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2022/2023

Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz


mundial e da convivência comum

Disciplina: Cristianismo e Cultura


Professora: Teresa Messias
Nome: Sarah Allimahomed. Turma:4

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Índice
1- Introdução ao tema:...........................................................................................3
2- Igualdade humana.............................................................................................4
2.1- Segundo a Bíblia..........................................................................................................4
2.2- Segundo o Alcorão......................................................................................................4
3- Liberdade e respeito mútuo................................................................................5
4- Fraternidade Humana.......................................................................................7
4.1 - Segundo a Bíblia.........................................................................................................7
4.2- Segundo o Alcorão......................................................................................................8
5- Direito à Vida.....................................................................................................9
5.1- Segundo a Bíblia..........................................................................................................9
6- Fratelli Tutti – Importância deste documento do Papa Francisco.....................10
6.1- Primeiro Capítulo: (“As Sombras Dum Mundo Fechado”).....................................11
6.2- Segundo Capítulo: (“Um Estranho No Caminho”)..................................................11
6.3- Terceiro Capítulo: (“Pensar E Gerar Um Mundo Aberto”)....................................11
6.4- Quarto Capítulo: (“Um Coração Aberto Ao Mundo Inteiro....................................11
6.5- Quinto Capítulo: (“A Política Melhor”)...................................................................11
6.6- Sexto capítulo: (“Diálogo E Amizade Social”)..........................................................11
6.7- Sétimo Capítulo: (“Percursos Dum Novo Encontro”)..............................................12
6.8- Oitavo Capítulo: (“Religiões Ao Serviço Da Fraternidade No Mundo”).................12
7- Posição do Sheikh Al-Qaradawi – sobre a Tolerância e o Diálogo Inter-religioso.
12
7.1- Tolerância no pensamento e na prática:...................................................................12
7.2- Diálogo Inter-Religioso.............................................................................................13
8- Conclusão........................................................................................................14
Bibliografia.............................................................................................................15

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1- Introdução ao tema:

Neste trabalho vai ser abordada a Declaração sobre a paz mundial e a fraternidade
humana assinada em 2019 na cidade Abu Dhabi na Arábia Saudita entre o Papa
Francisco líder da igreja Católica, e o Grande Imã Ahmad Al-Tayeb da mesquita Al
Azhar no Cairo.
A declaração assinada indica-nos certos temas bíblicos e corânicos semelhantes com o
objetivo de unificar as pessoas sem olhar a raça ou religião, temas esses sendo a
Igualdade humana, a Liberdade, o Respeito mútuo e o Direito à vida, após aprofundar
fundamentando vou analisar também um documento do Papa Francisco que o inspirou
após esta declaração, e a posição do Sheikh Al-Qarawi que veio ao público após a
declaração de 2019.
O documento foi declarado como um marco na relação entre o cristianismo e o
islamismo, foi o primeiro passo para uma valorização do diálogo e de colaboração entre
duas religiões que conjuntas atingem e mudam a vida de mais de quatro biliões de
pessoas no mundo. Esta declaração é um apelo para pôr um fim a todas as guerras que
provêm de terrorismo e violência, especialmente os que têm motivos religiosos.

“ torne-se um guia para as novas gerações rumo à cultura do respeito mútuo, na


compreensão da grande graça divina que torna todos os seres humanos irmãos e irmãs”
Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência
comum.

Este documento tem como objetivo principal a propagação da tolerância e da paz, os


líderes recordam também o respeito pela vida e a importância da família, declaram
ainda que nenhuma das religiões incita à guerra e não convidam ao ódio e ao
extremismo.

“Condenamos todas as práticas que ameaçam a vida, tais como os genocídios, os atos
terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a
eutanásia e as políticas que apoiam tudo isto”.
 “Essas desgraças são o resultado de desvios dos ensinamentos religiosos, do uso
político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião”.

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Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência
comum.

O documento termina rogando para que se lute dentro das sociedades pelo direito de
cidadania e haja uma renúncia do uso discriminatório de minorias que facilmente
incorrem em sentimentos de isolamento e inferioridade.

2- Igualdade humana

“Em nome da «fraternidade humana», que abraça todos os homens, une-os e torna-os
iguais.”  Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da
convivência comum.

