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Responsabilidade Civil do Estado

Responsabilidade civil é a responsabilidade extracontratual do Estado, também chamada


aquiliana.

Evolução histórica

i) No mundo ocidental, em um primeiro momento, prevaleceu a irresponsabilidade absoluta


do Estado. Nos Estados Absolutistas vigia a Teoria Divina dos Reis, não sendo admissível que o
monarca pudesse cometer erros ou que os danos causados aos súditos pudessem ser
indenizados. Como o monarca figurava o próprio Estado, não se poderia admitir a
responsabilidade do Estado. O Estado era o criador do direito, mas a ele insubmisso.

ii) O Aresto Blanco, julgado pelo Conselho de Estado Francês, é tido como um divisor de águas.
Foi o primeiro caso de responsabilidade civil do Estado e ocorreu no século XIX. Nesse segundo
momento, passou-se de uma absoluta irresponsabilidade do Estado para uma
responsabilidade civil do Estado nas hipóteses expressamente previstas em lei
(responsabilidade restrita). Foi justamente essa mudança que marcou o surgimento do Estado
de Direito – ou seja, a ideia de submissão do Estado ao direito por ele criado.

iii) Na terceira fase, chamada de fase civilista, a responsabilidade do Estado passou a ser
subjetiva, que se baseava na demonstração do dolo ou da culpa do agente público. Sem dolo
ou culpa não haveria responsabilidade.

iv) A quarta fase é marcada pela culpa do serviço (faute du service), também chamada de culpa
anônima. Para que haja responsabilização do ente público, basta se demonstrar que o dano
resultou da não prestação do serviço, quando se deveria prestá-lo, ou da má-prestação do
serviço – ou seja, o serviço foi prestado, porém de forma ineficiente, resultando em prejuízo
aos usuários. É uma responsabilidade subjetiva, mas baseada na Teoria da Culpa do Serviço,
não se perquirindo sobre o elemento subjetivo (dolo ou culpa) do agente público (até porque a
culpa é anônima, ou seja, do serviço como um todo e por si).

v) A quinta fase é marcada pela responsabilidade objetiva. Para responsabilizar o Estado, basta
a presença de três elementos objetivos: a) a conduta de um agente público; b) o dano; e c) o
nexo de causalidade.

Responsabilidade Civil do Estado no Direito Brasileiro

i) No direito brasileiro não houve a fase da irresponsabilidade do Estado. O Brasil nunca foi um
Estado absolutista. O Estado brasileiro surgiu com a Constituição de 1824 já como um Estado
de Direito, ou seja, submisso ao direito por ele criado.

ii) A responsabilidade civil do Estado brasileiro é objetiva desde a Constituição de 1946. A


CF/88 não foi inovadora quanto a isso. Por sua vez, o CC/16 previa a responsabilidade subjetiva
ou civilista do Estado.

iii) A CF/88 regulamenta a responsabilidade civil do Estado no art. 37, §6º, que é praticamente
repetido pelo art. 43, do CC/2002, que também prevê a responsabilidade objetiva do Estado, o
que não ocorria no CC/16.
Art. 37, §6º “As pessoas jurídicas de direito público e privado, que prestam serviço público,
respondem objetivamente pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, resguardado o
direito de regresso em face do agente, em caso de dolo ou culpa”.

A responsabilidade civil do Estado é objetiva. Mas o agente responde subjetivamente perante


o Estado em ação de regresso.

O art. 37, §6º extrapola o conceito tradicional de responsabilidade civil do Estado, porque
abarca também as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público –
concessionárias e permissionárias de serviço público.

Com isso, a responsabilidade civil objetiva abarca o Estado e as prestadoras de serviço público
que atuam por delegação.

