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Ana Paula Giffoni; Cássia Rodrigues;


Juliana Raupp; Michel; Vinicius.
    


= oram vendidos em torno de um milhão de exemplares em


cerca de quatorze países. É uma das obras brasileiras mais
vendidas, tendo sido traduzida em mais de treze línguas.dz
   
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"  "
 Por que a senhora começou a escrever?

 Como surgiu seu interesse pela literatura?

 O que significou a literatura para sua vida?

 A senhora pensava em publicar o que escrevia?


Como é que a senhora fazia e como foi que
conseguiu a publicação afinal?
 O que a senhora sentiu quando viu o livro c 
 
 pronto, encadernado, com seu texto em letras
de imprensa?

 pe onde veio à idéia para o título de seu livro?

 Ao que a senhora atribui o sucesso de público do seu


c  


 pepois da publicação, a senhora ficou famosa. Passou


a freqüentar ambientes diferentes do da favela.
Conheceu intelectuais, políticos, gente rica. oi difícil
seu contato com esse outro tipo de gente?
 ? o seu relacionamento com o pessoal da favela:
mudou depois da fama?

 Mas foi bom mudar de vida, escapar da miséria e


conhecer um mundo diferente daquele da favela?

 ?m seu livro, a senhora, além de mostrar a realidade


dos favelados, fala mal dos políticos, dos poderosos.
A senhora, sendo pobre e desprotegida, não tinha
medo de fazer essas denuncias e acusações?

Trechos extraído da entrevista que consta no fim da


obra c  

r ,  

...)Mas eu já observei os nossos políticos. Para


observá-los fui na assembléia. A sucursal do
purgatório, porque a matriz é a sede do Serviço
Social, no palácio do governo. oi lá que eu vi
ranger de dentes. Vi os pobres sair chorando. ?
as lagrimas dos pobres comove os poetas. Não
comove os poetas de salão...)
Juscelino esfola!

Adhemar rouba!

Jânio mata!

A câmara apóia!

? o provo paga!
...)mandei o José Carlos comprar 7 cruzeiros de
pão. pei-lhe uma cédula de 5 e 2 de alumínio, o
dinheiro que está circulando no paíz. iquei
nervosa quando contemplei o dinheiro de
alumínio. O dinheiro devia ter mais valor que os
gêneros. ? no entretanto os gêneros tem mais
valor que o dinheiro.

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 78
...) é horrível ver um filho comer e
perguntar: =Tem mais? ?sta palavra =tem
maisdz fica oscilando dentro do cérebro de
uma mãe que olha as panela e não tem
mais ...)
...) a fome era tanta que ele não poude
deixar assar a carne. ?squentou-a e
comeu. Para não presenciar aquele
quadro, saí pensando: faz de conta que
eu não presenciei esta cena...no outro dia
encontraram o pretinho morto ...)
...) já que a barriga não fica vazia, tentei viver
com ar. Comecei desmaiar. ?ntão eu resolvi
trabalhar porque eu não quero desistir da vida.
Quero ver como é que eu vou morrer. Ninguém
deve alimentar a idéia de suicídio ...)
...) outra mulher passou numa casa e pediu
esmola. A dona da casa surgiu com um embrulho
e deu-lhe. ?la não quis abrir o embrulho perto
das colegas, com receio que elas pedissem.
Começou pensar. Será um pedaço de queijo?
Será carne? Quando ela chegou em casa, a
primeira coisa que fez, foi desfazer o embrulho
porque a curiosidade é amiga das mulheres.
Quando desfez o embrulho viu que eram ratos
mortos ...)
...) O que me entristece é o suicídio do
senhor Tomás. Coitado. Suicidou-se porque
cansou de sofrer com o custo da vida.

Quando eu encontro algo no lixo que eu


posso comer, eu como. ?u não tenho
coragem de suicidar-me...)
...) hoje não temos nada para comer.
Queria convidar os filhos para suicidar-mos.

pesisti...)
  
 A trajetória de Carolina mostra uma visão
colocada de lado pela população brasileira da
época, principalmente durante o governo
Juscelino Kubitschek;

 Muito se falava no país sobre o


desenvolvimento, crescimento e industrialização
de algumas regiões;
> Trazer a história da luta cotidiana de uma mulher
negra, pobre, semi-alfabetizada e desprovida de
qualquer auxilio do ?stado, causou um grande
impacto na população brasileira da época.

> Critica a uma sociedade fechada que se


autodesconhecia, com idéias muito enraizadas em
relação às camadas pobres da população;
> ?sse impacto causado por c    
 foi
muito além das discussões sobre o texto, mas
tornou o problema da favela um assunto público,
discutido por técnicos e também por políticos.

> ?m sua obra, Carolina além de mostrar a


realidade dos favelados, também demonstrou
grande revolta com relação aos políticos e
poderosos da época, onde ela fazia constantes
denúncias e acusações.
> V          
          
          
 

> V   c       


         

        
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> O testemunho de Carolina tentava reproduzir a
realidade de sua experiência. Através de seus
escritos, ela contestava contra a pobreza
urbana e a injustiça social. ?ra como uma da
resposta da favela ao desenfreado
desenvolvimento industrial.
> c    
 não é apenas a autobiografia de
uma favelada catadora de papéis. É, também, um
documento sobre a vida cotidiana de uma favela.

> A obra é uma seqüência de fatos ordenados


cronologicamente, registrada sob a forma de diário
e situada no tempo por meio de datas.