2.1- Segundo a Bíblia

No Cristianismo a crença na necessidade de uma Igualdade humana vem desde os


tempos da criação do primeiro homem “Adão”, e vai ser a base para a igualdade radical
entre toda a humanidade. Podemos confirmar isto no livro sagrado Génesis quando nos
diz “Este é o livro das gerações de Adão ('adam) no dia em que Deus criou o homem
('adam), ele o fez à semelhança de Deus (bidmut ' Elohim), macho e fêmea os criou e os
abençoou e deu-lhes o nome de 'homem' ('adam), quando foram criados.”, nesta
passagem compreendemos que Deus criou o ser humano à sua imagem, sendo Deus de
maneira metafórica o “bem”, o “bem” é assim também por consequência o ser humano.

“Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um
em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28)  Esta passagem bastante avançada para o seu tempo
vai ser um dos pilares que vai reforçar a Igualdade humana entre todos os seres
humanos aos olhos de Deus.
“O rico e o pobre têm isto em comum : o Senhor é o Criador de ambos” (Provérbios
22:2) No fundo vai ser esta a passagem, que é importante perceber que foi revelada
numa época de escravatura e plena desigualdade social, que vai reforçar a bondade de
Deus e a Igualdade aos Seus “olhos”.

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2.2- Segundo o Alcorão

Para o Islão, os seres humanos são criados todos iguais uns aos outros. Aliás o ser
humano possui a melhor forma de criação sendo por isso o Califa de Deus na terra a
quem Deus concede o poder de administrar sobre todas as outras criaturas (Alcorão
2:30).
Nesta Terra os homens não possuem superioridade uns sobre os outros enquanto seres
humanos (podendo apenas ser superior em boas ações), outro versículo do Alcorão
menciona também não ridicularizar os outros (Alcorão 49:11) uma vez que este facto
pode estragar a essência do ser humano como o ser perfeito da criação.
“E entre os Seus sinais está a criação dos céus e da terra, e a diversidade de vossas
línguas e cores. Certamente, nisto há sinais de fato para as pessoas que têm
conhecimento (dos fatos da criação e livres de preconceitos).” (Alcorão 30:22). 
Trecho Corânico que visa a igualdade dos homens.
É importante mencionar aqui também o último sermão do Profeta Mohammed que
nos diz “Toda a humanidade vem de Adão e Eva. Os árabes não possuem superioridade
sobre os não-árabes e os não-árabes não possuem superioridade alguma sobre os árabes;
os brancos não têm superioridade sobre os negros e os negros não têm superioridade
sobre os brancos; [ninguém possui superioridade sobre nenhum outro] exceto na
piedade e nas boas obras.”

3- Liberdade e respeito mútuo

“A liberdade é um direito de toda a pessoa: cada um goza da liberdade de credo, de


pensamento, de expressão e de ação. O pluralismo e as diversidades de religião, de cor,
de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus
criou os seres humanos. Esta Sabedoria divina é a origem donde deriva o direito à
liberdade de credo e à liberdade de ser diferente. Por isso, condena-se o facto de forçar
as pessoas a aderir a uma determinada religião ou a uma certa cultura, bem como de
impor um estilo de civilização que os outros não aceitam.”  Documento sobre a
fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum.

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Um dos assuntos cruciais abordados no documento sobre a fraternidade humana em
prol da paz mundial e da convivência comum foi a liberdade da prática da crença e o
respeito entre seguidores de diferentes religiões. Este tópico vai ganhar mais
importância com a declaração universal de direitos humanos, o artigo 18 desta
declaração visa a importância da liberdade de pensamento, religião e consciência. A
história é testemunha da adoção da religião dos reis pelos respetivos povos, no entanto é
importante salientar que muitas vezes isto se trata de uma obrigação sendo muitas vezes
forçada.

