos de nós esperávamos
decisões como essa. Parabéns, senhora presidente! Caminharemos
juntos com a senhora”.
Como refere Michael Volkov,221 uma cultura ética depende não
somente de condutas e decisões ética diariamente empreendidas,222 como
também de uma ampla divulgação e explicação das mesmas aos funcio-
nários, tanto para conscientizar uma parcela dos mesmos, transmitindo
valores e anulando as razões por eles usadas para justificar determinados
comportamentos desviados (técnicas de neutralização),223 quanto para
reforçar esses valores junto aos mais conscientes e participativos,
aumentando, nesse caso, o clima de confiança recíproca.
A identificação que Enrico demonstrou ter com a (nova) XY, após
ser informado pela sua presidente e pelo advogado de compliance sobre o
rumo da empresa, pode bem representar o senso de propriedade – ou
espírito de dono – que inúmeros trabalhadores reais têm pelas instituições
onde atuam. São pessoas que se orgulham de pertencer às mesmas e que
comunicam confiança e felicidade no trabalho, influenciando muitos
dos colaboradores que as rodeiam. Naturalmente, elas comentam sobre
as experiências proveitosas que tiveram em suas interações com o AC
e conversam com funcionários que não participaram de determinadas
reuniões e treinamentos, levando a eles informações sobre as decisões
éticas tomadas pela empresa, ou seja, são pessoas que melhoram a

221
VOLKOV, 2017.
222
Pensando, precisamente, no comportamento diário e nas tomadas de decisão das pessoas
e das organizações, Leo Huberts prefere diferenciar a ética da integridade. Veja: “‘Ética’
traz mais conotações filosóficas e intangíveis; a integridade parece mais preocupada com o
nosso comportamento cotidiano e com a tomada de decisões” (tradução livre de HUBERTS,
2014, p. 1). Para ele, a integridade “é a qualidade de agir de acordo ou em harmonia com
os valores, normas e regras morais relevantes” (tradução livre de HUBERTS, 2018, p. 3).
Para um posicionamento igual a este, ver ZENKNER, 2019, p. 46.
223
Um exemplo de justificativa: não me resta outra opção, se quero fazer negócios com o
Estado, tenho que oferecer um benefício aos agentes públicos, seja em forma de presentes,
seja em forma de dinheiro. Sobre essas “técnicas”, ver NIETO MARTÍN, 2018, p. 70 ss.,
NIETO MARTÍN, 2013(3), p. 191 e DIAS; ANDRADE, 1997, p. 235 ss.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
74 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

imagem da organização e do departamento de compliance no ambiente


interno. Somada às – e potencializada pelas – ações estratégicas desse
departamento (como as iniciativas de endomarketing e a gestão dos
embaixadores), essa atuação dos colaboradores gera um impacto muito
positivo no processo de conscientização ética conduzido pelo AC.
Como se vê, apesar de as possibilidades tecnológicas jogarem
a favor, o fator humano é indispensável para se fomentar uma cultura
de valores, e assim o é a informação, enquanto razão determinante da
qualidade das relações interpessoais dentro de uma empresa.
Nesse sentido, compreende-se que Adán Nieto Martín considere
a educação e o treinamento como componentes fundamentais do sistema de
compliance baseado na ética,224 até porque, segundo o professor, eles “são,
provavelmente, o elemento chave na participação dos empregados”.225
Esse pilar do sistema é tão importante que Adán Nieto afirma que quanto
mais ele seja eficiente, menos necessários serão outros tipos de controle.226 Tudo
isso se justifica em razão do seu objetivo maior: a criação de uma cultura
de ética e respeito. “[O]nde existe uma correta cultura corporativa – diz
ele –, não resulta tão necessária a implantação de controles internos.”227

“O treinamento é tão necessário quanto um mapa rodoviário em


uma região desconhecida. Por que deixar que seu pessoal se perca,
quando muni-lo de informações o levará aonde ele precisa ir? Dar
às pessoas a melhor informação possível fará com que elas cheguem
a seu destino com rapidez, precisão e orgulho.”228

De fato, ainda que haja vários outros objetivos do programa de


educação e treinamento de compliance – alguns já mencionados acima –,
a promoção de uma cultura de ética e respeito é o que aparece no topo
das prioridades das empresas submetidas a uma pesquisa global feita
recentemente, a qual demonstrou, entre outras coisas, que esse programa
pode ajudar a aumentar a produtividade, bem como a atrair e a manter
as melhores pessoas na organização,229 o que não surpreende, uma vez

224
NIETO MARTÍN, 2018, p. 189.
225
NIETO MARTÍN, 2018, p. 146.
226
NIETO MARTÍN, 2018, p. 189.
227
NIETO MARTÍN, 2018, p. 96-97.
228
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 47.
229
NAVEX GLOBAL, 2018, p. 7-9.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 75

que “a cultura está para o recrutamento assim como o serviço está para
os clientes”.230 231
Como já terá ficado claro, para que o sistema de compliance baseado
em valores seja efetivo, o mais importante é que ele seja desenvolvido
“de pessoas para pessoas”.232 Isso faz especial sentido no programa de
educação e treinamento, sobretudo no início da sua execução, quando se
impõe uma comunicação presencial da alta liderança da organização, tal
como no exemplo hipotético citado. Algo com tamanha relevância exige
um encontro face a face dos líderes da empresa com os colaboradores.
E vou além com Alfred Rosa, advogado de compliance da Google: em
iniciativas de compliance, os líderes de uma organização devem participar
pessoal e apaixonadamente.233

