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#01

Começando...
A Declaração Universal de
Direito das Crianças pres-
supõe, entre várias coisas, o direito
Como não cair na tentação
de transformar o próprio bichinho
de estimação em comida? E sim-
Não sei porque
estou pensando em
rosquinhas agora.
E na minha avó.
à liberdade e à vida, delas serem plesmente não se deixar levar pe-
protegidas pela família e sociedade, los instintos animais básicos?
de serem alimentadas, de terem
direito ao amor e compreensão. Embora não tenha consciên- Puxa. Eu vi minha vó viva. Não
conheço nenhuma amiga minha que
cia disso, esses são os desafios da tenha conhecido a avó.

Em um mundo ideal, essa se- protagonista de nossa história.


ria a realidade de todas as crianças.
Na distopia criada por Cristiano E, infelizmente, também
Seixas e Eduardo Pansica em Calan- o desafio de milhões de crianças
go, todos esses direitos não passam mundo afora, vivendo em zonas de
de luxos que pouquíssimas crianças guerra ou em situações subumanas.
(e adultos) conseguem ter.
Mas, mesmo soando clichê,
Um mundo onde sobreviver onde há vida, ainda há esperança.
acaba se tornando prioridade. Seja em um gole de água fresca, ACHO QUE MEUS PÉS ESTÃO

Comida e água são o maior ou na lembrança carinhosa de ros- COMEÇANDO A SANGRAR.


MAS NÃO SiNTO.
bem de todos, piedade e solidarie- quinhas recém assadas feitas por
dade podem levar à morte. nossas avós.

Então, como ser uma cri- - Carol Cunha


ança nesse mundo? Sozinha e de-
samparada? Como manter ainda um Carol é quadrinista, animadora e uma
pouco de doçura e humanidade? professora que todo mundo ama :)

EXPEDIENTE: Calango e seus respectivos personagens


Calango no.01 criados por: onde?
pra onde?
dez.2016 Eduardo Pansica e Cristiano Seixas.
Capa-que-ficamos-emocionados-quan- Impresso em:
do-vimos: capa em couché fosco 210g,
Carlos Fonseca miolo em couché fosco 115g
Contra-capa-do-mega-detalhista-artista- Gráfica Del Rey
que-já-fez-de-Hércules-a-Dr.Who: Tiragem Limitada.
Cris Bolson Belo Horizonte.MG.BRASIL
Co-roteiro, lápis e arte-final de tudo mais:
Eduardo Pansica Contato para críticas, comentários,
Argumento, pesquisa, co-roteiro, projeto conselhos, tentar números de loteria:
gráfico, logo, editoração, cores e café na cristianoseixas@gmail.com
madrugada: Av. João Pinheiro, 277 . Funcionários
Cristiano Seixas Belo Horizonte.MG.BRASIL
Calango: meu deus, meu deus,
queria não estar
com tanta fome.

Cacto Cereus
por Cristiano Seixas e Eduardo Pansica.
estamos muito longe
de onde a gente vivia,
acho que meus pés ainda
não conheço ninguém aí.
estão sangrando.

mas temos que achar


algo de comer antes de
anoitecer.

oi!

eu sei,
eu sei, isso

TUMP!
tá muito
ainda bem esquisito.
que você está
comigo!

mas estamos
há muito tempo
sem comer nada.

já deve
estar cansado
de ficar aí
dentro né?
!
cRASH

se tiver algo
pra comer e
eles NÃO verem
a gente, vai dar
tudo certo!

me larga!

kRAK!
socorro!

NÃO TEM
NADA AQUi
para vocês!

pô, véia,
deve ter
algo que presta
aí dentro!

réréré,
olha essa véia,
não vai sobrar
nada.
xiii,
parece
que a gente
vai ter que
ajudar
alguém...

kRAKt!
espero
que o dono
não ligue agora
de levarmos é torcer
um pouco pra algum
dessa deus ajudar
farinha. a gente.
nem sabia que
tenta ia ter algo
menina. que presta
aí dentro.

mas deixa
eu mesmo
terminar com
a velha inútil
antes.
AAARGH!
Doeu
pracaralho.
lagartixa
filhadaputa

ai. ai.

ai. ai.

melhor
ficar
deitada, pois
é assim que
vou me divertir
com você, com
véia olhando
e tudo.

cRAc!
tunc! tunc!
tunc!
ai!
ai!
ai!

acorda aí
e me ajuda
logo!

se não vai
matar este
também, temos
que ir
embora!