3.1- Segundo a Bíblia

Não existe um conflito entre os princípios bíblicos e o princípio cívico da liberdade


religiosa, sendo mesmo apenas os governos enraizados nos valores judaico-cristãos
permitem tal liberdade.
O conceito da liberdade de religião é bíblico por várias razões. Primeiro, o próprio Deus
estende uma "liberdade de religião" para as pessoas, e a Bíblia tem vários exemplos. Em
Mateus 19:16-23, o jovem governante rico vem a Jesus. Depois de uma breve conversa,
o jovem "retirou-se triste", optando por não seguir a Cristo. O ponto saliente aqui é que
Jesus o deixou ir. Deus não "força" a crença nele. A fé é comandada, mas nunca
coagida. Em segundo lugar, a liberdade de religião respeita a imagem de Deus no
homem (Gênesis 1:26). Parte da semelhança de Deus é a vontade do homem, ou seja, o
homem tem a capacidade de escolher.
Segundo o livro sagrado Génesis 13:8-12, Josué 24:15, Deus respeita as nossas
escolhas na medida em que nos dá liberdade para tomar decisões em relação ao nosso
futuro mesmo que tomemos decisões erradas.
Os santos dos últimos dias acreditam em defender a liberdade religiosa de outras
pessoas com a mesma prontidão com que defenderiam a sua própria.
O profeta Joseph Smith declarou: “Estou igualmente pronto para morrer em defesa dos
direitos de um presbiteriano, um batista ou um bom homem de qualquer outra
denominação; porque o mesmo princípio que destruiria os direitos dos santos dos
últimos dias também destruiria os direitos dos católicos romanos ou de qualquer outra
denominação que venha a ser impopular ou demasiadamente fraca para se defender”

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(History of the Church, pp. 498–499, discurso proferido por Joseph Smith em 9 de julho
de 1843, em Nauvoo, Illinois; relatado por Willard Richards).

3.2- Segundo o Alcorão

Após o aparecimento do profeta Mohammed e a sua declaração enquanto profeta de


Deus, foi criado um documento (Trégua de Medina) que penso ser essencial para
compreender o tema da liberdade religiosa e o respeito mútuo.
Podemos considerar esta Trégua como um documento de liberdade para os não-
muçulmanos, isto uma vez que um dos mais importantes aspetos é a liberdade que
concede a cada individuo. Por certo, esta trégua foi uma das “chaves” para a
aproximação do Islão com as demais religiões, isto é, ao diálogo inter-religioso. Além
de ser uma referência para o diálogo e aproximação entre os seguidores de outras
religiões, esta trégua usa-se de base para a liberdade que o Islão concede aos não-
muçulmanos, caso estejam num “estado islâmico” (não se trata do grupo extremista
emergente nos últimos anos.)
Independentemente do “status social ou religioso”, os cidadãos não-muçulmanos
possuíam direitos iguais aos muçulmanos. Portanto, isto oferecia-los a mesma liberdade
que aos muçulmanos. A respeito da liberdade, pode-se mencionar principalmente a
liberdade de culto e de prática dos preceitos religiosos. Além da liberdade de culto,
ainda na época do profeta Muhammad, numa trégua assinada pelos muçulmanos e
cristãos de Medina, ficou acordado que os cristãos poderiam eleger/nomear os seus
clérigos e educar os seus filhos conforme a tradição religiosa respetiva.
Da mesma forma, na trégua com os judeus da mesma cidade garantiu-se a liberdade de
culto e educação aos filhos. Principalmente, o artigo 25 desta trégua aborda que:
“Os judeus de Banu Awf, junto aos crentes – muçulmanos – são uma nação. A religião
dos judeus é para eles mesmos e a dos crentes para os crentes. Nisto inclua-se também
os seus escravos.”

4- Fraternidade Humana

Em nome de Deus, que criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e
na dignidade e os chamou a conviver entre si como irmãos, a povoar a terra e a espalhar
sobre ela os valores do bem, da caridade e da paz.  Documento sobre a Fraternidade
humana em prol da paz mundial e da convivência comum.

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4.1 - Segundo a Bíblia

No segundo aniversário do Dia Mundial da Fraternidade humana, várias foram as


mensagens bíblicas transmitidas pelo Papa Francisco que vieram a consolidar a ideia
sobre o amor e Deus na Bíblia no que diz respeito à irmandade humana. A Fraternidade
é um dos valores fundamentais e universais que devem ser a base das relações entre os
povos, para que todos sejamos apoiados como parte da família humana.

“Todos nós vivemos sob o mesmo céu e, em nome de Deus, nós, que somos suas
criaturas, devemos reconhecer-nos como irmãos e irmãs”,  Sustentou Papa Francisco.