“Não podemos considerar o tempo gasto com os funcionários


como uma interrupção. É a coisa mais importante que fazemos, e
nunca faremos o bastante.”234

É verdade que as operações da empresa não podem parar a


todo instante para que uma atividade do departamento de compliance
seja realizada, tampouco a liderança executiva e os gerentes seniores
podem deixar de atender as demandas mais relevantes da empresa, em
determinado momento, para comparecer pessoalmente aos treinamentos
de compliance. Logo, em algumas situações, esses caras terão de participar
através de treinamentos online, por exemplo. Tudo dependerá da fase
de evolução do sistema, dos objetivos perseguidos, da importância do
tema, dos riscos envolvidos, do público-alvo, entre outros motivos.235
O que não pode ocorrer é o uso irrestrito e irracional de ferramentas
tecnológicas nas sessões de treinamentos, pois isso aumentará “o ‘fosso’
de contacto direto e pessoal” entre as pessoas da base e as pessoas do
topo, impedindo a socialização entre as mesmas e, consequentemente,
a difusão mais efetiva dos valores da empresa.236

230
Bobby Herrera citado por GALLO, 2017, p. 44.
231
Veja quais objetivos despontam entre os três primeiros da pesquisa: criar uma cultura de
ética e respeito (72%), cumprir as leis e regulamentos (64%) e prevenir futuros problemas
ou desvios de conduta (57%) (NAVEX GLOBAL, 2018, p. 20).
232
CODIGNOTO; VALERIANO, 2018.
233
ROSA, 2015.
234
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 10.
235
Ver GIOVANINI, 2014, p. 300.
236
RIBEIRO, 2014, p. 527.
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76 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Na realidade, em um ambiente de abertura, confiança e cooperação –


marca característica do sistema de compliance baseado em valores –, a
disseminação da cultura ética ocorre, sistematicamente, em toda parte da
empresa e a qualquer momento, seja diretamente, através do trabalho
de conscientização e convencimento feito pelo advogado de compliance em
sua interação contínua com o pessoal do topo, do meio e do “chão de
fábrica”, seja indiretamente, por meio da multiplicação de conhecimento
levada a cabo pelos chamados embaixadores do compliance (o Enrico pode
ser um bom exemplo), os quais, nessa função específica, atuarão sob a
gestão do AC, como uma equipe que, na linha de frente, terá melhores
condições de avaliar as necessidades de treinamentos, além de trabalhar
“para fazer do aprendizado uma parte da vida cotidiana”.237

“As culturas corporativas se baseiam em confiança, comunicação,


cooperação e trabalho de equipe.”238

No entanto, a sessão de treinamento é, certamente, o espaço e o


momento mais adequados para o advogado de compliance pôr em prática
todas as multiabilidades que o tornam protagonista. Na verdade, a
sua performance começa já na etapa do planejamento das iniciativas de
treinamento, quando, por meio da análise de riscos – “um elemento
básico e imprescindível dos programas de Compliance”239 –, ele define
o público-alvo e os temas a serem explorados em cada sessão.240

Um exemplo de como o uso da tecnologia pode auxiliar o advogado


de compliance na execução do programa de educação e treinamento:
através do cruzamento de dados pertinentes às despesas de viagem,
local de trabalho, clientes atendidos, fornecedores contratados etc.,
o AC terá melhores condições de identificar quem deve ser
treinado e quais temas devem ser abordados. “Em vez de treinar
10.000 pessoas durante meia hora sobre anticorrupção, presentes e
entretenimento, os dados podem dizer a você quem são as 70 pessoas

237
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 49.
238
KERZNER, 2016, p. 337.
239
NIETO MARTÍN, 2018, p. 181.
240
Como referem Roberta Codignoto e Giovana Valeriano (2018, p. 60), “deve-se priorizar
quem receberá a formação de acordo com a maior exposição aos riscos avaliados ao longo
da implantação e manutenção do programa de Compliance. Como exemplo, uma empresa
que participa de processos de licitação com órgãos públicos, deve priorizar as áreas de
maior risco, tais como áreas de vendas, contratos, regulatória, pagamentos ou quaisquer
outras áreas que tenham interação com os contratos administrativos”.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 77

que, em razão do que gastam, do local onde moram, com quem


trabalham e outros fatores, poderiam realmente se beneficiar de
uma sessão de duas horas. ‘Vamos priorizar essas pessoas, porque
os dados nos dizem que elas são o maior risco para nós’, disse
McLaughlin.”241