rápido.
temos que
caminhar
pra bem
ok. longe.
daqui a
pouco anoitece,
e não posso ...ela jantou bem, um dia
se você a gente ainda vai
passar frio de o restinho
soubesse fazer rosquinhas
jeito nenhum! de comida que
como está minha
ronc
tinha da casa igual da minha võ
coluna, ia se com a farinha que
ronc
esforçar um dela...
guardamos.
pouco mais!
ronc

ronc

pelo menos enquanto isso,


teve peito pra veja se você
matar aquele acaba de ficar
canalha. jã bom com nossa
foi tarde! última água.

e os
outros dois
quebraram
tudo, não
sobrou nada
inteiro!

bláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá

ronc
ronc ronc
ronc

já que o dia
de hoje parecia
que não ia
acabar nunca.
blábláblá blábláblá
blábláblá bláblá
bláblá bláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá
blábláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá
blábláblá
blábláblá blá
blábláblá blá bláblá
blábláblá blábláblá blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá blábláblá blábláblá
blábláblá blábláblá blábláblá Ai,
blábláblá AGORA SiM
MiNHA PERNA
JÁ ERA!

cactos
cereu!
‘vamu tudo
morrÊ’
NESSE BURACO!

tumpt!
hahaha!
temos água
por perto!
vai logo!

ei!
preciso
parar, não
consigo mais
seguir esse
bicho!
você sabe
o tanto que
minha perna tá
machucada?

achou
alguma coisa
logo aqui
embaixo.

não é uma
lagartixa,
é calango.

e o tanto
que preciso
de um gole
de água?
...

não acredito
que você está
me fazendo
seguir essa
lagartixa.
a gente vai
ter que morar
aqui embaixo!

fazer uma casinha


qualquer pra
dormir longe de
gente ruim.

ESPERO QUE A GENTE ARRUME UM


JEiTO DE FAZER ROSQUiNHAS AQUi.

será que ela SABE


FAZER ROSQUiNHAS?

Extras
Saindo de
um sertão
criativo.
Calangos eram só Ros- nacionais. A maioria de quali- Queríamos um cenário lim- fudamental para todo o clima, e o
quinhas quando tudo começou, dade incontestável. po, mas com personalidade, e que poderia ser mais um deserto-
há mais de um ano atrás. E era Vaquinhas coletivas como que, de alguma forma, reforçasse Mad-Max-fim-do-mundo, se tornou
tudo mais doce, quase com cara o Catarse fizeram a turma toda o perfil dos personagens centrais. mais um elemento nacional que
de um bom longa de animação. acele-rar e aprofundar a pro- Queríamos que fosse no adoramos pesquisar e conhecer
Na verdade começou antes dução. Brasil, mas longe das grandes melhor. Mesmo que na história
ainda, quando sentíamos imensa Agora temos alguns bons capitais ou centros urbanos. parece ser apenas um elemento
saudade de fazer um quadrinho eventos nacionais de quadrinhos Queríamos fugir do cliché do Bra- estético.
que a gente também gostaria para estabelecermos melhor um sil amazônico. E esses dois dias na vida
de ler, e que fosse afastado do cronograma de produção. Mas, acima de tudo, quería- dessa menina se transfomaram em
nosso dia-a-dia de super-heróis e Vários sinais que apon- mos uma menina sonhadora, en- 26 páginas de quadrinhos, e agora
galáxias e poderes e mil pessoas tavam que estava passando de frentando obstáculos. que a revista ficou pronta e está
se degladiando. hora de voltarmos a fazer um Nessa pretensão toda, para nas suas mãos, já estamos com
Que tivesse mais poesia, quadrinho brasileiro que a gen- fazer uma história curta de 22 pá- saudade dessa menina, dela e do
mais tempo para digerir os sen- te tivesse orgulho, sem ser pan- ginas, ainda queríamos encaixar seu pequeno calango.
timentos dos personagens, para fletário e sem clonar outras coi- várias outras idéias. Esperamos vê-los logo nova-
curtir seus movimentos e ex- sas que amamos. Idéias entraram, idéias mente, se possível, em dias menos
pressões. Para entender mais Sem querer partir para tri- saíram, idéias foram descartadas, áridos, duros e difíceis, vai que
seu íntimo e se preocupar menos logias ou sagas de multiversos, mas a menina foi amadurecendo, tem deliciosas rosquinhas da vovó?
com poses de efeito. fomos atrás da simplicidade ex- e o mundo a sua volta se tornando
E estávamos cada vez mais trema. Pelo menos no núcleo de cada vez mais árido, duro e difícil.
felizes com a crescente onda de personagens e no cenário em que O sertão do norte de Minas Cristiano Seixas e Eduardo Pansica,
novas produções de quadrinhos estão inseridos. e interior da Bahia foi se tornando final de 2016.
Mundo cão. Sozinha com seu precioso
bichinho de estimação, sua pri-
meira experiência conhecendo novas
pessoas, enquanto fugia sozinha pelo
sertão, não foi lá das melhores...
Para cada ato de delicadeza
e cada sorriso, um ser mais des-
prezível que o outro foi desenvolvi-
do.
O que era antes só uma chata
velhinha também tentando sobrevi-
ver, se junta ao desenvolvimento de
mais três personagens do mais baixo
calibre, e todos sendo uma versão