A fraternidade é o caminho do amor, dito isto podemos concluir que é olhar para o outro
com compaixão e sem julgar. No fundo a mensagem que a Bíblia nos passa é que todos
somos iguais e devemos tratar-nos como irmãs ou irmãos sem barreiras, distinção de
cor, etnia, género ou classe social tal como Jesus amou. Viver em fraternidade é,
portanto, viver uma vida de cuidado, de maneira simples, na qual o que realmente
importa é o ser humano. O amor fraternal torna-nos uma única e grande família
(multidão) global. O papa Francisco nos tempos que decorrem tem constantemente
mencionado nos seus discursos que a resposta para os problemas atuais é recorrer à
fraternidade humana, mencionado novamente na sua enciclopédia Fratelli Tutti
publicada pelo Santo Padre. O Papa Francisco roga a uma abertura ao diálogo,
compreendendo as diferenças e abraçando-as, com o objetivo do fim da violência,
cuidando dos direitos humanos, ora o caminho que podemos adotar começa numa
mudança de postura, acreditando no amor e na gentileza e praticando-a no dia a dia.

“É importante intensificar o diálogo entre as diversas religiões, para que jamais


prevaleçam as diferenças que separam e ferem, mas, embora na diversidade, triunfe o
desejo de construir verdadeiros laços de amizade entre todos os povos”  Papa
Francisco

“Todos, partilhando sentimentos de fraternidade uns pelos outros, devemos promover


uma cultura de paz, que encoraje o desenvolvimento sustentável, a tolerância, a
inclusão, a compreensão mútua e a solidariedade”.  Papa Francisco (discurso dia 5 de
fevereiro de 2021).

4.2- Segundo o Alcorão

O Islamismo dá uma sustentação à doutrina que fundamenta os “Direitos Humanos”,


isto uma vez que nos ensina que o homem é o representante de Deus.

O Islamismo prescreve a fraternidade, adota a ideia da universalidade do género


humano e da sua origem comum; ensina-nos sobre a solidariedade para com os órfãos,
os pobres, os viajantes, os mendigos, os homens fracos, as mulheres e as crianças; prega
a libertação dos escravos: proclama a liberdade religiosa e o direito à educação; condena
a opressão e estatui o direito de rebelar-se contra ela; estabelece a inviolabilidade da
casa.

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Há uma semelhança entre a visão islâmica do ser humano (homem, vigário de Deus), a
ideia cristã ensinada por São Paulo (homem. templo de Deus) e a ideia de homem como
imagem de Deus (Gênesis, livro sagrado de judeus e cristãos).

A ideia de fraternidade humana ocorre múltiplas vezes em várias passagens do Alcorão


com uma maior recorrência após o nascimento do profeta Mohammed. Conforme
mencionado no tópico anterior foi estipulado através da Trégua de Medina a liberdade
religiosa e cultural, mas muitos mais tópicos antevieram, num tempo em que mulheres
eram assassinadas constantemente o Islão foi a religião que primeiramente deu direitos
às mulheres sendo assim a fonte do feminismo atual, equiparando-as com um Homem.

“Eu não sou senão um homem. Se eu vos ordeno qualquer coisa de vossa Religião.
segui-me. Se eu vos ordeno qualquer coisa que revela minha opinião, eu sou apenas um
homem. O que diz respeito à Religião cabe a mim. No que diz respeito aos negócios do
mundo, nisto vocês sabem mais do que eu.” – Passagem do profeta Mohammed aos seus
discípulos.

Através de historiadores e interpretes da religião como Mohammed Ferjani, foi


observado que os primeiros discípulos de Maomé distinguiam perfeitamente o que era a
Revelação e o que era opinião pessoal do Profeta. Era opinião pessoal do Profeta tudo
aquilo que dizia respeito ao domínio temporal.

5- Direito à Vida

“Em nome da alma humana inocente que Deus proibiu de matar, afirmando que
qualquer um que mate uma pessoa é como se tivesse morto toda a humanidade e quem
quer que salve uma pessoa é como se tivesse salvo toda a humanidade.” – Documento
sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum.

5.1- Segundo a Bíblia

Para compreender a fundo este tópico é importante compreender que ao longo dos dois
milénios de história, a Igreja sempre defendeu a vida humana desde a conceção até à
morte natural.