Inicialmente, entendia-se que a responsabilidade só seria objetiva se o terceiro prejudicado o


fosse enquanto na qualidade de usuário do serviço. Caso o terceiro prejudico não fosse usuário
do serviço, então a responsabilidade seria subjetiva. Todavia, desde 2009, o STF passou a
entender que a responsabilidade civil do Estado e da prestadora de serviço público é objetiva,
seja a vítima usuária ou não do serviço público. Como a CF/88 não diferencia terceiros usuários
de terceiros não usuários, não caberia ao intérprete fazê-lo. Assim, seja em um caso ou outro,
a responsabilidade será sempre objetiva.

OBS: Sempre que o dano for causado por um prestador de serviço público, a responsabilidade
da empresa é objetiva e primária e a responsabilidade do Estado é objetiva e subsidiária. Só se
pode cobrar do Estado se a empresa não puder arcar com o prejuízo causado (insolvência). A
única exceção se dá com as PPP’s, em que o Estado responde solidariamente.

OBS 2: Recomenda-se que a ação indenizatória seja proposta em face da empresa e do Estado,
em litisconsórcio passivo, colocando o Estado como responsável subsidiário. Se na fase de
execução for descoberta a insolvência da empresa, o Autor já terá título executivo judicial
contra o Estado. Mas se o Estado não figurar no polo passivo da ação contra a empresa, e a
execução se frustrar em razão de sua insolvência, não poderá o particular executar
diretamente aquele. Deverá o particular ingressar com nova ação indenizatória em face do
Estado, para que, no processo de conhecimento, este possa exercer o contraditório e a ampla
defesa.

As empresas estatais que exploram atividade econômica estão abarcadas pelo art. 37, §6º?
Enquanto exploradoras de atividade econômica, não, porque o art. 37, §6º fala na
responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de direito privado que atuem na prestação
de serviço público. As exploradoras de atividade econômica têm a responsabilidade civil
orientada pelo regime de direito privado. A responsabilidade pode até ser objetiva, quando
diante de relação de consumo, porque aí se aplica as regras e princípios do CDC. Mas a
responsabilidade civil pública não abarca as empresas públicas e sociedades de economia
mista que exploram atividade econômica.
Responsabilidade Objetiva

É aquela que se baseia em três elementos objetivos: i) a conduta; ii) o dano; e iii) o nexo de
causalidade. Dispensa-se a demonstração do elemento subjetivo (dolo ou culpa) e do
elemento ilicitude. A antijuridicidade é irrelevante, porque a responsabilidade civil objetiva do
Estado também pode decorrer de condutas lícitas.

Quando o dano decorre de um ato ilícito do agente, a responsabilidade do Estado se


fundamenta no princípio da legalidade. Atos viciados pela ilegalidade, ensejando um dano,
geram a responsabilidade objetiva do Estado.

Quando o dano decorre de um ato lícito do agente, a responsabilidade do Estado se


fundamenta no princípio da isonomia. Não é justo que apenas um particular, ou pequeno
grupo de particulares, suporte todo o ônus resultante de um ato lícito, ainda que o seja em
benefício de todos. Se o dano for específico e anormal, o Estado, que representa todos os
demais, deve indenizar o prejudicado, como uma forma de compensação pelos danos
suportados.

OBS: Restrições gerais da vida em sociedade não são indenizáveis. As restrições que decorrem
do risco social não são indenizáveis. Para que haja responsabilidade civil do Estado por ato
lícito, é preciso demonstrar que a sua atuação legítima causou um dano anormal e específico a
alguém, ou seja, que provocou uma restrição danosa e extraordinária.

Exemplo: Nivelamento de rua que acaba por deixar alguns imóveis em nível inferior ao da rua,
impossibilitando, em algumas situações, até mesmo a utilização da garagem. É uma hipótese
de dano anormal e específico a alguém, em razão de ato lícito.

Exemplo 2: Abordagem de particular por agentes policiais em via pública. Desde que dentro
dos limites da razoabilidade, a busca pessoal (revista) não é capaz de ensejar danos morais. É
uma hipótese de dissabor decorrente da vida em sociedade. Não há que se falar em dano
anormal e específico.