Após a análise de riscos, tem início, então, a sessão propriamente


dita, vale dizer, a sessão em que os holofotes são ligados sobre o AC
(i) quando, através do uso da técnica de storytelling, ele convence os
funcionários a acreditarem que a ética é o melhor caminho para o bem de
todos; (ii) quando, ao comunicar-se com qualidade e atitude positiva sobre
os benefícios do sistema de compliance, ele influencia os colaboradores a
fazerem algo que não fariam antes de participarem do treinamento; (iii)
quando, ao escutar com empatia um funcionário cético e questionador,
ele formula as melhores respostas para persuadi-lo a sugerir uma
solução alternativa para uma situação difícil ao invés de só apontar
problemas;242 (iv) quando, ao proporcionar uma sessão de cinema com
pipoca aos funcionários, mostrando vídeos em que os mesmos se veem
dizendo como definem um bom líder, ele dá destaque ao que esses
stakeholders valorizam, estimulando, assim, o sentimento de pertencimento
e a autogovernança;243 (v) quando, ao solicitar aos colaboradores que
analisem e comentem um texto sobre o tema do treinamento, ele estimula
a participação, o trabalho em equipe e o compartilhamento de dúvidas que
eles têm sobre o assunto;244 (vi) quando, ao oferecer aos colaboradores
um treinamento baseado em jogos (gamification), ele incita a vontade
de aprender nos mesmos;245 (vii) quando, ao abordar com humor um
tema difícil, ele consegue fazer com que os colaboradores comprem a
mensagem do compliance (“humor vende compliance”).246

241
CASLER, 2015.
242
Não é incomum que apareçam pessoas com “perfis difíceis”, como o “ressentido”. “Ele
é o cético com relação às questões éticas e de compliance e não quer saber de aprender o
conteúdo do treinamento.” André Castro Carvalho (2019, p. 105) propõe algumas ações a
serem tomadas pelo treinador diante de funcionários “difíceis”.
243
Ver ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 46-60.
244
Segundo André Castro Carvalho (2019, p. 93-94), “o benefício do treinamento depende da
participação de cada um. Uma baixa participação trará um resultado menos satisfatório.
Por conseguinte, cada indivíduo retira o proveito do treinamento de acordo com o seu nível
de engajamento”.
245
Ver ANTHONY, 2015 e CASLER, 2015.
246
Tradução livre de MCLAUGHLIN, 2015.
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78 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

Há, sem dúvida alguma, uma grande variedade de técnicas,


métodos e modelos de educação e treinamento dos quais o advogado de
compliance pode e deve lançar mão para melhor influenciar o comporta-
mento dos mais diversos públicos (funcionários do “chão de fábrica”,
da administração intermediária, da alta administração, sem falar dos
agentes externos).247 Com todo o seu conhecimento, habilidades e atitudes,
o AC saberá definir, por exemplo, quando o treinamento terá de ser
online ou presencial. A julgar especialmente pelas suas habilidades sociais
(diplomacia) e pelos benefícios da socialização para o programa, os
treinamentos presenciais dominarão grande parte da cena de aplicação
do sistema de compliance baseado em valores.248

“Apenas 2% das pessoas mudarão seu comportamento tendo


como base uma mensagem mediada (pôster brochura, vídeo,
web). Os outros 98% mudam seu comportamento com base em
uma conversa informal, face a face, com alguém que conhecem e
em quem confiam.”249

No final do último capítulo (Motivo 7), fiz questão de realçar as


habilidades sociais como um dos principais atributos de um profissional
insubstituível, precisamente pela dificuldade de automatizá-las. No
campo do compliance & ethics, como tenho demonstrado até aqui, essa
competência é especialmente importante. Murphy e Leet são claros
quando afirmam que “muito do trabalho de Compliance é político”,
uma vez que “as coisas são feitas socialmente nas organizações, e você

247
Para mais esclarecimentos sobre esse tema, ver CARVALHO, 2019; LAMBOY, 2017;
GIOVANINI, 2014, p. 291 e segs.; e CODIGNOTO; VALERIANO, 2018.
248
Como diz Christian de Lamboy (2017, p. 603), o treinamento eletrônico e online é adequado
para as sessões com um grande número de funcionários e normalmente objetiva aprofundar
ou reforçar “aspectos específicos ou requisitos alterados na sequência dos treinamentos
presenciais”. “Como uma regra básica – continua (LAMBOY, 2017, p. 605) – recomenda-
se o treinamento presencial em: (i) Contextos de aplicação de compliance que, de acordo
com a análise de risco específica, envolvem riscos particularmente elevados, bem como
possíveis danos para a instituição; (ii) Campos de aplicação de compliance que tenham
requisitos específicos de psicologia ou de aplicação, tipicamente em relação a dilemas
para os funcionários; (iii) Campos de compliance que têm um efeito particularmente forte
e duradouro na cultura corporativa e de conformidade; (iv) Funcionários cujas tarefas
incluem riscos de compliance maiores – por exemplo, nas unidades de compras, vendas,
contabilidade ou outras unidades relacionadas com o financiamento; (v) Fundamentalmente
para funcionários seniores como membros da Alta Administração; (vi) Membros da
administração média e inferior como multiplicadores de compliance; (vii) Funcionários
com autoridade de assinatura e poderes especiais de ação”.
249
LARKIN, 2013, p. 11.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 79