É declarado pelo Papa Francisco na declaração a ser analisada neste projeto (documento
sobre a fraternidade humana em prol as paz mundial e da convivência comum), que as
religiões estipuladas nesta declaração (islamismo e cristianismo) não incitam à violência
muito menos ao ódio, o que sucede a nível terrorista é um fruto dos desvios dos
ensinamentos religiosos e da mé interpretação das palavras de Deus, roga ainda que se
pare de usar a religião como uma fachada para cometer atrocidades, recordando-nos que
Deus não precisa de defesa alguma.

“Além disso, declaramos “firmemente que as religiões não incitam nunca à guerra, não
solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo, e nem convidam à violência ou
ao derramamento de sangue. Essas calamidades são fruto do desvio dos ensinamentos
religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de
homens de religião”. Por isso, “pedimos a todos para cessar de instrumentalizar as
religiões a fim de incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego, e

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parar de usar o nome de Deus a fim de justificar atos de homicídio, exílio, terrorismo e
opressão”.
“Deus, Onipotente, não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome
seja usado para aterrorizar as pessoas”.”  Documento sobre a fraternidade humana em
prol da paz mundial e da convivência comum.

Em 2020 após os atentados terroristas em Nice e Viena o Papa Francisco pronunciou-se


abertamente sobre o terrorismo e a importância do direito à vida. Neste mesmo discurso
o líder da Igreja Católica declarou que os atentados terroristas que assolam o mundo
visam comprometer esforços de diálogo entre religiões. O Papa sustentou ainda que se
tem de confiar na misericórdia de Deus especialmente em tempos de necessidade. Um
comportamento deste tipo veio a refletir os ensinamentos de Jesus Cristo em que se nota
o amor e o perdão na maneira que Francisco se dirige ao povo.

Em 2021 novamente após atentados do mesmo género seria de esperar que durante a
pandemia o Papa se deixasse abater, mas tal não foi o caso o que podemos facilmente
analisar pela sua visita ao Iraque (Cidade de Qaraqosh), visita essa em que nos fala da
época de reconstruir e recomeçar, expressa-se ainda sobre a importância da fé, e saúda a
diversidade cultural e religiosa. Transmite neste discurso outro importante valor cristão
a necessidade de “perdoar ao agressor”.

5.2- Segundo o Alcorão

A inclusão deste tópico neste tema implica a importância que é atribuída por cada
religião a ela. É notável que há um conhecimento equivocado sobre o Islão quando se
trata da violência na nossa era. Muitos conseguem atribuir a violência ao Islão
rapidamente logo depois de qualquer tipo de ataque terrorista. Enquanto no ocidente se
faz estas acusações contra o Islão no que diz respeito à violência, os líderes
muçulmanos ao redor do mundo fazem a afirmação de que “o Islão é a religião da paz”.
Entre eles Fethullah Gulen (um intelectual da área), após ataques de 11 de setembro,
declarou que “um muçulmano verdadeiro não poderia ser terrorista”.

Quando se trata da questão de vida humana, a religião islâmica posiciona-se nitidamente


a favor desta até quando se denomina os terroristas de arqui-inimigos que
desempenharam esforço contra os próprios muçulmanos.

“É por isso que prescrevemos para (toda a humanidade, mas de modo particular) os
filhos de Israel: aquele que mata uma alma, a não ser pelo transtorno social que causam
e pela corrupção sobre a terra, será punido (no dia do julgamento) como se tivesse
matado toda a humanidade, e quem salva uma alma será recompensado como se tivesse
salvo toda a humanidade. (Alcorão 5:32)”  Verso do Alcorão que consolida esta ideia.

É compreensível que haja versículos do Alcorão que conduzam à guerra, no entanto


devem ser analisados no seu contexto, podemos facilmente notar que os terroristas
pouco ou nada conhecem sobre a religião islâmica, isto uma vez que pessoas que
pensam optar por assassinar outras que nada de mal causaram é algo que a religião
abomina. A experiência religiosa leva os indivíduos a acreditar que aquilo que é
propagado por agentes manipuladores dos textos sagrados seja verdadeiro.