OBS 2: Teoria do Duplo Efeito -> um mesmo ato pode gerar efeitos diferentes a pessoas
diferentes. Um mesmo ato pode provocar um dano anormal e específico a alguém, mas, ao
mesmo tempo, provocar um dano normal a outrem, ou seja, que se enquadra no conceito de
risco social.

Exemplo: Construção de cemitério em frente a um hotel. O hotel (pessoa jurídica) deverá ser
indenizado pelos eventuais prejuízos de natureza econômica, em razão da desvalorização do
imóvel e da possível perda de clientela. Um morador, residente na mesma rua, poderá não ser
indenizado pela simples desvalorização do seu imóvel.

Elementos objetivos:

a) Conduta: É preciso que a conduta seja praticada por um agente público, no exercício da
função ou em razão dela, ou, pelo menos, agindo nessa qualidade. A conduta praticada pelo
agente de fato (agente necessário e agente putativo) também enseja a responsabilidade civil
do Estado, em virtude do princípio da segurança jurídica.
b) Dano: Tem que ser a um bem jurídico, ainda que exclusivamente moral.

c) Nexo de causalidade: No Direito Administrativo se aplica a Teoria da Causalidade Adequada.


Basicamente, para que haja responsabilidade civil do Estado é preciso demonstrar que a
conduta do agente público, por si só, foi suficiente para ensejar o dano. Daí que se o Estado
conseguir demonstrar que o dano decorreu de circunstâncias alheias à conduta do agente,
quebra-se o nexo de causalidade, e se exclui a sua responsabilidade. É o que se chama de
Teoria da Interrupção do Nexo Causal.

Interrompem o nexo causal: i) Caso fortuito; ii) Força maior; iii) Culpa exclusiva da vítima. O
dano não decorre da conduta do agente público, mas de uma circunstância alheia a sua
vontade. Nessas hipóteses, existe conduta e dano, mas não nexo causal. São hipóteses de
excludentes de responsabilidade.

São excludentes de responsabilidade: i) ausência de conduta; ii) ausência de dano; iii)


interrupção do nexo causal (caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima).

A responsabilidade civil objetiva que permite as excludentes por interrupção do nexo causal é
fundamentada na Teoria do Risco Administrativo, que exige o fato, o dano e o nexo, mas
admite as excludentes.

A Teoria do Risco Administrativo diz que o Estado assume o risco de exercer a atividade
administrativa, e, por isso, responde objetivamente por todos os danos que decorram desse
risco. A responsabilidade objetiva decorre da potencialidade danosa que a atividade
administrativa possui.

Alguns doutrinadores adotam a Teoria do Risco Integral para todas as hipóteses de


responsabilidade objetiva, enxergando o Estado como um garantidor universal. Essa teoria não
admite as excludentes pela interrupção do nexo causal.

Em regra, no Brasil, adota-se a Teoria do Risco Administrativo. Mas, majoritariamente,


entende-se que a Teoria do Risco Integral é aplicada no caso de danos decorrentes de
atividade nuclear, que é monopólio da União.

Outras hipóteses de Risco Integral, admitidas pela doutrina e com respaldo legal:

i) Crimes ocorridos a bordo de aeronaves que estejam sobrevoando o espaço aéreo brasileiro;

ii) Danos decorrentes de ataques terroristas;

iii) DPVAT – seguro obrigatório;

OBS: O seguro é pago com dinheiro público, mas o Estado não figura no polo passivo da ação,
mas sim uma seguradora responsável pelo pagamento do prêmio. Por isso não é pacífica a
alocação do DPVAT como hipótese de responsabilidade objetiva do Estado.

iv) Dano ambiental.