precisa saber como obter resultados com as pessoas”.250 Ser um bom


“político” no treinamento – ou diplomata, como prefiro dizer – ajuda o
AC a sensibilizar profundamente os funcionários, a partir da revelação
do propósito maior por trás de cada ação, a ponto de convencê-los a
colaborarem, de modo voluntário, com o departamento de compliance;
ajuda a tocar o coração dessas pessoas pela demonstração do bem que
elas podem fazer a si mesmas, à empresa, à comunidade, à sociedade e
ao país.251 No entanto, se a chave para o sucesso é o coração, “o caminho
para o coração passa pela cabeça, e o storytelling é o veículo para chegar
lá”.252 Uma boa história contada pelo AC pode criar conexões estreitas
com os funcionários, pode gerar emoções tão fortes nos mesmos a ponto
de engajá-los ao programa de treinamento e ao sistema de compliance.
“É da natureza humana conectar as próprias emoções a uma história”,
sublinha Richard Bistrong.253 Não é à toa que muitos advogados de
compliance investem em poderosas histórias para motivar, persuadir ou
ser lembrado pelos colaboradores.254
Partindo do princípio de que é impossível ser experto em tudo,
a boa habilidade social do AC pode ajudá-lo, ainda, no seu processo de
aprendizado, já que, a cada sessão de treinamento, ele terá uma nova
oportunidade de aprender com aqueles que treina. É claro que isso
só ocorrerá desde que ele seja dotado de duas outras competências:
humildade e capacidade de aprendizado contínuo. Não há como fugir disso,
dizem Murphy e Leet, já que, para ser um treinador eficaz, o AC precisa
“conhecer o seu público e o que eles fazem”. “Então, realizar uma sessão
de treinamento apenas para pessoas de vendas significa que você tem
a oportunidade de aprender o que a equipe de vendas deve conhecer,
e experimentar o que ela experimenta. Cada grupo que você treina traz
uma chance de um novo aprendizado sobre o negócio.”255

250
Tradução livre de MURPHY; LEET, 2007, p. 35.
251
Isso passa pela transformação de funcionários obedientes (obeyers) em crentes (believers) no
sistema de compliance. Ver CASLER, 2015 e GIOVANINI, 2014, p. 357.
252
GALLO, 2017, p. 61.
253
BISTRONG, 2018.
254
“É comprovado que o uso de histórias e exemplos facilita o processamento e a retenção de
informação” (CARVALHO, 2019, p. 86). A Dell, por exemplo, possui um banco de diferentes
histórias para cada pasta temática (ver CASLER, 2015). Mas não é só a técnica do storytelling
que provoca esses efeitos positivos. A técnica do gamification também é deveras benéfica.
“É fato que as pessoas retêm melhor o que aprendem por meio da interação. Também
provamos que as pessoas retêm muito mais quando se divertem ao aprender. Chamamos
isso de O Princípio do Jardim da Infância” (ROSENBLUTH; PETERS, p. 47).
255
Tradução livre de MURPHY; LEET, 2007, p. 14.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
80 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

É inegável que o trabalho do AC será tanto melhor quanto mais


extensa for a rede de relacionamento engajada ao sistema de compliance.
Como diz Wagner Giovanini, “é crucial possuir um ‘network’ amplo e
competente, para ajudá-lo no momento certo”.256 Seja para conseguir
uma informação para dar o melhor conselho a um colaborador, seja para
conseguir melhores dados de um setor que possui um software diferente
do departamento de compliance, o AC terá de ser hábil socialmente, terá
de ser persuasivo.257
Ademais, ser um bom diplomata significa, evidentemente,
evitar conflito com os demais departamentos. É por isso que ele busca
ajustar os eventos de compliance à realidade da empresa. “Por exemplo:
agendar as palestras para as pessoas das áreas de negócios em semana
não coincidentes com o encerramento mensal de vendas; convocar
as sessões de treinamento em épocas diferentes das férias habituais
dos funcionários; e assim por diante. Quando a incompatibilidade for
inevitável, o bom senso terá de prevalecer e o diálogo com os interessados
deverá resolver o impasse.”258
Camila Dable Malheiros resume bem o que o AC precisa ter e o
que ele não pode ser: “É preciso jogo de cintura para fazer acontecer
sem ser o chato da empresa”.259

“O departamento de ética também trabalha em estreita colabo-


ração com as funções de recursos humanos, jurídica, auditoria,
comunicações e segurança para responder às preocupações dos
funcionários.”260

Esse é, mesmo, “um trabalho que depende dos outros”,261 mas,


talvez, a habilidade diplomática do advogado de compliance seja mais
exigida quando ele precisa convencer os gerentes que controlam os
recursos financeiros. Já ouviu falar de “nó górdio”? Pois bem, tal como

256
GIOVANINI, 2014, p. 353.
257
“[A] maneira como os departamentos de compliance consomem os dados depende em
grande parte de como as outras partes da empresa os criam” (tradução livre de KELLY,
2019). E como cada vez mais os departamentos usam os seus softwares preferidos (recursos
humanos usando o Workday, marketing usando o Salesforce, desenvolvedores de web usando
o JIRA e assim por diante) – adverte Matt Kelly – o advogado de compliance “precisará passar
mais tempo harmonizando os dados ou convencer os funcionários a mudar seus hábitos
de fluxo de trabalho para lhe dar melhores dados desde o início”.
258
GIOVANINI, 2014, p. 299.
259
MALHEIROS, 2018, p. 19.
260
Tradução livre de PAINE, 1994.
261
LEC, 2018, p. 20.
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 81