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É inegável que o mundo tem um passado sangrento causado pela religião, ou pelos
políticos que se usaram da religião para alcançar a certos objetivos. Neste sentido, não
podemos negar o uso da religião como “uma guerra” tenha sido acontecido, pois, além
dos obstáculos metafísicos – na conceção islâmica, o próprio homem e o satanás –
haviam obstáculos físicos que eram mais nítidos de se enxergar e em primeiro lugar
veio a remoção desses. Atualmente, em muitos casos ainda observamos o recorte de
trechos corânicos para a promulgação de ódio em relação à comunidade islâmica
(comunidade que tem atualmente 2.4 biliões de pessoas).

6- Fratelli Tutti – Importância deste documento do Papa Francisco

A nova encíclica escrita pelo Papa Francisco pretende responder à seguinte questão:
"Quais são os grandes ideais, mas também os caminhos concretos para aqueles que
querem construir um mundo mais justo e fraterno nas suas relações quotidianas,
na vida social, na política e nas instituições?"

Após uma pesquisa e um aprofundamento desta encíclica social podemos perceber que
tem como pano de fundo os discursos que São Francisco de Assis dirigia aos seus
irmãos de comunidade (cristã), de forma a incentivar os valores do Evangelho. Existem
oito capítulos e podemos destacar os pontos essenciais de cada um.

6.1- Primeiro Capítulo: (“As Sombras Dum Mundo Fechado”). Este capítulo inicial vai
tratar das distorções que alguns dos conceitos saudáveis incorrem assim como os
problemas globais que precisam de ações globais. Dito isto fala-nos de valores de
Direitos Fundamentais que deveriam permanecer cimo a democracia e a liberdade, por
outro lado reflete sobre a corrupção dos valores cristãos em diversos tópicos que se
resumem numa falta de interesse pelo bem comum como o racismo, pobreza,
desemprego, desigualdade de direitos, entre outros.

6.2- Segundo Capítulo: (“Um Estranho No Caminho”). Neste Capítulo o documento


reafirma a necessidade de superar preconceitos e interesses pessoais, denunciando
mesmo a sociedade “doente” que não demonstra cuidado com os frágeis e vulneráveis.

“O amor constrói pontes e nós somos feitos para o amor" Sublinha o Papa.

6.3- Terceiro Capítulo: (“Pensar E Gerar Um Mundo Aberto”). Ao longo deste


Capítulo, o Santo Padre encoraja à necessidade de nos abrirmos à dimensão da caridade
que nos faz seguir a "comunhão universal", destaca ainda a função da educação dada
pela família, bem cimo o direito à vida com dignidade e recusa do racismo. Já num
âmbito mais político, é mencionado ainda a ética das relações internacionais, na medida
em que roga que se acolham refugiados isto uma vez que cada país tem uma vertente
internacional (divida externa) e os bens do território não podem ser negados aqueles
que têm necessidades e vêm de outro lugar, devemos então deixar o direito à
propriedade privada num segundo plano.

"embora se mantenha o princípio de que toda a dívida legitimamente contraída deve ser
paga, espera-se, no entanto, que isto não comprometa o crescimento e a subsistência dos
países mais pobres".  Vertente Política.

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6.4- Quarto Capítulo: (“Um Coração Aberto Ao Mundo Inteiro”). Uma vez que o
terceiro capítulo aborda o tema da entreajuda no que diz respeito a emigrantes, nessa
linha de pensamento o documento dedica este capítulo inteiramente a emigrações.
Declara que os emigrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e inteirados,
menciona ainda algo que muitos dos líderes religiosos e políticos não fizeram ainda que
é a necessidade de incrementar e simplificar a concessão de vistos, abrir corredores
humanitários, facultar alojamento, segurança e serviços essenciais, oferecer formação e
favorecer a reunificação familiar. Acima de tudo pede uma legislação global para as
emigrações que vá além das emergências individuais.

6.5- Quinto Capítulo: (“A Política Melhor”). O Papa Francisco afirma neste capítulo
que a “melhor política” é aquela que representa uma das formas mais preciosas da
caridade, porque está a serviço do bem comum e conhece a importância do povo.
Também neste tópico, a proteção ao trabalho como uma “dimensão indispensável da
vida social”, assegura que cada um tenha a possibilidade de desenvolver as suas
próprias capacidades. Neste capítulo o Papa sublinha que é necessário eliminar
definitivamente o tráfico de seres humanos.