> Trata-se de uma narrativa linear, composta por


reflexões da narradora que demonstram uma
profunda sensibilidade e um senso crítico aguçado.
> Carolina criou uma chamada orquestração
discursiva ANpRAp?, 2008) que representou a
complexidade daquilo que vivia: o mundo da
oralidade, dos encontros e desencontros da
favela em contradição com as notícias
veiculadas pela imprensa escrita e com as
leituras dos livros de poesia.
> A estética fragmentada da obra decorre
principalmente pelo uso contínuo das
anotações próprias de um diário que,
amparadas pela necessidade de contar o
cotidiano, acabam por compor um texto
repleto de pequenas partes, como uma
colcha de retalhos ou um mosaico.
 " 6" 
>  ": A autora descreve o ambiente físico por
meio de detalhes, sem preocupação de fornecer
uma visão geral.

Todas estas descrições utilizadas para reiterar as


coisas que todo tempo narra, utilizando-as como
suporte para mostrar como a miséria se
apresentava na comunidade em que vivia
> °  " 9 A obra apresenta uma narrativa em
primeira pessoa e os fatos são apresentados sob a
óptica da narradora. ?sta, o mesmo tempo em que
narra, tece considerações sobre o que percebe da
vida.

> É uma visão unilateral, pessoal e, de certa forma,


subjetiva, na medida em que a própria narradora é
também protagonista. Podemos dizer então, que, ao
lado do tempo exterior representado pelo registro
cronológico dos acontecimentos, há um tempo
interior representado pelos momentos de reflexão da
narradora.
>  ': As Ǯpessoasǯ, ou melhor, as Ǯfigurasǯ
presentes na obra não foram criadas a partir da
imaginação da narradora, ao contrário, foram
pessoas que realmente existiram.

> São tantas as pessoas a quem Carolina se refere


que seria impossível mencioná-las. Há que se
destacar, porém, o senhor Manoel, amigo e,
depois, seu amante, Orlando Lopes, o cobrador da
luz, senhor Pinheiro, presidente do Centro ?spírita,
e o repórter Audálio pantas.
> Seus filhos, os inúmeros vizinhos e conhecidos,
amigos e amantes, são personagens cuja força só
pode ser definida pela função que exercem no
texto: caixas de ressonância, repetidores e
fornecedores de matéria verbal, matéria viva que
compõe o universo de criação literária de Carolina
de Jesus.
> ?m resumo, não é a forma de c 
 
que garante a Carolina de Jesus o
caráter de literário que vemos em seu texto,
mas a singularidade formada na obra a partir
da comunhão entre a forma, o assunto e a
linguagem.
:;  
> O piário e a pessoa;
> Conservar a memória;
> Sobreviver;
> pesabafar;
> Conhecer-se;
> Resistir;
> Pensar;
> ?screver;
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> ?stilo próprio e característico;

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> Contraste entre linguagem culta e popular:

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Ö  
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Ö   O
> A linguagem na obra é pontilhada pelo
lirismo, pelas metáforas, pelas comparações
inusitadas:

- Parece que esse cigano quer hospedar-se no


meu coração.
- Por isso que eu digo que a favela é o Gabinete
do piabos.
- As brisas suaves perpassam conduzindo o
perfume das flores.
- A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é
que sabemos o que encerra.
- A voz de pobre não tem poesia.

- Parece que eu vim ao mundo predestinada a


catar. Só não cato a felicidade.
>°9

- ? assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava


contra a escravatura atual Ȃ a fome.

- Vi os homens jogar sacos de arroz dentro do


rio. Bacalhau, queijo, doces. iquei com
inveja dos peixes que não trabalharam e
passam bem.
19 de maio peixei o leito as 5 horas. Os
pardais já estão iniciando a sua sinfonia
matinal. As aves devem ser mais feliz que
nós. Talvez entre elas reina amizade e
igualdade. ...) O mundo das aves deve ser
melhor do que dos favelados, que deitam e
não dormem porque deitam-se sem comer.
... O que o senhor Juscelino tem de
aproveitavel é a voz. Parece um sabiá e a
Sua voz é agradável aos ouvidos. ?
agora, o sabiá está residindo na
gaiola de ouro que é o Catete.
Cuidado sabiá, para não perder esta
gaiola porque os gatos quando
estão com fome contempla as aves
nas gaiolas.? os favelados são os
gatos. Tem fome.
... peixei de metidar quando ouvi a
voz do padeiro:
ÖOlha o pão doce, que está na hora do café!
Mal sabe ele que na favela é a minoria
quem toma café. Os favelados comem
quando arranjam o que comer. Todas as
famílias que residem na favela tem filhos.
Aqui residia uma espanhola dona Maria
Puerta. ?la comprou um terreno e começou
a economisar para fazer a casa. Quando
terminou a construção da casa os filhos
estavam fracos do pulmão. ? são oito
crianças.
... Havia pessoas que nos visitava e
dizia:
-Credo, para viver num lugar assim
só os porcos. Isto aqui é o chiqueiro
de São Paulo
... ?u estou começando a perder o
interesse pela existencia começo a
revoltar. ? a minha revolta é justa
... Lavei o assoalho porque estou
esperando a visita de um futuro
deputado e ele quer que eu faça
‘ns discursos para ela. ?le disse que pretende
conhecer a favela, que se for eleito há de
abolir as favelas.
... Contemplava extasiada o céu cor de anil. ?u
fiquei compreendendo que eu adoro meu
Brasil. O meu olhar pousou nos arvoredos que
existem no início da rua Pedro Vicente. As
folhas moviam-se. Pensei: elas estão
aplaudindo esse meu gesto de amor a minha
patria.
...) Toquei o carrinho e fui buscar mais papel. A
Vera ia sorrindo.
? eu pensei no Casemiro de Abreu, que disse:
=Ri criança. A vida é beladz. Só se a vida era boa
naquele tempo. Porque agora a epoca está
apropriada para dizer: =Chora criança. A vida é
amargadz
Relação entre orma e
Conteúdo na obra

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