OBS: A doutrina ambientalista, majoritária, defende que a responsabilidade por danos
ambientais, seja pública ou privada, se embasa na Teoria do Risco Integral. O STJ segue esse
entendimento, que ainda não é pacífico na doutrina administrativista. O STJ também entende
que a responsabilidade civil do Estado por danos ambientais, no caso de omissão, embora seja
objetiva com base no risco integral, é uma responsabilidade de execução subsidiária. Ou seja, é
integral, mas só se pode executar o Estado depois de se esgotarem as tentativas de execução
do poluidor direto.

Responsabilidade Civil do Estado por omissão, fundada na culpa do serviço

Quando o dano decorre da ausência de conduta devida pelo Estado. A doutrina majoritária
entende que a responsabilidade, nessa hipótese, é subjetiva, com fundamento na culpa do
serviço, também chamada culpa anônima. A responsabilidade decorre da demonstração de
que o dano foi decorrência da má-prestação ou não prestação do serviço devido no caso
concreto.

O Estado não é garantidor universal, não é capaz de evitar que danos ocorram na vida em
sociedade. O que não se permite é que o Estado seja omisso, desidioso, inerte, quando a lei
exige uma atuação diligente. Ele deve agir de forma satisfatória, dentro da reserva do possível,
ainda que, no caso concreto, não consiga evitar o dano. E também não deve agir sempre, mas
somente nos casos em que tem o dever legal de agir, ou seja, nas hipóteses em que de fato for
garantidor.

Exemplo: Limpeza de bueiros. O Estado tem o dever legal de limpar os bueiros e evitar que o
lixo urbano se acumule nas galerias. O acumulo de lixo pode obstruir a passagem da água e, no
caso de chuvas torrenciais, provocar alagamentos. Se demonstrada a sua atuação diligente,
ainda que a cidade fique inundada pelas chuvas, o Estado não responderá civilmente, porque
agiu dentro da reserva do possível – ou seja, o seu dever legal era limpar os bueiros e evitar
que o lixo se acumulasse, e não o de impedir a chuva. Mas, se demonstrada a sua atuação
ineficiente na limpeza urbana, muito aquém do que era possível, então o Estado responderá
pelos danos provocados pela inundação, justamente pela sua desídia.

Exemplo 2: Segurança pública. O Estado tem o dever constitucional de prestar “serviços” de


segurança pública de forma eficiente, mas dentro da reserva do possível, porque não é
garantidor universal. Assim, não é possível requerer indenização apenas por ter sido vítima de
um assalto. Todavia, se determinado ponto comercial é vítima constante de assaltos, de forma
corriqueira, poderá o Estado ser responsabilizado se, tomando conhecimento da situação,
nada fizer. O mesmo se diga da hipótese em que agentes policiais, presenciando um ato
criminoso, mantêm-se inertes por qualquer motivo – é verdade que o direito não exige atos de
heroísmo, mas, no caso de agentes policiais, o direito exige um mínimo, ou seja, uma atuação
dentro da reserva do possível, até mesmo porque o dever funcional de um policial é arrostar o
perigo. Na omissão desse mínimo, a responsabilidade do Estado se faz presente.
Responsabilidade Civil do Estado por omissão, fundada no risco suscitado

Teoria do Risco Criado/Provocado/Suscitado: Se o Estado cria uma situação de risco, e desse


risco suscitado decorre um dano, a responsabilidade do Estado será objetiva, ainda que não
haja conduta direta do agente público.

Trata-se de hipótese excepcional de responsabilidade objetiva por omissão. A doutrina


brasileira costuma dizer que a aplicação do risco suscitado estará presente todas as vezes que
o Estado tiver alguém ou alguma coisa sob sua custódia.

Nas situações de custódia, não há que se falar na excludente de culpa exclusiva da vítima ou de
terceiro, mas é possível se falar nas hipóteses excludentes de caso fortuito e força maior, que
se subdividem em:

i) Fortuito Interno: Nada mais é do que uma situação não rotineira, inesperada, mas que
decorre logicamente da situação de custódia e dependente dela. Sem a situação de custódia,
criada pelo Estado, esse fortuito não poderia ter ocorrido. Nesse caso, a responsabilidade do
Estado se mantém. Alguns doutrinadores chamam o fortuito interno de caso fortuito.