Visualizando.
deturpada de alguma pessoa que ve-
mos por aí.
E num mundo desses, não dá
pra ter cores fortes, berrantes, satu- Numa história que quería- zes, muitas vezes foram apenas
radas. Não dá pra ter efeitos visuais, mos pouco, quase nenhum diálogo “se refinando” a cada novo aca-
fogos de artifício, delírios gráficos. ou explicação, a narrativa visual bamento do traço, da arte-final e
Muito menos um óculos 3D numa ca- é mais que crucial: é a história da aguada.
deira reclinável de couro. em si. O background de ambos
Aqui é tudo desaturado, sujo, Apesar do roteiro descrever autores na animação permitiu
indo para o monocromático. cada um dos quadros, a história uma facilidade maior em achar
É nesse mundo que, mesmo as- foi conversada do começo ao fim, enquadramentos, staging de per-
sim, ela consegue achar alguma feli- e os layouts do Eduardo Pansica sonagens e poses que traduzisse
cidade. foram modificados poucas ve- melhor cada cena.
Esse bom e longo processo.

Foto: Igor Clementino


Dos esboços iniciais, Agora é ler quadrinhos,
variação dos layouts, refinamen-
to do desenho, arte-final, aguadas
uns livros no meio do caminho,
e pensar numa próxima história.
Eduardo Pansica Cristiano Seixas
de nanquim, digitalização, trata- nasceu 1981 em São Paulo mas mudou- ama tocar baixo na banda de rock nervo-
mento digital das imagens, color- Obrigado pelo apoio! se para Belo Horizonte em 1997. Em so BREU, mas seu alter ego gasta a maior


ização, ajuste fino das cores finais, A dupla. 2003 completou o curso de Histórias em parte do tempo na Casa dos Quadrinhos
Quadrinhos da Escola Técnica de Artes Escola Técnica de Artes Visuais, onde foi
balonamento, convite a colabora-
Visuais Casa dos Quadrinhos e em 2008 co-fundador, e também age como dire-
dores, projeto gráfico, revisão,e , PS: Agradecimentos mais que especiais ao graduou-se em Cinema de Animação pela tor de criação. Cria e desenha quadrinhos
Cristiano Bolson, à Carol Cunha e ao
ufa, para a gráfica! Mestre-Mago Carlos Fonseca. Escola de Belas Artes da UFMG. desde 88, mas foi quando se formou na
Desde 2009 vem desenhando para a edi- Faculdade de Belas Artes de SP e começou
tora DC Comics, participando de revistas como animador, que passou a se dedicar
como: Blackest Night JSA, Superman: War a quadrinhos, ilustração e animação. Em
of the Supermen, Wonder Woman Odyssey, 97 montou o Big Jack Studios com uma
Teen Titans, Deathstroke, entre outras. equipe de artistas de quadrinhos e anima-
Em 2013 assumiu a revista Batwing, onde dores, só parou quando se mudou para os
trabalhou por quase 2 anos. Estados Unidos para um mestrado em ani-
Participou em 2015 de várias revistas, mação. Em 2009 volta ao Brasil e o estúdio
como as semanais Earth#2 World’s End e vira Ghost Jack Ent.
Batman Eternal. Em 2016, Peregrinou por festivais e convenções
Eduardo trabalhou com o escritor e criador mundo afora como: Annecy, MIP COM e MIP
Gerry Conway na minissérie de 6 edições TV Cannes; as Comic Cons de New York,
do Firestorm (Nuclear) dentro da revista Long Island, Long Beach, San Diego, Orlan-
DC Legends of Tomorrow. Atualmente faz do, Chicago e San Francisco; Indie Expo;
parte da equipe de desenhistas da revista American Film Market Santa Monica,;
Green Lanterns que faz parte do projeto Banff World Media Festival e Next Media
DC Rebirth. Toronto no Canadá e pela África do Sul.
Além de quadrinhista, Eduardo vem le- Nas HQs está com os projetos: Calango,
cionando Artes Gráficas e Arte Sequencial com Eduardo Pansica, Sashira, com Eddie
para a Escola Casa dos Quadrinhos desde Vieira, Fahrenheit 100Graus com Rodney
2005. Buchemi e Intestine com Newton Jr.
feito em:

APOIO:

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