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0139 – CLASSE 32 –
LUZIÂNIA – GOIÁS
RELATÓRIO
Diante disso, alega que não há nos autos robustez probatória suficiente
para evidenciar a prática de abuso de poder.
atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial eleitoral (ID 30999388), que foi
deferida por meio da decisão de ID 31000038.
É o relatório.
REspe nº 82-85.2016.6.09.0139/GO 8
VOTO
dignidade de todos os seres humanos, haja vista que a religião, para quem a
profere, constitui “um dos elementos fundamentais em sua concepção de vida”.
da Nação”, (10º Congresso de Teologia Vida Nova, 2016) e “Eleições 2018: Carta
aberta à Igreja brasileira” (Coalização pelo Evangelho, 2018).
Por essa razão, entendo que a intervenção das associações religiosas nos
processos eleitorais deve ser observada com a devida atenção, tendo em
consideração as igrejas e seus dirigentes ostentam um poder com aptidão para
amainar a liberdade para o exercício de sufrágio e debilitar o equilíbrio entre as
chances das forças em disputa. Por essa ótica, revela-se em lição lapidar:
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Dentro desse panorama, cabe anotar, por ilustração, que no México a Lei
Geral de Instituições e Procedimentos Eleitorais (LEGIPE), em seu art. 442, item 1,
alínea i, sujeita à responsabilidade por infrações eleitorais “os ministros de culto,
associações, igrejas ou agrupações de qualquer religião”. Na mesma linha, o
REspe nº 82-85.2016.6.09.0139/GO 28
Assim como observa Diego Valadés, à medida que o poder deflui por
intermédio de “múltiplas expressões”, seria um contrassenso se os órgãos
institucionais encarregados de o controlar não pudessem adequar-se, de modo
contínuo, à versatilidade de suas manifestações. Se a Constituição determina que
o poder seja contido, não é dado descurar que “deixado à sua sorte, o poder
fluiria com tal rapidez que se faria imprevisível, prejudicando a manutenção de
relações sociais estáveis, livres e justas” (VALADÉS, Diego. El control del poder.
Buenos Aires: Ediar, 2005, p. 12-13 – tradução própria).
Em primeiro lugar porque, assim como assentado pela eminente Min. Rosa
Weber, no julgamento do RO nº 5370-03 (DJe de 27.9.2018), uma leitura
teleológica do art. 22, caput, da Lei Complementar nº 64/90 permite abarcar dentro
do conceito de autoridade os atos emanados de dirigentes eclesiásticos, sobretudo
a partir da impressão de que o legislador ordinário optou, por oposição à solução
fechada inscrita no art. 14, § 9º da Constituição Federal – que alude ao “abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta” -, por
uma fórmula aberta, denotando a intenção de abrir o leque de fontes de
constrição da liberdade e da paridade eleitoral.
Com efeito, para além de assentar, por analogia, que a autoridade a que
alude o art. 22, caput, da LC nº 64/90 é também a autoridade religiosa, é de se ver
que a inexistência de referência explícita ao abuso de poder religioso como causa
de cassação de mandatos não obsta, categoricamente, a hermenêutica sugerida
que, ademais, não ofende a lógica ínsita ao princípio da legalidade. Isso porque,
como assenta a doutrina, o argumento da plenitude do ordenamento jurídico é
insuficiente para definir, automaticamente e por exclusão, a legalidade ou a
ilegalidade de todos os comportamentos.
Afinal, “os direitos subjetivos não são absolutos e, portanto, não podem ser
exercidos arbitrariamente, com qualquer intenção”. Pelo contrário, devem ter um
“fim útil” e um “modo de manifestação normal”, para que existam em
consonância com o direito. É o que defende o professor Roberto Rosas que, em
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Acrescento por outra via, que, embora a sanção em matéria eleitoral tenha,
como se sabe, um desígnio tendencialmente punitivo, as ações concebidas para a
tutela da legitimidade dos pleitos restam caracterizadas pela proeminência de
uma “vocação tutelar” (GÓMEZ GARCÍA, Iván. “Régimen administrativo
sancionador electoral”. In: MATA PIZAÑA, Felipe; COELLO GARCÉS, Clicerio
(coords.). Tratado de Derecho Electoral. Ciudad de México: Tirant lo Blanch, 2018, p.
636), conexionada com a preservação eficaz dos valores democráticos vitais
Domingo passado Deus falou comigo aqui: Deus vai fazer justiça, mas
você continua em silêncio. Então hoje eu vim pedir a vocês
compreensão, o apoio, nos ajude, nós tivemos aí três anos e meio
ajudando, agora eu preciso da força de vocês. Por que eu estou com o
Cristóvão? Porque foi ele que me ajudou a ajudar as igrejas, ele me
atendeu, atendeu em tudo , por isso eu estou com ele, para ajudar, ele
sempre me ajudou em todas as áreas sociais, ele sempre me ajudou.
Então, jovens, me ajudem, eu peço a vocês o apoio, nós estamos com um
projeto, eu sei que vai dar certo. A Fernanda vai passar pra vocês e eu só
quero que vocês me ajudem, peço a força de vocês, porque vocês são
minha família. Eu ia ser vice-prefeita, sabe porque eu não fui? Porque a
igreja Católica, o pessoal católico, não aceita um crente lá no Executivo.
Para eles é uma afronta. O Cristóvão queria que eu fosse a vice. Ele fez
de tudo. Mas só que eles reuniram lá e falaram: "Deus me livre", de jeito
nenhum. Eles não aceitam. Entendeu?
Então a minha guerra não é só, a minha guerra é uma guerra espiritual.
Quando eu chego na Câmara sabe o que eles falam comigo? Eles podem
ta conversando, xingando, falando o que for, quando eu chego eles
falam: ei gente, vamo parar que a Valdirene chegou. A Valdirene
chegou. Para, para, a Valdirene chegou.
Ressai incontroverso, nos autos, que o discurso em tela foi proferido uma
única vez, no contexto de uma reunião realizada nas dependências de um tempo
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É como voto.
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