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___: ...família.
___: ...
___: Abertura dos Mythologiques.
Qual é o ponto de vista de controle? Ou seja, qual é o ponto de vista que entra em
contradição direta com o ponto de vista definido para o estudo? Entender, principalmente,
que esses pontos de vista não são definidos apenas peos pesquisadores, mas também, e
principalmente, pelas populações estudadas. Um agenciamento entre pesquisador e
população pesquisada. No entanto, mesmo esse agenciamento não é um simples cruzamento,
especialmente quando se tem em conta que é o pesquisador, após a experiência etnográfica,
que tem o poder institucional de tirar conclusões e tecer análises.
Mas então, se tudo pode ser abordado a partir da Antropologia, qual é a diferença
entre um estudo antropológico da política e um estudo do mesmo assunto a partir das ciências
políticas ou da sociologia? Segundo Lévi-Strauss: a desestabilização do observador, a produção
de conhecimento a partir do observado. A prática antropológica, sobretudo, supõe uma
descontinuidade entre observador e observado, uma descontinuidade produzida pela própria
epistemologia antropológica e que, novamente, deveria, por princípio, perturbar o observador,
não o observado.
Por exemplo, e ainda sobre o mesmo tema, é preciso partir do princípio de que as
sociedades estudadas não precisam da antropologia para pensarem sobre si mesmas. Mais do
que isso, significa dizer também que não é a epistemologia ocidental a única capaz de produzir
gênios ou “grandes pensadores”. Citando Lévi-Strauss, é muita pretensão que só a Europa teve
gente como Pasteur. Esse princípio nos leva de volta, inclusive, ao contra-colonialismo do
Antonio Bispo dos Santos. Ou seja, é uma força que precisa ser reativada a cada instante para
resistir à pretensão ocidental de que as epistemologias ocidentais são superiores a todas as
outras. Uma força que precisa ser reativada, inclusive, nas práticas moleculares, não apenas
nas grandes análises e interpretações molares. Contar a história no estilo samba enredo da
Mangueira.
Segundo Stengers, contar uma outra história, uma história que resista à história do
status quo, exige um princípio de simetria que impeça a definição de consequências
hierarquizantes entre vencedores e vencidos. Não existe norma metodológica geral para tirar
conclusões do encerramento de uma luta entre vencedores e vencidos. É sempre possível
reabrir as controvérsias, as lutas. Principalmente porque, voltando ao Bispo, essas lutas
continuam existindo.
Ou seja, como narrativizar, recontar, traduzir, práticas à primeira vista, para nós,
ininteligíveis? Lévi-Strauss, sendo talvez parafraseado por Deleuze em A lógica do sentido, se
perguntaria sobre como a falta de sentido produz sentido. Especialmente porque a afirmação
da ininteligibilidade é uma força política perigosa.
Seria possível pensar nos universais, portanto, como forças? Ou seja, no lugar de uma
classificação universalista, forças universais em pouco número mas que, misturadas entre si e
com materiais diferentes, geram resultados infinitamente diferentes. É esse o ponto, aliás, da
linguística estruturalista: a partir de um número bastante limitado, umaa produção
potencialmente ilimitada. Transformar classificações em forças implica, inclusive, considerar as
forças como coisas a serem estudadas, não como gavetas em que colocamos o que estudamos.
Ou seja, desafiar os próprios universais, não considerá-los como contêineres universalmente
neutros.
O desafio: como pensar uma diferença pura (ou seja, não valorizável) que não
(re)estabeleça a incomunicabilidade, o solipsismo. Até porque, só há comunicação real entre
diferenças. E mais, tratar a cultura como invenção, como criatividade e produção de diferenças
é um método, um caminho do fazer antropológico.
Simonis define essa etapa como o primeiro estágio, o estágio institucional (instituição
do incesto e do casamento) da análise. Lévi-Strauss não para aí, no entanto, já que se pergunta
por que o incesto é, afinal de contas, universal. Mais do que isso, como não desmontar a
passagem entre natureza e cultura ao simplesmente localizar a universalidade do incesto no
polo da natureza ou da cultura, ou cair num intelectualismo evolucionista de que há um
reconhecimento cultural de um dado natural. Para Lévi-Strauss, no entanto, a oposição
natureza e cultura é uma produção da proibição do incesto, não um a priori. Natureza e
cultura, portanto, é uma metodologia, uma técnica.
Tudo se passa, então, como se estivéssemos trocando pessoas entre grupos biológicos,
e é a proibição do incesto que impulsiona a integração social com essas trocas.
E ainda não paramos aí (os dois últimos capítulos). Deparamo-nos com uma bifurcação
de caminhos que retoma o começo das estruturas elementares do parentesco: o interesse
pelos processos de integração social (sociedade aqui como um dado, portanto); o interesse
pelas condições de existência das sociedades humanas (em que condições são possíveis e
necessárias?)
A unidade não é transcendente, portanto, às variações culturais, mas sim uma lógica
subjacente. Uma lógica sem redução. Uma lógica, poderíamos inclusive dizer, que deixa de
estar subjacente às variações, mas que começa a se produzir como um efeito de superfície?
Referências:
La-pensée-Lévi-Strauss, da Favret