6.6- Sexto capítulo: (“Diálogo E Amizade Social”). Neste capítulo o Papa faz um apelo
ao “milagre da amabilidade” uma vez que é uma atitude fundamental que representa um
dos principais valores cristãos (amor), o Papa diz-nos ainda que ser amável é uma
“libertação da crueldade, e da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da
urgência distraída”, que prevalece nos dias de hoje.

6.7- Sétimo Capítulo: (“Percursos Dum Novo Encontro”). O Santo Padre neste capítulo
reflete sobre o valor e a promoção da paz e roga à reflexão sobre as guerras na qual a
paz visa formar a sociedade baseada no serviço aos outros e na busca da reconciliação e
do desenvolvimento mútuo. Ligado à paz está o perdão: devemos amar todos sem
exceção, mas amar um opressor significa ajudá-lo a mudar e não permitir que ele
continue a oprimir o seu próximo. Perdão não significa impunidade, mas justiça e
memória, porque perdoar não significa esquecer, mas renunciar à força destrutiva do
mal e da vingança. Francisco vai ainda dizer-nos que nunca podemos esquecer as
guerras e perseguições uma vez que temos de manter viva a chama da consciência
coletiva, sugere ainda que com o dinheiro do armamento deveria ser criado um Fundo
Mundial para acabar com a fome. Proclama-se ainda sobre a pena de morte reafirmando
que devia ser abolida em todo o mundo.

6.8- Oitavo Capítulo: (“Religiões Ao Serviço Da Fraternidade No Mundo”). Neste


capítulo final, o Papa Francisco diz-nos que o terrorismo não se deve à religião, mas a
interpretações erradas de livros e textos sagrados. Um caminho de paz entre religiões é
possível desde que se mantenha o direito humano fundamental da liberdade religiosa.
Dito isto, o papel da Igreja é não relegar a sua missão à esfera privada e, embora não
fazendo política, não renuncia à dimensão política da existência, à atenção ao bem
comum e à preocupação pelo desenvolvimento humano integral, segundo os princípios
evangélicos.

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7- Posição do Sheikh Al-Qaradawi – sobre a Tolerância e o Diálogo Inter-
religioso.

O Sheikh Al-Qaradawi foi um dos principais líderes do pensamento islâmico do mundo


moderno, tendo sido selecionado por mim para abranger estes temas uma vez que o
Imã- Al Tayeb estudou com ele, sendo seu aprendiz e inspirando-se na maneira que vê o
mundo, dito isto penso que seria melhor interpretar este assunto diretamente da sua raiz.

7.1- Tolerância no pensamento e na prática:

As posições francas do Sheikh al-Qaradawi sobre questões políticas e intelectuais, junto


do seu comportamento sobre tais matérias, permite contrapor interpretações distorcidas
da sua obra e dos seus discursos. A sua posição sobre os eventos de 11 de setembro de
2001 representa um exemplo notável de sua abordagem rigorosa. Al-Qaradawi
descreveu eloquentemente a tragédia como ato criminoso e tornou-se um dos primeiros
acadêmicos islâmicos a condenar os ataques – não lhe importava a sua crença,
nacionalidade ou local de nascimento. Al-Qaradawi reiterou o caráter ilegal dos
atentados terroristas, sobretudo pela morte de civis. Insistiu crer que os responsáveis não
representavam muçulmanos no verdadeiro sentido da palavra; mesmo que assim se
identificassem, ainda seriam criminosos, dado o fundamento islâmico de respeitar a vida
de todos os seres humanos. Para ilustrar a sua interpretação dos fatos, al-Qaradawi
aludiu ao Alcorão: “Aquele que mata uma alma salvo por outra alma [isto é, sob
processo lícito e adequado] ou por corromper a terra é como se matasse toda a
humanidade. Aquele que salva uma alma é como se salvasse a todos”.

Ora ao analisarmos esta vertente podemos compreender a recusa face ao terrorismo pela
religião islâmica uma vez que não se considera uma virtude matar outrem em nome da
religião (ou até mesmo a título particular).