o Alexandre, o Grande, que solucionou o problema do nó, o AC terá de ser


gigante, muitas vezes, tanto para persuadir o diretor financeiro (chief
financial officer – CFO) a atender a sua demanda – a contratação de mais
um membro para o departamento de compliance, por exemplo – quanto
para gerir o DC com eficácia e eficiência, mesmo não tendo o seu pedido
atendido pelo CFO.
Ocorre que, na maioria das empresas, o departamento de compliance
costuma ter uma equipe enxuta – quando não se tratar de “equipe de um
homem só” –, nem por isso ele será ineficaz ou terá algo a ver com um
“sistema de fachada”. O fato é que a resolução de problemas faz parte do
trabalho de um advogado de compliance, o que requer um grau significativo
de resiliência, criatividade e, claro, habilidade social, notadamente quando
ele deve gerenciar um departamento com um orçamento relativamente
pequeno.262 Nesse caso, o AC deve criar alternativas que otimizem, ao
máximo, o seu capital físico, humano e tecnológico, a começar pela
qualidade do ambiente interno do departamento de compliance e pelo perfil
dos profissionais que o compõem.
O ambiente interno do DC deve ser o melhor possível para que o
seu desempenho seja alto. Quando o clima de amizade é originado nesse
setor, quando todos os seus membros desejam se ajudar mutuamente,
os resultados são espetaculares. Com efeito, o gestor de compliance deve
cuidar do que ocorre dentro do seu departamento para, só depois, olhar
para o público externo; ele deve colocar o seu pessoal em primeiro lugar
ou, como refere Patrick Henz, “ser gentil com os seus recursos”.263 A
gentileza e a empatia devem ser os alicerces para a estruturação de um
DC eficiente. Hal F. Rosenbluth, por exemplo, assegura que o “princípio
número um” do processo seletivo de sua empresa é “procurar pessoas
amáveis”. “O resto se ajustará”, diz ele, com toda a credibilidade de
quem alcançou o sucesso empresarial priorizando os valores humanos
do indivíduo ao invés do seu histórico profissional.264

262
Em algumas situações, um orçamento pequeno pode indicar que um sistema de compliance
não é efetivo. Em 2013, Tom Rollauer disse exatamente isso ao referir-se às empresas com
receita anual entre US$1 bilhão e US$5 bilhões e com 5.000 a 10.000 funcionários, mas com
um orçamento anual (incluindo os salários) de US$1 milhão destinado ao Departamento
de Compliance. Como ele esclarece, essas empresas “me dizem que [os seus] programas
de compliance podem não ser muito robustos”. Trata-se de números “problemáticos”,
diz ele, pois, sendo de empresas globais, somente os gastos com viagens dos gerentes
de compliance podem chegar a US$1 milhão. Disponível em: https://deloitte.wsj.com/
riskandcompliance/2013/10/18/compliance-budgets-companies-may-not-be-spending-
enough/.
263
HENZ, 2017.
264
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 25.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
82 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

“O que está no coração de uma pessoa não pode ser descoberto


em um currículo.”265

Desse modo, em um processo de seleção para a composição do


departamento de compliance, o AC deverá dar mais valor a um candidato
que saiba trabalhar em grupo do que a outro altamente qualificado que
não saiba.266 Eis o grande desafio do gestor de compliance: eleger as
pessoas “tanto em razão do seu potencial pessoal quanto daquilo que
trarão para a equipe”,267 visando, sempre, a uma atmosfera produtiva.
No que diz respeito ao “potencial pessoal”, as escolhas do AC
devem ser baseadas, primeiramente, nos valores da empresa e, na
sequência, no critério da diversidade de formação técnica, de modo que
o departamento atenda toda a gama de atividades da empresa. Isso é
o ideal. Contudo, em uma situação de recursos escassos, esse último
critério só será integralmente satisfeito se, além de todas as outras
competências, o AC for dotado de magic skills. Ainda que eu me espante,
verdadeiramente, com a criatividade de alguns gestores de compliance,
mágica eles não fazem, mas é possível fazer alguns truques para
ultrapassar os obstáculos impostos por tal escassez. Nesse cenário, a
análise de riscos ganha importância acrescida, uma vez que será através
dela que os riscos mais relevantes da empresa serão identificados e, só
então, o AC terá condições de alocar, racionalmente, os poucos recursos
que tem à disposição, como sejam os recursos humanos.268 269
Imagine que você seja o chefe do departamento de compliance de
uma indústria farmacêutica. Naturalmente, por ser um setor extre-
mamente regulado, você dará atenção aos riscos regulatórios. Você
também avaliará os riscos existentes nas relações da empresa com os
profissionais de saúde e com os órgãos governamentais. Você sabe que,
infelizmente, é comum que alguns médicos prescrevam medicamentos
de determinada indústria não porque eles são os melhores para os seus
pacientes, mas porque essas empresas lhes oferecem alguns presentes
e hospitalidades, como uma viagem com acompanhante para o Caribe
em classe executiva e hospedagem em hotel cinco estrelas, para que
participem de um congresso. Você sabe, também, que há muitos casos