Exemplo: Preso assassinado, dentro da prisão, por outro encarcerado.

Exemplo 2: Professor baleado por aluno em sala de aula de escola pública.

ii) Fortuito Externo: É uma situação não rotineira, inesperada e absolutamente alheia às
hipóteses de custódia. A situação extraordinária e o dano poderiam ocorrer ainda que não
houvesse a situação de custódia. Nesse caso, a responsabilidade do Estado será afastada.
Alguns doutrinadores chama o fortuito externo de força maior.

Exemplo: Preso que é atingido por um raio que cai dentro do presídio.

Exemplo 2: Professor que morre durante a aula em escola pública, em razão de um infarto no
miocárdio.

Teoria da Conditio Sine Qua non -> Para que haja responsabilização do Estado, nos casos de
custódia, basta demonstrar que a custódia é uma situação sem a qual não poderia ter havido o
dano.

Ação indenizatória

A vítima cobra do Estado, o Estado cobra do agente. Quando a vítima cobra do Estado, não
precisa perquirir sobre o dolo e a culpa. Quando o Estado cobra do agente, precisa demonstrar
o dolo ou a culpa. A responsabilidade do Estado é objetiva ou subjetiva por culpa do serviço. A
responsabilidade do agente é sempre subjetiva. É possível que a vítima cobre diretamente do
agente?

Antes de mais nada, se a vítima optar por cobrar do agente, estará abrindo mão da sua
garantia de não discutir o dolo e a culpa, porque o agente só responde subjetivamente.

O STF, porém, entende que a regra do art. 37, §6º, estabelece uma garantia da vítima, de não
discutir dolo e culpa, mas também uma garantia do agente público, de só ser cobrado pelo
Estado por meio de uma ação de regresso. Ainda que a vítima abra mão de sua garantia,
mantém-se a garantia do agente de só ser cobrado pelo Estado em ação de regresso. O STF
chama isso de Teoria da Dupla Garantia.

O princípio da impessoalidade diz que quando o agente público atua, não é a pessoa do agente
quem está atuando, mas sim o próprio Estado por ele presentado. É a Teoria do Órgão e a
Teoria da Imputação Volitiva. Por isso, a cobrança direta do agente violaria o princípio da
impessoalidade.

O art. 70, do CPC, estabelece que todas as vezes que alguém estiver diante de uma ação de
regresso, é obrigatória a denunciação à lide, que é uma forma de intervenção de terceiros que
visa trazer uma economia processual. Ao invés de se ter dois processos diferentes, exerce-se o
direito de regresso na mesma ação de cobrança.

No processo civil existe um entendimento de que se o sujeito poderia denunciar a lide, e não o
fez, presume-se que o sujeito abriu mão do seu direito de regresso, já que ele poderia cobrar
de forma mais econômica e célere, e não o fez.

No direito administrativo, porém, a denunciação à lide não é obrigatória. O direito de regresso


para o Estado é indisponível, não prosperando a tese da presunção de renúncia ao direito.
Ainda que não haja a denuncia à lide, é possível o regresso por garantia constitucional.

O Estado não é obrigado, mas, é possível? Admite-se a denunciação à lide? O STJ entende que
sim. A doutrina majoritária entende que não. Quando o Estado chama o agente para participar
da ação, juntamente com o agente vem a discussão do dolo ou da culpa para o processo,
ampliando-se o mérito da ação (ampliação subjetiva do mérito). Como se sabe, é garantia da
vítima não discutir o dolo ou a culpa do agente, porque isso quebraria o direito à
responsabilidade objetiva. A responsabilidade objetiva é uma garantia constitucional da vítima.
Daí que primeiro o Estado responde, objetivamente, e depois regressa contra o agente.