Numa perspetiva mais histórica os impérios/reinos/sultanatos islâmicos que tinham os


não-muçulmanos sob seu domínio, comprometiam-se com a proteção, total liberdade e
não-segregação contra estes. Na maioria destes impérios observava-se a obrigação da
prestação do serviço militar, porém, os dhimmî (não muçulmanos) eram isentos deste
serviço em troca de jizya que era um imposto de proteção aplicado a eles. Neste aspeto,
deve-se notar que tal não era uma “tolerância negociada”, mas sim um imposto para a
isenção de um dever de cidadania daqueles estados. Ao longo da história, observa-se
que o Império Otomano fundiu todos os impostos aplicados a não-muçulmanos sob este
nome. Isto é, o governo não especificou o imposto de jizya apenas à isenção do serviço
militar, porém, ampliou a um aspeto geral tratando somente de cidadania de um estado
islâmico (historicamente não terrorista).É notável, no que diz respeito ao relato de
Inalcik os monges e sacerdotes cristãos que viviam sob o domínio do Império Otomano,
devido a seu papel religioso, eram isentos de imposto qualquer até o século XVII.
Portanto, havia uma especificidade de exercer o cargo religioso e o respeito por este.

7.2- Diálogo Inter-Religioso

O diálogo de Al-Qaradawi caracterizou-se pela tolerância e por esforços de paz para


além dos horizontes do mundo árabe e islâmico. Muitos dos seus artigos referem-se a
uma ideia de fraternidade e harmonia entre os mais distintos líderes e povos. A sua
postura manteve-se em defesa de instilar aos jovens princípios de boas relações e

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moderação, conforme sua interpretação característica do Islã, ao encorajá-los a praticar
a misericórdia e a não-violência, com intuito de superar tensões.

Por meio de sua tese e comportamento de tolerância, al-Qaradawi propôs um equilíbrio


moral na perceção internacional dos muçulmanos e suas comunidades, ao enfatizar os
verdadeiros ensinamentos do Islão, que pedem por conciliação e harmonia entre os seres
humanos. Para Al-Qaradawi, o diálogo e a comunicação aberta são essenciais a todas as
sociedades, congregações e povos. Al-Qaradawi procurou mobilizar movimentos
islâmicos em nome de ações beneficentes e propositivas em todo o mundo e onde
possível combinar esforços para combater melhor a pobreza, a ignorância e a doença.

O Sheikh Yusuf al-Qaradawi reformulou a consciência islâmica contemporânea, ao


empregar um sistema de pensamento moderado sem deixar qualquer um de seus
princípios para trás. O seu código de ética caracterizou-se por flexibilidade, tolerância e
harmonia, sem nunca transgredir as fronteiras da sua própria doutrina ou as crenças do
próximo. Os seus esforços diante das ameaças ocidentais e sionistas em particular, no
Médio Oriente, deixaram um legado de preservação da identidade islâmica, dos direitos
civis e humanos da população árabe nativa e do patrimônio representado pelos
santuários cristãos e muçulmanos em Jerusalém. Al-Qaradawi reuniu apoio
humanitário, social e econômico para tanto, ao longo de décadas de trabalho em
benefício não apenas da Ummah (descendentes e seguidores do profeta Mohammed),
mas de todo o mundo.

8- Conclusão

Este documento sobre a Fraternidade Humana de uma maneira geral fala-nos dos
direitos humanos fundamentais frequentemente destacados no documento e através
desta análise podemos compreender vários pontos semelhantes entre religiões.
Especialmente no que diz respeito à Igualdade e Fraternidade Humana reforçando a
importância no ideal de serem duas religiões que são mais de metade da população
mundial, mas que no fim somos apenas um povo, povo esse unido na crença da
descendência de Adão e Eva.

É importante referir ainda que o documento foi relevante no tema de terrorismo,


realçando ainda o direito à vida, na medida em que o terrorismo não é justificável por
qualquer religião, nem nenhuma religião o incita, chegando mesmo a proibi-lo, tal como
verificámos tal se trata de uma má interpretação dos textos sagrados religiosos.

Todos os povos do mundo, são iguais tanto aos olhos humanos quanto aos olhos de
Deus, dito isto parece-me que as divisões criadas com fundações históricas são
escusadas, criações essas provenientes da época da escravatura e das guerrilhas entre
religiões, e não deviam ter lugar no nosso progresso humano, documentos como este
sobre a fraternidade humana são documentos que vão abrir portas e mudar mentalidades
quanto à igualdade humana presente em pelo menos um mundo espiritual de 4.5 biliões
de pessoas (Cristãos e Muçulmanos), e são fundamentais para esta nova etapa que vai
revolucionar o diálogo inter-religioso.

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Fonte: Vatican News

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