265
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 25.
266
Neste sentido, ver ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 25-27 e HENZ, 2017.
267
ROSENBLUTH; PETERS, 2004, p. 27.
268
Neste sentido, ver GOMES, 2018, p. 194.
269
É preciso ter presente que “un estándar de cuidado que exigiera prevenir todos los delitos por igual
y además sin atender a un análisis de costes, seria disfuncional” (NIETO MARTÍN, 2019[2]).
MOTIVO 8: PARA BRILHAR HOJE E AMANHÃ 83

de corrupção e de conflito de interesses nesse setor. Caso você conclua


que é alta a probabilidade de essas condutas se materializarem e que é
enorme a intensidade do dano que elas podem causar à empresa (em
termos sancionatórios, financeiros e reputacionais), qual seria o perfil de
membros que você selecionaria para compor a sua pequena equipe? Um
técnico familiarizado com o conjunto normativo da área farmacêutica
viria bem a calhar, não é mesmo? E se você foi contratado logo após a
descoberta de um grande caso de corrupção envolvendo a sua empresa?
O que você acha de ter na sua equipe um ex-membro da Polícia Federal
com vasta experiência em investigação de comportamentos desviados?
Com as informações obtidas através de uma extensa e robusta
análise de riscos, o AC terá condições de priorizar os perfis profissionais
mais urgentes para o DC. Portanto, através da influência mútua de
suas capacidades (técnicas, comportamentais e sociais), o advogado
de compliance estará apto a conhecer, amplamente, a empresa e o seu
negócio, a ponto de identificar os seus riscos, o que o habilitará a traçar
estratégias de fortalecimento do departamento de compliance, apesar do
cenário financeiro desfavorável.
Outra saída para superar esse cenário adverso pode ser encontrada
entre os próprios funcionários da empresa, como já adiantamentos acima.
Recorda-se do Enrico? Ao visitar as plantas fabris, os locais de projetos e
as unidades de negócios, é comum que o advogado de compliance conheça
profissionais com histórico de bons serviços prestados à empresa, de
fácil trato com os demais e com fortes valores pessoais. Não raro, esses
colaboradores são reconhecidos e indicados pelos próprios colegas
como trabalhadores sérios e confiáveis. Nesse caso, o AC poderá criar
parcerias com os mesmos, elegendo-os embaixadores do compliance.270
Assim, esses funcionários assumirão algumas atividades de compliance
em suas respectivas áreas de atuação, sujeitando-se à gestão do AC
nessa função específica.271 Como diz Lynn Paine, eles servirão como
uma “caixa de ressonância” da mensagem do sistema de compliance.272
Certamente, essa medida agregará valor ao DC. Por um lado, com
vários embaixadores espalhados em diferentes locais da organização, a

270
Outro nome que você poderá encontrar para a mesma função será “compliance champions”,
“multiplicadores do compliance” ou “representantes do compliance”.
271
Entretanto, continuarão exercendo suas funções normalmente, reportando-se,
hierarquicamente, ao chefe do seu setor. Adicionalmente a isso, no entanto, receberão
funções relativas à Compliance e, nesse âmbito, deverão sujeitar-se funcionalmente ao
Diretor de Compliance (GIOVANINI, 2014, p. 481). Para mais conteúdo sobre esse tema,
ver GIOVANINI, 2014, p. 445 e 481-484.
272
Tradução livre de PAINE, 1994: “Its network of representatives serves as a sounding board”.
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
84 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

atuação do DC ganhará em escala e capilaridade, podendo chegar a


qualquer ponto da empresa. Por outro, ao criar conexões com múltiplos
setores, o AC terá uma excelente oportunidade para conseguir subsídios
sobre o core business dos mesmos, além de experiência adicional, novas
opiniões e pensamentos diferentes.273
E assim, tal como na geologia, o sistema de compliance baseado em
valores aumenta, gradualmente, a sua massa rochosa como consequência
de inúmeras e ininterruptas ações gerenciais levadas a efeito com
métodos e técnicas, mas, sobretudo, com muitas habilidades e atitudes
que tornam a advocacia de compliance a profissão do presente e do futuro.274
Talvez o que você deseja ver, nesse instante, é uma reunião
esquemática das habilidades e atitudes que mais valorizam o advogado
de compliance. Com isso, aproximo-me do fim deste livro.275

HABILIDADES ATITUDES
 Comunicação  Ética
 Influência, persuasão e negociação  Integridade
 Capacidade de síntese  Confiabilidade
 Adaptabilidade  Credibilidade
 Flexibilidade cognitiva  Criatividade
 Aprendizado contínuo  Empreendedorismo
 Intuição  Diplomacia
 Apresentação de resultados  Empatia
 Investigação  Assertividade
 Trabalhar com dados  Agilidade
 Resolução de problemas complexos  Curiosidade
 Trabalhar sob pressão  Coragem
 Trabalhar em equipe  Discrição
 Gestão estratégica  Observação
 Gestão de pessoas  Resiliência
 Gestão de conflitos  Iniciativa
...  Persistência
 Pensamento crítico
 Seriedade
 Humildade
 Disciplina
...

273
Ver HENZ, 2017 e GIOVANINI, 2014, p. 481.
274
Adaptei, aqui, o trecho da introdução do excelente artigo Constitucionalismo e geologia da
good governance, de CANOTILHO, 2008[2], p. 325-326.
275
Com algumas alterações, esse é o Mapa de Competências feito por LAMBOY, 2017, p. 584.
INTIMAÇÃO, DEDICATÓRIA
E AGRADECIMENTO