Existem situações fáticas que a doutrina aponta que o dolo e a culpa do agente são inerentes à
responsabilização do próprio Estado. Nesses casos, a denunciação à lide é possível, porque o
elemento subjetivo já estava sendo discutido na ação.

Exemplo: Ambulância fura o sinal de vermelho com as sirenes ligadas, vindo a colidir com o
veículo de um particular que não respeitou o aviso da ambulância. Como a atuação dos
agentes públicos é caracterizada pela fé-pública (presunção de veracidade e legitimidade), não
teria o particular direito a qualquer indenização. Todavia, posteriormente, descobre-se que o
motorista da ambulância não estava em situação de emergência, mas tinha acionado a sirene
apenas para chegar mais rápido ao seu destino. Sabendo disso, o particular ingressa com uma
ação de reparação civil contra o Estado. Para que o Estado possa se defender, será preciso,
necessariamente, discutir o dolo e a culpa do agente. Nesse caso, admite-se, sem qualquer
dúvida, a denunciação à lide, por uma questão de economia processual.
Prescrição

O Decreto 20.910/32 (Art. 1º) e a Lei 9494/97 (Art. 1º-C) prescrevem o prazo prescricional de
cinco anos (prazo quinquenal) para a propositura de ações de reparação civil contra a Fazenda
Pública.

O prazo quinquenal sempre foi considerado um benefício para o Estado, porque enquanto
vigente o CC/16, o prazo prescricional da ação indenizatória contra particular prescrevia em 10
anos. Contudo, com a entrada em vigor do CC/02, o prazo prescricional para ação de
reparação civil contra particular passou a ser de apenas 03 anos. Ou seja, a situação foi
invertida. O prazo prescricional das ações contra o Estado passou a ser maior do que o previsto
para as ações contra os particulares.

Em razão disso, parte da doutrina e a 2ª Turma do STJ passaram a entender ser aplicável o
prazo previsto no CC/02 para as ações de reparação civil contra o Estado.

O argumento era que o CC/02, por ser lei posterior, havia derrogado o Decreto 20.910 e a Lei
9494. Assim, as ações de reparação civil contra o Estado também prescreveriam em 03 anos.

Por outro lado, outra parte da doutrina e a 1ª Turma do STJ, divergindo do entendimento
anterior, passaram a defender que o CC/02, ainda que seja lei posterior, é lei de caráter geral,
não tendo aptidão para derrogar normas de caráter especial, como é o caso do Decreto 20910
e da Lei 9494. Com base nisso, mantiveram o prazo quinquenal.

Em 2012, a primeira Seção do STJ, uniformizando a jurisprudência, passou a entender que, de


fato, as ações de reparação civil contra o Estado prescrevem em 05 anos, com base nas leis
específicas aplicáveis à Fazenda Pública – Decreto 20910 e Lei 9494.

Assim, não há mais dúvidas de que a ação de reparação civil da vítima em face do Estado
prescreve em 05 anos.

No caso da ação de regresso em face do agente público, tem o Estado o prazo prescricional de
03 anos. Esse prazo só se inicia depois que o Estado é condenado e arca com o pagamento de
indenização à vítima. Não há que se falar em imprescritibilidade aqui, confundindo com as
hipóteses de dano direto ao erário, como nos casos de improbidade administrativa. O dano ao
erário provocado pelo agente foi apenas reflexo, indireto – quem foi diretamente atingido foi o
terceiro.

Responsabilidade do Estado por atos jurisdicionais

Em princípio, não existe. A regra é a irresponsabilidade do Estado por decisões judiciais que
causem dano. A função jurisdicional é uma parcela da soberania do Estado, não estando
sujeita a reparação civil. Ademais, a decisão judicial é recorrível. Se a decisão causou um
prejuízo, a via para repará-lo é a do recurso, no bojo do mesmo processo. Mas há exceção
expressa na própria CF/88, no art. 5, LXXV, ao determinar que o Estado indenize aquele que for
preso em decorrência de erro judicial ou ficar preso além do tempo fixado na sentença. Nesse
último caso, trata-se de dano decorrente do mau exercício da função administrativa (ato
administrativo). Mas o erro judicial (ato jurisdicional) que enseja a prisão também
responsabiliza objetivamente o Estado. A pena privativa de liberdade é potencialmente
danosa. No momento em que o Estado assume o risco de privar a liberdade das pessoas, ele
acaba se responsabilizado objetivamente pelos danos que decorram desse risco. A
responsabilidade é objetiva.