Não posso concluir este livro sem, antes, fazer uma intimação,
responder a uma intimação e fazer uma dedicatória e alguns agrade-
cimentos.
Obviamente, a intimação que faço é a você, caríssimo leitor. Se
você quiser fazer diferença, se pretende criar uma trajetória profissional
de sucesso, se deseja realizar o seu sonho, agora é o momento para
dedicar toda a sua atenção e energia ao seu projeto compliance.
Agora é o momento para você acreditar no seu potencial para
fazer o que é preciso ser feito para botar esse projeto para girar. E se,
na sua trajetória, alguém lhe disser para desistir, falando que “você
não tem a menor condição de se sair bem” nessa área, você já sabe qual
atitude tomar frente a essa ameaça.
Agora é o momento para você investir na sua carreira, mas isso
deve ser feito com parcimônia e estratégia. A grande sacada, aqui, é
você criar e desenvolver um caminho de valor e, acredite, isso nada tem
a ver com o caminho mais fácil e curto. A propósito, se existe algo que
não combina com compliance são os atalhos, em razão dos riscos que
eles representam a qualquer projeto e organização. Por outro lado, a
eliminação de desperdícios é natural a essa função. Então, aqui vai uma
boa dica: comece a praticar a função compliance desde já, o que requer
planejamento. Saber quais são os seus pontos fortes, os seus pontos
fracos, as oportunidades e as ameaças ao seu projeto constitui uma
etapa FOFA para o sucesso do mesmo.276 Um exemplo, supondo que
você seja um jovem advogado que tenha muito conhecimento sobre

276
Refiro-me à técnica de análise de cenários conhecida pela sigla SWOT (Strengths, Weaknesses,
Opportunities, Threats) ou FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas, Ameaças).
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
86 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

mercado digital: através da análise dos seus pontos fortes, você poderá
concluir que o melhor caminho para a realização dos seus sonhos será
atuar como advogado de compliance de uma empresa de novas tecnologias.
Surge, então, na sua cidade, um curso de compliance promovido por
uma renomada instituição de ensino. Provavelmente, você vibrará com
o que parece ser uma excelente oportunidade para pôr o seu plano em
prática. Ao conhecer o preço do curso, você toma um grande susto, mas
continua avaliando os fatores positivos e negativos. Na sequência, a bola
da vez passa a ser os assuntos do curso. Será que eles têm a ver com o
seu objetivo profissional? Que utilidade ele terá ao seu projeto se todo
o seu conteúdo estiver direcionado ao compliance bancário?
Esta é a intimação que lhe faço: neste momento de importantes
decisões, invista em um caminho estruturado na utilidade e no preço
dos produtos e serviços disponíveis no mercado (livros, cursos, entre
outros). Analise, portanto, o custo-benefício dos mesmos, investigue se
eles estão em conformidade com o seu estágio de aprendizado. Já ouvi
várias vezes a seguinte frase: “Professor, tenho muito interesse pela área
de compliance, mas nunca li nada sobre o assunto. Preciso começar do
zero. Gostaria de saber onde posso encontrar um curso ‘top’” ou “qual é
a sua opinião sobre o curso...?”. Veja esta parte da mensagem que recebi
no início do ano: “Eu não estava preparada para fazer o curso”. Isso
esclarece, perfeitamente, o ponto onde quero chegar. De que adianta
saltar etapas, matriculando-se em um curso “top das galáxias”, se você
ainda não superou, digamos, a fase introdutória do estudo sobre o tema?
Ter em conta os seus pontos fracos, nesse instante, também o levará à
excelência. Como você viu, a humildade faz parte da lista de atitudes
que mais valorizam o advogado de compliance.
Para a construção desse caminho de valor, você também precisa
ampliar a sua visão, tal como um bom AC. Já passou pela sua cabeça
que pode existir um curso em outro país voltado para a sua área de
atuação e que seja mais barato do que um curso equivalente no Brasil?
Eu já vou logo dizendo que há cursos lá fora que são melhores e mais
baratos do que alguns oferecidos hoje em nosso país.
A palavra de ordem é, mesmo, estratégia. “Vá lá (no curso) e
brilhe!”, costumo dizer aos meus orientandos. Brilhe para ser visto,
para ser lembrado. Faça a diferença, pois a oportunidade que você
tanto deseja pode surgir através da pessoa que está sentada ao seu
lado. Compre os melhores livros, leia-os antes do curso “topzera” e
chame a atenção dos seus professores e colegas. Haja, portanto, com
protagonismo para conquistar a confiança de um número cada vez
maior de advogados de compliance. Cole nos grandes caras dessa área
INTIMAÇÃO, DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTO 87

e, se possível, tenha-os como mentor do seu projeto profissional. O


que você acha da possibilidade de desfrutar de toda a expertise de um
profissional admirado no mercado? Já imaginou participar de um
programa de mentoring especificamente destinado a você?
Então, bora mergulhar nesse imenso mar azul do compliance!
Motivos já não lhe faltam.
Com a intenção de atender a “intimação pessoal” que o professor
José Joaquim Gomes Canotilho me fez para eu “continuar a assumir
este difícil papel de ‘atar fios’ de forma a descobrir o permanente fluir
dos saberes e a proporcionar alguns gritos de ‘eureka’ aos estudiosos
das ciências jurídicas”,277 lanço este livro, dedicando-o à Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra.
Registro os meus agradecimentos a todas as pessoas que, de algum
modo, colaboraram para que este livro fosse escrito e publicado, em
especial à minha esposa Paula Gama Santos e à Maria Amélia Corrêa
de Mello, diretora-executiva da Editora Fórum.

277
CANOTILHO, 2008, p. 6.
POSFÁCIO

Marco Aurélio Borges de Paula foi meu colega de Mestrado em


Coimbra. Dessa convivência nasceram laços de amizade profissional e
pessoal. É por isso e com muita alegria que acompanho o seu empenho
e o seu merecido sucesso, que esta obra indubitavelmente testemunha.
O pedido para escrever este posfácio foi por mim acolhido com
muito honra e sentido de responsabilidade. Se a primeira me instava a
escrever, a segunda fazia-me hesitar por duvidar se seria a pessoa mais
adequada a comentar a obra escrita. A leitura do livro ultrapassou a
hesitação e convocou a vontade de escrever algumas palavras, ainda que
curtas, como se pretende de um posfácio, sobre o tema e sobre o livro.
A relevância reconhecida à implementação de programas de
compliance não é recente. Recuando a 1991, poderemos encontrar no
Federal Sentencing Guidelines Manual, de 1991, da Sentencing Comission
norte-americana. Esse diploma procurou concretizar, no seu capítulo
VIII, um conjunto de orientações e critérios que auxiliassem os tribunais
na determinação das sanções aplicáveis a organizações e, dentre
elas, a empresas. Nos critérios de determinação da pena aplicável às
organizações, essas guidelines previam como elemento atenuante da
pena (a sentence credit) a prévia existência de programas de compliance
com efetiva aplicação, assim como a colaboração com a investigação e a
aceitação de responsabilidade pelo crime. Esse tímido efeito mitigador
reconhecido aos programas de compliance não tardaria a se ampliar,
quer no direito penal – muito para além da determinação da pena,
alcançando a negociação do processo penal através de formas de diversão
processual –, quer no plano geral do direito, impondo-se à gestão
empresarial como forma de controlo e prevenção de riscos e danos. Os
programas de cumprimento viriam a ganhar contornos praticamente
inabarcáveis a partir do início do milénio, acentuando-se intensamente,
MARCO AURÉLIO BORGES DE PAULA
90 8 MOTIVOS PARA O ADVOGADO MERGULHAR NO COMPLIANCE

nos últimos anos, em diversos ordenamentos jurídicos. A amplitude que


os últimos anos trouxeram aos mecanismos de prevenção e controlo
de riscos foi certamente estimulada quer pela realidade dos grandes
escândalos empresariais, quer pelas sucessivas alterações legislativas
referidas neste livro.
Os programas de cumprimento tornaram-se uma realidade
extensível a muitos ordenamentos jurídicos. Se a realidade e a extensão
são inegáveis, permanecem, contudo, dúvidas quanto à certeza da sua
efetividade. São muitos os autores que evidenciam essa dificuldade. São
muitas as vozes que, acentuando a sua ineficácia, colocam em dúvida
a sua capacidade ética e lhe atribuem a natureza de mera operação de
cosmética empresarial. Ainda assim, esse ceticismo mostra-se incapaz
de abalar a presença, cada vez mais forte, desses programas na vida
das empresas. Em muitos ordenamentos jurídicos e em determinados
contextos de criminalidade – de que é exemplo máximo a corrupção –,
a implementação de um programa de compliance há muito deixou de
ser uma mera orientação, fundada em soft law, e ganhou o carácter de
obrigação legal.
Dois grandes desafios a enfrentar por aqueles que se aventuram
no admirável mundo da compliance são justamente a estruturação de
programas efetivos e a determinação de critérios e instrumentos capazes
de medir a sua efetividade. Esse será certamente um dos dilemas que
os destinatários desta obra, juristas que agora se iniciam nesse mundo,
terão de resolver.
Este livro tem muitas virtudes. Uma das suas principais quali-
dades é a capacidade de nos mostrar de forma simples e clara o que
deve ser um programa de cumprimento. É, em certo sentido, um
livro otimista. E deve sê-lo: destina-se a um público jovem que agora
inicia a sua carreira. E são esses os leitores que podem transformar
um propósito, que alguns remetem ao reino da utopia e do ceticismo,
em realidade. Marco Aurélio, através de uma escrita transparente,
apelativa e autêntica, porque vivenciada nas suas experiências, já deu
um relevantíssimo passo. Que se sigam outros!

Susana Aires de Sousa


Professora Auxiliar da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Coimbra. Mestre e Doutora em Ciências
Jurídico-Criminais por essa Faculdade.
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SOBRE O AUTOR

Advogado de Compliance. Presidente da Comissão de Compliance e


Governança da Ordem dos Advogados do Brasil (seção de Mato Grosso
do Sul). Mestre em Ciências Jurídico-Econômicas pela Universidade
de Coimbra (UC). Pós-Graduado em Direito Penal Econômico e
Europeu pela UC. Pós-Graduado em Compliance e Direito Penal pela
UC. Especialista em Compliance pelo Insper. Especialista em Compliance
Anticorrupção pela Legal, Ethics & Compliance. Coordenador e Autor do
livro Compliance, gestão de riscos e combate à corrupção (Editora Fórum,
2018). Membro fundador do Instituto Brasileiro de Integridade Pública
(IBIP). Ex-Coordenador-Geral da Transparência e Combate à Corrupção
da Controladoria-Geral do Município de Campo Grande.
Instagram: @marcoaurelioborgespaula
Facebook: facebook.com/marcoaurelio.borgesdepaula
LinkedIn: www.linkedin.com/in/marcoabp
Sites: www.prointegros.com.br e
www.complianceparaadvogados.com.br
ISBN 978-85-450-0695-4

CÓDIGO: 10001635

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