OBS: O fato de um sujeito ser absolvido ao final do processo não significa dizer que foi errada a
decisão que determinou a sua prisão cautelar. Afinal de contas, se presentes os pressupostos
específicos que determinam a prisão, e não havendo a possibilidade de decretar uma medida
cautelar alternativa, deverá a mesma ser decreta – é um dever, não faculdade concedida ao
juiz.

OBS 2: Se o estado responde objetivamente, é possível propor ação de regresso em face do


juiz? Sim, mas a doutrina vem dizendo que a responsabilização do magistrado depende da
demonstração de dolo.

Responsabilidade do Estado por atos legislativos

Leis de efeitos concretos são consideradas atos administrativos para fins de responsabilização
do Estado. São leis em sentido formal, porque editadas pelo Legislativo e sancionadas pelo
Chefe do Executivo, mas não são leis em sentido material, porque lhes faltam os caracteres da
abstração e da generalidade. Justamente por isso, a responsabilidade por dano decorrente de
lei em sentido formal segue o art. 37, §6º.

Quanto às leis materiais e formais, que estabelecem normas gerais e abstratas, a regra é a
irresponsabilidade do Estado, justamente por não causar dano direto e específico a um
terceiro. É possível que o dano seja decorrente da pratica de um ato praticado em obediência
a lei, mas a lei, em si, não tem potencialidade lesiva, de forma a ensejar reparação civil do
Estado. Até mesmo porque, sendo geral e abstrata, estariam todos por ela atingidos, não
cabendo o fundamento na isonomia.

Mas há exceções. A doutrina diz ser possível a responsabilidade por atos legislativos, desde
que presentes dois requisitos: a) a lei deve causar dano direto a alguém; b) a lei deve ser
declarada inconstitucional, em controle concentrado, pelo STF.

Responsabilidade decorrente de obra pública

a) Responsabilidade pela má-execução da obra: É preciso saber quem é o responsável pela


execução da obra. Se for o Estado, diretamente, a responsabilidade será objetiva. Porém, na
maioria das situações, o Estado não executa diretamente a obra, mas contrata um empreiteiro
que a executa. Como a empreiteira não é pessoa jurídica de direito público e nem presta um
serviço público, responde nos moldes do direito privado. Nessas hipóteses, o Estado responde
subsidiariamente e se for demonstrada a sua omissão no dever de fiscalização. A
responsabilidade do Estado será subjetiva por omissão, baseada na culpa do serviço (má
fiscalização).
OBS: Toda vez que o Estado celebra um contrato administrativo, tem o dever de fiscalizar a sua
execução. Se for omisso nesse dever, e dessa omissão decorrer um dano, o Estado responderá
subjetivamente pela omissão, por culpa do serviço. Mas se o Estado fiscalizou diligentemente
o contrato, e, ainda assim, o acidente ocorreu, não poderá responder pelo dano – a
responsabilidade será privada e exclusivamente da empreiteira.

b) Responsabilidade decorrente da obra em si: Existem situações em que o dano decorre da


obra em si. A obra, muito bem executada, é que causa o dano. O dano decorre da própria
existência da obra. Aqui não é relevante saber quem está executando diretamente a obra,
porque o dano não decorre da má-execução. Como o dano decorre da obra pública em si, a
responsabilidade sempre será do Estado e objetiva.

Exemplo: Recapeamento asfáltico de rua que acaba por desnivelar as casas.

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